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Arbitragem e Perícia Contábil ??????????? Arbitragem e Perícia Contábil Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2017 Jucelaine Bitarello Pedro Edmundo Boll Conselho Editorial EAD Andréa de Azevedo Eick Ângela da Rocha Rolla Astomiro Romais Claudiane Ramos Furtado Dóris Gedrat Honor de Almeida Neto Maria Cleidia Klein Oliveira Maria Lizete Schneider Luiz Carlos Specht Filho Vinicius Martins Flores Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. ISBN: 978-85-5639-251-0 Dados técnicos do livro Diagramação: Marcelo Ferreira Revisão: Marcela Machado Na disciplina de Arbitragem e Perícia Contábil, do Curso de Ciências Contábeis, são apresentados conteúdos essenciais à prática da perí- cia contábil, sua área de abrangência, as normas do direito envolvidas, o desenvolvimento prático e a elaboração do laudo pericial contábil. Nesse sentido, os conceitos teóricos visam às formas e aplicação de fundamentos de arbitragem. Para a ciência da contabilidade, os atos e fatos praticados por Pessoas Jurídicas e Físicas são geradores de demandas de trabalho, as quais re- querem que profissionais dessa área tenham habilidades e conhecimentos para o desenvolvimento do papel de auxílio ao Judiciário, para dirimir os conflitos, entre partes avençadas. Para o desenvolvimento dos conteúdos deste livro contou-se com a colaboração do Prof. Dr. Tarcísio Staudt que possui conhecimento prático e teórico dos temas citados. E ainda, agra- decimento especial ao Prof. Pedro Edmundo Boll que generosamente cedeu materiais que serviram de fonte de pesquisa e contribuíram significativa- mente para o aprofundamento dos conteúdos. Para o objetivo do estudo busca-se apresentar abordagem teórica de conceitos, a organização, o planejamento e as normas da perícia contábil, identificando áreas de abrangência e apresentação de laudos periciais. Assim, identifica-se que o conhecimento teórico a partir dos conceitos apre- sentados é relevante subsídio aos profissionais da área da contabilidade para as informações que envolvem a relação, a priori, de litígio. Em relação à problematização, esta disciplina busca o estudo da perí- cia contábil no que se refere: às normas, à legislação, aos conceitos, à organização, ao planejamento, aos meios de provas previstos no direito, às áreas de abrangência da perícia contábil, às características e habili- Apresentação Apresentação v dades inerentes ao perito contábil. Diante disso, entende-se que o exercício acadêmico pela proposição de atividades de fixação de conteúdo permite a compreensão das fases do desenvolvimento da perícia contábil, com vistas à elaboração de laudos de perícia contábil. Em relação à estrutura do livro, este é apresentado em dez capítulos. Esses foram divididos numa lógica que permite ao/a leitor/a partir dos conceitos fundantes da perícia contábil na compreensão que ela tem, sob a dupla visão: atendimento ao direito de alguém e na apuração do correto e justo valor. Sendo assim, é de destaque que a Arbitragem e a Perícia Contábil são relevantes instrumentos de auxílio, em especial ao Judiciário, para a tomada de decisão. O que convém (re)lembrar que é a tênue e dinâmica relação entre três atores presentes: o sujeito do direito, o sujeito da obrigação e o Estado (agente regulador/mediador). Recomenda-se que o/a leitor/a não se atenha unicamente a este livro-texto, pois este tem a finalidade de servir de apoio e estímulo para a busca de leituras adjacentes com o objetivo de enriquecer o conhecimento. Entende-se que a área de Arbitragem e Perícia é ampla, mas recorrente a interpretações com novos ajustes e jurisprudências. 1 Introdução à Arbitragem e Perícia Contábil ...........................1 2 Objeto, Organização e Planejamento da Perícia Contábil ....23 3 A perícia como um dos Meios de Prova ...............................45 4 Áreas de Abrangência da Perícia Contábil ...........................66 5 Perito Contábil e Normas Profissionais ................................85 6 Desenvolvimento e Fases da Perícia ..................................106 7 Provas Documentais e Laudo Pericial Contábil ...................131 8 Remuneração do Perito-contador ......................................151 9 Elaboração de Laudo de Instrução e Arbitramento .............168 10 Liquidação de Sentença Trabalhista ...................................190 Sumário Jucelaine Bitarello1 Capítulo 1 Introdução à Arbitragem e Perícia Contábil 1 Jucelaine Bitarello é Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), RS, especialista em Administração e Estratégia Empre- sarial pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Canoas, RS, e graduada em Ciências Contábeis pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), RS. Ela é professora dos cursos de Ciências Contábeis, Administração e Gestão Pública da ULBRA, presencial e EaD. Jucelaine tem experiência profissional em organizações privadas e públicas, é autora de diversos artigos científicos, nacionais e internacio- nais, é autora de livros e capítulos de livros. Ela é, também, consultora ad hoc do Ministério da Educação e Cultura (MEC/INEP). 2 Arbitragem e Perícia Contábil Introdução Neste capítulo são apresentados conceitos sobre os conteúdos de dois pontos distintos: a Arbitragem e a Perícia. No entanto, ambos estão entrelaçados no momento que são abordadas questões que tratem do litígio. Assim, busca-se a compreensão desses dois pontos para que não haja obscuridade de conhe- cimento, mínimo e necessário, para dirimir as diferenças entre os atores da ação. Decidiu-se que neste primeiro capítulo sejam fundamen- tados alguns conceitos desses atores, como visto na apresen- tação da disciplina, relembrando-os, são: o do direito, o da obrigação e o intermediador. O primeiro e o segundo atores, acredita-se não haver dificuldade na definição, porém o ter- ceiro ator, o Estado, ora representado pelo Árbitro, em papel de auxílio ao judiciário, tem papel relevante na elucidação da ação, que por vezes requer a presença da perícia. Sendo as- sim, são dois os conteúdos deste capítulo: a Arbitragem e a Perícia. 1.1 Conceituação de Arbitragem e Árbitro A arbitragem é um termo que remete, de forma rápida e ime- diata, ao imaginário de alguém que esteja acompanhando um jogo, com poder de decidir lances que ali ocorrem, de acordo com: regulamento e regras predeterminadas. No entanto, no decorrer do jogo, podem e ocorrem eventos que necessitam da arbitragem, a qual, a priori e rigor, deve ser neutra, e que a Capítulo 1 Introdução à Arbitragem e Perícia Contábil 3 decisão tomada deve ser justa. Diante disso, é o jogo e às ve- zes percebemos que a arbitragem não foi correta e influenciou o resultado, porquanto que ali há interesses de dois competi- dores, os quais transferem a decisão ao árbitro. Veja agora que no campo da arbitragem do direito, o ár- bitro não está imbuído do poder de decisão e sim da interme- diação do interesse de duas pontas: uma que se intitula do direito e a outra da obrigação. Nesse sentido, a Comissão de Mediação e Arbitragem (CMA), da Ordem dos Advogados do Brasil / Minas Gerais – OAB/MG (2009, p. 6) em sua Cartilha de Arbitragem, ensina: Arbitragem é uma forma extrajudicial de resolução de conflitos, com a participação de um ou mais árbitros pri- vados, escolhidos segundo a vontade das partes. Assim como aconteceno Poder Judiciário, os árbitros exami- nam os argumentos expostos pelas partes demandantes e proferem uma decisão final e obrigatória, designada “sentença arbitral”. Essa decisão não está sujeita a re- curso e é considerado pela lei um título executivo judi- cial, podendo, portanto, ser imediatamente executada, em caso de descumprimento. A instauração do proce- dimento de arbitragem depende do livre consentimen- to dos envolvidos, que pode ser manifestado através de uma cláusula compromissória, inserida previamente em um contrato, e/ou mediante um acordo específico, cha- mado compromisso arbitral, que é firmado já depois do surgimento do litígio. Esses dois instrumentos possuem os mesmos efeitos: levam as partes à arbitragem e excluem a participação do Poder Judiciário. 