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30 de novembro - 2 de dezembro de 2005 Alberto Moreira Jorge Jr. Walter José Botta Filho LCE - DEMa - UFSCar São Carlos Introdução à Microscopia Eletrônica de Varredura e Microanálise 1 Microscopia Eletrônica de Varredura e sua Utilização na Resolução de Problemas Industriais Alberto Moreira Jorge Junior Walter José Botta Filho Índice 1. Introdução 2. Microestruturas de interesse em Engenharia 2.1 Estrutura de grãos 2.2 Microestruturas bi ou multi-fásicas 2.3 Materiais amorfos, nanoestruturados e semi-cristalinos 2.4 Microestruturas de fusão/solidificação 2.5 Microestruturas de deformação plástica 2.6 Microestruturas de tratamentos térmicos e termo-mecânicos 2.7 Microestruturas de sinterização 2.8 Superfícies e interfaces 3. Microscopia eletrônica de varredura 3.1Fontes de elétrons (filamentos e canhões) 3.2 Lentes eletromagnéticas 3.3 Sistema de iluminação 3.4 Sistema ótico-eletrônico no MEV 3.5 Interação feixe-amostra 3.6 Detecção de sinais 3.7 Mecanismos de contraste 3.8 Resolução e profundidade de foco e de campo 4. Microscopia eletrônica analítica 4.1 Espectro característico de emissão de raios-x 4.2 Interação elétron-matéria 4.3 Volume de interação 4.4 Espectroscopia por dispersão de energia (EDS) 4.5 Espectroscopia por dispersão de comprimento de onda (WDS) 4.6 Microanálise quantitativa por raios-x 4.7 Princípios e fatores de correção: ZAF e ΦρZ 4.8 Microanálise de elementos leves 4.9 Mapeamento por raios-X 5. Difração em MEV: EBSD (electron back-scattered diffraction) 6. Aplicações de MEV na resolução de problemas industriais 7. Técnicas de preparação de amostras 2 Microscopia Eletrônica de Varredura e sua Utilização na Resolução de Problemas Industriais 1. Introdução As microestruturas determinam muitas das propriedades de interesse para os materiais e sua formação depende fundamentalmente da composição química e do processamento. Neste contexto, a microscopia eletrônica de varredura, cada vez mais freqüentemente associada à microanálise eletrônica, tem um papel de enorme relevância pelas possibilidades de analisar microestruturas e identificar fases e segregações químicas, que freqüentemente são associados a interfaces ou defeitos da estrutura. A microscopia eletrônica associada à microanálise, possibilita por exemplo, a visualização de detalhes da estrutura, mesmo em dimensões nanométricas e a análise química localizada na região de interesse; a importância destes aspectos na resolução de problemas industrias é que será enfatizada neste curso. 2. Microestruturas de interesse em Engenharia Os materiais para uso em engenharia podem ser cristalinos, semi- cristalinos ou amorfos; porém no caso de materiais metálicos, na maioria das vezes são policristalinos, formados por muitos “grãos”. Neste capítulo apresentamos alguns dos aspectos de importância associada às microestruturas e algumas microestruturas de interesse em engenharia. Apesar de uso relativamente restrito, materiais monocristalinos podem ser também utilizados em aplicações estruturais. Nestes casos, as características de importância incluem orientação, defeitos de linhas e puntuais e existência de estruturas ordenadas. Entretanto, estas são características que tipicamente não podem ser avaliadas através das técnicas associadas à microscopia eletrônica de varredura. 3 2.1 Estrutura de grão Em um sistema homogêneo um grão é uma região de mesma orientação, diferindo da orientação da região vizinha; em um sistema heterogêneo, além da orientação deve-se também considerar possíveis diferenças de estrutura e de composição química. A Fig.2.1 esquematiza em (a) o desarranjo atômico no encontro de duas regiões com diferentes orientações e em (b) e (c) contornos com diferentes graus de desorientação, acomodados por redes de linhas de discordâncias. (a) Fig.2.1 (b) (c) Fases são os constituintes dos grãos, e podem ser cristalinas, amorfas, soluções sólidas e compostos. A estrutura cristalina, composição e fração volumétrica de cada fase varia de modo que a energia livre do sistema em equilíbrio é mínima. Deste modo as microestruturas de materiais cristalinos são definidas pelo tipo, estrutura, número, forma e arranjo topológico das fases e / ou defeitos da rede, os quais na maioria dos casos não são parte da estrutura de equilíbrio termodinâmica. Em um sistema homogêneo com cristais de diferentes formas e tamanhos, porém com composição e estrutura macroscopicamente idênticas, os contornos de grão possuem uma energia interfacial positiva e sua existência não corresponde ao estado de menor energia mas sim determinado pela história do cristal (p.ex., cristalização durante solidificação que ocorre a partir de muitos núcleos que se unem). Na condição de equilíbrio termodinâmico um material não teria contornos de grão. Deste modo a 4 microestrutura pode ser caracterizada como todos os defeitos da rede que não estão em equilíbrio termodinâmico Nos policristais, o controle do tamanho de grão é um dos meios mais utilizados para otimizar propriedades de materiais. Obviamente, além do tamanho de grão, os contornos de grão desempenham um papel de grande importância nas propriedades e vários modelos tentam descrever os contornos de grão. Este modelos geralmente são divididos em dois grupos; o de linhas de discordâncias (ou “desclinações”) e o de ajuste atômico (atomic- matching). O modelo de linhas de discordâncias é uma extensão do modelo de contorno de baixo ângulo, onde linhas de discordâncias são espaçadas uniformemente no plano do contorno; supõe-se que uma interface de baixa- energia é formada pela interação dos campos de deformação das LD nos dois grãos, como mostrado nas Figs.2.1 (b) e (c). O modelo de ajuste atômico (atomic-matching) utiliza o conceito de sítios coincidentes (coincident site lattice, CSL). Uma rede de sítios coincidentes é formada por sítios das redes dos dois cristais formando um contorno que coincidem se os cristais forem superpostos. Σ é o recíproco da densidade de sítios coincidentes em relação aos sítios do cristal na rede de cristal superposta; em algumas situações especiais, Σ é pequeno, para orientações arbitrárias Σ → ∞ e não existe CSL. Por este modelo (Fig.2.2), quanto menor Σ menor é a célula unitária do CSL e maior o número de sítios coincidentes por volume. Este modelos tornam-se importantes quando tentamos associar propriedades com um determinado tipo de contorno, como será visto no uso da técnica de difração associada ao microscópio eletrônico de varredura, EBSD. 5 Fig.2.2. Modelo CSL, as posições escuras coincidem nos dois grão quando estes forem superpostos. Finalmente, devemos mencionar a importância de caracterização de interfaces; estas surgem naturalmente como uma parte integral de muitos materiais e podem ser classificadas em quatro tipos: (1) em compósitos pela distribuição de partículas ou de fibras de reforço numa matriz metálica, cerâmica ou polimérica; (2) separando as regiões de estrutura cristalina e de composição química diferente nos materiais bifásicos ou multifásicos; (3) em contornos de grão, em materiais monofásicos, policristalinos e (4) nos materiais poliméricos, em relação a separação entre segmentos de uma mesma cadeia macromolecular, como no exemplo de regiões cristalinas e amorfas dos polímeros semicristalinos, ou no exemplo da formação de domínios nos copolímeros de bloco. A importância de interfaces na determinação de propriedades e desempenho dos materiais é bastante óbvia, e podemos citar na catálise, sinterização, recobrimentos, junções, oxidação, propriedades mecânicas e tenacidade. As interfaces são caminhos preferenciais para fratura, podem controlar fluência através de escorregamento, possibilitam rápida difusão, facilitamreatividade química e ataque preferencial. Dois aspectos importantes associados à interfaces são migração e segregação. 2.2 Microestruturas bi ou multi-fásicas Nos policristais consideramos ainda os contornos de sub-grão ou contornos de baixo-ângulo; que são interfaces entre cristais que diferem em orientação somente alguns graus. Contornos deste tipo consistem de uma rede periódica, bidimensional de linhas de discordâncias, separadas por 6 regiões livre de defeitos da rede. A razão física para formação de contornos de baixo-ângulo é o cancelamento do campo de deformação de longo alcance das LD contornos de alto/baixo ângulo. A Fig.2.3(a) esquematiza um contorno de baixo ângulo, indicado na micrografia ótica da Fig.2.3(b). (a) (b) Fig.2.3 Inúmeras microestruturas bi- ou multi-fásicas são encontradas nos materiais de engenharia. Por exemplo, a Fig.2.4 mostra a micrografia de um aço inoxidável austenítico duplex onde duas fases, neste caso, com diferentes estruturas cristalinas podem ser visualizadas. A caracterização de outras microestruturas deste tipo também serão abordadas neste curso. Fig.2.4 2.2 Materiais amorfos, nano-estruturados e semi-cristalinos Esta classe de materiais, apesar do desenvolvimento recente, já encontra exemplos de utilização em engenharia, podendo-se mencionar a utilização de fitas amorfas ou nano-estruturadas (parcialmente amorfos), de ligas a base de Fe, que apresentam excelentes propriedades magnéticas. 