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LINGUAGEM-JURÍDICA-E-HISTÓRICO-DO-DIREITO-2

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1 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 
2 LINGUAGEM JURÍDICA ............................................................................. 3 
2.1 Três Pontos de Vista Sobre a Linguagem ............................................ 6 
2.2 Linguagem Jurídica Vaga, Imprecisa e Abstrata .................................. 7 
2.3 Linguagem e Discurso Jurídico ............................................................ 9 
3 O ACESSO À JUSTIÇA ............................................................................ 10 
3.1 Conhecimento e Linguagem Jurídica ................................................. 13 
4 SEMIÓTICA E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO .................................... 14 
4.1 O Direito e sua “Linguagem” .............................................................. 17 
4.2 A Linguagem Jurídica na Universidade .............................................. 23 
5 A HISTÓRICA APLICAÇÃO DOS JARGÕES JURÍDICOs ....................... 24 
6 DIREITO, LINGUAGEM E MÉTODO ........................................................ 29 
6.1 A Palavra como Ferramenta do Direito .............................................. 31 
7 ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA .................................................................. 34 
8 O USO DO LATIM .................................................................................... 38 
8.1 A Origem dos Brocardos Jurídicos ..................................................... 43 
9 A NORMA JURÍDICA E SUA VALIDADE, EFICÁCIA E EFETIVIDADE ... 44 
10 A SENTENÇA E A COMPREENSÃO POPULAR .................................. 47 
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 50 
 
 
 
 
 
2 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de 
aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se 
levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para 
que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno 
faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço 
virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser 
direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e 
prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
3 
 
2 LINGUAGEM JURÍDICA 
 
Fonte: revistavisaojuridica.uol.com.br 
A linguagem é o lugar da interação humana, interação comunicativa pela 
produção de efeitos de sentido entre interlocutores, em uma dada situação de 
comunicação e em um contexto sócio histórico e ideológico. Os usuários da língua ou 
interlocutores interagem como sujeitos ocupantes de lugares sociais. “Falam” e 
“ouvem” desses lugares de acordo com formações imaginárias que a sociedade 
estabeleceu para tais lugares sociais. Por esse motivo, o diálogo, em sentido amplo, 
é o que caracteriza a linguagem. 
É preciso pensar a linguagem humana como lugar de interação, de 
constituição das identidades, de representação de papéis, de negociação de 
sentidos, por palavras, é preciso encarar a linguagem não apenas como 
representação do mundo e do pensamento ou como instrumento de 
comunicação, mas sim, acima de tudo, como forma de interação social. 
(KOCH, 2003, p. 128) 
A comunicação possui um caráter problematizador, que gera consciência crítica 
e permite a busca do compromisso de transformação da realidade. Não há como, 
desta forma, pensar em competências intelectuais sem passarmos por competências 
 
4 
 
linguísticas, as quais dão subsídios para interagir com o mundo, com o outro e consigo 
mesmo (KOCH, 2003, p. 125). 
Interação e linguagem são elementos complementares. A vida social do ser 
humano se constitui a partir de sua capacidade de interagir com seus semelhantes 
por meio da linguagem. Destarte, cada indivíduo, ao utilizar a língua, não apenas diz 
o que pensa, mas também age sobre as pessoas, com o objetivo de influenciar 
determinadas atitudes ou comportamentos. Esse contato entre o sujeito e o grupo 
acaba por resultar na construção de conhecimentos e em uma aprendizagem 
significativa para todos. 
As pessoas falam para serem "ouvidas", às vezes para serem respeitadas e 
também para exercer uma influência no ambiente em que realizam os atos 
linguísticos. O poder da palavra é o poder de mobilizar a autoridade 
acumulada pelo falante e concentrá-la num ato linguístico. (BOURDIEU, 
2006, p. 7) 
A palavra permeia todos os nossos atos, em todas as instâncias da realidade 
social, formando em todo setor do conhecimento humano uma linguagem e, 
consequentemente, um diálogo particular. À medida que aumenta o grau de 
especialização de um determinado conhecimento, o vocabulário técnico também se 
especializa, aumentando a distância entre o diálogo dos iniciados nesse 
conhecimento e dos não iniciados. Podemos dizer que temos o idioma - a Língua 
Portuguesa - e os sub idiomas de cada área de conhecimento produzindo e 
alimentando particularidades terminológicas. Dentre esses sub idiomas, no Brasil, 
destaca-se a linguagem jurídica devido à fascinação exercida pela atividade 
profissional jurídica, atividade reconhecida como espaço de extremo poder. 
Como o direito não é uma ciência exata, ele deve ser interpretado à luz do seu 
tempo, e da situação que no caso lhe é peculiar. Todavia, para se interpretar o direito 
é necessário um conceito jurídico, que é antecedido por uma linguagem jurídica, que 
entrementes é vinculada há uma linguagem natural. 
É de importância extrema a linguagem para um diálogo, para a comunicação, 
para a relação jurídica em si. Improdutivo será o debate, cujo interlocutor não tenha a 
plena identificação do objeto debatido. 
Possato, elaborou o projeto docente: As interfaces da linguagem jurídica: 
desvelamento técnico e linguístico em prol da cidadania e responsabilidade social 
estruturado em duas abordagens: 
 
5 
 
- A linguagem jurídica interpretada pelos estudiosos da Língua Portuguesa: 
desvelamento técnico e linguístico em prol da cidadania e responsabilidade social. 
 
Fonte: userscontent2.emaze.com 
- A linguagem jurídica, instrumental do profissional do direito: linguagem 
ímproba, jurisdição precária. 
A conjugação das duas focalizações procurou a conciliação entre as distintas 
experiências, articulando propostas e evolução para pesquisas posteriores, em 
especial a da prática jurídica voltada para o ensino aprendizagem da linguagem 
jurídica no curso de Direito. 
O desvelamento técnico e linguístico das interfaces da linguagem jurídica 
objetivou esclarecimento e atuação indispensáveis à cidadania e responsabilidade 
social. Afinal, a palavra é o instrumento de trabalho dos profissionais do Direito e, 
havendo ruído ou impropriedade linguística, a jurisdição se torna precária. 
“É incontestável que, na prática jurídica, a linguagem escrita exerce papel 
fundamental. Dentre outras razões, destaque-se o fato de revelar 
informações juridicamente relevantes, viabilizando o mais perfeito 
entendimento do caso concreto. Entretanto, sabemos que não é tarefa de fácil 
envergadura expressar-se de acordo com a exigência do rigor jurídico e, ao 
mesmo tempo, manter a clareza, a transparência e a elegância. (...) com 
muita propriedade, os autores, por meio de exemplos de narrativas extraídas 
de algumas peças processuais, disponibilizaram aos discentes meios de 
contextualizar a teoria e também compreender a narrativa como parte 
integrantede um todo mais complexo. Além disso, de forma didática, muitas 
vezes sugerindo uma conversa com o leitor, abriram uma clareira em mata 
densa, carente de luz”. (Desembargador Sergio Cavalieri Filho, apud DA 
GRAÇA, 2016). 
A linguagem como meio de comunicação e interação entre indivíduos de uma 
sociedade é utilizada para transmitir mensagens e códigos, a fim de esclarecer 
 
6 
 
significados e facilitar a compreensão de informações. Este recurso encontra espaço 
essencial na ciência do direito, seja através do uso da retórica, e até mesmo da própria 
escrita forense, dando assim, contornos característicos à ciência jurídica. 
Todavia, se observa que a função precípua da linguagem no ramo do direito 
vem desvirtuando seu objetivo principal. O uso da linguagem em latim, e de sinônimos 
rebuscados acaba por dificultar a compreensão e interpretação da mensagem jurídica. 
Entretanto, quando esta prática é analisada sob a ótica do indivíduo, constata-
se que o cidadão, por desconhecer e não compreender o que a lei, uma sentença, ou 
mesmo o que o próprio advogado profere, tem seu acesso à justiça restrito e em 
alguns casos não há acesso, por falta de compreensão. Desta forma, o indivíduo é 
cerceado de obter o bem jurídico pretendido. 
Por se tratar de um fenômeno recorrente, e que afeta diretamente o 
jurisdicionado, sociólogos, juristas e filósofos criaram diversas teses para justificar o 
uso deste tipo de linguagem no meio jurídico. Dentre as mais conhecidas, a teoria do 
poder simbólico, do sociólogo Pierre Bourdieu (2013), explica como a linguagem é 
utilizada para manter o poder de quem a utiliza, em detrimento da sociedade. 
O estruturalismo de Bourdieu se volta para uma função crítica, a do 
desvelamento da articulação do social. O método que adota se presta à análise dos 
mecanismos de dominação, da produção de ideias, da gênese das condutas. Assim, 
o poder simbólico é aquele decorrente dos nossos instrumentos de comunicação e 
conhecimento. Trata-se de um poder invisível, pois é exercido ou sofrido de tal forma 
que o agente ou a vítima não se sabe atingido por esse poder. 
O poder simbólico acaba por desencadear uma imposição sobre como as 
relações serão vistas e compreendidas, imposição esta sob o comando de quem 
detém esse poder. No mundo jurídico, os indivíduos que atuam na área, ao utilizarem-
se da linguagem jurídica acabam sendo os detentores deste poder, deixando os 
demais indivíduos de uma sociedade à margem da realidade. 
2.1 Três Pontos de Vista Sobre a Linguagem 
A existência das normas depende da linguagem. A linguagem, como conjunto 
de símbolos, pode ser analisada sob três pontos. José Juan Moreso – apud Pereira, 
2012, afirma que: 
 
