Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EXENTÍSSIMO JUÍZO DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE TERESOPOLIS-RJ O ESPÓLIO DE JOÁOZINHO, representado por sua inventariante, MARIA DE JESUS, brasileira, viúva, portadora da cédula de identidade de nº 11.111.111-1, expedida pelo DETRAN-RJ, inscrita no CPF sob o nº 111.111.111-11, residente e domiciliada na Rua Minas Gerais, nº 1, Servidão 9, bairro de São Pedro, Teresópolis, RJ CEP. 25956-025, sem endereço de e-mail, inventariante nos autos da ação de inventário de nº. 0015808-40.2016.8.19.0061, na qual se discute a partilha dos bens de seu genitor JOÃOZINHO, por seus procuradores que esta subscrevem, todos com escritório situado na Rua Amaral Filho, 118, sala 101, Centro, Teresópolis, CEP nº 25915-050, vem, respeitosamente, perante a Vossa Excelência, propor, com fundamento nos artigos 9º, III, e 62 da Lei 8.245/1991, a presente AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO DE ALUGUEL, ENCARGOS E POR FALTA CONTRATUAL, COM PEDIDO LIMINAR DE ANTECIPAÇAO DOS EFEITOS DA TUTELA, CUMULADA COM COBRANÇA E COM DANOS MATERIAIS em face de MARIA DE CASSIA, brasileira, solteira, balconista, portadora da cédula de identidade nº 22.222.222-2, DETRAN/RJ inscrita no CPF sob o nº 22.222.222-22, endereço incerto e CASA FÁCIL LTDA., pessoa jurídica de direito privado, com estabelecimento na Rua Líbano, 18, Teresópolis - RJ, 28653-020, pelas razões de fato e de direito que, a seguir, articuladamente, passa a aduzir: I. DOS FATOS O imóvel situado na Rua Minas Gerais, 1, servidão 9, São Pedro, nesta cidade, foi dado em locação pelo Sr. JOÃOZINHO, (falecido em 04 de setembro de 2015) à locatária, para fins residenciais, a partir de 15 de dezembro de 2014, pelo prazo de 30 (trinta) meses, com aluguel atual de R$ 450,00 mensais, cabendo, ainda, a locatária, o pagamento dos encargos descritos no contrato conforme cópia anexa (documento 02). O mencionado contrato foi realizado por intermédio da empresa CASA FÁCIL LTDA, Segunda Ré, sendo inclusive escrito em papel timbrado da mencionada empresa conforme se depreende da cópia em anexo. Ocorre que após o falecimento do então Locador, a primeira Ré abandonou o imóvel, levando consigo as chaves da casa, e, ainda, deixando pertences guarnecidos em seu interior, sem deixar qualquer canal para contato. Cumpre informar que foi fácil a constatação do abandono, pois a representante do espólio é vizinha do imóvel dado em locação, filha do de cujus. Ao perceber o abandono da casa pela primeira ré, a representante do espólio questionou segunda Ré sobre o contrato de locação e os valores dos alugueis recebidos, ocasião na qual a segunda ré informou que o contrato não foi realizado pela empresa, e que, portanto, não teria qualquer responsabilidade sobre ele. Com o objetivo de elucidar a questão foi enviada uma carta por AR à empresa Ré no dia 19 de fevereiro de 2016 (anexo), que foi respondida no dia 24 de fevereiro de 2016, conforme cópia em anexo. Na resposta da carta, a segunda Ré alegou que não intermediou o contrato, tampouco recebeu aluguéis, mas tão só e unicamente prestou serviço de digitação do contrato de aluguel. Entretanto, a informação prestada pela segunda ré não corresponde à realidade. Isso porque a representante do espólio, na única vez que conseguiu contato por telefone com a primeira ré dentro de mais de um ano, foi informada pela primeira ré que ela apenas aguardava a ligação do funcionário da segunda Ré para proceder à entrega das chaves e a assinatura do termo final do contrato. Essa informação deixa claro que a resposta da segunda ré não encontra abrigo no guarda-chuva da verdade dos fatos. A verdade é, então, a de que a segunda ré participou da relação locatícia prestando serviços ao locador, hoje falecido. Assevera essa assertiva o fato de constar do instrumento de contrato a logomarca da segunda ré. Ora, excelência, se o serviço foi somente de digitação, não