Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA ANO 3 / N. 5 / 2018 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS – MULTIDISCIPLINAR 1 EFETIVIDADE DA LIBERAÇÃO MIOFASCIAL POR MEIO DA VENTOSATERAPIA NA DOR, LIMITAÇÃO DE MOVIMENTO E CAPACIDADE FUNCIONAL DE PORTADORES DE LOMBALGIA Adriana G. Dorta1 Juliana M. Silva2 Stella R. Dayrell3 Adroaldo José Casa Junior4 Eduardo Di Oliveira Pires5 Andrey Tavares de Oliveira Penido6 João Paulo Garcia Bezerra7 RESUMO A lombalgia representa uma das queixas musculoesqueléticas mais comuns na população em geral, que influencia negativamente na qualidade de vida e capacidade funcional do indivíduo. Sendo assim, o objetivo desta pesquisa é avaliar a efetividade da liberação miofascial realizada com a ventosaterapia na dor, limitação de movimento e restrição funcional de portadores de lombalgia. Trata-se de um estudo com intervenção e descritivo. Participaram 17 mulheres com queixa de dor lombar não específica, sendo submetidas a uma Ficha de Avaliação, para obtenção de dados pessoais, antropométricos, sócio-demográficos e relacionados à lombalgia; Escala Visual Analógica (EVA) para verificação da intensidade da dor; Teste de Schöber para avaliar a mobilidade lombar e o Índice de Incapacidade de Oswestry para verificar a funcionalidade da coluna lombar. Cada participante foi submetida a uma aplicação da técnica de ventosaterapia seca, na forma deslizante. A reavaliação foi realizada logo após a aplicação da técnica, assim como 3 dias após a intervenção. Resultados: Observou-se melhora significativa da dor (p<0,001) e da funcionalidade (p=0,02), sem resultados significativos para a mobilidade(p=0,84). Diante do exposto, a liberação miofascial por meio da ventosaterapia apresentou-se efetiva na redução da sintomatologia dolorosa e melhora da funcionalidade de portadores de lombalgia, apresentando resultados consideráveis e imediatos. 1 Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO. Campus Goiânia. 2 Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO. Campus Goiânia. 3 Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO. Campus Goiânia. 4 Fisioterapeuta, Mestre e Doutorando em Ciências da Saúde e do Curso de Fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO. Email: adroaldocasa@gmail.com 5 Fisioterapeuta, Especialista em Neurofuncional e Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO. Email: eduardopires1975@gmail.com 6 Fisioterapeuta, Especialista em Terapias Manuais e Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO. Email: andreypenido@me.com 7 Fisioterapeuta, Especialista em Traumato Ortopedia e Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO. Email: fisio_joaopaulo@hotmail.com REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA ANO 3 / N. 5 / 2018 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS – MULTIDISCIPLINAR 2 Palavras-chave: Dor Lombar, fáscia, Tecido Conjuntivo, Anormalidades Musculoesqueléticas. INTRODUÇÃO A lombalgia representa uma das queixas musculoesqueléticas mais comuns na população em geral, que influencia negativamente na qualidade de vida e capacidade funcional do indivíduo (FERREIRA e PEREIRA, 2016; ALMEIDA et al., 2012). A instabilidade na região lombar é a principal alteração funcional observada na lombalgia e geralmente é associada a lesões de tecidos moles, hipotrofia ou falha na ativação muscular. Sua característica multifatorial é bastante atribuída a fatores mecânicos, porém há também fatores como doenças degenerativas, inflamatórias, congênitas e neoplásicas, além de condições reumáticas e overuse (ALMEIDA et al., 