7 
 
La existencia de las normas es dependiente del lenguaje. El lengaje como 
conjunto de símbolos puede analizarse desde tres puntos de vista: 
a) sintáctico, que esudia la estructura y relaciones entre os símbolos; 
b) semántico, que estudia la relación entre los símbolos y su significado; 
c) pragmático, que estudia la relación entre los símbolos y su uso 
(A existência das normas depende da linguagem. A linguagem como conjunto 
de símbolos pode ser analisada de três pontos de vista: a) sintático, que 
estuda a estrutura e as relações com os símbolos; b) semântica, que estuda 
a relação entre os símbolos e seu significado; c) pragmática, que estuda a 
relação dos símbolos com seu uso.) 
a) Concepção Sintática 
O estudo da linguagem na concepção sintática consiste basicamente em 
explicar a necessidade/utilidade de se escrever e principalmente interpretar o direito 
de forma correta, reforçando a ideia de segurança jurídica. 
A sintática é um dos instrumentos no estudo do direito, porém a análise 
gramatical, ou interpretação gramatical, é um dos passos se não o primeiro, nesta 
árdua missão de tentar tirar da linguagem seu verdadeiro significado. 
 
b) Concepção Semântica 
A análise da linguagem, levando em consideração a semântica, tem por 
escopo, o estudo do signo, dentro da realidade, eliminando tudo aquilo que é 
impreciso, que muitas vezes são oriundos da linguagem natural, assim o trabalho da 
semântica passa por um estudo que leva em consideração a denotação e a 
conotação. Para através desse processo, buscar a realidade do significado dos 
termos. 
c) Concepção Pragmática 
Quanto à concepção do ponto de vista pragmático, objetiva esse estudo a ser 
um facilitador da comunicação entre aquele que emite a norma e o destinatário desta, 
que poderia ser apenas um receptor da norma. Todavia quanto de forma pragmática 
o fim é alcançado, deixa de ser um mero receptor, entretanto, para se transformar em 
conhecedor da mesma, o que torna o ato da linguagem, muito mais eficaz. 
2.2 Linguagem Jurídica Vaga, Imprecisa e Abstrata 
Na visão de muitos, se faz necessário reconhecer a necessidade de 
simplificação da linguagem jurídica para a real democratização e pluralização da 
Justiça. Recentemente, várias críticas, foram feitas sobre a atuação do Poder 
 
8 
 
Judiciário no Brasil. Todavia, carece o Judiciário de melhores instrumentos de 
trabalho. A legislação nacional, é deficiente de técnica e produção. Além de não dispor 
de instrumentos eficientes ao Judiciário, porque já não se aceita a tradicional liturgia 
do processo, há o amor desmedido pelos ritos, que quase passaram a ter fim em si 
mesmos, numa inversão de valores. 
O devido processo legal é essencial para a legitimação da atividade judicial, 
contudo, esse processo deve ser caminho de realização da Justiça, e não um estorvo 
incompreensível e inaceitável. 
Karl Larenz, apud Eros Roberto Grau (2008, p. 222), assim se manifesta: 
A linguagem jurídica deve ser considerada como um ‘jogo de linguagem’, (...) 
O papel das palavras neste ‘jogo’ não é captável mediante uma definição, 
visto que, ao defini-las, estaremos a nos remeter ao seu significado em um 
outro ‘jogo de linguagem’. O papel delas no jogo de linguagem, nestas 
condições, só poderá ser desvendado na medida em que passemos a 
participar do mesmo jogo. Desta participação no jogo decorre a possibilidade 
de compreendermos a linguagem jurídica – tarefa que é instrumentada pela 
dogmática (...). 
De acordo com Eros Roberto Grau, não há linguagem jurídica estritamente 
precisa, pois dessa forma não alcançaria seu objetivo precípuo. “Não é um mal 
injustificável, de toda sorte, este de que padece a linguagem jurídica. E isso porque, 
se as leis devem ser abstratas e gerais, necessariamente hão de ser expressas em 
linguagem de textura aberta. ” 
Juristas vêm discutindo sobre o desconhecimento do conteúdo das normas 
jurídicas pelo homem médio, e esse desconhecimento é o tema tratado pelo 
jurisconsulto argentino Cárcova (1998, p. 14), em sua obra A Opacidade do Direito, 
na qual pontua que: 
(...) entre o Direito e o seu destinatário, existe uma barreira “opaca” que os 
distancia, impossibilitando aquele último de absorver do primeiro os seus 
conteúdos e sentidos, entender os seus processos e instrumentos, tornando-
o, por isso, incapaz de dele se beneficiar como seria esperado. Existe, pois, 
uma opacidade do jurídico. 
O cidadão comum pode até mesmo conhecer as normas, mas não as 
compreende, não as utiliza como fonte de consulta quando necessário. 
 
9 
 
2.3 Linguagem e Discurso Jurídico 
O discurso jurídico possui quase sempre um condão persuasivo por sua própria 
natureza, visto que a ciência jurídica por si só tem forte conotação argumentativa, que 
visa a sua eficácia no plano real, sobre o que versa o discurso jurídico argumentativo. 
Eduardo C. B. Bittar, apud Pereira, (2012) desmistifica o tema discurso jurídico, 
trazendo o mesmo de uma forma concreta à realidade: 
De um lado o discursus consiste no uso da racionalidade depurativa das 
ideias, contrapondo-se, portanto, à noção de intuição (noésis); 
o discursus envolve o cursus de uma proposição a outra, de modo que todo 
raciocínio encontra-se condicionadopor esse percurso. De outro lado, o 
discurso é entendido como sendo logos, ou seja, o transporte do pensamento 
(noûs) das estruturas eidéticas para a esfera da comunicação, o uso do noûs 
na articulação da linguagem. O logos, em verdade, é o noûs feito em palavra, 
o que equivale a dizer que há uma passagem do simbólico abstrato e noético, 
do simbólico do pensamento e da formação das ideias, para o simbólico 
concreto e expressivo.(PEREIRA, 2012) 
E continua: 
Dessa forma, todo ato de linguagem (verbal, não verbal, sincrético), enquanto 
ato de construção de sentido, é um ato de escolha e de seleção de elementos 
a compor; é uma escolha de valores, de estruturas, de formas, de 
significância, de objetivos, de impressões, de efeitos retóricos, de 
consequências, de afirmação de realização de atos (...). O sujeito-do-
discurso faz-se presente em seu discurso operando escolhas. (PEREIRA, 
2012) 
Assim, a linguagem como um condutor do discurso jurídico, é para este, função 
essencial, uma vez que o discurso jurídico não se pauta apenas em intuição, mas algo 
mais construtivo, mais estrutural. O discurso jurídico pela construção e elaboração, é 
algo mais complexo e não apenas meramente retórica. 
Para Mellinkoff (1963, p.34), “a Justiça é uma profissão de palavras e as 
palavras da lei são, de fato, a própria lei(...)”. No entanto, o discurso jurídico 
caracteriza-se pelo tecnicismo, pela presença da linguagem arcaica e pelos 
latinismos, que, em geral, dificultam a produção de sentido pelos interlocutores. 
Nesse entendimento, é possível dizer que os juristas não lidam com fatos, mas 
com palavras que denotam, ou pretendem denotar esses fatos. Dessa forma, há de 
se afirmar que a parceria entre Direito e Linguagem existe, e, além de tudo, é 
responsável pela atuação do jurista. No espaço do Direito, por exemplo, os textos não 
 
10 
 
partem de uma pessoa, apenas, mas do conjunto destas, para que nessa relação 
entre língua e contexto e sua interação haja comunicação. 
3 O ACESSO À JUSTIÇA 
 
Fonte: guimaraes-adv.com 
A linguagem jurídica como vem sendo utilizada desencadeia uma problemática 
não apenas relacionada à hierarquia judicial e a disputa pelo poder, como também 
acaba por incidir diretamente sobre um dos pilares do direito, qual seja, o acesso à 
justiça, e consequentemente uma barreira à concretização do Estado Democrático de 
Direito. 
José Afonso da Silva afirma que: 
O Estado democrático de Direito possui um compromisso com a justiça 
material, aquela caracterizada não apenas como a igualdade perante a lei, 
igualdade formal, porém aquela que vá levar à redistribuição da riqueza, de 
modo a reestruturar as relações sociais e econômicas, alicerçando a 
sociedade democrática a qual não se concebe sem a participação do cidadão 
comum nos mecanismos de decisão. (SILVA, 2012, p. 58) 
A democracia possui seus alicerces no tratamento isonômico entre os 
cidadãos, objetivando garantir a participação da maioria, finalidade esta oposta à 
segregação, que vem sendo afirmada pelo instrumento da linguagem. 
 
11 
 
Assim sendo, o emprego de uma linguagem técnica, demasiadamente 
estilística, acaba por privar o cidadão comum do entendimento e das interpretações 
da lei e, como consequência, este recurso que tem como função transmitir uma 
informação, acaba por impedir a concessão da tutela jurisdicional, dado que as 
próprias partes envolvidas na lide têm de enfrentar mais uma barreira, que é a 
linguagem. 
Essa problemática não se restringe a requisitos econômicos/sociais, pois o 
elevado nível hermético dos termos jurídicos acaba por refletir nas inúmeras páginas 
de livros, em que os próprios doutrinadores destinam a alcançar o conceito de 
determinada palavra, discussão essa, que na maioria das vezes não chega em um 
consenso. 
Enquanto instrumento condicionante da vida em sociedade, o Direito requer 
uma aplicação minimamente possível no cotidiano de uma civilização, afinal, a 
essencialidade das condutas humanas está repleta de normas de direito, que 
envolvem constantemente obrigações e deveres entre as pessoas. Desta forma, não 
se pode atenuar o acesso a este direito, ou disponibilizá-lo a uma parcela mínima da 
população. 
A expressão “acesso à justiça” vai além do direito de acesso ao Poder 
Judiciário, compreendendo-a como o acesso a uma ordem jurídica que vá 
proporcionar ao cidadão resultados que sejam individual e socialmente justos. 
A linguagem jurídica assume assim, o papel de distanciar o jurisdicionado do 
bem jurídico pretendido. Segundo uma análise Kafkaniana do processo, esta questão 
retrata não somente a insuficiência do procedimento, mas também, o formalismo 
exacerbado que acaba por não solucionar as lides: 
O advogado tinha um repertório inesgotável de conversas destas e 
semelhantes, repetia-as em todas as visitas. Nunca deixava de se referir a 
progressos, mas jamais podia informar qual o gênero deles. Estava-se 
sempre a trabalhar no primeiro requerimento, mas este nunca mais chegava 
ao seu termo, o que, em geral, era apresentado como uma grande vantagem 
da visita seguinte, pois que da última vez, coisa que ninguém poderia prever, 
não teria sido muito oportuno proceder à sua entrega. Se K., já esgotado 
pelos discursos, observava que, mesmo tomando em consideração todas as 
dificuldades, as coisas avançavam muito lentamente. (KAFKA, 2005, p. 89) 
Kafka, nos dizeres de Campos e Homci quis retratar a insatisfação que muitos 
jurisdicionados se deparam quando são submetidos a um processo judicial. Ao buscar 
alguma informação e a própria solução do conflito, esbarram nas explicações que 
 
