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Caderno des 2 [891799]

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Caderno: Experiências de Desenvolvimento Comparadas 
Aluna: Bruna Cataldo
Professor: Ronaldo Fiani
· Experiências comparadas:
Teoria econômica tradicional: relações são independentes de tempo e espaço. Como podemos comparar se é a mesma função de produção sempre?
Argumento: relações econômicas funcionam igualmente gerando maior produção possível se nada, nem ninguém, atrapalharem. 
Problema: história indica que não funciona assim e que, mesmo com relações sendo iguais, ainda é limitado o número de países com alta renda per capita. Isso porque Y = f (K, L) está longe de ter aplicação geral. É isso que sugere a validade da comparação de experiências 
Problema do desenvolvimento: nós fazemos parte de uma sociedade, então não é puramente escassez de capital, mas também como se dá a organização da mesma INSTITUIÇÕES.
· Sistema Econômico:
Definição: Forma pela qual se organiza a produção, o consumo e a distribuição de bens e serviços. Tal sistema, segundo o mainstream, é organizado na forma de mercados. A questão é que sabe-se que poucos são os mercados que estão de acordo com as características descritas pelo mainstream. Caracterizar e operar o SE são atividades complexas.
Papel: coordenar atividades econômicas e reduzir conflitos. O segundo papel tem sido ignorado desde a Revolução Marginalista em 1870.
· Conflitos:
Por que surgem? A coordenação das atividades econômicas gera ganhos, que devem ser repartidos. Tal processo de repartição é um potencial gerador de conflitos. 
coordenação AE ganhos repartição dos ganhos conflitos instituições
É um problema típico de sociedades modernas. Sociedades tradicionais conseguem amarrar os problemas, evitar os conflitos. 
Como o mainstream evita conflitos? Pela hipótese de informação perfeita. Ela garante conhecimento de todas as cestas e permite a criação de contratos perfeitos ex-ante, esgotando todas as possibilidades de conflitos. Sendo que ainda que vá para uma situação judicial, o juiz será perfeitamente capaz de interpretar e decidir a questão. São contratos perfeitamente garantidos, pois apresentam custos nulos e negligenciados. 
Questão: Assumindo informação perfeita, o resultado no SE é alterado? Sim, o SE não funciona nem em equilíbrio geral, mercados competitivos e perfeita informação. Sem perfeita informação, não há garantia de contratos perfeitamente garantidos, tendo possibilidade de conflitos e, por isso, precisa de instituições. 
· Instituições:
Definição: Instituição é uma regra, por isso dependemos dela para evitar conflitos e promover cooperação. O fato do SE ser social faz com que precise. 
Instituição ≠ Organização
Definição de organização: É um grupo bem delimitado de pessoas com objetivos e comportamentos semelhantes. É fácil definir que está dentro, ou fora, da mesma. Frequentemente organizações têm suas próprias instituições. Os objetivos comuns precisam ser contínuos, não circunstanciais. 
Como a instituição reduz conflitos? Introduzindo previsibilidade ao sistema. Se obedecer as regras, é possível ter uma boa noção do que vai acontecer. Se não obedecer, há indeterminação e incerteza, gerando possibilidade maior de conflito. São elas que diferem de país para país, por isso é plausível o estudo de experiências de desenvolvimento comparadas. 
· Desenvolvimento:
Definição:Se as instituições são importantes para evitar conflitos na coordenação do SE, no processo de desenvolvimento mais ainda. Isso porque desenvolvimento, independente do que você considera pelo termo, sempre implicará mudanças em direção a um fim determinado e estas aumentam a incerteza, aumentando o potencial de conflitos. 
· Diferentes definições de instituição: 
Douglas North: são regras da sociedade, restrições elaboradas pelos homens que dão forma às relações humanas e acabam por incentivá-las. São, em suma, as regras do jogo. A função da instituição é delimitadora, quase que negativa, ela restringe a interação humana. Desse modo, a pessoa já sabe qual o conjunto de atitudes possíveis dentro daquela limitação previsibilidade
Aspectos: 
1. Regras
2. Restrição da interação humana 
3. Estruturação da formação social: incentivos ao intercâmbio humano no âmbito político, econômico e social. Sugere interdisciplinaridade, que economistas costumam evitar através de conceitos como “custos de transação”
Furubotn e Richter: são definidas como conjunto de regras formais e informais, incluindo os arranjos que garantem a obediência. Introduz a questão do ENFORCEMENT (como é garantida a obediência)
Allan Schmid: são relações humanas que estruturam oportunidades por meio de restrições e capacitações. A primeira esfera delimita e a segunda traz possibilidades. 