4 Arbitragem e Perícia Contábil Nota-se pela citação, que a arbitragem é de certa forma um marco novo no arcabouço jurídico brasileiro, instituído pela Lei n° 9.307/1996. No entanto, a forma de atuação da arbitragem é tão antiga, talvez, quanto à própria existência de dois seres humanos na face da terra, que, todavia necessita- vam da terceira para dirimir conflitos, nem que fosse por posse de objeto qualquer. Assim, preceitua a citada Lei no Art. 1º: “As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitra- gem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais dispo- níveis”. Ainda, no Art. 2º: “A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes”. Nota-se assim, que as partes envolvidas no litígio têm a possibilidade de estabele- cer suas regras e encontrar o ponto de convergência, assistido pela arbitragem por elas estabelecida. Diante desse contexto, pode-se (re)lembrar o passado, que por vezes o/a leitor/a tenha ouvido falar de histórias de seus antepassados, pais, avós ou bisavós, que resolviam os confli- tos, de diversas ordens, diante de pessoas respeitadas da co- munidade que assistiam aos conflitantes. No final, em sentido simbólico, firmavam o acordo de algumas formas, entre elas: palavra dada como se escrita estivesse, o aperto de mão, o fio do bigode, entre outras. Estas alusões são vistas em Alberto (2012, p. 5) que cita: Há registros na milenária Índia, surgiu a figura do árbi- tro, eleito pelas partes, que, na verdade, era perito e juiz ao mesmo tempo, pois a ele estava afeta a verificação direta dos fatos, o exame do estado das coisas e lugares, e, também, a decisão “judicial” a ser homologada pelo Capítulo 1 Introdução à Arbitragem e Perícia Contábil 5 que detinha o poder real, feudal, no sistema de castas e privilégios indianos. No contexto evolutivo, da história do árbitro, Alberto (2012, p. 5) cita Carlo Lessona (1898) que em seu livro “Manuale dele prove in matéria civile”, refere-se ao primitivo direito ro- mano sobre a figura do perito ao auxílio do árbitro da seguinte forma: É no primitivo direito romano que vamos encontrar maior aclaramento da situação, com definições mais claras e objetivas, pois ali já se estabelece a figura do perito – embora não dissociada da do árbitro – quando a deci- são de uma questão dependia da apreciação técnica de um fato. [...] Ou seja, tinha o magistrado a faculdade de deferir o juízo da causa a homens que, segundo circuns- tâncias, melhor pudessem, por seus conhecimentos téc- nicos, pronunciar-se sobre fatos, e essa pessoa – arbiter – se constituía em verdadeiro juiz, de modo que era juiz e perito ao mesmo tempo. Assim, percebe-se que a arbitragem, pode servir-se da pe- rícia para o aclareamento da situação, objeto de litígio, con- teúdo que será aprofundado no item 1.2 seguinte. No entan- to, retomando a legislação brasileira, com o advento da Lei n° 9.307/1996, as partes envolvidas no litígio, podem estabe- lecer as regras para o objeto de arbitragem. Sendo que, após os litigantes terem convencionados a arbitragem deve levar aos efeitos da Lei, que diz: Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de 6 Arbitragem e Perícia Contábil arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. § 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira. § 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromis- sória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especial- mente para essa cláusula. Verificando a citação, nota-se que a arbitragem atualmente está prevista na Lei n° 9.307/1996, em que devem ser de- signados, ou escolhidos, profissionais capacitados, ou mesmo pessoas qualificadas que possam acompanhar a resolução do litígio, o qual pode ser executado de forma imediata, em caso de descumprimento de acordo. Outro ponto interessante é que as partes envolvidas sejam corretamente identificadas, com dados, preferencialmente com documentação e endereço pes- soal; ainda, definição clara dos honorários para a arbitragem, que depois de cumprida a convenção fica extinta, conforme Art. 12º. Capítulo 1 Introdução à Arbitragem e Perícia Contábil 7 Avançando no conteúdo arbitragem, destacam-se os árbi- tros, os quais, como visto, podem ser escolhidos por livre-arbí- trio das partes envolvidas, conforme a Lei n° 9.307/1996, Art. 13º, cita: “Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes”. Normalmente, em casos mais com- plexos, e atualmente em cenários econômicos com envolvi- mentos patrimoniais expressivos de Pessoas Físicas e Jurídicas, a Norma recomenda que sejam indicados vários árbitros e em número ímpar. Há casos em que a possibilidade de escolha de árbitros já esteja preestabelecida. Então a Lei n° 9.307/1996, no parágrafo 2º do Art. 13º, cita: Quando as partes nomearem árbitros em número par, estes estão autorizados, desde logo, a nomear mais um árbitro. Não havendo acordo, requererão as partes ao órgão do Poder Judiciário a que tocaria, originariamen- te, o julgamento da causa a nomeação do árbitro, apli- cável, no que couber. O procedimento previsto no art. 7º desta Lei. Esse procedimento citado cabe ao Juiz e está previsto no Art. 7º, da Lei n° 9.307/1996, que diz: Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição da arbitragem, poderá a parte inte- ressada requerer a citação da outra parte para compare- cer em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designan- do o juiz audiência especial para tal fim. Dessa forma, o Art. 18º da Lei n° 9.307/1996 refere que: “O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judi- 8 Arbitragem e Perícia Contábil ciário”. Essa práxis, citada, é uma forma razoável de elimina- ção de acúmulo de processos nas mesas de magistrados, os quais poderiam ocupar seu tempo em outras práticas judiciá- rias que, às vezes carecem de tempo (JUÍZO NOSSO). A sentença arbitral está prevista no Art. 23° da Lei n° 9.307/1996, a qual “será proferida no prazo estipulado pelas partes. Nada tendo sido convencionado, o prazo para a apresentação da sentença é de seis meses, contado da insti- tuição da arbitragem ou da substituição do árbitro”. Em caso da sentença proferida e o voto de algum árbitro seja de não concordância com a maioria, ele pode apresentar seu voto em separado. Ainda, havendo empate, o presidente dos árbitros profere o voto minerva, para o desempate. Na sequência apresenta-seuma ilustração, adaptada da CMA/OAB – MG (2009), sobre as vantagens do trabalho de arbitragem em relação ao procedimento judicial, em caso conflitivo, de litígio: Vantagem Descrição Celeridade Informalidade e ausência de recursos tornam o procedimento mais rápido do que a via judi- ciária. A sentença é definitiva. Informalidade Uso da técnica ágil e dinâmica, soluções amigáveis e rápidas adequadas com os desejos da sociedade. Sigilo Ao contrário do Poder Judiciário, toda a arbi- tragem é em sigilo como regra geral, sem di- vulgações. Capítulo 1 Introdução à Arbitragem e Perícia Contábil 9 Especialização Atualmente os árbitros são conhecedores da matéria arbitral e sua decisão tem conhecimen- to de qualidade. Prestígio da autono- mia da vontade Na jurisdição estatal o poder é do Estado. Na arbitragem a vontade é das partes com maior autonomia. Exequibilidade A sentença arbitral pode ser imediatamente executada, não estando sujeita a homologação prévia do judiciário. Melhor relação cus- to-benefício A rapidez na resolução do conflito evita custos indiretos por demora e multiplicidade de recur- sos que oneram o judiciário. Menor resistência ao cumprimento da decisão A sentença proferida por um árbitro de confi- ança enseja acolhimento do acordo por adesão das partes. Vantagem para os advogados A presença dos advogados das partes enseja solução rápida de dúvidas e campo de apli- cação do trabalho advocatício. Vantagens para a sociedade A arbitragem é ágil e eficaz na solução de lití- gios e desafoga o Judiciário e pode melhorar o seu padrão de eficiência. Por fim, verifica-se que atualmente, em matérias que de um lado são abordadas Judicialmente e de outro lado Extrajudi- cialmente, usam, conforme Alberto (2012), de técnicas para a solução de conflitos ou dúvidas sobre situações, coisas ou fatos. Partindo desses pressupostos, na sequência trata-se da conceituação da Perícia e do Perito. 10 Arbitragem e Perícia Contábil 1.2 Conceituação de Perícia Contábil e Perito A perícia tem seu marco mais fundante no direito romano, que de acordo com Sá (2011) e Alberto (2012) dão entendimen- to do termo a Roma Antiga, em que dava valor àqueles que possuíam vastos conhecimentos sobre matérias que exigiam forma perita de opinar sobre temas que envolviam os homens da época. Assim, sugere que os profissionais daquele tempo detinham “saber e talento” (SÁ, 2012, p. 3), referindo-se o autor aos Anais do Senado Romano. Porquanto a opinião te- ria que ser válida, com competência e entendimento. Alberto (2012, p. 5) cita: Il modo piú símplice efetivamente seguito era quello di nomnari iudex uma persona esperta di quella matéria, per modo che il giudice non aveva bisogno di chiamare um perito, ma egli stesso era giudice e perito insieme. Verificando a citação, a qual traduzida de forma literal diz que: A maneira mais efetivamente simples de seguir era nomi- nar formalmente uma pessoa experiente naquela matéria, de modo que o juiz não precisa chamar um perito, mas ele mes- mo era um juiz e especialista em conjunto. Esse entendimento remete o/a leitor/a relembrar o item anterior, o qual acenava para a similaridade da época antiga, entre Árbitro e Perito. Porquanto, Sá (2012, p. 3) cita que a expressão “Perícia” tem sua origem no Latim: Peritia, que em seu sentido próprio signi- fica Conhecimento (adquirido pela experiência) e Experiência. Capítulo 1 Introdução à Arbitragem e Perícia Contábil 11 Segundo D’Auria apud Alberto (2007, p. 17), “Perícia é conhecimento e experiência das coisas. A função pericial é, portanto, aquela pela qual uma pessoa conhecedora e experi- mentada em certas matérias e assuntos examina as coisas e os fatos, reportando sua autenticidade e opinando sobre as cau- sas, essência e efeitos da matéria examinada”. Dessa forma, o conceito de PERÍCIA CONTÁBIL liga-se, necessariamente, ao conceito geral de PERÍCIA, pois perícia é sempre perícia, seja qual for sua espécie, e a expressão composta busca apenas identificar a natureza do objeto da perícia. Gonçalves (1968, p. 7 apud ORNELAS, 2011, p. 29) nos diz que: “A perícia contábil é, pois, o exame com o objetivo de resolver questões contábeis, ordinariamente originárias de controvérsias, dúvi- das e de casos específicos determinados ou previstos em lei.”