2012). Pode ser secundária a conflitos psicológicos e acompanhada ou não de queixas somáticas (TENÓRIO e VIEIRA, 2012). A lombalgia é a principal causa de auxílio por invalidez no Brasil e a terceira causa de aposentadoria por incapacidade (FEITOSA et al., 2016). A lombalgia ocupacional é a maior causa de absenteísmo e incapacidade entre trabalhadores com menos de 45 anos. A dor promove incapacidade parcial ou total, podendo ser transitória ou permanente, levando ao sofrimento e perda na qualidade de vida (ALENCAR e VALENÇA, 2016). No tratamento da dor lombar, podem ser utilizados fármacos, assim como outras terapias conservadoras e até mesmo cirúrgicas, nos casos mais graves (LIZIER, PEREZ e SAKATA, 2012). Atualmente, na fisioterapia, são utilizadas várias formas de terapia manual para tratar lombalgia, incluindo técnicas passivas, que utilizam mobilização e manipulação. O uso dessas abordagens, juntamente com o raciocínio clínico baseado no modelo biopsicossocial, representa a essência da terapia manual (HIDALGO et al., 2014). A liberação miofascial é uma terapia manual de fácil e rápida aplicação, que pode alterar as características elásticas fasciais por meio da manipulação da fáscia, liberando restrições e promovendo o remodelamento do tecido conjuntivo. É aplicada com intuito de aumentar a circulação local, promover relaxamento muscular, aumentar a amplitude de movimento e diminuir o quadro álgico, favorecendo a realização das atividades de vida diária (COSTA, POGGETTO e PEDRONE, 2012). Esta liberação REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA ANO 3 / N. 5 / 2018 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS – MULTIDISCIPLINAR 3 pode ser feita de forma instrumental, e dentre as ferramentas usadas, podem-se citar, rolos de espuma, ganchos, bastões, bolas de tênis e ventosas (AJIMSHA, AL- MUDAHKA e AL-MUDZAHAR, 2015; AJIMSHA, BINSU e CHITHRA, 2014). A ventosaterapia é uma técnica universal e bastante antiga, utilizada em países do oriente e ocidente (MUSUMECI, 2016). O princípio da ventosaterapia é o método de sucção gerado na pele sobre uma área dolorosa ou pontos de acupuntura. Há duas variedades de ventosaterapia, a úmida que envolve incisões ou cortes na pele, e a seca, onde não há incisão (LEE et al., 2010). Os efeitos da ventosaterapia incluem a liberação de toxinas, levando os tecidos moles (peles e músculos) a uma drenagem dessas impurezas, melhorando o aporte sanguíneo e o metabolismo celular local. Com o efeito de melhora da circulação, as substâncias tóxicas retiradas pela sucção favorecem a diminuição de substâncias que estimulam células inflamatórias a gerar dor. Além da diminuição da dor, a ventosa proporciona a diminuição do edema, alívio da tensão muscular e melhora da capacidade funcional (LAUCHE et al., 2016; EMERICH et al., 2014; LAUCHE et al., 2011). Esta técnica foi bastante divulgada pelos atletas nos Jogos Olímpicos de 2016, e seu uso tem crescido, por sua fácil aplicação, baixo custo e resultados promissores. Este trabalho poderá subsidiar novos estudo que desejem analisar mais profundamente o tema, já que há uma escassez de artigos na literatura sobre os efeitos fisiológicos e terapêuticos da liberação miofascial, por meio da ventosaterapia na lombalgia. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito imediato da liberação miofascial realizada com a ventosaterapia na dor, limitação de movimento e restrição funcional de portadores de lombalgia inespecífica. 