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A FILOSOFIA DA COMPOSIÇÃO NA CRIAÇÃO DE THE RAVEN DE EDGAR ALLAN POE

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A FILOSOFIA DA COMPOSIÇÃO NA CRIAÇÃO DE "THE RAVEN" DE EDGAR ALLAN POE
ANDREIA BELTRAME TEIXEIRA
RESUMO: Este trabalho pretende apresentar as características e os elementos que constituem a estrutura utilizada por Edgar Allan Poe na criação do poema narrativo “The raven”. Poe descreveu a filosofia de seu método de composição em um de seus mais significativos ensaios, The philosophy of composition, de 1846. Assim, procurou demonstrar que o processo de criação de uma obra não é apenas resultado de inspiração, mas consequência de muito trabalho e raciocínio lógico.
PALAVRAS-CHAVE: Edgar Allan Poe, O corvo, Autor, Poema.
1 Introdução
Edgar Allan Poe (1809 – 1849), importante autor, mestre do conto e da ficção do século XIX, é considerado um dos pioneiros em contos e histórias de investigação e referência da poesia norte-americana. 
Seus poemas, assim como seus contos, ganharam notoriedade tanto pelos temas peculiares, quanto pelo riquíssimo conteúdo sonoro e estruturas impecáveis (BARROSO, 1998). 
Embora seu impressionante talento lírico só tenha sido reconhecido após sua morte, deixou uma marca significativa na literatura do período e influenciou o trabalho de muitos outros autores. Sua obra tem despertado grande interesse e tem sido tema de muitas análises, seja pela crítica, elogio ou curiosidade de estudiosos. Seja qual for o viés, o interessante é que o autor e sua obra, vasta em gênero e qualidade artística, continuam intrigando estudiosos até os dias de hoje.
O autor escreveu desde poemas, a novelas e contos. Exerceu grande influência sobre autores como Baudelaire, Maupassant e Dostoievsky. Além disso, Poe é considerado um dos escritores da literatura mundial, não apenas pela variedade, mas também pela extensão de sua produção literária. (TODOROV,2011)
“The Raven” (em português “O corvo”) é, talvez, o poema mais conhecido de Edgar Allan Poe. Isso se dá pelo ritmo, rimas e estrutura perfeitas. A harmonia dos elementos poéticos de “The Raven” é notável e faz parte do objeto desta pesquisa.
O objetivo deste artigo é apresentar uma leitura de um dos textos teóricos mais importantes de Poe, “A Filosofia da Composição”, procurando demonstrar como Poe revela em seu próprio ensaio, o fazer artístico e o passo-a-passo utilizado ao escrever o poema “O Corvo”. Com isso, espera-se explorar um viés de leitura da obra de Poe que, conforme descrito acima, tem intrigado em sua reflexão sobre sua própria arte.
Nesse sentido, este artigo tenta explicitar os aspectos descritos por Poe na criação do poema, de modo a propor reflexões sobre os diversos trajetos possíveis que marcam os processos de composição, e também, demonstrar que, segundo o autor, as obras literárias não são frutos de inspiração, mas de muito trabalho e dedicação. Para fazê-lo, parte-se do documento que foi a fonte desta investigação e do qual nunca se terá a certeza se Poe utilizou realmente seus métodos na criação de seu poema mais célebre. 
2 Edgar Allan Poe 
Edgar Allan Poe nasceu em Boston, em 19 de janeiro de 1809. Filho de atores fracassados, foi abandonado pelo pai e perdeu a mãe um ano depois, vítima de tuberculose. Órfão, teve sua infância marcada pela decepção e insegurança. Foi criado em Richmond, por John e sua esposa Francis Allan e passou grande parte da infância na Inglaterra, período de sua vida de grande importância, já que o cenário inglês teve grande influência em sua obra. Poe estudou em Londres, frequentou a Universidade de Virginia, porém foi expulso por seu estilo boêmio e aventureiro. 
Poe faleceu aos 40 anos de idade, deixando um legado que se manteria vivo ao longo dos séculos através das inúmeras referências e traduções de sua obra para diversos idiomas e por ilustres nomes da literatura, como Charles Baudelaire, Machado de Assis e Fernando Pessoa.
Foi considerado um dos precursores da literatura fantástica e ficou conhecido pelo mistério contido em suas obras. Os contos de Edgar Allan Poe permanecem como um marco na estruturação da narrativa, no uso preciso da linguagem, na descrição do estado mental dos personagens e nos aspectos macabros dos enredos.
Nota-se em suas obras, características românticas, como a beleza poética e o distanciamento da realidade, ainda que muitos de seus trabalhos se assemelhem mais ao gênero gótico – que deu origem ao Romantismo Sombrio. (BRITO, 2014).
Poe utiliza em suas obras uma espécie de terror psicológico. Elas são narradas em primeira pessoa e seus personagens vivem entre a lucidez e a loucura ou sofrem de doenças e quase sempre cometem atos infames. Muitas vezes, Poe apenas narra o fato ocorrido e deixa os sentimentos do leitor fazerem o efeito desejado, seja terror, medo ou suspense. Ele utiliza para isso a fantasia, o enigmático e a imaginação.
