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Módulo 18 - HISTORIOGRAFIA I E II

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MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
HISTORIOGRAFIA I E II 
 
 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 2.861 DO DIA 13/09/2004 
0800 283 8380 
 
www.portalprominas .com.br 
2 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 
UNIDADE 1 – OS RECORTES DA HISTORIOGRAFIA ......... .................................... 6 
UNIDADE 2 – A HISTORIOGRAFIA NA PRÉ-HISTÓRIA E IDAD E MÉDIA ............ 13 
2.1 Métodos e fontes ............................................................................................. 19 
UNIDADE 3 – HISTORIOGRAFIA NO RENASCIMENTO – UMA RE VIRAVOLTA 
NAS RELAÇÕES HOMEM-DEUS ........................... ................................................. 23 
UNIDADE 4 – POSITIVISMO .................................................................................... 26 
UNIDADE 5 – MATERIALISMO HISTÓRICO ................ ........................................... 33 
UNIDADE 6 – ESCOLA DOS ANNALES .................... ............................................. 37 
6.1 Primeira geração – Bloch e Febvre ................................................................. 38 
6.2 Segunda geração – Braudel ............................................................................ 42 
6.3 Terceira geração – Le Goff e outros ................................................................ 42 
UNIDADE 7 – A HISTORIOGRAFIA NA CONTEMPORANEIDADE – A ERA 
DIGITAL ........................................... ......................................................................... 49 
UNIDADE 8 – HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA ............. ........................................ 52 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 58 
 
3 
 
INTRODUÇÃO 
 
A história tem como objeto o homem no tempo, ou seja, estuda-se, analisa-
se, reflete-se sobre os seus feitos ao longo de sua existência. Por ser uma ciência, a 
história se submete ao método científico. 
 
A História é o estudo do passado, portanto, esta ciência humana é de 
fundamental importância para entendermos o que fomos e o que somos. 
A História tem como objetivo principal analisar e interpretar as ações dos 
seres humanos no tempo e espaço. 
As assertivas acima nos levam a perceber que uma nação que conhece e 
valoriza sua história está mais preparada para enfrentar os desafios do futuro. 
 
4 
 
Por seu turno e de maneira mais ampla, podemos dizer que Historiografia se 
refere à metodologia e às práticas da escrita da história e numa perspectiva mais 
restrita, Historiografia seria a maneira pela qual a história foi escrita. 
 
A historiografia: 
� analisa e registra os fatos históricos ao longo do tempo; 
� conta como os seres humanos fizeram história com o passar do tempo; 
� estuda épocas e estados variados fazendo compreender os métodos, as 
formas e os objetos de estudo. 
 
Pois bem, veremos ao longo deste módulo, a importância da Historiografia 
para nos situarmos e nos entendermos ao longo de nossa própria história. 
Partiremos dos diversos recortes possíveis, dando ênfase ao Positivismo, ao 
materialismo histórico e à Escola dos Annales com suas várias gerações. 
Ao final teremos unidades dedicadas a textos/artigos que trabalham com 
recortes específicos da história que ajudam o professor em sua missão de levar 
além de conhecimento, oportunidade de reflexão crítica aos seus alunos para que 
sejam igualmente críticos e reflexivos ao longo de sua caminhada. 
5 
 
Antes de iniciarmos nossas reflexões, vamos a duas observações que se 
fazem necessárias: 
Em primeiro lugar, sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa 
ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia. Pedimos licença 
para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para 
que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos 
científicos. 
Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das 
ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se 
tratando, portanto, de uma redação original. 
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se 
muitas outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir 
para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. 
6 
 
UNIDADE 1 – OS RECORTES DA HISTORIOGRAFIA 
 
Quando falamos em “recorte” estamos querendo dizer exatamente uma 
parte de uma produção sobre um determinado assunto. Em palavras bem simples e 
até mesmo grosseiras, seria o mesmo que dizer “fatiar” um todo e dar o devido 
tratamento a uma fatia específica desse todo. 
Em Historiografia, isso significa trabalhar com um tema ou período histórico 
específico. Como exemplo, podemos citar a historiografia do período colonial mineiro 
e mais especificamente, a vida cotidiana dos escravos, tendo ainda outro recorte: os 
que viveram nas lavras de ouro e diamante das Minas Gerais. 
Ainda falando de “historiografia” de maneira geral, este vocábulo é usado 
para falar do conjunto de historiadores de uma nação, em dado período histórico e 
utilizando metodologias próprias. 
O modo como a história é contada e por quem é contada nos ajuda a refletir, 
analisar e ver de vários ângulos os acontecimentos que foram se sucedendo. 
Quanto aos recortes, estes podem ser temporais, espaciais, metodológicos, 
temáticos. Vejamos: 
 
a) Recorte temporal: 
Como o próprio nome já diz, seria o recorte pelo tempo, no tempo, do tempo. 
Aqui temos as periodizações clássicas (pré-história, história antiga, medieval, 
moderna e contemporânea). Ela se justifica utilizando o tempo histórico, mas é 
discutível, afinal de contas, os acontecimentos não foram os mesmos nas diversas 
regiões do mundo e, na verdade, não há um ponto objetivo de começo e fim. É 
aproximado, há transições entre um e outro período. 
Diríamos que essa divisão mostra a visão eurocentrista da história, ou seja, 
parece que tudo girava em torno da Europa e não é bem assim. Sabemos que o 
“oriente distante” teve seus acontecimentos tão importantes quanto a Europa. 
Igualmente a partir de 1500 ou pouco antes, as Américas também já tinham uma 
história importante a ser contada que também ajudou a modificar o mundo como um 
todo. 
7 
 
Como nos explica Silva (2013), não é fácil delimitar o recorte temporal. A 
delimitação exige muito conhecimento sobre o tema a ser pesquisado, pois apenas 
assim detectamos questões e períodos menos estudados e onde residem as 
principais dúvidas e “contradições” da historiografia. A disponibilidade de fontes 
também é um elemento que incide sobre a delimitação do recorte. Temas e períodos 
marcados por menor disponibilidade de fontes, geralmente resultam em recortes 
temporais mais amplos para que seja possível apreender as rupturas e 
permanências que nós historiadores sempre buscamos. Raramente encontramos, 
por exemplo, um estudo sobre a “Antiguidade” ou sobre a “Idade Média” restrito a 
dois ou três anos. Ou seja, a delimitação do recorte temporal depende da 
formulação de um problema a ser investigado e da existência de condições que 
viabilizem o desenvolvimento do trabalho. 
O recorte temporal tampouco é um elemento neutro na pesquisa. Ao 
analisarmos a historiografia, devemos estar atentos aos recortes temporais 
escolhidos pelos autores que usamos. Pesquisas podem ignorar determinados 
períodos para legitimar governos e movimentos políticos, evitar questões polêmicas 
e/ou isentar determinados sujeitos, grupos ou instituições de casos embaraçosos. 
De todo modo, o tratamento cronológico é o mais utilizado pela maioria dos 
historiadores, pois é o que corresponde à narrativa convencional, e o que permite 
ligar as causas passadas com os efeitos no presente ou no futuro. No entanto, ele é 
usado de várias maneiras: porexemplo, o historiador deve sempre optar por um 
tratamento síncrono ou diacrônico do seu estudo dos fatos, ainda que muitas vezes 
se façam os dois. 
O tratamento diacrônico estuda a evolução temporal de um fato, por 
exemplo, a formação da classe operária na Inglaterra ao longo dos séculos XVIII e 
XIX. 
O tratamento síncrono, por sua vez, concentra-se nas diferenças que o fato 
histórico estudado tem ao mesmo tempo, mas em diferentes níveis, por exemplo: 
compara a situação da classe trabalhadora na França e na Inglaterra, na conjuntura 
da revolução de 1848. 
Períodos ou momentos especialmente atraentes para os historiadores 
acabam convertendo-se, pela intensidade do debate e do volume de produção em 
8 
 
verdadeiras especialidades, tais como a história da Guerra Civil Espanhola, a 
história da Revolução Francesa a da Guerra da Independência dos Estados Unidos, 
ou a da Revolução Soviética, por exemplo. 
Também devem ser consideradas as diferentes concepções de tempo 
histórico, que, de acordo com Fernand Braudel (sobre o qual veremos detalhes 
adiante) vão da longa duração ao evento pontual, passando pela conjuntura. 
 
b) Recorte espacial: 
Quando falamos em recorte espacial, estamos nos reportando, por exemplo, 
à história continental, história nacional, regional ou mesmo história local. 
Em se tratando de história continental, exemplo dos mais comuns seria a 
história do Brasil, ou História dos Países Ibéricos. 
A historiografia que se define como regional quase sempre está 
comprometida com a elaboração e legitimação de uma dada identidade regional. 
Segundo Lima, Domingos e Selonk (2010), a concepção que se tem de 
região, na maioria das vezes está relacionada apenas a um recorte geográfico. No 
entanto, a própria geografia tem problematizado este conceito e apontado para 
diferentes formas de pensá-lo. O termo região pode ser entendido como um recurso 
didático na medida em que facilita o entendimento das diferenciações das diversas 
áreas que integram nosso planeta. Porém, a utilização do termo, em história, sem 
uma definição mais precisa sobre o que se pretende abordar, pode tornar a pesquisa 
obscura e insuficiente e, consequentemente, questionável. 
Dentro dessa problemática e na visão de Correa (2002, p. 25), não resta 
dúvida que a variação espacial dos tipos de clima é um dado importante para se 
compreender as diferenciações da ocupação humana sobre a superfície da Terra, 
porém, no ambientalismo, o clima passa a ser considerado, fator determinante sobre 
o homem e, em muitos casos de modo explícito, sobre sua história. 
Dessa forma, o conceito de região é muito mais complexo que a maneira 
com que ele se apresenta, ou melhor, é apresentado. Levando em consideração a 
ação humana, não como condicionada, mas imbricada numa reciprocidade com a 
9 
 