1 Metodologia Trata-se de um estudo com intervenção, descritivo e quantitativo, realizado conforme a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Participaram do estudo 17 mulheres, sendo uma amostra de conveniência, haja vista que foi selecionada uma instituição a que os pesquisadores têm fácil acesso. Os critérios de inclusão foram: mulheres com idade igual ou superior a 18 anos, presença de dor lombar inespecífica no momento da coleta dos dados e pessoas que participavam das atividades desenvolvidas pela Igreja Assembléia de Deus Ministério REVISTA ELETRÔNICA DETRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA ANO 3 / N. 5 / 2018 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS – MULTIDISCIPLINAR 4 Fama, da cidade de Goiânia (Goiás). Os critérios de exclusão e/ou retirada foram: indisponibilidade para o estudo, utilização de medicamentos ou realização de tratamentos para a lombalgia durante a participação no estudo, lesão musculoesquelética atual em membro inferior e presença de contraindicações da ventosaterapia, tais como, escoriações, inflamação ou infecção na pele no local de aplicação e trombose venosa profunda. Como instrumentos de avaliação foram utilizados: Ficha de Avaliação, elaborada pelos próprios pesquisadores, para obtenção de dados pessoais, antropométricos, sócio-demográficos e relacionados à lombalgia; Escala Visual Analógica (EVA) para mensurar a intensidade da dor (PRICE et al., 1983); Teste de Schöber para avaliar a mobilidade da região lombar (BRIGANÓ e MACEDO, 2005); e Índice de Incapacidade de Oswestry para verificar a funcionalidade da coluna lombar (VIGATTO, ALEXANDRE e CORREA FILHO, 2007), sendo todos os instrumentos validados cientificamente. As participantes da pesquisa foram abordadas na igreja citada, informadas sobre o estudo e convidadas a participarem. Em seguida, foi entregue o Termo de Consentimento Livre Esclarecido e, após resposta afirmativa quanto à sua participação, os responsáveis pela pesquisa aplicaram a Ficha de Avaliação. Na abordagem inicial foram utilizados todos os instrumentos de avaliação. Após avaliação, cada participante foi submetida a uma aplicação da técnica de ventosaterapia seca, na forma deslizante, como preconiza Arguisuelas et al. (2017). As participantes foram posicionadas em decúbito ventral numa maca e livres de roupas ou acessórios a fim de não obstruir a região tratada. O protocolo utilizado para a aplicação da técnica foi desenvolvido por Granter (2011). Foi aplicado creme ou óleo na região do dorso e com o copo de acrílico de 45mm foi feita a sucção com a bomba de forma moderada, conforme a resistência tecidual, de forma que o copo pudesse ser deslizado. O procedimento foi realizado em toda a fáscia tóraco-lombar, bilateralmente, evitando o contato com os processos espinhosos e crista ilíaca. A ventosa foi movida lentamente, por todo o tecido a ser tratado em movimentos de zigue-zague, a fim de ativar a maior quantidade de mecanoceptores possível, visando potencializar os efeitos do tratamento. Se a resistência dentro da ventosa fosse insuficiente, aumentava-se o nível de vácuo até que fosse sentida um primeiro início de resistência. Se a resistência era incapacitante para a fácil REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA ANO 3 / N. 5 / 2018 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS – MULTIDISCIPLINAR 5 mobilização da ventosa, diminuía-se o nível de vácuo. O protocolo de tratamento foi realizado por 5 minutos de cada lado. Logo após a sessão de ventosaterapia foi realizada uma reavaliação das participantes do estudo, utilizando todos os instrumentos de avaliação, exceto o Índice de Incapacidade de Oswestry. Uma outra reavaliação foi feita 