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ECONOMIA Prof.ª Me. Viviam Ester de Souza GUIA DA DISCIPLINA 2018 1 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. INTRODUÇÃO À ECONOMIA Objetivo: O capítulo 1 da disciplina tem como objetivo apresentar os principais fundamentos que caracterizam a área de estudo da Economia, destacando o pensamento da escola clássica e discutindo aspectos da economia contemporânea. A Economia é uma área de conhecimento básica que faz parte do cotidiano das pessoas, além também dos profissionais de diversas áreas, das próprias empresas e dos governos. Vamos então conhecer um pouco mais sobre essa ciência tão ampla e que sempre fará parte da vida das pessoas e das sociedades. Introdução: Quando perguntamos sobre a Economia é comum que as pessoas a associem com números e com assuntos como: salários dos trabalhadores, aumento do preço da gasolina e dos alimentos no comércio, os juros do cheque especial e das prestações nas compras de eletrodomésticos, automóveis, etc. Além disso, nos jornais e televisão sempre são veiculadas notícias sobre as políticas que os governos adotaram (como corte de gastos ou aumento de impostos), como também o resultado no período da produção da indústria, das vendas no varejo ou do resultado da balança comercial (que é o valor da diferença entre exportações e importações do país). Pois é, tudo isso faz parte da Economia; mas não somente, pois mais do que dados sobre o que acontece no mercado e nas relações com governos e os outros países, a Economia também é uma Ciência, que se preocupa com outras questões importantes. Vamos entender melhor. 1.1. A Evolução da Economia A Economia sempre existiu desde os primórdios da humanidade, quando ela era reconhecida como “economia de subsistência”, pois nessa época o homem precisava buscar seus alimentos e tudo aquilo que era necessário para sua sobrevivência.1 1 A palavra “Economia” tem origem no grego “oikonomo” (oiko = casa; nomo = lei). Ou seja, etimologicamente significa: “lei da casa”, ou então “administração do lar” (MOCHÓN, 2009). 2 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Com a evolução da humanidade, a partir do desenvolvimento das práticas de cultivo, criação de animais, fabricação de ferramentas e de outros produtos, a Economia começou também a se desenvolver para outros estágios, passando então da Era do Feudalismo para o Mercantilismo, quando a troca do excedente da produção impulsionou o comércio (passagem dos séculos XV ao XVII). Somente após o Século XVIII, com o advento da Revolução Industrial, é que a Economia passou a ser reconhecida como uma Ciência, surgindo as Escolas do Pensamento Econômico.2 Assim, a Economia é classificada como uma Ciência Social que tem como objeto de estudo o “homem”, e se caracteriza por sua multidisciplinaridade, ou seja, a Economia tem a capacidade de se relacionar com várias outras áreas de conhecimento, como a Geografia, a História, a Política, o Direito, a Administração, a Matemática, a Estatística, entre outras. Estudar Economia não é somente entender como são formados os preços das ações no mercado de capitais, nem apenas conhecer as taxas de inflação e os resultados do PIB (produto Interno Bruto). Estudar Economia é entender como a sociedade está organizada, de que forma ela pode melhorar o uso dos seus recursos e principalmente, como gerar o desenvolvimento econômico de forma mais eficiente e bem distribuída. Sendo assim, podemos entender como conceito geral da Economia o seguinte: “A Economia é uma ciência social que estuda como os recursos disponíveis de produção são utilizados e distribuídos para atender as necessidades da sociedade”. Observe que no conceito descrito está implícito a ideia de que necessitamos encontrar a melhor forma de usar os recursos para que a sociedade alcance o bem-estar social, ou seja, tendo as necessidades e desejos humanos alcançados, a qualidade de vida das 2 Dest acam os aq u i q ue o ob j e t i vo da d isc ip l i na não é o E st ud o da E vo luç ão do P ensam e nto Econôm ico, m as re ssa l tam o s a im por tâ nc ia de ao m eno s 03 e sco la s: a Esc o la C lá ss ic a (q ue surg iu no séc u lo XV I I I ) , a Esc o la Ma r xis ta ( séc u lo X IX ) e a E sco la Ke yne s ia na ( séc u lo XX) . Est as, e nt r e o ut ra s , i nf l ue nc iar am f or tem ente o pe nsam ent o ec o nôm ico d a s soc ie dade s cap i ta l i st a s e soc ia l i st as, a lém do m undo pós G ue rra s M und ia is e m ais rece nt em ente , o m undo g loba l izad o (a t é ho j e boa p ar te d a s teo r ia s dese nvo lv ida s ne ssa s e sco la s são im po r ta nt es par a o s e st ud o s do s pro b lem as eco nôm ic os, e spec ia lm e nt e sob re o f unc io nam ento do s m erca do s, o de se m prego e o t raba lho, sob re o q ua nt o o E stad o de ve p ar t ic ipa r da eco nom ia , o d e se nvo lv im e nto eco nôm ic o e as de s ig ua ldade s e nt r e paí se s r ic o s e po b re s) . Para saber m ais , ver na B ib l io tec a V i r t ua l o L i vro Funda m ento s de Eco nom ia ( M ICHELS; OL IVEIRA; W OLLENHAUPT, 2013) , tóp ico 1 .2 , p ág ina 17, so bre “Um a S ín tese do Pe nsam e nto Eco nôm ico” . 3 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância pessoas alcança melhor padrão de desenvolvimento. Esse padrão implica em ter saúde e educação de boa qualidade, segurança e justiça garantidas, emprego e renda para adquirir alimentos, moradia, transporte, lazer etc. Este é, portanto, o grande desafio das sociedades modernas. 1.2. O Problema Central da Economia e as Escolhas Econômicas É possível observar inúmeros problemas de ordem econômica nas sociedades, no qual as famílias, as empresas e os governos precisam lidar e tentar resolver. Esses três grupos são chamados de “agentes econômicos”. No caso das famílias, podemos notar problemas econômicos quando analisamos, por exemplo, a relação entre salários e o total do consumo de bens e serviços das famílias, pois estes são afetados pelo “custo de vida” e assim, refletem sobre os níveis de preços praticados nos mercados. Outro exemplo, mas no caso das empresas, é a necessidade das organizações de identificarem a viabilidade econômica de seus investimentos, já que isto afetará o retorno do capital e dos projetos futuros dos seus empreendimentos, inclusive, nos custos de produção. E no caso dos governos, podemos citar um exemplo comum referente às políticas econômicas aplicadas nos países, visto que todas as nações buscam o crescimento e o desenvolvimento econômico (definidos nos planos de governo). Tudo isso se refere aos aspectos de ordem econômica que interferem nas escolhas e nos rumos de uma sociedade. Dentro desse conceito, independente de qual agente econômico seja, podemos observar que existe um grande desafio para as sociedades que é: “produzir bens e serviços para atender todas as necessidades das pessoas”. Ou seja, as necessidades humanas são consideradas “ilimitadas”. Com o crescimento populacional e as constantes mudanças na estrutura etária das sociedades, as necessidades de produção de bens e serviços são sempre crescentes para atender tantas demandas, enquanto que os recursos (ou fatores) disponíveis para gerar os produtos (bens e serviços), que atendam às necessidades, são sempre “limitados” (existe o risco constante de esgotamento dos recursos de produção). Portanto, diante desse dilema, a “escassez” é considerada o “problema central da Economia”. É desta escassez de recursos que surgem os problemas fundamentais da 4 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Economia, pois as sociedades precisam encontrar, constantemente, respostas para as seguintes questões-chaves: a) O que e quanto produzir?b) Como produzir? c) Para quem produzir? Para responder a essas questões as sociedades terão que fazer “escolhas”. As escolhas é parte integrante das atividades econômicas, pois os agentes econômicos terão que decidir sobre que produtos produzirem e em que quantidades, de modo que possam atender as necessidades da sociedade. Essas necessidades são basicamente: alimentação, saúde, educação, segurança, transporte, energia, pesquisa e desenvolvimento (P&D), lazer etc. Da mesma maneira, os agentes precisam escolher como produzir os bens e serviços com base nas tecnologias disponíveis. Se essa produção será responsabilidade do setor público, do setor privado, ou até mesmo de ambos. Ou até se será necessário importar os produtos, visto que muitas vezes a produção do mercado interno não atende as necessidades do país e por isso, é necessário trazer os produtos do mercado externo. Por fim, a sociedade também deverá escolher para quem os resultados da produção serão repartidos, como serão distribuídas as rendas geradas do processo produtivo e quem terá a propriedade dos recursos de produção. Ou seja, são escolhas difíceis que envolvem aspectos diversos como problemas de ordem política, financeira, histórica, geográfica, legal, cultural entre outros. Para decidir sobre essas questões fundamentais da Economia, os agentes econômicos necessitam considerar a disponibilidade dos recursos, os custos, os impactos e as prioridades da sociedade e dos vários segmentos que a compõe. 1.3. Os Recursos e Setores de Produção Como vimos, o problema central da Economia é a escassez e ela se dá em função da relação entre necessidades humanas ilimitadas e recursos (ou fatores) de produção limitados. Pois bem, vamos agora conhecer quais são esses recursos e como eles se relacionam com os diferentes setores de produção na economia. 