7 A Fig.2.5 apresenta uma micrografia deste tipo numa liga Al90Fe5Nd5, onde cristais de dimensões nanométricas de alumínio primário encontram-se distribuídos em uma matriz ainda amorfa. Fig.2.5 Outros exemplos de metais nanoestruturados, encontram-se nas micrografias obtidas por MEV da Fig.2.6. Fig.2.6 2.3 Microestruturas de fusão / solidificação Em microestruturas decorrentes dos processos de fusão / solidificação as informações microestruturais de interesse, estão freqüentemente 8 associadas a dendritas, segregação ou inclusões; exemplos são apresentados na Fig.2.7. Fig.2.7 2.4 Microestruturas de deformação plástica Em microestruturas decorrentes de processos de deformação plástica, o interesse de caracterização microestrutural e analítica está associado à identificação química de precipitados em discordâncias e contornos de subgrão. 9 2.5 Microestruturas de tratamentos térmicos e termo-mecânicos Também em microestruturas decorrentes de tratamentos térmicos e termo-mecânico o interesse microestrutural e analítico está associado à presença e distribuição de precipitados; exemplos mostrado na Fig.2.8. (a) (b) Fig.2.8 (a) Precitados de nitreto de titânio em Nb; (b) estrutura martensítica em aços. 2.6 Microestruturas de sinterização Em microestruturas de sinterização, a presença de fase líquida (vítrea) e sua identificação química é de grande interesse. Fig.2.9. Fig.2.9 2.7 Superfícies e interfaces Finalmente, em superfícies de fratura o interesse microestrutural e analítico pode estar associado à análise de segregação de elementos que causam fragilidade. 10 3. Microscopia eletrônica de varredura O microscópio eletrônico de varredura (MEV) é geralmente utilizado para observações de amostras espessas, ou seja, basicamente não transparentes a elétrons. A razão principal de sua utilização está associada a alta resolução que pode ser atingida, tipicamente da ordem de 3.0 nm, e a grande profundidade de foco, da ordem de 300 vezes melhor que a do microscópio ótico, resultando em imagens com aparência tri-dimensional. Informações topológicas são obtidas utilizando-se elétrons de baixa energia, da ordem de 50eV e informações sobre número atômico ou orientação são obtidas utilizando-se elétrons de alta energia. Pode-se ainda obter informações sobre domínios em amostras magnéticas ou utilizar sinais devido a condutividade induzida pelo feixe de elétrons e luz catodoluminescente, para a caracterização e análise de falhas de dispositivos semi-condutores. Além disto, o MEV possibilita a obtenção de informações químicas em áreas da ordem de microns. O MEV consiste basicamente de uma coluna ótico eletrônica, da câmara para a amostra, sistema de vácuo e controle eletrônico e sistema de imagem. Estes componentes são esquematizados na Fig.3.1. As imagens no MEV são construídas ponto a ponto, de modo similar a formação de uma imagem de televisão. Um feixe de elétrons de alta energia é focalizado num ponto da amostra, o que causa emissão de elétrons com grande espalhamento de energia, que são coletados e amplificados para fornecer um sinal elétrico. Este sinal é utilizado para modular a intensidade de um feixe de elétrons num tubo de raios catódicos (TRC). Para construir a imagem completa, o feixe de elétrons é varrido sobre uma área da superfície da amostra enquanto que um feixe no TRC é varrido sincronicamente sobre um rastro geometricamente similar. A Fig.3.2 esquematiza uma varredura linear sobre uma superfície irre- gular, com as possíveis trajetórias dos elétrons utilizados para formar a imagem e a relação de aumento. Pode-se perceber que muitos elétrons não 11 conseguirão atingir o detector e para formar a imagem a intensidade do feixe no TRC é modulada proporcionalmente à intensidade do sinal de elétrons. A imagem observada será portanto equivalente a posicionarmos nossos olhos na linha do detector, com o feixe de elétrons iluminando a amostra. O aumento é simplesmente a relação entre o comprimento da linha de varredura sobre a amostra e o comprimento da linha de varredura sobre o TRC. Aumentos maiores são obtidos com a diminuição da área varrida sobre a superfície da amostra. Fonte de Elétrons Lente Condensadora 1 Lente Condensadora 1 Lente Objetiva Coluna Óptica Eletrônica Gerador de Varredura Controle de Aumento Pré-amplificador Bobinas de Varredura Detetor Elétrons Secundário Elétrons Retro-Espalhados Vídeo TCR p/ Imagem TCR p/ Registro Amplificador de VídeoAmostra Câmara p/ amostra Sistema de Vácuo Controle Eletrônico e Sistema de Imagem Câmera Fotográfica Fig.3.1. Componentes básicos de um MEV. Fig.3.2. Varredura linear sobre uma superfície irregular; formação da imagem e relação de aumento. Sinal de elétrons secundários Rastro sobre a superfície da amostra a a 1 2 4 3 5 3 4 5 Amostra Imagem no vídeo do TRC 1’ 2’ 3’ 4’ 5’A A Há vários modos de operação em um MEV que dependem da informação desejada. Se for necessário imagens com grande profundidade de campo então deve-se usar um pequeno ângulo de convergência, de forma que 12 diferentes alturas em uma superfície irregular estejam todas em foco. Isto pode ser conseguido usando uma abertura de objetiva pequena ou uma grande distância de trabalho. Porém, quando for necessário o uso de microanálise por raios-X devem ser usadas correntes de feixe de pelo menos 10-10 ampéres para EDX e pelo menos 10-8 ampéres para WDS. Uma corrente mais alta reduz o ruído na imagem. Porém, o diâmetro do feixe aumenta quando as lentes são ajustadas para dar corrente mais alta e, assim, a resolução espacial na imagem de elétrons fica comprometida. Assim, existe um compromisso entre uma boa taxa de contagem e imagens de baixo ruído e a capacidade para a visualização de detalhes finos na amostra. Se for necessário imagens de elétrons secundários de alta resolução, então o tamanho do feixe e a distância de trabalho devem ser pequenos. Isto pode ser conseguido usando uma forte polarização das lentes condensadora e objetiva. Porém, isto limitará a corrente do feixe e, assim, as imagens podem aparecer ruidosas. 3.1 Fontes de elétrons (filamentos e canhões) 3.1.1 Canhão eletrônico O propósitodo canhão é fornecer uma fonte estável de elétrons atingindo a amostra. O canhão tradicional utiliza um filamento aquecido de tungstênio como fonte de elétrons e um dispositivo tipo Wehnelt que, desempenhando as funções de uma lente eletrostática, converge os elétrons emitidos e acelerados numa certa região entre filamento e anodo chamado "cross-over" (ver abaixo), Fig.3.3. A distribuição dos elétrons neste ponto representa a distribuição espacial dos elétrons emitidos do filamento neste momento. Tipicamente, o diâmetro deste crossover varia na faixa de 30 e 100 um para um filamento de tungstênio. O feixe incidente na amostra é uma imagem demagnificada deste crossover. Os três componentes deste tipo de canhão triodo são mantidos sob vácuo na câmara do canhão. O filamento ou cátodo que é mantido em um potencial negativo relativo ao potencial de terra, o ‘cilindro de Wehnelt ' ou 13 grade que é mantido a algumas centenas de volts relativo ao cátodo e o ânodo que é posicionado na base da câmara do canhão e mantido no potencial de terra. A distribuição dos elétrons nesta região do "cross-over" em função da temperatura do filamento pode ser observada na tela, formando uma "imagem do filamento" e é geralmente utilizada para determinar o ponto de saturação do filamento. Para uma dada configuração geométrica do canhão, o valor da intensidade no "cross-over" em condições de saturação depende do potencial de polarização. O cilindro de Whenelt é polarizado negativamente em relação ao filamento e atua como uma grade que repele os elétrons emitidos e os focaliza para um ponto (spot) de diâmetro do (denominado de 'diâmetro de fonte virtual') e ângulo de divergência igual a 2α. Portanto o canhão é essencialmente uma lente eletrostática que forma um feixe de elétrons de diâmetro do numa posição imediatamente abaixo do furo do anodo. (a) (b) Fig.3.3 (a) Parte da coluna onde encontra-se o canhão e (b) esquema do canhão de elétrons tradicional com filamento de tungstênio. A intensidade da tensão de polarização afeta tanto a forma do campo eletrostático entre a grade e o filamento como também o número de elétrons emitido pelo filamento para uma dada corrente aplicada ao filamento. O ânodo é mantido em um potencial de referência e então, os elétrons são acelerados de um alto potencial negativo no filamento para o ânodo. O furo no ânodo permite que uma certa proporção de elétrons sejam acelerados 14 para baixo na coluna em direção à amostra, por meio de uma combinação de lentes e aberturas. A diferença de potencial entre o filamento e o ânodo, que é a tensão de aceleração, governa a velocidade, a energia e o comprimento de onda dos elétrons O ânodo tem que estar a uma distância suficiente da grade pra evitar descargas. A corrente emitida é tipicamente 50 mA, e é consideravelmente maior que a corrente que eventualmente atinge a amostra. Em um MEV, a alta tensão aplicada à grade é negativa e pode variar entre várias centenas a alguns milhares de volts. Esta alta tensão acelera os elétrons para baixo dentro da coluna elétro-ótica. Quanto mais alta a tensão de aceleração, maior a energia e mais curto o comprimento de onda dos elétrons. Uma vez que entre o filamento e a grade existe algumas centenas de volts, a tensão de aceleração efetiva pode diferir da tensão de alimentação. Cilindro de Wehnelt O cilindro de Wehnelt ou grade tem duas funções principais: a primeira para controlar o grau de emissão de elétrons do filamento e a segunda para permitir que os elétrons sejam direcionados para dentro do canhão. A grade é mantida a um potencial mais negativo que o filamento. Se esta é muito negativa, o canhão será cortado porque os elétrons serão repelidos em lugar de ser atraídos pela abertura da grade, até o ânodo. Em uma polarização próxima e abaixo da de corte, somente elétrons da ponta do filamento atingirão a