12 
 
pouco ou nada esclarecem. O advogado, que primordialmente deve zelar pela defesa 
de seu cliente, bem como auxiliá-lo na condução do processo, acaba por dificultar sua 
participação, assumindo o papel de mais um agente segregador do cidadão em 
relação à esfera jurídica. 
Campos e Homci pontuam também que atualmente, no tocante aos indivíduos 
que desconhecem o ordenamento jurídico, o acesso à justiça vem sendo permitido 
prima facie, no âmbito puramente formal. O uso de uma linguagem jurídica hermética 
empregada pelos operadores do direito acaba por criar barreiras e segregações aos 
indivíduos que procuram os tribunais a fim de tutelar seu bem da vida. 
A obra “O Processo”, mesmo que escrita ainda na primeira metade do século 
XX, pode ser considerada como atual, na medida em que faz alusão a diversas falhas 
do Poder Judiciário que vigoram até hoje. Dentre elas, o problema da linguagem 
jurídica é considerado por ser utilizada como uma ferramenta que acaba dificultando 
o acesso à justiça. 
A teoria do poder simbólico se apresenta como uma das justificativas 
plausíveis, ao interesse dos operadores do direito, em continuar fazendo uso de uma 
linguagem rebuscada. 
A real democratização deve levar uma aproximação do direito da realidade que 
procura representar e sobre a qual pretende agir, implica ainda a adoção de uma 
postura que não cria divisões entre universos discursivos, quando a síntese e a 
simplicidade podem significar mais. 
 
 
Fonte: www.correioforense.com.br 
https://jus.com.br/tudo/adocao
 
13 
 
3.1 Conhecimento e Linguagem Jurídica 
É justificável atribuir o conhecimento da linguagem jurídica a partir do exercício 
da racionalidade humana. 
Dessa maneira, explica Martins, o significado das coisas se torna inteligível a 
partir de sua interpretação pela atividade racional operada pelo homem, o que se 
exprime basicamente pela linguagem. 
Assim, a linguagem faz desvelar o próprio significado das coisas segundo a 
interpretação humana. 
Portanto, o significado das coisas não é dado. Ao contrário, é algo construído, 
até porque a linguagem atua na elaboração desse objeto de significação. Nessa linha, 
Lenio Luiz Streck, apud Martins (2017) afirma que “estamos mergulhados num mundo 
que somente aparece (como mundo) na e pela linguagem. Algo só é algose podemos 
dizer que é algo”. 
O significado do mundo, portanto, é extraído por meio da linguagem e, por isso 
mesmo, o mundo jurídico é igualmente compreendido pelos precisos limites 
permitidos pela linguagem. 
O pensamento sobre a ordem jurídica passa, ainda que lateralmente, pela via 
da linguagem. E, de certa maneira, o Direito é parcialmente produzido pela linguagem. 
Contudo, é preciso pontuar que a linguagem não é o único instrumento de visualização 
do universo jurídico, cabendo ao intérprete da norma jurídica investigar o sentido das 
coisas dizíveis a fim de identificar o verdadeiro significado do justo que, por natureza, 
é modificável segundo o percurso histórico. 
De qualquer maneira, o recurso da linguagem no âmbito jurídico, possui grande 
importância, uma vez que visa estabelecer a relação entre as normas jurídicas e, no 
caso concreto, constituir e reforçar a unidade do ordenamento jurídico, a partir de 
paradigmas cognitivos extraídos pela análise semiótica. 
A linguagem deve ser usada para socializar o conhecimento, e não como 
manifestação de poder, como instrumento pelo qual repele da discussão as pessoas 
que não possuem condições de decodificá-la. 
O universo jurídico não pode continuar falando apenas para si mesmo. Há de 
haver uma verdadeira democratização do acesso à justiça. 
 
 
14 
 
4 SEMIÓTICA E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO 
 
Fonte: emporiododireito.com.br 
A semiótica é a teoria geral dos signos, sinais e linguagens, conforme 
ensinaram Watzlawick, Jakobson, dentre outros. 
De acordo com Romano (2017), Jakobson foi o primeiro a propor uma teoria do 
sistema de comunicação. Segundo o linguista o processo comunicativo possui seis 
componentes que realizam seis respectivas funções. Esses seriam: 
- Emissor: Função Referencial ou Denotativa 
- Receptor: Função Conativa ou Apelativa 
- Código: Função metalinguística 
- Mensagem: Função Referencial ou Denotativa 
- Contexto: Função poética 
- Canal: Função fática 
 
A linguagem está no sentido denotativo, quando ela está sendo utilizada em 
seu sentido literal, qual seja, o sentido que carrega o significado básico das palavras, 
https://jus.com.br/tudo/processo
 
15 
 
expressões e enunciados de uma língua. Melhor dizendo, o sentido denotativo é o 
sentido real, dicionarizado das palavras. 
A linguagem está no sentido conotativo, quando significa que ela está sendo 
utilizada em seu sentido figurado, isto é, aquele cujas palavras, expressões ou 
enunciados ganham um novo significado em situações e contextos particulares de 
uso. O sentido conotativo altera o sentido denotativo (literal) das palavras e 
expressões, dando a elas um novo significado. 
Quanto ao aspecto conceitual do valor linguístico, Saussure, apud Romano 
(2017), analisa que o conceito dos signos está associado ao significante não por um 
processo unitário, isolado, signo por signo, entretanto, ao contrário, a língua tem que 
ser considerada em seu todo para que esse processo de associação possa ser 
compreendido. O significado, ainda que seja a contraparte do significante no interior 
do signo, não lhe seria atribuído diretamente, mas pela oposição de um signo aos 
demais. 
De um lado, o conceito nos aparece como a contraparte da imagem auditiva 
no interior do signo, e, de outro, este mesmo signo, isto é, a relação que une 
seus dois elementos, é também, e de igual modo, a contraparte dos outros 
signos da língua. (...) A língua é um sistema em que os termos são 
solidários e o valor de um resulta tão-somente da presença simultânea de 
outros (SAUSSURE, 2002, p. 133 – apud ROMANO, 2017). 
Assim, para o linguista, o significado de um signo é atribuído ao seu significante 
pela presença de outros signos, que então vão determinar, por oposição e exclusão, 
o seu significado. Dessa forma, cada signo tem seu próprio significado justamente 
porque convive com os demais signos da língua. Ilustrando esse fato, o linguista cita 
os sinônimos recear, temer e ter medo, que só teriam valor próprio pela oposição entre 
si. 
Para Saussure, continua Romano, o signo linguístico se constitui através da 
associação de um significado a um significante, logo, o signo seria a oposição de três 
noções: 
- Significante, 
- Significado e 
- Signo (este último designando a totalidade das suas relações constitutivas). 
Ambos os elementos de que se compõe o signo seriam de ordem linguística, 
unidos em nosso cérebro por um vínculo associativo. Este vínculo se daria de forma 
arbitrária. Ao fazer essa afirmação, Saussure chama a atenção para o fato de que 
 
16 
 
nenhuma relação existe entre a sequência sonora que compõe o significante e o 
significado que lhe é associado. Deveras, exatamente qualquer sequência sonora 
poderia ser associada a qualquer conceito. A essa característica da língua Saussure 
chama a arbitrariedade do signo, considerando como arbitrário o próprio signo 
linguístico. 
A partir do princípio da arbitrariedade do signo linguístico presente no caráter 
de associação entre as duas partes que o comporiam, Saussure demonstra algumas 
consequências para a vida da língua. Uma delas seria a enorme resistência do signo 
às mudanças, o que, por sua vez, levaria ao aspecto de imutabilidade da língua. Por 
outro lado, haveria o fato de que o signo sofreria alterações se exposto (como 
inevitavelmente estará) à ação concomitante do próprio tempo e da massa de falantes. 
Apesar de aparentemente contraditório, Saussure demonstra que, sem a ação 
coincidente dessas duas forças, o signo não muda, não mudando, portanto, a língua. 
A linguística não é normativa, estuda justamente as transformações sofridas 
pela língua devido determinada necessidade de mudança, sem considerar essas 
transformações melhores ou piores, portanto, não determina o modo certo ou o modo 
errado de escrever ou de falar, e sim analisa as adaptações sofridas pela linguagem 
de acordo com determinados valores e situações. 
A dinamicidade da vida social e da própria constituição do homem também 
repercutem na linguagem, uma vez que "todos os sistemas e formas de linguagem 
tendem a se comportar como sistemas vivos, ou seja, eles reproduzem, se readaptam, 
se transformam e se regeneram como as coisas vivas" (SANTAELLA, 2009, p. 2) 
E, como produto dessa mutação de sentidos da vida humana, vale destacar a 
mudança valorativa das condutas individuais juridicizadas, de maneira que as 
categorias jurídicas então monolíticas, passam a receber os influxos dos sistemas de 
comunicação em sintonia com a realidade fática cambiante. 
O intenso exercício racional e prudente em torno das estruturas da linguagem 
acaba por levar o homem a identificar a presença de elementos mínimos tendentes à 
apuração do significado das coisas investigadas, tudo com o objetivo de delimitar os 
traços marcantes de construção especialmente do direito positivado. 
A própria Semiótica se projeta para a diversidade dos ramos do conhecimento 
científico, uma vez que cada ramo da ciência conta com um universo conceitual 
 
