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1. CONCURSO DE PESSOAS O concurso de pessoas abrange a coautoria e a participação. 1.1. Espécies de crimes quanto ao concurso de pessoas: a) Monossubjetivos ou de concurso eventual: são aqueles que podem ser cometidos por um ou mais agentes. São a maioria dos crimes: furto, roubo, homicídio etc. b) Plurissubjetivos ou de concurso necessário: são aqueles que só podem ser praticados por uma pluralidade de agentes em concurso. É o caso da associação criminosa, da rixa etc. b.1. de condutas paralelas: as condutas auxiliam-se mutuamente, visando à produção de um resultado comum. Ex.: associação criminosa - art. 288 do CP. b.2. de condutas convergentes: as condutas tendem a encontrar-se, e desse encontro surge o resultado. Ex.: o revogado crime de adultério - art. 240 do CP. b.3. de condutas contrapostas: as condutas são praticadas umas contra as outras. Os agentes são, ao mesmo tempo, autores e vítimas. Ex.: rixa - art. 137 do CP. 1.2. Espécies de concurso de pessoas a) concurso necessário: refere-se aos crimes plurissubjetivos, os quais exigem o concurso de pelo menos duas pessoas. A coautoria é obrigatória, podendo haver ou não a participação de terceiros. Ex.: a rixa só pode ser praticada em coautoria por três ou mais agentes. Mas, além deles, pode ainda um terceiro concorrer para o crime, na qualidade de partícipe, criando intrigas, alimentando inimizades etc. b) concurso eventual: refere-se aos crimes monossubjetivos, que podem ser praticados por um ou mais agentes. Quando cometidos por duas ou mais pessoas em concurso, haverá coautoria ou participação. 1.3. Conceito de autoria a) Teoria unitária: todos são considerados autores, não existindo a figura do partícipe (arrima-se na teoria da conditio sine qua non). É adotada na Itália. Essa era a posição adotada no CP de 1940. No Direito alemão é adotada para os crimes culposos. b) Teoria extensiva: também toma por base a teoria da equivalência dos antecedentes causais e não faz distinção entre coautores e partícipes. Todos são autores, mas admite causas de diminuição de pena, diferenciando graus de autoria. Aceita uma autoria mitigada (forma de participação mascarada), que é aquela em que se aplicam as causas de redução de pena, em face da menor importância da conduta. Existe a figura do autor e a do cúmplice (autor menos relevante). c) Teoria restritiva: faz diferença entre autor e partícipe. Para ela, autor será: - Teoria ou critério objetivo-formal: somente é autor aquele que pratica o verbo, isto é, o núcleo do tipo legal. É quem realiza a conduta principal, ou seja, aquela descrita no tipo penal (o que mata, subtrai, obtém vantagem ilícita, constrange etc). Por sua vez, partícipe é aquele que, sem realizar a conduta principal (o verbo), concorre para o resultado. Assim, o mandante de um crime não é considerado seu autor, visto que não lhe competiram os atos de execução do núcleo do tipo. O "autor intelectual", aquele que planeja toda a empreitada delituosa, não é autor, mas partícipe, na medida em que não executa materialmente a conduta típica. Logo, se um agente segura a vítima enquanto outro com ela mantém conjunção carnal, ambos devem ser considerados autores de estupro, já que a figura típica do art. 213 do CP tem como núcleo a conduta "constranger" (forçar a vítima a ter conjunção carnal ou a praticar outro ato libidinoso), e não a de "manter conjunção carnal". Apesar de haver críticas a tal critério, como o fato de um chefe de uma organização criminosa ser considerado apenas partícipe de um crime, ele oferece segurança jurídica e está de acordo com a reserva legal.. - Teoria ou critério objetivo-material: autor não é aquele que realiza o verbo do tipo, mas a contribuição objetiva mais importante. Causa insegurança jurídica, pois o que é "contribuição objetiva mais importante? Não é adotado. - Teoria do domínio do fato: partindo da teoria restritiva, adota um critério objetivo-subjetivo, segundo o qual autor é aquele que detém o controle final do