há motivos para que uma empresa vincule a sua marca ao contrato. Em verdade, a segunda ré, que reconhecidamente trabalha com administração de imóveis, prestava serviços ao falecido e administrava a locação do imóvel objeto da presente lide. Saliente-se, ainda, que a representante do espólio soube através de seu genitor, quando ainda vivo, que toda a administração da locação era realizada pela segunda Ré, inclusive o recebimento e repasse dos aluguéis, sendo descontada uma porcentagem a título de pagamento pelos serviços prestados. Mister, entretanto, ressaltar que o de cujus era pessoa humilde, sem estudo ou instrução formal. Assim sendo, a segunda ré firmou contrato verbal com o de cujus para a administração do bem imóvel, razão pela qual a representante do espólio não tem o contrato de prestação de serviço firmado entre a segunda ré e o seu falecido pai. Importante também ressaltar que a representante do espólio não tem conhecimento de pagamento dos alugueis desde o óbito do então locador, ou seja, desde o mês de setembro de 2015. Assim sendo, a locatária deve ao autor os alugueres desde o mês de setembro do 2015 até a presente data, estando inadimplente há 12 (doze) meses. Não bastasse todo o alegado, o imóvel objeto do contrato de locação é, hoje, o único meio de renda disponível para dar andamento ao inventario de seu falecido proprietário, que corre na 2º vara cível desta comarca, sendo, desta forma, urgente que se determine o despejo da locatária e a consequente liberação do imóvel para nova locação, assim como o pagamento do débito remanescente. Importante apontar também que, devido ao abandono, o imóvel objeto do contrato está se deteriorando, com janelas quebradas e com infestação de ratos, o que põe em risco os moradores vizinhos. Nesse mesmo sentido, é bem provável que o imóvel esteja acumulando dívidas. Por fim, ressalta-se que foi tentado contato telefônico com a primeira ré através do n° (021) 99584-5848 para a solução do imbróglio. Contudo a primeira ré atendeu somente a primeira ligação dos patronos da representante do espólio e respondeu poucas mensagens de Whatsapp. Todas as outras tentativas de contato restaram infrutíferas. Quando a representante do autor tentou contato com a primeira ré, essa foi extremamente rude, a chamou de “otária” e passou a ignorar todos as demais tentativas de contato. Dessa forma, fica cristalino que não resta ao autor outra alternativa para ver seu direito tutelado, que não a tutela jurisdicional. II. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA Inicialmente, requer a representante do autor a concessão do benefício da Assistência Judiciária, uma vez que não tem condições no momento de arcar com as custas processuais, sem prejuízo do sustento próprio e de sua família, para tanto junta a última Declaração do Imposto de Renda, nos termos dos artigos 98 e seguintes do Código de Processo Civil. Nesse sentido, informa a autora que já lhe foi concedida a gratuidade de justiça nos autos da ação de inventário na qual figura como inventariante do de cujus, nesse caso, contratante enquanto vivo, por não ter meios de arcar com as custas processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do seu próprio sustento. III. DA REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL Figura na presente ação, como autor, o Espólio do Sr. JOÃOZINHO, representado pela sua respectiva inventariante, MARIA DE JESUS1. Dessa forma, a representação processual está adequada. Isso porque o Código Civil determina, em seu artigo 1.991, que “desde a assinatura do compromisso, até a homologação da partilha, a administração da herança será feita pelo inventariante”. 