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1 Curso Ênfase © 2019 DIREITO PENAL - PARTE GERAL I – ANA PAULA VIEIRA AULA24 - SIST EMAS DE T EORIA DO DELITO: SIST EMA CLÁSSICO 1. OS SISTEMAS DE TEORIA DO DELITO Nesta aula, será iniciado o tema acerca dos sistemas de Teoria do Delito. Na última aula, abordou-se, de forma geral, o que consiste essa teoria e quais seriam os seus extratos de análise, a "escadinha" que simboliza o caminho do crime e seus vários degraus. Ainda, na última aula, foi ensinado que cada degrau da "escada" deve ser singularmente analisado, ou seja, deve-se ir subindo em cada degrau e não se pode, de jeito algum, pular os degraus (ex.: verificar o degrau da culpabilidade antes do degrau da tipicidade: fazer isso é cometer um erro). Insta salientar, também, que ao realizar uma abordagem geral dos substratos do crime (tipicidade, ilicitude e culpabilidade) frisou-se que os conceitos ali apresentados baseavam-se na visão prevalente de hoje em dia, mas que, no entanto, nem sempre foi assim. Isso porque esses conceitos foram objeto de uma evolução a ser estudada nesta aula. Cumpre ressaltar que a evolução dos conceitos dos substratos do crime será estudada no tema a seguir. OBSERVAÇÃO: A professora informou que disponibilizou alguns materiais na área do aluno para o estudo do tema. Para quem não possui tanto tempo, ela recomenda, em especial, dois materiais: i) um trecho do livro de Roxin chamado de "Política Criminal e Sistema Jurídico-Penal", livro clássico, traduzido, no Brasil, por Luís Greco. Este fragmento disponibiliza essa visão geral abordada na aula anterior do que é tipicidade, ilicitude etc; ii) já o outro texto trata-se de um artigo de autoria de Luís Greco sobre Funcionalismo. Ao trabalhar o Funcionalismo, Luís Greco faz uma retrospectiva de todos os sistemas anteriores, portanto, o artigo é muito didático. Destarte, nos sistemas de Teoria do Delito aborda-se a evolução dos conceitos dos substratos do crime, isto é, como se chegou ao conceito de ilicitude atual, como se chegou naquele conceito de culpabilidade. Em razão disso, iniciaremos o estudo pelo sistema clássico. 1.1. O SIST EMA CLÁSSICO DE LISZT E BELING Direito Penal - Parte Geral I – Ana Paula Vieira Aula24 - Sistemas de Teoria do Delito: Sistema Clássico 2 Curso Ênfase © 2019 O sistema clássico de Teoria do Delito foi cunhado em uma época em que predominava a ideia de que a verdadeira ciência cabia à natureza (biologia, física, matemática), pois oferecia segurança e exatidão. Cabe resvalar que esse argumento se chama naturalismo. E, nesse tanto, a ideia era a seguinte: para que o Direito fosse uma ciência, seria necessário aproximar seu método de estudo ao estudo das Ciências Naturais, sendo esta a ideia fundamental do naturalismo. Com efeito, nota-se que a forma de estudar o Direito Penal, neste sistema, é muito semelhante ao estudo das Ciências Naturais, isto é, preza-se o formalismo, a classificação. Desse modo, foi inspirado nesse ideário que temos esse sistema clássico. Nessa época, já se entendia que a responsabilidade penal pressupunha dolo ou culpa. Em razão disso, inspirados por essa ideia, por essa visão naturalista das ciências, indaga-se como o penalista da época estudava ou sistematizava a Teoria do Delito. Da seguinte maneira: ele separou o crime em injusto e culpabilidade e, seguindo a visão desse método classificatório, sua ideia foi a de concentrar no injusto tudo o que era objetivo, já na culpabilidade, tudo o que era subjetivo. Quanto ao injusto ficou a ação, o nexo causal e o resultado. No entanto, a ação inserida no injusto trata-se somente do aspecto externo, apenas o movimento do corpo, pois as intenções do sujeito (o dolo) eram elemento da culpabilidade. Tudo o que dissesse respeito à intenção deveria fazer parte da culpabilidade. Logo, à época, a visão da Teoria do Crime, influenciada pelo naturalismo, tinha esse aspecto classificatório, em outras palavras, tudo o que era objetivo passava a estar no injusto e tudo que era subjetivo mantinha-se na culpabilidade. Naquela época já se estudava sobre a imputabilidade (capacidade psiquiátrica do sujeito)? Sim, todavia, a imputabilidade era colocada em um "limbo" porque não era considerada nem objetiva nem subjetiva, mas sim um pressuposto da culpabilidade, logo, para o sujeito agir com dolo e culpa ele deveria ser imputável. Com efeito, como a imputabilidade não se trata de uma intenção, um elemento subjetivo, eles não tinham como caracterizá-la como um elemento da culpabilidade porque seria contraditório com a própria visão de delito. Dessa forma, eles a colocaram como um pressuposto da culpabilidade. Direito Penal - Parte Geral I – Ana Paula Vieira