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1 Esôfago O esôfago do adulto é um tubo de 25 cm que contém músculo estriado e liso em sua porção superior e apenas músculo liso em sua porção inferior. Está fixado superiormente ao músculo cricofaríngeo, que é considerado o esfíncter esofágico superior. Pontos de estreitamento (cricóideo, aórticobrônquico, diafragmático e cárdico). Atravessa o mediastino posterior atrás da traqueia e do coração, saindo do tórax através do hiato diafragmático. A contração muscular tônica na extremidade inferior do esôfago cria uma ação semelhante a de uma válvula unidirecional. O denominado esfíncter esofágico inferior, não é um esfíncter anatômico verdadeiro, mas sim funcional. A transição da mucosa escamosa normal do esôfago para a mucosa gástrica na junção esofagogástrica, ocorre abruptamente no nível do diafragma. CAMADAS DA PAREDE ESOFÁGICA: epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado, lâmina própria fibroelástica e uma camada de músculo liso longitudinal formando a muscular da mucosa. Submucosa, túnica muscular própria (circular interna e longitudinal externa) e adventícia. PLEXOS NERVOSOS: submucoso e mioentéricos VASOS 2 EPITÉLIO: 0,5 mm de espessura (renovação a cada 3 semanas) – células de Langerhans. LÂMINA PRÓPRIA: glândulas cárdicas esofágicas na faringe e próximo a junção esofagogástrica. Ocasionais nódulos linfoides do sistema MALT. MUSCULAR DA MUCOSA: longitudinal, mais espessa próximo ao estômago. SUBMUCOSA: tecido conjuntivo fibroelástico com glândulas mucosas e plexo nervoso submucoso. TÚNICA MUSCULAR EXTERNA E ADVENTÍCIA: células musculares lisas e células musculares esqueléticas, plexo Auerbach, adventícia até o diafragma, depois serosa. EMBRIOLOGIA DO TGI DERIVADOS DO INTESTINO ANTERIOR: faringe primitiva, sistema respiratório inferior, esôfago, estômago, duodeno proximal à abertura do canal biliar, fígado, vias biliares e pâncreas (tronco celíaco). DERIVADOS DO INTESTINO MÉDIO: intestino delgado, ceco, apêndice, cólon ascendente e dois terços do cólon transverso (mesentérica superior). DERIVADOS DO INTESTINO POSTERIOR: cólon transverso restante, cólon descendente, sigmoide, reto e porção superior do canal anal, epitélio da bexiga urinária e a maior parte da uretra (mesentérica inferior). ANOMALIAS CONGÊNITAS FÍSTULA TRAQUEOESOFÁGICA: é a anomalia congênita mais comum do esôfago e com frequência está associada com alguma forma de atresia esofágica. A atresia proximal de esôfago com fístula traqueoesofágica distal ocorre em 80 a 90% dos casos; atresia de esôfago isolada 5 a 7% e fístula traqueoesofágica sem atresia de esôfago 2 a 6% Início – 4 semanas 7-8 semanas – diferenciação das estruturas 13 semanas – deglutição 3 DIVERTÍCULOS: é uma evaginação da parede que contém todas as camadas do esôfago. Quando a projeção sacular não contém todas as camadas é conhecida como falso divertículo. DIVERTÍCULO DE ZENKER (FARINGOESOFÁGICO): é uma lesão incomum situada na posição alta do esôfago e que acomete mais homens do que mulheres, sexta década. A causa não está bem estabelecida e envolve a função da musculatura cricofaríngea. 4 O divertículo de Zenker é o divertículo mais comum do esôfago (90%); sua prevalência tem sido relatada como variando entre 0,01% e 0,11%. Ocorre em maior número nos indivíduos com mais de 50 anos de idade, predominando em mulheres, segundo alguns estudos, e com maior frequência em homens, de acordo com outros. DIVERTÍCULOS DE TRAÇÃO: são evaginações que ocorrem principalmente na porção média do esôfago. Ocorrem por aderências à estruturas externas (ex.: linfonodos mediastinais) ou por distúrbios da função motora do esôfago. DIVERTÍCULOS EPIFRÊNICOS: localizados imediatamente acima do diafragma e ocorrem por distúrbios da função motora do esôfago (ex.: encontrados com frequência em pacientes com acalasia). Encontrados em pessoas jovens. A regurgitação noturna de grandes quantidades de líquido armazenado no divertículo durante o dia é comum. DISTÚRBIOS MOTORES: a coordenação automática do movimento muscular durante a deglutição resulta na livre passagem do alimento através do esôfago. Os movimentos envolvidos na deglutição são coordenados por nervos provenientes dos troncos simpáticos cervical e torácico. Qualquer falha da função muscular é incluída no conceito de distúrbios motores do esôfago. A característica dos distúrbios