natureza, temos diferentes critérios na definição do que é uma região. No sentido 
físico, por exemplo, pode ser: 
• um espaço “menor”, em relação ao nacional; 
• um espaço “médio”, em relação ao continente; e, 
• um espaço maior, em relação ao planeta, ou seja, não deixando de ser 
“menor”. 
Essa confusão nos permite questionar sobre as definições tradicionais de 
região, pois o Sudoeste pode ser entendido como uma região, em relação ao Brasil, 
assim como o Brasil pode ser entendido como parte de uma região que constitui o 
continente americano, que também configura uma região que integra o globo. 
No sentido cultural, o pesquisador encontra outro leque de possibilidades. 
Porém, a delimitação regional, por mais cultural que seja, tende também a ser 
homogênea, uma vez que um espaço pode ser compartilhado por diferentes grupos 
de costumes distintos. É uma definição nesse sentido que o pesquisador deve 
atentar pelo menos na introdução ou considerações finais de sua pesquisa, caso 
contrário, sua metodologia fica redundante, pelo fato de que toda e qualquer 
pesquisa pode ser de cunho regional. 
Dessa forma, através da aproximação das pesquisas em história com a 
geografia, nas últimas décadas, o conceito de região tem ganhado novas 
possibilidades de abordagens. Os critérios utilizados para o recorte espacial têm 
sido pensados de acordo com as necessidades ou interesses da pesquisa que o 
historiador pretende. Sendo assim, podemos perceber recortes mais antropológicos, 
culturais, e a fronteira geográfica se põe agora como fronteiras, ou até mesmo sem 
fronteiras. Rompe-se aqui o determinismo naturalista, onde a atividade humana 
torna-se submissa ao aspecto geográfico de um determinado lugar. Tem-se uma 
reavaliação, e as abordagens apontam para uma relação mais complexa entre os 
seres humanos e a natureza, como aponta Amado (1990 apud LIMA; DOMINGOS; 
SELONK, 2010) ao referir-se a alguns geógrafos fundamentados no materialismo 
dialético e histórico: 
 
Para estes geógrafos, a organização espacial sempre se constitui em uma 
categoria social, fruto do trabalho humano e da forma dos homens se 
relacionarem entre si e com a natureza. Partindo desse quadro teórico, 
10 
 
definem “região” como a categoria espacial que expressa uma 
especificidade, uma singularidade, dentro de uma totalidade: assim, a 
região configura um espaço particular dentro de uma determinada 
organização social mais ampla, com a qual se articula. 
 
c) Recorte metodológico: 
Para falar do recorte metodológico, nada melhor do que usar o exemplo do 
período pré-histórico, onde encontramos uma diferença radical entre fontes e 
métodos. Essas diferenças entre fonte escrita e não escrita, no caso da pré-história, 
a falta de fontes escritas, faz com que seja uma ciência muito distante daquela feita 
pelos historiadores, sobretudo quando tais fontes e métodos se prolongam, dando 
primazia à utilização das fontes arqueológicas e ao estudo da cultura material em 
períodos para os quais já existam fontes escritas, falando-se então não da Pré-
história, mas sim propriamente da Arqueologia com as suas próprias periodizações 
(Arqueologia clássica, Arqueologia Medieval e mesmo Arqueologia Industrial). Uma 
diferença menor pode ser encontrada com o uso de fontes orais, no que é chamado 
de História Oral. 
Enfim, o que queremos nos fazer entender é que a questão do método para 
estudar a pré-história torna-se um grande desafio, dentre outros motivos, pela falta 
de fontes escritas, escassez de documentos que acabam impelindo o homem a 
utilizar de outras ciências como a Arqueologia ou a Paleontologia para embasar 
seus estudos. 
 
d) Recorte temático: 
Quanto ao recorte temático, a historiografia parte dos acontecimentos, 
dando lugar a uma história setorial. 
Por exemplo: 
A História dos sistemas políticos visa reduzir a história à categorização de 
instituições, como história do Direito, História militar; a História econômica, algumas 
vezes germinada com a História social ou de movimentos operários; a História da 
Igreja, buscando conhecer detalhes do cristianismo, judaísmo, protestantismo e 
outras religiões. Podemos ainda falar em História da Arte; História das Ideias; 
História das Doutrinas Econômicas; História da Guerra Civil Espanhola; História da 
Revolução Francesa; enfim: uma gama de variantes. 
11 
 
Quanto às correntes historiográficas, de imediato, deixamos um quadro 
sinótico para ilustrar o que vem a seguir: 
 
Fases Acontecimentos 
Primeira fase: 
PRÉ-CIENTÍFICA 
Gregos : Heródoto, eliminando o aspecto mitológico. 
Romanos : Tito Lívio – História de Roma: algum método na investigação 
e espírito de exaltação nacional. 
Idade Média : a historiografia sofre um retrocesso, apresentando um 
carácter teocêntrico, apocalíptico e pessimista. O historiador passa a 
justificar a vinda do filho de Deus ao Mundo, e analisar as suas 
repercussões. 
Renascimento : a historiografia valoriza o Homem como objeto de 
estudo, ressurgindo a herança cultural da Antiguidade Clássica, o 
antropocentrismo. 
Fase de 
TRANSIÇÃO 
Historiografia Racionalista(Iluminista ): período que antecede e 
acompanha a Revolução Francesa. Voltaire, Montesquieu e Rousseau 
irão lançar as bases filosóficas do Mundo burguês. Isto reflete na 
historiografia, atribuindo-se mais importância ao estudo das sociedades. 
 
Historiografia Romântica: surge quando o movimento liberal invade a 
Europa no século XIX e irá debruçar-se sobre o Homem, os Heróis. 
Fase 
CIENTÍFICA 
Século XIX 
Positivismo: Comte institui um método utilizado a fim de 
contrariar a subjetividade romântica. O papel do 
historiador passa a traduzir-se na pesquisa dos fatos, na 
sua subsequente organização e exposição através de 
uma narrativa tão impessoal quanto possível. A história 
não deveria ser interpretada, mas reescrita, como algo 
como imutável. Valoriza os grandes personagens 
históricos, a factualidade e a verdade única. 
Materialismo Histórico : para Marx e Engels, a História 
constituía evolução dos modos-de-produção, que se 
processa através da luta de classes entre explorados e 
exploradores. A economia assume aspecto capital na 
evolução das sociedades. Marx introduz a noção de 
descontinuidade do processo histórico. O Homem passa 
a ter um papel mais modesto, passando o estudo das 
massas a ser mais atento. A contribuição do marxismo é 
fundamental pela nova orientação que é conferida ao 
processo histórico, orientação que irá culminar com a 
escola dos “Annales” e a História Nova. 
Século XX 
Escola dos “ANNALES” e a Nova História : o historiador 
Marc Bloch defende a existência de um passado mutável 
e problemático, que, por meio da investigação histórica, 
permite representar (pesquisar) o homem agindo dentro 
de seu tempo ou tempos. Apresenta novos métodos de 
abordar o passado, compondo a chamada “história 
12 
 
cultural”. 
“A história é a ciência que estuda o passado para melhor 
compreender o presente, talvez na tentativa de não 
cometer os mesmos erros do passado no futuro”. 
Para Marc Bloch, essa afirmação é pobre e incorreta. 
Limitar a história ao conhecimento e deslocamento ao 
passado não explica a complexidade contida na 
abordagem das mudanças proferidas pelo homem, ou 
pelos homens, no tempo ou nos períodos. Qualquer 
vestígio de alteração provocada por um ato social, por 
menor que este seja, compromete-se com a história. 
Para Eric Hobsbawm, “o passado é uma dimensão 
permanente da consciência humana, um componente 
inevitável das instituições, valores e outros padrões da 
sociedade humana”. 
Hobsbawm entende ainda que o historiador tem a 
responsabilidade de abordar a origem do “sentido do 
passado”. Esta responsabilidade empregada ao 
historiador revela a necessidade da utilização das 
considerações da história cultural. 
 
13 
 
UNIDADE 2 – A HISTORIOGRAFIA NA PRÉ-HISTÓRIA E 
IDADE MÉDIA 
 
Podemos dizer que os registros históricos que remontam à Idade Antiga 
surgiram com Heródoto, geógrafo e historiador grego (485-425 a.C.) que nasceu em 
Halicarnasso, cidade grega da Ásia Menor. 
Heródoto é conhecido como “Pai da História” por ter sido o primeiro homem 
a tentar um estudo ordenado e objetivo das inter-relações entre os eventos 
históricos. Heródoto viajou para o Egito e percorreu o Mediterrâneo, estudando as 
culturas dessas regiões e registrando os fatos do modo mais fiel possível para a 
época. 
Ao teorizar sobre a História, ele aplicou a tradicional ideia grega da 
moderação, ou meio termo, segundo a qual, o equilíbrio é desejável, e o excesso e o 
desequilíbrio são a receita para o desastre. Mais tarde, Heródoto ajudou a fundar o 
povoado grego de Turim, na Itália, onde ele provavelmente morreu. 
Foi o autor da história da invasão persa da Grécia nos princípios do século V 
a.C., conhecida simplesmente como ‘As histórias de Heródoto’. Esta obra foi 
reconhecida como uma nova forma de literatura pouco depois de ser publicada. 
Antes de Heródoto, tinham existido crônicas e épicos, e também estes 
haviam preservado o conhecimento do passado. Mas Heródoto foi o primeiro, não só 
a gravar o passado, como também a considerá-lo um problema filosófico ou um 
projeto de pesquisa que podia revelar conhecimento do comportamento humano. A 
sua criação deu-lhe o título de “pai da história” e a palavra que utilizou para o 
conseguir, historie, que previamente tinha significado simplesmente “pesquisa”, 
tomou a conotação atual de “história”. 
A obra Histórias foi frequentemente acusada no velho mundo de 
influenciável, imprecisa e plagiária. Ataques semelhantes foram preconizados por 
alguns pensadores modernos, que defendem que Heródoto exagerou na extensão 
das suas viagens e nas fontes criadas. Contudo, o respeito pelo seu rigor aumentou 
na última metade do século XX, sendo atualmente reconhecido não apenas como 
pioneiro na história, mas também na etnografia e antropologia. 
14 
 