1 Capa, peça de abertura do Inventário, Primeiras Declarações e Termo de Inventariante em anexo. Da mesma sorte, o Novo Código de Processo Civil determina que é o inventariante o responsável pela representação judicial do espólio napersecução e defesa dos seus interesses. Art. 618. Incumbe ao inventariante: I - representar o espólio ativa e passivamente, em juízo o fora dele (...). II – administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência que teria se seus fossem; Assim sendo, atendidos os requisitos legais, tem-se por correta a representação processual do autor na presente ação. IV. DA COMPETÊNCIA No contrato de locação firmado entre as partes não há qualquer menção ao foro competente para o ajuizamento, processamento e julgamento das eventuais ações decorrentes da relação locatícia firmada. Desta feita, deve-se atender ao disposto no artigo 58, inciso III da Lei 8.248, de 1990, que determina ser o foro da situação do imóvel o competente para o julgamento das ações de despejo: Art. 58. Ressalvados os casos previstos no parágrafo único do art. 1º, nas ações de despejo, consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação, revisionais de aluguel e renovatórias de locação, observar - se - á o seguinte: (...) II - é competente para conhecer e julgar tais ações o foro do lugar da situação do imóvel, salvo se outro houver sido eleito no contrato; V. DA RELAÇÃO LOCATÍCIA E DO DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO E VIOLAÇÃO DO CONTRATO A relação locatícia entre autor e a primeira ré foi configurada quando da assinatura do contrato de locação2, momento no qual o autor se comprometeu a ceder imóvel de sua propriedade para que 2 Documento em anexo. a primeira ré o utilizasse para fins residenciais mediante pagamento de quantia previamente acordada. O objeto do contrato de locação foi a casa 02, do imóvel localizado na Rua Minas Gerais, nº 1, Servidão 9, Bairro de São Pedro, em Teresópolis, RJ3. O prazo do contrato firmado entre as partes é de 30 (trinta) meses, com início no dia 15 de dezembro do ano de 2014 e termo programado para o dia 14 do mesmo mês do ano de 20174. O valor do aluguel, quando firmado o contrato, era de R$ 450,00 (quatrocentos e cinquenta) reais, que deveriam ser pagos pelo locatário (ré) ao locador (espólio-autor) até o dia 15 (quinze) de cada mês, sendo possibilitado o seu respectivo reajuste pelo melhor índice permitido pelo governo à escolha do locador5. Também ficou convencionado entre o autor e a primeira ré que o não pagamento do aluguel e dos demais encargos na data acordada acarretaria multa de 2% (dois por cento) sobre o débito, mais juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês ou fração de mês sobre o valor devido pela locatária ao locador6. No mesmo contrato foram também ajustadas uma série de relações acessórias à relação locatícia, e.g. a obrigação da locatária de arcar com as despesas de IPTU, taxa de incêndio, luz, água e quaisquer outros serviços ou taxas cobrados pelas cessionárias, seguro obrigatório7; a obrigação da locatária de manter e conservar em perfeito estado o imóvel locado8; a reponsabilidade da locatária pelos prejuízos causados ao imóvel e seus respectivos pertences e dependências9; a obrigação da locatária de não modificar o imóvel sem autorização escrita do locador10. Por derradeiro, o contrato de locação firmado previu que: 3 Cláusula 1ª do Contrato de Locação. 4 Cláusula 2ª do Contrato de Locação. 5 Cláusula 3ª do Contrato de Locação. 6 Cláusula 5ª do Contrato de Locação. 7 Cláusula 7ª do Contrato de Locação. 8 Cláusula 8ª do Contrato de Locação. 9 Cláusula 9ª do Contrato de Locação. 