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Resumo Pierre Clastres

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Universidade Federal do Piauí/UFPI 
Disciplina: Antropologia Política
Vinculo: Aluna Mestrado Especial
Aluna: Maria Luiza Borges Coelho Duarte Feitosa
 Resumo: A Sociedade Contra o Estado 
 Pierre Clastres 
Capítulo I
COPÉRNICO E OS SELVAGENS
Está em causa aqui a questão do poder político e, muito legitimamente, Lapierre se pergunta antes de tudo se esse fato humano responde a uma necessidade vital.
Em outros termos, o poder encontra o seu lugar de nascimento e a sua razão de ser na natureza e não na cultura.
A resposta é clara: "O exame crítico dos conhecimentos adquiridos sobre os fenômenos sociais entre os animais e especialmente sobre o seu processo de autoregulação social nos mostrou a ausência de qualquer forma, mesmo embrionária, de poder político..." (p. 222).
É fácil imaginar que essas dezenas de sociedades "arcaicas" só possuem em comum a simples determinação de seu arcaísmo, determinação negativa — como o indica Lapierre — estabelecida pela ausência de escrita e pela economia dita de subsistência. As sociedades arcaicas podem então diferir profundamente entre si.
"partindo das sociedades arcaicas nas quais o poder político é mais desenvolvido para chegar finalmente àquelas que quase não apresentam, ou mesmo não apresentam, poder propriamente político" (p. 229).	
Hipótese da descontinuidade entre não-poder e poder ou naquela da continuidade, parece claro que nenhuma classificação das sociedades empíricas nos possa esclarecer sobre a natureza do poder político ou sobre as circunstâncias do seu surgimento, e que o enigma persiste em seu mistério. 
"O poder se realiza numa relação social característica: comandoobediência." (p. 44) Daí resulta de saída que as sociedades onde não se observa essa relação essencial são sociedades sem poder.
As sociedades indígenas são arcaicas: elas ignoram a escrita e "subsistem" do ponto de vista econômico. Por outro lado, todas, ou quase todas, são dirigidas por líderes, por chefes e, característica decisiva digna de chamar a atenção, nenhum desses caciques possui "poder".
As observações precedentes são uma tentativa de colocar em questão a forma tradicional da problemática do poder: não nos é evidente que coerção e subordinação constituem a essência do poder.
Político sempre e em qualquer lugar. De sorte que se abre uma alternativa: ou o conceito clássico de poder é adequado à realidade que ele pensa, e nesse caso é necessário que ele dê conta do não-poder no lugar onde se encontra; ou então é inadequado, e é necessário abandoná-lo ou transformá-lo.
O selvagem de qualquer tribo indígena ou australiana julga que a sua cultura é superior a todas as outras sem se preocupar em exercer sobre elas um discurso científico, enquanto a etnologia pretende situar-se de chofre no elemento da universalidade sem se dar conta de que permanece sob muitos aspectos solidamente instalada em sua particularidade, e que o seu pseudodiscurso científico se deteriora rapidamente em verdadeira ideologia.
Decidir que algumas culturas são desprovidas de poder político por não oferecerem nada de semelhante ao que a nossa apresenta não é uma proposição científica: antes denota-se aí, no fim das contas, uma certa pobreza do conceito.
A condição é renunciar, asceticamente, digamos, à concepção exótica do mundo arcaico, concepção que, em última análise, determina maciçamente o discurso pretensamente científico sobre este mundo.
Os povos sem escrita não são então menos adultos que as sociedades letradas. Sua história é tão profunda quanto a nossa e, a não ser por racismo, não há por que julgá-los incapazes de refletir sobre a sua própria experiência e de dar a seus problemas as soluções apropriadas.
O poder existe de fato (não só na América, mas em muitas outras culturas primitivas) totalmente separado da violência e exterior a toda hierarquia; que, em conseqüência, todas as sociedades, arcaicas ou não, são políticas, mesmo se o político se diz em múltiplos sentidos, mesmo se esse sentido não é imediatamente decifrável e se devemos desvendar o enigma de um poder "impotente".
1] Não se pode repartir as sociedades em dois grupos: sociedades com poder e sociedades sem poder.
2] O poder político como coerção (ou como relação de comando-obediência) não é o modelo do poder verdadeiro, mas simplesmente um caso particular, uma realização concreta do poder político em certas culturas, tal como a ocidental (mas ela não é a única, naturalmente). Não existe portanto nenhuma razão científica para privilegiar essa modalidade de poder a fim de fazer dela o ponto de referência e o princípio de explicação de outras modalidades diferentes.
 3] Mesmo nas sociedades onde a instituição política está ausente (por exemplo, onde não existem chefes), mesmo aio político está presente.
É da revolução copernicana que se trata.
A reflexão sobre o poder deve operar a conversão "heliocêntrica": ela ganharia talvez a melhor compreensão do mundo dos outros e, em conseqüência, do nosso.
É tempo de buscarmos outro sol e de nos pormos em movimento.