Concordamos com Freitas (2013) ao ressaltar que é impraticável a análise 
de qualquer historiador e de sua obra se não levarmos em consideração o ambiente 
cultural, político, moral em que viveu. 
Da mesma forma, é preciso compreender que nosso intelecto encontra-se 
de certa forma independente do tempo e do espaço, de maneira que existe um 
processo histórico universal. Portanto, com esta correlação de valores, surge a 
historiografia de Heródoto, que pretende preservar os feitos e acontecimentos 
gregos para as futuras gerações, como o próprio deixa claro no primeiro parágrafo 
de sua obra. 
Ao escrever a sua História, Heródoto de Halicarnasso teve em mira evitar 
que os vestígios das ações praticadas pelos homens se apagassem com o tempo e 
que as grandes e maravilhosas explorações dos Gregos, assim como as dos 
bárbaros permanecessem ignoradas, desejava ainda, sobretudo, expor os motivos 
que os levaram a fazer guerra uns aos outros. 
Em outras palavras, Heródoto se propõe a compilar as informações 
históricas a respeito, não só do seu povo, mas de outros povos também, para dois 
motivos: que esta memória não se perca e que se possa, a partir dela, efetuar a 
reflexão a respeito de como os fatos se desenrolaram, através das suas motivações. 
Segundo Tétart (2000, p. 14), entre manutenção e celebração da memória 
grega e abertura ao mundo (os bárbaros), Heródoto assinala, portanto, a importância 
que atribui ao dever de memória. Além disso, recusando o helenocentrismo, destaca 
a necessidade do conhecimento do outro, elevando assim a história à posição de 
saber patrimonial e universalista. 
Portanto, com Heródoto, a história já faz alguns notáveis progressos. No 
entanto, é com Tucídides (460-396 a.C.) que, buscando estabelecer, além da 
simples compilação de fatos históricos, uma compreensão mais “científica” do 
passado, baseado no encontro entre conhecimento e razão, que ocorre um desejo 
de legitimação da história. Ainda de acordo com Tétart (2000, p. 16), Tucídides 
apresenta duas preocupações fundamentais no seu ato de registrar a história: 
1) Proceder como pedagogo. 
2) Fazer os gregos compreenderem a utilidade do conhecimento histórico – 
para a vida social, política, militar. Ele quer fazer da história um ‘monumento-tela 
15 
 
posto na frente da realidade, para a edificação das gerações vindouras’ (H. Martin): 
o que ele chama de 'capital imperecível’, ao mesmo tempo memória, exemplo e 
objeto de meditação. 
Tucídides procura manter certo distanciamento dos acontecimentos 
narrados, sem que suas impressões pessoais contaminem o relato, de forma que 
seu texto não sirva apenas para a leitura digestiva e de entretenimento, mas que 
sirva como material para consulta, não só na sua época, mas para a posteridade. 
É interessante observar como esse distanciamento que Tucídides busca 
encontra eco na forma positivista de se fazer história no século XIX, de acordo com 
a afirmação de Reis (1994): 
 
O desejo de constituir a história sobre bases científicas, positivas, se 
expressa, portanto, nesta ênfase ao dado, ao evento, no cultivo à dúvida, à 
observação, à erudição, e na recusados modelos literários e metafísicos. 
Este manual formará gerações de historiadores, ele exprime exatamente o 
ponto de vista da história metódica, que dominou a produção histórica 
francesa de 1880 a 1945. Este espírito positivo vai se concretizar na obra de 
grandes historiadores, como Fustel de Coulanges, Taine, Renan. Serão 
historiadores menos intuitivos do que os da escola romântica, mais seguros, 
mais especialistas do método crítico. 
 
Da mesma forma que esse entendimento típico do século XIX, em relação à 
historiografia, Tucídides também não deseja fazer literatura e nem fazer 
elucubrações demasiadamente pessoais a respeito dos fatos vistos, lidos ou que 
tenha testemunhado. Ele tinha a pretensão de relatar da maneira mais bruta 
possível os acontecimentos históricos (FREITAS, 2013). 
Já a historiografia romana se desenvolverá tardiamente. Apenas nos séculos 
III e II a.C., cinco séculos após a fundação da cidade que dominaria o mundo. A 
explicação comumente aceita para este fenômeno é de que a historiografia grega 
ainda permaneceu dominando o mundo romano. É uma historiografia que surge com 
o intuito de glorificar a grandeza da história romana. 
Desta forma, podemos afirmar que a historiografia romana produziu nomes 
de peso, que até hoje permanecem sendo objetos de estudo dos historiadores: Tito 
Lívio, Tácito e Suetônio são alguns desses grandes nomes. 
Tito Lívio foi preceptor do imperador Cláudio e dedicou sua vida inteira à 
literatura e à história: 
16 
 
 
Seu trabalho é didático e moral: postula que as qualidades morais de um 
povo forjam seu destino. Comemorando os altos feitos de Roma desde sua 
fundação, descrevendo os homens, seus costumes, sublinhando os 
períodos de grandeza, de decadência, elabora uma verdade histórica que 
deve, como em Salústio, tornar-se objeto de reflexão para o leitor (TÉTART, 
2000, p. 26). 
 
Tácito é o “observador da decadência” e foi criticado por sua parcialidade e 
falta de exatidão de seus textos, por suas inclinações apologéticas (TÉTART, 2000, 
p. 27). Contudo, por ser um grande herdeiro das tradições romanas e helênicas, 
acaba por produzir uma obra-guia da historiografia que apresenta um novo elemento 
que é justamente o “pensar” o assunto. 
Suetônio é tido frequentemente como o pai da biografia. Com o seu ‘A Vida 
dos Doze Césares’, num contexto historiográfico pobre, brilha com talento seguro e 
estabelece as bases de um modelo biográfico que se tornará modelo na Idade 
Média (TÉTART, 2000, p. 30). 
Em se tratando da Idade Média e no contexto histórico da desagregação do 
Império Romano, pontilhado pelas crises do escravismo e das invasões bárbaras, o 
Cristianismo triunfante constituiu-se em referência obrigatória para a explicação do 
mundo. Convertido em religião oficial, o cristianismo passou a assumir um papel 
importante na estruturação do pensamento medieval. Lembremos que os elementos 
eclesiásticos acabaram tornando-se praticamente no único segmento letrado da 
Europa Ocidental (GOMES, 2005). 
Durante a Alta Idade Média, a Igreja converteu-se na guardiã do patrimônio 
cultural do Ocidente. Nesses termos, a História não escapou a sua influência. A 
história de Roma era evocada de maneira estereotipada: massacres, devastações, 
roubos, incêndios, entre outros. Tudo passava a servir de exemplo, cujo fracasso se 
explicava pela ausência da fé: era o castigo de Deus. 
A diferença entre a historiografia greco-romana e a cristã, pode ser explicada 
na medida em que a primeira buscava o entendimento dos fatos a partir da própria 
sociedade, enquanto que o cristianismo buscava uma explicação transcendental, por 
desígnio divino. Dentro da perspectiva cristã, a história era encarada como um 
caminho da humanidade para sua realização com Deus. A história humana iniciava-
se com a Criação e esta orientada para um fim: Deus. 
17 
 
A partir de então, a distribuição das funções na arena social competem a 
Deus e a seus agentes na terra, o que reafirmava e justificava o papel da Igreja na 
nova ordem social. No entanto, é importante ressaltar que a perspectiva cristã não 
levou ao desaparecimento da razão. O mais expressivo exemplo dessa associação 
encontramos em São Tomás de Aquino, que coloca a razão a serviço da fé. Como 
se percebe, a História tornava-se providencialista e a reconstituição dos 
acontecimentos servia para provar e divulgar a fé. Em outras palavras, a História, 
assim como outras ciências, subordinava-se à Teologia. Por outro lado, isso não 
quer dizer que não foram formulados projetos diferentes. Afinal, a existência da 
Inquisição era a expressão cabal do combate eclesiástico contra os “inimigos da fé” 
(GOMES, 2005). 
Freitas (2013) ressalta que a historiografia cristã do período medieval foi 
criticada durante muito tempo justamente pelo seu aspecto pobre, onde não há 
grande curiosidade e tampouco independência intelectual. No entanto, alguns 
nomes podem ser destacados no período. O maior deles, sem dúvida foi Eusébio de 
Cesareia (265-341) que é considerado o pai da historiografia cristã, dentro de uma 
lógica provindencialista. 
De acordo com Tétart (2000), seus escritos celebram antes de tudo o triunfo 
da Igreja, limitando a lógica factual unicamente ao efeito da vontade divina. Outro 
nome de suma importância para a história cristã, é o de Santo Agostinho (354-430). 
Prolongando a obra de Eusébio, Agostinho que era bispo de Hipona, faz a história 
assumir forte conotação teológica. Para ele, “a história já não é senão a memória da 
viagem para a felicidade, coletânea de exemplos oferecidos à pregação” (TÉTART, 
2000, p. 37). 
Vejamos este trecho que se encontra no livro ‘Cidade de Deus’ e comprova 
esta argumentação de Tétart: 
 
Diferentemente do nosso, o conhecimento que Deus tem dos três tempos, 
presente, passado, futuro, não está submetido à mudança, pois nele não há 
nem vicissitudes, nem mudança, nem sombra. [...] Tudo o que ele vê está 
presente ao mesmo tempo, pois ele conhece o tempo sem nenhuma 
representação temporal, assim como move o que está submetido ao tempo 
sem sofrer nenhum movimento temporal (XI, 21). 
 