grade. Reduzindo a polarização, ocorre um aumento adicional da corrente do canhão pela atração de mais elétrons do filamento mas, eventualmente, isto dá origem a um feixe oco que não pode ser focado corretamente. A posição do filamento relativo à grade é crítico. Se está muito muito distante (para dentro), a máxima corrente disponível é reduzida e o canhão corta com uma polarização pequena. Se ele estiver muito para fora, pode ser obtida uma corrente no canhão mas sem nenhum controle da emissão e a fonte efetiva é maior. O filamento também deve ser centrado com precisão, relativamente à abertura de grade ou o feixe emergirá com um ângulo relativo ao eixo. Ajustes de posicionamento 15 do canhão e bobinas de inclinação do feixe fornecem compensação para possíveis desalinhamentos. Se a alta tensão é aplicada à grade, e o filamento está conectado por um resistor de vários megaohms, então o canhão é auto-polarizado; quando a emissão aumenta, isso faz com que a tensão pelo resistor e o aumento da polarização reduza a emissão e, assim, estabilizando o canhão através de uma realimentação negativa. Filamentos – algumas definições Um filamento de tungstênio é feito de um pedaço curvado de fio, tipicamente com 100 um de diâmetro, Fig.3.4. Uma corrente é aplicada ao filamento (if) para aquecer o fio na faixa de 2700 K, neste ponto são emitidos elétrons do filamento por um processo chamados emissão de termoiônica. Fig.3.4 Para que os elétrons no filamento escapem do material eles necessitam energia suficiente para superar a energia da função de trabalho Ew do material. Esta energia é provida pelo calor provido pelo filamento que é aquecido pela corrente de polarização. LaB6 também é um emissor do tipo termoiônico geralmente usado com uma função de trabalho menor que a do tungstênio. A termo corrente do feixe (ib) é a corrente no feixe que se move para baixo na coluna como resultado de combinações de lentes e aberturas pelas quais o feixe passa. A termo corrente de sonda (ip) é a corrente medida na amostra que é igual à corrente do feixe na amostra. Um feixe estável é essencial para microanálise quantitativa de raios-X precisa, uma vez que uma variação no número de elétrons incidentes na amostra será refletido produção de raios-X. 16 Idealmente, qualquer variação na corrente de aquecimento do filamento deveria ter um efeito mínimo na corrente do feixe. O grau de emissão de elétrons pode ser monitorado em mais de um modo, dependendo do projeto do MEV. O ponto de saturação para um filamento pode ser monitorado observando-se a variação do traço no CRT, ou monitor, que representa o sinal da amostra. A condição onde um aumento na corrente de filamento já não produz um aumento na compensação (offset) de intensidade da linha, é o ponto de saturação do filamento. Porém, para uma determinada corrente de filamento, o ajuste de posição do filamento e inclinação do feixe devem ser eletricamente ou mecanicamente alinhados para maximizar a corrente de emissão, e o ponto de saturação deve ser re- conferido depois do ajuste de alinhamento do canhão. Porém, alguns projetos de MEV permitem ao operador obter uma imagem demagnificada do ponto de crossover da fonte sobre a amostra. Isto permite a visualização da distribuição de elétrons que deixam o filamento como uma função da corrente de aquecimento do filamento. Esta imagem de emissão é formada da seguinte maneira. As bobinas de varredura, responsáveis pelo rastreamento do feixe sobre a amostra, são desligadas, e corrente é aplicada às bobinas de deslocamento e inclinação do canhão, para varrer o feixe a partir do topo da coluna. Este crossover varrido é então incidido na amostra. Elétrons secundários são produzidos, detectados pelo detector de elétrons secundários e, assim, é produzida uma imagem deste crossover da fonte. O número de elétrons secundários,produzido em um determinado ponto na amostra, reflete o número de elétrons incidentes na amostra e, conseqüentemente, na distribuição de elétrons emitidos pelo filamento. Isto é conhecido como modo de imagem de emissão. 17 A relação entre a corrente de filamento e a corrente do feixe é a seguinte; inicialmente, quando a corrente de aquecimento é aumentada, a corrente do feixe aumenta para um máximo inicial (conhecido como ponto falso de saturação), antes de cair e subir novamente para um ponto em que a corrente do feixe não mais aumenta, Fig.3.5. Fig.3.5 Isto é conhecido como o ponto de saturação, e qualquer aumento adicional na corrente de aquecimento somente reduz a vida do filamento. Com o filamento operando no ponto de saturação, um pouco acima do 'joelho' da curva, a emissão é estabilizada pelo circuito de auto-polarização do canhão. Operando abaixo deste valor, ela tende a cair. Brilho de um filamento A densidade de corrente do feixe é definida como sendo a razão da corrente no feixe dividida pela área de seção transversal Jb = corrente / área Jb = ib / [p (d/2) 2] Onde ib é a corrente no feixe em qualquer ponto na coluna e d é o diâmetro do feixe. Porém, esta expressão não leva em conta o espalhamento angular ou divergência do feixe pelas lentes na coluna. O parâmetro mais importante para descrever o desempenho de uma fonte de elétrons é o seu brilho, β, definido como a densidade de corrente pelo ângulo sólido nas unidades de A/(m2)(sr) e expresso como β = densidade de corrente / ângulo sólido β = Jb / pa 2 (3.1) 18 O ângulo sólido em esterioradians (sr) é aproximado por pa2 onde a é a convergência do feixe ou divergência em um determinado ponto na coluna. Ignorando aberrações de lente, o brilho é constante em qualquer determinado ponto ao longo da coluna e serve como uma comparação útil entre fontes de emissão. Quanto maior β, maior a resolução do microscópio. Dois tipos de fontes de elétrons são normalmente utilizados nos microscópios eletrônicos; as de emissão termiônica (que inclui os filamentos de tungstênio e os de hexaborato de lantânio, LaB6) e as de emissão de campo ("field emission gun", FEG). As diferenças entre elas estão associadas basicamente ao brilho, que de maneira simplificada representa a corrente de elétrons no feixe. (a) Filamento de tungstênio Filamentos convencionais de tungstênio (esquematizado na Fig.3.4) apresentam valores típicos de β da ordem de 109 Am-2sr-1 a 100kV. A tensão de polarização e a distância entre a grade e o filamento podem afetar o brilho e podem ter que ser otimizados para alcançar o melhor valor de brilho. Por exemplo, amentos do brilho pddem ser obtidos com o aumento da temperatura de operação do filamento, por ajuste da distância entre o filamento e o cilindro de Wehnelt, ou pelo afinamento mecânico de sua ponta. A vida do filamento dependerá da temperatura para a qual o filamento é elevado. Quando a temperatura aumenta, a vida útil pode diminuir. Um bom vácuo na área do canhão é essencial para prevenir erosão do filamento através de bombardeio de íons dos gases presentes na área circunvizinha. O diâmetro do crossover de um filamento de tungstênio é tipicamente da ordem de 50-100 µm e, então para alcançar um diâmetro de sonda, na amostra, de alguns nanômetros, é necessário uma demagnificação significativa pelas lentes. Porém, esta demagnificação pelas lentes é reduz o número de elétrons na sonda final. Este é um problema particular quando são 19 necessárias imagens de alta resolução que requerem diâmetros de sonda pequenos. A principal vantagem de um filamento de tungstênio é a excelente estabilidade de corrente que é essencial para microanálise precisa. Porém suas desvantagens são sua vida e brilho limitados. (b) Filamento de LaB6 O filamento de LaB6 é esquematizado na Fig. 3.6. Este tipo de filamento possibilita a geração de densidade de corrente mais alta, além de baixa taxa de evaporação, uma vez que, por ter função trabalho menor a do tungstênio, opera em temperaturas inferiores que o filamento de W. A desvantagem deste filamento é associada a grande reatividade do material, o que requer pressões na região do canhão da ordem de 10-6mbar, e ao aquecimento indireto do filamento através de suportes de carbono, que são extremamente frágeis. Valores típicos de β são da ordem de 1010Am-2sr-1. Fig.3.6 Esquema do filamento de LaB6. A vantagem do LaB6 sobre os mais baratos filamentos de tungstênio é o seu aumento de brilho e vida. Esses cátodos provêem aproximadamente 10 vezes mais brilho e aproximadamente 100 vezes mais tempo de vida que o filamento de tungstênio, porém, a sua desvantagem principal é o maior vácuo que é necessário para operação do canhão, além do preço. A vida do cátodo é limitada por três fatores principais: temperatura do filamento, pressão de vácuo e forma da ponta. Um vácuo pobre e também uma temperatura alta apressa a perda de material, assim diminuindo a vida do filamento. Um bom vácuo na área do canhão também é importante para 20 prevenir acúmulo de compostos na superfície do emissor que reduz a emissão do filamento. O emissor de elétrons neste tipo de filamento é feito de um pedaço pequeno de um mono-cristal de LaB6, tipicamente com 0.5 mm em comprimento e 100 µm em diâmetro. O aquecimento demasiado do cátodo deve ser evitado e, idealmente, o filamento deve ser operado logo abaixo do ponto de saturação para maximizar a vida do filamento. O vácuo na área do canhão deve ser melhor que 10-7 torr. A forma da grade e o valor da tensão de polarização requer modificação do projeto do canhão se LaB6 for usado para substituir um filamento de tungstênio. (c) Canhões de emissão de campo - FEG Canhões de emissão de campo, esquematizados na Figura 3.7, utilizam uma agulha fina de W, com raio menor que 102nm, que emite elétrons através da aplicação de um forte campo elétrico em uma região altamente localizada, resultando em valores de β da ordem de 1012 a 1013Am-2sr-1. Também para este tipo de filamento é necessário que a região do canhão seja mantida em condições de alto-vácuo. Apesar de relativamente caros, os canhões do tipo FEG já são utilizados rotineiramente em inúmeros laboratórios, devido as grandes vantagens associadas a feixes menores com alta densidade de corrente. Fig.3.7 Esquematização de um canhão de emissão de campo (FEG). 