motores é a dificuldade na deglutição, denominada disfagia. Com frequência a disfagia manifesta-se pela consciência da deficiência de progressão do bolo alimentar e por si só não é dolorosa. A dor à deglutição é denominada odinofagia. A perturbação da motilidade esofágica (ex.: espasmo) também pode causar dor subesternal que se irradia para o dorso, braços, pescoço e mandíbula, simulando uma doença coronariana. Disfunção do músculo estriado na porção superior do esôfago causando disfagia. Doenças sistêmicas do músculo esquelético também afetam a porção superior do esôfago e causam disfagia (ex.: miastenia gravis, dermatomiosite, amiloidose, hipertireoidismo e mixedema). Doenças neurológicas que acometem os nervos para o músculo esquelético (ex.: AVC) podem comprometer a deglutição. Neuropatias periféricas associadas a diabetes ou alcoolismo podem interferir na função do músculo liso e provocar disfagia. ACALASIA: antigamente denominada cardioespasmo, é uma doença caracterizada por incapacidade de relaxamento do esfíncter esofágico inferior em resposta à deglutição e ausência de peristalse no corpo esofágico. Em virtude desses defeitos no trato de saída e nos mecanismos de bombeamento do esôfago, o alimento fica retido no esôfago, e o órgão sofre hipertrofia e dilatação visíveis. A causa da acalasia não está bem estabelecida, há consenso de que uma perda ou ausência de células ganglionares no plexo mioentérico do esôfago esteja envolvida. Na América Latina a acalasia é uma complicação comum da doença de Chagas, sendo as células ganglionares destruídas pelo Trypanossoma cruzi. A disfagia, ocasionalmente odinofagia e a regurgitação de material retido no esôfago são sintomas comuns da acalasia. A aspiração de alimentos pode causar pneumonia. O tratamento é feito por dilatação ou miotomia cirúrgica, que pode provocar refluxo gastroesofágico. HÉRNIA HIATAL: é uma herniação do estômago através de um hiato esofágico aumentado no diafragma. É um distúrbio 5 adquirido comum, a hérnia hiatal tem, na maioria dos casos, causa desconhecida. TIPOS DE HÉRNIA HIATAL HÉRNIA POR DESLIZAMENTO: um aumento do hiato diafragmático e a frouxidão do tecido conjuntivo circunferencial permitem que uma cobertura da cárdia gástrica se mova para cima até uma posição acima do diafragma. É assintomática na grande maioria das vezes e apenas 5% dos pacientes com diagnóstico radiológico queixam-se de sintomas referentes a refluxo gastroesofágico. HÉRNIA PARAESOFÁGICA: herniação de uma parte do fundo gástrico ao longo do esôfago, através de um defeito na membrana de tecido conjuntivo diafragmática que define o hiato esofágico. A hérnia aumenta progressivamente e o hiato cada vez mais. Não costuma causar sintomas significativos. Em casos extremos a maior parte do estômago hérnia para o tórax, e pode ser acompanhada pelo intestino delgado. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: os sintomas da hérnia hiatal, particularmente pirose e regurgitação, são atribuídos a refluxo gastroesofágico. Entretanto, evidências sugerem que o refluxo está relacionado com a incompetência do esfíncter esofágico inferior. Os sintomas são exacerbados quando a pessoa está em posição de decúbito, oque facilita o refluxo de ácido. A disfagia, a deglutição dolorosa (odinofagia) e, ocasionalmente hemorragia, também podem causar problemas. Em casos de hérnias paraesofágicas muito grandes, a protrusão do estômago para o tórax pode dificultar a respiração. Nessas grandes herniações há risco de volvo gástrico ou de dilatação gástrica intratorácica. As hérnias hiatais por deslizamento não exigem reparo cirúrgico; os sintomas são tratados clinicamente. As hérnias paraesofágicas crescentes devem ser tratadas cirurgicamente, mesmo sem sintomas. DISTÚRBIOS DO TRATO DE SAÍDA ESOFÁGICO ESOFAGITES Esofagite de refluxo Esofagite infecciosa (candida, herpes, CMV) Esofagite química Esofagite em doenças sistêmicas Esofagite causada por agente físico (irradiação, tubos nasogástricos) 6 ESOFAGITE DE REFLUXO: refere-se a lesãonesofágica causada pela regurgitação do conteúdo gástrico para a porção inferior do esôfago. É o tipo mais comum de esofagite, associada à hérnia hiatal por deslizamento ou esfíncter esofágico inferior incompetente, sem qualquer lesão anatômica demonstrável. Patogenia: A principal barreira ao refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago é o esfíncter