fato, dominando toda a realização delituosa, com plenos poderes para decidir sobre sua prática, interrupção e circunstâncias. Por isso, o mandante embora não realize o núcleo da ação típica, deve ser considerado autor, uma vez que detém o controle final do fato até a sua consumação, determinando a prática delitiva. O "autor intelectual" de um crime é, de fato, considerado seu autor, pois não realiza o verbo do tipo, mas planeja toda a ação delituosa, coordena e dirige a atuação dos demais. Assim, autor é quem dirige a ação, tendo o completo domínio sobre a produção do resultado, enquanto partícipe é um simples concorrente acessório. Do mesmo modo, não deixa de ser autor quem se serve de outrem, não imputável, para a prática de fato criminoso, porque é ele quem conserva em suas mãos o comando da ação criminosa. A teoria do domínio do fato é adotada por: Damásio, LFG, Luis Regis Prado, Cezar Bitencourt, Pierangeli, Alberto Silva Franco etc. Ela não exclui a restritiva, mas é um complemento. A base do domínio do fato está no finalismo, na medida em que é autor aquele que detém o controle final do fato. Para Jescheck, situa-se entre a extensiva e o critério formal-objetivo, pois combina elementos objetivos (prática de uma conduta relevante) com subjetivos (vontade de manter o controle da situação até a eclosão do resultado). É, por conseguinte, uma teoria objetivo-subjetiva. Posição do professor Capez: adota a teoria restritiva e dentro dela o critério formal-objetivo, ainda que padecendo de certas deficiências, é o que mais respeita o princípio da reserva legal. A conduta principal é aquela que o tipo elegeu para descrever como crime. Assim, a realização do verbo da conduta típica é, por opção político- criminal da sociedade, a ação considerada principal. Todas as demais, incluídas aí, a autoria intelectual, a do mandante, a do instigador ou indutor etc, por mais importantes que se revelem, são acessórias e devem, por isso, ser consideradas modalidades de participação. A teoria do domínio do fato não explica satisfatoriamente o concurso de agentes no crime culposo, pela prosaica razão de que, neste delito, o agente não quer o resultado, logo, não pode ter domínio final sobre algo que não deseja. Assim, será autor aquele que realizar o verbo do tipo culposamente, isto é, com imprudência, negligência ou imperícia, e partícipe, o que tiver concorrido com culpa, sem, no entanto, realizar o verbo do tipo. Ex.: o motorista imprudente atropela e mata um pedestre. Ele é autor, pois foi ele quem matou a vítima. O acompanhante que, ao lado, o excitava, instigando- o a imprimir maior velocidade, é o partícipe. Convém notar que nenhum deles detinha o domínio final do fato. Formas de concurso de pessoas a) Coautoria: todos os agentes, em colaboração recíproca e visando ao mesmo fim, realizam a conduta principal. Ocorre a coautoria, portanto, quando dois ou mais agentes, conjuntamente, realizam o verbo do tipo. "A coautoria é, em última análise, a própria autoria. Funda-se ela sobre o princípio da divisão do trabalho; cada autor colabora com sua parte no fato, a parte dos demais, na totalidade do delito e, por isso, responde pelo todo" (Hans Welzel). A contribuição dos coautores no fato criminoso não necessita, contudo, ser materialmente a mesma, podendo haver uma divisão dos atos executivos. Ex.: no delito de roubo, um dos coautores emprega violência contra a vítima e o outro retira dela um objeto; no estupro, um constrange, enquanto o outro mantém conjunção carnal. O coautor que concorre na realização do tipo também responderá pela qualificadora ou agravante de caráter objetivo quando tiver consciência desta e aceitá-la como possível. Coautoria em crime omissivo próprio: 1ª corrente - não cabe, assim se duas pessoas deixarem de prestar socorro a uma pessoa ferida, podendo cada uma delas fazê-lo sem risco pessoal, ambas cometerão crime de omissão de socorro, isoladamente. Isso porquequem se omite nada faz e, portanto, em nada fazendo, não pode realizar a conduta principal. O que ocorre é a imputação jurídica do resultado àqueles que, tendo o dever jurídico de agir, se omitiram. 