· Apanhado sobre instituições: 
Definição das instituições também define quem tem o poder de tomar decisões
Níveis Instituições:
1. Ambiente Institucional: mais abrangente, conjunto de regras fundamentais de natureza política, social e legal que estabelecem a base para produção, troca e distribuição. Ex: constituição, código civil... 
2. Arranjo Institucional: mais localizado, conjunto de regras estabelecidas entre unidades econômicas que governam a forma como podem cooperar e/ou competir. Composto de organizações que promovem instituições. Ex: ANEEL e suas resoluções para o setor elétrico
Essas são as 2 grandes vertentes. A primeira foca no ambiente para promover desenvolvimento, a segunda foca no arranjo. A primeira é a mais convencional e mais palatável ao mainstream econômico. Ex: BM defende abordagem do ambiente e Criadores de política industrial defendem a abordagem dos arranjos. 
Diferenças entre abordagens do Ambiente e do Arranjo:Teóricos do ambiente consideram que só há 1 arranjo possível, portanto não há necessidade de estudos sobre. Tal único arranjo é o MERCADO. A questão para eles é voltada para como garantir um ambiente que permita o funcionamento dos mercados com o mínimo custo de transação. Para eles, a garantia vem de direitos de propriedade, liberdades individuais... 
Argumento contrário: não é SÓ mercado e mesmo assumindo mercados perfeitamente competitivos, não funciona. É uma impossibilidade teórica. O mercado pode ser um dos arranjos possíveis e, muitas vezes, não o mais indicado. 
OBS: Um ponto é que ao assumir desenvolvimento como mudança, assume-se mudança tecnológica. Esta gera ganhadores e perdedores. A pergunta que fica é quem determina quem? 
Instituições mudança tecnológica ou Instituiçõesmudança tecnológica
A ideia a tecnologia determina a instituição vem da leitura Marxista de que a estrutura (produção social da vida, relação de produção, desenvolvimento das forças produtivas) determina a superestrutura (leis, ideologia, política). Um descompasso entre relação de produção e desenvolvimento das forças produtivas (tecnologia) força uma transformação superestrutural. A conclusão é que instituição não importa porque seria um resultado natural da mudança tecnológica, ela se adapta. Apesar disso, a realidade é que instituições afetam o padrão de consumo, o que faz com que haja um desvio dos esforços inovativos no sentido de atender aos mesmos. É de difícil determinação porque são aspectos que convivem. Essa determinação não é necessária para analisar as experiências de desenvolvimento comparadas porque a análise em questão não é histórica.
· Instituições Formais X Informais:
Diferença:A diferença é que as formais são geralmente codificadas e sempre garantidas por alguma organização (Estado, empresa...), enquanto as informais não têm uma organização por trás para garantir a obediência, o que não impede que haja outras formas de garantias. Um exemplo é a pressão social por não cumprimento. Elas são cristalizadas por hábitos e costumes culturais. São espontâneas. 
Tipos de instituições informais:
1. Convenção: tomar uma ação por expectativa que todos a tomem
2. Norma Social: além da expectativa de realização, há punição espontânea por não realização
· Instituições e Eficiência:Um ramo dos institucionalistas defende que as instituições informais evoluem para promover eficiência econômica, porém nãose pode falar em eficiência assumindo que instituição existe por conta de assimetria de informação, já que eficiência está associada ao conceito Parettiano de melhor possível. Só há melhor decisão possível se assumirmos informação perfeita. Sem ela, o máximo que se pode garantir é que a instituição é eficaz. O ramo é criticado justamente por isso. Se há informação perfeita, deve assumir que existem coisas que não se sabe que não sabe. Acabaram por não conseguir demonstrar que a eficiência chega com o tempo.
