Prévia do material em texto
LINGUAGEM JURÍDICA * A realidade do Direito subsiste unicamente através da sua expressão verbal: “a lei não existiria sem a língua” (DANET, 1985, p. 273). * A palavra permite o acesso ao conhecimento, no entanto, há uma diferença grande entre a utilização da palavra no universo jurídico e nos outros domínios do saber ou campos de atividade. Discurso Constituinte do Direito Qualquer discurso constituinte pressupõe a existência de uma comunidade discursiva que partilha um conjunto de rituais e de normas. Há comunidades discursivas que gerem o discurso e há comunidades que o produzem. A comunidade discursiva existe apenas e na enunciação/produção dos textos, varia de acordo com o tipo de discurso constituinte e o seu posicionamento. Discurso Constituinte do Direito «O discurso constituinte implica um tipo de ligação específica entre operações linguísticas e espaço institucional. As formas linguísticas representam no discurso a instituição, e ao mesmo tempo que elaboram o universo social em que se vão inscrever, legitimam-no: - Cenografia do discurso - Código linguístico específico - Investimento no imaginário (ligado à cenografia e ao código linguístico) Função do sistema jurídico A fonte do sistema jurídico é palavra performativa que instaura uma ordem do mundo convencional. A existência dos seres e das coisas depende da enunciação. Cada ser e cada coisa tem funções precisas delimitada por regras. Imutabilidade do direito VS discursos jurídicos sempre renovados A prática jurídica é produção do DIREITO, das regras e das significações jurídicas. Discurso jurídico O discurso jurídico possui ao mesmo tempo certas propriedades que o distinguem dos outros, ao mesmo tempo que pode ser definido como um discurso numa língua natural. Uma língua natural permite falar do mundo e dos homens. Permite também a constituição de discursos específicos dotados de uma certa autonomia. Gramática jurídica A gramática jurídica constitui-se como uma construção arbitrária e explícita. Se os objectos gramaticais do direito só existem por virtude do dizer, nomear e definir, os objetos constituem um dos aspectos essenciais da prática jurídica. Estrutura do legislador Sujeito coletivo – porque é a expressão de um querer, da «vontade nacional» e é quem representa com palavras a comunidade social. A validade da linguagem jurídica é instituída por uma estrutura particular de delegação do poder. Quem codifica originalmente as mensagens jurídicas - o legislador- é no fundo um «codificador supletivo» chamado a re-dizer o direito a que chamamos justiça. No Direito, a enunciação de palavras liga e desliga laços que prendem pessoas e grupos sociais, faz nascer e desaparecer entidades, concede e tira a liberdade, absolve e condena réus, celebra a paz e declara a guerra. * Um compromisso, antes inexistente, se origina, um novo órgão estatal surge, um procedimento legal é instituído, um Estado é criado, poderes são conferidos. Enfim, algo diferente acontece no panorama delineado pelo Direito, porque foi realizado um ato jurídico, isto é, uma ação que determina mudanças no mundo legalmente estruturado. Por isso, não se pode falar de uma linguagem jurídica única, mas de muitas manifestações de uma linguagem específica do mundo jurídico, manifestada em uma grande multiplicidade de textos, usando uma terminologia variada. * De fato, as vozes do Direito são numerosas e falam sobre muitos temas, em muitos lugares, abrangendo três grandes dimensões principais — doutrina1, legislação2 e jurisprudência3 — que imprimem na linguagem jurídica marcas específicas de acordo com os propósitos e as contextualizações peculiares. 