18 
 
Pois então, o tempo já é conhecido por Deus, não exercendo influência 
sobre Ele. Desta forma, a história (Cidade dos Homens) é o trajeto de fé que o 
homem deve percorrer para atingir a Cidade de Deus (FREITAS, 2013). 
Em outras palavras, a intervenção de Deus na história é compreendida como 
uma verdade imutável para os historiadores medievais, de modo que a produção 
historiográfica medieval foi pautada por estes princípios. 
Tais pressupostos ajudam a perceber melhor as características essenciais 
que informaram a historiografia medieval, a saber: 
� a periodização do tempo histórico, feita segundo o modelo cristológico; 
� a sua função catequética; 
� o seu ternário hagiográfico e apocalíptico; 
� a sua ultrapassagem dos particularismos (...); 
� a sua escrita encarada como um trabalho anônimo e geralmente contínuo (...); 
� a inexistência de uma consciência autoral, característica que explica a índole 
coletiva de muitos textos historiográficos da época e que relativisa as 
posteriores acusações de plágio; e, por fim, 
� a ordenação das idades e acontecimentos de acordo com a justificação 
providencialista (CATROGA, 2003, p. 26). 
No entanto, com o avanço no tempo, há uma tendência cada vez maior 
ainda durante a Idade Média de um processo de secularização da historiografia. 
Segundo Tétart (2000, p. 43), a reforma gregoriana tem papel importante neste 
processo: 
 
No alvorecer do segundo milênio, a história, sempre um saber menor não 
ensinado, não é um lugar de memória libertado de sua incapacidade cultural 
de produzir sentido em si, sujeito a evocar o universo religioso. Entretanto, o 
espírito do tempo evolui. Aqui, a reforma gregoriana (séc. XI) é central. 
Suscita uma dinâmica que ajuda no renascimento historiográfico dos 
séculos XII - XIV. 
 
Um novopolo de desenvolvimento da história será a corte e os castelos, em 
oposição ao monastério, lugar privilegiado até então em termos intelectuais. Neste 
aspecto, é importante considerarmos as línguas vulgares que então emergem e 
19 
 
passam a identificar-se com os valores identitários nascentes. Neste momento, o 
papel da universidade adquire grande importância para os estudos históricos: 
 
A universidade não será o único lugar onde se desenvolve uma vida 
cultural, mas será o lugar por excelência de uma nova figura, a do 
intelectual, cujas curiosidades e descobertas terminarão por enriquecer 
também a história, de maneira indireta. Os seus fundamentos serão 
progressivamente laicos (CADIOU, 2005 apud FREITAS, 2013). 
 
Assim, passos decisivos em direção ao Renascimento estavam sendo dados 
e a história começava a deixar de ser exclusivamente a teologia da história. Foi 
possível, enquanto a Idade Média aproximava-se do seu final, perceber o novo papel 
que a história e os historiadores estavam para assumir. 
A história deu um salto. Os historiadores, seculares, desfizeram-se das 
viseiras da escatologia (mesmo que ela não poupe as suas reminiscências). Esta 
estimulação intelectual, na escala europeia, afirma um fato essencial: a história 
possui um poder que não tinha antes, quando o trabalho dos historiadores, visando 
a edificação moral, espiritual, religiosa de seus contemporâneos, não era visto 
primeiramente como um ponto de encontro de análise da sociedade, no cruzamento 
do passado, do presente e da preocupação de prospectiva de que o homem precisa 
(TETART, 2000, p. 53-4). 
 
2.1 Métodos e fontes 
Segundo LeGoff e Schmitt (2006), uma das principais características da 
historiografia eclesiástica é a presença comum de metas e métodos no prólogo das 
obras. Por meio da análise dos prólogos dos livros de história medievais, é possível 
compreender como a obra foi produzida, com que fim ela foi desenvolvida, a quem 
era destinada e quais foram os métodos aplicados para a sua confecção. 
A principal meta dos religiosos era transmitir o conhecimento histórico para a 
posteridade, porém, naturalmente, apenas os acontecimentos dignos de lembrança 
deveriam constar nas obras produzidas e, geralmente, tratava-se de assuntos como 
biografias ou guerras. Assim como acontecia com a liturgia da Igreja Católica, a 
história passaria a ser considerada uma ferramenta da memória (LeGOFF; 
SCHMITT, 2006). 
20 
 
O principal método para transmitir a história era a narração dos 
acontecimentos, e muito comum era usar as obras de história para transmitir 
exemplos de homens reputados que deveriam ser seguidos pelos outros. A obra de 
Valério Máximo, o ‘Livro de Ações e Palavras Memoráveis’ é um retrato desta 
compilação de exemplos feita por várias vezes. Desta forma, caberia ao historiador 
criar a glória ou a infâmia de alguém e, por esta mesma razão, várias obras de 
história passaram a ser “encomendadas” por nobres (para que seus nomes não 
fossem esquecidos) no mesmo período (LeGOFF; SCHMITT, 2006; CLAIRE-
JABINET, 2003). 
Quanto às fontes estas eram escritas, orais, auxiliares e até mesmo 
falsificações. 
As fontes escritas usadas pelos historiadores medievais provinham 
principalmente de bibliotecas e arquivos, e eram usadas especialmente para os 
estudos sobre os “tempos antigos” (BASCHET, 2006; LeGOFF; SCHMITT, 2006). 
Durante a Idade Média, as bibliotecas ainda não eram tão ricas quanto 
viriam a ser durante o Renascimento (especialmente depois da difusão da imprensa 
pela Europa no século XV) (CLAIRE-JABINET, 2003). 
Apenas poucos livros se faziam presentes e em pequenas quantidades, e 
pouquíssimos eram os livros de história. A principal fonte para muitos trabalhos era a 
Bíblia, que havia sido recomendada por Cassiodoro a todas as bibliotecas no século 
VI, além da História Eclesiástica de Eusébio de Cesareia (LeGOFF; SCHMITT, 
2006). 
O conteúdo que não era contemplado pela Bíblia Sagrada e pela obra de 
Eusébio era dificilmente encontrado nas bibliotecas comuns, e sua difusão era 
extremamente limitada. 
Os arquivos eram tão rústicos quanto às bibliotecas e existiam diversos 
problemas de conservação de manuscritos. Além do problema da conservação, 
também era grande o entrave imposto pela falta de classificação, bem como a falta 
de acesso (muitos historiadores poderiam recorrer apenas ao arquivo da instituição 
a qual pertenciam). Um dos arquivos mais conhecidos é o de Reims, que foi 
organizado ainda no século IX por Incmaro. Apenas a partir do século XI os arquivos 
episcopais começam a ser inventariados, e apenas com o avanço do poder real no 
21 
 
século XIV ficou realmente clara a necessidade de classificação (CLAIRE-JABINET, 
2003). 
Fontes orais eram aquelas advindas do testemunho de pessoas que haviam 
presenciado os acontecimentos narrados nas obras. Isidoro de Sevilha é 
considerado um precursor no incentivo ao uso de fontes orais, em virtude da grande 
influência que teve sobre os historiadores posteriores. De acordo com os 
ensinamentos de Isidoro, seguia-se a tradição oral e procurava-se ao máximo usar 
as fontes orais mais seguras, que eram os testemunhos diretos. Além disso, é 
notória a busca pela crítica aos testemunhos, uma vez que se buscava a 
confirmação destes em outros (considerados então “secundários”). Quando não era 
possível usar os testemunhos diretos, os historiadores buscavam apoio para os seus 
livros em crendices populares, tradições antigas e canções que circulavam no 
mundo medieval (CLAIRE-JABINET, 2003). 
Temos ainda as fontes auxiliares que provinham de monumentos, ruínas, 
esculturas e prédios, por exemplo. Embora ainda não existissem instrumentos 
adequados para explorar o passado através das heranças de outros tempos que já 
haviam passado (a arqueologia ainda não havia sido desenvolvida, e apenas no 
século XIV a epigrafia (parte da paleografia que estuda as inscrições) seria 
considerada uma ciência auxiliar da história), a importância desse tipo de fonte já 
era considerada (CLAIRE-JABINET, 2003). 
Entre os prédios mais procurados pelos historiadores medievais estavam as 
tumbas de homens importantes, pois estas poderiam revelar informações dos mais 
diversos tipos, desde a sua genealogia à sua biografia propriamente dita. Um 
exemplo claro desta importância é o monastério de Saint-Denis que reunia os 
túmulos dos reis das dinastias Merovíngia e Capetíngia em ordem (CLAIRE-
JABINET, 2003). 
Por fim, temos as falsificações de documentos que era uma atitude 
recorrente na história medieval e, por muito tempo, prejudicou os historiadores, 
especialmente aqueles que não tinham um senso crítico muito apurado. Entretanto, 
ao mesmo tempo em que existiam os historiadores sem este senso desenvolvido, 
outros já tratavam de avaliar e analisar as fontes e depois de confrontá-las com 
outras, procurando diferenças e semelhanças (LeGOFF; SCHMITT, 2006). 
22 
 
Muitas vezes isso acabava por gerar uma supervalorização da “autoridade 
da fonte”, que era basicamente a busca de um “fiador” para a valorização de um 
texto como fonte histórica. Isto aconteceu várias vezes durante a Era Medieval e 
exemplos disso são o livro que trata da história de Gênova entre os anos de 1100 e 
1152, que foi elevado ao nível de fonte de grande reputação pelos cônsules da 
cidade, e a crônica de Rolandino de Pádua, que revestiu-se de autoridade apenas 
quando foi validada pelos estudiosos da Universidade de Pádua (LeGOFF; 
SCHMITT, 2006). 
Outro grande problema era a influência dos copistas que, em numerosas 
obras históricas, acabavam por sempre “acrescentar” alguma informação que não 
estava disponível no texto original que usavam. Em resumo, o critério para a 
qualidade da produção historiográfica não era a verdade, mas sim a autenticidade 
estabelecida por autoridades que obedeciam uma espécie de hierarquia (CLAIRE-
JABINET, 2003). 
23 
 