5 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Os recursos de produção são os fatores necessários para a produção de bens e serviços para atender as necessidades da sociedade. Os bens são os produtos materiais (bens tangíveis) e os serviços são os produtos imateriais (bens intangíveis). Tradicionalmente, os recursos são classificados em recursos básicos como os recursos naturais, o trabalho e o capital. Mas existem também os recursos complementares. Veja no quadro 1 como cada um deles é representado: Quadro 1 – Os Recursos ou Fatores de produção Recursos Básicos Recursos Naturais (terra) Tudo aquilo que se origina da natureza, assim como o próprio solo (cultivável ou não), os minerais, os vegetais, animais, os rios, lagos etc. Mão de obra (trabalho) Representa a força de trabalho humano. Capital Conjunto de bens materiais utilizados no processo da produção de outros bens e serviços. É a própria infraestrutura produtiva (edifícios, máquinas, ferramentas etc.). Pode-se incluir também o “capital financeiro” e “capital humano”. Recursos Complementares Tecnologia Conhecimento humano aplicado à produção. Pode ser as tecnologias e inovações dos processos ou dos produtos. Empresariedade (capacidade empresarial) Compreende a classe de empresários que com sua ação empreendedora atua no setor produtivo. Fonte: Baseado em Sullivan; Sheffrin; Nishijima (2007) e Rossetti (2003). Pois bem, a mobilização desses recursos básicos e complementares gera então um fluxo produtivo que está dividido entre os seguintes setores (ou atividades) de produção (quadro 2): 6 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Quadro 2 – Os Setores ou Atividades de Produção Atividades Primárias (setor primário) Atividades agropecuárias como: lavouras, agricultura, horticultura, floricultura; pecuária, pesca, caça e seus derivados; e silvicultura (plantio de árvores). Atividades Secundárias (setor secundário) Atividades industriais e semi-industriais como a indústria extrativa mineral, siderurgia e metalurgia, produção, transmissão e distribuição de energia elétrica, gás encanado, água, material eletroeletrônico, beneficiamento de madeira, farmacêutica, borracha, automóveis, têxtil, alimentos, bebidas, fumo, gráfica etc.; e a indústria de construção civil. Atividades terciárias (setor terciário) Atividades prestadoras de serviços como: comércio, intermediação financeira (bancos), transporte e comunicação, administração pública (federal, estadual, municipal), saúde, educação, cultura, religião, hotelaria, turismo, manutenção de máquinas e equipamentos, engenharia e profissionais liberais. Fonte: Baseado em Sullivan; Sheffrin; Nishijima (2007) e Rossetti (2003). Podemos agora identificar a seguinte relação entre os recursos e os setores de produção: a) Em todas as atividades de produção são empregados os recursos para a geração de bens e serviços, porém, em cada uma das atividades um recurso pode ser considerado mais importante; b) No setor primário o recurso de produção mais evidente são os recursos naturais, pois dali são geradas as matérias primas que seguirão para o setor secundário (setor industrial/transformação); c) No setor secundário o recurso mais evidente é o capital (pois para as atividades industriais são necessárias as máquinas e equipamentos que formam sua infraestrutura produtiva); d) E no setor terciário o recurso de produção mais evidente é a mão de obra, pois para a prestação de serviços é necessário que pessoas disponham seu trabalho, seja no comércio, na educação, na saúde etc.; ainda que para esse setor seja importante a infraestrutura também (instalações, carros, computadores, máquinas etc.). 7 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1.4. Os Sistemas Econômicos Neste tópico vamos entender como as economias se organizam de forma a determinar um sistema econômico, pois cada país opera em diferentes condições de interação entre os agentes econômicos e suas atividades de produção. Assim, podemos definir o sistema econômico como um “conjunto de relações básicas, técnicas e institucionais que caracterizam a organização econômica de uma sociedade e condicionam suas decisões fundamentais, assim como suas atividades”. Então agora observe a figura 1. Note que todo sistema econômico tem uma estrutura básica constituída pela relação entre famílias, empresas e governos (agentes econômicos), e dessa relação surgem o chamado fluxo real e fluxo monetário. Figura 1 – Estrutura de um Sistema Econômico Fonte: Rossetti (2003). EMPRESAS FAMÍLIAS GOVERNO Fluxo Real Fatores de Produção Produtos Fluxo Monetário Remuneração dos Fatores Pagamentos pelos produtos adquiridos Fatores de produção e Tributos Produtos e Tributos Remuneração dos Fatores e Fornecimento de bens e serviços públicos Pagamento pelos produtos adquiridos e Fornecimento de bens e serviços públicos Investimentos na formação de capital fixo 8 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Vamos detalhar melhor: a) Da relação entre famílias e empresas são gerados os fluxos real e monetário. O fluxo real é representado pela troca de trabalho (ofertada pelas pessoas) e produtos (ofertada pelas empresas). Para intermediar essas trocas gera-se o fluxo monetário, representado pela troca de salários e de pagamentos pelos produtos comprados. Portanto: As famílias ofertam sua mão de obra (trabalho) e em troca recebem os salários (remuneração do trabalho); As empresas ofertam produtos e em troca recebem os pagamentos das famílias (pessoas que com os salários pagam pelos produtos adquiridos); As empresas com os pagamentos recebidos da venda de produto, pagam novamente, os salários das famílias que trabalham; e como resultado final objetivam os lucros, que são as remunerações dasempresas. b) Da relação entre famílias e governos também são gerados um fluxo real e um fluxo monetário: Sobre os salários das famílias e os lucros das empresas os governos cobram tributos, que constituem a renda que deve garantir as receitas públicas; As famílias também podem ofertar seu trabalho para as empresas estatais (e a administração pública) e recebem dos governos os salários (pagamentos aos funcionários públicos); As empresas também ofertam seus produtos aos governos e recebem os pagamentos correspondentes; Por fim, os governos com suas receitas (remuneração gerada pelos tributos) também devem oferecer produtos e serviços públicos às empresas e famílias. Sendo assim, conforme essas relações entre os agentes econômicos são determinadas pela legislação de cada país, um modelo de sistema econômico é determinado. Vamos agora conhecer os principais sistemas econômicos que ao longo da história definiram as relações na sociedade, são eles: o sistema capitalista, o sistema socialista e o sistema misto. 9 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1.4.1. Economias Capitalistas Os países de sistema econômico capitalista, também conhecido como “economias de mercado”, têm como base os princípios do Liberalismo. Influenciado pelo Iluminismo, os Liberalismo é uma doutrina que se difundiu a partir do século XVII e que influenciou a política e a economia do mundo moderno, defendendo os direitos individuais e sociais contra o absolutismo religioso e estatal. Na economia, tornou-se o princípio básico da Escola de Pensamento Fisiocrata e Clássico, representada por Adam Smith e que se caracterizou pela não intervenção do Estado na Economia. Assim, identificamos como principais características das economias capitalistas o seguinte: a) Os mercados livres, sem intervenção do Estado; b) A livre concorrência, para que os preços sejam formados pelo próprio mercado (relação entre demanda e oferta); c) Iniciativas privadas (os agentes particulares e seus direitos de propriedade); d) A desregulamentação dos mercados (baixas barreiras ao funcionamento das iniciativas dos mercados); e) Divisão internacional da produção (uso e distribuição dos recursos no mercado externo). Numa economia capitalista ao Estado cabe a função de realizar as atividades de defesa nacional e a justiça, somente atuando nos mercados quando a iniciativa privada é insuficiente para atender a demanda. Aspectos considerados positivos das economias de mercado: O uso mais eficiente dos recursos, devido à concorrência que incentiva a inovação (especialização da divisão internacional da produção – divisão do trabalho); As economias de escala (redução de custos e melhoria da qualidade dos produtos produzidos em grande escala – aumento da produtividade e melhores preços). Aspectos considerados negativos das economias de mercado: Os benefícios e ganhos da liberdade econômica não se distribuem de modo equitativo (concentração de riqueza); 10 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Conflitos de interesses entre a iniciativa privada e o Estado (disputas e poder de grupos privilegiados na sociedade); Imposição das nações mais desenvolvidas sobre as nações mais pobres (dependência econômica – falta de autonomia econômica dos países menos desenvolvidos). Tradicionalmente, os países que são exemplos de economias de mercado são: Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e Japão. Isto por que, os princípios do liberalismo prevalecem nos seus mercados (isto não significa que o Estado não faça nenhuma intervenção na economia. Na prática, observa-se que em situações de crise, o Estado tende a adotar ações de ajustes, realizando intervenções nos mercados; porém, procuram preservar o funcionamento das leis de mercado). 