2ª corrente - é possível, desde que haja adesão voluntária de uma conduta a outra. Ausente o elemento subjetivo, cada agente responderá autonomamente pelo delito de omissão de socorro. b) Participação: partícipe é quem concorre para que o autor ou coautores realizem a conduta principal, ou seja, aquele que, sem praticar o verbo (núcleo) do tipo, concorre de algum modo para a produção do resultado. Assim, o agente que exerce vigilância sobre o local para que seus comparsas pratiquem o delito de roubo é considerado partícipe. Dois aspectos definem a participação: a) a vontade de cooperar com a conduta principal, mesmo que a produção do resultado fique na inteira dependência do autor; b) cooperação efetiva, mediante uma atuação concreta acessória da conduta principal. Síntese: autor é aquele que realiza a ação nuclear do tipo (o verbo), enquanto partícipe é quem, sem realizar o núcleo (verbo) do tipo, concorre de alguma maneira para a produção do resultado ou para a consumação do crime. Natureza jurídica do concurso de agentes a) Teoria unitária ou monista: todos os que contribuem para a prática do delito cometem o mesmo crime, não havendo distinção quanto ao enquadramento típico entre autor e partícipe. Todos respondem por um único crime. b) Teoria dualista: há dois crimes, um cometido pelos autores e um outro pelo qual respondem os partícipes. c) Teoria pluralista ou pluralística: cada um dos participantes respondem por delito próprio, havendo uma pluralidade de fatos típicos, de modo que cada partícipe será punido por um crime diferente. Teoria adotada quanto à natureza do concurso de pessoas: o CP adotou a teoria unitária ou monista, determinando que coautores e partícipes respondam por um único delito. Diz o art. 29, caput: "Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade". Exceções pluralísticas ou desvio subjetivo de conduta: a teoria pluralista foi adotada, como exceção, no §2º do art. 29 do CP, que dispõe: "Se algum dos concorrentes quis participar de crimes menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste...". Isso visa evitar a responsabilidade objetiva. É o caso do motorista que conduz larápios a uma residência para o cometimento de um furto. Enquanto aguarda no carro, os executores ingressam no local e, além de furtar, estupram uma pessoa. O partícipe responderá apenas pelo furto. Mas, se o resultado mais grave for previsível, a penas poderá ser aumentada até a metade (mas o delito continuará o mesmo). Outras exceções pluralísticas em que o partícipe responde como autor de crime autônomo: o provocador do aborto responde pela figura do art. 126 do CP, ao passo que a gestante que consentiu as manobras abortivas, em vez de ser partícipe, responde por crime autônomo (art. 124); na hipótese de casamento entre pessoa já casada e outra solteira, respondem os agentes, respectivamente, pelas figuras tipificadas no art. 235, caput, e §1º, do CP. Natureza jurídica da participação: de acordo com a teoria da acessoriedade, a participação é uma conduta acessória à do autor, tida por principal. Considerando que o tipo penal somente contém o núcleo (verbo) e os elementos da conduta principal, os atos do partícipe acabam não encontrando qualquer enquadramento. Faz-se necessária uma norma de extensão ou ampliação que leve a participação até o tipo incriminador, ou seja, para que aja a adequação típica (mediata ou indireta). Trata-se do art. 29 do CP, segundo o qual quem concorrer, de qualquer forma, para um crime por ele responderá. O art. 29 é norma de extensão pessoal e espacial. Pessoal porque estende o tipo, permitindo que alcance outras pessoas além do autor, especial porque o tipo é ampliado no espaço, a fim de alcançar condutas acessórias distintas da realização do núcleo da ação típica. Espécies de acessoriedade: a) mínima: basta ao partícipe concorrer para um fato típico, mesmo que não seja ilícito; assim, quem concorre para um