17 
 
próprio, o que faz surgir, naturalmente, uma linguagem particular para cada 
conhecimento especializado, visto que "cada ciência se exprime numa linguagem" 
É o que acontece no âmbito jurídico. Neste caso, se diz particularmente em 
linguagem jurídica. Não há, pois, como afastar a íntima relação entre a temática 
jurídica e a linguagem que a veicula. 
4.1 O Direito e sua “Linguagem” 
O Direito, como uma espécie de sistema de controle social dos 
comportamentos intersubjetivos, é considerado uma forma de instituição social que se 
manifesta pela linguagem: a linguagem jurídica. 
Outrossim, o Direito, como ramo do conhecimento científico, se inclina a 
compreender a realidade social (mundo do ser), a partir de causas próximas e 
remotas, gerais e específicas, com a finalidade de ordenar socialmente (mundo do 
dever ser) os comportamentos humanos, num determinado momento histórico, 
atravésde normas jurídicas indispensáveis à manutenção do corpo coletivo. 
Para Maria Helena Diniz, apud Martins (2017), “o fundamento das normas está 
na exigência da natureza humana de viver em sociedade, dispondo sobre o 
comportamento de seus membros”. No ponto, adverte-se que “as normas são 
fenômenos necessários para a estrutura ôntica do homem”, significando que, as 
normas jurídicas seriam elementos indispensáveis para a composição da própria vida 
humana, com o objetivo de estabelecer padrões de conduta social com densidade 
valorativa de razoável aceitação. 
E quanto à relação com o homem e a sua cultura, desponta a importância da 
linguagem. 
E sobre o tema, aponta Cândido Rangel Dinamarco, apud Martins (2017,) que 
a linguagem constitui objeto “de uma cultura, servindo não só para medir o grau de 
civilização que através dela se manifesta, mas também para chegar-se ao 
conhecimento das particularidades de determinada civilização”. 
Martins esclarece que em termos de civilização, a noção de linguagem remonta 
à antiga civilização grega. 
 
18 
 
No mundo grego, a linguagem era relacionada com o discurso filosófico, pois 
“à medida que se formava a polis grega, ao lado da linguagem poética se criava, pois, 
uma outra linguagem, a linguagem dos oradores, a linguagem retórica”. 
No mundo cultural da antiga Grécia, surgiam duas linguagens ao se tratar das 
coisas da polis, “a linguagem poética, inspirada nas Musas, que falam por meio dos 
poetas; a linguagem retórica, em que o homem fala por si, pessoal por definição”. 
De qualquer maneira, em tempos modernos, sobretudo, a estrutura jurídica, no 
que lhe concerne, é explicitada por meio de uma linguagem multifacetada, carregada 
de valores racionais específicos e disformes. 
A linguagem, representa e, ao mesmo tempo, estabelece a comunicação do 
conhecimento jurídico científico, de modo que a norma jurídica abstratamente 
considerada é desvelada, no plano concreto, pelo veículo da linguagem. 
Acontece, todavia, que a linguagem que transmite o conhecimento jurídico 
contém limitação inerente à própria dificuldade natural de conhecimento pontual e 
acabado dos objetos investigados. 
É como se a linguagem não conseguisse apreender a totalidade do objeto de 
conhecimento. Ela apenas revela e comunica parcialmente o substrato valorativo da 
norma jurídica, a partir de uma perspectiva de linguagem. 
Em contrapartida, o pensamento jurídico também encontra na linguagem a sua 
forma de exteriorização, até porque “o pensamento precisa da articulação linguística, 
pois os signos linguísticos constituem o essencial da comunicação humana, sendo, 
portanto, o fundamento da linguagem” (DINIZ, 2012, p.169). 
Significa, inclusive, dizer que a condição de possibilidade de existência da 
ciência jurídica reside na linguagem. Conforme apregoa Maria Helena Diniz, a ciência 
jurídica “encontra na linguagem sua possibilidade de existir” (p.169). 
Percebe-se que a temática jurídica, principalmente a formação, a interpretação 
e a aplicação do Direito, se encontra fortemente unida com a análise de importantes 
estruturas, como a palavras, os conceitos, a representação, a comunicação, o 
conhecimento e a linguagem, tudo, de certa maneira, ligado ao domínio sobre o qual 
se recai a Semiótica, explicada por Martins, em síntese, como instrumento de estudo 
preciso da linguagem jurídica. 
Assenta-se, então, a necessária articulação entre os paradigmas da Semiótica 
e do Direito, já que tudo isso reflete na problemática da decidibilidade das questões 
 
19 
 
jurídicas e atinge diretamente os direitos e as garantias fundamentais do ser humano. 
A propósito, no dizer de Maria Helena Diniz, “o problema nuclear da ciência jurídica é 
a decidibilidade”. 
 
 
Fonte: brasildelonge.files.wordpress.com 
A relação entre linguagem e Direito, como visto, se mostra implicada, até 
porque o objeto jurídico é produzido a partir da dimensão da linguagem, de modo que 
a própria linguagem reúne um conjunto de símbolos sujeitos à compreensão do 
intérprete. 
Maria Helena Diniz ensina que a aproximação entre linguagem e Direito se 
firma a partir de algumas premissas de sustentação. 
- A primeira premissa estabelece que “o Direito não poderia produzir seu objeto 
numa dimensão exterior à linguagem” (DINIZ, p. 170). Significa que no Direito, 
particularmente na perspectiva do direito positivo, a linguagem se interliga com as 
palavras e ocupa um lugar de destaque a desempenhar variadas funções de 
comunicação do discurso jurídico. 
- A segunda premissa entende que “onde não há rigor linguístico não há 
ciência, pois esta requer rigorosa linguagem científica” (DINIZ, p. 170). 
- A terceira premissa sustenta que o operador da ciência jurídica deve utilizar a 
espécie de interpretação cabível, a partir do significado da palavra no texto normativo, 
 
20 
 
com o fim de extrair a sua ideia no tempo e no espaço. Até porque “as palavras 
guardam o segredo do seu significado” (DINIZ, p. 170). Veja-se: 
O elemento linguístico entra em questão como instrumento de interpretação, 
pois, sendo a linguagem do legislador subjetiva e variável, o jurista deverá, 
na interpretação literal, atingir o sentido específico e objetivo da palavra, 
buscando verificar o sentido da lei. Na interpretação histórica deverá analisar 
as causas de elaboração das propostas normativas e, na sistemática, levar 
em conta os vários significados que as palavras assumem nos textos 
legislativos em que são inseridas, procurando formar uma linguagem 
coerente e unitária. Em suma, o intérprete deve partir das palavras para 
atingir a ideia. (DINIZ, p. 170) 
- Como quarta premissa destaca a importância do elemento linguístico no 
universo de construção da própria ciência, uma vez que: “Se a linguagem do legislador 
não é ordenada, o jurista deve reduzi-la a um sistema. A atividade sistemática ou 
construção de um determinado sistema jurídico é uma das principais tarefas do 
jurista.” (DINIZ, p. 170) 
Existe, portanto, no plano da comunicação jurídica uma perfeita sintonia entre 
linguagem e Direito, a ponto de surgir uma autêntica, singular e complexa linguagem 
jurídica. 
Nesse sentido, o Direito ganha contornos de existência segundo uma 
linguagem, imposta pelo postulado da alteridade. E a decisão jurídica (no sentido de 
lei, costume ou decisão judicial), entretanto, “é um componente de uma situação 
comunicativa entendida como um sistema interativo, pois decidir é ato de 
comportamento referido a outrem”. (DINIZ, p. 170) 
Assim, ensina Martins, o papel do discurso jurídico se relaciona, mesmo que 
indiretamente, a uma ação linguística que envolve outrem. Dessa maneira, todo 
discurso sugere a importância do próprio homem no contexto da comunicação. Nessa 
linha: 
Logo, o objeto do discurso da ciência do direito (...) não é o conjunto das 
normas positivadas, mas o ser (o próprio homem), que, no interior da 
positividade que o cerca, representa, discursivamente, o sentido das normas 
ou proposições prescritivas que ele estabelece, obtendo uma representação 
da própria positivação. (DINIZ, p. 185) 
Além do mais, a importância do homem conta com o histórico drama que 
permeia o universo jurídico, e isso é sinalizado por Francesco Carnelutti, apud Martins 
(2017), no sentido de que “o direito tem necessidade da lei para guiar os homens; mas 
a lei o estorva para julgá-los”. 
 
21 
 
Com relação à linguagem jurídica em geral, Maria Helena Diniz adverte quanto 
à existência de características particulares da ciência jurídica que as difere de outros 
ramos do conhecimento científico: 
É preciso lembrar, ainda, que a linguagem utilizada pelo direito não é precisa 
por ter caracteres da linguagem natural que, em oposição à linguagem formal, 
como a da lógica e a da matemática puras, possui expressões ambíguas, 
termos vagos e palavras que se apresentam com significado emotivo, o que 
leva o jurista a desentranhar o sentido dostermos empregados pelo legislador 
(...) A textura aberta das palavras da lei, a ambiguidade e vagueza das 
expressões legais viabilizam a redefinição dos sentidos normativos pela 
ciência jurídica e a adoção de uma das alternativas de decisão pela 
autoridade ou juiz ao aplicar o direito. (DINIZ, p. 171-172) 
Sob o ponto de vista do direito positivado, pode-se atribuir a noção de 
linguagem legal, consistente numa estrutura de linguagem jurídica ditada pelo órgão 
legiferante competente, de acordo com certa organização de palavras tendente a 
indicar determinado significado. Destaca-se aqui, mais um problema: o significado das 
palavras. 
A problemática com relação ao significado das palavras restou enunciada pelo 
jurista Eros Roberto Grau, ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal, quando afirmou 
que “as palavras são potencialmente ambíguas e imprecisas” e que “a mesma palavra 
conota, em contextos diferentes, sentidos distintos. O significado de cada uma delas 
há de ser discernido sempre no quadro do jogo de linguagem no qual elas apareçam”. 
(ADI 3.510) 
Desta forma, se analisada isoladamente, a palavra pode subverter o sentido do 
texto e comprometer o entendimento do natural e cambiante processo de alteração 
dos valores que compõem a norma jurídica. 
Sobre o tema, Martins destaca o dizer de Vicente Ráo (2004, p. 514): o “abuso 
de regras e filigramas gramaticais estagnam e mumificam o sentido dos textos, 
impedem sua adaptação às necessidades sociais sempre mutáveis e sempre 
revestidas de modalidades novas”, o que acaba por comprometer a natural adaptação 
do Direito à realidade fática. 
A propósito, o componente histórico-valorativo do Direito é destacado por 
Miguel Reale, apud Martins (2017) no sentido da “adequação entre a ordem normativa 
e as múltiplas e cambiantes circunstâncias espaciotemporais, uma experiência 
dominada ao mesmo tempo pela dinamicidade do justo”. (REALE, 2002, p. 572) 
 