1.4.2. Economias Socialistas Os países que adotam o sistema econômico socialista, também podem ser chamados de “economias planificadas”. Os princípios do “protecionismo” são os que norteiam esse sistema. As principais características das economias planificadas são: a) Maior intervenção do Estado na economia (controle estatal dos meios de produção); b) Proteção dos mercados internos (barreiras que impedem a entrada de produtos originados nos mercados externos, como tarifas alfandegárias, quotas de importação e controle cambial); c) Preços definidos pelo Estado e baixa participação econômica da iniciativa privada. Aspectos considerados positivos das economias planificadas: Proteção do país em períodos de crises econômicas externas; Defesa do mercado interno em relação às ações oportunistas de grandes empresas estrangeiras; Maior igualdade social. Aspectos considerados negativos das economias planificadas: Acomodação da indústria nacional devido a reserva de mercado (falta de concorrência na economia); A formação dos monopólios estatais que impedem maiores inovações e redução dos custos (o custo do protecionismo de mercado é repassado à sociedade). 11 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância No século XX, após as revoluções socialistas e durante o período da Guerra Fria, muitos países adotaram o sistema econômico socialista, como o caso de Cuba, China, Coréia do Norte, Alemanha Oriental e os países do Bloco da União Soviética (URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Depois da Globalização, muitas coisas mudaram e vários países deixaram de ser socialistas, pois abriram seus mercados e se reorganizam como economias mistas. Na atualidade ainda são classificados como economias planificadas: Cuba, Coréia do Norte e Vietnã. 1.4.3. As Economias Mistas Após o processo de globalização e abertura econômica que aconteceu a partir de meados da década de 80, muitos países se reorganizaram e seus sistemas econômicos acabaram tornando-se não mais um sistema puro, mas um sistema misto, que combinaram aspectos do capitalismo e do socialismo. Ou seja, os princípios que conduzem esses sistemas mistos são conhecidos como Liberalismo Moderno (ou Neoliberalismo). A lógica do liberalismo moderno pode ser entendida por meio dos pilares defendidos no Consenso de Washington de 1989. Nesta época, especialistas de vários países, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BIRD) e o governo americano se reuniram para discutir e analisar os rumos da economia mundial e as tendências que direcionariam os países ao processo de globalização, incluindo os países da América Latina (processo defendido pelos países desenvolvidos). Como resultado, foram recomendados dez pilares para as nações que se inserissem no mundo globalizado. Dentre os pilares, os mais importantes foram: a) Liberalização comercial (redução das barreiras de importação); b) Desregulamentação financeira (aumento da movimentação dos capitais); c) Privatizações (desestatização – venda e concessão das empresas estatais ao mercado privado); d) Flexibilização do trabalho (diversificação dos contratos de trabalho); e) Propriedade intelectual (garantias e proteção aos direitos de propriedade intelectual). Portanto, a principal característica das economias mistas é a combinação de aspectos do liberalismo e do protecionismo. Ou seja, o uso de mecanismos de mercado com abertura econômica e integração comercial, mas com maior participação do Estado na economia por meio de gastos públicos (que atendam as demandas da sociedade) e ao mesmo tempo, 12 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância maior fiscalização dos mercados (para controlar os abusos e distorções dos agentes privados). A história mostrou que mercados totalmente livres são propensos a crises e desequilíbrios que afetam as economias dos países (como o caso das várias crises financeiras dos mercados de capitais, quebra das bolsas de valores, falênciade empresas e bancos que geraram o aumento do desemprego em diversos países). Como exemplos de países que adotaram os sistemas mistos temos o caso da Rússia e dos antigos países da União Soviética, depois da dissolução do bloco da URSS no final da década de 80. Estes deixaram de serem economias socialistas e abriram seus mercados e ampliaram sua integração comercial e financeira. O mesmo aconteceu com a China no início da década de 90. O país abriu uma parte de sua economia aos investidores estrangeiros e com isso muitas empresas se instalaram na China, buscando menores custos com a mão de obra. Contudo, o governo chinês manteve controle de suas estatais e hoje investe em várias partes do mundo. Essas condições contribuíram para o aumento das exportações mundiais chinesas e o crescimento econômico do país. Desde 2009, a China tornou-se o país com a maior participação nas exportações mundiais e desde 2011 a segunda maior economia do mundo no ranking do PIB. No caso do Brasil, podemos reconhecer que o país também se globalizou e adotou parte dos princípios do Consenso de Washington, principalmente as privatizações e a abertura comercial. Ainda assim, como o Brasil não era um país socialista, então não podemos compará-lo à China de forma simplificada. A partir da década de 90, com o fim da Guerra Fria, o mundo tornou-se multipolar e os sistemas econômicos menos puros e mais híbridos (heterogêneos). Portanto, podemos entender que cada país tem seu próprio modelo econômico, porém, cada um com mais ou menos participação do Estado (com mais ou menos atuação dos agentes privados e das leis de mercado). Contudo, é inegável que os princípios do liberalismo e das economias mistas tornaram-se mais difundidas na economia mundial, enquanto que as economias planificadas hoje representam poucos casos. Para finalizar, vamos observar o quadro 3 com a comparação entre os sistemas econômicos capitalistas (economia de mercado), socialistas (economias planificadas) e 13 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância mistos (economias mistas). Observe os critérios e como eles funcionam em cada um dos modelos. Quadro 3 – Comparativo dos sistemas econômicos Fonte: Baseado em Sullivan; Sheffrin; Nishijima (2007) e Rossetti (2003). 1.5. O Custo Oportunidade Após entender que cada país se organiza de uma forma para gerar a produção necessária para atender as necessidades e desejos de sua sociedade, vamos conhecer um conceito muito importante da Economia que é o chamado “Custo Oportunidade” (ou custo alternativo). Entender a visão econômica sobre esse custo é fundamental para compreender como os agentes econômicos fazem escolhas na economia, pois toda “escolha tem um custo oportunidade”. Como os recursos são limitados e as necessidades das sociedades são sempre inúmeras, é necessário se fazer “Escolhas” (como mencionado no tópico sobre o problema central da economia). Sendo assim, podemos conceituar custo oportunidade como: o valor do que foi renunciado em troca de outro valor resultante de uma escolha econômica; ou seja, quando decidimos empregar os recursos disponíveis Liberdade Econômica ausência de restrições à libedade econômica amplas restrições às variadas formas de liberdade (ocupação, empreendimento, dispêndio e acumulação) restrições seletivas à lierdade dos agentes (libedades sociais) Propriedade dos Meios de Produção privada, individual ou societária coletiva e socializada (pública) coexistência de formas Sistemas de Incentivos busca do benefício privado máximo pelos agentes individuais busca do bem comum (cooperação em substituição à competição) submissão do interesse individual-privado ao interesse social Coordenação e Alocação dos Recursos atribuída a livre manisfetação das forças dos mercados atribuída as ordens minuciosas do planejamento central atribuída à atuação conjunta das forças dos mercados com o planejamento público (não impositivo) Processo Decisório os mercados planejamento central os mercados, sob o poder regulatório da autoridade pública Formas de Ordenamento Institucional ECONOMIA DE MERCADO ECONOMIA PLANIFICADA ECONOMIA MISTA Critérios 14 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância numa determinada escolha na economia, temos que abrir mão de outra, visto que não podemos realizar tudo que desejamos no curto prazo. Por exemplo, se uma pessoa escolhe poupar parte de seu salário, estará deixando de consumir algo no presente. Se o produtor agrícola deseja investir na produção de arroz, estará deixando de produzir outro produto, pois existe uma limitação de terras cultiváveis, além do limite da capacidade de comprar mais sementes, fertilizantes, entre outros recursos. O mesmo acontece com as empresas que produzem bens manufaturados. Por exemplo: se empresas produzem televisão para o mercado, estão deixando a “oportunidade” de produzir celulares, pois é preciso decidir de que forma empregará seu capital, que também tem uma limitação. Já outras empresas decidirão produzir celulares e não televisão e assim por diante. Pense na produção de energia: o país deve investir mais em energia hidroelétrica ou em energia termoelétrica? Ou ainda, em energia eólica ou solar? Mais um exemplo bem ilustrativo: se um país decide investir mais seus recursos na construção de estradas, estará fazendo a escolha de investir menos em ferrovias (no curto prazo não haverá condições de investir em todos os tipos de matrizes de transporte). Quando o Brasil decidiu investiu nos eventos da Copa do Mundo (2014) e nas Olimpíadas (2016), deixou de empregar esses recursos em outra “oportunidade”? Pois bem, é por isso que afirmamos que toda escolha na economia tem um custo oportunidade. Para completarmos essa análise, diante dos