. A Norma Brasileira de Contabilidade - NBC TP 01 - define que: A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnico-científicos destinados a levar à instância decisó- ria elementos de prova necessários a subsidiar à justa solução do litígio ou constatação de um fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente. Assim, os resultados da Perícia são expressos através de um Laudo Pericial, o qual será abordado mais adiante em capítulo específico. Nesse contexto, os principais aspectos da Perícia Contábil são os seguintes: 12 Arbitragem e Perícia Contábil a) A Perícia Contábil serve de elemento de prova, o que, geralmente não se espera de uma Auditoria Contábil; b) A Perícia Contábil tem objeto delimitado, para um fim específico, e os exames são minuciosos e profundos, abrangendo totalidade do objeto em questão; c) A Perícia Contábil tem por objetivo apurar determina- do fato que se cogita principalmente quando há con- trovérsia entre duas ou mais pessoas físicas ou jurídi- cas e, para tal apuração, usualmente, são formuladas perguntas ou quesitos, cujas respostas formam a parte principal do Laudo, peça que consubstancia o resul- tado do trabalho pericial e a opinião do profissional responsável por ele; Em resumo, para compreender o conteito de PERÍCIA CONTÁBIL, é necessária a revisão de três pontos relevantes: Item Descrição Conceito A Perícia Contábil é o conjunto de procedimentos técnicos que tem por objetivo a emissão de laudo sobre questões contábeis mediante exame, vistoria, indagação, investigação, arbitramento, avaliação ou certificação. Objeto O objeto maior da perícia contábil é a verdade sobre o objeto examinado, ou seja, a transferência da verdade contábil para o ordenamento - o processo ou outra for- ma - da instância decisória. Objetivo A perícia contábil tem por objetivo geral a constatação, prova ou demonstração contábil da verdade real sobre o seu objeto, transferindo-o, através de sua materialização - o Laudo - para o ordenamento da instância decisória judicial ou extrajudicialmente. Capítulo 1 Introdução à Arbitragem e Perícia Contábil 13 Verificando a ilustração, nota-se que o objetivo exposto é geral, porém há diversos objetivos específicos a serem atendi- dos pela Perícia Contábil, tais como: a) Informação fidedigna; b) A certificação, o exame e a análise do estado circuns- tancial do objeto; c) O esclarecimento e a eliminação de dúvidas suscita- das sobre o objeto; d) O fundamento científico da decisão; e) A formulação de uma opinião ou juízo técnico; f) A mensuração, a análise, a avaliação ou arbitramento sobre o quantum monetário do objeto e g) Trazer à luz o que está oculto por inexatidão, inverda- de, má-fé, erro ou fraude. Para a execução da Perícia Contábil, é requerido ao perito que seja profissional, com formação específica, conhecimen- to sobre o objeto do estudo, devidamente habilitado, sendo definido seu conceito pela Norma Brasileira de Contabilidade do - NBC PP 01, como segue: Perito é o contador regularmente registrado em Conselho Regional de Contabilidade, que exerce a atividade peri- cial de forma pessoal, devendo ser profundo conhecedor, por suas qualidades e experiências, da matéria periciada. 14 Arbitragem e Perícia Contábil Dessa forma,há um conjunto de qualidades indispensáveis ao perito contador, destacam-se entre elas as QUATRO mais relevantes: Â A primeira é a Legal, ou seja, a Capacidade Legal é a que lhe confere o título de Bacharel em Ciências Con- tábeis e o registro no Conselho Regional de Contabili- dade. Â A segunda é a Profissional, a Capacidade Profissional é caracterizada conforme ilustração a seguir: Item Descrição Conhecimentos teóricos e práticos da Contabilidade pois, através deste conhecimento técni- co-científico, o Perito levará aos autos a verdade real, na sua essência, sobre os fatos em litígio. Vivência Profissional A vivência profissional é considerada em perícia como seu elemento fundamental. Teoricamente definem-se padrões de compor- tamento profissional, porém a prática os torna pessoais, ou seja, dois Contadores podem, sobre um mesmo fato, ter duas interpretações distintas. Existem práticas grosseiras e que saltam à vista até de leigos em contabilidade, entretanto, também existem práticas bastante sutis, que mesmo o Contador encontra dificul- dades em encontrar. Daí a extrema necessi- dade do equilíbrio e bom-senso, advindos da exigência profissional exigida de um Perito. Capítulo 1 Introdução à Arbitragem e Perícia Contábil 15 Perspicácia, persever- ança, sagacidade Segundo o dicionário “Aurélio”, tem-se que essas palavras exprimem a qualidade do profissional Perito relativo à sua capacidade de observação, concentração para identi- ficar adequadamente o objeto de estudo, examinando, analisando, estudando profun- damente, sem permitir que o trabalho seja desenvolvido de forma superficial. Assim, deve sempre estar atento e procurar evidências em relação aos fenômenos patrimoniais que está sendo examinado. Conhecimento geral de ciências afins à Contabilidade No mundo moderno, seja pela globalização da economia, seja dos mercados, a neces- sidade do conhecimento holístico do profis- sional do próximo milênio ajustou a visão distorcida do especialista puro, exigindo que o homem tenha conhecimentos sobre todas as áreas que afetam a sua especialidade. Nesse sentido, a Contabilidade, requer do Contador, além do conhecimento profundo, conheci- mentos gerais, com necessário domínio de matemática, especialmente financeira, econo- mia, direito, lógica e, principalmente língua portuguesa. Índole criativa e intuitiva Essas características pode-se dizer que sejam o sexto sentido (e talvez o sétimo) do profis- sional que encontra no trabalho pericial a sua forma plena de trazer a verdade dos fatos, proporcionando ao julgador os parâmetros necessários para proferir a Sentença. A constante busca da verdade, a sintonia com o divino, a empatia com aquele que o convocou são comportamentos que permitem o aprimo- ramento, a ampliação e até mesmo o surgi- mento dessas qualidades no profissional que objetiva-se tornar-se um verdadeiro perito. 16 Arbitragem e Perícia Contábil Probidade De nada vale possuir as características acima, sem que o Perito esteja imbuído de extremo senso de probidade. O trabalho justo e ade- quado do Perito não se faz sem uma causa, o conhecimento da verdade pelo Perito é servir, auxiliar o Juiz a emitir um juízo perfeito dos fatos, para a elaboração mais fundamentada de sua sentença que abordou o direito, ou permitir que o administrador que o contratou, no caso da perícia extrajudicial, possua todos os elementos para a conclusão e decisão. Verificando a ilustração nota-se que a consequência de uma perícia desonesta, feita no intuito de distorcer a realidade de um fato, pode causar transtornos de difícil reparação. O reflexo é sempre negativo e prejudicial a alguém, pois uma decisão qualquer, baseada na interpretação distorcida de um fato, pode provocar danos irreparáveis, quer sejam pessoais ou patrimoniais. Esta conduta profissional com a isenção, a não tendencio- sidade, o comportamento leal, a verdade real, o espírito de equidade e justiça deve nortear todos os sentimentos do Perito. A terceira é a Capacidade Ética, a qual estabelece co- nexão com o Código de Ética Profissional do Contador e a Norma do Conselho Federal de Contabilidade. Entre as ca- pacidades éticas, devem-se destacar basicamente a conduta do perito com seus colegas e o caráter de independência e veracidade que deve manter em seu Parecer (Laudo Pericial). Por fim, a quarta é a Capacidade Moral, a qual se estriba na virtude das atitudes pessoais do profissional. Nessa última Capítulo 1 Introdução à Arbitragem e Perícia Contábil 17 qualidade, é transformada a essência da ação profissional, com lisura e imparcialidade. Recapitulando Foram abordados dois itens neste capítulo: o primeiro tratou dos conceitos sobre a Arbitragem, no qual foram trazidos os conceitos teóricos e a definição conceitual sobre quem é o profissional dessa área – o árbitro, sendo que foi verificado que esse é um assunto que acompanha a história do ser huma- no desde os tempos antigos, e ainda, na atualidade, existem práticas similares, mas com o advento da Lei n° 9.307/1996, no Brasil, de certa forma, há profissionalização na área. No segundo item abordou-se a Perícia, na qual se partiu da visão genérica para a específica, da contabilidade, na qual se tem o Perito Contábil, o qual é o profissional qualificado e capacita- do para o exercício dessa função. Num sentido amplo e ao mesmo tempo específico, fez-se juízo de que na esteira da profissionalização da Arbitragem e da Perícia, se aplicada e tornada de conhecimento da socie- dade, estas, por sua feita percebida e absorvida, podem ser relevantes para prestação de serviços à população, que em contrapartida aliviariam os serviços Judiciários, os quais pode- riam dispender energias para padrões mais eficientes. 18 Arbitragem e Perícia Contábil Referências BRASIL. LEI N° 9.307, DE 23 DE SETEMBRO DE 1996. Dispõe sobre a arbitragem. Disponível em: <www.presidenciadarepública.gov.br>. Acesso em: 19 de julho de 2016. ______. LEI N° 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Dis- põe sobre o Código de Processo Civil. Disponível em: <www.presidenciadarepública.gov.br>. Acesso em: de 27 julho de 2016. ______. LEI N° 13.129, DE 26 DE MAIO DE 2015. Altera a Lei n° 9.307, de 23 de setembro de 1996, e a Lei n° 6.404, de 15 de dezembro de 1976, para ampliar o âmbito de aplicação da arbitragem e dispor sobre a escolha dos ár- bitros quando as partes recorrem a órgão arbitral, a in- terrupção da prescrição pela instituição da arbitragem, a concessão de tutelas cautelares e de urgência nos casos de arbitragem, a carta arbitral e a sentença arbitral, e revoga dispositivos da Lei n° 9.307, de 23 de setembro de 1996. Disponível em: <www.presidenciadarepública.gov.br>. Acesso em: 19 de julho de 2016. ALBERTO, Valdeir Luiz Palombo. Perícia Contábil: Normas Brasileiras de Perícia Contábil Comentadas (NBC T 01 e NBC PP 01); Aspectos Legais, Civis e Criminais; Casos Prá- ticos de Perícia Contábil das Áreas Cível, Federal, Traba- lhista (Instrução e Liquidação) e Extrajudiciais; Honorários Periciais. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012. Capítulo 1 Introdução à Arbitragem e Perícia Contábil 19 COMISSÃO DE MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM – CMA/OAB/ MG. Cartilha de Arbitragem. Ordem dos Advoga- dos do Brasil – Minas Gerais, 2009. Disponível em: <http://www.precisao.eng.br/jornal/Arbitragem.pdf>. Acesso em: 19 de julho de 2016. ORNELAS, Martinho Maurício Gomes de. Perícia Contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011. RESOLUÇÃO CFC 2015/NBCTP01, de 19 de março de 2015. Norma Brasileira de Contabilidade - NBC TP 01 – PE- RÍCIA CONTÁBIL. RESOLUÇÃO CFC 2015/NBCPP01, de 19 de março de 2015. Norma Brasileira de Contabilidade - NBC PP 01 – PE- RITO CONTÁBIL. SÁ, Antônio Lopes. Perícia Contábil. 10.ed. Revisada e Am- pliada. São Paulo: Atlas, 2011. Atividades 1) Assinale a alternativa que melhor apresenta o conceito de arbitragem: a) Arbitragem é uma forma obrigatoriamente judicial de resolução de conflitos, com a participação de um ou mais árbitros privados, escolhidos segundo a vontade das partes. 20 Arbitragem e Perícia Contábil b) Arbitragem, assim como a Perícia é uma forma extra- judicial de resolução de conflitos, com a participação de um ou mais árbitros privados, escolhidos segundo a vontade das partes. c) Arbitragem, assim como a Perícia, é uma forma judi- cial de resolução de conflitos, com a participação de um ou mais árbitros privados, escolhidos segundo a vontade das partes. d) Árbitro é uma forma extrajudicial de intermediação de conflitos, com a participação de um ou mais árbitros privados, escolhidos segundo a vontade das partes. e) Arbitragem é uma forma extrajudicial de resolução de conflitos, com a participação de um ou mais árbitros privados, escolhidos segundo a vontade das partes. 2) Assinale a alternativa que melhor se adequa com a seguin- te afirmativa: Com o advento da Lei n° 9.307/1996, que trata da Arbitragem, a legislação tornou permissivo que... a) as partes envolvidas no litígio podem estabelecer as regras para o objeto de arbitragem. b) o Poder Judiciário é o único órgão que pode indicar a arbitragem como meio de dirimir conflitos. c) o sujeito de direito no conflito pode indicar o árbitro, e o sujeito da obrigação deve obrigatoriamente aceitar a indicação. Capítulo 1 Introdução à Arbitragem e Perícia Contábil 21 d) as partes envolvidas no litígio podem estabelecer as regras para o objeto de arbitragem, mas não podem indicar árbitros. e) As partes envolvidas no litígio podem escolher os árbi- tros, mas não podem indicar regras para a arbitragem. 3) A Lei n° 9.307/1996, no parágrafo 2º do Art. 13º, cita que quando as partes, envolvidas no litígio nomearem ár- bitros em número par, estes estão autorizados, desde logo, a nomear mais um árbitro. Assim, não havendo acordo, a quem compete indicar mais um árbitro? a) À Prefeitura Municipal, cede do litígio. b) Ao Ministério da Justiça e do Trabalho. c) Ao Ministério Público. d) Ao Poder Judiciário. e) Ao PROCON do Município, cede do litígio. 4) Relacione as afirmações de acordo com as vantagens da arbitragem: a) Prestígio da autonomia da vontade. b) Melhor relação custo-benefício. c) Menor resistência ao cumprimento da decisão. d) Vantagens para a sociedade. ( ) Na jurisdição estatal o poder é do Estado. Na arbitra- gem a vontade é das partes com maior autonomia. 22 Arbitragem e Perícia Contábil ( ) A sentença proferida por um árbitro de confiança en- seja acolhimento do acordo por adesão das partes. ( ) A rapidez na resolução do conflito evita custos indire- tos por demora e multiplicidade de recursos que one- ram o judiciário. ( ) A arbitragem é ágil e eficaz na solução de litígios e desafoga o Judiciário e pode melhorar o seu padrão de eficiência. A ordem correta é: a) A, B, C, D b) B, A, D, B c) A, C, B, D d) B, D, A, C e) C, A, D, B 5) Indique a alternativa que apresenta dois termos que defi- nem Perícia: a) Profissionalismo e Habilidade. b) Habilidade e Talento. c) Talento e Conhecimento. d) Conhecimento e Experiência. e) Experiência e Vontade. Jucelaine Bitarello1 Capítulo 2 Objeto, Organização e Planejamento da Perícia Contábil1 1 Jucelaine Bitarello é Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), RS, especialista em Administração e Estratégia Empre- sarial pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Canoas, RS, e graduada em Ciências Contábeis pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), RS. Ela é professora dos cursos de Ciências Contábeis, Administração e Gestão Pública da ULBRA, presencial e EaD. Jucelaine tem experiência profissional em organizações privadas e públicas, é autora de diversos artigos científicos, nacionais e internacio- nais, é autora de livros e capítulos de livros. Ela é, também, consultora ad hoc do Ministério da Educação e Cultura (MEC/INEP). 24 Arbitragem e Perícia Contábil Introdução Para este capítulo são destinadas as abordagens referentes à Perícia Contábil, a qual tem no centro o objeto a ser examina- do e sobre o qual deve ser emitida opinião. Essa opinião deve estar pautada nas evidências materiais que suscitem a verdade sobre os fatos periciados e que essa seja consubstanciada em elementos objetivos que afastem qualquer subjetividade. Para isso o texto está dividido em duas etapas: na primeira busca-se dar fundamentação conceitual sobre o objeto da perícia, em que se expressa que o patrimônio é o objeto da contabilidade e de outra forma o objeto da perícia são as variações que ocorrem em bens, direitos e/ou ações de quaisquer entidades. Na segunda etapa, aborda-se a organização e o planejamen- to da perícia, a qual por vezes pode demandar maior ou me- nor tempo para sua execução, bem como pode ainda requerer apoio de outras áreas do conhecimento, e isso requer que sejam alinhadas e expressas todas as partes que compõem o planejamento do trabalho. 2.1 Perícia Contábil – Objeto – Normas e legislação Como visto no capítulo anterior, para a Perícia Contábil, está o objeto como elemento central e a busca da verdade sobre ele, em que seja examinado e que haja a transferência da verdade contábil para o ordenamento do processo para que sobre ele tenha a instância decisória a correta opinião. Porquanto que Capítulo 2 Objeto, Organização e Planejamento da Perícia... 25 os procedimentos periciais sejam, conforme Sá (2011), aplica- dos de acordo com a pertinência de cada caso, ou seja, objeto examinado. O autor cita ainda (p. 4): Busca-se a ajuda da tecnologia da perícia contábil, pois, para dirimir dúvidas sobre fatos que se relacionam com a riqueza dos empreendimentos (aziendas) e/ou das pes- soas, ou de “grupos”. O que se busca é uma opinião válida para atestar sobre a regularidade, irregularidade ou situação da riqueza individualizada. Não se trata de um informe, mas de uma opinião. O informe serve à pe- rícia, e esta deve gerar um parecer ou ponto de vista tecnológico. Trata-se de uma análise para produzir uma conclusão. Veja pela citação que há lógica preliminar antes de definir o que é o objeto da perícia, pois, de um lado, sobre o objeto há uma opinião e de outro lado, para a perícia, há um informe que serve de análise para a produção da conclusão. Assim, Alberto (2012, p. 33) refere que a “Contabilidade enquanto ciência, tem algo fundamental sobre o que descobre leis, ob- serva, experimenta, desenvolve técnicas, etc.” e cita ainda que: O objeto fundamental da Contabilidade é o Patrimônio, na sua expressão ampla [...] abrangendo, pois, todos os aspectos quantitativos e qualitativos, não somente em termos estáticos, mas principalmente dinâmicos, isto é, das suas variações. Dessa forma, nota-se que na visão de Alberto (2012) o Pa- trimônio é o objeto da Contabilidade e a sua natureza contábil é o campo de investigação para a perícia contábil. No entan- 26 Arbitragem e Perícia Contábil to, seguindo o raciocínio do autor (p. 34), na linha objetiva o “patrimônio é qualificável e quantificável”, que em resumo a Contabilidade pelas suas técnicas consegue verificar os “direi- tos, ações e posse e tudo mais que pertença a uma pessoa”, e segue ainda: “É importante agregarmos esta conceituação de haveres para introjetarmos a íntima relação com o patrimônio (objeto), embora este tenha amplitude maior do que aquele”. Assim, é possível a compreensão de que as variações em bens, direitos e ações, conforme citação anterior, que ocorrem em curto, médioou longo prazo, são o objeto da perícia contábil, a qual Alberto (2012, p. 35) cita: Assim embasados, podemos concluir, como corolário lógico, que, conceitualmente, a perícia contábil é: um instrumento técnico-científico de constatação, prova ou demonstração, quanto à veracidade de situações, coi- sas ou fatos oriundos das relações, efeitos e haveres que fluem do patrimônio de quaisquer entidades. Ressalta-se que a veracidade é entendida como a busca da verdade sobre as variações da riqueza, que, na visão de Sá (2011, p. 4), o caráter e objetos da tecnologia contábil para a perícia é: [...] possuir um objeto determinado, requerido, para que possa gerar uma opinião abalizada em matéria contá- bil. A perícia, todavia, pode ser “parcial” ou “total” no exame das contas, demonstrações, documentos ou fatos. Dependendo do que se pretende, fixa-se o objeto a exa- minar e sua extensão. Capítulo 2 Objeto, Organização e Planejamento da Perícia... 