· Visão dominante para teoria de desenvolvimento: Abordagem dos mercados
Definição: desenvolvimento é a consequência direta de livres mercados
Contexto: Não se consideram uma escola do pensamento econômico, mas sim o próprio pensamento econômico em si e os outros são meras variações. Dizem que estão apenas aplicando a teoria econômica convencional no tratamento do problema do desenvolvimento, especialmente a análise microeconômica.Nem sempre o pensamento foi esse. Dos anos 1950 até 1980, o pensamento era o de que países subdesenvolvidos tinham diferenças, enquanto os desenvolvidos eram todos iguais. A separação existia e o motivo é que os economistas que estudavam os subdesenvolvidos percebiam um paradoxo decorrente da teoria econômica convencional. Na teoria convencional, quando o preço de um fator de produção está alto, o do outro está baixo por conta da escassez relativa na determinação de preços. Só que a realidade dos países mostrava que os preços dos fatores eram todos baixos. Essa percepção vinha dos próprios ortodoxos. Eles concordavam que o preço do L de fato deveria ser baixo, mas o do K deveria ser alto por conta da escassez e não era. A partir disso concluíram que deveriam pensar teoria econômica dos subdesenvolvidos, dando início ao pensamento de uma teoria de desenvolvimento.Visão dominante veio nos anos 1980 para defender que a teoria econômica convencional dá sim conta e reformular a teoria do desenvolvimento. A resposta que dão para o paradoxo é a de que o funcionamento intrínseco das economias subdesenvolvidas é o mesmo, mas há distorções causadas pela interferência nos mercados que gera impossibilidade de evidenciar a escassez relativa dos fatores. 
Argumento: Se deixarem a economia funcionar livremente, o desenvolvimento acontece naturalmente. Os subdesenvolvidos têm distorções do Estado, mas se não tivessem, haveria expansão da oferta pela melhora na rentabilidade dos fatores de produção e diversificação da mesma por conta do ajuste na alocação de cada unidade de cada fator marginal. 
Contexto da mudança: foi resultado de uma mudança no ambiente político do final dos anos 1970, início dos 1980, com a ascensão do conservadorismo (Tatcher, Reagan...). Isso deu peso à abordagem dos mercados, não um resultado acadêmico. Foi diferente da revolução marginalista, que foi baseada em grande produção acadêmica. Eles dizem valer o mainstream sem de fato tentar aplicar a teoria no processo de desenvolvimento para ver se funciona. Acaba sendo uma teoria frágil, mas continua conduzindo o debate de desenvolvimento por causa de questões políticas. 
Principal argumentação à favor da teoria: mercados perfeitamente competitivos não existem, mas são boas aproximações da realidade. 
Principais restrições ao funcionamento: políticas comerciais, industriais, regulamentações excessivas, subsídios e tudo que possa distorcer preços relativos
Agenda: 
1. Macroeconômica: liberalização comércio, controle de gastos públicos ...
2. Microeconômica:liberalização do mercado de trabalho, desregulamentação mercados e legislações diversas...
Obs: De forma geral, o que mantenha P = CMg, para que custo privado seja igual ao social. Esse cenário é por conta da falta de externalidades e com livre mobilidade de recursos, que garante a remuneração = custo de oportunidade. Distorcer isso prejudica desenvolvimento, pois custo privado ≠ social. As externalidades estariam associadas à falhas de mercado, mas não afetariam o modelo como todo. 
· Embasamento teórico da Abordagem dos Mercados:
Autores:Peter Thomas Bauer, DeepakLal, Anne O. Krueger, JagrishBhagwati, Bela Balassa
Base teórica: somente a teoria do equilíbrio geral na sua forma mais convencional é passível de ser usada como base. Não faz sentido analisar desenvolvimento pensando em equilíbrio parcial, pois gera gargalos a partir do efeito do equilíbrio de um mercado em outro e na economia como um todo. É uma teoria que estuda o SE como conjunto de mercados perfeitamente competitivos. 
Questionamento: Essa é a teoria passível de embasar a abordagem, mas ela a sustenta? Em que medida ela origina uma representação dos problemas de desenvolvimento? 
Problema: A teoria é estática, mas desenvolvimento é mudança de preferências, técnicas etc. Por conta disso, não é uma teoria do desenvolvimento, mas uma representação dos problemas que, se superados, levam ao desenvolvimento. Superando os entraves aos mercados, economia se aproxima do modelo de equilíbrio geral, valendo o primeiro e o segundo teoremas do bem-estar. Eles não dizem como é o processo, é estático. Só mostra o antes e o depois.
Conclusão: Bem-estar Parettiano é desenvolvimento, já que é uma situação em que não dá para economicamente melhorar a situação. Isso não significa, para eles, alcançar e não poder fazer mais nada, nem buscar justiça distributiva porque estando no caminho certo, mudanças só levariam a uma convergência para outro equilíbrio e porque o segundo teorema garante a possibilidade de justiça distributiva sem afetar eficiência. 