homicídio em legítima defesa, responderá pelo crime; b) limitada: o partícipe só responde pelo crime se o fato principal é típico e ilícito; c) extremada: o partícipe somente é responsabilizado se o fato principal é típico, ilícito e culpável. Não responderá por crime algum se tiver concorrido para a atuação de um inimputável; d) hiperacessoriedade: o fato deve ser típico, ilícito e culpável, incidindo sobre o partícipe todas as agravantes e atenuantes de caráter pessoal relativas ao autor principal. Teoria adotada: Capez e Flávio Augusto Monteiro de Barros entendem que se aplica a teoria da acessoriedade extremada ou máxima. Assim, se o fato for apenas típico e antijurídico, mas o agente não tiver culpabilidade, não ocorre participação, contrariamente ao que sustenta a acessoriedade limitada: existe é autoria mediata. A participação necessita da culpabilidade do sujeito ativo, pois do contrário, haverá autoria (mediata) e não a figura do partícipe. Exs: quem induz uma criança a saltar de um edifício realiza indiretamente o verbo do tipo "matar", servindo-se do desforço da própria vítima; quem instiga um louco ou um menor inimputável a executar uma ação típica não é partícipe, mas autor direto e imediato (realiza o verbo por meio de outrem). O autor mediato não é partícipe: é também autor principal, pois pratica a conduta principal, realiza o verbo do tipo, só que não diretamente, mas pelas mãos de outra pessoa, seu instrumento. É o "sujeito de trás". O "sujeito de frente" é um longa manus do autor mediato. Autoria mediata: autor mediato é aquele que se serve de pessoa sem condições de discernimento para realizar por ele a conduta típica. Ela é usada como um mero instrumento de atuação, como se fosse uma arma ou um animal irracional. O executar atua sem vontade ou consciência, considerando-se que a conduta principal foi realizada pelo autor mediato. Ocorre a adequação típica imediata (direta), pois foi o próprio autor mediato quem realizou o núcleo da ação típica, ainda que pelas mãos de outra pessoa. A autoria mediata distingue-se da intelectual, pois o autor intelectual é mero partícipe. Ex.: quem manda um pistoleiro matar, não mata, logo, não realiza o núcleo do tipo e não pode ser considerado autor, respondendo como partícipe; mas, se o agente manda um louco realizar a conduta, aí sim será autor (mediato), porque o insano foi usado como seu instrumento (longa manus). Exemplos de autoria mediata: a) médico que, dolosa e insidiosamente, entrega uma injeção de morfina, em dose demasiadamente forte, para a enfermeira, que, sem desconfiar de nada, a aplica em um enfermo, matando-o. O médico é autor mediato. A enfermeira não será partícipe, respondendo por crime culposo se agiu com negligência ou imprudência, ou, por crime algum, se o erro tiver sido inevitável; b) "A" obriga "B", mediante grave ameaça, a ingerir substância abortiva. "A" é autor mediato de aborto, ao passo que "B" terá a sua culpabilidade excluída pela inexigibilidade de conduta diversa (coação moral irresistível); c) o agente desmoraliza e ameaça a vítima, levando-a dolosamente a uma situação de desespero em que esta se suicida. Responde por autor mediato de homicídio, e não por indução ou instigamento ao suicídio; d) "A", desejando a morte de um enfermo mental, incita-o a atacar "B", exímio atirador, que mata o demente em legítima defesa. "A" é autor mediato de homicídio doloso, pois usou "B" como extensão de seu corpo, para agredir a vítima. A autoria mediata pode resultar de: a) ausência de capacidade penal da pessoa da qual o autor mediato se serve. Exemplo: induzir um inimputável a praticar crime; b) coação moral irresistível: se ação for física, haverá autoria imediata; c) provocação de erro de tipoescusável: ex. o autor mediato induz o agente a matar um inocente, fazendo-o crer que estava em legítima defesa; d) obediência hierárquica: o autor da ordem sabe que esta é ilegal, mas se aproveita do desconhecimento de seu subordinado. Obs.: não há autoria mediata nos crimes de mão própria, nem