22 
 
E mais. É de se assentar que a linguagem “só pode ser entendida de maneira 
estrutural, em correlação com as estruturas e mutações sociais”. (REALE, 2002, p. 
292) 
A forma escrita contém signos (símbolos) construídos por convenções 
linguísticas e a linguagem especializada caracteriza-se por intermédio de um texto 
comunicacional com múltiplos significados específicos inerentes à quadra jurídica. 
Conclui-se, portanto, que o processo de comunicação das normas jurídicas se 
dá pelo instrumento da linguagem das normas, qual seja, da linguagem legal. Tem-
se, com isso, a dimensão em que se situa a Teoria Comunicacional do Direito Positivo 
e, nesse contexto, surge a Semiótica como uma técnica de investigação do Direito 
positivado pelo Estado. 
A atividade jurídica, como já mencionado, possui o cidadão como destinatário. 
A partir do momento em que uma das partes não consegue compreender a 
mensagem, o intuito da comunicação falhou. É fato que o uso de uma linguagem mais 
viva, mais dinâmica, menos obscura, mais precisa e compreensível não desrespeita 
de maneira alguma as normas do Direito como ciência, e sim facilita a vida, o acesso 
à justiça do indivíduo leigo, pois usa um repertório comum entre as partes, objeto de 
atenção de muitos operadores do Direito nas últimas décadas. 
A língua é um código social, de caráter mutável, que sofre constantes 
alterações. Se os indivíduos mudam, a língua também o faz. E essa característica, 
segundo a Linguística, comprova a natureza e a essência da linguagem. 
Não há dúvida de que as línguas se aumentam e alteram com o tempo e as 
necessidades dos usos e costumes. Querer que a nossa pare no século de 
quinhentos, é um erro igual ao de afirmar que a sua transplantação para a 
américa não lhe inseriu riquezas novas. A este respeito a influência do povo 
é decisiva. Há, portanto, certos modos de dizer, locuções novas, que de força 
entram no domínio do estilo e ganham direito de cidade. Mas se isto é 
verdadeiro o princípio que dele se deduz, não me parece aceitável a opinião 
que admite todas as alterações da linguagem, ainda aqueles que destroem 
as leis da sintaxe e a essencial pureza do idioma. A influência popular tem 
um limite, e o escritor não está obrigado a receber e dar curso a tudo o que o 
abuso, o capricho e a moda inventaram e fazem correr. Pelo contrário, ele 
exerce também uma grande parte de influência a este respeito, depurando a 
linguagem do povo e aperfeiçoando-lhe a razão [...] Escrever como Azurara 
ou Fernando Mendes seria hoje um anacronismo intolerável. Cada tempo tem 
seu estilo. Mas estudar-lhes as formas mais apuradas da linguagem, 
desentranhar deles mil riquezas, que, à força de velhas e fazem novas -, não 
me parece que se deva desprezar. Nem tudo tinham os antigos, nem tudo 
tem os modernos; com os haveres de uns e outros é que se enriquece o 
pecúlio comum. (ASSIS, Machado de,1997, p. 37, apud GUIMARÃES, 2015) 
 
23 
 
A utilização de vocábulos que estão em desuso e de construções sintáticas 
típicas do século XIX, com períodos exageradamente extensos, repletos de vírgulas 
e pontos-e-vírgulas, prejudica a compreensão do homem comum contemporâneo, 
quando ele consulta um texto legal. 
4.2 A Linguagem Jurídica na Universidade 
Acentua Guimarães (2015), que o operador do Direito tem como 
responsabilidade social, aplicar a linguagem técnica forense de maneira eficiente. 
Para que isso ocorra, ele deve aprender a utilizá-la corretamente ainda no seio da 
Universidade, visto que esta, conforme exigido nas diretrizes curriculares do curso de 
Direito, elaboradas a partir da lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (lei nº. 
9.394/96), com indicações fornecidas pelo parecer nº. 776/97, da Câmara de 
Educação Superior (CES), tem a obrigação moral de formar cidadãos críticos e 
conscientes: 
O perfil desejado do formando de Direito repousa em uma sólida formação 
geral e humanística, com capacidade de análise e articulação de conceitos e 
argumentos, de interpretação e valoração dos fenômenos jurídico-sociais, 
aliada a uma postura reflexiva e visão crítica que fomente a capacidade de 
trabalho em equipe, favoreça a aptidão para a aprendizagem autônoma e 
dinâmica, além da qualificação para a vida, o trabalho e o desenvolvimento 
da cidadania. (BRASIL, 2000, p. 3, apud GUIMARÃES, 2015). 
Articulando o sentido das palavras, deve-se ter, desde a formação universitária 
do profissional, a importância da inteligibilidade textual, com o objetivo de melhorar 
consideravelmente a relação entre o direito e o cidadão comum, facilitando assim o 
acesso dele à justiça. 
Uma vez que o operador do direito que redige de maneira correta, que expõe 
de maneira harmoniosa suas teses, com clareza, coerência e objetividade, vai 
comunicar-se bem e assim atingir sua meta. Esse profissional contribui para o bom 
andamento e o acesso à justiça. Fazendo assim, a verdadeira justiça. 
 
 
 
 
 
24 
 
5 A HISTÓRICA APLICAÇÃO DOS JARGÕES JURÍDICOS 
 
Fonte: ligadonodireito.files.wordpress.com 
A linguagem na norma culta é essencial para qualquer profissional. Expressar-
se de maneira correta e inequívoca é fundamental para estabelecer comunicação sem 
qualquer desentendimento. Entretanto, no mundo jurídico, uma das principais 
características na escrita é o excesso de tecnicismo, o que levou a sociedade a cunhar 
o termo ‘’ juridiquês’’ para se referir à linguagem usada nas peças processuais. 
Importante esclarecer que o texto jurídico sempre foi marcado por construções 
fraseológicas complexas e por um elevado grau de conhecimento da língua, não só 
no processo de estruturação textual, mas também no conhecimento profundo da 
gramática da língua portuguesa. Todavia, essa imagem positiva tem sido depreciada 
por uma vasta quantidade de erros básicos referentes à utilização da língua e à 
estruturação da linguagem. 
Ocorre que vivemos em um país de questionável qualidade de educação. 
Temos centenas de milhares de analfabetos completos ou funcionaisque, ao se 
depararem com o texto do pedido de seu advogado ou com sentenças proferidas pelo 
judiciário, não compreendem a linguagem, criando assim um abismo entre o mundo 
jurídico e a população, principal usuária deste. 
Infelizmente, há profissionais do âmbito jurídico que acreditam que escrever 
bem é escrever difícil. Isso não é verdade. Um bom texto não é medido pela 
 
25 
 
quantidade de palavras latinas, arcaicas ou rebuscadas que se utiliza. Além disso, 
parece que o uso de um vernáculo mais elitizado demonstra cultura, ledo engano, isso 
é pensamento retrógrado. 
Atualmente alguns profissionais do Direito têm direcionado sua atenção para a 
questão das normas jurídicas escritas em uma linguagem “opaca”, impenetrável, o 
que tem gerado muitos debates, vários textos, obras acadêmicas em geral, com o 
intuito de se repensar as relações entre Direito e linguagem. Neles se percebe a 
reprovação dos autores à falta de clareza, concisão e precisão e ao pedantismo, que 
são utilizados por alguns legisladores ao elaborarem as leis, códigos etc. 
É fato que algumas peças jurídicas são redigidas de maneira que é impossível 
a alguém que não seja parte do meio jurídico compreendê-las. Esse estilo rebuscado, 
denominado “juridiquês”, impede qualquer possibilidade de conhecimento, ao invés 
de permitir a compreensão sobre o assunto tratado. Partilha da mesma opinião 
Gérman Bidart Campos (apud CÁRCOVA, 1998, p. 37), ao afirmar que: 
(...) há normas tão complicadas, tão mal redigidas, tão confusas, de tanta 
exuberância regulamentarista, de técnica tão deficiente, que até os 
especialistas da mais alta qualidade e perícia quebram a cabeça para 
entender o que o autor quis dizer. Como então querer que o comum das 
pessoas as conheça, as compreenda e as cumpra! 
O distanciamento da classe jurídica do restante da população através de sua 
linguagem própria torna a busca pelo conhecimento do mundo do Direito pedante e 
impossível. Os jurisdicionados então passam a ter sentimento de descrédito e repulsa 
pelo judiciário e todas suas ramificações. Os juristas tornam-se então, caricatos para 
a sociedade. 
Exemplos de expressões do jargão jurídico e seus respectivos significados: 
- Com fincas no artigo: com base no artigo. 
- Consorte supérstite: viúvo ou viúva. 
- Digesto obreiro: Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). 
- Diploma provisório: medida provisória. 
- Ergástulo público: cadeia. 
- Estipêndio funcional: salário. 
- Alvazir de piso: o juiz de primeira instância 
- Aresto doméstico: alguma jurisprudência do tribunal local 
- Autarquia ancilar: Instituto Nacional de Previdência Social (INSS) 
 