Hipóteses: mercados perfeitamente competitivos e completos (TEG – teoria do equilíbrio geral)
1. Mercados perfeitamente competitivos: perfeita informação, livre mobilidade de fatores, harmonização ofertante/demandante
2. Mercados completos: existe mercado para todo tipo de bem em todas as datas e todos os estados da natureza, situação verificada no ambiente econômico em caso de incerteza. Isso significa a possibilidade de contratos ad. Infinitum especificando casos para todas as situações possíveis, eliminando a incerteza. Conhecem todos os estados de natureza possíveis. 
exemplo: bem X no tempo t e estado de natureza teta e o mesmo bem X no mesmo tempo t, mas estado de natureza alfa. São 2 bens fisicamente iguais que acabam diferentes por conta do estado de natureza e a determinação ocorre por conta das situações que mudam o comportamento dos agentes. Como há perfeita informação, não tem problema em determinar oferta, impossível tomar a decisão errada. 
Questão: Como tratar desenvolvimento, que é mudança por definição, se a incerteza é eliminada? Por que esse modelo mostra o resultado do processo de desenvolvimento? Porque tem teoremas do bem estar
Teoremas do Bem Estar:
1. Primeiro teorema: Economia com mercados perfeitamente competitivos e completos terá alocação de recursos eficiente em Paretto, independente de qual seja ela. Resulta na eliminação do subdesenvolvimento porque houve eliminação do desperdício através das alocações eficientes de Paretto. Desenvolvimento = questão de desperdício por ineficiencia decorrente da não aplicação das hipóteses de mercados perfeitamente competitivos e completos. O problema é que garante fim do desperdício, mas não igualdade social. Para isso vem o segundo teorema
2. Segundo teorema: Qualquer alocação eficiente em Paretto pode ser alcançada por uma distribuição adequada da dotação inicial de recursos. Isso quer dizer que não é preciso distorcer preços para alcançar a alocação desejada, basta mudar a dotação inicial dos recursos que as curvas de O e D se ajustam. Isso ocorreria por meio do imposto Lump-Sum, montante fixo, que desloca paralelamente a restrição orçamentária e não altera a taxa marginal de substituição. Não precisa ser feito para todos, mas precisa ser Lump-Sum. Não pode afetar preço, só riqueza, De quem vai tirar, depende da alocação desejada no final. Não pode mexer na renda porque distorce preço da renda lazer. O problema de mexer nos preços é gerar alocação ineficiente porque P ≠ CMg e custos privados nãosão mais os sociais.
Problema dos teoremas do bem estar: Natureza do processo de desenvolvimento não os sustenta pelos motivos abaixo
1. Retornos crescentes de escala: desenvolvimento precisa de desenvolvimento em infraestrutura, urbanização (aglomera população em centros), especialização de mão de obra (aumenta habilidade, reduz tempo de troca), expansão setor financeiro (crescimento administrativo é maior que o aumento das contas e há economia de escopo porque um mesmo gerente pode, por exemplo, vender seguros) e P&D (há incerteza e laboratório são caros, então quanto mais pesquisar/mais reduz o CF e tem economia de escopo porque podem ser feitos diferentes tipos de pesquisa no mesmo lab), que por definição têm retornos crescentes pelos motivos inseridos nos parentêses. O resultado é a inviabilização do equilíbrio competitivo por conta da conquista de poder de mercado resultante das economias de escala que culminam em algum grau de concentração e o primeiro teorema perdendo validade, o segundo perde a razão de ser.
2. Externalidades e Bens Públicos: O problema das externalidades é que é da natureza do desenvolvimento que elas existam, como o aumento da educação gerando uma diversificação dos mercados sendo positiva e problemas ambientais negativa. Só que se tem externalidade, não tem mercados. O problema dos bens públicos é que eles violam a premissa de que a alocação pelo mercado é eficiente porque não são rivais e de consumo exclusivo. Se o mercado alocar, a oferta será insuficiente por conta de free riders. 
3. Teorema do Segundo Melhor: Dado o número de restrições ao funcionamento dos mercados perfeitamente competitivos, eliminar uma restrição não apenas não aproxima da eficiência, como pode afastar dela porque poderia estar acontecendo uma compensação entre elas. Um exemplo é o caso de empresas monopolistas negociando com sindicatos monopsonistas. Se tirar um, a relação piora ao invés de melhorar. O problema para os teoremas é que derruba a ideia dos defensores da abordagem dos mercados de que a teoria é uma aproximação da realidade, pois é determinado que a economia só pode estar, ou não, no ideal. Ela não tem como se aproximar disso. 