nos delitos culposos. E inexiste concurso de agente entre autor mediato e o executor usado. Requisitos do concurso de pessoa a) pluralidade de condutas: no mínimo duas, sejam duas realizadas pelos autores (coautoria), ou uma principal e uma acessória (autor e partícipe). b) relevância causal de todas elas: se não contribuiu em nada para a eclosão do resultado, não pode ser considerada como integrante do concurso de pessoas. A conduta praticada após a consumação do delito não é considerada para o concurso de pessoas. c) liame subjetivo ou concurso de vontades: é imprescindível a unidade de desígnios, ou seja, a vontade de todos de contribuir para a produção do resultado. Sem isso, haverá a chamada autoria colateral. É necessária a homogeneidade de elemento subjetivo, não se admitindo participação dolosa em crime culposo e vice-versa. No caso de um pai desalmado que coloca o filho menor no meio de uma auto-estrada, propiciando, com isso, que ele seja atropelado e morto, será considerado autor mediato de homicídio doloso e não partícipe de homicídio culposo, pois se serviu do condutor do automóvel como instrumento de sua atuação. Não se exige acordo prévio, bastando apenas que uma vontade adira à outra. Ex.: babá abandona criança em área de intensa criminalidade, objetivando que seja morto. Será partícipe do homicídio, sem que o assassino saiba que foi ajudado. d) identidade de infração para todos: tendo sido adotada a teoria unitária ou monista, em regra, todos, coautores e partícipes, devem responder pelo mesmo crime, ressalvadas apenas as exceções pluralísticas. Participação em crime culposo: há duas posições. 1ª posição - não cabe. Tratando-se de tipo aberto, em que não existe descrição da conduta principal, mas tão somente previsão genérica ("Se o crime é culposo ..."), não há que se falar em participação, que é acessória. Toda concorrência culposa para o resultado constituirá crime autônomo. Ex.: motorista imprudente é instigado, por seu acompanhante, a desenvolver velocidade incompatível com o local, vindo a atropelar e matar uma pessoa. Ambos serão autores de homicídio culposo, não havendo que se falar em participação, uma vez que, dada a natureza do tipo legal, fica impossível detectar-se qual foi a conduta principal. 2ª posição - é cabível. Mesmo no tipo culposo, que é aberto, é possível definir qual a conduta principal. No caso do homicídio culposo, por exemplo, a descrição típica é "matar alguém culposamente"; logo, quem matou é o autor e quem o auxiliou, instigou ou induziu à conduta culposa é partícipe. É possível mencionar também o exemplo dos dois pedreiros que arremessam juntos uma tábua, mas calculam mal a distância e atinge um pedestre. Ambos são coautores. Se o mestre de obras deu a ordem para arremessar daquela distância, seria um partícipe. Obs.: a teoria do domínio do fato tem dificuldade para explicar a autoria e o concurso de agentes no crime culposo. Pois, se o agente não quer o resultado, como poderá ter domínio final sobre o mesmo? Formas de participação a) moral: instigação e induzimento. Instigar é reforçar uma ideia pré-existente. Induzir é fazer brotar a ideia no agente. b) material: é o auxílio. É a forma de participação que corresponde à antiga cumplicidade. São auxiliares da preparação do delito os que proporcionam informações que facilitem a execução, ou os que fornecem armas ou outros objetos úteis ou necessários à realização do projeto criminoso; e da execução, aqueles que, sem realizar os respectivos atos materiais, nela tomam parte pela prestação de qualquer ajuda útil. Ex.: vigilância externa durante a execução de um crime; emprestar a arma; conduzir ladrões, em qualquer veículo, ao local do crime. Cumplicidade: o Código Penal anterior ao de 1940 classificava os agentes do crime em autores e cúmplices. Ao lado da coautoria (participação primária), existia a cumplicidade (participação secundária). No vigente CP há apenas duas formas de concurso de agentes: coautoria e a participação nas suas diversas modalidades. O