Aula24 - Sistemas de Teoria do Delito: Sistema Clássico 3 Curso Ênfase © 2019 AT ENÇÃO: O conceito de ação com o qual trabalhavam era o chamado "conceito causal ou causalista de ação". Noutros termos, a ação refere-se ao movimento do corpo que produz um resultado, não interessando a esse conceito de ação as intenções do sujeito, visto que estas são analisadas na culpabilidade. Por conseguinte, o injusto (a ação típica e ilícita) concentra todo o objetivo do crime como o movimento do corpo, já que esse conceito de ação engloba apenas o aspecto externo da conduta, nexo de causalidade e resultado. Frise-se que esse sistema clássico separava o objetivo (exterior) no injusto e o subjetivo na culpabilidade (interior). No injusto estudava-se um vínculo objetivo entre sujeito e resultado (relação de causalidade) e na culpabilidade um vínculo subjetivo. Havia, ainda, uma pretensão de fornecer um conceito realista de ação. Acrescenta-se que tinha um caráter classificatório e formalista, isto é, não se interessava pelo conteúdo dos conceitos. Tal sistema separava o objetivo (aspecto externo no injusto) e subjetivo (intenções na culpabilidade); no injusto estudava-se um vínculo objetivo entre sujeito e resultado (relação de causalidade) e na culpabilidade um vínculo subjetivo. Ainda sobre o sistema clássico, ressalta-se que este pretendeu fornecer um conceito realista de ação, observado pelo penalista na realidade, por isso dá-se essa denominação porque era fruto de uma observação da natureza. Ação é o movimento do corpo (trata-se de conceito causal ou causalista de ação). AT ENÇÃO: Idealismo refere-se ao oposto de Realismo. Ocorre através da ideia de prevalência das ideias ou da construção que o homem faz em sua mente. Ao estudar a Teoria do Tipo, será ensinado quem inventou o tipo penal. Corresponde a Beling e quando inventou essa ideia, já predominava o sistema clássico da Teoria do Delito. A professora menciona o estudo de vários sistemas acerca desse tema e, por isso, destaca uma imagem sobre a oposição entre um sistema e outro: a imagem do pêndulo. Para mais, explicita que todos esses sistemas que se sucedem, na verdade, oscilam entre se aproximar ou se afastar dos juízos de valor. Esse tema será estudado brevemente, entretanto, salienta-se que esses juízos, para o direito, são importantes. Direito Penal - Parte Geral I – Ana Paula Vieira Aula24 - Sistemas de Teoria do Delito: Sistema Clássico 4 Curso Ênfase © 2019 No entanto, eles trazem uma margem de insegurança jurídica. A título de exemplo, temos a professora fazendo algo a respeito das eleições presidenciais. Isso pode não coincidir conforme o juízo de valor que faz Valéria Caldi. Portanto, nota-se que valorações sempre trazem uma margem de insegurança, sendo esse um fato. Contudo, a questão, em Direito Penal, no âmbito jurídico de forma geral, não prescinde valorações, logo, julgar é valorar. O que pode ser feitoé domá-las, fazendo com que essas valorações sigam determinados critérios para que não sejam arbitrárias, mas sim racionais. Nessa linha, salienta-se que os vários sistemas da Teoria do Delito ora rechaçam os juízos de valor e pretendem minimizá-los o máximo que puderem, ora se aproximam dessas valorações (acham que podem enriquecer a Teoria do Delito). Voltando ao pêndulo, a professora costuma usar essa imagem ao tratar do sistema clássico, pois há o movimento de afastar as valorações. Tal sistema deseja que o método de estudar o Direito seja parecido com o método das Ciências Naturais, no qual as valorações não são bem-vindas. Atualmente, sabe-se que também existem valorações nessa ciência, ainda que em menor intensidade e, por isso, o sistema clássico queria aproximar o Direito das Ciências Naturais. Diante disso, o sistema clássico quer se afastar do juízo de valor, por tal motivo, o pêndulo está totalmente voltado para o lado contrário ao que se encontra esses juízos, qual seja, o lado da objetividade, tudo deve ser o máximo objetivo possível. No próximo sistema, será estudado o sistema Neoclássico, o qual será uma reaproximação da Teoria do Delito em relação aos juízos de valor, volta-se a perceber que os juízos de valor são relevantes para a Teoria do Delito. No sistema finalista, o pêndulo se afasta: há uma desconfiança dos juízos de valor. Já no Funcionalismo o pêndulo se aproxima novamente. Por conseguinte, esses vários sistemas de Teoria do Delito funcionam, qual seja, ora rechaçando e ora se aproximando dos juízos de valor. Por que alguns sistemas pretendem se afastar ou minimizar os juízos de valor? Porque eles têm medo da insegurança jurídica que trazem (a professora concorda, diz que, de fato, trazem essa insegurança). Direito Penal - Parte Geral