Capítulo 2 
TROCA E PODER: FILOSOFIA DA CHEFIA INDÍGENA
Fora dessa visão, Clastres aponta que as sociedades da América do Sul demonstram características que fogem dessa bipolaridade de modelo político. Diferente do modelo imperial dos Incas, Maias e Astecas, esses povos se formam em grupos anárquicos dos quais existe um senso grande de igualdade e teor democrático. Essas características tem como principal base a a total falta de autoridade do líder desses grupos.
Clastres comenta que na lógica do evolucionismo, o poder nessas sociedades é um elemento efêmero, que a dinâmica de um grupo arcaico afasta qualquer esboço de uma condição política significante. Mas o autor direciona a análise a outro ponto critico, o de que deve se observar como esse “poder sem poder” o chefe como “uma função operando no vácuo”. 
Se baseando em um conceito do antropólogo Austro-Americano Robert Lowie (1883-1957) realizou para analisar os povos indígenas da América do Norte, Clastres descreve o chefe indígena em três características distintas
(1.) O chefe é um “pacificador”; Ele é o moderador do grupo, um fato nascido fora da divisão frequente de poder entre civil e militar.
(2.) Ele deve ser generoso com as suas posses, e não deve se permitir, sem trair sua função, de rejeitar as demandas incessantes daqueles sob sua “administração”.
(3.) Apenas um bom orador pode se tornar chefe. 
Esses elementos também devem ser levados em conta em casos que o poder do chefe varia durante o tempo de paz e de guerra. É muito comum que a função de chefe seja fragmentada em um líder civil e um militar. Esse ultimo é designado temporariamente frente a uma ameaça externa, nesse cenário, é possível encontrar traços de violência e coerção, que são logo dissolvidos quando o problema em questão é resolvido, junto com a autoridade do indivíduo.
Clastes comenta sobre um outro fator essencial que compõe as características do líder de uma tribo:
A literatura da etnografia raciocina em cima dessas três características essenciais da liderança. Entretanto,na área da América do Sul (excluindo as culturas dos Andes, que não serão discutidas aqui) oferecem uma característica suplementar as três enfatizadas por Lowie: quase todas essas sociedades, quais sejam os seus tipos de unidade socio-política e o tamanho demográfico, reconhecem a poligamia, e quase todas delas reconhecem como um privilegio exclusivo do chefe. 
Essa característica não tem efeito diferenciado por causa da densidade demográfica de uma sociedade indígena. Um conceito presente em uma grande quantidade de povos que se tenha registro. Porém, Clastres mostra que a poligamia é algo restrito a um determinado grupo de indivíduos, sendo o chefe, em sua maioria, o que a exerce.
O que, analisando o contexto social, para Clastres torna esses casos isolados mais democráticos, já que toda o indivíduo tem acesso a mais de um matrimônio. Isso acontece porque o conceito de poder entre os próprios povos é extremamente distinto, para alguns é a força e a guerra que determina o acessoa poligamia, uma base de avaliação muito similar a da sociedade ocidental, e para outros existem outros feitios que dão mérito ao indivíduo, como a caça, que faz com que o mérito do caçador o pode torná-lo líder, assim como praticante da poligamia.
Uma distinção é feita entretanto entre o primeiro desses critérios (o de ser um pacificador) e os outros três  O ultimo define uma série de desprestações e contra-prestações que mantém o balanço entre a estrutura social e a instituição política: o líder exerce o direto sobre um numero anormal de mulheres; em retorno, fica justificado o requerimento do grupo pela generosidade do chefe e seu talento como orador.
É necessário esclarecer segundo Clastres, as esferas sociais do chefe indígena, pois em nossa concepção de poder, é muito fácil confundir a natureza da liderança com a sua atividade, “o transcendental com o aspecto empírico da instituição”.
Clastres indica que essa posição se da na mesma esfera que o sistema de troca,  implicando diretamente em como a relação pessoa comum/líder se exerce.
Na verdade, é extraordinário descobrir que essa trindade de atributos – talento oratório, generosidade e poligamia – ligado a personalidade do líder, tem no seu interesse os mesmos elementos dos quais a troca e a circulação culminam na transição da natureza para a cultura. A sociedade é definida primariamente pelos três níveis fundamentais de troca de bens, mulheres e palavras; e é igualmente referido diretamente para estes três tipos de “signos” que a esfera política das sociedades indígenas são constituídas.
Os povos da América do Sul descobriram desde o inicio o caráter coercivo do poder, fazendo com que sempre fosse de alguma maneira depreciado em uma forma negativa de submissão. Por isso, o chefe se torna tão dependente da população, e não a ação contrária.
Mesmo em casos aonde todos colocam as decisão e julgo ao chefe, para Clastres existe um fator de chantagem, do qual caso ele não faça sua obrigação nesse momento, é abandonado ou substituído por outro indivíduo que se encaixe no padrão esperado pelo povo. Tanto a poligamia como o discurso são exercidos dentro de ações de controle geral.

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