auxílio, como forma de participação, nada mais é do que a antiga cumplicidade. Participação posterior à consumação: o fato que constitui coautoria ou a participação deve ser realizado antes ou durante o delito, nunca depois da consumação. Se posterior, não será considerado concurso de pessoas, mas crime autônomo. Ex.: no delito de furto de veículo automotor com a finalidade de transporte para outro país, o agente que, sem tomar parte na subtração, recebe o veículo apenas com esse objetivo não será partícipe de furto qualificado (CP, art. 155, §5º, c/c art. 29), mas autor de receptação, pois sua atuação deu-se após a produção do resultado consumativo. Conceitos finais: a) autoria colateral: mais de um agente realiza a conduta, sem que exista liame subjetivo entre eles. Ex.: "A" e "B" disparam simultaneamente na vítima, sem que um conheça a conduta do outro. Ante a falta de unidade de desígnios, cada um responderá pelo crime que cometeu, ou seja, um será autor de homicídio consumado e o outro, de homicídio tentado, sendo inaplicável a teoria unitária ou monista. b) autoria incerta: ocorre quando, na autoria colateral, não se sabe quem foi o causador do resultado. Sabe-se quem realizou a conduta, mas não quem deu causa ao resultado (é certo que A e B atiraram, mas, se as armas têm o mesmo calibre, como saber qual o projétil causador da morte?). Nesse caso, aplicando-se o princípio do in dubio pro reo, ambos devem responder por homicídio tentado. Outro exemplo aplicável seria o caso de dois garçons que ministram veneno ao cliente, com dolo de matar, mas não é possível determinar qual foi o veneno que causou a morte. Mas, se as doses fossem, por si sós, insuficientes para causar a morte, haveria crime impossível para os dois garçons, pois o que vale é o comportamento de cada um, isoladamente considerado, sendo irrelevante que a soma dos venenos tenha atingido a quantidade letal, pois não se pode responsabilizá-los objetivamente. Como um não sabia da conduta do outro, não pode por ela responder. c) autoria desconhecida ou ignorada: não se consegue apurar sequer quem foi o realizador da conduta. d) participação de participação: quando ocorre uma conduta acessória de outra conduta acessória. É o auxílio do auxílio, o induzimento ao instigador etc. e) participação sucessiva: ocorre quando o mesmo partícipe concorre para a conduta principal de mais de uma forma. Assim, em primeiro lugar auxilia ou induz, em seguida instiga e assim por diante. f) conivência ou participação negativa ("crimen silenti"): ocorre quando o sujeito, sem ter o dever jurídico de agir, omite-se durante a execução do crime, quando tinha condições de impedi-lo. A conivência não se insere no nexo causal, como forma de participação, não sendo punida, salvo se constituir crime autônomo. Assim, a tão só ciência de que outrem está para cometer ou comete um crime, sem a existência do dever jurídico de agir (CP, art. 13§2º), não configura participação por omissão. A simples presença no ato de consumação ou a não denúncia à autoridade competente de um fato delituoso de que se tem conhecimento não pode constituir participação punível. g) participação por omissão: dá-se quando o sujeito tem o dever jurídico de agir para evitar o resultado (CP, art. 13, §2º) e omite-se intencionalmente, desejando que ocorra a consumação. Ex.: empregado que tem o dever de fechar a porta do estabelecimento, mas a deixa aberta para que terceiro pratique furto; policial que deixa de agir enquanto pessoa é espancada até a morte - ele tinha o dever legal de agir (CP, art. 13, §2º, a). A participaçãopor omissão exige dolo, dada a necessidade de liame subjetivo, não sendo admissível participação culposa em crime doloso (o partícipe tem de se omitir, querendo ou aceitando o risco de o resultado ocorrer). Assim, se houve culpa, o policial responderá por homicídio culposo, e não por participação no homicídio doloso. Ex.: o militar se distrai comendo pipoca e, quando percebe a gravidade da situação, já é tarde demais. Atuou com