21 Os canhões FEG podem operar de dois modos; com emissão de campo fria e com emissão de campo termicamente ajudados. A operação básica do FEG é a extração de elétrons de uma ponta muito fina de um mono- cristal de tungstênio, usando um campo elétrico local muito alto, gerado entre a ponta e o ânodo de extração. Esta voltagem de extração V1, essencialmente, controla a corrente de emissão. Quanto maior esta voltagem de extração, maior a corrente de emissão. Um ânodo adicional é usado para acelerar os elétrons até a tensão de aceleração exigida e é mantido entre 1 e 30 kV conhecido como V0. A ponta do mono-cristal de tungstênio geralmente é montada sobre um outro filamento de tungstênio. Campos elétricos muito altos podem ser gerados nestas pontas muito finas, e isto é alcançado aplicando-se alguns kilovolts à ponta relativamente oo para o primeiro ânodo como mostrado no arranjo esquemático da figura do canhão. Este alto campo elétrico, concentrado na ponta da fonte reduz efetivamente a barreira potencial dos elétrons no material de tal forma que eles criam um túnel por esta barreira e saem do material sem a necessidade de ativação térmica. Este par de ânodos fornece o foco eletrostático similar para ao encontrado no arranjo do canhão termoiônico convencional. Um ponto de crossover dos elétrons é formado e este é demagnificadosobre a superfície do espécime, pelas lentes na coluna. Podem ser formadas altas correntes em sondas pequenas (1 - 2nm), tipicamente de 1nA, através de fontes de emissão de campo. Porém, emissores de tungstênio e de LaB6 produzem mais corrente na sonda que emissores de campo para tamanhos de sonda nominalmente maiores que 200 nm. tipos de canhão de emissão de campo (FEG) a) cátodos de emissão de campo fria necessitam um vácuo melhor que 10-10 torr na área do canhão para uma operação estável e prevenir absorção de átomos de gás residuais na área da ponta. Mesmo assim, com o tempo, porém, a emissão de elétrons cai exponencialmente. Para que a emissão de 22 elétrons permaneça constante, a voltagem de extração deve ser aumentada até um certo valor quando a ponta produzir um ‘flash'. A ponta é momentaneamente aquecida, o que remove alguma contaminação da área da ponta. O FEG frio tem um ponto de crossover de diâmetro pequeno de tal forma que é necessário uma pequena demagnificação da fonte e uma energia pequena é espalhada (0.3eV). Esta fonte de alto brilho tem uma vantagem enorme para produzir imagens com alta resolução mas tem uma desvantagem para análise precisa de quantitativa de raios-X porque a estabilidade da corrente é que nos canhões convencionais. b) Em um emissor de campo de modo termicamente auxiliado, não é necessário o uso de flash na ponta uma vez que o emissor é aquecido continuamente, prevenindo o acúmulo de átomos de gás residuais na ponta. A ponta é aquecida continuamente até aproximadamente 1800 K em um alto campo elétrico. Pode ser operado em um vácuo pior que o de emissão de campo fria e estabilidade de emissão de corrente é melhorada. Porém, o espalhamento de energia é tipicamente de 1-1.5 eV que é pior que aquela de um emissor frio. c) O emissor de Schottky incorpora as vantagens de ambos, abaixando a função de trabalho do material, enquanto mantém uma boa resolução de energia. O emissor opera a 1800 K e tipicamente usa um recobrimento de ZrO na superfície do mono-cristal de tungstênio. Esta camada serve para reduzir localmente a função de trabalho do material, assim aumentando a emissão para uma determinada temperatura de operação. A superfície mais aplainada desta ponta, comparada às pontas finas descritas em a) e b), aumenta a estabilidade da emissão. Para que a emissão de Schottky funcione, os elétrons são ainda termicamente auxiliados para superar a função de trabalho. 3.2 Lentes eletromagnéticas Em microscópios óticos, a capacidade para focalizar luz é alcançada usando-se lentes de vidro. Microscópios eletrônicos usam elétrons como a 23 fonte de iluminação e a capacidade de focalizar elétrons no microscópio é alcançada usando-se lentes eletrônicas. Estas podem ser eletrostáticas ou eletromagnéticas. Lentes eletrônicas estão todas sujeitas a aberrações mas menos no caso de lentes eletromagnéticas que em lentes eletrostáticas. O papel principal de lentes eletromagnéticas em colunas eletro-óticas são a de demagnificar a fonte de elétrons para formar um feixe incidente de diâmetro muito menor na superfície da amostra. A intensidade de atuação da lente pode ser variada ajustando-se a quantidade de corrente que flui através das bobinas ao redor do núcleo de ferro do eletro-ímã. Há duas lentes principais usadas em um MEV: a condensadora e a objetiva. A condensadora afeta o número de elétrons no feixe para um determinado tamanho de abertura de objetiva, e as lentes objetivas focam os elétrons na superfície da amostra, disposta a uma determinada distância de trabalho ("working distance"). A formação da imagem pelos elétrons na lente eletromagnética é geometricamente equivalente à formação da imagem por uma lente ótica ilustrada na Fig.3.8. O diagrama de raios da lente e com isso o seu plano da imagem pode ser construído lembrando-se que: a) raios paralelos convergem sempre para um mesmo ponto no plano focal da lente, b) o ponto focal dos raios paralelos ao eixo ótico está localizado no eixo ótico, c) não há desvio para os raios que passam pelo ponto de interseção entre o eixo ótico e o plano principal da lente. A geometria do diagrama de raios permite uma fácil dedução das chamadas "fórmulas de lente" e demonstra que o aumento da lente depende apenas da sua distância focal e da posição do objeto em relação ao seu plano principal. No caso de lentes eletromagnéticas, a distância focal é modificada de maneira simples pela variação da corrente elétrica que passa pela bobina de excitação. 24 Fig.3.8 Diagrama de raios de uma lente ótica. O aumento M da lente depende das distâncias a e f. A Fig.3.9 apresenta os aspectos principais da construção e do funcionamento de uma lente eletromagnética. A equação F = v x H determina a força F que um elétron de velocidade v experimenta quando atravessa um campo magnético H. Uma lente eletromagnética convencional ideal é rotacionalmente simétrica. Tipicamente, são passados alguns ampères de corrente pelas bobinas que energizam o eletro-ímã e é esta corrente que determina a intensidade do campo na lente. A distância focal (f) ou intensidade de uma lente eletromagnética pode ser variada alterando a corrente (i) que passa pelas bobinas. Fig.3.9 Operação em e construção de uma lente eletromagnética. 25 Se N é o número de voltas, então a distância focal ou intensidade da lente (f) é determinada por: f = AV0 / (Ni) 2 onde A é uma constante determinada pelo desenho (projeto) e V0 é a voltagem pela qual os elétrons foram acelerados. Os elétrons acelerados dentro da coluna são afetados pelo campo e, sob certas condições, seus trajetos formam hélices. A ação de foco destas lentes formadoras de pontos focais é convergir os elétrons apertando o raio dos seus caminhos helicoidais. 3.3 Sistema ótico-eletrônico no MEV A Fig.3.10 esquematiza o sistema ótico-eletrônico de um MEV, consistindo de uma fonte de elétrons, sistema de condensação duplo do feixe, bobinas de varredura e lente objetiva final. A fonte de elétrons (canhão) produz um feixe de elétrons divergente impulsionando-o para o centro da coluna. As lentes eletromagnéticas são basicamente do mesmo tipo que as utilizadas em qualquer microscópio eletrônico. No MEV, o objetivo dessas lentes é o de formar o menor diâmetro de feixe de elétrons possível, ou seja produzir uma imagem demagnificada da área da primeira imagem do filamento Fig.3.10 Sistema ótico eletrônico do MEV. ("cross-over"). 26 Um valor típico do diâmetro do feixe antes de atingir a primeira lente condensadora é da ordem de 60µm, e sobre a amostra, da ordem de 3 a 10nm. Em geral o sistema de lentes é composto de duas condensadoras e uma objetiva. Na maioria dos microscópio as lentes condensadoras são controladas automática e simultaneamente e a distância focal da lente objetiva é ajustada para focalizar o feixe sobre a superfície da amostra. A distância da superfície da amostra à parte inferior da lente objetiva é chamada de distância de trabalho (DT) e quando esta distância varia, a corrente da objetiva deve ser ajustada para continuar focalizando o feixe sobre a superfície da amostra. Dois pares de bobinas de varredura são localizados dentro da lente objetiva, com a função de varrer o feixe sobre uma área na superfície da amostra. Utiliza-se um sistema de deflexão duplo, produzido pelo campo magnético dos pares de bobina. Lentes Condensadoras O papel principal da lente condensadora, Fig.3.11, é controlar o tamanho do feixe e, para um determinado tamanho de abertura de objetiva, determina o número de elétrons no feixe que atingirão a amostra. Até três lentes de condensadoras podem ser freqüentemente encontradas em MEVs. O controle que ajustaa intensidade da lente condensadora difere de um fabricante de microscópio para outro e pode ter as seguintes denominações: tamanho de "spot", resolução ou intensidade de C1. 