10 Cláusula 11ª do Contrato de Locação. (...) o inadimplemento de quaisquer condições previstas no presente contrato importará na sua rescisão de pleno direito, respondendo a parte que lhe de causa pelas perdas e danos que ocorrerem.11 Fato é que, conforme já afirmado na narrativa dos fatos, a primeira ré, não obstante tenha firmado o contrato de locação no dia 15 de dezembro de 2014, logo após o falecimento do locador, que ocorreu no dia 04 de setembro de 2015, trancou o imóvel, saiu da cidade de Teresópolis-RJ e deixou de pagar os alugueres e as taxas e encargos acessórios. Desta sorte, a primeira ré deixou de pagar ao espólio autor a quantia de R$ 6.654,88 (seis mil seiscentos e cinquenta e quatro reais e oitenta e oito centavos) referente aos alugueres dos meses de setembro do ano de 2015 até setembro de 2016, já somados os juros moratórios e a multa contratual por inadimplemento12. Por esta razão, justificam-se tanto o despejo por falta de pagamento como a cobrança da totalidade do valor devido pela ré ao autor. No mesmo diapasão, a primeira ré, ao abandonar o imóvel e deixar que ele se deteriorasse, que ficasse com janelas quebradas, por exemplo, e ao não pagar as taxas acordadas no contrato infringiu as obrigações acessórias do contrato, descumprindo-as. Nesse sentido, justifica-se também o despejo por infração contratual. A Lei de locações é cristalina ao permitir essas duas modalidades de despejo, mesmo nos contratos por prazo determinado. Vejamos o que diz o artigo 9º da Lei 8.245/1991: Art. 9º A locação também poderá ser desfeita: (...) II - em decorrência da prática de infração legal ou contratual; III - em decorrência da falta de pagamento do aluguel e demais encargos; 11 Cláusula 11ª do Contrato de Locação. 12 Tabela de cálculo em anexo. Assim sendo, mesmo nos contratos por prazo determinado, quando da infração da cláusula contratual e do não pagamento, pode o locador requerer o despejo do locatário. Por fim, é imperioso ressaltar que a representante do autor tentou, por diversas vezes, contato com a primeira ré, seja por telefone seja por seu advogado, e que a ré estava ciente da necessidade do pagamento ou da consequente desocupação do imóvel. VI. DA TUTELA DE URGÊNCIA E DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA Conforme já dito, a primeira ré, além de não pagar os alugueres devidos ao autor, deixou o imóvel há cerca de um ano, nele não realizando as manutenções necessárias à sua conservação. Desta feita, a casa, que, na data da locação estava em perfeito estado, hoje encontra-se com diversos vidros das janelas quebrados, sujeita à ação do tempo e à deterioração, com ninhos de rato e baratas. É de conhecimento geral que a cidade de Teresópolis, aonde a casa foi edificada, situa-se na zona tropical temperada, cravada no meio da Mata Atlântica, local de muita chuva e umidade. Assim sendo, a existência de vidros quebrados e a falta de manutenção preventiva periódica do imóvel objeto da presente lide o sujeitam a forte deterioração, que pode, em pouco tempo, gerar o seu perecimento. Além disso, os ratos são espécie de praga urbana conhecida por destruir imóveis, roendo-lhe os fios, as paredes e até mesmo os móveis. Essas pragas podem, inclusive, causar doenças aos moradores das casas próximas à alugada. Por todos esses motivos, quais sejam a ação do tempo e das chuvas e também das pragas urbanas, é claro o risco de perecimento do bem e, consequentemente, do direito do autor, que, se não atendido na sua pretensão liminar, pode “ganhar, mas não levar” o bem que já é seu por direito, mas que está locado à primeira ré. O Novo Código de Processo Civil, atento à necessidade pontual de, em alguns casos, permitir a proteção de direitos sujeitos ao perigo ou ao dano, previu a possibilidade da concessão, pelo juiz, da tutela de urgência. Essa tutela deve ser concedida, segundo o artigo 300 do CPC, nos casos em que restarem verificados “elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”13. Em verdade, o Código de Processo Civil foi além: ele previu a possiblidade da concessão liminar da tutela de urgência, ressalvado isso naqueles casos nos quais a decisão da concessãolimiar da tutela torne irreversível os efeitos da decisão14. Ora, no caso em tela não existe qualquer possibilidade de irreversibilidade da decisão judicial liminar, vez que, mesmo após o deferimento da tutela de urgência em caráter liminar, por força da antecipação dos efeitos da tutela, se purgada a mora pela primeira ré, poderá o juízo determinar que a