I – Ana Paula Vieira Aula24 - Sistemas de Teoria do Delito: Sistema Clássico 5 Curso Ênfase © 2019 Já os sistemas de Teoria do Delito que se reaproximam da importância dos juízos de valor desejam usar esses juízos valorativos, propondo critérios para que sejam utilizados de forma racional. Em síntese, o sistema clássico trata-se de um sistema que pretende se afastar dos juízos de valor, ou melhor, minimizá-los. Quanto menor for a importância dos juízos de valor, mais o Direito Penal se parecerá com a verdadeira ciência (Ciências Naturais). O tipo penal era composto por elementos meramente descritivos e antijuridicidade era uma mera contradição entre a conduta e a norma. Na culpabilidade adotava-se a concepção psicológica. Razões da decadência do sistema clássico: (i) não havia como explicar os elementos subjetivos do injusto e a culpa inconsciente; (ii) a necessidade de mudança do método. Quando for estudado o tipo penal (a descrição da conduta proibida), será visto que ele possui elementos descritivos e normativos. Os elementos normativos tratam-se dos juízos de valor. Contudo, à época do sistema clássico, os penalistas queriam, ainda que impossível, que os tipos penais somente tivessem elementos descritivos, imunes a valorações. Portanto, eles procuravam descrições típicas que somente contivessem elementos descritivos e a ilicitude era vista como uma mera contradição entre a conduta e a norma, ou seja, não era uma valoração sobre um conflito de interesses que colidem, um mais valioso que o outro - para analisar isso precisaria valorar. Sendo assim, naquela época analisava-se a ilicitude apenas observando as causas legais de exclusão da ilicitude. Não existia causa supralegal de exclusão da ilicitude, apenas o que estava em lei. Já na culpabilidade, adotava-se a concepção psicológica de culpabilidade, qual seja, a sua formação, exclusivamente, de um vínculo psicológico entre o agente e o resultado. EXEMPLO: Teria-se o agente e o resultado e entre eles dois vínculos: vínculo objetivo referente ao nexo causal; e um vínculo subjetivo que se trata de dolo e culpa (culpabilidade). Desse modo, naquela visão a concepção de culpabilidade consistia em uma concepção psicológica, ou seja, dolo e culpa como únicos elementos da culpabilidade. • Decadência do sistema clássico: Direito Penal - Parte Geral I – Ana Paula Vieira Aula24 - Sistemas de Teoria do Delito: Sistema Clássico 6 Curso Ênfase © 2019 Frise- se que o sistema clássico entrou em decadência por várias razões. Contudo, abaixo serão elencadas as duas razões mais evidentes: 1ª Razão: não havia como explicar a culpa inconsciente. No sistema clássico, a ideia considerava objetivo tudo aquilo que permanecia no injusto e tudo aquilo subjetivo na culpabilidade. Entretanto, a culpa inconsciente referente ao que o agente não prevê o resultado, isto é, imprevisível, não é um elemento subjetivo, visto que ela não possui intenção. Culpa inconsciente é objetiva, o agente não deseja nada, tampouco prevê o resultado. Dessa forma, nota-se que isso é um "furo" do "Sistema Clássico" que coloca a Culpa Inconsciente na Culpabilidade. A Culpa Inconsciente é um sinal de que a Culpabilidade não é Exclusivamente Psicológica. 2ª Razão: Não havia como explicar os elementos subjetivos do injusto. Outro furo no sistema clássico, pois à época descobriram os elementos subjetivos especiais do injusto que , atualmente, são conhecidos como especiais fins de agir que existiriam em alguns tipos penais. São subjetivos e moram no injusto, mais um furo do sistema clássico. À vista disso, foram se apresentando furos dessa classificação: elementos objetivos de um lado e subjetivos de outro, vez que isso não funciona, dessa maneira era incoerente. Entretanto, o mais importante cada vez mais foi se revelando necessário. Mudar esse método que rejeita os juízos de valor, que se afasta deles porque foram surgindo hipóteses da vida real que demandavam juízos de valor que não estavam em lei. Esse método classificatório, formalista, além de ter esses furos de coerência, também começou a não dar conta da realidade, isto é, foram surgindo problemas práticos que precisavam de uma sentença, de uma afirmação de culpa ou não culpa (em sentido lato sensu) e essa solução não estava na lei, precisava-se de um instrumental teórico mais sofisticado que o sistema clássico não oferecia. Isto porque o esse sistema tinha ojeriza a juízos de valor, assim, o seu instrumental era pobre para resolver esses problemas. Na próxima aula será vista a situação concreta/prática que levou ao desenvolvimento do sistema neoclássico, o qual faz o pêndulo se reaproximar dos juízos de valor.
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