custos oportunidades na economia (decorrentes da limitação de recursos), então precisamos fazer “Escolhas Eficientes”. Ou seja, ser eficiente na economia é usar da melhor forma os recursos disponíveis (as empresas buscam produzir mais utilizando o menos recursos possíveis). Uma forma que a Economia entende essa eficiência produtiva é por meio do chamado “Pleno Emprego”. Pleno emprego ocorre quando utilizamos todos os recursos de produção disponíveis na geração dos bens e serviços, isto é, quando não existe capacidade ociosa (recursos disponíveis que estão sem utilização). Ou seja, quando todos os fatores de produção estão empregados, isto significa que a economia está em pleno 15 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância emprego (eficiência produtiva). Então, para continuar a obter maior eficiência econômica é necessário incrementar o pleno emprego dos fatores de produção (nesse caso é necessário expandir a capacidade produtiva). É claro que no mundo real não é possível alcançar o pleno emprego “literalmente”, pois existem inúmeras contingências nos mercados que afetam a capacidade de produção (imprevistos e problemas externos e desequilíbrios no mercado). Porém, é possível operar com a menor capacidade ociosa possível (mais próximo do pleno emprego), especialmente quando a economia do país estiver em fase de crescimento econômico; do contrário, teremos uma situação de capacidade de produção ociosa (recursos, máquinas, equipamento e mão de obra disponível, mas que não estão sendo utilizados). Podemos relacionar esse conceito com o que está acontecendo no cenário econômico atual brasileiro. Com a retração da atividade econômica, muitas empresas reduziram seus investimentos e a produção diminuiu, gerando o corte das vagas de emprego (é por isso que observamos um aumento das taxas de desemprego no país). No tópico seguinte, vamos aplicar esses conceitos à chamada “Teoria da Curva de Possibilidades de Produção (CPP)”, que é uma teoria econômica clássicaque objetiva explicar o problema da escassez. 1.5.1. A Curva de Possibilidades de Produção Como os recursos de produção na economia são limitados (matérias-primas, mão de obra e capital), os agentes precisam escolher que decisões tomar em relação ao uso desses recursos e conhecer os custos oportunidades. Para tanto, a teoria econômica utiliza a Curva de Possibilidades de Produção (CPP). Para entendermos como ela é construída, vamos fazer uma simulação, trazendo um exemplo hipotético de uma “fábrica de parafusos”. Essa é uma simplificação da realidade, muito utilizada para ajudar a entendermos como as coisas funcionam no mundo real (como os fenômenos econômicos são muito complexos, precisamos utilizar um método que nos ajude a entender a relação entre as principais variáveis que interessam ao problema analisado, por isso é que fazemos uma simplificação). Vamos então supor o seguinte: Num determinado período, uma empresa “Alfa” produz parafusos do tipo “A” e do tipo “B” (utilizando matérias-primas). A mesma empresa possui também 10 máquinas (uso de capital e tecnologia), e tem contratado 40 funcionários (uso de mão de obra). 16 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Observação importante: estamos considerando uma empresa que produz utilizando recursos de produção “fixos”, ou seja, a empresa não pode rapidamente aumentar o número de máquinas, nem adquirir inovação tecnológica e nem matérias-primas, pois, estamos fazendo uma análise de curto prazo (na economia, os agentes precisam de tempo para decidir o que e como adquirir mais recursos de produção). Com base nesses dados, apresentamos as seguintes possibilidades de produção de parafusos da empresa “Alfa” (tabela 1): Tabela 1 – Quantidades de parafusos produzidos pela empresa “Alfa” (unidades) Produto A Produto B 0 20 1 18 2 15 3 11 4 6 5 0 Fonte: Adaptado de Rossetti (2003). Observe que cada linha representa uma possibilidade de produção dos parafusos, com os recursos que a empresa dispõe. Nesse caso temos que, na primeira linha a empresa “Alfa” é capaz de produzir a combinação de 20 parafusos do tipo “B” e nenhum parafuso do tipo “A” (utilizando todos os seus recursos que ela tem disponíveis). Conforme a empresa decide produzir mais o parafuso do tipo “A”, passando de 1 unidade para 5 unidades, ela precisa reduzir a produção do parafuso “B” (de 20 unidades para nenhuma unidade), conforme a combinação descrita na última linha da tabela. Ou seja, quando a empresa escolhe aumentar a produção de “A”, emprega mais recursos para isso, logo, desloca seus recursos de “B” para “A”. Como estudamos, os recursos têm limitação e por isso, a empresa precisa escolher como empregar seus recursos. Observação importante: note que não temos todas as informações sobre a empresa e suas condições de custos, preços e demanda no mercado. Isso impede que saibamos qual seria a melhor escolha na prática, mas essa teoria não está preocupada com isso. Sua preocupação é demostrar que temos recursos limitados e que, permanentemente, lidamos na economia com a escolha de como utilizar esses recursos para produzir os bens e serviços. 17 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Assim, vamos agora transportar esses dados para o diagrama da CPP. Observe no gráfico 1 que a produção do parafuso “A” está distribuída no eixo “x” do plano cartesiano (eixo horizontal, abscissa), e que a produção do parafuso “B” está no eixo “y” (eixo vertical, coordenada): Gráfico 1 – A CPP da empresa “Alfa” 0 5 10 15 20 25 0 1 2 3 4 5 6 Produto B Produto A Fonte: Adaptado de Rossetti (2003). Esta é a CPP da empresa “Alfa”. Cada ponto no plano cartesiano representa uma combinação de produção de parafusos “A” e “B”, e depois que ligamos os pontos encontrados, podemos desenhar a CPP (que tem uma forma de curva, pois os custos oportunidades são decrescentes). Vamos entender melhor. Observe a próxima tabela: Tabela 2 – Os custos oportunidades da empresa “Alfa” Combinações Produto A Produto B Custo Oportunidade 1ª 0 20 _ 2ª 1 18 20 - 18 = 2 3ª 2 15 18 - 15 = 3 4ª 3 11 15 - 11 = 4 5ª 4 6 11 - 6 = 5 6ª 5 0 6 - 0 = 6 Fonte: Adaptado de Rossetti (2003). Veja que na tabela 2 temos as possibilidades de produção descritas anteriormente, mas que também apresentam o custo oportunidade de cada combinação (fazendo uma leitura de cima para baixo). Note que o custo oportunidade vai aumentando conforme 18 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância passamos da combinação (0 e 20), para a combinação (5 e 0). Ou seja, quando a empresa passa a produzir 1 unidade do parafuso “A”, ela tem um custo oportunidade de 02 unidades do parafuso “B” (pois passa a produzir 18 unidades de “B”, deixando então de produzir 02 unidades, pois antes produzia 20). Quando então a empresa passa a produzir 02 unidades do parafuso “A”, deixa agora de produzir 03 unidades do parafuso “B” (que é o seu custo oportunidade). E assim por diante, até chegar à combinação final de (5 e 0) com um custo oportunidade de 06 unidades de “B”. Observação importante: você notou que se o custo oportunidade vai aumentando, teremos uma curva no gráfico, mas poderíamos ter uma reta, caso o custo oportunidade fosse constante (a cada nova combinação o custo oportunidade seria o mesmo). Mas estamos aqui considerando que o parafuso do tipo “A”, exige mais recursos de produção, pois deve ser um tipo mais “sofisticado” do produto. Por isso é que notamos que a empresa, mesmo utilizando os mesmos recursos, consegue produzir no máximo até 05 parafusos tipo “A” ou 20 parafusos tipo “B”. De qualquer forma, em todos os pontos na curva da CPP, a empresa está empregando todos os seus recursos disponíveis. Vamos continuar nossa análise a partir do próximo gráfico. Observe que agora temos mais dois pontos no plano cartesiano (gráfico 2): Gráfico 2 – Os pontos fora da CPP 0 5 10 15 20 25 0 1 2 3 4 5 6 Produto B Produto A (2, 20) (1, 11) Fonte: Adaptado de Rossetti (2003). 19 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Note que temos uma combinação de produção representada por um ponto abaixo da CPP (A=1 e B=11), e uma combinação de produção representada por um ponto acima da CPP (A=2 e B=20). Conforme demonstrado anteriormente, a empresa “Alfa”, utilizando todos os seus recursos, consegue produzir A=1 e B=18, ou seja, nesse ponto B=11, a empresa estará produzindo abaixo de sua capacidade máxima de produção. Por outro lado, se ela produz A=2, somente conseguirá produzir B=15, e não B=20, como indicado no ponto acima da CPP. Sendo assim, podemos chegar as seguintes conclusões sobre essa teoria: a) Qualquer ponto que esteja na curva da CPP representa a máxima capacidade de produção, utilizando todos os recursos disponíveis (de uma empresa analisada, ou do conjunto das empresas, ou até mesmo a capacidade de produção de um país); b) Qualquer ponto acima da CPP representa um grau de “escassez” de recursos, pois a combinação dos produtos não é atingível pela empresa naquele momento analisado (faltam recursos de produção); c) Qualquer ponto abaixo da CPP representa um grau de “ociosidade”, pois a empresa analisada está numa combinação de produção que fica aquém de sua capacidade de produção (tem recursos de produção que não estão sendo utilizados); d) No exemplo analisado, a produção do parafuso “A” é mais elaborada do que a produção do parafuso “B”; e) Para aumentar a produção “A”, foi incorrida uma perda na produção de “B” (tem um custo oportunidade); f) Para que ocorra um deslocamento positivo da CPP (aumento da produção) será necessário aumentar os recursos produtivos ao longo do tempo (a empresa deverá fazer investimentos). 