27 Todavia, a perícia pode ser integral ou parcial, e, por vezes, a extensão dos fatos requer envolvimento de outras áreas do conhecimento, o que enseja que a opinião sobre determinado objeto tenha maior abrangência. No entanto, para a questão postulada, especificamente na contabilidade, que é o objetivo dessa disciplina, Sá (2011, p. 5) exige que o trabalho pericial persiga o objetivo de formar a opinião utilizando-se de: Todos os meios são válidos para a formação de uma opinião que se apoie na Realidade, na Plenitude, na Essencialidade e nas Formas dos fatos em exame. Bus- ca-se a Verdade sobre o que se evidencia e a competen- te sustentação documental. Como visa ser utilizada para fins diversos, a perícia necessita atingir tal fim e deve ser suficientemente Confiável. Partindo dessa citação, Sá (2011, p. 5-6) sublinha que “tudo o que for pertinente à opinião a ser emitida deve ser objeto de exame da perícia”. Cita ainda que “é preciso, pois Abrangência e Segurança ou Confiabilidade, evitando-se o subjetivo”. Dessa forma, a ampliação do objeto de exame deve ser o limite para o esclarecimento do assunto, que na visão do autor, é a “materialidade da prova”, a verdade sobre o objeto periciado. Em relação aos procedimento técnicos, a Perícia Contábil está fundamentada na Norma Brasileira de Contabilidade - NBC TP 01 – PERÍCIA CONTÁBIL que, em seu objetivo, cita: Esta Norma estabelece regras e procedimentos técnico- -científicos a serem observados pelo perito, quando da elaboração de perícia contábil, no âmbito judicial, 28 Arbitragem e Perícia Contábil extrajudicial, inclusive arbitral, mediante o esclarecimen- to dos aspectos e dos fatos do litígio por meio de exame, vistoria, indagação, investigação, arbitramento, avalia- ção, ou certificação. Nota-se que, conforme o Art. 420 do Código de Processo Civil, a perícia é um dos meios de provas em que o laudo pericial contábil e o parecer pericial têm por limite os obje- tivos a que a perícia foi solicitada ou contratada. Salienta-se que a perícia contábil é competência exclusiva do profissional contador registrado no Conselho Regional de Contabilidade. A atuação se dá em âmbito Judicial como Extrajudicial. Aqui deve distinguir-se o que é Judicial e Extrajudicial: a primeira é aquela em que o Estado se apresenta como a tutela da justiça, e a segunda é aquela que se apresenta no âmbito arbitral ou voluntária, como visto no Capítulo 1. Destaca-se que o Art. 431 do Código de Processo Civil menciona que “As partes terão ciência da data e local de- signados pelo juiz ou indicados pelo perito para ter início a produção da prova”. Assim, em objetos encaminhados para a perícia judicial, as partes envolvidas: advogados, assisten- te técnico e Ministério Público (quando envolvido) devem ser cientificados do que está sendo periciado. Esse procedimento deve ser de forma oficial, por carta, ofício e atualmente pode ser por meio eletrônico. Após essa formalidade, o perito contador pode iniciar seus trabalhos como assistente técnico e também assumir a respon- sabilidade de toda a documentação que está sob sua guarda e posse, mantendo-a com zelo em segurança. Observa-se que pode solicitar todo o dossiê para o procedimento e apuração Capítulo 2 Objeto, Organização e Planejamento da Perícia... 29 dos fatos, sem, no entanto, apensar qualquer documento novo ou estranho ao processo, o que enseja falsidade profissional e transgressão da Norma do Perito Contábil. Partindo da Norma Brasileira de Contabilidade - NBC PP 01 – PERÍCIA CONTÁBIL, verifica-se que esta define como objetivo “estabelecer procedimentos inerentes à atuação do contador na condição de perito”. Na conceituação desse pro- fissional cita que “Perito é o contador regularmente registrado em Conselho Regional de Contabilidade, que exerce a ativida- de pericial de forma pessoal, devendo ser profundo conhece- dor, por suas qualidades e experiências, da matéria periciada”. Essas definições encontram fundamento no Art. 139 do Códi- go de Processo Civil que classifica o perito como auxiliar do juiz, e o Art. 145 prevê que: quando a prova depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito, que será escolhi- do entre profissionais de nível universitário, devidamente inscrito no órgão de classe, o qual fornecerá certidão de comprovação de especialidade na matéria contábil. Aqui é relevante que se faça o esclarecimento para que o/a leitor/a não tenha dúvida sobre dois personagens: o Perito e o Assistente. Há diferenças que se dão de formas diversas: a) o Perito-contador nomeado é o designado pelo juiz em perícia contábil judicial; já o contratado é o que atua em perícia contábil extrajudicial; e o escolhido é o que exerce sua função em perícia contábil arbitral. 30 Arbitragem e Perícia Contábil b) o Perito-contador assistente é o contratado e indica- do pela parte em perícias contábeis, em processos ju- diciais e extrajudiciais, inclusive arbitral. Para o exercício das atividades, o profissional deve com- provar mediante certidão habilidade para o exercício da fun- ção. A falta de competência técnico-científica constitui-se em um dos motivos para recusa da indicação ou nomeação do perito. Conforme o Inciso I do Art. 424 do Código de Processo Civil, o perito pode ser substituído quando: “carecer de conhe- cimento técnico ou científico”. A comprovação de Habilitação Profissional está prevista no parágrafo 2° do Art. 145 do CPC que cita: “Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre que deve- rão opinar, mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos”. Por fim, o perito há de comprovar a sua habilitação profissional mediante a Declaração de Habilitação Profissional – DHP Eletrônica, de que trata a Resolução CFC 2011/001363, considerando que, face à evolução tecnoló- gica, todos os Conselhos Regionais de Contabilidade já pos- suem a estrutura necessária para tal, trata-se de um controle de regularidade profissional emitida através de um sistema ele- trônico com mecanismos de autenticação. Capítulo 2 Objeto, Organização e Planejamento da Perícia... 31 2.2 Organização e planejamento da Perícia Como verificado no tópico anterior há duas formas distintas em que a perícia é necessária e o perito é igualmente designado, como nos casos Judiciais e Extrajudiciais. As Perícias Extra- judiciais independem de tramitação judicial. São livremente contratadas entre as partes envolvidas e os peritos. Podem ser exemplificadas como: Perícia para avaliação patrimonial de bens e direitos; Perícia para avaliação de fundo de comércio; Perícia para avaliação de bens e direitos para integralização do capital das Sociedades Anônimas; Perícia para Cisão, Fu- são, Incorporação ou Transformação de Sociedade. Para as Perícias Judiciais pode haveraté três peritos: um do juiz e um de cada parte litigante (um dos autores e um dos réus). Na verdade, são três contadores; o juiz nomeia o seu e as partes indicam assistentes, como visto no tópico anterior. Os peritos das partes devem ser indicados no prazo de cinco dias, contados da intimação do despacho de nomeação do perito, e, no mesmo prazo, os quesitos são apresentados pelas partes. A fundamentação dos Peritos Judiciais é regulada no Art. 421 do Código do Processo Civil com as alterações da Lei n° 8.455, de 24 de agosto de 1992. A escolha do perito é deveras relevante para o sucesso dos trabalhos. Quanto mais complexa a causa, mais experiência e cultura deve ter o pro- fissional. Ao Juiz compete, também, fixar local, hora e prazo para entrega do laudo pericial (conteúdo que será abordado em capítulo específico). 32 Arbitragem e Perícia Contábil Em relação à Nomeação do Perito Judicial, o primeiro passo a ser dado pelo Bacharel em Ciências Contábeis jun- to às Varas existentes no Fórum é o encaminhamento de seu Curriculum Vitae ao Juiz de cada Vara e, sendo aconselhável, apresentar-se ao Magistrado falando um pouco de si. Os Car- tórios das Varas possuem um cadastro de Peritos à disposição do Juiz. Feita a escolha, o Perito será informado por escrito, sendo-lhe solicitado comparecer ao Cartório da Vara. Após o aceite da indicação, o Perito do Juiz assume o com- promisso e procura contatar com os assistentes indicados pe- las partes litigantes. Para inteirar-se do processo e realizar o plano de Perícia, o perito precisa conhecer bem os autos. Para tal, necessita retirá-lo do Cartório onde se encontra. Para fazer carga (retirar o processo), o Perito solicitará ao Juiz, mediante petição ou, sendo conhecido, mediante simples controle do cartório onde o Perito acusa o recebimento. Com o processo em posse o Perito procede à Análise dos Autos, e tudo o que for pertinente à opinião a ser emitida deve ser objeto de exame da perícia. É preciso, pois, abrangência e segurança ou confiabilidade, evitando-se o subjetivo (lembre- -se o/a leitor/a que a subjetividade já fora vista no tópico an- terior). Assim, a Perícia Contábil deve lastrear-se em elementos confiáveis, e nenhum elemento útil deve ser desprezado. Toda- via, a matéria deve ater-se ao objeto para a qual foi requerida. Só, subsidiariamente, deve apelar-se para complementações. Podem haver casos em que as partes interessadas (o do direito - autor e o da obrigação - réu) solicitam ao Perito “adu- zir comentários que achar pertinente”; nesse caso, é dever do Capítulo 2 Objeto, Organização e Planejamento da Perícia... 