4. Teorema Sonnenschein-Mandel-Debrew: Se no modelo de equilíbrio geral forem adotadas apenas as restrições usuais de mercados perfeitamente competitivos e completos (perfeita informação, homogeneidade produto, atomização do produtor e livre mobilidade), as funções de excesso de demanda podem tomar qualquer formato. A função excesso de demanda de A mede: DA(pA) - OA(pA) e o formato esperado é o mostrado para o bem A: abaixo do PA* = positiva (DA > OA); =PA* = 0 (DA = OA) e acima de PA* = negativa (OA <DA). Se o excesso de demanda tiver esse formato, ele sobe até P* e depois desce. É essa função com esse formato que garante a convergência para o equilíbrio. Só que função excesso de demanda é função do preço, demanda e oferta do bem, porém as curvas estão em movimento por ser uma análise de equilíbrio geral e para a análise valer, elas devem ficar paradas. No equilíbrio geral, se muda o preço de um mercado, as curvas de D e O de outro são afetadas em cadeia. O problema é que se as curvas movem de acordo com dotação inicial e preferências, a economia que sai do equilíbrio pode voltar para ele, flutuar ao redor dele, ou nunca mais ir para um equilíbrio porque as curvas flutuam simultaneamente. É o teorma do "anything goes", pode resultar em qualquer coisa. Além disso, se tem vários formatos, pode ter vários equilíbrios. Eles são finitos e existem, mas não posso garantir convergência para nenhum deles. 
Consequências dos 2 teoremas (2º melhor e S-M-D): PRIMEIRA GRANDE CONCLUSÃO DO CURSO - CAI NA PROVA
1. Impossível aproximar realidade dos mercados competitivos. Ou está nele, ou não e se não estiver, não pode afirmar nada sobre onde está. 
2. Não dá para conceber uma economia organizada somente por mercados, gera um comportamento bizarro ainda que eles sejam competitivos e completos por conta dos múltiplos equilíbrios e a instabilidade do mesmo. Economia moderna não pode ser, portanto, concebida como um conjunto de mercados interdependentes. É uma forma inadequada de reproduzir o SE.
· Introduzindo Coase e a ideia de Custos de transação:
Coase: (1937): discussão de se economia socialista poderia dar certo. Erro no debate, para ele, era assumir por premissa que a economia se organizava em mercados. Haveria 2 formas de organização convivendo: mercado e firma. Teorema S-M-D aponta indiretamente para isso.
Qual o problema central de todo SE? Como organizar atividades econômicas dada uma divisão do trabalho. Se o modelo de equilíbrio geral produz resultados caóticos, a abordagem dos mercados para o SE não é satisfatória, então devemos voltar para a pergunta sobre qual o problema que o SE busca resolver, chegando no explicitado acima. Se há uma divisão do trabalho, exige organização das atividades econômicas quanto à produção, circulação e distribuição de bens e serviços. Coase diz que a solução são firmas ou mercados e a decisão sobre qual será feita com base nos custos de transação. Não produção porque trata do custo de transformação de insumos em produtos, mas o de transação - que trata do custo de organizar a transformação, a produção. Desse ponto de vista, função de produção é descrição de tecnologia e há firmas - organizações - para organizá-las. Firma deixa de ser função de produção para ser organização que as organiza. 
O que significa organizar atividades econômicas em sociedade com alguma divisão de trabalho? Promover cooperação entre atividades minimizando conflitos. A própria cooperação, que pode existir porque há divisão de trabalho, que possibilita ganhos e gera possibilidade de conflitos na distribuição dos mesmos. No mundo ortodoxo não ocorre isso porque os fatores são remunerados pela PMg, já que preços são dados. A cooperação, para eles, é trivial (resolvida pelas hipóteses) e tais questionamentos não aparecem. Os problemas são solucionados nas hipóteses. 
exemplo: 1 ofertante encontra 1 demandante em um mercado --> negociam --> cooperam (ortodoxos). Sem as hipóteses pode ocorrer 1 monopolista encontra 1 monopsonista em 1 mercado --> não dá para cooperar de forma trivial, há conflitos. 
Custo de transação é o custo de organização do SE = problema de terminologia porque "transação" assume indiretamente a organização em mercados. 