20 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Vejacomo isto está demonstrado no gráfico 3: Gráfico 3 – Deslocamento positivo da CPP 0 5 10 15 20 25 0 1 2 3 4 5 6 Produto B Produto A (2, 20) (1, 11) Fonte: Adaptado de Rossetti (2003). Observe que a curva da CPP se deslocou a direita no plano cartesiano, o que representa um aumento das combinações máximas de produção, ou seja, a empresa fez investimentos que permitiram adquirir mais recursos produtivos, aumentaram a capacidade de produção (de parafusos). Esses investimentos devem ter sido efetuados por que a empresa espera que ocorra um aumento da demanda do produto no médio e longo prazo (quando os agentes econômicos acreditam que a economia está em expansão, os planos de investimentos tendem a aumentar, mas se a expectativa é de retração econômica, os investimentos tendem a serem suspensos, ou até mesmo reduzidos, fazendo com que a CPP se desloque negativamente ao longo do tempo).3 3 A pa la v ra “ inve st im e nto” e s tá se ndo ut i l iz ada ne sse co nte xt o com o se nt id o de “ inv est im e nto prod ut i vo” , o u se j a , q ue o ca p i ta l f i na nc e ir o , com o rec ur so d e pro d ução, e s tá se nd o em pregado p ara aum e nt ar a p rod uç ão de be ns e ser v iço s no m ercado ( inve st im e nto s em m ais m atér ia s -pr im as, m aq u inár io s, tec no log ia s q ue ge ram em prego s e a um e nta m a capac ida de p rod ut i va d o paí s ) . E não no se nt ido de ca p i ta l i nve st ido no s m ercado s f i na nce ir o s para ge r ar re nd im e nto s ( j uro s) . No capí t u lo 6 i rem o s conhecer m elhor a d inâm ica do s m erc a do s f i na nce iro s. 21 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Encerrado esse tópico, vamos agora conhecer a classificação dos produtos na Economia. 1.6. Tipos de produtos Existem inúmeras formas de classificar os produtos, dependendo de como eles estão sendo analisados. Lembrando que os produtos são constituídos pelos bens e serviços gerados na economia (bens são os produtos materiais, ou tangíveis; e os serviços são os produtos imateriais, ou intangíveis). Nesse tópico vamos conhecer a classificação usual dos produtos na Economia, segundo os seguintes critérios: a) Quanto ao caráter os produtos podem ser: livres ou econômicos; b) Quanto à natureza: de consumo ou de capital; c) Quanto à função: intermediários ou finais. Os produtos livres são aqueles que estão em abundância na economia e por isso, não possuem valor econômico e nem podem ser apropriados pelas pessoas. São exemplos de produto livres: o ar, a praia, o vento, o sol, ou seja, tudo o que utilizamos da natureza, mas que não pagamos por eles e nem nos apropriamos deles.4 Já os produtos econômicos são todos aqueles que possuem valor e quem paga por ele, se apropria do bem ou serviço. São exemplos de produtos econômicos a maioria de tudo que os agentes utilizam, como: alimentos, roupas, transporte, energia, lazer, serviços, etc. Os produtos de consumo (ou bens de consumo) são aqueles que utilizamos na forma de consumidor final, basicamente os produtos comercializados no setor de varejo, como: celulares, eletrodomésticos, remédios, alimentos, automóveis, etc. (atendem diretamente as necessidades do consumidor). Note que todos esses produtos também são econômicos (pois paga-se para obtê-los). O mesmo ocorre com os produtos de capital (ou bens de 4 No ca so da á g ua, q ue tam bém é um bem da nat ur eza, podem o s e nte nd ê - la c om o um pro duto l i vre , ass im com o o ar . Porém , na f o rm a com o a ág ua é u t i l iz ada na s z o na s urba na s, q ua ndo um a em presa f az o t ra tam e nto e d i st r ib u içã o da ág ua, e n tão e la será um pr od uto eco nôm ico, po is se o c onsum ido r , o u a em presa não paga r pe lo se r v iço , o f o r nec im ento de ág ua será int er rom p ido (o u se j a , a ág ua to r na - se um prod ut o apr opr iá ve l , por t a nto , ec o nôm ic o) . Ma s se a ág ua f o r u t i l iza da d ir e tam e nte na nat urez a, n e sse caso , e nt ão ser á um bem l i v re . 22 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância capital), estes são aqueles bens que geram outros bens, como: máquinas, equipamentos, tratores, caminhões, ferramentas, etc. (atendem indiretamente as necessidades dos consumidores). E, como mencionado, também são bens econômicos. Por último, a diferença entre produtos intermediários e finais é que, os intermediários são aqueles utilizados ao longo do processo produtivo, e por isso, ainda não estão prontos para uso final, como as matérias-primas, as embalagens, os componentes, as peças, etc. Já os produtos finais são aqueles que estão prontos para uso, como todos os bens de consumo e os bens de capital mencionados. Observe que neste caso, os produtos intermediários e finais também são produtos econômicos. Portanto, temos que: a) Alimentos, remédios, eletrodomésticos, automóveis (para uso pessoal) são exemplos de produtos: econômicos, de consumo e finais ao mesmo tempo; b) Máquinas, tratores, ferramentas e automóveis (de propriedade das empresas) são produtos, ao mesmo tempo: econômicos, de capital e finais; c) Matérias-primas, embalagens e componentes são exemplos de produtos: econômicos e intermediários ao mesmo tempo (e dependendo da forma que serão utilizados, poderão ser de consumo, ou de capital).5 Para finalizamos esse capítulo, destacamos que o estudo da Economia também pode ser dividido em dois grandes compartimentos: a Microeconomia e a Macroeconomia. A Microeconomia representa os estudos sobre temas que envolvem especialmente os agentes econômicos, como as escolhas sobre o consumo (comportamento dos consumidores – Teoria do Consumidor), os custos e os lucros das empresas (Teoria da Firma), o funcionamento dos mercados e a formação dos preços (Teoria da Demanda e da Oferta), entre outros temas que estudam os fenômenos econômicos de modo mais individualizado. Já a Macroeconomia representa os estudos dos fenômenos econômicos em sua forma agregada, ou seja, a economia nacional e suas relações com o exterior. Nesse caso, 5 Por e xem plo , no ca so d o aç o q ue será u t i l izad o p ara pro d uz ir um cam inhão, e nt ão esse bem inte rm ed iár io será agr egad o a um bem de cap i ta l . Se o m e sm o aço f o r para pro d uz ir um a utom ó ve l consum ido por um a pe ssoa f ís ica , e n tão e ste aço ser á agr egad o a um bem de c o nsum o. 23 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância os principais temas de análise são: a inflação, o crescimento econômico, as políticas econômicas, o desemprego, os investimentos, o comércio internacional, entre outros. Em nosso curso não estamos estudando as disciplinas de micro e macro, mas alguns de seus temas mais importantes. Por isso, passaremos a estudar em seguida os mercados, que é um tema da microeconomia, para então depois analisarmos outros assuntos incluídos no estudo macroeconômico, a partir do capítulo 3. 24 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. OS MERCADOS Objetivo: Neste capítulo vamos entender os fundamentos básicos do estudo dos mercados, sob o ponto de vista da teoria clássica, que é comumente utilizada como referência na literatura introdutória de Economia. Trata-se de um tema da microeconomia. Introdução: Um dos temas mais tradicionais da Economia é o estudo dos mercados. Podemos observar que existem inúmeros mercados e que todo mercado é caracterizado pela relação entre “demanda” e “oferta”. Nesta aula vamos estudar o que é demanda e oferta, como são representados graficamente, como os preços são formados e quais os principais tipos de mercados. Podemos citar como exemplos de mercados: o mercadode trabalho, os mercados de produtos e de serviços, mercado acionário, mercado automobilístico, mercado energético, mercado petrolífero, mercado agrícola, mercado virtual, mercado informal, entre outros. Veja que existem inúmeros mercados e que eles caracterizam o funcionamento de uma economia. Vamos entender melhor. 2.1. Mercado Em muitas economias o mercado funciona baseado na relação entre a demanda e a oferta existente (mercados com concorrência). Desse encontro, trocas são realizadas e estas trocas são intermediadas por moedas, com base nos preços definidos neste mercado. Fazendo esta análise sob o ponto do “livre mercado” (no qual os preços são formados pela relação demanda e oferta), temos os seguintes conceitos a serem considerados: 2.2. Demanda A demanda do mercado, também chamada de “procura”, é representada pela quantidade de bens ou serviços que os consumidores estão dispostos a comprar em um determinado período de tempo (consumidores ou compradores/demandantes). E os principais fatores que influenciam a decisão de compra do consumidor são: o preço do produto; o preço dos outros produtos; a renda do consumidor; e os gostos e costumes do consumidor. 