3 dias após a aplicação da técnica, desta vez, utilizando todos os instrumentos. A caracterização do perfil sociodemográfico do grupo foi realizado utilizando as frequências absolutas (n) e relativas (%) e estatísticas descritivas. Todas as análises foram efetuadas por meio do Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 23.0, adotando um nível de significância de 5% (p < 0,05). Com o teste de Shapiro-Wilk, verificou-se que os dados do estudo não apresentavam normalidade, então, a fim de averiguar os efeitos da intervenção nas variáveis dependentes, foram realizados os testes de Friedman e Wilcoxon. 2 Resultados A Tabela 1 apresenta os dados referentes ao perfil das participantes que compõem esta amostra, em que se podem observar dados pessoais, valores de Índice de Massa Corporal (IMC) e estágio da dor. A maior parte pertencia à faixa etária acima de 40 anos (n=11, 64,7%), casada (n=12, 70,6%), e profissionais do lar (n=10, 58,8%). Em relação ao estágio da dor lombar, observou-se que 14 participantes (82,4%) apresentavam dor crônica e 3 (17,6%) dor aguda. Tabela 1. Descrição do perfil sócio demográfico, antropométrico e da lombalgia das participantes. Goiânia (Goiás), n=17, 2017. n % Faixa etária ≤ 40 anos 6 35,3 > 40 anos 11 64,7 Estado Civil Casado 12 70,6 Divorciado 1 5,9 Solteiro 1 5,9 Viúvo 3 17,6 Profissão Balconista 1 5,9 Costureira 2 11,8 Do Lar 10 58,8 Téc. de Enfermagem 2 11,8 REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA ANO 3 / N. 5 / 2018 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS – MULTIDISCIPLINAR 6 Trabalho informal 1 5,9 Vendedora 1 5,9 IMC Acima do Normal 7 41,2 Normal 10 58,8 Estágio da dor Aguda 3 17,6 Crônica 14 82,4 IMC – Índice de Massa Corporal A Tabela 2 apresenta dados de mínimo e máximo, mediana, média e desvio padrão da idade, peso, altura e IMC das participantes do estudo. Observa-se que a média da idade foi de 46,82 (±13,71) anos; de peso 70,24 (±12,22) Kg; de altura 1,61 (±0,06) metros; e IMC 26,98 (±4,75) kg/m2. Tabela 2. Estatísticas descritivas da idade, peso, altura e IMC, Goiânia (Goiás), n=17, 2017. Mediana Média ± Desvio Padrão Mínimo Máximo Idade (anos) 51,00 46,82 ± 13,71 19,00 66,00 Peso (kg) 66,00 70,24 ± 12,22 53,00 94,00 Altura (metros) 1,62 1,61 ± 0,06 1,51 1,75 IMC (kg/m2) 24,84 26,98 ± 4,75 20,96 39,13 IMC- Índice de Massa Corporal A tabela 3 apresenta os dados obtidos na comparação dos instrumentos utilizados na avaliação antes, logo após e 3 dias após intervenção. Identificou-se que, após a aplicação de ventosaterapia a dor foi significativamente reduzida (p<0,001), inclusive mantendo-se por 3 dias. Em relação à funcionalidade, observou-se melhora significativa 3 dias após a intervenção (p=0,02). Não se obteve melhora significativa da mobilidade lombar (p=0,84). Tabela 3. Resultado da comparação da dor, mobilidade e funcionalidade, antes, logo após e 3 dias após a intervenção, Goiânia (Goiás), n=17, 2017. Intervenção (Média ± Desvio padrão) P Antes Logo após 3 dias após Dor 5,65 ± 2,03a 2,65 ± 1,93b 3,29 ± 2,28b < 0,001* Mobilidade (cm) 14,62 ± 1,57 14,59 ± 1,48 14,62 ± 1,42 0,84* Funcionalidade (%) 23,54 ± 14,18 NA 22,55 ± 13,72 0,02** *Teste de Friedman; **Teste de Wilcoxon NA= não se aplica 3 Discussão REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA ANO 3 / N. 5 / 2018 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS – MULTIDISCIPLINAR 7 No presente estudo alcançou-se redução altamente significativa da dor lombar e melhora significativa da funcionalidade, porém, sem melhora na mobilidade, já que as participantes não apresentavam consideravelmente