· Conceito de Custos de Transação: 
Definições: 
1. custos de definir, atribuir e garantir direitos de propriedade (direito de usufruir, obter renda, ou alienar um recurso). Definir = para saber o que é; atribuir = determinar de quem é; garantir = ter a segurança jurídica de que não lhe será tirado. 2 primeiros = ex ante e último = ex post (Coase e seguidores)
2. custos resultantes da passagem de um recurso produtivo por uma interface tecnológica (limite entre 2 etapas do processo produtivo). O ex ante = organizar produção internamente e ex post = ajustar organização para problemas que surgem
Diferença entre elas: o segundo não determina se é uma passagem técnica, ou social. Pode ocorrer dentro da firma (passar da montagem do chassi para colocação no carro), ou no mercado. Mesmo que sua decisão seja produção interna, ainda passa pelas etapas. Primeira definição não considera isso, só no mercado porque fala de transferência de propriedade. 
aumenta conflito --> aumenta custo de transação --> saída recursos produtivos para resolver ameaça conflito (consome recursos, reduz atividade, garantias)
Problema primeira definição: Linha do Coase com Allen e Eggerston
Obs: o próprio Coase só definiu como custos de recorrer ao mercado. A formulação acima já é de seus intérpretes.
Admitir que, por não haver mercado, não há custo de organizar. Se tem divisão do trabalho, precisa de organização. Só reconhece custos de organizar SE na presença do mercado. 
Linha de desenvolvimento derivada: países menos desenvolvidos o são por não haver correta definição, atribuição e garantia dos direitos de propriedades
· A Relação entre Custos de Transaçãoe Direitos de Propriedade:
Contribuição original de Coase: foi o primeiro a tratar dessa relação. Discutiu as possibilidades da definição e alocação dos direitos de propriedade para solucionar externalidades. 
Proposição: por trás de externalidades negativas existem direitos de propriedades mal alocados por conta de uma má definição dos mesmos. Estuda os efeitos sobre a eficiência econômica de cada tipo de definição de direitos de propriedade em 2 situações: com custos nulos de transação e com custos significativos de transação. 
Sem custos de transação: a determinação de para quem vai o direito de propriedade tem efeitos irrelevantes sobre eficiência econômica. A solução final é sempre a mesma e eficiente também. Acaba que não há efeito sobre distribuição de riqueza entre os envolvidos porque não há custo com contratos, então é possível elaborá-los antecipando qualquer evento futuro e há compensações por eventuais ganhos/perdas de riqueza. É possível porque é um mundo que, por definição, não tem incerteza. CONCLUSÃO: com custos nulos de transação, alocação inicial de direitos de propriedade não afeta alocação final eficiente e nem a riqueza de quem o recebeu e de quem terá que pagar por ele. Alguns economistas tiraram disso o chamado Teorema de Coase, porém ele próprio falou a parte de sua análise sobre custos nulos de transação era a menos interessante. 
Teorema de Coase: atribuição inicial dos direitos de propriedade não afeta a alocação final eficiente. 
Com custos de transação significantes: a alocação inicial de direitos de propriedade determina a alocação final a quem os direitos forem concedidos no início, pode influir em quem os terá no final. Também não se pode mais garantir que riquezas não serão afetadas, provavelmente serão. O custo de elaborar contratos que antevenham qualquer tipo de evento futuro acabam sendo muito altos, até proibitivos. Nessas circunstâncias, não faz sentido falar em eficiência da solução final porque há variações prováveis em riquezas e nada garante manutenção de preços que permita a análise de eficiência. Não é possível comparar duas alocações diferentes em termos de eficiência porque elas geram preços e riquezas diferentes. 
Comparações: as diferenças entre as situações não significam só um desvio da situação ideal, mas um funcionamento totalmente diferente da economia. 
Conclusão: análise com custos de transação positivos coloca em cheque tese que basta atribuir e garantir direitos de propriedade que os resultados serão eficientes. 
Impactos do teorema de Coase: economia do meio ambiente porque questiona necessidade de impostos pigouvianos em favor de apena alocar direitos de propriedades; subdesenvolvimento é resultado de má definição de direitos de propriedades
· Definição de direitos de propriedade: 
Alessi: direitos dos indivíduos à utilização, renda, e transferência de recursos. 
Argumento: o grau no qual estão definidos determina incentivos para o emprego produtivo de recursos. Apela para senso comum de não empregar recurso se houver risco de expropriação.