esofágico inferior. O refluxo transitório é um evento normal, sobretudo após uma refeição. Quando esses episódios tornam-se mais frequentes e prolongados, ocorre esofagite. Além da hérnia hiatal, outros agentes que podem causar a diminuição da pressão do esfíncter esofágico inferior são: álcool, chocolates, alimentos gordurosos, fumo, causando refluxo. Algumas drogas como os depressores do SNC (morfina, diazepan). Gravidez e a permanência de um tubo nasogástrico. O ácido gástrico, juntamente com a pepsina gástrica e a bile refluída do duodeno são lesivos à mucosa esofágica. O álcool, bebidas muito quentes e alimentos condimentados também podem ser lesivos à mucosa esofágica. Patologia: A primeira alteração macroscopicamente evidente produzida pelo refluxo gastroesofágico é a hiperemia. Quando o refluxo é crônico observa-se espessamento reativo do epitélio sob a forma de placas branco-acinzentadas irregulares denominadas de leucoplasia. As áreas afetadas pelo refluxo são suscetíveis a erosões superficiais da mucosa e úlceras, que se apresentam sob a forma de estrias lineares verticais. Microscopicamente: degeneração hidrópica do epitélio, espessamento da camada basal, alongamento das papilas, vasos sanguíneos dilatados, com presença de células inflamatórias na lâmina própria. As erosões e úlceras em esofagites graves podem causar hematêmese fatal, ou raramente perfuração do esôfago. Pode ocorrer estenose esofágica nos casos em que a úlcera persiste e lesa a parede esofágica, com fibrose cicatricial. A queixa clínica mais comum é a disfagia progressiva. ESÔFAGO DE BARRETT: é definido como a substituição (metaplasia glandular) do epitélio escamoso do esôfago por epitélio colunar (glandular) devido a refluxo gastroesofágico. É mais frequente em homens brancos e está relacionado com o tabagismo. 7 DEFINIÇÕES Conforme escola inglesa: CLÁSSICO: >3 cm da JEG com mucosa cárdica ou mucosa oxíntica atrófica ou com metaplasia intestinal (é um diagnóstico combinado, endoscópico e histopatológico). SEGMENTO CURTO: <3cm mas somente com metaplasia intestinal. SEGMENTO ULTRACURTO: metaplasia intestinal dentro da JEG. Definição britânica e Japonesa de mucosa de Barrett 2014: epitélio colunar com ou sem células caliciformes (metaplasia intestinal) se estendendo ≥1,0 cm acima das pregas gástricas. Definição American College of Gastroenterologists de mucosa de Barrett 2016: epitélio colunar com células caliciformes (metaplasia intestinal) se estendendo ≥1,0 cm acima das pregas gástricas. PATOLOGIA: histologicamente a lesão caracteriza-se por três tipos de metaplasia: Um epitélio semelhante ao do intestino com células caliciformes e células superficiais. Glândulas mucosas semelhantes às do cárdia (nenhuma ou poucas células parietais ou principais). Epitélio semelhante ao do fundo gástrico, com glândulas curtas contendo células parietais e principais. Alterações inflamatórias são encontradas junto com as alterações epiteliais e, em alguns casos, encontra-se ulceração e até mesmo estreitamento (fibrose - cicatrização) acima do epitélio metaplásico. A reversão do epitélio de Barrett para a superfície escamosa normal foi descrita raramente após correção do refluxo. O epitélio metaplásico no esôfago de Barrett implica risco sério de transformação maligna para adenocarcinoma. OUTRAS PATOLOGIAS ESOFÁGICAS VARIZES ESOFÁGICAS: são veias dilatadas situadas sob a mucosa, propensas à ruptura e hemorragia. Originam-se no terço inferior do esôfago associadas ao quadro de hipertensão porta resultante da cirrose hepática. As veias esofágicas inferiores estão ligadas ao sistema porta através de anastomoses gastroesofágicas. LACERAÇÕES E PERFURAÇÕES: podem ocorrer devido a traumatismos externos (ex. acidentes automobilísticos, quedas, procedimentos médicos). A causa mais comum é o vômito intenso, durante o qual a pressão intraesofágica pode alcançar 300mmHg. O diafragma desce rapidamente, e parte da região superior do estômago é forçada através do hiato diafragmático. 