27 Quanto maior for a corrente que flui pela condensadora, maior a intensidade da lente, menor o diâmetro de feixe resultante e maior o ângulo de convergência para um determinado tamanho de abertura de objetiva, conseqüentemente, menor a corrente de feixe que atingirá a amostra. A lente condensadora reduz o diâmetro do "cross over" d0 e o ângulo de divergência a0 para um diâmetro d1 e um ângulo de divergência a1 como mostrado na Fig.3.11. Fig.3.11 A intensidade da lente condensadora determinará o tamanho do ângulo de divergência deste 'segundo ponto de crossover. Deste modo a distância entre a lente e o segundo crossover varia com a intensidade da lente. Lentes Objetivas Essencialmente, a intensidade da lente objetiva varia a posição do ponto no qual os elétrons são focalizados na amostra. Este ponto pode, então, ser focado em diferentes distâncias de trabalho, onde a distância de trabalho é definida como a distância entre a última peça polar da lente objetiva e o ponto de foco sobre a amostra, Fig.3.12. Geralmente há uma abertura localizada no mesmo plano que a lente objetiva. O diâmetro desta abertura pode ser variado. Esta abertura, então, seleciona um subconjunto de ângulos a1. Fig.3.12 28 A abertura da objetiva controla o número de elétrons que alcançam a amostra. Também controla o ângulo de convergência final do feixe de elétrons sobre a amostra que conseqüentemente determina a profundidade de campo (ou de foco). Maiores profundidades de campo podem ser alcançadas com ângulos de convergência menores. O ajuste da intensidade da lente objetiva muda o ponto no qual os elétrons vêm a ser focados. A distância de trabalho é definida como a distância entre a última peça polar da lente objetiva e a posição da amostra na qual os elétrons estão focados sobre a amostra. Para que a imagem final esteja em foco, o porta amostras deve ser ajustado, tal que a amostra esteja na mesma posição em altura que o ponto de focal do feixe de elétrons. Uma fraca intensidade de lente objetiva dará origem, então, a uma grande distância de trabalho, por outro lado, forte intensidade de lente é necessária para uma menor distância de trabalho. Aberturas da Objetiva: real e virtual Comumente, há duas localizações para a abertura da objetiva. Uma abertura real fica situada na fenda da abertura da lente objetiva como mostrado na parte superior da Fig.3.13. Uma abertura virtual fica situada em qualquer posição entre o sistema de lentes de condensadoras e a lente objetiva, (parte inferior da Fig.3.13). É importante que ambos tipos de aberturas estejam centrados sobre o eixo ótico da coluna para evitar distorção na imagem final. Fig.3.13 A maioria dos microscópios têm um botão Wobbler que, quando ligado, varia a corrente sobre um valor fixo nas bobinas da lente objetiva. Ao ver uma imagem de elétrons secundários, a imagem parecerá passar pelo foco mas distorcida se a abertura da objetiva não está centrada sobre o eixo ótico da coluna. Quando a abertura está corretamente centrada e a intensidade da lente objetiva é ajustada (função de foco) ou o wobbler está ligado, a imagem parecerá entrar e sair de foco, sem se mover ou se distorcer. 29 Em resumo, se a intensidade da lente condensadora é aumentada então d1 diminui, isto aumentará o ângulo de divergência. A corrente que atravessa a lente objetiva é controlada pelo tamanho da abertura objetiva. Porém, a aberração esférica da lente magnética colocará um limite inferior no tamanho da abertura objetiva usada que vai então, limitar o número de elétrons sobre a amostra. 30 3.4 Interação feixe-amostra A interação de um feixe de elétrons de alta energia com a superfície de uma amostra resulta na emissão de elétrons e de raios-X com uma faixa de distribuição de energia e, em alguns casos, com emissão de radiação catodoluminescente que possui menor energia que raios-X. Os elétrons gerados pela interação do feixe primário com a amostra podem ser divididos em três tipos: retro-espalhados, secundários e Auger. Elétrons retroespalhados podem ser emitidos devido a espalhamento elástico, a espalhamento de plasmons (oscilações coletivas e quantizadas dos elétrons da banda de condução) ou transições interbandas e a espalhamento inelástico. Estes três tipos são referidos como tipos 1, 2 e 3 respectivamente. Elétrons espalhados elasticamente saem basicamente com a mesma energia que o feixe incidente, enquanto que os espalhados inelasticamente, geralmente sofrem várias interações de espalhamento e saem da amostra com um espectro de energia menor que a energia do feixe. Elétrons do tipo 2 são espalhados por interações que produzem oscilações de plasmons no material da amostra ou uma transição de elétrons da amostra entre diferentes bandas de energia. Essas transições requerem uma quantidade de energia específica, que difere de elemento para elemento e algumas vezes difere também se os elementos estão presentes como elementos puros, ou na forma de óxidos, hidretos, nitretos, etc. Elétrons retroespalhados desse tipo são chamados de elétrons de perda de energia porque perdem uma quantidade específica de energia, podendo ser detectados por um espectrômetro magnético. Elétrons secundários são elétrons de baixa energia (abaixo de 50eV), e são formados pela excitação de elétrons fracamente ligados ao núcleo, devido a interação com elétrons primários ou elétrons espalhados de qualquer tipo, de alta energia, passando próximo a superfície. Quando um elétron de uma camada interior de um átomo é arrancado por um elétron de alta energia (do feixe primário), o átomo pode retornar ao seu estado de energia original com a movimentação de um elétron de uma camada mais externa para a camada interior vacante. Neste processo, existe 31 liberação de energia, que é acompanhada ou pela emissão de um fóton ou pela emissão de outro elétron da camada mais externa. A emissão de fóton resulta no espectro característico de raios-X e a emissão de elétrons é conhecida como efeito Auger. Também neste caso, as energias tanto do fóton como do elétron emitidos são características dos elementos que os gerou, possibilitando a obtenção de informações das características químicas do material. A emissão de luz visível devido a interação feixe-amostra é chamada de catodoluminescência, e é um fenômeno menos geral que a emissão de elétrons ou de raios-X. O efeito catodoluminescente ocorre para sulfeto de zinco e outros fósforos usados em tubos de raios catódicos, além de alguns outros semicondutores, minerais e materiais biológicos. A intensidade e o comprimento de onda da luz emitida é função do material o que permite análise química qualitativa. Os tipos de espalhamento de elétrons que resulta nestes divesos tipos d sinais serão detalhados nos itens a seguir. A Fig.3.14 mostra esquematicamente o espalhamento que ocorre abaixo da superfície da amostra, decorrente da interação feixe de elétrons - amostra. Esta Fig. mostra também os sinais que são gerados em decorrência da interação elétron-matéria; apesar do feixe poder ser condensado até um diâmetro da ordem de 10nm, a geração de raios-X estará ocorrendo sobre um volume aproximadamente 100 vezes maior. Este volume é chamado de volume de interação e também será discutido com mais detalhes adiante. Fig.3.14. Espalhamento do feixe de elétrons no interior da amostra e os sinais gerados . 32 3.4.1 Espalhamento elástico e inelástico Quando elétrons atravessam um material eles interagem com os átomos através de uma força eletrostática epodem ser espalhados inelástica ou elasticamente, Fig.3.15. O espalhamento elástico conser- va ambos: a energia e o momento dos elétrons e envolve uma interação Cou- lumbiana com o núcleo atômico e todos os elétrons ao redor dele. Tal espalhamento dá origem aos elétrons retroespalhados e difração. Eventos de espalhamento inelásticos resultam na transferência de energia entre o feixe incidente de elétrons e a matéria com a qual eles interagem. Fig.3.15 Estes eventos de espalhamentos inelásticos podem produzir raios-X, elétrons secundários, fônons ou plasmons. A probabilidade que um elétron tem de sofrer um evento de espalhamento em particular é descrito pelo livre caminho médio para aquele tipo de particular de evento de espalhamento. Seção Transversal de Espalhamento A seção transversal de espalhamento é uma expressão que descreve a probabilidade que um evento particular terá de acontecer. As dimensões da seção transversal são de área, e o termo pode ser pensado como descrevendo o tamanho efetivo do alvo aparente para as partículas incidentes. Livre Caminho Médio O livre caminho médio é a distância média que um elétron viaja em um material entre dois eventos de um tipo particular de espalhamento. O valor para o livre caminho médio é, então, específico para um evento de espalhamento particular. O livre caminho médio pode ser calculado a partir da seção transversal de espalhamento usando a relação 33 λ = Α / (ΝΑρσ) onde σ é a seção transversal em cm2, A é o peso atômico em g/mol, NA é o número de Avogrado (6.02 x 1023 atoms/mol) e ρ é a densidade em g/cm3. Em amostras de MET que tem tipicamente 100 nm de espessura, esta distância é comparável ao livre caminho médio de vários tipos de eventos de espalhamento e, então, múltiplos espalhamentos são evitados. Porém, em um MEV onde as amostras analisadas são grossas, um elétron pode se espalhar várias vezes antes de perder sua energia. A probabilidade de espalhamento múltiplo