 Problemas: 
1. distinção entre a questão legal e econômica. Não é necessário o primeiro para haver o segundo. Então há essa ambigüidade de conceitos. 
2. Consideração de direitos de propriedade como unidimensionais.
Barzel: introduz ideia de direitos de propriedade como cestas de direitos. Ao adquirir algo, vem com cestas de características. Essa definição traz problema para a ideia de que se devem proteger direitos de propriedade: você pode mudar um aspecto da cesta sem haver expropriação do ativo. Ele faz essa análise a partir do caso de congelamento de preços da gasolina nos EUA durante governo Nixon. O consenso era de que causaria filas, mas não houve. Barzel argumenta que consumidor não compra somente a gasolina, mas a cesta de direitos que inclui pagar com cartão, ter flanelinha etc. Quando houve o congelamento, apenas ajustaram a cesta. No segundo congelamento houve fila porque a cesta já havia sido ajustada. 
Conclusão: as pessoas adquirem cestas de direitos multidimensionais. Não é só quantidade, então olhar somente para oferta e demanda cria ilusão. Por não ser unidimensional, atributos caem em domínio público porque o custo de evidenciar é maior que benefício. Essa não especificação dos atributos advinda do alto custo de transação para evidenciá-los faz com que dificilmente direitos de propriedade sejam bem definidos. Se há custo de transação, direitos de propriedade não serão bem definidos e isso é potencializado com o aumento da complexidade da cesta de direitos. Para isso ser eliminado, só com perfeita informação. Direitos de propriedade não são bem definidos porque não há perfeita informação, tem custo de transação e é multidimensional. Sem essa definição, a concepção de subdesenvolvimento não é mantida. Essa explicação foi explicitada por North e Barzel. Direitos de propriedade sempre acabarão tendo alguma insegurança e a tese de que a garantia deles é condição necessária para desenvolvimento perde força. 
Sentido de determinação: custos de transação direitos de propriedade em relação direta. No desenvolvimento as incertezas e complexidades são maiores, então não condiz com desejar direitos de propriedade bem determinados. (North faz a causalidade ao contrário).
Real problema: conflitos nas transações econômicas resultantes do problema de determinação de direitos de propriedade decorrente de custos de transação. Não tem como resolvê-los todos ex-ante. Desse modo, precisa criar mecanismos de solução ex-post simples e não custosos. Esses mecanismos são as estruturas de governança descritas por Williamson, sendo elas mais necessárias em situações de desenvolvimento, que exigem investimentos que mudam estruturas da economia. 
· Estruturas de governança: depois que as relações econômicas são estabelecidas, é para elas que se recorre em caso de conflitos. Não ao contrato, à estrutura. Na ausência de perfeita informação, os custos de transação impedem que transações complexas e/ou de longa duração sejam completamente definidas ex-ante em contratos, que serão gravemente incompletos. Desse modo, deve-se estudar as estruturas de governança e arranjos institucionais para promover transações e soluções de conflitos
 
· Análise de Custos de transação considerando percepção divisão do trabalho e estruturas de governança:
Análise estrutural discreta: método no qual não há regra geral, há busca pelo tipo que melhor se adequa. 
Definição: todo custo associado ao desenvolvimento da transação. De negociar os termos, de formalizá-los e garantir desenvolvimento de forma aceitável para as partes. Todo custo associado à passagem por uma interface tecnológica. Engloba primeira definição e permite avaliar diferentes organizações do sistema econômico e a decisão de verticalizar/transacionar. 
Questão: quando que toma decisão de passar por interfaces no mercado, quando na firma. Para isso, deve ser possível comparar custos de transação de ambas as possibilidades. Para fazer isso, precisa determinar fatores que determinam custos de transação. 
Fatores determinantes: 
1. Racionalidade limitada: atuante em todos os casos, sendo necessária, mas não suficiente. É a capacidade limitada de armazenar, processar e transmitir informações. O oposto é racionalidade substantiva. Não tem a ver com irracionalidade. Indivíduos são intencionalmente racionais, mas esbarram nas limitações de acumular, processar e transmitir informações. Se for substantiva, é onisciente e não há custo de transação. A diferença pra informação perfeita/imperfeita é que estas se limitam ao saber/não saber, enquanto a ideia de racionalidade engloba poder saber, mas não conseguir repassar. 