26 
 
- Caderno indiciário: inquérito policial 
- Cártula chéquica: folha de cheque 
- Consorte virago: esposa 
- Exordial increpatória: denúncia (peça inicial do processo criminal) 
- Repositório adjetivo: Código de Processo, seja Civil ou Penal 
 
Eliasar Rosa é outro profissional do direito que defende uma linguagem mais 
clara e menos rebuscada nos textos jurídicos. Ele afirma que: 
Em verdade, não é a correção a primeira ou maior virtude do estilo. A clareza 
é que o é, não apenas para o advogado, mas para todos, pois que a 
linguagem é o meio geral de comunicação, seu fim supremo. Daí por que, 
quanto mais clara for, mais útil e eficaz ela será para preencher sua finalidade. 
Quem é obscuro manifesta, desde logo, ou o desejo de não ser facilmente 
compreendido, ou a inaptidão para se comunicar. (ROSA, 2003 apud SOUZA, 
2011, p. 27). 
Os problemas do “juridiquês” vão além, uma vez que essa ânsia de trazer para 
língua portuguesa um status de erudição em nome da “clareza jurídica”, pois os que 
defendem tal tese asseguram que os termos técnicos não dão margem à 
ambiguidade. Acontece que muitas vezes, os profissionais criam códigos que são só 
conhecidos por eles mesmos, inclusive as abreviações são, quase sempre, incógnitas. 
Isso pode ser visto em: 
(…) que o d. Juízo de V.Exa. omitiu-se acerca do que deveria se pronunciar, 
d.m.v., como se sustenta nas razões que se seguem (…) 
Qual o significado de “d. Juízo de V.Exa”? O que de fato quer dizer “d.m.v.”? 
Talvez nem mesmo muitos juristas não saibam o real significado, quanto mais o 
cidadão comum. 
No tocante a isso, o ministro Edson Vidigal, do Superior Tribunal de Justiça, 
(...) compara o “juridiquês” ao latim em missa, acobertando um mistério que 
amplia a distância entre a fé e o religioso; do mesmo modo, entre o cidadão 
e a lei. Ou seja, o uso da linguagem rebuscada, incompreensível para a 
maioria, seria também uma maneira de demonstração de poder e de 
manutenção do monopólio do conhecimento. (apud ALVARENGA, 2005) 
Isso é presente não só em termos ou expressões do âmbito jurídico, está 
permeado em construções marcadas pela falta de clareza, como se vê nos exemplos 
a seguir: 
 
27 
 
V. Exª, data máxima venia não adentrou às entranhas meritórias doutrinárias 
e jurisprudenciais acopladas na inicial, que caracterizam, hialinamente, o 
dano sofrido. 
 
Com espia no referido precedente, plenamente afincado, de modo 
consuetudinário, por entendimento turmário iterativo e remansoso, e com 
amplo supedâneo na Carta Política, que não preceitua garantia ao 
contencioso nem absoluta nem ilimitada, padecendo ao revés dos 
temperamentos constritores limados pela dicção do legislador 
infraconstitucional, resulta de meridiana clareza, tornando despicienda maior 
peroração, que o apelo a este Pretório se compadece do imperioso 
prequestionamento da matéria alojada na insurgência, tal entendido como 
expressamente abordada no Acórdão guerreado, sem o que estéril se 
mostrará a irresignação, inviabilizada ab ovo por carecer de pressuposto 
essencial ao desabrochar da operação cognitiva. (gazetadotriangulo.com.br) 
Andrade pontua que, em ao se analisar os textos, não há emprego de 
linguagem técnica, há apenas “juridiquês”. E conseguir traduzir o “juridiquês” é uma 
arte de muito mau gosto. É melhor desprezar construções que não trazem beleza, 
nem elegância para o texto, apenas afastam as pessoas da compreensão de seus 
direitos. Apenas para perceber, é possível fazermos uma “tradução” do que está posto 
nas citações acima. Assim, temos: 
- 1º exemplo – V. Exª. Não abordou devidamente a doutrina e a jurisprudência 
citadas na inicial, que caracterizam, claramente, o dano sofrido. 
- 2º exemplo – Um recurso, para ser recebido pelos tribunais superiores, deve 
abordar matéria explicitamente tocada pela instância inferior ao julgar a causa. Se isto 
não ocorrer, será pura e simplesmente rejeitado, sem exame do mérito da questão. 
É possível usar a linguagem técnica jurídica e ser claro e objetivo. Basta que 
se prime por empregar uma linguagem culta, num texto com parágrafos concisos e 
bem estruturados, nos quais a ideia básica esteja evidente. 
Na verdade, o emprego do “juridiquês” é uma forma de afastar o cidadão da 
comunicação de seus direitos e de seus deveres, este recurso visa tornar o processo 
mais moroso e, em consequência, a justiça mais lenta. Empregar “juridiquês” é estar 
na contramão da história e é ir de encontro com a evolução real e natural da língua. 
Como resistência ao “juridiquês”, a tendência contemporânea é que os textos, 
e também a própria linguagem utilizada para expressar ideias da área forense, 
apresentem cada vez menos termos técnicos, a fim de tornar mais acessível o 
entendimento dos trâmites da Justiça. Movimentos em prol da simplificação da 
referida linguagem ganham cada vez mais espaço no cenário internacional. Não é 
uma iniciativa recente, uma vez que desde o final dos anos de 1970 eles têm surgido 
 
28 
 
nos Estados Unidos e na Inglaterra, originários de operadores do Direito, políticos e 
da própria sociedade civil, para fazer com que informações importantes na relação 
entre cidadãos, governos e a sociedade em geral sejam expostas de forma cada vez 
mais precisa e clara. No Brasil, esses movimentos aindasão tímidos. O lançamento 
se deu em 2005, na “Campanha pela Simplificação do Juridiquês”, promovida pela 
Associação dos Magistrados Brasileiros. Segundo ela, advogados, procuradores, 
promotores de justiça, juízes, professores e acadêmicos devem produzir peças 
judiciais e trabalhos científicos com frases menos rebuscadas, mas sem comprometer 
o raciocínio jurídico. Todavia, ainda não existe uma mobilização capaz de ocasionar 
mudanças concretas. Entretanto, acreditamos que chegar a essas mudanças é 
apenas uma questão de tempo, pois o crescimento econômico do nosso país e do 
nível de instrução do povo brasileiro fará com que as exigências de acesso à 
informação em linguagem clara e precisa estejam na pauta das discussões do poder 
público e da sociedade civil em breve. Haverá o consenso de que a simplificação da 
linguagem jurídica trará benefícios a todos os envolvidos nesse processo. 
 
Fonte: image.slidesharecdn.com 
 
29 
 
6 DIREITO, LINGUAGEM E MÉTODO 
 
Fonte: institutocarrion.com.br 
Enquanto objeto cultural, o Direito é entendido como um fenômeno linguístico 
que constrói realidades próprias, dentro de um conjunto de fundamentos que são a 
unidade do sistema. 
A unidade do sistema se forma a partir de pontos baseados em uma estrutura 
que é a norma, consistente em estrutura lógica que conjuga um antecedente e um 
consequente por meio de um funcho deôntico. 
Segundo Jonathan Barros Vita, apud Vioncek (2019) é da contingência e 
generalidade que surge a unidade do sistema jurídico, o seu código lícito/ilícito, que 
cria assimetrias e realiza a comunicação jurídica, sustentada pela linguagem. 
O Direito é norma e norma é linguagem, assim, direito é linguagem. 
Enquanto objeto do mundo, o Direito é e existe através da linguagem, que é a 
forma de criação de realidades, de existência do mundo, já que a linguagem é que 
está à frente dos acontecimentos, que são, somente, alcançados a posteriori, quando 
captados de maneira eficaz por um eixo linguístico-comunicativo. 
Qualquer objeto de estudo, no caso, o direito, acaba tendo de ser aproximado 
mediante um método que é a forma do conhecer em sentido científico. 
O vocábulo “método” deriva do grego methodos que significa “caminho para se 
chegar a um fim”. De acordo com Aurora Tomazini de Carvalho (2009, p. 43), os 
 
30 
 
métodos regem a produção da linguagem científica, do modo que não existe 
conhecimento científico sem método e este influi diretamente na construção do objeto. 
O método, assim como as técnicas utilizadas, está intimamente ligado às 
escolhas epistemológicas do cientista e influi diretamente na construção de seu 
objeto, demarcando o caminho percorrido para justificação de suas asserções. 
Olhando externamente ao sistema, constatamos que o direito cria suas próprias 
realidades, ao passo que dentro de uma visão interna, somente existe o direito, não 
existindo uma distinta realidade para este. 
De outra parte, o método também pode ser descrito como uno e ao mesmo 
tempo plural, pois para conhecer um objeto de estudo de nada adianta ter apenas 
uma visão, que é sempre deturpada, falha e arreflexiva por natureza. 
Consiste o método num posicionamento/reposicionamento frente ao objeto 
constante, quer seja por meio da semiótica, lógica, da filosofia, o que infere que o 
método é aplicado na construção e investigação do objeto, que é dúplice e uno ao 
mesmo tempo, pois se estuda a linguagem que é a forma de expressão do direito. 
O método, portanto, bem como as técnicas utilizadas, está intimamente ligado 
às escolhas epistemológicas do cientista e influi diretamente na construção de seu 
objeto, demarcando o caminho percorrido para justificação de suas asserções. 
Na área do Direito se busca convencer, persuadir, legislar, debater e, 
principalmente, julgar as condutas de outros membros do grupo. Assim, o uso 
linguístico necessita ter o seu poder e o seu papel reconhecidos nessa área, pois, 
para Gnerre (1998, p. 5): 
A linguagem não é usada somente para veicular informações, isto é, a função 
referencial da linguagem não é senão uma entre outras; entre estas ocupa 
uma posição central, a função de comunicar ao ouvinte a posição que o 
falante ocupa de fato ou acha que ocupa na sociedade em que vive. As 
pessoas falam para serem ouvidas, às vezes respeitadas e também para 
exercer alguma influência no ambiente em que realizam seus atos 
linguísticos. 
O Direito e seus operadores não falam só para si. Falam para toda a sociedade. 
Por isso, utilizam uma linguagem pública, que deve ser acessível a todos. O domínio 
da linguagem jurídica apenas por um grupo é um fato de posse. Todavia, ela não é 
fixa, evolui, é prática. Ela está a serviço do direito. Se o direito é para todos, sua 
linguagem também deve ser. 
 