1= conjunto das ideias básicas contidas num sistema filosófico, político, religioso, econômico etc. 2= ato de legislar, de fazer leis. 3= conjunto das decisões e interpretações das leis feitas pelos tribunais superiores, adaptando as normas às situações de fato. * Assim, não há uma só expressão da linguagem jurídica homogênea e unívoca, mas várias realizações dessa linguagem em diferentes tipos de textos produzidos por múltiplos autores e dirigidos a uma grande variedade de destinatários. Na doutrina1, por exemplo, é o jurista que fala sobre o Direito, usando uma metalinguagem para emitir comentários sobre conceitos e desenvolver teorias sobre a aplicação de princípios jurídicos. 1= conjunto das ideias básicas contidas num sistema filosófico, político, religioso, econômico etc. * Na jurisprudência3, o juiz, em pleno uso de suas atribuições, declara atos válidos, sentencia indivíduos culpados ou inocentes. 3= conjunto das decisões e interpretações das leis feitas pelos tribunais superiores, adaptando as normas às situações de fato. Na legislação2, o legislador empresta ao Direito sua voz, criando e denominando entidades jurídicas, distribuindo poderes, ordenando, permitindo ou proibindo comportamentos. 2= ato de legislar, de fazer leis. * Nesse amplo contexto, a linguagem jurídica é utilizada por especialistas e leigos, iniciados e não iniciados. MAGISTRADOS, LEGISLADORES, POLÍTICOS, ADVOGADOS, PROFESSORES E ALUNOS, NOTÁRIOS, ESCRIVÃES E FUNCIONÁRIOS, todos os cidadãos, dispondo ou não de uma formação específica na área, manejam e manipulam a linguagem jurídica. “Para o advogado, a palavra é o seu cartão de visita. A linguagem é também um dos fatores que condicionam a eficácia do direito.” (REALE, Miguel. Introdução ao estudo do direito. São Paulo: Atlas, 2004) * Discurso Jurídico Discurso jurídico Gramática jurídica Dicionário jurídico Enunciados jurídicos Comunicação jurídica A atividade legislativa constitui uma atividade de comunicação Autor do texto legislativo Leitor do texto legislativo Parlamento Governo Ministro Executivo municipal Adotam um texto para transmitir ao Destinatário uma regra de direito CARACTERÍSTICA DA LINGUAGEM JURÍDICA LINGUAGEM DE GRUPO LINGUAGEM TÉCNICA LINGUAGEM TRADICIONAL NÍVEIS DE LINGUAGEM LEGISLATIVA PROCESSUAL CONTRATUAL DOUTRINÁRIA CARTORÁRIA Linguagem de Advogado A fêmea ruminante deslocou-se para terreno sáfaro e alagadiço. Creio que V.Sa. apresenta comportamento galhofeiro perante a situação aqui exposta. Prosopopéia flácida para acalentar bovinos. Creditar um primata. Inflar o volume da bolsa escrotal. Linguagem de Advogado (2) Impulsionar a extremidade do membro inferior contra a região glútea de outrem. Deglutir um batráquio. Colocar o prolongamento caudal em meio aos membros inferiores. Sequer considerando a possibilidade da fêmea bovina expirar fortes contrações laringo- bucais. Derramar água pelo chão através do tombamento violento e premeditado de seu recipiente. Respostas A fêmea ruminante deslocou-se para terreno sáfaro e alagadiço. (A vaca foi para o brejo) Creio que V.Sa. apresenta comportamento galhofeiro perante a situação aqui exposta. (Você tá de sacanagem) Prosopopéia flácida para acalentar bovinos. (Conversa mole pra boi dormir) Creditar um primata. (Pagar um mico) Inflar o volume da bolsa escrotal. (Encher o saco) Respostas (2) Impulsionar a extremidade do membro inferior contra a região glútea de outrem. (Dar um pé na bunda) Deglutir um batráquio. (Engolir um sapo) Colocar o prolongamento caudal em meio aos membros inferiores.(Meter o rabo entre as pernas) Sequer considerando a possibilidade da fêmea bovina expirar fortes contrações laringo- bucais. (Nem que a vaca tussa) Derramar água pelo chão através do tombamento violento e premeditado de seu recipiente. (Chutar o balde) Referências Greimas, A. 1976. «Analyse sémiotique d’un discours juridique», Sémiotique et sciences sociales. Paris, Seuil, pp.79-128 Maingueneau, D. & Cossuta, F. 1995. «L’analyse des discours constituants», Langages, 117, Paris. Larousse. pp. 112-125