pode ser descrita pela equação de Poisson. Esta descreve a probabilidade de um elétron incidente que sofre n eventos de espalhamento enquanto viaja uma distância x. Se ? é o livre caminho médio, então, p(n) = (1/n!) (x/ ?)n exp(-x/ ?) . A simulação de ‘Monte Carlo' é uma maneira comum de representar trajetórias de elétron em uma amostra grossa no qual o elétron primário pode se espalhar várias vezes através de numerosos processos Espalhamento elástico Elétrons que perdem energia cinética desprezível ao interagir com a amostra são elétrons espalhados elasticamente. Porém, a trajetória do elétron pode ser substancialmente desviada, como resultado de uma colisão elástica. A interação entre o elétron incidente e a carga do núcleo atômico (espalhamento de Rutherford) é Coulumbiano. Geralmente, menos de 1eV energia é transferido do feixe de elétrons ao espécime. Como resultado deste espalhamento elástico, o caminho do elétron é desviado de sua direção inicial por um ângulo F que pode ter valores entre 0-180°. Em média o caminho do elétron incidente é desviado somente de alguns graus, mas eventos de alto ângulo ainda são possíveis. A seção transversal do espalhamento de Rutherford para deflexões de ângulos maiores que F é determinado por: σ(F) = 1.62 x 10-14 (z2 / E0 2) cotan2(F/2) onde z é número atômico e E0 é a tensão de aceleração. A seção transversal de espalhamento então aumenta com o quadrado do número atômico, e diminui com o quadrado do inverso da tensão de 34 aceleração. O espalhamento elástico é o efeito principal que degrada a resolução espacial de microanálise. Espalhamento inelástico Como resultado de uma interação inelástica entre um elétron incidente e um átomo, pode ser transferida energia aos elétrons de camadas fracamente ligadas, elétrons das camadas exteriores ou aos elétrons de camadas internas firmemente ligados, Fig.3.16. Em ambos os casos a energia cinética do elétron incidente diminui e uma certa quantidade de energia é transferida ao átomo, dependendo do tipo de processo. Fig.3.16 Há numerosos tipos de eventos de espalhamento inelásticos, e somente aqueles comumente observados em mcroanálise em microscópios eletrônicos serão discutidos aqui. Geração Contínua de raios-X ou Bremsstrahlung O espectro de raios-X contínuo ou Bremsstrahlung (literalmente traduzido como radiação de freada) é gerado juntamente com a emissão de raios-X característico quando elétrons interagirem com a matéria. A emissão destes fótons de raios-X está associada com a desaceleração dos elétrons incidentes no campo de Coulumbiano do núcleo do átomo. Considerando que a energia perdida pelo elétron pode variar em qualquer região entre zero até o valor da energia de elétron incidente, é produzido um espectro contínuo de energias de raios-X. A emissão mais energética de raios-X tem uma energia conhecida como o limite de Duane-Hunt. Se a amostra não estiver carregando, o limite de Duane-Hunt é igual à energia de elétron incidente; o comprimento de onda mais curto dos raios-X produzidos, têm comprimentos de onda em Angströms dados por: 35 ?min = 12.396/E0 onde E0 é a energia do feixe em keV. Emissão de raios-X característicos A interação de um elétron de alta energia com um átomo, pode resultar na ejeção de um elétron de uma camada atômica interna. Isto deixa o átomo em estado ionizado ou excitado, com uma vacância nesta camada. A de- excitação pode acontecer por um elétron de uma camada mais externa que venha a preencher a vacância A variação em energia é determinada pela estrutura eletrônica do átomo que é única para cada elemento. Esta energia 'característica' pode ser libertada do átomo de dois modos: a primeira é a emissão de um fóton de raios-X com uma energia característica específica para aquela transição e, conseqüentemente, para o elemento. A detecção de tais fótons fornece informação sobre a composição elementar da amostra, em termos de quantidade e distribuição. O segundo modo é a liberação dos chamados elétrons de Auger. Catodoluminescência Catodoluminescência (CL) é um termo que descreve o processo da emissão de radiação eletromagnética nas regiões: visíveis, ultravioletas e infravermelhas do espectro quando certos materiais são bombardeados com elétrons de alta energia. Estes materiais emissores de luz, que geralmente são isolantes ou semicondutores, têm preenchidas as bandas de valência e de condução vazia com "gaps" de banda específicos do próprio material. Quando um elétron incidente se espalha inelasticamente para fora do átomo, elétrons na banda de valência preenchida podem ser promovidos para a banda de condução, enquanto deixando uma vacância na banda de valência. As energias dos "gaps" de banda estão, tipicamente, entre 2 e 5eV. Pares elétron-lacuna vão se recombinar e liberar o excesso de energia na forma de luz ou CL. 36 A eficiência de CL é determinada através da competição entre eventos de recombinação radioativos e não-radioativos e, então, qualquer imperfeição, química ou estrutural, na estrutura cristalina pode alterar as características de CL. Espalhamento de fônons Uma quantidade significativa da energia perdida na amostra pelos elétrons incidentes, resulta na criação de fônons, ou vibrações da rede. Em cada interação, os elétrons incidentes podem perder ou podem ganhar energia da ordem de kT (0.025 eV) onde T é temperatura em graus Kelvin e k é a constante de Boltzman. Tais interações fazem os átomos na rede vibrar, e isto efetivamente aquece o sólido. Entretanto, a perda de energia é mínima, mas ângulos de espalhamento podem ser significativos. Espalhamento de Plasmons Um plasmon é um termo dado à oscilação coletiva dos elétrons de valência em um átomo que acontece como resultado da interação de Coulumbianacom o elétron incidente. A energia do plasmon é determinada por Ep =?v(ne 2 / m) onde n é o número elétrons livres ou de valência por unidade de volume da amostra, m é a massa do elétron e e é a carga do elétron. Valores típicos são 0 - 50 eV, que é transferido do elétron incidente. A meia largura angular deste espalhamento é determinada por ?p = Ep / 2E0 onde E0 é a energia dos elétrons incidentes em eV e Ep é a energia do plasmon. Ângulos de espalhamento típicos são da ordem de 0.5 mrad, e o livre caminho médio para espalhamento de plasmons é tipicamente da ordem de 50-150 nm. 37 Espalhamento individual Se o elétron incidente interage com elétrons individuais, ao invés de coletivamente para produzir um plasmon, podem ser emitidos elétrons de baixa energia, conhecidos como elétrons secundários. Estes elétrons são caracterizados por terem uma energia cinética menor que 50 eV. No caso de metais estes são os elétrons de condução. Em semicondutores, secundários são produzidos pela geração de pares elétron-lacuna, e em isolantes, pela liberação de elétrons de valência. Estes elétrons podem estar sujeitos a eventos de espalhamento adicionais pelos quais a energia é perdida, e então, somente elétrons que têm energia suficiente para superar a energia de barreira de superfície podem escapar do material e podem contribuir com o sinal detectado; aqueles na superfície da amostra. Também são emitidos secundários quando elétrons retroespalhados deixam a amostra, freqüentemente mais distantes do feixe. 3.4.2 Volume de Interação A interação do feixe de elétrons com a amostra é complexa, dentro da qual um conjunto inteiro de interações e eventos de espalhamento são possíveis. Tais interações podem ser divididas em duas classes: inelástica, na qual elétrons são desviados com um ângulo tipicamente menor que um grau, e elástica na qual existe uma pequeno ou nenhuma transferência de energia para o material. O método de Monte Carlo é uma técnica matemática que tenta modelar a forma do volume de interação, simulando um número grande de trajetórias de elétron pelo sólido. A forma global do volume de interação determina a forma de produção de volumes individuais para uma variedade de sinais, tais como: produção de raios-X característico, elétrons Auger e emissão de elétron secundários e, conseqüentemente, a resolução espacial com cada um destes sinais. A forma e a profundidade do volume de interação são dependentes da tensão de aceleração, inclinação, e densidade do material. Ao entrar em uma amostra, elétrons incidentes de alta energia sofrem várias interações complexas, inelástica e elástica, com os átomos da amostra. O labirinto resultante das trajetórias de elétrons pode ser modelado (simulação de Monte Carlo), considerando as trocas sofridas pelos elétrons, e mapeando 38 sua trajetória pela amostra. Um gerador de número aleatório é usado para dar uma visão realística de como física e probabilidade alteram a trajetória em cada ponto ao longo de seu caminho. Vários parâmetros podem ser obtidos de tais simulações, inclusive o coeficiente de retroespalhamento (h), que é determinado contando-se o número de elétrons incidentes que saem da superfície do amostra. Uma simulação de Monte Carlo também pode ser usada para determinar a distribuição de profundidade de produção raios-X dentro da amostra. Este parâmetro essencial é necessário para calcular as várias matrizes de efeitos, tais como: absorção e fluorescência que acontecem quando raios-X são transmitidos pela amostra. A determinação precisa destas matrizes de efeitos é necessária para a determinação da composição da amostra a ser determinada pela medida de intensidades de raios-X. Existem vários programas envolvendo o método de Monte Carlo, disponíveis para simular trajetórias de elétrons em uma amostra, cada um usando um modelo físico ligeiramente