redução antes da intervenção. A liberação miofascial é uma das técnicas fisioterapêuticas utilizadas para promover a diminuição da dor, melhora da mobilidade e funcionalidade do indivíduo (AJIMSHA, BINSU e CHITHRA, 2014). A dor lombar é causada por vários fatores, que com o tempo resultam em microtraumas na região. Na fase aguda destes microtraumas, a atividade fibroblástica produz novos tecidos conjuntivos, iniciando-se um processo de fibrose, formando adesões nos tecidos, levando a dor e limitando a mobilidade da região e ocasionando, consequentemente, comprometimento da funcionalidade. A liberação miofascial faz com que haja uma modificação na matriz do tecido cicatricial com redistribuição dos fluxos internos, melhorando a capacidade vascular, a circulação linfática e a viscosidade dos tecidos, permitindo a remodelação tecidual, a degradação das aderências e restrições entre as moléculas (BALASUBRAMANIAM, MOHANGANDHI e SAMBANDAMOORTHY, 2014; TOZZI, BONGIORNO e VITTURINI, 2011). A fáscia é composta por colágeno, elastina e substância amorfa, tratando-sede um tecido conjuntivo. O colágeno é organizado em feixes, geralmente paralelos, podendo por vezes ter ondulações, provendo suporte, forma e estabilidade. A elastina oferece flexibilidade dinâmica e está presente entre os feixes de colágeno. A substância amorfa forma a matriz extracelular, fornecendo amortecimento e envolvendo cada célula, determinando sua capacidade funcional. O excesso de tensão sobre a fáscia faz com que os feixes de colágeno desenvolvam ligações cruzadas, fiquem fibrosos e densos, a elastina perca sua resiliência e a substância amorfa se solidifique, formando aderências e diminuindo a extensibilidade do tecido. A liberação miofascial gera um efeito piezoelétrico, transformando a energia mecânica em elétrica, mudando o estado iônico da substância amorfa, facilitando a ligação à água e realinhando as fibras de colágeno, como resultado temos a quebra das aderências e melhor extensibilidade tecidual (BARNES, 1997; THRELKELL, 1992). Na sustância amorfa circula o líquido lacunar, responsável pala circulação vital, levando nutrição e eliminando resíduos das células (BIENFAIT, 2007). Nela também estão contidos vasos sanguíneos, linfáticos e nervos sensoriais (LANGEVIN, 2011). O aumento da tensão no tecido conjuntivo, com a formação de novas fibras REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA ANO 3 / N. 5 / 2018 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS – MULTIDISCIPLINAR 8 colagenosas, com consequente densificação da fáscia, diminui o volume dos espaços lacunares comprometendo a função circulatória, podendo haver acúmulo de mediadores inflamatórios, gerando dor. A dor, por si só, pode levar ao imobilismo, gerando mais fibrose e inflamação, comprometendo a funcionalidade do indivíduo. À medida que ocorre a quebra das fibroses com diminuição da densidade da substância amorfa, há melhor fluidez da circulação sanguínea e linfática, com remoção de mediadores inflamatórios, com redução da dor e melhora funcional (LANGEVIN, 2007). A dor pode ser modulada por meio do toque na pele, pela ativação de mecanorreceptores Aß que possuem maior velocidade de condução que as fibras que conduzem estímulos noceptivos. Esta modulação se dá por meio da inibição competitiva, na estimulação do corno posterior da medula espinhal. Pela estimulação periférica do corno posterior, com a teoria das comportas, haverá modulação da dor de forma inibitória, pois os estímulos noceptivos e proprioceptivos competem pelos mesmos interneurônios. A maior velocidade do estímulo