negligência, logo, não pode responder pelo mesmo crime daqueles que, intencionalmente, mataram a vítima. h) participação em crime omissivo (próprio ou impróprio): é possível concorrer por omissão em crime comissivo, como se pode concorrer por ação em crime omissivo próprio ou impróprio (Aníbal Bruno). Ex.: se o agente instiga outrem a não efetuar o pagamento de sua prestação alimentícia, responderá pelo participação no crime de abandono material. E também, o paciente que convence o médico a não comunicar à autoridade competente a moléstia de que é portador e cuja notificação é compulsória. i) coautoria parcial ou funcional: conceito adotado na teoria do domínio do fato. Os atos executórios são distribuídos entre os diversos autores, de modo que cada um é responsável por um elo da cadeia causal, desde a execução até a consumação. Ex.: no roubo, são divididas as ações de apoderamento do dinheiro, constrangimento dos sujeitos passivos mediante ameaça, vigilância e direção do veículo. Não se confunde com coautoria direta (todos realizam o verbo do tipo). Capez entende que, como o CP adotou isoladamente a teoria restritiva, não há lugar para a coautoria funcional, na qual os coautores não passam de partícipes. j) multidão delinquente: é o caso de linchamentos ou crimes praticados sob influência de multidão em tumulto. Os agentes responderão pelo crime em concurso, tendo, no entanto, direito à atenuante genérica (CP, art. 65, III, e). k) participação impunível: ocorre quando o fato principal não chega a ingressar em sua fase executória. (CP, art. 31). COMUNICABILIDADE E INCOMUNICABILIDADE DE ELEMENTARES E CIRCUNSTÂNCIAS Art. 30 do CP: "Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime". 1. Circunstâncias: são dados acessórios, não fundamentais para a existência da figura típica, que ficam a ela agregados, com a função de influenciar na pena. A sua exclusão não interfere na existência da infração penal, mas apenas a torna mais ou menos grave. Encontram-se na Parte Geral ou na Parte Especial, situando-se, neste último caso, nos parágrafos dos tipos incriminadores (tipos derivados). Ex.: se o furto é praticado durante o repouso noturno, incide uma causa de aumento de pena de 1/3 (CP, art. 155, §1º); se o homicídio é cometido sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação do ofendido, a pena será reduzida de 1/6 e 1/3 (CP, art. 121, §1º). Em todos os casos acima, retirada a circunstância, o crime continua existindo. Espécies de circunstâncias a) subjetivas ou de caráter pessoal: dizem respeito ao agente não ao fato. São elas: os antecedentes, a personalidade, a conduta social, os motivos do crime, a menoridade relativa, a maioridade senil (maior de setenta anos na data do julgamento), a reincidência, o parentesco do autor com o ofendido (cônjuge, ascendente, descendente, irmão ...) etc. b) objetivas: relacionam-se ao fato e não ao agente. Ex.: tempo do crime (se cometido à noite, de manhã etc); lugar do crime (local público, ermo, de grande circulação etc); modo de execução (emboscada, traição, dissimulação etc); meios empregados (arma, veneno, fogo etc); qualidade da coisa (pequeno valor, bem público etc); qualidade da vítima (mulher grávida, criança etc). 2. Elementares: são todos os dados fundamentais para a existência da figura típica, sem os quais esta desaparece (atipicidade absoluta) ou se transforma em outra (atipicidade relativa). Ex.: o consentimento do ofendido exclui uma elementar e torna atípica a conduta típica de furtar; se a subtração não se dá com a finalidade de assenhoreamento definitivo (para si ou para outrem), mas apenas para uso, também faltará uma elementar, do mesmo modo se a res furtiva não for coisa alheia móvel. Assim, são elementares do furto: subtrair + coisa alheia móvel + para si ou para outrem. As elementares se encontram no caput dos tipos incriminadores, que, por essa razão, são chamados tipos fundamentais. Espécies de elementares: podem ser objetivas (dizem respeito ao fato) ou subjetivas (dizem respeito ao autor). 