diferente. Apesar disso, nos modelos usados, a forma geral do volume de interação gerado pelas diferentes simulações é bem parecido. Um grande número de trajetórias deve ser calculado para obter uma forma realística do volume de interação. A distribuição de trajetórias está contida dentro do volume de interação, que tem forma e dimensões fortemente afetados pelo número atômico da amostra, pela energia do feixe incidente dos elétrons e o ângulo de inclinação da amostra. Se o evento de espalhamento dominante é elástico, (que altera a direção de uma trajetória do elétron significativamente), ou inelástico, (que resultará em perda de energia) depende do número atômico do material e da energia do feixe usado. Se o evento dominante for elástico, os elétrons tenderão a se espalhar para longe da direção do feixe incidente, dando 'largura' ao volume de interação. Por outro lado, se o evento dominante for inelástico, os elétrons sofrerão menor desvio e penetrarão na amostra ao longo das suas trajetórias originais, mas perdendo energia durante seu trajeto. A Fig.3.17 mostra o volume de interação em uma amostra grossa não inclinada de silício a 20kV. Em qualquer ponto ao longo de uma determinada trajetória, podem ser produzidos fótons de raios-X se a energia do elétron ou do 39 próprio raios-X é maior que a aresta de absorção associada com uma linha de emissão característica. Fig.3.17. Volume de interação em uma amostra grossa não inclinada de silício usando-se 20kV. O volume de material do qual são produzidas raios-X é conhecido como o volume de produção de raios-X, o seu tamanho e dimensões depende da linha de raios-X sendo excitada. Por exemplo, no caso de chumbo, o volume da amostra que produz a energia mais alta, linhas da série L, será menor e mais próximo à superfície, que o volume onde as linhas da série M são geradas. Dependência com o número atômico A forma do volume de interação depende fortemente do número atômico do material. Um vez que a seção transversal para espalhamento elástico é proporcional ao quadrado do número atômico do material, isto significa que para uma energia de feixe fixa, elétrons entrando em um material de número atômico alto, se espalharão para longe das suas direções originais, fornecendo 'largura' ao volume e reduzindo penetração no material. Porém, em materiais com baixo número atômico, os elétrons penetrarão na amostra perdendo energia quando eles sofrem eventos de espalhamento inelásticos, até que a energia dos elétrons seja tal que a probabilidade de se espalhar elasticamente comece a dominar (a seção transversal para espalhamento elástico segue uma dependência com o inverso do quadrado da energia). Isto dá origem à forma do assim chamado 'volume em forma de pêra'. Eventualmente, os elétrons não têm energia suficiente para se espalhar mais para o interior da amostra, atingindo os 'limites' do 'volume de interação'. Dependência com a energia do feixe O tamanho do volume de interação depende fortemente da energia do feixe incidente, uma vez que a seção transversal para espalhamento elástico segue uma 40 dependência com o inverso do quadrado da energia de elétron. Quando a energia do feixe aumenta, os elétrons penetram mais na amostra, sofrendo colisões inelásticas ao longo de um caminho próximo a direção da feixe incidente. Quando os elétrons perdem energia, a probabilidade de espalhamento elástico aumenta, e eles começam a ser desviados dos seus caminhos originais, possivelmente voltando para trás para a superfície da amostra depois de eventos múltiplos de espalhamento. Um fator adicional que afeta a forma geral e dimensões do volume de interação é a taxa com a qual os elétrons perdem energia, como determinado pela expressão de Bethe. Esta diz que a taxa de perda de energia é inversamente proporcional à energia do elétron. Isto significa que quando a energia de feixe de elétron aumenta, a taxacom a qual estes elétrons perdem energia diminui, desta forma eles penetrarão mais na amostra. Esta relação entre a energia do elétron e a taxa de perda de energia quando atravessam a amostra, significa que, aumentando-se a energia do feixe, nem sempre conduz ao aumento de danos na amostra. Por exemplo, no caso de uma amostra grossa, aumentando-se a tensão, para uma corrente de feixe constante, conduz a uma maior quantidade de energia que é depositada na amostra. Porém, energia depositada na amostra sobre um volume maior e, em alguns casos, ela não é a energia total que conduz a danos, mas a energia depositada por unidade de volume. Dependência com a inclinação da amostra O ângulo de inclinação da amostra é definido como o ângulo entre a superfície da amostra e a direção horizontal. Quando a amostra está inclinada com relação à direção horizontal, o volume de interação já não se parece simétrico, mas assimétrico, como mostrado nos exemplos a seguir. Também pode ser observado que a emissão de elétrons retroespalhados aumenta rapidamente com o aumento da inclinação da amostra. Este aumento no coeficiente de retroespalhamento acontece porque elétrons precisam ser espalhados através de ângulos menores, para voltarem à superfície da amostra. 41 A Fig.3.18 mostra o efeito da voltagem e do número atômico do material no volume de interação; quanto maior a voltagem de aceleração e menos densa a amostra, maior será a penetração do feixe. incl = 0o Si Ni Mo 5kV 10kV 20kV incl = 20o Si Ni Mo 5kV 10kV 20kV Fig.3.18. Voltagem e número atômico e volume de interação. 42 3.5 Tipos de Sinais O feixe de elétrons interage com a região próxima à superfície de uma amostra até uma profundidade de aproximadamente alguns mícrons, dependendo da tensão de aceleração e da densidade do material, conforme esquematizado na Fig. 3.19. Fig. 3.19 São produzidos numerosos sinais como resultado desta interação que podem ser detectados, através de detectores apropriados, para fornecer informações sobre a amostra. Estes sinais incluem emissão secundária de baixa energia, geração de elétron Auger, emissão de raios-X característico, raios-X contínuo, emissão de elétron retroespalhados e catodoluminescência. Alguns destes sinais serão apresentados com maior detalhamento nos itens a seguir. Elétrons Auger O bombardeamento da amostra por elétrons de alta energia resulta em átomos ionizados a uma certa profundidade, esta depende da tensão de aceleração e da densidade do material, mas tipicamente é da ordem de 1um. Um átomo ionizado pode emitir raios-X característico ou energia liberada como um elétron. Um elétron preenchendo a vacância inicial pode lançar outro elétron do átomo em uma transição de baixa emissão de radiação chamada de efeito de Auger. Se um elétron da camada interna K é lançado e um elétron da camada L preenche esta vacância, liberta energia e lança um elétron Auger da camada L, a transição de Auger é então chamada de transição KLL. Medidas das energias características dos elétrons de Auger formam a base da espectroscopia de Auger. As energias dos picos de elétron Auger permitem que todos os elementos, exceto hidrogênio e hélio, possam ser 43 identificados, uma vez que no mínimo três elétrons são necessários para o processo de emissão. A espectroscopia Auger é uma técnica sensível à superfície, uma vez que elétrons Auger gerados mais profundamente, que os das camadas superficiais, perderão a sua 'assinatura' de energia enquanto caminham para fora da amostra. Desta forma, o sinal detectado inclui elétrons gerados apenas das poucas primeiras mono-camadas da amostra - aqueles que têm energia suficiente para escapar. Além dos picos Auger principais presentes no espectro, freqüentemente uma fina estrutura pode ser vista em ambos os tipos de amostras, não- metálicas e metálicas, que são originados principalmente de efeitos químicos. A técnica é importante na caracterização de camadas superficiais e, geralmente, é usado para monitorar o crescimento de filmes de epitaxiais. Elétrons Secundários O espalhamento inelástico de um elétron de alta energia com elétrons de valência mais externos permite a emissão de elétrons secundários que são caracterizados por terem uma energia cinética menor que 50eV. No caso de metais estes são os elétrons de condução. Em semicondutores, elétrons secundários são produzidos pela geração de pares elétron-lacuna e, em isoladores, pela liberação de elétrons de valência. Estes elétrons podem estar sujeitos a eventos de espalhamento adicionais através dos quais a energia é perdida e, então, somente elétrons que têm energia suficiente para superar a energia de barreira da superfície podem escapar do material e contribuir com o sinal detectado; estes são elétrons na superfície da amostra. Emissão de Elétrons Secundários A emissão de elétrons secundários é um dos sinais mais comuns usados para produzir imagens no MEV, uma vez que a maioria do sinal está confinado a uma região próxima do feixe incidente, e dá origem a uma imagem de alta resolução. Elétrons secundários também podem ser emitidos 44 quando elétrons retroespalhados saem da amostra, freqüentemente a distâncias maiores do feixe. Origem da Emissão de Elétrons Secundários A Fig.3.20 mostra a distribuição de energia de elétrons secundários e de retroespalhados para uma energia de feixe incidente E0 Fig. 3.20 Há duas características principais mostradas nesta Fig.; o estreito pico de baixa energia que é principalmente devido à emissão de elétrons secundários e o pico mais largo que corresponde à emissão de elétrons retroespalhados. Uma observação mais precisa da distribuição de elétrons secundários no lado direito da Fig. mostra a distribuição