25 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Porém, para entendermos a Teoria do Mercado vamos estudar, isoladamente, a variável “preço” que é considerada a mais importante para o estudo dos mercados (esta é uma forma de análise considerando a hipótese chamada coeteris paribus, que significa isolar a variável analisada, supondo que as demais variáveis na economia se mantenham constantes). Com base nessas condições, a relação entre quantidade demandada e preço se faz da seguinte forma: Principais variáveis: QD = quantidade demandada do produto p = preço do produto Então: QD = f (p), ou seja, quantidade demandada é uma função do preço (o preço é que determina a quantidade do produto demandado). Desta forma, do lado da demanda, definimos que a relação dessas variáveis é “inversa” (ou decrescente), pois quando aumenta o preço do produto, o consumidor tende a comprar menos. E quando o preço do produto diminui, o consumidor tende a comprar mais: p => QD Relação entre as variáveis p e Q é inversa (decrescente). p => QD Este é o que entendemos como o comportamento típico dos consumidores no mercado (produtos com preços mais competitivos conseguem vender mais). A seguir apresentaremos uma representação gráfica da relação dessas variáveis. Note que no eixo x estão os valores das quantidades (QD); e no eixo y estão os valores do preço (p). Esta é a forma convencional de representar graficamente um mercado. Nesse modelo, os pontos que ligam as variações de preços e quantidades descrevem uma reta (mas também poderia ser representado por uma curva). 26 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2.2.1. Reta ou Curva da Demanda (do produto x) A partir da combinação de preços e quantidades descritas na tabela 3, os pontos A, B e C formam a demanda deste mercado (hipotético e simplificado, pois estamos considerando apenas as variáveis p e Q). Tabela 3 – Combinação de preços e quantidades do produto “x” Ponto p (preço) QD (quantidade demandada) A $ 12,00 55 B $ 16,00 40 C $ 18,00 30 Fonte: Adaptado de Rossetti (2003). Observe na tabela a distribuição das combinações entre o preço e as quantidades do produto “x”. Note que a quantidade demandada diminui (passando de 55 para 30) quando o preço aumenta (de 12,00 para 18,00), refletindo o comportamento típico dos consumidores que tendem a consumir menos quando o produto fica mais caro (função indireta). Essas combinações são apresentadas no gráfico 4, no qual a reta da demanda assume uma forma decrescente (tanto do ponto A para C, quanto de C para A). Ou seja, estamos traduzindo o comportamento da demanda no mercado, na forma de um diagrama (considerando que exista um mínimo de concorrência no mercado). Gráfico 4 – Demanda do produto “x” Fonte: Adaptado de Rossetti (2003). 27 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2.3. Oferta A oferta do mercado é representada pela quantidade de bens ou serviços que os produtores estão dispostos a oferecer em um determinado período de tempo (produtores, fabricantes, vendedores/ofertantes). E os principais fatores que influenciam a decisão dos ofertantes (produção e venda) são: o preço do produto (assim como para o demandante); o preço dos recursos de produção (custos); e as tecnologias disponíveis. Assim como no caso da demanda, para continuarmos o entendimento sobre a Teoria do Mercado vamos estudar, isoladamente, a variável “preço” que é considerada a mais importante para este estudo (mantendo a hipóteses coeteris paribus). Com base nessas condições, a relação entre quantidade ofertada e preço é feita da seguinte forma: Principais variáveis: QO = quantidade ofertada do produto p = preço do produto Então: QO = f (p), ou seja, quantidade ofertada é uma função do preço (o preço é que determina a quantidade). Desta forma, do lado da oferta, definimos que a relação dessas variáveis é “direta” (ou crescente), pois quando aumenta o preço do produto, o ofertante tende a produzir e oferecer mais o produto valorizado no mercado (esperando aproveitar os preços maiores para obter mais lucros). E quando o preço do produto diminui, o ofertante tende a oferecer menos o produto no mercado (pois perde o interesse em operar com um produto que desvalorizou no mercado): p => QO Relação entre as variáveis p e QO é direta (crescente). p => QO Ou seja, para quem oferta um produto no mercado, se o preço do produto aumentar, sua quantidade ofertada tenderá a aumentar. Por outro lado, se o preço do produto ofertado diminuir no mercado, a oferta tenderá a diminuir também (por isso é que chamamos de relação direta entre preço e quantidade). Esse é o comportamento típico do ofertante no mercado. 28 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A seguir apresentamos uma representação gráfica da relação dessas variáveis na oferta. Note que, assim como na demanda, no eixo x (abscissa) estão os valores das quantidades (QO); e no eixo y (coordenada) estão os valores do preço (p). 2.3.1. Reta ou Curva da Oferta (do mesmo produto x) A partir da combinação de preços (a mesma descrita na demanda) e as quantidades descritas na tabela 4, os pontos A, B e C formam a oferta deste mesmo mercado (hipotético que estamos analisando). Tabela 4 – Combinação de preços e quantidades do produto x Ponto p (preço) QO (quantidade ofertada) A $ 12,00 30 B $ 16,00 43 C $ 18,00 56 Fonte: Adaptado de Rossetti (2003). Observe na tabela 4 e no gráfico 5 que a quantidade ofertada aumentou (passando de 30 para 56) quando o preço aumentou (de 12,00 para 18,00), refletindo o comportamento típico dos ofertantes na forma de uma reta crescente (função direta). Gráfico 5 – Oferta do produto X Fonte: Adaptado de Rossetti (2003). 29 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Lembre-se, os ofertantes tendem a produzir mais aquele produto que está valorizando no mercado, e deixam de produzir os produtos que perdem valor no mercado, o que é considerado o comportamento típico do ofertante. 2.4. A Formação dos Preços Nos tópicos anteriores, fizemos uma introdução aos principais conceitos que definem a Teoria da Demanda e da Oferta, sob o ponto de vista da Economia Clássica, que reconhece os preços de mercado como um resultado das “forças” entre demanda e oferta que operam em condições de mercados concorrenciais (ou seja, quando os preços são formados pela relação entrede demanda e oferta). Do lado da demanda estão os consumidores (compradores) que buscam comprar mais pagando menos (conforme sua renda, seus gostos e os preços dos outros produtos correlacionados), enquanto do lado da oferta estão as empresas (produtores e vendedores) que desejam vender mais a um preço maior, para maximizar seus lucros. Agora vamos analisar o gráfico do mercado que apresenta o preço e a quantidade de equilíbrio do mercado, a partir da interação entre demanda e oferta, no conjunto das retas decrescentes e crescentes da demanda e oferta. Conforme o exemplo dos gráficos da demanda e da oferta do produto “x” apresentados anteriormente, vamos agora sobrepor as duas retas no mesmo gráfico, mantendo as mesmas variações de preços e quantidades demandadas e ofertadas (acrescidas de mais algumas variações). Assim, na tabela 5 temos a descrição das seguintes condições: Tabela 5 – Equilíbrio de Mercado do produto “x” p (preço) QD (quantidade demandada) QO (quantidade ofertada) Condição do Mercado $ 19,00 20 70 Excedente (QD < QO) $ 18,00 30 56 Excedente (QD < QO) $ 16,00 40 43 Excedente (QD < QO) $ 15,00 42 42 Equilíbrio (QD = QO) $ 12,00 55 30 Escassez (QD > QO) $ 10,00 69 20 Escassez (QD > QO) Fonte: Adaptado de Rossetti (2003). 30 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Note que a tabela 5 apresenta as variações do preço do produto “x” e as respectivas variações na quantidade da demanda e da oferta deste produto no mercado. Quando o preço do produto é $15,00 a QD=42 e a QO=42. Ou seja, a demanda e a oferta se igualam e por isso este ponto representa o chamado “equilíbrio do mercado”. Quando o preço do produto ficar abaixo $15,00 ocorre uma situação de desequilíbrio, no qual há “escassez no mercado”, pois a demanda acabará sendo maior que a oferta. Quando o preço ficar acima de $15,00 ocorre outra situação de desequilíbrio, porém contrária, pois haverá “excedente no mercado”, visto que a oferta acabará sendo maior que a demanda. Analisando o gráfico 6 (que nada mais é do que a transposição dos dados apresentados na tabela 5), é possível verificar que neste gráfico foram colocadas as retas apresentadas anteriormente, representando “a demanda e a oferta do produto x”, conforme as variações de preços e quantidades descritas. Gráfico 6 – Mercado do produto X Fonte: Adaptado de Rossetti (2003). Ao cruzar a demanda e a oferta no gráfico, identificamos um ponto em que ao preço $15,00 a quantidade da demanda e a quantidade da oferta se igualam em 42. Portanto, neste ponto encontramos o “ponto de equilíbrio” (QD = QO). 31 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Isto significa que ao preço $15,00 o mercado não tem escassez e nem excedente. É como se o mercado encontrasse seu equilíbrio, de modo que os interesses dos demandantes e ofertantes fossem atendidos. Entretanto, é importante ressaltar que este ponto de equilíbrio é hipotético e somente possível graficamente, pois no mundo real este equilíbrio pleno não existe. O que podemos encontrar é o mercado em condições de concorrência tendendo ao equilíbrio, afinal se os preços do produto aumentam muito com o aumento da demanda, a oferta será atraída e o produto será mais ofertado no mercado. Porém, no momento seguinte, a demanda tenderá a retrair em razão do aumento dos preços e com isso a oferta se tornará maior que a demanda, ocorrendo um excedente do produto no mercado. Isto acabará forçando os ofertantes a reduzir o preço do produto para escoar o excedente. Caindo os preços, aos poucos a demanda volta a aumentar gerando, num segundo momento, uma condição oposta, pois com mais demanda do que oferta será gerada escassez no mercado, e com isso, espontaneamente, os preços voltarão a aumentar. Pois bem, essas condições apresentadas refletem a formação dos preços em economias que incentivem a concorrência do mercado. Porém, como veremos posteriormente, a concorrência nem sempre é a condição mais presente nos mercados. Portanto, os preços na economia podem muitas vezes, serem formados pelas “leis de mercado”, mas também podem ser formados por outras condições, como: por meio das políticas de controle de preços por parte dos governos; ou então serem definidos por setores que detêm poder sobre o preço final do produto; ou até mesmo por outros fatores que também influenciam os preços, como os custos de produção (quando insumos importados se tornam mais caros, ou os salários dos funcionários aumentam, etc.). 