3. Circunstâncias elementares (Nelson Hungria e Alberto Silva Franco): são as qualificadoras. Não são elementares, porque o crime existe mesmo sem elas (passaria a ser simples, em vez de qualificado), mas não são circunstâncias comuns, na medida em que fixam novos limites de pena (ex.: homicídio passa de 6 a 20 para 12 a 30 anos), funcionando quase como um novo tipo. Para esta corrente doutrinária, elas recebem o mesmo tratamento das elementares e os parágrafos em que se situam são chamados de tipos derivados autônomos ou independentes. Fernando Capez entende que elas não existem, pois ou são elementares ou são circunstâncias. 4. Regra do art. 30 do CP a) as circunstâncias subjetivas (caráter pessoal) jamais se comunicam, sendo irrelevantes se o coautor ou partícipe delas tinha conhecimento. Ex.: reincidência. b) as circunstâncias objetivas comunicam-se, mas desde que o coautor ou partícipe delas tenha conhecimentos. Assim, por exemplo, se o crime for cometido por asfixia, o terceiro que dele participava somente responderá pela circunstância se tiver conhecimento dela. c) as elementares objetivas ou subjetivas se comunicam, desde que o coautor ou partícipe delas tenha conhecimento. Ex.: a condição de funcionário público é essencial para o delito do art. 312 do CP (peculato), portanto é elementar. Assim, o particular que, conscientemente, participa de um peculato responde por esse crime, ante o disposto no art. 30 do CP. 5. Concurso de pessoas no infanticídio São elementares do crime de infanticídio (art. 123 do CP): ser mãe (crime próprio); matar; o próprio filho; durante o parto ou logo após; sob influência do estado puerperal. Excluído algum das elementares, a figura típica deixará de existir como tal, passando a ser outro crime (atipicidade relativa). Assim, em regra, comunicam-se ao coautor ou partícipe, salvo se ele desconhecia a sua existência, evitando-se a responsabilidade objetiva. Diferentes, porém, poderão ser as consequências, conforme o terceiro seja autor, coautor ou partícipe. a) a mãe mata o próprio filho, com o auxílio de terceiro: a mãe é autora de infanticídio e o partícipe também responderá por ele (o estado puerperal é circunstância de caráter pessoal). Caso o terceiro desconhecesse tal elementar, responderia por homicídio. b) o terceiro mata o recém-nascido, contando com a participação da mãe: ele responderá por homicídio consumado, pois foi autor da conduta principal; ela responderia como partícipe no homicídio. Mas, como haveria um contra-senso, porque se a mãe matasse a criança, responderia apenas por infanticídio, ela responderá por infantícidio. c) mãe e terceiro executam em coautoria a conduta principal, matando a vítima: a mãe será autora de infanticídio, e o terceiro, por força da teoria unitária ou monista, responderá pelo mesmo crime (CP, art. 29, caput). Obs. 1: alguns autores, como José Frederico Marques, distinguem circunstâncias pessoais das personalíssimas, concluindo que em relação a estas não há comunicabilidade. Assim, o estado puerperal não se comunicaria ao partícipe, apesar de elementar, que responderia por homicídio, evitando-se que se beneficiasse de um privilégio imerecido. Capez entende que não há amparo legal para tal entendimento. Obs. 2: pai desesperado, que deseja eliminar perigoso marginal que estuprou e matou sua filha, contrata pistoleiro profissional, o qual comete o homicídiosem saber dos motivos de seu contratante, apenas pela promessa de paga - o pai responderá por homicídio privilegiado (partícipe) e o executor, por crime qualificado (autor). Participação impunível: são atípicos o auxílio, a instigação e o induzimento de fato que fica na fase preparatória, sem que haja início de execução (CP, art. 31). Ex.: um sujeito pede a um chaveiro uma chave falsa para cometer um furto e é atendido pelo irresponsável profissional; no entanto, comete o furto por escalada. O auxílio não chegou a ingressar na fase de execução, sendo impunível (conduta atípica).
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