8 Consequentemente a ânsia de vômito pode causar ruptura da mucosa, começando no epitélio gástrico e estendendo-se até o esôfago. A síndrome de Mallory-Weiss refere-se a vômitos incoercíveis, frequentemente associados ao alcoolismo, causando lacerações da mucosa da porção superior do estômago e da porção inferior do esôfago. Essas lacerações resultam no vômito de sangue vermelho-vivo, e a hemorragia pode ser tão intensa a ponto de exigir a transfusão de muitas unidades de sangue. As lacerações podem causar, também, perfuração para o mediastino. A ruptura do esôfago causada pelo vômito é conhecida como síndrome de Boerhaave. NEOPLASIAS BENIGNAS: epiteliais (papilomas – HPV; Adenomas); não epiteliais (leiomioma, lipoma, fibroma…) – Menos de 1% dos tumores esofágicos, risco de malignidade 0. MALIGNAS: epiteliais (carcinoma de células escamosas– ampla distribuição geográfica). LESÕES PRECURSORAS Ainda não há fatores ou marcadores que indiquem qual o esôfago de Barret com risco para desenvolver câncer - 75% dos adenocarcinomas de esôfago são passível de cura em programas de screening enquanto só 25% fora deles. LESÕES PRECURSORAS ESCAMOSAS Neoplasia intraepitelial esofágica de alto grau (displasia severa/ca in situ) Neoplasia intraepitelial esofágica de baixo grau (displasia leve / moderada) Adjacente a carcinomas em 60 a 90% dos casos 20% desenvolverão carcinoma em 8 anos vs 0,1% PATOGENIA: as variações geográficas no câncer esofágico, mesmo em populações homogêneas, sugerem que fatores ambientais contribuem para o desenvolvimento dessa neoplasia. Nenhum fator isolado pode ser considerado como causa do câncer esofágico, mas sim suas associações. Consumo excessivo de álcool. O uso de tabaco, principalmente o cigarro (o número de cigarros/dia está relacionado com displasia do epitélio). As nitrosaminas e os corantes de anilina. Dietas pobres em frutas, vegetais, proteínas animais e oligoelementos. Síndrome de Plummer-Vinson (tríade disfagia intermitente, ferropenia e membrana esofágica) 3 – 15%, espru celíaco e acalasia (causa não explicada) Esofagite crônica 9 Lesão química com estenose esofágica (5% das pessoas após ingestão de NaOH desenvolvem câncer 20 a 40 anos depois) Membranas, anéis e divertículos Mucosa gástrica heterotópica2-10% da população PATOLOGIA: em cerca da metade dos casos de câncer de esôfago, o terço inferior está comprometido, os terços médio e superior representam o restante. Macroscopicamente os tumores são de três tipos: Polipoide Ulcerativo Infiltrativo CARCINOMA EPIDERMÓIDE DO ESÔFAGO – CLASSIFICAÇÃO MACROSCÓPICA Microscopicamente graus variados de diferenciação. A disseminação vascular e linfática varia de acordo com a localização do tumor (se terço superior, médio ou inferior). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: a queixa mais comum é a disfagia, em geral reconhecida apenas quando o diâmetro da luz esofágica é reduzido em 30% a 50%. Nesse momento a maioria dos tumores é irressecável. Os pacientes com câncer de esôfago são quase sempre caquéticos devido a anorexia, dificuldade de deglutir e efeitos sistêmicos de um tumor maligno. CARCINOMA EPIDERMÓIDE PAGETÓIDE 10 CA epidermóide superior (15%) 20-25 cm dos incisivos CA epidermóide médio (60%) 25 -30 cm dos incisivos CA epidermóide inferior (25%) 30-40cm dos incisivos Odinofagia pode significar extensão mediastinal ou invasão dos nervos espinhais. A compressão do nervo laríngeo recorrente produz rouquidão, e a fístula traqueoesofágica manifesta-se clinicamente por tosse crônica. A cirurgia e a radioterapia são paliativas; o prognóstico é sombrio, apenas 40% dos pacientes submetidos à cirurgia apresentam tumores potencialmente ressecáveis e um terço morre em virtude da própria cirurgia. Dos sobreviventes apenas 10% (4% do total) vivem por 5 anos. ADENOCARCINOMA DO ESÔFAGO Praticamente todos os adenocarcinomas esofágicos originam-se no epitélio de Barrett. Os sintomas e a evolução são semelhantes aos do carcinoma de células escamosas, mas foi descrita uma sobrevida de 20% em 5 anos após cirurgia radical; o tratamento auxiliar parece melhorar a evolução. Esôfago de Barrett: epitélio colunar endoscopicamente detectável com células caliciformes. Refluxo crônico – Lesão – Metaplasia – CA 90% clinicamente silenciosos Se diagnostica 10 -20 anos depois do início dos sintomas Maior segmento – maior o risco >3 cm ou <3 cm 3 cm Segmento longo Segmento curto Ultracurto RISCO DE DESENVOLVER CÂNCER EM PACIENTES COM EB < 2% EB sem displasia 8-12% EB com displasia de baixo grau 16-31% EB com displasia de alto grau OUTROS TUMORES MALIGNOS Primários, raros, incluem melanoma, tumores endócrinos e sarcomas. Às vezes encontra-se extensão direta de cânceres do pulmão e da tireoide.
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