33 Perito ampliar seu objeto de exame até o limite que julgar con- veniente ao esclarecimento do assunto. DESTAQUE: É de extrema importância a leitura pausada e atenciosa dos Autos a fim de que o Perito assimile o teor da documentação que foi juntada. Na análise dos Autos, o Perito deve ater-se não só ao teor da documentação apresentada, mas também ao fato de se estes estão de acordo com as leis comerciais e/ou fiscais. Por exemplo: Se o balanço está assi- nado por quem é de direito, se está transcrito no Diário, entre outros dados relevantes). Absorvido o teor dos Autos, como citado no parágrafo an- terior, parte-se para as Diligências. Cita-se que há casos em que nos autos constam todas as documentações necessárias ao exame pericial. No entanto, há casos, em que se torna impraticável a anexação de toda documentação por deman- dar expressivo volume de papéis. Cabe, nesses casos, as di- ligências (investigações) ocorrerem na Empresa que possui a documentação. Nesses casos, o Perito deverá requerer, então: livros, docu- mentos, demonstrações e, em suma, o material necessário ao desempenho de sua tarefa. Pode, ainda, deixar com a empre- sa ou pessoa a ser verificada a relação do que precisa e voltar em dia e hora marcados para iniciar a tarefa. Esses detalhes servem para o gerenciamento do tempo e pode-se ainda, tele- fonar, enviar e-mail, solicitando que deixe a documentação a sua disposição. Frisa-se que, em todas as ações do Perito, haja formalidade, preferencialmente por escrito, o que dá transpa- rência ao trabalho. Veja um exemplo de carta: 34 Arbitragem e Perícia Contábil Empresa Y A/C Diretoria Prezados Senhores: Na qualidade de Perito Oficial do MM. Juiz de Direito da... Vara... desta Comarca, sirvo-me da presente para solicitar a V. Sas. que deixem a minha disposição os seguintes documen- tos, para análise, no dia... às... horas: Diário do ano de... Razão da mesma data Comprovantes contábeis do mesmo período. Atenciosamente Nome e assinatura Endereço e Telefone Note que a carta deve ser redigida em duas vias, sendo que a segunda via serve de recibo colhendo-se a assinatura de quem a recebeu. De outra sorte, a parte examinada pode criar obstáculos ao perito, sonegando informações ou dificultando a entrega de documentos e livros. Caso não consiga, o Perito deve imediatamente cientificar ao Juiz a resistência e requerer os elementos necessários ao trabalho. A partir dessa organização e ajustamentos preliminares é que o Perito parte então para o Levantamento dos Dados, dir-se-ia, Apuração dos Dados. Dessa forma, todos os ele- mentos ao alcance do Perito servem de base para os laudos periciais, preferencialmente os que tenham capacidade legal Capítulo 2 Objeto, Organização e Planejamento da Perícia... 35 de prova. Por isso, os livros comerciais de registro, os docu- mentos fiscais e legais são fundamentais para verificações. Quanto aos livros são aqueles que obrigatoriamente as leis comerciais e fiscais exigem; e, sendo os documentos, aqueles que podem suprir as exigências igualmente da lei. Essa cautela legal (de lei, norma) é imprescindível, pois tem força probante. Citam-se exemplos: a) Um contrato pode ter todas as suas formalidades cum- pridas, mas se não tiver a assinatura das partes e não tiver registro competente, não tem força de prova pe- rante terceiros. b) Não basta ter listagens de computador que elaborem o Diário, é necessário que: estejam encadernadas, nu- meradas, assinadas e registradas nos órgãos compe- tentes. Dependendo da Perícia, esta pode ser feita em locais dife- rentes, ou seja, ela pode abranger agências, filiais, fábricas, de um mesmo litigante, em diversas localidades. Nesse caso, o Perito terá que deslocar-se e provavelmente haverão despesas, tais como: de deslocamentos (combustível), de viagem (pas- sagens), de estadia, de alimentação, entre outras. Essas des- pesas não são do Perito, mas custos do processo, e ele deve solicitar o reembolso ou antecipação de numerário. O nível de detalhamento do planejamento da Perícia pode ensejar ausência de documentos nos Autos (processo) e, nesse caso: Como Proceder Quando Falta Documento nos Au- tos? 36 Arbitragem e Perícia Contábil a) Na falta de documentação nos autos, o Perito poderá encaminhar ao Cartório da Vara carta dirigida ao Juiz solicitando que a(s) parte(s) anexe(m) aos autos a do- cumentação solicitada. Fará correspondência em duas vias, sendo a 2ª via recibo de entrega. b) Em caso de a falta de documentação dever-se ao expressivo volume desta, adotará os procedimentos mencionados nos parágrafos anteriores deste tópico, onde se trata das “Diligências”. Em relação ao Prazo de Entrega do Laudo e Prorroga- ção, consideram-se dois pontos: em primeiro lugar, o Perito deve apresentar o laudo no Cartório da Vara, no prazo fixado pelo Juiz, pelo menos vinte (20) dias antes da audiência de ins- trução e julgamento. Pressupõem-se que o Perito Contábil, ao planejar a perícia, deve considerar o cumprimento do prazo de entrega do laudo. Em segundo lugar, considerando a im- possibilidade de cumprimento no prazo o Perito contábil deve, antesde vencido aquele, solicitar prazo suplementar quando na função de Perito Judicial, ou comunicar à parte, quando na função de Perito Extrajudicial, sempre por escrito. Por fim, Alberto (2012, p. 137-139) ilustra um resumo do papel de trabalho que o Perito Contador pode usar, com todo detalhamento dos dados constantes do Autos (processo), men- cionados os seguintes: a) Registros Iniciais; b) Análises Iniciais dos Autos; c) Diligências; Capítulo 2 Objeto, Organização e Planejamento da Perícia... 37 d) Análises Complementares para o Laudo; e) Levantamento de Dados/ Definições de Anexos; f) Análises, Sistemas e Programação; g) Digitações e Operação Computadores; h) Redação do Laudo Pericial Contábil; i) Análise finais; j) Impugnações; e, k) Resultado Final. Observa-se pelos itens citados, como o próprio autor Al- berto (2012) menciona: esses não são o limite para o trabalho do Perito, mas inovam o controle dos documentos e a ativi- dade. Assim, de outra forma, Sá (2011, p. 7-8) trata o plane- jamento da Perícia como metodologia, um método analítico com detalhes, tais como: 1) Identificar-se bem o objetivo; 2) Planejar competentemente o trabalho; 3) Executar o trabalho baseado em evidências inequí- vocas, plenas e totalmente confiáveis; 4) Ter muita cautela na conclusão e só emiti-la depois de que se esteja absolutamente seguro sobre os re- sultados; 5) Concluir de forma clara, precisa e inequívoca. 38 Arbitragem e Perícia Contábil Diante das duas formas apresentadas, em detalhes, tanto Sá (2011) quanto Alberto (2012), ambos comungam da mes- ma posição de que o planejamento da Perícia, utilizando-se de métodos sugerido por eles, não deve ser confundido com au- ditoria, o que é outro tema, pois a Perícia Contábil é analítica e de maior abrangência que visa à formação, ao final, de uma opinião confiável e que sirva de prova para terceiros. Recapitulando Neste capítulo foram abordados conteúdos sobre a Perícia Contábil, a qual teve no centro o objeto a ser examinado e sobre o qual deve ser emitida opinião. Essa opinião, pautada nas evidências materiais que suscitam a verdade sobre os fa- tos periciados, deve esta estar consubstanciada em elementos objetivos que afastam qualquer subjetividade, de forma clara e inequívoca. Para tanto, o texto foi dividido em duas etapas: na primeira identificou-se o objeto da Perícia, no que se traçou um paralelo entre o objeto da Contabilidade que é o Patri- mônio, sendo que suas variações são o objeto da Perícia. As variações que ocorrem em bens, direitos e ou ações de quais- quer entidades são a essência para a Perícia. Na segunda eta- pa, abordou-se a organização e o planejamento da Perícia, a qual por vezes pode demandar maior ou menor tempo para sua execução, bem como pode ainda requerer apoio de outras áreas do conhecimento, e isso requer que sejam alinhadas e expressas todas as partes que compõem o planejamento do trabalho. Verificou-se, também, as duas formas que deman- dam a Perícia: a Judicial e a Extrajudicial, em que na primeira Capítulo 2 Objeto, Organização e Planejamento da Perícia... 39 tem-se o Perito indicado pelo Juiz, com assistentes indicados pelas partes litigantes; e na segunda pode ser o Perito escolhi- do pelas partes de comum acordo. Referências BRASIL. LEI N° 9.307, DE 23 DE SETEMBRO DE 1996. Dispõe sobre a arbitragem. Disponível em: <www.presidenciadarepública.gov.br>. Acesso em: 19 de julho de 2016. ______. LEI N° 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Dis- põe sobre o Código de Processo Civil. Disponível em: <www.presidenciadarepública.gov.br>. Acesso em: 27 de julho de 2016. ______. LEI N° 13.129, DE 26 DE MAIO DE 2015. Altera a Lei n° 9.307, de 23 de setembro de 1996, e a Lei n° 6.404, de 15 de dezembro de 1976, para ampliar o âmbito de aplicação da arbitragem e dispor sobre a escolha dos árbitros quando as partes recorrem a órgão arbitral, a in- terrupção da prescrição pela instituição da arbitragem, a concessão de tutelas cautelares e de urgência nos casos de arbitragem, a carta arbitral e a sentença arbitral, e revoga dispositivos da Lei n° 9.307, de 23 de setembro de 1996. Disponível em: <www.presidenciadarepública.gov.br>. Acesso em: 19 de julho de 2016. ALBERTO, Valdeir Luiz Palombo. Perícia Contábil: Normas Brasileiras de Perícia Contábil Comentadas (NBC T 01 e 40 Arbitragem e Perícia Contábil NBC PP 01); Aspectos Legais, Civis e Criminais; Casos Prá- ticos de Perícia Contábil das Áreas Cível, Federal, Traba- lhista (Instrução e Liquidação) e Extrajudiciais; Honorários Periciais. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012. COMISSÃO DE MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM – CMA/OAB/ MG. Cartilha de Arbitragem. Ordem dos Advoga- dos do Brasil – Minas Gerais, 2009. Disponível em: <http://www.precisao.eng.br/jornal/Arbitragem.pdf>. Acesso em: 19 de julho de 2016. ORNELAS, Martinho Maurício Gomes de. Perícia Contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011. RESOLUÇÃO CFC 2015/NBCTP01, de 19 de março de 2015. Norma Brasileira de Contabilidade - NBC TP 01 – PE- RÍCIA CONTÁBIL. RESOLUÇÃO CFC 2015/NBCPP01, de 19 de março de 2015. Norma Brasileira de Contabilidade - NBC PP 01 – PE- RITO CONTÁBIL. RESOLUÇÃO CFC 2011/001363, de 02 de dezembro de 2011. Declaração de Habilitação Profissional - DHP Eletrônica. SÁ, Antônio Lopes. Perícia Contábil. 10. ed. Revisada e Am- pliada. São Paulo: Atlas, 2011. Capítulo 2 Objeto, Organização e Planejamento da Perícia... 41 Atividades 1) Assinale a alternativa que melhor indica a lógica entre o objeto de perícia e a perícia propriamente dita: a) sobre o objeto não há opinião e para a perícia há um informe que serve de análise para a produção da con- clusão. b) sobre o objeto há um informe e para a perícia há uma opinião que serve de análise para a produção da con- clusão. c) sobre o objeto há uma opinião e para a perícia há uma definição que serve para a produção da conclu- são. d) sobre o objeto há uma opinião e para a perícia há um informe que serve de análise para a produção da conclusão. e) sobre o objeto há uma definição e para a perícia há uma opinião que serve de análise para a produção da conclusão. 2) Assinale a alternativa que indica o objeto da Perícia Con- tábil: a) As variações em bens, direitos e ações, que ocorrem em curto, médio ou longo prazo, são o objeto da pe- rícia. 42 Arbitragem e Perícia Contábil b) Apenas as variações em bens, direitos, que ocorrem em curto, médio ou longo prazo, são o objeto da pe- rícia. c) Apenas as variações em ações, que ocorrem em curto, médio ou longo prazo, são o objeto da perícia. d) As variações em bens, direitos e ações, que ocorrem somente em curto prazo, são o objeto da perícia. e) As variações em bens, direitos e ações, que ocorrem somente em longo prazo, são o objeto da perícia. 3) Considere o termo Perito-contador e relacione as colunas: A) Nomeado ( ) exerce sua função em perícia Arbitral. B) Contratado ( ) atua em perícia contábil Extrajudicial. C) Escolhido ( ) designado pelo juiz em perícia contá- bil Judicial. A ordem correta é: a) A, B, C b) B, C, A c) C, A, B d) B, A, C e) C, B, A 4) Considere o Perito-contador assistente e assinale a alter- nativa que melhor define sua designação e áreas de atua- ção: Capítulo 2 Objeto, Organização e Planejamento da Perícia... 43 a) é o contratado e indicado pelo juiz e somente esse define os tipos de perícia que pode atuar. b) é o contratado e indicado pela parte em perícias con- tábeis, em processos judiciais e extrajudiciais, inclusive arbitral. c) é o contratado e indicado pelo juiz em perícias contá- beis e processos judiciais. d) É o indicado pelo juiz em perícias contábeis, em pro- cessos judiciais e extrajudiciais, inclusive arbitral.e) É o contratado e indicado para assistir as audiências que ocorrem em âmbito judiciário para ao final opinar sobre a decisão do juiz. 5) Analise as duas citações a seguir: I - Na falta de documentação nos autos, o Perito poderá encaminhar ao Cartório da Vara carta dirigida ao Juiz solicitando que a(s) parte(s) anexe(m) aos autos a do- cumentação solicitada. Fará correspondência em duas vias, sendo a 2ª via recibo de entrega. II - Em caso de a falta de documentação dever-se ao ex- pressivo volume desta, adotará os procedimentos mencionados nos parágrafos anteriores deste tópico, onde se trata das “Diligências”. Assinale a alternativa que melhor justifica os dois itens: a) Elas não tem relação entre si. 44 Arbitragem e Perícia Contábil b) Elas indicam que o planejamento do trabalho da perí- cia foi mal elaborado e deve ser refeito. c) Elas referem-se ao procedimento a ser adotado em caso de falta de documentos nos Autos. d) Elas referem-se ao planejamento do trabalho e ausên- cia de documentos nos Autos. e) Elas indicam que o Perito planejou mal o trabalho e não teve capacidade suficiente de estudar os Autos. Jucelaine Bitarello1 Capítulo 3 A perícia como um dos Meios de Prova1 1 Jucelaine Bitarello é Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), RS, especialista em Administração e Estratégia Empre- sarial pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Canoas, RS, e graduada em Ciências Contábeis pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), RS. Ela é professora dos cursos de Ciências Contábeis, Administração e Gestão Pública da ULBRA, presencial e EaD. Jucelaine tem experiência profissional em organizações privadas e públicas, é autora de diversos artigos científicos, nacionais e internacio- nais, é autora de livros e capítulos de livros. Ela é, também, consultora ad hoc do Ministério da Educação e Cultura (MEC/INEP). 46 Arbitragem e Perícia Contábil Introdução Neste capítulo são abordadas questões referentes aos meios de provas utilizados no âmbito da perícia. Para tanto, traz-se presente em todo o texto a alçada do judiciário como local da resolução da lide. Destaca-se que o juiz pode utilizar-se do auxílio do perito para realização dos exames do fato ou coisa que seja relevante para a elucidação do conflito. Haja vista que a perícia é o instrumento que busca desvelar, descobertar, a verdade dos fatos. É fundamental que o/a leitor/a faça a leitura com atenção, pois, nos meios de prova apresentados, buscou-se trazer o en- tendimento de autores sobre os conceitos e dialogando com o que preceitua o Código de Processo Civil. Isso requer, ainda, que não se pretende neste capítulo tratar dos meios de provas específicos da contabilidade, e sim a visão generalista, a qual é relevante para os profissionais da contabilidade, pois eles podem apresentar-se como auxílio em apuração de valores em lides distintas de sua própria área de conhecimento. 3.1 Meios de Prova Previstos no Direito Para o entendimento dos meios de prova, em se tratando da Perícia, é relevante o conceito de Prova Pericial, que é o exa- me, vistoria ou avaliação necessária para instruir uma decisão, é, ainda, a demonstração que se faz da existência, autenticida- de e veracidade de um fato ou ato, que por fim, juridicamente, Capítulo 3 A perícia como um dos Meios de Prova 47 é o meio de convencer o juízo da existência do fato em que se baseia o direito do postulante. Ora, se a Prova Pericial tem por fim reunir elementos sufi- cientes que sejam o meio de convencer o juízo, então a Fun- ção da Prova Pericial é a de transformar os fatos relativos à Lide em verdade formal e em certeza jurídica. Assim, cita Alberto (2012, p. 12), referindo-se a Lide que é “o conflito de interesses qualificado pela pretensão de um dos litigantes e pela resistência do outro”. Poder-se-ia então, por dedução, compreender que a prova desvela o que acoberta a verdade sobre determinado fato. Para a perícia contábil, a prova e os elementos necessá- rios são os que se encontram nos documentos, registros e de- monstrações. O Código Civil Brasileiro, conforme Sá (2011, p. 232), enfatiza como “prestações de contas, para as socie- dades simples” (ver Art. 1020) e “às demais” (ver Art. 1.065), outras como: “Inventário, o “Balanço Patrimonial” e o que de- nomina de “Balanço de Resultados Econômicos” ou “Conta de Lucros e Perdas”. Para as questões específicas de contabilida- de será tratado mais adiante em capítulo específico, aqui deve o/a leitor/a ater-se em conceituação generalista. Em relação ao Ônus da Prova, que é o descortinamento dos meios, o dever de provar compete a quem alega, a quem afirma ou nega determinados fatos da causa. Quem ofere- cer as provas mais convincentes, fatalmente, obterá sucesso. Ressalva: sucesso aqui não significa levar vantagem, e sim prosperar na propositura do reparo referente ao fato que está em Lide. 48 Arbitragem e Perícia Contábil Partindo dessa contextualização inicial verifica-se que de acordo com o Código de Processo Civil, as Provas Admitidas pela Legislação Brasileira atualmente apresentadas na Lide são as seguintes: a) Depoimento Pessoal; b) Confissão; c) Exibição (de documento ou coisa); d) Documento; e) Testemunho; f) Inspeção Judicial; g) Perícia. Nos parágrafos seguintes discorre-se sobre cada um dos tipos de provas admitidas pela legislação. Isso é relevante para que o Perito consiga executar o trabalho de Perícia e também possa trazer elementos suficientes para a formação de opinião que auxilia a decisão do Juízo. Assim segue: a) Depoimento Pessoal: É classificado como prova se- miplena, já que não tem o caráter de independência e isenção psíquica, que possa dar-lhe caráter de es- clarecimento definitivo sobre o ato ou fato objeto da lide. Normalmente, a produção de outras provas se tornará necessária, que, analisadas em conjunto com esta, propiciará à autoridade judicial formar sua con- vicção a respeito do