UNIDADE3 – HISTORIOGRAFIA NO RENASCIMENTO – 
UMA REVIRAVOLTA NAS RELAÇÕES HOMEM-DEUS 
 
Ao término da Idade Média tivemos alguns eventos que vieram marcar e 
contribuir para a reviravolta que dá título à Unidade, contribuindo igualmente para 
que mudássemos a concepção das relações dos homens com Deus (FREITAS, 
2013). 
Esses fatos que a princípio parecem não ter ligação alguma, estão muito 
associados ao desenvolvimento da Historiografia e, de uma forma ou de outra, 
contribuíram para uma nova maneira de se pensar e de se escrever a história. São 
eles: 
� a invenção da imprensa, por Gutemberg; 
� a falsidade reconhecida da Doação de Constantino; 
� a derrocada de Bizâncio; 
� a reforma protestante. 
Segundo Tetart (2000, p. 57), as reviravoltas políticas, religiosas, mentais e 
técnicas do século XVI favorecem o despertar, o enriquecimento, o amadurecimento 
intelectual da história. No Renascimento, os quadros físicos e mentais que até então 
estruturavam as relações dos homens com o mundo, dos homens com Deus, 
explodem. A Revolução celeste dos corpos de Copérnico (1543) simboliza esta 
revolução. A expansão geográfica impõe um espaço desmultiplicado, o confronto 
com os 'povos nus' que ignoram Deus. A terra torna-se estranhamente grande. 
O Renascimento, portanto, afeta profundamente o conceito de História, 
sobretudo em sua separação da Teologia. Ao surgirem novos costumes, novas 
instituições, a humanidade passa a ser o objeto de estudo em si, e como já ensinou 
Marc Bloch, a história passa a ser a “ciência dos homens no tempo”. As bases para 
a história científica estão sendo construídas. Uma história autônoma, como disciplina 
autônoma, desligada da religião e preocupada com conceitos de relatividade e 
subjetividade, assim como com o método. Ou seja, os historiadores agora pensam 
na história como uma ciência. 
24 
 
E a partir do século XVII que a história vai se transformar em uma disciplina 
erudita, com a sua submissão às regras de controle e verificação, de forma que 
assim seja possível ao historiador reconstituir o passado de forma independente, 
mesmo quando não existam fontes materiais ou escritas (FREITAS, 2013). 
Podemos falar em Renascimento, Renascença ou Renascentismo, mas 
geralmente fala-se em Renascimento Italiano, por ser seu berço ou Renascimento 
Carolíngeo. É um período que vai aproximadamente de fins do século XIV e início do 
século XVII. 
Recebe esse nome em virtude da redescoberta e revalorização das 
referências culturais da antiguidade clássica que nortearam as mudanças do período 
entre a idade média e o humanismo. Podemos dizer que é o período de 
redescoberta do mundo e do homem. 
Enfim, as preocupações do ser humano com a vida após a morte, 
esquecendo-se de vivê-la plenamente enquanto terrena, acreditando que a Terra era 
plana e que todos os acontecimentos e fenômenos eram determinados pela vontade 
de Deus ‘cai por terra’, passam a ser questionadas e assim veio surgindo um 
homem mais confiante em suas possibilidades que deixou de querer explicar e 
entender tudo pela fé e vontade divina. 
 
Os valores medievais foram sendo substituídos por basicamente três novos 
valores: o Humanismo, o Racionalismo e o Individualismo. O Ser humano passa a 
ser o centro do universo, adotando o famoso conceito de antropocentrismo. 
� Humanismo: em vez de um mundo teocêntrico, isto é, no qual Deus está no 
centro e tudo que acontece é relacionado às suas vontades, os 
25 
 
renascentistas defendiam o pensamento de que era preciso construir um 
mundo em que o homem estivesse no centro (antropocentrismo) e pudesse 
olhar para si mesmo como sendo responsável por sua própria vida. 
� Racionalismo: uma das principais marcas do Renascimento foi a valorização 
da razão. Ao invés da fé para explicar o mundo, os renascentistas afirmavam 
que o uso da razão seria a única alternativa para se alcançar a verdade. Para 
isso, pretendiam modificar o ensino dado pelas universidades medievais, no 
qual, até então, predominavam os valores da Igreja Católica. O Racionalismo 
foi empregado principalmente pelas ciências. Os métodos experimentais e a 
observação da natureza se tornaram critérios obrigatórios para os cientistas 
modernos. 
� Individualismo: para os renascentistas, o homem deveria passar por uma 
grande mudança de comportamento. As diferenças individuais dos homens 
deveriam ser reconhecidas e respeitadas. Esse valor está intimamente 
associado ao espírito de competição da burguesia. 
São características da historiografia nesse período: 
a) Gosto pelo estudo dos textos antigos, gregos ou latinos; pelas inscrições; 
moedas, cartas, diplomas e outros documentos. 
b) Adotou-se como critério para enriquecer os métodos dos historiadores, 
determinar a autenticidade de um registro, pela comparação de diferentes fontes. 
26 
 
UNIDADE 4 – POSITIVISMO 
 
Utilizamos o termo “historiografia na pré-história”, [...], “historiografia no 
Renascimento” [...], mas, de antemão, lembramos que o termo “Historiografia” foi 
cunhado somente no século XIX, em imitação aos historiadores poloneses e 
alemães, como bem nos explica Claire-Jabinet (2003), que seria a arte de escrever a 
história, a literatura histórica, ou ainda, a história literária dos livros de história. 
Sobre a história da historiografia, Birardi, Castelani e Belatto (2001), 
procedem a uma retrospectiva explicativa muito interessante. Vejamos: 
Segundo os autores, no século XIX, a Europa presenciou amplo 
desenvolvimento tecnológico e industrial, que permitiu sua evolução econômica e a 
afirmação como o continente mais poderoso do mundo até a Primeira Guerra 
Mundial. Ao mesmo tempo em que crescia internamente, o continente se expandia 
para fora de seus domínios, conquistando terras, pessoas e novas riquezas na 
África e Ásia, numa reedição do colonialismo do Antigo Regime. 
No entanto, não bastava conquistar tais territórios e impor uma dominação à 
força em suas populações: era preciso justificar a razão daquele domínio e gerar um 
argumento incontestável. Para tal fim, os pensadores e intelectuais europeus 
utilizaram-se do conceito de ciência, tido como um saber superior e acessível a 
poucas pessoas. A explicação ficava clara: os europeus, donos da ciência e do 
desenvolvimento, se dirigiam àquelas novas terras para “salvar” suas populações do 
estado de barbárie e abandono em que estavam. Justificava-se o Imperialismo por 
meio de argumentos científicos, baseados na superioridade técnica e racial do 
europeu branco sobre o negro africano e o asiático: cientificamente falando, o 
europeu tinha o direito de dominar os novos colonos porque era de uma civilização 
mais avançada, dado o desenvolvimento que mostrava e o poder de seu 
conhecimento. 
Esta forma de se compreender o mundo, isto é, baseada no cientificismo 
que transforma as realidades sociais, frutos de uma certa ordem histórica que nunca 
é absoluta, em verdades absolutas e incontestáveis porque comprovadas pela 
ciência, tornou-se em pouco tempo a tônica de todo o pensamento do Velho 
Continente, espalhando-se para diversos campos do saber. Renasceu a importância 
27 
 
da Física e da Química como disciplinas exatas, por exemplo. Mas o caso mais 
destacado desse processo de construção de conhecimento é a transformação que 
ocorre nas chamadas disciplinas humanistas, a História e a Sociologia. Elas também 
vão incorporar a tendência cientificista, auxiliando a explicar o domínio europeu nas 
novas colônias e impondo novos métodos de se estudar as relações sociais e o 
andamento da História dos povos. 
Duas correntes dominaram o pensamento europeu a essa respeito. 
Tratavam-se do Racionalismo surgido no final do século XVIII, com a Revolução 
Francesa, e o Conservadorismo, presente no pensamento do continente desde o 
final da Idade Média e durante a Idade Moderna. 
Essa corrente, segundo o historiador Robert Nisbet (s.d. citado por 
MARTINS,1986), e como não poderia ser diferente, implica em preservar o que está 
estabelecido, ser contrário à mudança ou inovação. As ideias conservadoras 
presentes em uma sociedade têm uma razão de ser e existir, possuem como 
“referencial um aspecto da sociedade plenamente interessado na manutenção ou 
conservação da ordem (...)”. Em uma ideia que irá defender em todo o texto, Nisbet 
afirma que o Conservadorismo é objeto de toda a sociedade, e não de indivíduos 
isolados. Portanto, ao existir em função de um conjunto social, esta corrente também 
pode ser estudada pela Sociologia. 
Nisbet não aprova a visão individualista presente na fase pós-Revolução 
Francesa, que pregava a autossuficiência e a individualidade de cada ser humano e 
que serve de base para a cientifização do conhecimento e do estudo social, como 
dito acima. Esta negava, pois, a própria existência da sociedade como organização 
e como meio de influência de comportamentos humanos. O homem seria um ser de 
livre-arbítrio sobre seus atos, sem a necessidade de estabelecer relações com seus 
semelhantes. Ele se bastaria por si mesmo. Com isso, surgem correntes de 
pensamento relacionadas a essa forma de pensar e que se opõem a seus princípios, 
como o próprio Positivismo, que veremos nesta unidade. 
Rodrigues (2011) também nos explica que a história pode ser concebida 
como uma narrativa de fatos passados, que conhecer o passado dos homens é, por 
princípio, uma definição de história, e aos historiadores cabe recolher, por intermédio 
de uma variedade de documentos, os fatos mais importantes, ordená-los 
cronologicamente e narrá-los. Essa tendência passou a ser dominada de 
28 
 