proprioceptivo ativará os interneurônios, bloqueando a chegada do estímulo doloroso (GOSLING, 2013). Os resultados de nossa pesquisa coincidem com os encontrados no estudo de Arguisuelas et al. (2017), cujo objetivo foi analisar os efeitos de um protocolo de liberação miofascial isolado sobre a dor e a incapacidade em 54 pacientes com lombalgia crônica, sendo que 27 integraram o grupo de intervenção e 27 o controle, sendo realizadas 4 sessões de 40 minutos em um intervalo de 2 semanas. Foram utilizados o McGill e EVA para avaliar dor e o questionário de Roland Morris para o grau de incapacidade. Na comparação entre os 2 grupos, o da intervenção obteve melhora significativa da dor e da incapacidade (p=0,04 e 0,03, respectivamente). No estudo de Markowki et al. (2013), com o objetivo de avaliar a efetividade da ventosaterapia na dor, sensibilidade à palpação e mobilidade em pacientes com lombalgia sub-aguda e crônica, os instrumentos utilizados foram a EVA, inclinômetro e algômetro de pressão. Dezessete indivíduos receberam uma única aplicação de ventosaterapia seca fixa na região das vértebras de L2 a L4, por 10 minutos. Após a intervenção, houve melhora significativa da dor (p <0,0001) e da amplitude da flexão lombar (p = 0,016), o que corrobora com este estudo em relação à dor. Balasubramaniam et al. (2013) realizaram um estudo com o objetivo de avaliar o efeito da liberação miofascial na dor e flexão lombar. Dois grupos com 20 indivíduos cada, onde um recebeu liberação miofascial associada ao calor e outro apenas REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA ANO 3 / N. 5 / 2018 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS – MULTIDISCIPLINAR 9 liberação miofascial por um período de 6 meses. A avaliação foi feita através da EVA e Schöber modificado, ao final do estudo ambos os grupos obtiveram melhoras significativas na redução da dor e melhora da mobilidade (p <0,05). Estudos mostram a correlação entre dor lombar e incapacidade, o que também ficou claro neste estudo, pois houve melhora significativa da dor e da funcionalidade das participantes. A diminuição da funcionalidade nos portadores de lombalgia também pode estar relacionada à cinesiofobia, pois o corpo reage a vários estímulos tanto fisiologicamente como psicologicamente, o que é amenizada com a diminuição da dor (VIGATTO, ALEXANDRE e CORREA FILHO, 2007; BARNES, 1997). No presente estudo, na avaliação inicial a mobilidade da coluna lombar das participantes, obteve uma média de 14,62 (± 1,57) cm. Neste instrumento de avaliação, espera-se um valor mínimo de 15 cm para a normalidade de mobilidade da região lombar, assim, as participantes apresentavam-se quase dentro deste limite de normalidade ao começo do estudo. A vasodilatação promovida pela ventosaterapia facilita a cicatrização e ajuda a liberar as aderências do tecido muscular, favorecendo a um alongamento e consequentemente uma melhora da amplitude de movimento. A mobilidade das vértebras por sua vez, pode encontrar-se reduzida devido a um desalinhamento articular, sendo assim melhor beneficiada por uma abordagem mais direta para esta região, como por exemplo, as técnicas de mobilização e manipulação articular (MARKOWKI et al, 2013; PIRAN e AILY, 2012). Não foi possível um aprofundamento minucioso e específico pela carência de estudos sobre a efetividade da liberação miofascial com uso de ventosaterapia. Esta técnica já bastante difundida no ocidente, carece de estudos que não sejam somente vinculados à sua aplicabilidade como terapia adjacente da acupuntura; e necessita ser mais utilizada como ferramenta