direito que se persegue na lide (ALBERTO, 2011, p. 14). Capítulo 3 A perícia como um dos Meios de Prova 49 No sentido de dar fundamentação sobre o Depoimento Pessoal, este está previsto no CPC, seção II do Capítulo VI, nos seguintes Arts.: Art. 342 – O juiz pode, de ofício, em qualquer estado do processo, determinar o comparecimento pessoal das partes, a fim de interrogá-las sobre os fatos da causa. Art. 343 – Quando o juiz não o determinar de ofício, compete a cada parte requerer o depoimento pessoal da outra, a fim de interrogá-la na audiência de instrução e julgamento. [...] Parágrafo 2°. Se a parte intimada não comparecer, ou comparecendo, se recusa a depor, o juiz lhe aplicará a pena de confissão. Art. 347 – A parte não é obrigada a depor de fatos: I – criminosos ou torpes, que lhe forem imputados; II – a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guar- dar sigilo. No entanto, na análise da citação anterior, há que se con- siderar que o Art. 334 do CPC cita que “Não dependem de prova os fatos: I – notórios; II – afirmados por uma parte e con- fessados pela parte contrária”. Sob esse manto, Alberto (2011, p. 13) refere-se à subjetividade do depoimento pessoal, que, por vezes, a parte interrogada pelo juiz, apresenta “elemen- tos, como a sinceridade e a personalidade exteriorizada pelo depoente [...] o direito de expressão pessoal, e não através daquele que o orienta juridicamente (o advogado) sobre as 50 Arbitragem e Perícia Contábil condições sob as quais os fatos se deram”. Portanto, este é o fator óbvio da prova exposta e a pericial, que seguindo a vi- são de Alberto (2011, p. 14) cita que: a primeira “recai sobre fatos de qualquer natureza e sem a total isenção de ânimo do agente ativo”; já a segunda “recai sobrefatos cuja apreciação dependa de conhecimentos técnicos ou científicos [...] isento em relação ao resultado da ação”. Por fim, a confissão pode não isentar a necessidade da realização da perícia, quanto às consequências dessa (confissão). b) Confissão: A confissão só é admissível como tal sob determinadas condições previstas no CPC, veja: Art. 348 – há confissão, quando a parte admite a verda- de de um fato, contrário ao seu interesse e favorável ao adversário. A confissão é judicial ou extrajudicial. Art. 351 – Não vale como confissão a admissão, em juí- zo, de fatos relativos a direitos indisponíveis. Art. 354 – A confissão é, de regra, indivisível, não po- dendo a parte, que a quiser invocar como prova, aceitá- -la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que lhe for desfavorável. Cindir-se-á, todavia, quando o confidente aduzir fatos novos, suscetíveis de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção. Verificando os Arts. citados, Alberto (2011) apresenta a confissão, espontânea ou provocada, resumidamente nos se- guintes aspectos: b.1) Admitir como verdadeiro fato contrário a seu interesse e favorável a outra parte; Capítulo 3 A perícia como um dos Meios de Prova 51 b.2) Não se referir a fatos relativos a direitos indisponíveis; b.3) O caráter de indivisibilidade desta prova. Ainda em relação à Confissão, na comparação com a prova pericial, pode-se verificar que, quando parte da matéria examinada pela perícia (um fato, ligado a um conjunto de fa- tos) já estiver solucionada pela confissão, esta exclui (elimina) a perícia sobre o mesmo fato, ou seja, quando recair sobre o mesmo fato serão excluídas. Dessa forma, o Art. 214 do Có- digo Processo Civil deixa margem para a validade da confis- são, a qual “é irrevogável, mas pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou de coação”. Por exemplo: O Reclamante requer pagamento de Horas Extraordinárias não contra presta- das alegando uma determinada jornada de trabalho, e no dia da Audiência quando lhe perguntado informa outro horário, ou aquele que a Reclamada alega ter efetuado. c) Exibição de Documento ou Coisa: É importante ob- servar, principalmente para o profissional da perícia, que a exibição será elemento de prova por si ou por sua ausência, ou seja, se exibida a coisa ou docu- mento trará aos autos um elemento probante, ou se não exibida, fará com que o juiz admita como verda- deiros os fatos que, por meio daqueles, a parte preten- dia provar. É o que dispõe o Art. 359 do CPC: Art.359 - Ao decidir o pedido, o juiz admitirá como ver- dadeiros os fatos que, por meio do documento ou da coisa, a parte pretendia provar: 52 Arbitragem e Perícia Contábil I - Se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer qual- quer declaração no prazo do art. 357; II - Se a recusa fora havida por ilegítima. Verificando a citação pode o terceiro recusar, ou escusar, a exibição de documento ou da coisa, por ordem do juízo ou por requerimento das partes. Isso está previsto no Art. 363 do CPC que cita: Art. 363 – A parte e o terceiro se escusam a exibir, em juízo, o documento ou a coisa: I – se concernente a negócios da própria vida da família; II - se a sua apresentação puder violar dever de honra; III – se a publicidade do documento redundar em deson- ra à parte ou terceiro, bem como a seus parentes con- sanguíneos ou afins até o terceiro grau; ou lhes represen- tar perigo de ação penal; IV – se a exibição acarretar divulgação de fatos, a cujo respeito, por estado ou profissão, devam guardar segre- do; V – se subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz, justifiquem a recusa da exi- bição. Parágrafo único: se os motivos de que tratam nos inci- sos I e V disserem respeito só a uma parte do conteúdo do documento, da outra se extrairá uma suma para ser apresentada em juízo. Capítulo 3 A perícia como um dos Meios de Prova 53 Com base na citação, Sá (2011) ensina que diante da exi- bição de documento ou coisa, dois laços ligam esta espécie de prova para a perícia: primeiro, se a apreciação do documen- to ou coisa necessita do conhecimento técnico ou científico, torna-se necessário sua exibição; e segundo, se o documento ou coisa é indispensável para as faculdades da perícia, e se encontrar em poder de repartição pública ou da parte, pode ser requisitado seu exame para examinar no intuito de exarar o parecer. d) Documento: A Prova Documental é a mais utilizada, pois, revestida das condições que a lei estabelece, tem força probante. É uma prova plena, já que as partes quando da fun- damentação do direito alegado ou direito contestado se vale- rão da prova que, normalmente, está mais à mão, ou seja, os documentos sobre os quais se desenvolverá a causa de pedir e as razões de contestar (ALBERTO, 2012, p. 16). Esses documentos probantes podem ser públicos ou parti- culares. Os documentos públicos de forma geral são os que estão em guarda em repartições públicas e por vezes ainda em cartórios. Assim sendo, podem ser requisitadas certidões, as quais têm fé pública, que de acordo com o Art. 365 do Código Civil estabelece: Fazem a mesma prova que os originais as certidões tex- tuais de qualquer peça judicial, do protocolo das audi- ências, ou de outro qualquer livro a cargo do escrivão sendo extraídas por ele, ou sob a sua vigilância, e por ele subscritas, assim como os traslados de autos, quando por outro escrivão consertados. 54 Arbitragem e Perícia Contábil Dessa forma, na visão de Sá (2011), a ausência de do- cumentos originais pode ser suprida pelas certidões, as quais suprem a comprovação das originais, em vista de que as re- partições públicas e cartórios têm a legitimidade de emiti-las, de acordo com as formalidades e prescrições da lei. e) Testemunho: A Prova Testemunhal é sempre admissí- vel, conforme cita Alberto (2012) referindo-se ao art. 400 do CPC, exceto quando: e.1) a lei disponha de modo diverso; e.2) os fatos já estejam provados por documentos ou con- fissão da parte; e.3) os fatos somente possam ser provados por documento ou exame pericial. Veja então o que menciona o Art. 405 do CPC: Art. 405 – Podem depor como testemunhas todas as pes- soas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas: Parágrafo 1º. São incapazes: I – o interdito por demência; II – o que, acometido por enfermidade, ou debilidade mental, ao tempo em que ocorreram os fatos, não podia discerni-los; ou, em que deve depor, não está habilitado a transmitir as percepções; III – o menor de dezesseis (16) anos; Capítulo 3 A perícia como um dos Meios de Prova 55 IV – o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhe faltam; Parágrafo 2º. São impedidos: I – o cônjuge, bem como o ascendente e o descendente em qualquer grau, ou colateral, até o terceiro grau, de alguma das partes, por consanguinidade ou afinidade, salvo se o exigir o interesse público, ou, tratando-se de causa relativa da pessoa, não se puder obter de outro modo a prova, que o juiz repute necessária ao julgamen- to do mérito; II – o que é parte da causa; III – o que intervém em nome de uma parte, como o tu- tor na causa do menor, o representante legal da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros, que assistam ou tenham assistido as partes. Parágrafo 3º. São suspeitos: I – o condenado por crime de falso testemunho, havendo transitado em julgado a sentença; II – o que, por seus costumes, não for digno de fé; III – o inimigo capital da parte, ou seu amigo íntimo; IV – o que tiver interesse no litígio. Sob esses aspectos a legislação dispõe de quem pode de- por como testemunhas, seja, então, quaisquer pessoas, exceto as incapazes, as impedidas e as suspeitas, estas devem ser caracterizadas. Portanto, o
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