2.5. Elasticidade Após estudarmos como os preços são formados nos mercados concorrenciais (utilizados como referência para entendermos o comportamento das economias de mercado), vamos agora conhecer outro conceito importante que é a “Elasticidade”. Elasticidade pode ser entendida como uma medida que identifica a “sensibilidade” do consumidor em relação às variações de preços dos produtos no mercado. Ou seja, quando o consumidor aumenta seu consumo, ou o diminui, devido à variação do preço, qual será a proporção dessa variação do consumo? De que forma o consumidor reage quando o preço aumenta, ou diminui no mercado? 32 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para respondermos a essas questões, devemos entender como é medida a “elasticidade da demanda”. Com ela podemos entender se o produto é essencial ou não para o consumidor.6 2.5.1. Tipos de Elasticidade da Demanda Considerando o comportamento típico do consumidor, que tende a comprar mais quando os preços diminuem no mercado, e vice-versa, podemos medir a sensibilidade do consumidor em relação a essas variações de preços, utilizando o cálculo da elasticidade. Sendo assim, suponha, por exemplo, um consumidor “A” que compra 10 unidades do produto “x”, quando o preço desse produto é $5,00. Se o preço aumentar para $6,00 o que deverá acontecer com a demanda desse produto? Já sabemos que a demanda deverá diminuir, mas em que proporção? Vamos supor os seguintes dados: a) O consumidor “A” que compra 10 unidades do produto “x”, quando o preço é $5,00; b) Se o preço aumentar para $6,00 (ou seja, aumento de 20%), o consumidor passa a comprar 06 unidades (redução de 40% no consumo); c) A sensibilidade do consumidor “A” em relação ao aumento do preço do produto “x” pode ser considerada alta, pois a demanda reduziu numa proporção maior que a variação do preço (a demanda caiu 40% para uma variação do preço de 20%). Agora vamos pensar em outro exemplo, do consumidor “B” que compra 20 unidades do produto “y” ao preço de $10,00. Mas que o preço do produto aumentou para $15,00. Observe esses dados: a) O consumidor “B” que compra 20 unidades do produto “y”, quando o preço é $10,00; b) Quando o preço passou para $15,00 o consumidor reduziu o consumo para 18 unidades; c) A sensibilidade do consumidor “b” em relação ao aumento do produto “y” pode ser considerada baixa, pois a demanda reduziu numa proporção menor que a variação do preço (a demanda caiu 10% para uma variação do preço de 50%). 6 Ressa l tam o s q ue e xis tem o ut r o s t ip o s d e e la st ic id ade, com o a “E la s t ic idade da Of er ta ” , a “E la st ic id ade Re nda” e a “E la st ic ida de Cr uza da” . Co nt udo , pa ra o s ob j e t i vo s da d isc ip l i na , vam os som e nte est udar a “E la st ic ida de da Dem a nda ” . Para q uem de se j a conhece r m ais sobre o a ssunto , consu l te a no ssa B ib l io teca V ir t ua l , l i v ro “ In t ro d ução a o Est udo da Econom ia” de Mo nte iro e S i l va (2 014 ) , Ca pí t u lo 3 , pá g ina s 80 a 85 . 33 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Notou como o comportamento do consumidor foi diferente para cada caso? Assim, a partir desses dados, vamos então conhecer o cálculo do coeficiente de elasticidadeda demanda nesses mercados, a partir das seguintes fórmulas: Epd = 𝚫%𝐐 𝚫%𝐩 (Elasticidade-preço da demanda é igual à variação percentual da Quantidade Demandada do produto, sobre a variação percentual do Preço do produto). Ou também podemos utilizar a seguinte fórmula (quando as variações não estão na forma percentual): Epd = 𝐐−𝐐𝐨 𝐐𝐨 𝐩−𝐩𝐨 𝐩𝐨 (Elasticidade-preço da demanda é igual à Quantidade final, menos a Quantidade inicial, sobre a Quantidade inicial. O resultado dessa fração sobre o resultado do preço final, menos o preço inicial, sobre o preço inicial - o “zero” sempre representa o valor inicial de uma variação). A partir desses cálculos, podemos classificar a elasticidade da seguinte forma: Se a Epd = 1, a elasticidade da demanda é classificada como “unitária”; Se a Epd > 1, a elasticidade da demanda é classificada como “elástica”; Se a Epd < 1, a elasticidade da demanda é classificada como “inelástica”. Vamos aplicar os dados dos exemplos apresentados, ao cálculo da elasticidade (utilizando a fórmula dos valores iniciais e valores finais). Assim teremos: Consumidor A => Epd(x) = 𝟔−𝟏𝟎 𝟏𝟎 𝟔−𝟓 𝟓 = −𝟒 𝟏𝟎 𝟏 𝟓 = −𝟎,𝟒 𝟎,𝟐 = -2 = |-2| = 2 (elástica) 34 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Consumidor B => Epd(y) = 𝟏𝟖−𝟐𝟎 𝟐𝟎 𝟏𝟓−𝟏𝟎 𝟏𝟎 = −𝟐 𝟐𝟎 𝟓 𝟏𝟎 = −𝟎,𝟏 𝟎,𝟓 = -0,2 = |-0,2| = 0,2 (inelástica) Observe que sempre a elasticidade da demanda chega a um resultado negativo (devido à relação inversa entre preço e quantidade), por isso, vamos utilizar o valor final em módulo (entre as barras), e consideraremos somente o valor absoluto, sem o sinal negativo. Chegamos então aos seguintes resultados: a) A demanda do produto “x” é elástica, pois com o aumento de 20% no preço do produto, a demanda reduziu 40%, demonstrando que a sensibilidade do consumidor é alta, pois deve-se tratar de um produto “menos essencial”, que tem outros substitutos (quando a demanda é elástica, um aumento no preço do produto gera uma retração expressiva do consumo, por exemplo: se aumentar muito o preço da carne de primeira (carnes nobres), o consumidor poderá substituir esse produto por outros mais baratos, como o frango, a linguiça, entre outros);7 b) A demanda do produto “y” é inelástica, pois mesmo com um aumento de 50% no preço do produto, a demanda somente caiu 10%, demonstrando que a sensibilidade desse consumidor é baixa, pois deve-se trará de um produto essencial, com baixos substitutos. Como por exemplo: combustíveis, remédios, energia, transporte, arroz, feijão, café, etc. Ou seja, produtos inelásticos são aqueles que mesmo com aumento de preços, o consumidor não consegue deixar de consumir (poderá consumir menos, mas como é um produto essencial, não deixa de consumi-lo); c) Se a elasticidade da demanda for unitária, significa que a variação do preço do produto gerou a mesma proporção de variação no consumo (por exemplo, o preço do produto teve um aumento de 10% e a demanda reduziu em 10% também). Nesse caso, ao se dividir essas variações, chegaremos ao coeficiente 1.8 7 P rod uto s e lá st ico s são p rod uto s q ue tem o ut r o s sub st i t u to s, o u sã o pr od uto s m ais supér f l uo s . Pod e se r dad o com o e xem p lo s d e pr od uto s e lá st ic os: f i l é m ig no n, b eb ida s im por tada s, p ro d uto s d e deco raçã o, en t re o ut ro s pro d uto s m e no s e sse nc ia i s (o s c onsum ido re s sã o m ais se nsí ve is à s var iaç õe s de preç o s de sse s t ipo s de p rod uto s) . 8 E xem plo s de pr od ut o s de dem a nd a un i tá r ia são bem m eno s com uns q ue o s ine lá s t ic o s e e lá st ic o s. Podem os e nt e nde r q ue a dem a nda un i tá r ia r e f le te um consum ido r q ue r e spo nde sua de m anda na m esm a propo rção à var iação do pr eço do prod ut o , se j a para m a is o u p ara m e no s. Ne sse ca so, nã o tem o s com o c i ta r um e xem plo e spec í f ico , som e nte em c aso s de e st udo s ac adêm ic o s e spec í f ic o s so bre det erm inado s prod ut o s. 35 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Ao conhecer bem o comportamento do consumidor, o lojista (produto, fabricante ou vendedor), poderá estabelecer estratégias quanto aos preços dos seus produtos. Veja outro exemplo interessante: Dependendo da época do ano, produtos se tornam mais ou menos essenciais; o que afetará a sensibilidade do consumidor em relação à variação do preço; Datas comemorativas como Natal, Páscoa, Finados, Dia das Crianças, entre outras datas especiais, tornam o consumidor menos sensível ao aumento do preço (note que os preços de certos produtos tendem a aumentar nessas épocas, pois o lojista sabe que o consumidor fica mais propenso a consumir o produto que está relacionado à data, como panetone, ovo de chocolate, brinquedos, presentes, flores, bacalhau, etc.); Quando o turista viaja de férias para certas regiões, ele estará menos sensível a preços mais caros, pois para esse tipo de consumidor, certos produtos serão essenciais, como alimentos, bebidas, transporte, etc. Esses são alguns exemplos para ilustrar o conceito de Elasticidade da Demanda. Ao longo do curso faremos exercícios de fixação para melhorar o entendimento desses conceitos. Vamos agora, no próximo tópico, estudar as principais formas de estruturas mercadológicas. 2.6. Estruturas mercadológicas Nos tópicos anteriores, vimos que os mecanismos de mercados funcionam com base nas variações de preços dos produtos e na relação entre demanda e oferta. Agora, vamos conhecer os principais tipos de mercados com base na sua estrutura e funcionamento. A partir dessa análise podemos reconhecer os mercados do tipo concorrencial, monopolista e intermediário. Para identificarmos qual é o tipo do mercado analisado é necessário considerar os seguintes elementos: número de empresas (agentes) que compõem esse mercado; características do produto; e se existem ou não barreiras à entrada de concorrentes. 