primeira ré volte a ocupar o imóvel. Assim sendo, ante a atual deterioração do bem e a clara possibilidade do seu respectivo perecimento, ante a necessidade de realização das obras necessárias à conservação e ao reparo bem imóvel – diga-se de passagem, única herança deixada pelo falecido aos seus sucessores –, resta configurada a necessidade da concessão da tutela de urgência e da antecipação dos efeitos da tutela em caráter liminar inaudita altera pars para a proteção do direito do autor. VII. DA MULTA CONTRATUAL, DO DANO MATERIAL CAUSADO PELA PRIMEIRA RÉ O contrato firmado entre as partes prevê que, se descumpridas as cláusulas contratuais, deverá a primeira ré pagar a autora o valor referente a 03 (três) meses de aluguel, sem prejuízo das perdas e danos a título de multa contratual. Desta sorte, deve a primeira ré pagar à autora a importância de R$ 1.350,00 (mil trezentos e cinquenta) reais pela infração das cláusulas contratuais ofendidas. Além disso, deve também a primeira ré ser responsabilizada por todos os danos causados ao imóvel pela sua omissão na conservação do bem. Esse valor, entretanto, só será trazido aos autos quando da concessão da liminar que conceder a antecipação 13 Artigo 300 do Código de Processo Civil. 14 Artigo 300 do Código de Processo Civil, dos efeitos da tutela por força da tutela de urgência e que permitir que a representante do autor entre no imóvel e faça as devidas avaliações dos danos causados que, por hora, são imensuráveis pela sua extensão. Assim sendo, é direito do autor exigir que a primeira ré seja condenada ao pagamento da multa contratual acordada, bem como ao pagamento dos danos materiais por ela causados ao bem imóvel objeto da presente lide. VIII. DA RELAÇÃO DE CONSUMO COM A SEGUNDA, DO DANO MATERIAL CAUSADO PELA SEGUNDA RÉ E DA SOLIDARIEDADE Conforme afirmado na narrativa dos fatos, o de cujus e a segunda ré mantinham relação de consumo pela qual a segunda ré redigiu o contrato de locação do imóvel objeto da presente lide para o de cujus, recebia os valores dos alugueres e repassava esses valores, descontada a respectiva comissão de administração para o falecido. O contrato firmado entre o de cujus e a primeira ré, que contém o nome e a marca d’água do segundo réu, faz prova da relação de consumo que se evidencia. A relação de consumo, como é de conhecimento deste MM. Juízo, é pautada, de um lado, pela existência de um consumidor, por outro, pela existência de um fornecedor de bens ou serviços e pela prestação, que pode ser tanto um produto como um serviço. É nesse sentido que dispõem os artigos 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor: Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Nesse prisma, se analisada a reação entre o locador e a segunda ré à luz das regras do direito pátrio, veremos que, de um lado está a prestadora de serviços (segunda ré), pessoa jurídica de direito privado, que presta serviços aos consumidores; de outro está o consumidor (de cujus), pessoa física, que busca o fornecedor de serviços para obter o bem da vida; e que, entre esses dois, há uma relação jurídica, que vincula uma prestação, qual seja a da prestadora de serviços (segunda ré) a administrar e fiscalizar o contrato de locação apresentado. Assim sendo, não restam dúvidas quanto a natureza da relação entre as partes envolvidas. A relação é de consumo, vez que o falecido se utilizava dos serviços prestados pela segunda ré para locar e administrar o seu bem imóvel, que foi alugado à primeira ré por meio de um contrato feito pela segunda ré. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro já se posicionou pelo reconhecimento da relação do locador com a administradora de imóveis como relação de consumo. Vejamos: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CÂMARA CÍVEL. CÂMARA ESPECIALIZADA DO CONSUMIDOR. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ENTRE ADMINISTRADORA DE IMÓVEIS E O PROPRIETÁRIO LOCADOR DO BEM. RELAÇÃO DE CONSUMO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITANTE. Ação indenizatória ajuizada por locador de imóveis em face de empresa administradora de imóveis com fundamento em alegada retenção indevida de verbas locatícias recebidas pela ré durante a prestação dos serviços contratados. Enunciado nº 50 do Aviso TJ-RJ nº 15/2015: "Compete às Câmaras Cíveis Especializadas o julgamento de demanda atinente a contrato de prestação de serviços, estabelecida entre administradora de imóveis, sociedade empresária, e a proprietária, locadora do bem." Conflito improcedente, fixada a competência da 25ª Câmara Cível, Juízo suscitante.15 Em outro julgado, o mesmo Tribunal reconheceu que a administradora de imóveis pode ser responsabilizada pelos prejuízos que, causados ao locatário, decorram diretamente do descumprimento do mandato outorgado e, consequentemente, da falha na prestação do serviço: 15 TJ-RJ - CC: 00500977720158190000 RJ 0050097-77.2015.8.19.0000, Relator: DES. RICARDO RODRIGUES CARDOZO, Data de Julgamento: 18/09/2015, OE - SECRETARIA DO TRIBUNAL PLENO E ORGAO ESPECIAL, Data de Publicação: 23/09/2015 19:22. AGRAVO INTERNO. AÇÃO ORDINÁRIA DE RESSARCIMENTO DE PERDAS E DANOS. CONTRATO DE ADMINISTRAÇÃO DE IMÓVEIS. RELAÇÃO DE CONSUMO. APLICAÇÃO DA LEI Nº 8078/90 E DAS NORMAS DO CÓDIGO CIVIL QUE REGEM O CONTRATO DE MANDATO. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DA IMOBILIÁRIA PELO DESCUMPRIMENTO DO CONTRATO. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL, CONFORME ART. 206, §5º, INCISO I, DO CC. JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE. AGRAVO INTERNO. IMPROVIMENTO.16 Assim sendo, incontroverso que a relação entre o locador e a administradora de imóveis (segunda ré) era de consumo pela prestação do serviço de administração do contrato de locação, feito pela segunda em favor o primeiro. Nesse diapasão, é mister ressaltar que a não verificação do pagamento dos alugueres implica na responsabilização da prestadora de serviço por falha na prestação. Ora, excelência, se uma empresa é contratada para administrar um contrato de locação, nada mais razoável do que presumir que a empresa contratada fiscalize o pagamento das parcelas dos alugueres, notifique a locatária e busque, de todas as formas, preservar os interesses do contratante consumidor. Ocorre que, no caso que ora se discute, após o falecimento do locador, a segunda ré deixou de cumprir com as suas obrigações, não fiscalizando o devido cumprimento do contrato, o que acarretou em significativas perdas para o espólio do de cujus. Além disso, a segunda ré também deixou de verificar a realização de obras de manutenção pela primeira ré no imóvel locado, o que gerou para o espólio substancial prejuízo ainda a ser apurado17. 16 TJ-RJ- Agravo Interno - Apelação Cível Nº 0017649-42.2012.8.19.0037. Agravante: Domus Administradora Ltda. Agravado: Evandro Vahia De Abreu. Relator: Des. Flávio Marcelo De Azevedo Horta Fernandes. Data Do Julgamento: 16 De Setembro De 2015. Data Da Publicação: Data: 24/09/2015. 17 Esse prejuízo será apurado quando do deferimento da liminar de despejo, quando será realizada a vistoria do imóvel e serão oferecidos a esse MM. Juízo três orçamentos com os valores dos serviços que devem ser realizados. Toda essa negligência da segunda ré implica na sua responsabilidade objetiva pelo não cumprimento das suas obrigações, na forma do Código de defesa do Consumidor Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. (...) § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. O autor sempre esperou que a segunda ré cumprisse com todas as suas obrigações, honrando a confiança que lhe foi depositada e administrando o contrato de locação a ela oferecido dentro dos limites da boa-fé. Ocorre que, de maneira diversa, a segunda ré deixou de cumprir com a sua prestação, vez que, diante do inadimplemento das parcelas dos alugueres, não procurou a primeira ré, não a notificou, ou