31 
 
6.1 A Palavra como Ferramenta do Direito 
Guimarães (2012) leciona que o Direito nos é apresentado através das 
palavras, sua ferramenta funcional, manifestada em todos os sentidos: nas leis, 
pareceres, razões, sentenças, acórdãos e em outras formas diversas de atos judiciais 
que não dispensam seu uso para o conhecimento da matéria jurídica. De acordo com 
o jurista Nascimento (2010, apud Guimarães, 2012, p.03), a expressão lógica, breve, 
clara e precisa é qualidade da linguagem jurídica escrita. O conjunto desses atributos 
dá-lhe a elegantia júris, ou beleza funcional; ou, também, estética funcional. Dessa 
maneira, a complexidade da linguagem não pode ser admitida à ciência que analisa e 
rege as relações sociais, que disciplina a conduta das pessoas, e que tem por objetivo 
primordial auxiliar na resolução de conflitos de interesse que nascem no seio de uma 
sociedade. 
A beleza da sofisticação da linguagem não é o mais importante em um texto 
jurídico, e sim a sua clareza, concisão e precisão, organizado com raciocínio lógico e 
coerência, originários de uma seleção atenta de fatos relevantes que compõem o 
caso. Uma linguagem clara, portanto, é aquela que apresenta alto nível de qualidade, 
sem omissão de palavras ou sem uso de signos que sejam compreendidos somente 
por um determinado grupo de pessoas. Todavia, pontua Guimarães, quando se prima 
pela simplificação da linguagem jurídica, não estamos defendendo a vulgarização da 
mesma, nem estimulando o desuso de termos técnicos necessários ao contexto 
forense, mas sim, combatendo os excessos que podem facilitar o entendimento do 
cidadão, ficando mais acessível para todos. Dessa forma, a simplificação da 
linguagem jurídica deve ser vista como um instrumento fundamental que oportuniza o 
acesso à justiça e contribui, efetivamente, para a atuação do poder judiciário como um 
todo. 
Quando o texto é simples, sem ser vulgar; elegante, sem ser pedante; com um 
acervo de palavras e expressões contextualizadas, sem ser arcaico; será esse texto 
respeitado, admirado e recomendado por um simples motivo: ele será convincente e 
seguro. Até o ex presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se manifestou sobre 
o assunto, dizendo que “não entende porque não é possível se fazer um simples termo 
de adesão de cartão de crédito de apenas uma página”. (SIEGEL, 2010, apud 
GUIMARÃES, 2012, p.3). 
 
32 
 
Alexandre Moreira Germano, desembargador aposentado do Tribunal de 
Justiça de São Paulo, assim se manifestou: 
(...) a tendência moderna é de redações bem escritas, porém simplificadas e 
objetivas, que não abusam da linguagem empolada, tampouco dos termos 
jurídicos. Não se pode fazer literatura, mas, sim, facilitar a leitura do processo. 
Afinal, o processo deve ter o sentido de resolver um conflito entre duas partes, 
sem grandes divagações literárias. O magistrado também recomenda que 
não se utilizem termos em latim ou outros idiomas que não sejam o vernáculo, 
pois não os acha necessários e defende que o português supre todas as 
exigências do texto. (2005, apud GUIMARÃES, 2012, p.3) 
Como visto, existe uma parceria essencial entre o Direito ea linguagem, que 
constituem um par indissociável. Sem a qualidade da segunda, o primeiro não cumpre 
o seu papel. Leis são feitas com palavras. 
A linguagem é o meio pelo qual o cientista visualiza o direito, por esta ser o 
direito, em determinadas condições. 
Nesta ótica há que se destacar a importante contribuição do professor Paulo 
de Barros Carvalho que, reinterpretando Lourival Vilanova, apresentou uma teoria 
chamada de Construtivismo Lógico-Semântico. Esta teoria apresenta um foco 
específico que perfaz um importante entrecruzamento entre aspectos lógicos 
(sintáticos), o chamado giro linguístico e uma forte investigação semântica das 
estruturas e palavras dispersas no corpo do direito positivo. 
A linguagem jurídica é vista como algo tão complexo a ponto de ser 
pejorativamente chamada, pela maioria, como já dito, de “juridiquês”. Isto porque para 
os não operadores do Direito a linguagem do meio jurídico é algo bastante técnico e 
específico, com diversos termos próprios, inclusive em latim, que acabam por dificultar 
a compreensão. 
No entanto, a linguagem jurídica nada mais é que uma extensão da linguagem 
natural, aperfeiçoada e transformada em algo que a torna parte do exercício da 
profissão. 
Vale observar que, assim como a linguagem está inserida em um contexto 
social, sendo específica de uma cultura e lugar, será ela também a limitadora do 
mundo de cada indivíduo. 
Este “mundo”, como acima exposto, pode também referir-se ao contexto em 
que o indivíduo está inserido, como o mundo jurídico caracterizado pela linguagem 
jurídica. 
 
33 
 
Tendo em vista o conceito de linguagem, tem-se a linguagem jurídica como 
uma extensão, uma expressão da linguagem natural, um subproduto desta, um 
aperfeiçoamento que a torna técnica, isto é, torna-a específica, o que não significa, 
entretanto, que deve ser complexa e de difícil entendimento. 
A linguagem jurídica é um conjunto de termos específicos e técnicos criados de 
modo a ter sua própria expressão e se firmar enquanto ciência, sendo utilizada e 
compreendida por grande parte daqueles que operam o Direito. 
Enquanto realidade cultural de um lugar, o Direito vai se expressar como uma 
manifestação linguística local, revelando-se como “um produto cultural mais rígido 
(...)” (NADER, 2014) contendo termos que, em alguns casos, não serão aplicados fora 
daquele contexto, até mesmo pela dificuldade de compreensão quando deslocada 
daquela realidade, é o que acontece com a denominação ‘peça ovo’ referindo-se à 
petição inicial do Código de Processo Civil ou ‘fumaça do bom Direito’ (também usada 
em sua forma em latim: fumus bom iuris) que é utilizada quando se quer mostrar a 
presença de um Direito existente no caso concreto. 
O Direito pode ser visto também como uma forma de arte, já que é por meio 
desta que os seus aplicadores expressam ideias, transpondo, de algum modo, para o 
papel, o que poderia ser chamado de veia poética, como reforçado por Nader (2014) 
na seguinte passagem: “a arte como processo cultural que realiza o belo, é também 
utilizada pelo Direito, especialmente em relação à linguagem (...). Vista como talento, 
é indispensável ao técnico que elabora o Direito, aos intérpretes e aos aplicadores” 
O Direito sendo uma ciência que trata das normas obrigatórias, das leis que 
disciplinam as relações dos homens em sociedade, deveria, portanto, se utilizar de 
um vocabulário acessível a todos, sem exibicionismos ou vaidades; e não fazer uso 
de uma linguagem tão técnica, própria, hermética. 
O uso exagerado de termos antiquados e obsoletos não é uma demonstração 
de sabedoria, mas acaba por se tornar falta dela. Como dito pelo poeta Thiago de 
Mello, apud Guimarães, 2017, “falar difícil é fácil. O difícil é falar fácil”. Dessa forma, 
no modo de se escrever no campo jurídico existe uma precaução em adaptar a 
linguagem e adorná-la de maneira que ela se transforme em um código, mas cuja 
decodificação só é possível ao pequeno grupo que compõe esse universo. 
 
 
34 
 
7 ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
 
Fonte: institutodialogo.com.br 
No sistema capitalista contemporâneo, o confronto de classes não se dá 
apenas na esfera econômica, visto que se configura igualmente um embate conflitivo 
em nível de discursos éticos-políticos contraditórios: “os conflitos de legitimidade não 
são regularmente travados em termos de conflito econômico, mas sim no plano das 
doutrinas legitimadoras” (Habermas,1983, p. 223, apud Corrêa, 2013). 
Deste modo, as relações de poder perpassam o nível discursivo da linguagem. 
Carlos Maximiliano, (apud Corrêa, 2013) assim se posiciona acerca do discurso 
argumentativo, próprio da hermenêutica e da interpretação jurídicas: 
As leis positivas são formuladas em termos gerais, fixam regras, consolidam 
princípios, estabelecem normas, em linguagem clara e precisa, porém ampla, 
sem descer a minúcias. É tarefa primordial do executor a pesquisa da relação 
entre o texto abstrato e o caso concreto, entre a norma jurídica e o fato social, 
isto é, aplicar o Direito. Para o conseguir, se faz mister um trabalho preliminar: 
descobrir e fixar o sentido verdadeiro da regra positiva; e, logo depois, o 
respectivo alcance, a sua extensão. Em resumo, o executor extrai da norma 
tudo o que na mesma se contém: é o que se chama interpretar, isto é, 
determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito. (1998, p. 1, apud 
Corrêa, 2013). 
Todavia, parece que o próprio Maximiliano, páginas depois, se deu conta da 
complexidade da função jogada sobre os ombros do intérprete da lei: fixar o sentido 
 