historicismo, cuja metodologia foi conhecida como positivista, por basear-se nos 
princípios da objetividade e da neutralidade no trabalho do historiador. Conhecer o 
passado da humanidade, tal como ocorreu, constitui uma definição de história, 
característica da ciência positivista do século XIX. 
Os historiadores dessa corrente de pensamento baseavam suas análises em 
perspectivas deterministas, isto é, ressaltavam, por intermédio de uma variedade de 
documentos oficiais escritos, os fatos mais importantes; ordenavam-nos seguindo 
uma ordem cronológica e linear de apreensão do tempo e descreviam-nos com a 
perspectiva de reviver o passado real da humanidade. Por isso, receberam o 
estigma de “metódicos” ou “historiadores narrativos”, pelos historiadores do século 
XX. 
A intenção dos historiadores positivistas era ressaltar a importância dos 
grandes heróis nacionais, assim como, evidenciar no Estado Nacional em 
consolidação, o verdadeiro sujeito das transformações em curso. Além disso, 
enaltecer o auge da civilização europeia em ritmo acelerado de desenvolvimento 
após as novas tecnologias advindas da Segunda Revolução Industrial 
(RODRIGUES, 2011). 
Nota-se uma preocupação com assuntos de ordem política e social, porém 
resgatando uma sociedade “abstrata”, pois se centralizava na figura dos grandes 
líderes nacionais, estes sim, responsáveis pelas transformações estruturais de sua 
Nação. Os diversos grupos sociais estavam esquecidos, ou “à margem” do 
desenrolar histórico. 
Segundo estudos de Rodrigues (2011) e de Fonseca (2013), Leopold Von 
Ranke (1795-1886), historiador alemão, pode ser considerado um dos fundadores 
da história científica na Alemanha e um dos fundadores do cientificismo. Ranke 
exerceu um papel importante na configuração dos aportes teóricos que 
possibilitaram fornecer um caráter científico à História. O historicismo ou História 
Narrativa é o nome dado à Teoria que pretende apresentar “os fatos históricos tal 
qual realmente se passaram” (wie es eigentlich gewesen) (RANKE apud LÖWY, 
2007, p. 68). Sua metodologia (o positivismo) tem como princípio a objetividade e 
neutralidade por parte dos historiadores ao “reviver” a História. 
29 
 
Martin e Bourdé (s.d.) citados por Fonseca (2013), seguem os passos de 
Ranke, para caracterizar os pressupostos do positivismo na história. Vejamos uma 
síntese deles: 
a) Não há nenhuma interdependência entre o sujeito conhecedor (que é o 
historiador) e o objeto do conhecimento (que é o fato histórico); por hipótese, o 
historiador escapa a qualquer condicionamento social, o que lhe permite ser 
imparcial na percepção dos acontecimentos: 
Fica claro nesse pressuposto que, em primeiro lugar, há uma separação 
radical entre o sujeito e o objeto. O objeto, a matéria-prima, aquilo pelo qual se deve 
prestar atenção em relação ao conhecimento histórico são os fatos históricos. E por 
hipótese, o historiador escapa a qualquer condicionamento social, o que significa 
nada mais que o fato de que ele deve aplicar o princípio da neutralidade axiológica 
para atingir a “imparcialidade” requerida a todo historiador – e é claro que para isto 
deve este mesmo historiador aceitar a separação entre fatos e valores, devendo-se 
ater apenas aos fatos, deixando os (seus) valores de lado. 
Também fica claro, por outro lado, que além do débito que este pressuposto 
tem para com aquele da exterioridade do objeto com relação ao sujeito, é 
igualmente perceptível, na base dessa afirmação rankeana, a estrita separação 
(dualidade) entre fatos (os fatos históricos, aquilo que afinal deve ser “conhecido”) 
de um lado, e dos valores (aquela instância subjetiva que é axiologicamente 
carregada – isto é, o historiador), de outro. De fato, estas duas entidades que são 
concebidas como ontologicamente separadas, devem assim permanecer a fim de 
que o historiador (sujeito) atinja os fatos históricos (objeto) de modo “imparcial”. 
b)A História existe em si, objetivamente, tem mesmo uma dada forma, uma 
estrutura definida que é diretamente acessível ao conhecimento: 
Observamos aqui que, para o positivismo, a história existe em si e que a 
história como objeto de saber (como passado histórico a ser reconstruído) existe 
independentemente da percepção que o sujeito, o historiador, dá a este objeto. Ao 
vislumbrar até mesmo uma forma e uma estrutura no objeto (no caso, o passado 
histórico), leva-se o pressuposto da exterioridade do real até as últimas 
consequências. 
30 
 
A segunda parte deste pressuposto remete ao fato do conhecimento ser 
representação do real: de fato estas determinadas “formas e estruturas” do passado 
histórico são consideradas como sendo diretamente acessíveis ao conhecimento. 
Ou seja: já que existe – em modo perfeitamente delimitado, cristalino e definido – 
esta configuração histórica em si mesma, é consequente à conclusão no sentido de 
que toda esta estrutura histórica (real, identificável) pode ser toda ela captada pelo 
saber. Assim, se o saber ‘objetivo’ (aquele livre dos resquícios axiológicos do sujeito) 
tem a vocação de ser um espelho fiel do próprio objeto (lembremo-nos da paisagem 
e do espelho), o conhecimento histórico (ou ‘saber histórico’ ou ‘ciência da história’, 
pouco importa a terminologia), para a corrente positivista, tem a capacidade de 
espelhar o ‘passado histórico’ de modo fiel (desde que, é claro, forem seguidos 
corretamente os passos ‘cientificamente’ recomendados). 
c) A relação cognitiva é conforme a um modelo mecanicista. O historiador 
registra o fato histórico de maneira passiva, como o espelho reflete a imagem do 
objeto: 
Por esse pressuposto, entende-se que o historiador não deve pretender 
“recriar” a paisagem que lhe está adiante (o passado), mas, pelos passos 
metodológicos aconselhados, fazê-lo refletir fielmente, fazer com que a realidade se 
apresente e tudo isto sem a interferência subjetiva, sem a interferência dos valores 
deste historiador. Voltando ainda uma vez àquela metáfora já tantas vezes repetida, 
o historiador, ao invés de ser o “pintor” da paisagem que lhe afronta, deve ser tão 
somente aquele que segura um grande espelho (função mecânica, passiva, não 
criativa), devendo tão somente garantir que se opere esse reflexo de modo fiel,de 
modo a não evidenciar nenhuma “distorção” no objeto. 
d) Incumbe ao historiador não julgar o passado nem instruir seus 
contemporâneos, mas simplesmente dar conta do que realmente se passou: 
Quer dizer que, por esse pressuposto, o historiador deve ater-se tão 
somente aos fatos, deixando de lado seus valores. E atendo-se somente aos fatos, o 
historiador, para o positivismo, terá aberto as vias para descrever aquilo que 
“realmente se passou”. 
Percebe-se, portanto, que a verdade histórica (“aquilo que realmente se 
passou”) é a meta do conhecimento histórico positivista, é um objetivo que pode ser 
31 
 
atingido (ao menos idealmente) se a pesquisa, do ponto de vista metódico, não 
“ceder”, sobretudo às tentações subjetivistas (FONSECA, 2013). 
Ainda discutindo sobre o positivismo, voltamos a Birardi, Castelani e Belatto 
(2001) que empreendem o seguinte raciocínio: 
 
O Positivismo pregava a cientifização do pensamento e do estudo humano, 
visando a obtenção de resultados claros, objetivos e completamente 
corretos. Os seguidores desse movimento acreditavam num ideal de 
neutralidade, isto é, na separação entre o pesquisador/autor e sua obra: 
esta, em vez de mostrar as opiniões e julgamentos de seu criador, retrataria 
de forma neutra e clara uma dada realidade a partir de seus fatos, mas sem 
os analisar. Os positivistas creem que o conhecimento se explica por si 
mesmo, necessitando apenas seu estudioso recuperá-lo e colocá-lo à 
mostra. Não foram poucos os que seguiram a corrente positivista: Auguste 
Comte, na Filosofia; Émile Durkheim, na Sociologia; Fustel de Coulanges, 
na História, entre outros, contribuíram para fazer do Positivismo e da 
cientifização do saber um posicionamento poderoso no século XIX. 
 
Pode-se inclusive dizer que o Positivismo reduz o papel do homem enquanto 
ser pensante, crítico, para um mero coletor de informações e fatos presentes nos 
documentos, capazes de fazer-se entender por sua conta. “Os fatos históricos falam 
por si mesmos”, dizia Coulanges, historiador francês. 
Assim, para os positivistas que estudaram a História, esta assume o caráter 
de ciência pura: é formada pelos fatos cronológicos e o que realmente significam em 
si. São objetivos à medida que possuem uma verdade única em sua formação (que 
é o seu sentido e sua única possibilidade de compreensão) e não requerem a ação 
do historiador para serem entendidos: como já dito, o papel deste é coletá-los e 
ajeitá-los, constatando pela análise minuciosa e liberta de julgamentos pessoais sua 
validade ou não. O saber histórico, dessa forma, provém do que os fatos contêm, e 
assume um valor tal qual uma lei da Física ou da Química, ciência exatas. 
Tão objetiva é a História para os positivistas que um de seus maiores 
ensinamentos é a busca incessante de fatos históricos e sua comprovação empírica. 
Daí a necessidade, como pregavam, de se utilizar na pesquisa e análise o máximo 
de documentos possíveis: para se obter a totalidade sobre os fatos e não deixar 
nenhuma margem de dúvida no que se refere à sua compreensão. 
A busca desses fatos deve ser feita por mentes neutras, pois qualquer juízo 
de valor na pesquisa e análise altera o sentido e a verdade própria dos fatos, 
32 
 
modificando a própria História. Esta se tornaria uma ciência falha e totalmente fora 
de seu caráter científico, e, portanto, destituída de valor e validade. Coulanges 
chega a afirmar que a “História não é arte, mas uma ciência pura (...) a busca dos 
fatos é feita pela observação minuciosa dos textos, da mesma maneira que o 
químico encontra os seus em experiências minuciosamente conduzidas”. 
 
A objetividade, a minuciosidade, o detalhe e a dedicação impessoal, portanto, são as 
grandes lições da escola positivista para o estudo da História no século XIX e no 
início do XX. 
 