de energia de elétrons secundários. A faixa de emissão de energia destes elétrons está entre zero e uma região de corte a 50eV, porém a distribuição tem um pico intenso abaixo de 10eV como mostrado pela área sombreada, com poucos elétrons sendo emitidos com energias maiores que 50eV. O rendimento de emissão de elétrons secundários d é determinado por d = nSE / nB onde nSE denota o número de elétrons secundários emitidos e nB denota o número de elétrons do feixe incidente. Profundidade de escape de Elétrons Secundários A profundidade de escape de elétrons secundários é essencialmente determinada pela energia dos elétrons secundários gerados, pela seção 45 transversal para este processo inelástico de excitação de elétrons e pelo livre caminho médio correspondente para este espalhamento. Se o elétron tem energia suficiente para superar a energia de barreira de superfície, ele pode escapar da amostra e pode ser detectado pelo detector de elétrons secundários. A probabilidade de escape diminui exponencialmente com a profundidade. A profundidade de fuga de elétrons secundários é tipicamente, aproximadamente, de algumas dezenas de nanômetros como mostrado na Fig.3.21, ao lado, que indica os volumes de produção para vários sinais. Fig. 3.21 Quando o feixe incidente penetra na amostra, podem ser produzidos elétrons secundários ao longo de qualquer fase da trajetória do feixe, mas somente os com energia suficiente para superar a função trabalho do material podem escapar da amostra e serem detectados pelo detector. Porém, o sinal detectado pode ser gerado através de dois processos distintos. ESI (SEI) são aqueles elétrons secundários que são gerados pela passagem do feixe de elétrons incidentes na amostra. Aqueles que são detectados são originados dentro de uma profundidade média de fuga abaixo da superfície da amostra. Elétrons ESII (SEII) são aqueles elétrons secundários que são geradospor elétrons retroespalhados quando estes atravessam a região de superfície da amostra. Como uma conseqüência, os ESII contêm informações da característica de distribuição espacial e de profundidade do elétron retroespalhado que resulta em um sinal que é menor em resolução que o do componente de ESI. Diferente dos elétrons retroespalhados, que mostram um aumento de rendimento de geração monotônico com o número atômico, a eficiência para a produção de elétrons secundários depende do material e também de sua capacidade de sair da amostra, que depende da função trabalho do próprio material. Mesmo em amostra plana, onde o contraste de topografia está ausente, diferenças em nível de sinal podem ser resultado de áreas de 46 composição diferentes. O número de elétrons secundários também dependerá do número de elétrons retroespalhados produzido que é dependente no número atômico. Dependência com a energia do feixe Embora o rendimento de produção de elétrons secundários seja relativamente independente de Ep, o grau de emissão de elétrons secundários varia em tensões de aceleração muito baixas. O máximo na produção de elétrons secundários acontece entre duas tensões críticas, E1 e E2 que são ambas específicas do elemento/composto. Quando a energia primária do elétron estiver suficientemente reduzida, a profundidade de fuga da qual os elétrons se originam é reduzida, significando que mais elétrons têm energia suficiente para escapar do material e conseqüentemente, com aumento de rendimento. A produção pode aumentar de um valor maior que 1 para valores particulares da energia de feixe entre E1 e E2 como mostrado pela área sombreada da Fig.3.22. E2 é denotado pelo ponto de cruzamento superior ou secundário e a tensão menor E1, o ponto de cruzamento menor ou primário. Fig.3.22 Produção de elétrons secundários em função da energia do feixe. Esta dependência da emissão pode ser usada com vantagens pelo operador ao lidar com amostras carregadas, por meio da seleção cuidadosa da energia primária pode eliminar efeitos de carregamento. Inclinação da amostra 47 O rendimento de produção de elétrons secundários também é uma função da inclinação da amostra. A profundidade de fuga X0 para emissão de elétrons secundários está marcado na Fig.3.23. Se a amostra está inclinada por um ângulo ?, são gerados mais elétrons secundários ao longo da trajetória X que na situação da amostra não inclinada quando X>X0. Fig. 3.23 Elétrons Retroespalhados Um número significativo dos elétrons incidentes que atingem uma amostra grossa é re-emitido através da superfície do material. Estes elétrons são conhecidos como elétrons retroespalhados, que sofreram espalhamentos elásticos com alto ângulo no material, fazendo com que eles se aproximem da superfície com energia suficiente escapar. A intensidade do espalhamento está relacionada ao número atômico do átomo; quanto maior o número atômico envolvido do material, maior coeficiente de retroespalhamento, e maior rendimento. Esta dependência do rendimento de retroespalhamento com o número atômico, forma a base para a diferenciação entre fases diferentes provendo, assim, um ponto de partida ideal para guiar uma microanálise adicional. Emissão de Elétrons Retroespalhados Quando o feixe incidente penetra no material, podem ocorrer vários eventos de espalhamento inelásticos e elásticos. Esses eventos de espalhamento resultam no retroespalhamento dos elétrons que sofrem espalhamento elástico de alto ângulo no material, capacitando-os a chegar na superfície com energia suficiente para escapar, Fig.3.24. 48 Fig.3.24. Volume de interação e saída de elétrons retroespalhados para atingir o detector. O próprio retroespalhamento se refere a eventos individuais de espalhamento elástico que fazem elétrons sofrer grandes desvios angulares tal que os caminhos originais são desviados até uma extensão que torna possível que eles escapem pela superfície do espécime. Porém na maioria dos casos os elétrons sofrem uma série de espalhamentos de pequeno ângulo, de tal forma que o seu caminho é eventualmente desviado para da superfície da amostra. Uma compreensão do espalhamento elástico que acontece no material é importante, já que ele remove energia do feixe de elétrons que, caso contrário, seria usada para produzir raios-X ou elétrons secundários. A fração de elétrons retroespalhados ou coeficiente de retroespalhamento (?) é definido como o número de elétrons retroespalhados para fora da amostra ? ?= n(BSE) / n(B) onde n(BSE) é a fração de elétrons incidentes e n(B) é o número de elétrons do feixe que entram na amostra. Elétrons retroespalhados dão origem a um sinal importante usado para produzir imagens em um MEV e é sensível a diferenças em número atômico, topografia local, cristalografia, bem como à estrutura do campo magnético do material. O grau de retroespalhamento depende de vários parâmetros, inclusive o número atômico do material. Os elétrons retroespalhados emergem com uma faixa de energias, dependendo do número e tipo de eventos de retroespalhamento que eles sofreram, antes de deixar o espécime. A distribuição de energia varia suavemente, estendendo da energia primária e caindo até essencialmente zero. 49 Dependência com o número atômico A Fig.3.25 mostra a relação entre o coeficiente de retroespalhamento (?) com o número atômico. Existe um aumento monotônico global geral no coeficiente de retroespalhamento com o número atômico que forma a base para a diferenciação entre fases. Fig. 3.25 Dependência com a inclinação da amostra Quando os elétrons entram na amostra eles sofrem uma série de eventos de espalhamentos. Eventos elásticos causam desvios dos elétrons, de alguns graus, das suas direções originais tal eles podem apenas podem escapar da superfície depois de vários eventos. Ocasionalmente elétrons sofrerão eventos únicos de espalhamento de alto ângulo e saem diretamente para fora do espécime. Se a amostra é agora inclinada de ?, o número de desvios requeridos pelos elétrons para sair da amostra diminui e então o rendimento aumenta como mostrado nas duas simulações de Monte Carlo, Fig.3.26 para uma amostra inclinada a 0º e 70º. Deste modo a produção de elétrons retroespalhados aumenta com aumento do ângulo de inclinação. Porém, esta distribuição representa o número total de elétrons retroespalhados emitidos da amostra, sem qualquer considera- ção do seu espalhamento angular. Fig. 3.26 50 Distribuição angular de elétrons retroespalhados A Fig.3.27 mostra a distribuição angular de elétrons retroespalhados em relação a superfície da amostra. A distribuição é definida em relação a superfície normal, com a produção máxima de elétrons ao longo desta direção. A distribuição angular de elétrons em qualquer ângulo relativo a esta normal é simétrica mas a produção é uma função de F. A energia mais alta dos elétrons retroespalhados significa que eles são menos sensíveis a campos eletrostáticos que elétrons secundários, e não podem ser mais eficientemente coletados pela polarização do detector. Fig. 3.27. Quando a amostra está inclinada, a distribuição angular fica assimétrica como ilustrado na Fig.3.26 para uma amostra inclinada a 70º com relação à superfície horizontal. O grau de assimetria é uma função do número atômico do material. Raios-X A interação de um elétron de alta energia com um átomo pode resultar na ejeção de um elétron de uma camada atômica interna. Isto deixa o átomo em um estado ionizado ou excitado com uma vacância nesta camada. De- excitação pode acontecer por um elétron de uma camada mais externa que venha a preencher a vacância. A variação em energia é determinada pela
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