35 
 
verdadeiro da regra positiva a partir de sua linguagem clara e precisa, reconhecendo 
que tal atividade é uma verdadeira arte: 
Talvez constitua a Hermenêutica o capítulo menos seguro, mais impreciso da 
ciência do Direito; porque partilha da sorte da linguagem [...] A interpretação 
colima a clareza; porém não existe medida para determinar com precisão 
matemática o alcance de um texto; não se dispõe, sequer, de expressões 
absolutamente precisas e lúcidas, nem de definições infalíveis e completas. 
Embora clara a linguagem, força é contar com o que se oculta por detrás da 
letra da lei; deve esta ser encarada, como uma obra humana, com todas as 
suas deficiências e fraquezas, sem embargo de ser alguma coisa mais do 
que um alinhamento ocasional de palavras e sinais. (1998, p. 10, apud 
Corrêa, 2013). 
O autor ainda apregoa, ao distinguir aplicação e hermenêutica: “uma, a 
Hermenêutica, tem um só objeto — a lei; a outra, dois — O Direito, no sentido objetivo, 
e o fato. Aquela é um meio para atingir a esta; é um momento da atividade do aplicador 
do Direito” (1998, p. 8). Percebe-se nas citações anteriores que a própria concepção 
legalista da hermenêutica problematiza a questão interpretativa presente na atuação 
dos juristas. 
Herkenhoff defende a evolução da hermenêutica em prol de um direito centrado 
no homem e no povo: 
Vejo a evolução da Hermenêutica, em geral, e da Hermenêutica Jurídica, em 
particular, refletindo a evolução das ideias sobre o homem e seu papel no 
mundo: de uma preocupação em investigar a vontade do legislador, 
entendido como onipotente, passou-se para a posição, mais liberal, de 
pesquisa da própria lei, como produto social, fruto da consciência jurídica do 
povo, segundo seus pregoeiros”. (1997, p. 10, apud Corrêa, 2013). 
Bezerra Falcão pontua a importância das bases éticas da hermenêutica, 
principalmente no campo jurídico, em que deve prevalecer o sentido do interesse 
social, o sentido da sociedade, uma vez que a norma jurídica, pelo fato de regular 
condutas humanas, tem um fim ou uma função social: se o hermeneuta está 
interpretando uma norma jurídica, 
(...) seu espírito, embora continuando livre na geração do sentido, há de ser 
inspirado por determinados ideais, como o de justiça, de bem-estar coletivo, 
de solidariedade social, de respeito à dignidade humana, assim como deixar-
se sensibilizarpelos postulados democráticos — nos quais, de resto, se 
arrimam a liberdade de manifestação do pensamento e a liberdade de 
criação. (1997, p. 94, apud Corrêa, 2013). 
Assim como a existência de bases éticas conduz o intérprete para os grandes 
valores do homem-ser-social, também a linguagem tem fontes éticas, raízes 
 
36 
 
existenciais, que lhe dão “um certo poder de ruptura, renovando o sentido e permitindo 
que aquela igualmente se torne coadjuvante na renovação do mundo” (Falcão, 1997, 
p. 95-6, apud Corrêa, 2013). 
Luís Alberto Warat, apud Corrêa, (2013) aprofundou com competência os 
estudos da linguagem jurídica, lhe revelando a dimensão simbólica. Analisando o 
processo argumentativo com base na vagueza e na ambiguidade da linguagem 
natural através da qual se expressa a normatividade jurídica, Warat enfatiza as 
definições persuasivas: 
Interpretar a lei implica sempre na produção de definições eticamente 
comprometidas e, por isso, persuasivas. Definições onde são estabelecidos 
critérios de relevância visando a convencer o receptor a compartilhar o juízo 
valorativo postulado pelo emissor para o caso (1994, p. 33, apud Corrêa, 
2013). 
Concluiu, pois, que o procedimento probatório é lugar privilegiado para 
definições persuasivas. 
O processo argumentativo que se encontra presente nos autos processuais 
vem cheio de redefinições indiretas alterando significações dos termos ou dos 
argumentos retóricos por variáveis axiológicas, deslocando a significação das 
palavras da lei. Nas variáveis axiológicas ou estereótipos usam-se termos com forte 
carga emotiva, obscurecendo-se suas propriedades descritivas. Assim, o processo 
redefinitório é pressuposto das definições persuasivas. 
Corrêa pontua que ao analisar o processo de comunicação, Warat explicita os 
conteúdos retóricos presentes nos usos e funções da linguagem a partir dos níveis de 
significação dos termos e expressões da linguagem natural: significação de base, 
aberta e incompleta, estabelecendo os significados socialmente padronizados, o 
sentido comum presente em seus diversos usos; significação contextual, referente ao 
uso efetivo dos sentidos padronizados, caracterizando a dimensão implícita dos 
sentidos latentes do contexto de uso, produzindo funcionalmente efeitos evocativos. 
Desta feita, chega o autor à função social dos signos, marcada pela dominação, 
uma vez que, na transmissão de uma mensagem, o homem não apenas reflete seus 
propósitos pessoais, como também reproduz uma concepção de mundo de caráter 
ideológico. Deveras, o processo de comunicação cria campos significativos que 
formam associações, a partir de fatores emocionais, ideológicos, valorativos. Nesta 
 
37 
 
se revelam os componentes pragmáticos da mensagem, a servirem de condicionantes 
circunstanciais da significação presente no ato comunicacional. 
Os componentes pragmáticos da mensagem, a servirem de condicionantes 
circunstanciais da significação presente no ato da comunicação, constituem, no plano 
conotativo, uma sobrecarga de significação sobre os intentos de descrição, 
acarretando eticamente posicionamentos sobre o mundo, ideologias, preferências, 
juízos emotivos, representações fictícias ou imaginárias acerca da realidade. 
O arsenal linguístico da ciência do direito vem complementado por forte carga 
ética em termos como: liberdade, direito subjetivo, democracia, propriedade, justiça, 
ordem pública, boa-fé, honestidade, abuso de direito, direito natural, desacato à 
autoridade e outros. E esses termos de conteúdo ideológico buscam obter a 
consolidação e a aceitação dos valores predominantes da comunidade. 
A estereotipação de um conceito é produto de um longo processo de persuasão 
que provoca a total dependência do significado a uma relação evocativa 
ideologicamente determinada. 
O estereótipo determina sempre a direção das associações valorativas de 
acordo com a concepção existente e dominante do mundo. O estereótipo 
transmite sempre uma mensagem de dominação. Trata-se de um tipo 
especial de signo ético caracterizado por ser uma forma de veiculação de 
mensagens ideológicas. Ele força sempre a aceitação de uma ideologia. 
(Warat ,1994, p. 142, apud Corrêa, 2013). 
Por conseguinte, o estereótipo acaba por condicionar os receptores, tornando 
ausente a referência informativa e provocando a alienação da base fática. No interior 
do discurso se confunde o fato e a opinião: sob roupagem descritiva se esconde 
intenção valorativa. Torna-se, portanto, uma forma de controle social, em que o 
receptor, no processo de convencimento, é forçado a reconhecer só uma visão 
ideológica do mundo. 
(...) processo persuasivo é um manejo induzido dos campos associativos dos 
signos e expressões de uma linguagem. Uma argumentação (persuasão) 
será eficaz se consegue evitar que o receptor efetue associações contrárias 
às afirmações ou opiniões do emissor (Warat, 1994, p. 145, apud Corrêa, 
2013). 
E por sua vez, o processo de convencimento exige razões, que são prestadas 
pela ideologia, entendida como um sistema de ideias, crenças, representações e 
práticas institucionalizadas que orientam a atividade social. 
 
38 
 
8 O USO DO LATIM 
 
Fonte: scontent-sea1-1.cdninstagram.com 
O Direito possui uma linguagem particular, específica, com palavras e 
expressões que encerram significações próprias. Quanto à sua origem, o uso do latim 
no meio jurídico se deve à sua raiz no Direito Romano da Antiguidade, codificado pelo 
francês Dionísio Godofredo, em 1538, responsável por editar o Corpus Juris Civilis, 
conjunto das obras do Direito e leis romanas, organizado por ordem do imperador 
Justiniano. No caso do Brasil, o Direito Romano influenciou o Direito Português, 
ambos trazidos para o nosso país através das ordenações. 
O latim, como um estrangeirismo muito utilizado no discurso jurídico, pode, 
quando usado de forma excessiva, atrapalhar o leitor dificultando a sua compreensão 
uma vez que a língua latina está praticamente em desuso, sendo recepcionada 
apenas em algumas áreas muito específicas, como o Direito, conforme exemplificado: 
Ab initio - Desde o princípio. 
A contrario sensu - Em sentido contrário, pela razão contrária. 
A posteriori - Pelo que segue, depois de um fato. Diz-se do raciocínio que se 
remonta do efeito à causa. 
A priori - Segundo um princípio anterior, admitido como evidente; antes de 
argumentar, sem prévio conhecimento. 
 
39 
 
Apud - Em, junto a, junto em. Emprega-se em citações indiretas, isto é, citações 
colhidas numa obra. 
Carpe Diem - "Aproveita o dia". (Aviso para que não desperdicemos o tempo). 
Horácio dirigia este conselho aos epicuristas e gozadores. 
Curriculum Vitae - Conjuntos de dados relativos ao estado civil, ao preparo 
profissional e às atividades anteriores de quem se candidata a um emprego. 
Data venia - Concedida a licença, com a devida vênia. É uma expressão 
respeitosa com que se inicia uma argumentação discordante da de outrem. 
Dura lex, sed lex - "A lei é dura, mas é lei.". Prega o princípio de que mesmo 
as leis mais draconianas precisam ser seguidas e cumpridas; se a parte não concorda 
com a lei, deve então procurar alterá-la, mas não a descumprir. 
Et cetera (ou Et caetera) (abrev.: etc.) - E as outras coisas, e os outros, e 
assim por diante. Apesar de seu sentido etimológico (= e outras coisas), emprega-se, 
atualmente, não somente após nomes de coisas, mas também de pessoas, como 
expressão continuativa. 
Exempli gratia (abrev. e.g.) - Por Exemplo. É expressão sinônima de verbi 
gratia (abrev.: v.g.). 
Habeas Corpus - "Que tenhas o corpo". Meio extraordinário de garantir e 
proteger todo aquele que sofre violência ou ameaça de constrangimento ilegal na sua 
liberdade de locomoção, por parte de qualquer autoridade legítima. 
Habeas Data - "Que tenha os dados", "Que conheça os dados". Trata-se de 
garantia ativa dos direitos fundamentais, que se destina a assegurar: a)

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