Os historiadores que, nessa época, tentaram provar outras formas de se 
estudar a disciplina foram desconsiderados e postos à margem. Numa sociedade 
europeia que buscava seu próprio desenvolvimento e avançava rumo a grandes 
descobertas na ciência e na tecnologia, a cientifização que marcou a época também 
se espalhou para o campo dos estudos humanos, reduzindo o papel do profissional 
desse campo para um mero coletor de informações. A implicação de opiniões 
externas aos sentidos dos fatos históricos alterava a História, na opinião positivista, 
e eliminava assim sua legitimidade como saber de importância social. 
Principais representantes do Positivismo 
 
33 
 
UNIDADE 5 – MATERIALISMO HISTÓRICO 
 
Não há como falar em materialismo histórico sem antes entendermos um 
pouco dos estudos de Karl Marx (para falar a verdade, bem pouco mesmo). 
Buscamos em Ferreira e Silva (2012) as explicações mais simples para 
entendermos o Materialismo Histórico. Vamos lá: 
Karl Marx (1818-1883) desenvolveu a teoria socialista partindo da análise 
crítica e científica do capitalismo. Ele não se preocupava em pensar como seria uma 
sociedade ideal, mas sim, preocupava-se em compreender a dinâmica do 
capitalismo, e para tal, estudou a fundo suas origens, a acumulação de capital, a 
consolidação da produção, e suas contradições (que inevitavelmente, esse sistema 
seria destruído por si só – em sua dinâmica evolutiva geraria elementos que 
acabaria por destruí-lo). 
Os princípios básicos que fundamentaram o socialismo marxista podem ser 
sintetizados em três teorias centrais: 
i) a teoria da mais-valia, onde se demonstrava a maneira pelo qual o 
trabalhador é explorado na produção capitalista; 
ii) a teoria da luta das classes, onde se afirma que a história da sociedade 
humana é a história da luta das classes ou do conflito permanente entre 
exploradores e explorados; e, 
iii) a teoria do materialismo histórico. 
Marx dedicou-se a um estudo intensivo da história, e criou uma teoria que 
veio a ser conhecida como a concepção materialista da história, que foi exposta num 
trabalho em que esboça a história dos vários modos de produção, prevendo o 
colapso do modo de produção vigente – o capitalismo. 
O materialismo histórico é uma teoria sobre toda e qualquer forma produtiva 
criada pelo homem de acordo com seu ambiente ao longo do tempo, onde se 
evidencia que os acontecimentos históricos são determinados pelas condições 
materiais (econômicas) da sociedade. Dentre as ideias do materialismo histórico, 
relevam-se as questões das forças produtivas e relações de produção. 
34 
 
Marx afirmou que a estrutura de uma sociedade depende da forma como os 
homens organizam a produção social de bens. A produção social, segundo ele, 
engloba dois fatores básicos: as forças produtivas e as relações de produção. 
� As forças produtivas constituem as condições materiais de toda a produção. 
Representam as matérias-primas, os instrumentos, as técnicas de trabalho e 
até os próprios homens. Reconhece-se o grau de desenvolvimento das forças 
produtivas de uma nação a partir do aperfeiçoamento da divisão do trabalho. 
� As relações de produção são as formas pelas quais os homens se organizam 
para executar a atividade produtiva. Elas se referem às diversas maneiras 
pelas quais são apropriados e distribuídos os elementos envolvidos no 
processo de trabalho. Assim, as relações de produção podem ser 
cooperativistas (como um mutirão), escravistas (como na antiguidade), servis 
(como na Europa feudal) e capitalistas (como na indústria moderna). 
Forças produtivas e relações de produção são condições naturais e 
históricas de toda a atividade produtiva que ocorre em sociedade. A forma pela qual 
ambas existem e são reproduzidas numa determinada sociedade constitui o que 
Marx determinou de modo de produção. Para ele, o estudo deste é muito importante 
para a compreensão de como se organiza a sociedade (FERREIRA; SILVA, 2012). 
Pois bem, feitas essas explicações, eis que no contexto da Revolução 
Industrial, o pensamento socialista aparece como reação a ala conservadora(positivistas), tendo em Karl Marx e Friedrich Engels, sua expressão máxima. Eles 
procuram colocar em evidência os antagonismos e contradições da sociedade 
capitalista. 
São pontos importantes dessa fase: 
� interpreta a vida social conforme a dinâmica da luta de classes e prevê a 
transformação das sociedades de acordo com as leis do desenvolvimento 
histórico de seu sistema produtivo; 
� a historiografia marxista ressalta como perspectiva para a compreensão do 
passado, a importância das massas nos feitos históricos e percebe essas 
massas populares como integrantes ativos na construção da história (luta 
contra dominação ou alienação das classes oprimidas pelo sistema 
capitalista); 
35 
 
� Marx e Engels defendem a ideia de que a História constitui, no seu essencial, 
uma descrição da luta de classes que sempre tem lados oposto explorados e 
exploradores. As contradições são o motor da história; 
� a partir disso, os acontecimentos não são acabados e a História não é dada, 
mas sim construída socialmente pelos indivíduos que nela se inserem; 
� o pensamento marxista torna-se uma corrente política-teórica que influencia 
pensadores e “militantes” em todo mundo, nem sempre coincidentes com o 
que foi chamado Socialismo Científico. Ex: Stalinismo. Diga-se de passagem, 
que os rumos tomados pelo Stalinismo acabaram gerando um grande 
desconforto entre os marxistas da época. 
Como disse Hunt (1981), 
 
não podemos esperar que Marx ou qualquer outro pensador tenha sido um 
vidente infalível da sequência exata e da ocasião exata dos acontecimentos 
futuros. (...) Marx, porém, apresentou uma análise estruturada, bem como 
inúmeros esclarecimentos teóricos e históricos concretos, que continuam, 
comprovadamente, muito úteis até hoje, para que a estrutura e o 
funcionamento do capitalismo possam ser entendidos. 
 
Enfim, a Filosofia marxista configurou, de fato, um novo enfoque teórico de 
análise da História. Enquanto os historiadores positivistas baseavam seus estudos 
na “genealogia da Nação Moderna”, por intermédio dos documentos oficiais escritos, 
compondo uma história das elites políticas, “reacionária” do ponto de vista teórico, 
Marx afirmava ser a Luta de classes o verdadeiro fundamento de uma História em 
movimento. Para Marx, o “trabalho” (categoria fundante de sua filosofia), entendido 
como as múltiplas relações entre os homens e a natureza, relação esta que ocorre 
como condição material da vida em sociedade, representa o estágio ou modelo de 
produção de organização social e econômica de um determinado espaço e período 
histórico. 
O “acontecimento” e “as ações individuais” (fundamentais para os 
historiadores positivistas), provocadores de transformações e mudanças, são para 
os historiadores marxistas, consequências naturais do estágio do modo-de-produção 
em curso (RODRIGUES, 2011). 
 
36 
 
Principais representantes do materialismo dialético 
 
37 
 
UNIDADE 6 – ESCOLA DOS ANNALES 
 
A corrente do pensamento historiográfico conhecido como École des 
Annales surgiu com a inauguração da revista: “Annales de História Econômica e 
Social”, fundada, em 1929, pelos historiadores Marc Bloch (1886-1944) e Lucién 
Febvre (1878-1956) (ambos professores da Universidade de Estrasburgo - França). 
A intenção era promover estudos relativos às estruturas econômicas e sociais, 
favorecendo possíveis contatos interdisciplinares no seio das Ciências Sociais. Os 
horizontes de ação do historiador ampliavam-se e possibilitavam recuperar o 
passado por intermédio de questões colocadas pelo tempo presente, assim como a 
ampliação da noção de fonte. 
Para eles: a História deixa de ser “narrativa” para ser “problema”. 
 
Na história-problema, o historiador escolhe seus objetos no passado e os interroga a 
partir do presente. Ele explicita a sua elaboração conceitual, pois reconhece a sua 
presença na pesquisa: escolhe, seleciona, interroga, conceitua. 
 
Segundo Bitencourt (2004), a noção de tempo é encarada como a divisão 
entre tempo do acontecimento, da conjuntura e da longa duração ou estrutura que 
possibilitou uma ampliação da noção de tempo à História e definiu novos aportes 
metodológicos para apreensão da memória histórica. 
Guarde: 
A Escola dos Annales foi realmente um movimento de renovação da 
historiografia iniciado na França do final da década de 1920, com a fundação, por 
Marc Bloch e Lucien Febvre, da revista Anais de História Econômica e Social. Como 
o próprio título denuncia, os dois historiadores, inicialmente periféricos na academia 
francesa e que reuniram em torno de si pesquisadores de outras áreas das ciências 
humanas, propunham uma escrita da história que privilegiasse o econômico e o 
social em detrimento do político. 
Se opondo diretamente à produção historiográfica predominante no século 
XIX, a revista tornou-se um movimento de vanguarda na renovação do método de 
38 
 
investigação histórica, divulgando, entre outras coisas, a concepção de uma história 
total que fosse desenvolvida a partir de uma problemática (como já dito, história-
problema) e que utilizasse interdisciplinaridade como estratégia importante para se 
chegar ao conhecimento histórico. 
A reflexão sobre o caráter das fontes históricas também é outra contribuição 
da escola, a partir dela, o conceito de documento histórico será relativizado, no que 
tange a ideia de verdade e neutralidade, e enriquecido a partir da incorporação de 
novas formas de fontes históricas, além da escrita. 
 