36 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Em relação ao número de empresas que atuam no mercado, podemos classificar os mercados como: a) Atomizados: representados por situações em que muitos agentes operam no mercado (muitos ofertantes e muitos demandantes), de modo que as decisões de cada um dos agentes não são percebidas pelos outros (despersonalizadas). Isso acontece em mercados com concorrências, ou seja, quanto maior a concorrência, mais atomizado é este mercado; b) Não atomizados: representado por situações em que poucos agentes operam no mercado (concentração de mercado), e neste caso, alterações comportamentais de qualquer um dos agentes são captadas pelos demais. Isso é percebido em mercado com baixo nível de concorrência. Quanto ao tipo de produto (ou serviço), podemos classificar os mercados como: a) Puros: quando no mercado o produto negociado é homogêneo. Ou seja, os produtos finais (bens e serviços) e os recursos de produção presentes nas transações são idênticos, por isso observa-se uma padronização no mercado, o que permite que estes produtos sejam substitutos entre si; b) Imperfeitos: neste caso os produtos e recursos negociados não são homogêneos, pois existe diferenciação entre eles (na origem dos bens e serviços, na comercialização, nos processos, na qualidade), o que diminui a substituição entre eles. Em relação às barreiras no mercado: No mercado as informações sobre sua estrutura e funcionamento (preços, fornecedores, tecnologias de produção, legislação, pessoal etc.) são valiosas para quem as detêm e controla, por isso, quanto menor for o número de agentes envolvidos neste mercado mais a informação será concentrada e controlada.Por outro lado, quanto mais agentes participam do mercado, mais essas informações serão distribuídas (“pulverizadas”), o que permitirá reduzir o “controle sobre as informações” facilitando a entrada de outros agentes neste mercado. Por isso quanto maior a concorrência, menor serão as barreiras à entrada de novos concorrentes. Bom, depois de conhecer quais os elementos que determinam uma estrutura mercadológica, vamos para os tipos de mercado: 37 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2.6.1. Concorrência “pura” e “perfeita” Suas principais características são: a) Livre mobilidade dos agentes; b) Os produtos são homogêneos; c) Transparência de informação (informação perfeita e completa); d) Preços determinados pelo próprio mercado. Teoricamente, no mercado de concorrência “pura e perfeita”, existem muitos ofertantes e muitos demandantes, facilitando a mobilidade dos agentes, ou seja, os concorrentes entram e saem deste mercado sem encontrar barreiras às novas entradas. Por isso também as informações sobre o mercado são de fácil acesso. O produto negociado é homogêneo (todos os ofertantes produzem e vendem o mesmo produto). E os preços dos produtos são formados pela “relação demanda e oferta”, ou seja, o ofertante tem baixo poder de definir e impor o preço ao demandante (consumidores/compradores). A rigor, a concorrência pura e perfeita é uma estrutura de mercado utópica, pois na prática os mercados são mais imperfeitos do que perfeitos (mais situações de mercado com poucos agentes, produtos não homogêneos e barreiras à entrada de concorrentes). Por essa razão é mais comum tratarmos os mercados como concorrenciais (com mais concorrência ou menos concorrência). De qualquer modo é importante ressaltar que a concorrência é vista como algo positivo para o mercado, pois permite que os ofertantes busquem melhorias para manterem-se no mercado competitivo, promovendo avanços e inovações que geram ganhos de produtividade e melhores preços, com isso os demandantes também podem buscar alternativas de compra e seu “poder de barganhar” fica mais equilibrado com o “poder do ofertante”. Os exemplos que mais se aproximam da concorrência são os mercados agrícolas. Neles é mais comum observarmos um grande número de produtores de um produto homogêneo como, por exemplo, o arroz, feijão, legumes, café etc. Neste caso, o produtor não é capaz de conhecer com quem concorre diretamente e sua oferta dependerá do resultado da colheita do período, com isso o preço que será praticado dependerá do próprio mercado, logo, serão comuns as variações de preços. 38 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Se tiver mais oferta em relação à demanda do produto no mercado, o preço tenderá a cair; e se a oferta do produto diminuir em relação à demanda o preço tenderá a subir no mercado. 2.6.2. Monopólio O monopólio é uma estrutura de mercado oposta à concorrência. Suas principais características são: a) Um único ofertante para muitos demandantes; b) Os produtos não têm substitutos; c) Baixa transparência de informação (informação concentrada e alta barreira à entrada de concorrentes); d) Preços determinados pelo próprio ofertante (alto “pode econômico”). Trata-se de um mercado que é mais percebido em termos locais ou regionais, pois dificilmente existirá um único produtor, fornecedor ou vendedor de um produto em todo o mercado. Porém, em uma cidade, região ou país é possível identificar situações em que, somente uma empresa (loja ou vendedor), oferta certo bem ou serviço naquela área. Observações importantes: Diferentemente da concorrência, o monopólio é considerado negativo para o mercado como um todo, pois o alto poder econômico do monopolista acaba gerando uma “acomodação” no mercado, pois sem concorrência o ofertante pode impor preços maiores ou então, repassar aumento de custos ao preço final sem considerar melhorias na produtividade. O que não é visto como algo benéfico aos consumidores. Entretanto, existem mercados que não permitem a existência de muitos ofertantes, em razão de sua complexidade e dos níveis de investimentos. Por exemplo, no Brasil, os monopólios estatais acabaram surgindo em condições que somente o Estado é que poderia assumir os investimentos daquele setor, pois não existia empresariado nacional capaz disso. Em setores energéticos, de indústrias pesadas e de infraestrutura isso é mais comum. Diante dos mercados monopolistas difundiu-se o conceito de que o Estado deve defender a concorrência, estabelecendo condições que limitem o poder econômico do 39 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância monopólio (por exemplo, por meio de tributação) e controle dos mercados que tendem à concentração, como o caso das fusões e aquisições entre empresas. Este assunto será apresentado no tópico seguinte. Como exemplo, podemos citar os monopólios locais de empresas de transporte, energia, água. E o caso dos monopólios estatais na época em que o Estado controlava setores como siderurgia, telefonia, petróleo etc. Nos dias atuais, diminuíram muito os casos de monopólios (depois da queda dos monopólios legais e o processo de privatizações) e tornou-se mais comum as estruturas de mercado do tipo “oligopólio”, como veremos a seguir. 2.6.3. Oligopólio O oligopólio é uma estrutura de mercado intermediária, no qual existem poucos ofertantes para muitos demandantes (extensão do monopólio). Por terem poucos concorrentes, no oligopólio, as empresas sabem com quem concorrem e por isso a “rivalidade” entre elas é maior. Com essa proximidade surge a chamada “interdependência mútua” e a “incerteza” no mercado, pois o que cada um faz pode afetar diretamente o outro, criando um clima de competição. Por isso, nos oligopólios existe a vantagem dos preços serem mais competitivos e os avanços tecnológicos promoverem melhores produtos no mercado. Por outro lado, a desvantagem do oligopólio é que também é comum as empresas praticarem conluios (acordos) com o objetivo de diminuir a concorrência e aumentar seu poder de definir preços e tirar vantagens dessa concentração de mercado. Tal prática é conhecida como “cartel” e é proibida no mercado, sendo penalizada quando caracterizada. Outra prática comum nos oligopólios é a compra entre as empresas por meio de fusões e aquisições. Estas não são proibidas, porém, são controladas por meio de órgãos de defesa da concorrência. No Brasil é o Conselho de Defesa Econômica (CADE) que desempenha essa função. Trata-se de uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça que por meio dos seus conselheiros e presidente fiscalizam os processos de fusões, aquisições, as denúncias de cartel entre outros. 40 Economia Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Os exemplos mais comuns de oligopólios são: os mercados de automóveis, telefonia, tecnologia, siderurgia, televisão, bancos, hipermercados, bebidas entre outros. 2.6.4. Concorrência Monopolística Combinando aspectos da concorrência e do monopólio trata-se de uma estrutura de mercado atomizada (muitos concorrentes), com produtos não homogêneos (diferenciação), mas substitutos próximos. Nesta estrutura também existe a fácil mobilidade dos agentes e baixas barreiras à entrada de concorrentes. Os exemplos mais comuns de concorrência monopolística estão nos setores de confecção, alimentação e também nos modelos de franquias. São eles: pizzarias, lanchonetes, restaurantes, roupas em que marcas fortes garantem preços maiores mesmo em um mercado que existem vários concorrentes. Em razão da diferenciação do produto, o consumidor torna-se disposto a pagar mais, mesmo tendo outras opções de compra do produto. Veja o caso das lanchonetes e pizzarias, existem várias no mercado, porém algumas
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