não adotou qualquer providência para diminuir os prejuízos experimentados pelo autor. Dessa forma, entende-se que a segunda ré deve responder solidariamente com a primeira ré pelos danos causados ao autor que derivem da omissão na fiscalização do cumprimento do contrato do imóvel administrado. Vejamos o que diz o Superior Tribunal de Justiça: AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 253.101 - SE (2012/0234952-3) RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO AGRAVANTE : LEGISLAR ADMINISTRADORA DE IMÓVEIS LTDA ADVOGADO : WELLINGTON SABACK RIBEIRO JÚNIOR E OUTRO (S) AGRAVADO : ISAC ANDRADE DE CARVALHO ADVOGADO : THIAGO SOUZA ALCÂNTARA INTERES. : ANDRÉA AUGUSTA SILVA DE FREITAS CIVIL E PROCESSO CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. CONTRATO DE LOCAÇÃO COM OPÇÃO DE COMPRA DO IMÓVEL. DANOS MATERIAL E MORAL. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. REVISÃO DA CONCLUSÃO DA CORTE LOCAL. SÚMULA 05 E 07 DO STJ. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AOS ARTS. 48 DO CPC E 350 DO CC. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. AGRAVO CONHECIDO PARA, DESDE LOGO, NEGAR SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL. (...) Dito isso, constata-se que, no caso dos autos, detém a Legislar Administradora de Imóveis Itda, legitimidade para figurar no pólo passivo da demanda sub examine, isto porque, foi contratada pela proprietária do imóvel em análise, para administrá-lo, percebendo, inclusive, remuneração pelos serviços prestados. É o que se extrai da cláusula 2ª. do Contrato de Administração colacionado às fls.42-45 (fls. 328) E ainda: Aduz a Apelante, Inexistir obrigação solidária, uma vez que apenas agiu como mera mandatária da proprietária do imóvel quando da feitura do contrato de locação, sustentando a inexistência de ato lesivo a ensejar o pleito indenizatório. No que diz respeito ao argumento recursal de inexistência de obrigação solidária, ao analisar a preliminar de Ilegitimidade Passiva argüida pela Apelante, manifestei-me no sentido de que a Legislar Administradora de Imóveis Ltda detém legitimidade para figurar no pólo passivo da demanda sub examine, isto porque, foi contratada pela proprietária do imóvel em análise, para administrá-lo, percebendo, inclusive, remuneração pelos serviços prestados. (...) Brasília (DF), 29 de outubro de 2014. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO Relator.18 Caso esse MM. Juízo não entenda pela possibilidade da aplicação do Código de Defesa do Consumidor no caso em tela, sob a alegação de que a relação entre o autor e a ré é de mandato, salientamos que a segunda ré, como mandatária do autor na locação do imóvel objeto da presente lide, se sujeita à aplicação do artigo 667 do Código Civil, que colacionamos: Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente. 18 STJ - AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL : AREsp 253101 SE 2012/0234952-3. Disponível em <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/153616102/agravo-em-recurso-especial-aresp-253101-se-2012- 0234952-3>. Acesso em 22 de setembro de 2016. Desta sorte, seja de um modo ou de outro, a segunda ré deve responder solidariamente com a primeira ré pela totalidade dos valores devidos ao autor, que só se tornaram devidos pela omissão da segunda ré na fiscalização do contrato de locação. Como dito na narrativa dos fatos, o autor, pela sua representante, entrou em contato com a segunda ré tão logo percebeu o não pagamento dos alugueres devidos pela primeira ré. Nessa ocasião, foi enviada carta com Aviso de Recebimento. A segunda ré, entretanto, no intento de se esquivar da responsabilidade que a ela é imputada, respondeu que não tinha qualquer responsabilidade para com o autor, contudo não apresentou qualquer prova que ilidisse os deveres oriundos da administração do imóvel. É fato que a segunda ré e o de cujus tinham contrato verbal, visto que o falecido era pessoa humilde, de pouco estudo e que confiava na segunda ré para a administração dos seus bens. Todavia, o Código Civil admite os contratos verbais e as obrigações deles advindas. O que o Códex não admite é a má fé no intento de se esquivar das responsabilidades contraídas. IX. DO ÔNUS DA PROVA No contexto da presente demanda, há possibilidades claras de inversão do ônus da prova em relação a segunda ré ante a verossimilhança das alegações, conforme disposto no artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor. Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, seguindo as regras ordinárias de expectativas. Desse modo, cabe ao segundo réu demonstrar provas em contrário ao que foi exposto pela Autora. Resta informar ainda que algumas provas seguem em anexo. X. DAS PROVAS Requer-se provar o alegado pela produção de prova documental, documental superveniente, pericial, depoimento pessoal do réu e testemunhal. XI. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO Nos termos do art. 334, § 5º do Código de Processo Civil, o autor desde já manifesta, pela natureza do litígio, o interesse em autocomposição. XII. DO PEDIDO Isto posto, requer que esse MM. Juízo se digne a: a) Citar a primeira ré, por oficial de justiça, no endereço do imóvel locado (último endereço conhecido), com os permissivos do artigo 212 § 2º, do Código de Processo Civil, para que, no prazo da lei, purgue a mora, na forma prevista no artigo 62 da Lei 8.245/1991, mediante depósito judicial atualizado do débito discriminado na planilha anexa, inclusive prestações vincendas, custas e honorários de advogado no patamar de 10% do valor do débito, nos termos da letra “d” do inciso II do art.62 (somente para o caso de emenda de mora), ou ofereça a defesa que tiver, sob pena de aplicar- lhe os efeitos da revelia; a.1.) Caso não seja possível a citação por oficial de justiça, citar a ré por meio de Telefone, ou WhatsApp, no número (21) 96708-6989, sob pena de revelia e confissão, já que é o único meio de comunicação ultimamente utilizado pela primeira ré; a.2.) E ainda, não se obtendo êxito na citação pelos meios antes citados, como medida última, requer a Citação editalícia da primeira ré, a fim de contestar os termos da presente; b) Citar a segunda ré para que, querendo, ofereça resposta à inicial, sob pena de aplicação dos efeitos da revelia; c) Expedir mandado de verificação para que seja verificado, pelo oficial de justiça, a atual condição do imóvel, vez que alegadamente vazio; d) Determinar a antecipação dos efeitos da tutela e o consequente despejo liminar da primeira ré, observada a tutela de urgência em razão da deterioração e possível perecimento do bem imóvel, caso não purgada a mora no prazo legal; e) Determinar a inversão do ônus da prova em relação a segunda ré; f) Condenar a primeira ré no pagamento do débito composto pelos aluguéis e encargos acrescidos de juros e correções, até o momento efetivo da desocupação, nos termos do art. 62, I, da Lei 8.245/1991, caso não seja purgada a mora, ao final, procedente a ação, declarando a extinção da relação ex-locato, decretando o despejo; g) Condenar a primeira ré no pagamento da multa contratualmente prevista no valor de R$ 1.350,00 (mil trezentos e cinquenta reais), com juros a partir da data da citação; h) Condenar a primeira ré no pagamento do valor necessário à restauração do imóvel a título de dano material; i) Condenar a segunda, solidariamente com a primeira ré, no pagamento de todos os valores oriundos da sua respectiva omissão na fiscalização do contrato, quais sejam os débitos locatícios, a multa contratual, e o dano material. j) Condenar a primeira e a segunda ré no pagamento dos honorários advocatícios na proporção de 10% do valor da condenação, conforme a Lei de Locações. XIII. DO VALOR DA CAUSA Dá-se à causa, o valor de R$ 5.400,00. Termos em que, pede deferimento. Teresópolis, RJ, 22 de setembro de 2016. Justo Leal OAB-RJ 171.171
Compartilhar