6.1 Primeira geração – Bloch e Febvre 
A insatisfação que os jovens Lucien Febvre e Marc Bloch demonstravam nas 
Décadas de 1910 e 1920, em relação à História Política, sem dúvida estava 
vinculada à relativa pobreza de suas análises, em que situações históricas 
complexas se viam reduzidas a um simples jogo de poder entre grandes homens ou 
países. 
A necessidade de uma História mais abrangente e totalizante nascia do fato 
de que o homem se sentia como um ser cuja complexidade em sua maneira de 
sentir, pensar e agir, não podia reduzir-se a um pálido reflexo de jogos de poder, ou 
maneiras de sentir, pensar e agir dos poderosos do momento. Fazer uma outra 
História, na expressão usada por Febvre, era, portanto menos redescobrir o homem 
do que, enfim descobri-lo na plenitude de sua virtualidade, que se inscreviam 
concretamente em sua realização histórica. 
Talvez resida nessa intenção de diversificar o fazer Historiográfico a maior 
contribuição de Bloch e Febvre, quando, além de produzirem uma obra pessoal 
significativa, fundaram a Revista dos Annales, com o explícito objetivo de fazer dela 
um instrumento de enriquecimento da História, por sua aproximação com as ciências 
vizinhas e pelo incentivo à inovação temática. 
Duas personalidades, dois temperamentos, duas maneiras de abordagem do 
homem harmonizando-se numa combinação que possibilitou o franqueamento de 
fronteiras da História. 
Lucien Febvre (especialista no século XVI) e Marc Bloch (medievalista) 
foram os líderes do que pode ser denominado Revolução Francesa da Historiografia. 
39 
 
Embora fossem muito parecidos na maneira de abordar os problemas da 
História, diferiam bastante em seu comportamento. Febvre, oito anos mais velho, era 
expansivo, veemente e combativo, com uma tendência a zangar-se quando 
contrariado por seus colegas; Bloch, ao contrário, era sereno, irônico e lacônico, 
demonstrando um amor quase inglês por qualificações e juízos reticentes. Apesar, 
ou por causa dessas diferenças, trabalharam juntos durante vinte anos entre as 
duas Guerras. 
Em 1897, Lucien Febvre foi admitido na Escola Normal Superior. Era uma 
pequena Escola Superior, mas altamente qualificada intelectualmente. Aceitava 
pouco menos de 40 alunos por ano. O ensino era ministrado através de seminários 
de aulas expositivas. Febvre aprendeu muito com Paul Vidal de La Blache, um 
Geógrafo interessado em colaborar com Historiadores e Sociólogos.Lucien Lévy-
Bruhl, Filósofo e Antropólogo, criador do conceito de “Pensamento Pré-lógico” ou 
“Mentalidade Primitiva”, Emile Mâle, Historiador, um dos pioneiros a concentrar-se 
não na História das Formas, mas na das imagens, na iconografia, como dizemos 
hoje. Antoine Meillet, Linguista, interessado nos aspectos sociais da língua. Febvre 
reconheceu também seu débito para com inúmeros Historiadores anteriores. 
Durante toda a vida expressou sua admiração pela obra de Michelet. Reconheceu 
Burckhardt como um de seus “Mestres”, juntamente com o historiador da arte Louis 
Courajod. Confessa também uma surpreendente influência; a do político de 
esquerda Jean Jaurés, através de sua obra Histoire Socialiste de la Révolucion 
Française (1901-3), “Tão rica em intuições sociais e econômicas” (BURKE, 1991). 
Uma característica marcante e poderosa do estudo de Febvre era a 
introdução geográfica, que traçava um nítido perfil dos contornos a região. A 
introdução geográfica era quase obrigatória nas Monografias Provinciais da Escola 
dos Annales da década de 1960. Febvre também teve influência do Geógrafo 
alemão Ratzel, apesar de num debate apoiar Vidal de La Blache e atacar Ratzel, 
enfatizando a variedades de possíveis respostas ao desafio de um dado meio. 
Segundo ele, não havia necessidade, existiam possibilidades. Em última análise, 
não é o ambiente físico que determina a opção coletiva, mas o homem, sua maneira 
de viver, seu comportamento. 
A carreira de Bloch não foi muito diferente da de Febvre. Frequentou 
também a Ecole Normale, onde seu pai Gustavo ensinava História Antiga. 
40 
 
Aprendeu, igualmente, com Meillet e Lévy-Bruhl: contudo, como comprova a análise 
de suas últimas obras, sua maior influência foi a do Sociólogo Emile Durkheim, que 
iniciou sua carreira de professor na Ecole mais ou menos na época de seu ingresso. 
Apesar de seu interesse pela Política Contemporânea, Bloch optou por 
especializar-se em História Medieval. Como Febvre, interessava-se pela Geografia 
Histórica, tendo especialização a Ile-de-France, sobre a qual publicou um estudo em 
1913. Esse estudo revela que, como Febvre, Bloch pensava no tema sob a 
perspectiva de uma História-Problema. 
O compromisso de Bloch com a Geografia era menor do que de Febvre, 
embora seu compromisso com a Sociologia fosse maior. Contudo, ambos estavam 
pensando de uma maneira interdisciplinar. Bloch, por exemplo, insistia na 
necessidade do Historiador Regional combinar as habilidades de um Arqueólogo, de 
um Paleógrafo, de um Historiador das Leis, e assim por diante (BURKE, 1991). 
A verdade é que, conforme já afirmava Burke (1997 apud REIS, 2004), 
desde o encontro entre Marc Bloch e Lucien Febvre, a historiografia nunca mais foi a 
mesma, no entanto, as variações de opinião acerca de como e o que mudou com o 
advento da Escola dos Annales são muitas. 
O “montante” de paradigmas, afirmações e direções permearam as três 
gerações desse movimento. Na verdade, a grande contribuição historiográfica dos 
Annales em sua primeira geração foi a possibilidade de um diálogo entre a história e 
as ciências sociais, rompendo uma barreira invisível e ao mesmo tempo sólida, 
legitimada por uma história tradicional, factual, excessivamente preocupada com os 
acontecimentos advinda do século XIX (REIS, 2004). 
A “história nova” empreendida por Febvre e Bloch com a Escola dos 
Annales, começa a tecer suas redes de conhecimento em contraposição a história 
tradicional “enraizada” nos grandes homens e fatos, e que dessa forma, 
marginalizava muitos aspectos das experiências humanas, entretanto, para a 
“história nova”, toda vivência humana é portadora de uma história. 
Partindo desta ideia que os Annales construíram, o sentido de “História 
total”. A primeira geração dos Annales foi o ponto de partida para as novas 
abordagens da história. Bloch em ‘Les Reis Thaumaturges’ (Os Reis de 
Taumaturgos) amplia o campo historiográfico sobre o estudo do mundo rural, 
41 
 
fazendo comparações entre a França e a Inglaterra, algo novo do ponto de vista 
tradicional “acostumado” a escrever sobre temas mais restritos. 
Febvre objetivava uma pesquisa interdisciplinar com uma história voltada 
para a problematização, entretanto, em algumas obras propunha uma 
homogeneidade de pensamento praticamente “impossível”. Era preciso levar em 
consideração os vários aspectos e diferenças humanas, seja ele homem, mulher, 
rico ou pobre. O fato é que as diferenças existem na forma de pensar dos indivíduos, 
e não levá-las em consideração, é negligenciar outros campos relevantes 
(MARTINS, 2008). 
Os pensamentos de Marc Bloch e Lucien Febvre se entrecruzaram na 
criação de uma revista. Assim, os Annales surgiram como nova proposta no meio 
científico, contrariando a história política tradicional e abrindo espaços para a história 
social e econômica. Nesse período, são muitas as publicações concernentes aos 
referidos temas. A revista dos Annales condensou os saberes e experiências de 
Bloch e Fevbre, assim como suas críticas a uma história tradicional, enraizada no 
modelo positivista. 
Relembremos que os positivistas acreditavam que, se adotassem uma 
atitude de distanciamento de seu objeto, sem manter relações de interdependência, 
obteriam um conhecimento histórico objetivo, um reflexo fiel dos fatos do passado, 
puro de toda distorção subjetiva. O historiador, para eles, narra fatos realmente 
acontecidos e tal como eles se passaram (REIS, 2004). 
Martins (2008) explica que nessas conexões de dizeres e saberes, os 
positivistas “amarram” o historiador a teias complexas e interrompem seu processo 
criador. Em termos historiográficos, o “cientista” positivista colhe provas de suas 
falas, fechando suas conclusões objetiva e comprovadamente. Contrários a essas 
ideias, Bloch e Fevbre se assemelhavam, delineando a primeira geração, aos seus 
modos. Com a morte dos maiores representantes da primeira geração, Bloch e em 
seguida Fevbre, Braudel é o sucessor e diretor efetivo dos Annales. Sua proposta 
inicial é de renovação, consequência de conflitos internos ocorridos no período pós-
morte de Fevbre. 
Fato é que a Escola dos Annales tem na sua história o marco de uma 
“revolução” historiográfica francesa (BURKE, 1997). 
42 
 
O início do século XX tem suas particularidades, os Annales são, portanto 
frutos de seu tempo. Suas maiores contribuições consistem no implemento da 
história-problema, da ampliação das fontes, do enquadramento da história como 
“ciência humana e social”, através de uma relação interdisciplinar, porém tudo isso 
motivado ainda por um ideal de cientificidade (MARTINS, 2008). 
 
6.2 Segunda geração – Braudel 
Fernand Braudel (1902-1985) é consensualmente considerado um dos 
maiores historiadores do século XX, além de ter dominado amplamente a segunda 
geração dos Annales – este movimento que tantas repercussões trouxe para a 
historiografia mundial e, particularmente, para a historiografia brasileira 
(WALLERSTEIN, 1989 apud BARROS, 2012). 
Ao assumir a direção da Annales, em 1959, Fernand Braudel imprimiu à 
revista a sua identidade. O apreço pela geografia e pela longa duração de tempo 
está revelado em sua tese “O Mediterrâneo e Felipe II”. 
Braudel considerava a “história dos eventos” superficial, ou seja, a história 
política/militar revelada pela narrativa seria limitada. O historiador deveria percorrer 
caminhos de tempo mais longo a fim de entrar em contato com a estrutura social e 
econômica da sociedade em questão. 
Havia, também, o privilégio da “História da Cultura Material” que deixava de 
lado importante esfera da manifestação humana, o mundo simbólico, tão observado 
pela Antropologia. Indo além, Braudel foi importante para a construção da geo-
história. Em sua concepção, o estudo da relação entre o homem e o seu meio, seria 
de fundamental importância para o entendimento de uma sociedade. 
Concomitante à “Era Braudel”,

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