2. Complexidade e Incerteza: necessários para pressionar os limites da racionalidade. Complexidade passa pelo alto custo de construir árvores de decisão. Incerteza afeta de duas formas. Se ela for de risco, você consegue atribuir uma distribuição probabilística, mas se o espaço amostral for muito grande, pressiona a racionalidade. Se ela for Knightiana, não conseguenem determinar a distribuição da probabilidade. 
3. Comportamento oportunista: oportunismo aqui é no sentido de transmissão de informações distorcidas, seletivas, ou falsas promessas. Existindo racionalidade limitada e complexidade e incerteza, abre espaço para esse tipo de comportamento. O problema é que pela racionalidade limitada, você sabe que a pessoa pode ser oportunista, mas não sabe se de fato está sendo. 
4. Pequenos Números: é um número reduzido de partes na transação. Se fossem grandes números, os outros 3 fatores não seriam problema porque ao identificar um problema, bastaria trocar de contraparte. Competição em grandes números inibe comportamento oportunista. 
Obs: transação é em pequenos números quando envolve ativos específicos, ou seja, que sofrem desvalorização maior do que a produzida pelo uso normal quando se troca de uso. Essa especificidade é questão de grau. Quantos mais usos possíveis, menor a especificidade. Os ativos têm diferentes fontes de especificidade: localização (não pode ser transportado), física (constituição material o distingue), dedicado (investimento vinculado a uma demanda específica) e de ativos humanos (atividades que dependem do learn by doing, ou de trabalho em equipe)
· Estruturas de Governança: 
Definição Williamson: matriz institucional na qual transações são negociadas e executadas. O conjunto de instituições que fornecem arcabouço em que transações se desenvolvem. Especificam os agentes, objetos e tipo de interação da transação. A definição alternativa de Furubotn considera que elas estão diretamente relacionadas com direitos de propriedade. Problema é que isso exclui empresas como estruturas de governança porque nas transações feitas por elas não há transferência de direitos de propriedade. 
Delimitação dos limites de uma estrutura de governança: ambiente institucional, regras economia como um todo, afeta os custos relativos de cada tipo de estrutura porque determina os parâmetros de custos das mesmas. Só que o ambiente está sujeito a mudanças por conta de variações nas leis que afetam estruturas de governança. Existe retroalimentação entre ambiente e estruturas. A retroalimentação pode ser estratégica, ou instrumental. A primeira promove mudanças amplas que podem afetar diferentes tipos de estruturas e a segunda é mudança localizada no ambiente para melhorar desempenho de uma estrutura específica. 
Tipos de estruturas de governança: 
1. Especializadas x não especializadas: determinação via grau de especificidade do ativo. Os mais específicos precisam de estruturas mais especializadas para levar em consideração características daquele ativo. A não especializada tratam de forma indistinta transações com diferentes ativos e, por isso, não funcionam bem com os específicos. Eles precisam de especialização que crie incentivos para manutenção da transação, reduzir ganhos por comportamento oportunista e substituir o uso da justiça por mecanismo de arbitragem. Precisa disso pela interdependência criada pela especificidade do ativo. Se não houver incerteza, a racionalidade não seria pressionada pela especificidade e poderiam elaborar contratos previamente completos. A incerteza pode ser primária, quando não se pode antecipar eventos com certeza, ou comportamental, quando há chance de comportamento oportunista. Quão maior a incerteza, maior a necessidade de estrutura especializada para ativos específicos. Toda estrutura tem custo de estabelecimento e para eles serem compensados a transação deve ter uma certa freqüência. 
2. Mercado: adequada para ativos com baixo grau de especificidade porque é uma estrutura absolutamente não especializada. Regras gerais e simples aplicadas em qualquer transação. Sem interesse manutenção da transação no LP, não há vínculos, identidade irrelevante. Adaptação aos distúrbios é autônoma, ou seja, independente e espontânea. Custo de implementação baixo
3. Hierarquia: oposto do mercado, decisão via autoridade hierárquica. Fortes controles com poucos incentivos. Usada para transações com ativos muito específicos. Alta interdependência traz necessidade de soluções cooperativas passarem por controles administrativos. A adaptação é coordenada, ou seja, há esforço deliberado em elaborar mecanismos de coordenação interna. Incentivo substituído por controle administrativo. Tem alto custo de estabelecimento, possível perda de economias de escala.
4. Híbrida: engloba elementos importantes das outras 2. Há incentivos e controles administrativos, por exemplo. Quanto maior a especificidade, mais a híbrida se aproxima da hierarquia e do outro era o contrário.

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