de auxílio na liberação miofascial. CONCLUSÃO A liberação miofascial por meio da ventosaterapia apresentou-se efetiva na redução da sintomatologia dolorosa e melhora da funcionalidade das portadoras de lombalgia. Em relação à mobilidade, não houve resultados significativos. Acredita-se que a continuidade desse tratamento com maior número de intervenções leve a resultados ainda superiores para o ganho da flexibilidade e manutenção dos obtidos. REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA ANO 3 / N. 5 / 2018 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS – MULTIDISCIPLINAR 10 O tratamento com ventosaterapia é uma alternativa terapêutica promissora, de fácil aplicabilidade, baixo custo e efetiva. A técnica apresenta poucas contra- indicações, tem resultados consideráveis, imediatos e satisfatórios na melhora de algias e consequentemente na funcionalidade. Contudo, a ventosaterapia, como instrumento de liberação miofascial, deve ser apresentada à sociedade por meio de novas pesquisas, com maior número de participantes e tempo de tratamento, podendo ser combinada e comparada com outras modalidades de tratamento, para algias, mobilidade e funcionalidade do aparelho locomotor, buscando maior compreensão da técnica e seus efeitos. REFERÊNCIAS AJIMSHA, M.S.; BINSU, D.; CHITHRA, S. Effectiveness of Myofascial release in the management of chronic low back pain in nursing professionals. Journal of Bodywork & Movement Therapies, v. 18, n. 2, p.273-281, 2014 AJIMSHA, J.A.; AL-MUDAHKA, N.R.; AL-MUDZAHAR, J.A. Effectiveness of myofascial release: Systematic review of randomized controlled trials. J Body Moviment Therapy, v. 19, n. 1, p. 102-112, 2015. ALENCAR, M.C.B.; VALENÇA, J.B.M. Afastamento do Trabalho e funcionalidade: o casode trabalhadores adoecidos por doenças da coluna lombar. Cad. Ter. Ocup., v. 24, n. 4, p. 755-763, 2016. ALMEIDA, R.S.; SILVA, A.C.; GONÇALVES, Q.T. et al. Análise do centro de pressão em pacientes com lombalgia crônica por meio de um sistema de realidade virtual. Fisioterapia Brasil, v. 13, n. 4, p. 288-289, 2012. ARGUISUELAS, M.D.; LISON, J.F.; ZURIAGA, D.S. et al. Effects of Myofascial release in nonspecific chronic low back pain. SPINE, v. 42, n. 9, p. 627-634, 2017. BALASUBRAMANIAM, A.; MOHANGANDHI, V.; SAMBANDAMOORTHY, A.K. Role of Myofascial Release Therapy on Pain and Lumbar Range of Motion in Mechanical Back Pain: An Exploratory Investigation of Desk Job Workers. Ibnosina J Med BS, v. 6, n. 2, p. 75-80, 2014. BARNES, M.F. The basic science of myofascial release: morphologic change in connective tissue. Journal Bodywork and Moviment Therapies, v. 1, n. 4, p. 231- 238, 1997. BIENFAIT, B. Estudo e Tratamento do Esqueleto Fibroso: Fáscia e Pompages. 3 ed. São Paulo: Summus, 1999. 107 p. BRIGANÓ, J.U.; MACEDO, C.S.G. Análise da mobilidade lombar e influência da REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA ANO 3 / N. 5 / 2018 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS – MULTIDISCIPLINAR 11 terapia manual e cinesioterapia na lombalgia. Sêmina: ciências biológicas e saúde, v. 26, n. 2, p. 75-82, 2005 COSTA, N.A.; POGGETTO, S.F.D.; PEDRONE, C.R. O Efeito da manipulação miofascial sobre o limiar doloroso em atletas durante período competitivo. Revista Terapia Manual, v. 10, n. 50, p. 486-490, 2012. EMERICH, M; BRAEUNIG, M.; CLEMENT, H.W. et al. Made of action of cupping- Local metabolism and healthy subjects. Complementary Therapies in medicine, v. 22, n. 1, p. 148-158, 2014. FEITOSA, A.S.A.; LOPES, J.B.; BONFA, E. et al. Estudo prospectivo de fatores prognósticos em lombalgia crônica tratados com fisioterapia: papel do medo e dor extra espinhal. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 56, n. 5, p. 384-390, 2016. FERREIRA, M.S.M.; PEREIRA, M.G. O papel moderador do tipo de família na relação entre incapacidade funcional e qualidade de vida em doentes com lombalgia crônica. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 1, p. 303-309, 2016. GOSLING, A.P. Mecanismos de ação e efeitos da fisioterapia no tratamento da dor. Revista Dor, v. 13, n. 1, p. 65-70, 2013. GRANTER, R. Myofascial vacuum cupping. Terra Rosa E-Magazine, n. 09, p. 17- 20, 2011. HIDALGO, B.; DETREMBLEUR, C.; HALL, T. et al. The efficacy of manual therapy and exercise for different stages of non-specific low back pain: an update of systematic reviews. The Journal of Manual & Manipulative Therapy, v. 22, n. 2, p. 59-74, 2014. LANGEVIN, H.M; SHERMAN, K.J. Pathophysiological model for chronic low back pain integrating connective tissue and nervous system mechanisms. Medical Hypotheses, v. 68, n. 1, p. 74–80, 2007. LANGEVIN, H.M.; BOUFFARD, N.A.; FOX, J.R. el al. Fibroblast Cytoskeletal Remodeling Contributes to Connective Tissue Tension. Journal of Cytoskeletal Physiology, v. 226, n. 5, p. 1166-1175, 2011. LAUCHE, R.; CRAMER, H.; CHOI, K.E. et al. The influence of a series of five dry cupping treatments on pain and mechanical thresholds in patients with chronic non- specific neck pain-a randomised controlled pilot study. BMC Complementary and Alternative Medicine, v. 11, n. 63, 2011. LAUCHE, R.; SPITZER, J.; SCHWAHN, B. et al. Efficacy of cupping therapy in patients with the fibromyalgia syndrome-a randomised placebo controlled trial. Scientific Reports, v.6, doi: 10.1038, 2016. LEE, M.S.; KIM, J.I.; KONG, J.C. et al. Developing and validating a sham cupping device. Acupunct Medicine, v. 28, n. 4, p. 200-204, 2010. LIZIER, D.T.; PEREZ, M.V.; SAKATA, R.K. Exercícios para tratamento de lombalgia REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA ANO 3 / N. 5 / 2018 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS – MULTIDISCIPLINAR 12 inespecífica. Revista Brasileira Anestesiol, v. 62, n. 6, p. 838-846, 2012. MARKOWKI, A.; SANFORD, S.; PIKOWSKI, J. et al. A pilot study analyzing effects of chinese cupping as an adjunct treatment for patients with subacute low back pain on relieving function. The Journal of Alternative and Complementary Medicine, v. 20, n. 2, p. 113-117, 2013. MUSUMECI, G. Could cupping therapy be used to improve sports performance? Journal of Functional Morphology and Kinesiology, v. 1, n. 4, p. 373-377, 2016. PIRAN, M.; AILY, S.M.; ARAUJO, R.O. Análise comparativa do tratamento da dor lombar crônica utilizando-se as técnicas de Maitland, Mulligan e Estabilização Segmentar. EFDeportes, v. 17, n. 170, 2012. PRICE, D.D.; McGRATH, P.A.; RAFII, A. et al. The validation of visual analogue scales as ratio scale measures for chronic and experimental pain. Pain, v. 17, n. 1, p. 45-56, 1983. TENORIO, M.Y.L.C.; VIEIRA, L.C.R. Aspectos associados à lombalgia. Revisão literária. EFDeportes, revista digital, v. 17, n. 173, 2012. THRELKELD, A.J. The Effects of Manual Therapy on Connective Tissue. Physical Therapy, v. 72, n. 12, p. 893-902, 1992. TOZZI, P.D.O.; BONGIORNO, D.M.D.; VITTURINI, C. Fascial release effects on patients with nonspecific cervical or lumbar pain. Journal of Bodywork and Movement Therapies, v. 15, n. 4, p. 405-416, 2011. VIGATTO, R.; ALEXANDRE, N.M.C.; CORREA FILHO, H.R. Development of a Brazilian Portuguese version of the Oswestry disability index. Spine, v. 32, n. 2, p. 481-486, 2007.
Compartilhar