3 “The Raven” (O Corvo)
Desde a sua primeira publicação, em 1845, “The Raven” já fomentava indagações tanto da crítica quanto do público em razão dos efeitos provocados pelas aliterações, pelo jogo de sons e pelo clima de mistério criado por Poe.
Pode-se considerar que a agonia refletida neste poema seja o reflexo da dor sentida pelo autor pela morte de sua esposa, Virgínia.
Com características góticas e temática obscura, “The Raven” é um poema narrativo cuja ação principal se desenvolve em apenas uma noite e se passa em um aposento escuro onde o eu-lírico está lendo livros antigos, para tentar esquecer a morte de sua amada. Ao ouvir um barulho, como se alguém batesse à porta, ele vai abrir e não encontra ninguém. As batidas começam então na janela e é quando um corvo entra em sua sala e pousa no busto de mármore da deusa Pallas. Deste momento em diante ambos iniciam um “embate”, recheado de falas simbólicas e metafóricas.
O anfitrião inicia uma conversa com a ave que o olha fixamente, num ambiente de mistério, perguntando-lhe o nome. Para sua surpresa, o corvo responde “Nevermore”, ou seja, “Nunca mais”.
Atônito pela capacidade de falar do animal e ainda confuso pela resposta não esperada, o eu lírico começa a fazer outras perguntas que o atormentam naquele momento e o ambiente se enche de uma sombria atmosfera sobrenatural. Porém, para todas as perguntas, a resposta é a mesma, numa incessante repetição capaz de causar-lhe ainda mais angústia e desespero.
Para todos os comentários e perguntas, o pássaro repetidamente responde com a mesma palavra, que servirá de refrão para o poema 
O narrador pergunta se algum dia voltaria a ver sua amada, Lenore, e o corvo continua a emitir a mesma palavra, e essa insistência o leva ao desespero e a raiva, fazendo com que ele grite para que o corvo volte de onde veio, e mais uma vez, a mesma resposta: Nevermore. E assim acaba o poema.
No geral, o poema trata de assuntos como a angústia e o sofrimento pela perda da amada, que é mencionada em diversos momentos. Sua temática, nos remete a um ambiente de melancolia e morbidez. Representante significativo da literatura norte americana, com inspiração gótica, o poema envolve os temas mais comuns da segunda geração romântica, como a noite, o medo, a solidão, o sobrenatural, o mistério e a morte.
A forma estética perfeita dessa composição de Poe, as sequências rítmicas, a organização dos versos, das estrofes e do poema como um todo, torna esse poema referência da língua inglesa, e a tarefa de traduzi-lo a outras línguas torna-se um trabalho bastante árduo, requerendo não apenas conhecimento de ambas as línguas, mas também um talento poético especial.
3 “A filosofia da composição”
Muitas vezes, questiona-se como seria instigante um manual onde um autor poderia detalhar passo a passo o processo pelo qual uma de suas criações foi concluída. Talvez a vaidade dos autores seja mais responsável por essa omissão do que qualquer outra coisa. A maioria dos escritores - e os poetas em particular - preferem implicar que eles compõem sob uma espécie de frenesi ou uma intuição, e com essa ideia, provocar a curiosidade e o interesse dos leitores e do público em geral.
O que acontece na realidade? Nos bastidores, como explicar as incertezas do pensamento,as ideias que não se manifestam, as fantasias completamente repetidas que teimam em povoar a imaginação, as escolhas das palavras e as correções torturantes, mas que são extremamente necessárias e inevitáveis?
Porém, não é habitual que um escritor exponha seus passos e mostre como chegou às suas conclusões e as conveniências do “modus operandi” pelo qual seu trabalho foi realizado. 
O ensaio de Edgar Allan Poe, “A Filosofia da Composição”, de 1845, mostra a metodologia utilizada pelo autor na criação de seu poema “O corvo” e é considerado uma das maiores obras primas da crítica literária, tendo influenciado uma enorme variedade de autores contemporâneos com suas ideias modernas a respeito da estruturação do poema e da narrativa e da teorização de efeitos psicológicos a serem explorados no texto.
Esse ensaio foi publicado em 1846, na Graham’s Magazine, revista da Filadélfia da qual Edgar Allan Poe foi editor entre 1841 e 1842, e na qual ainda chegou a publicar outras obras suas mais tarde. Neste ensaio, Poe fala sobre a escrita de seu poema “O Corvo”, o qual havia sido publicado no ano anterior com grande aclamação pública e crítica. Contudo, além de pronunciar-se sobre o método pelo qual o poema foi escrito, Poe acaba discorrendo sobre uma série de fatores envolvidos no processo de produção literária, e é justamente daí que se pode dizer que deriva a grande importância deste ensaio dentro da obra de Poe. 
Com o ensaio, Poe procura explicar uma teoria sobre como os bons escritores escrevem suas obras. O autor teve a intenção de mostrar que nenhum detalhe de sua composição pode ser atribuído a uma intuição, e como o próprio Poe diz 
É meu desígnio tornar manifesto que nenhum ponto de sua composição se refere ao acaso, ou à intuição, que o trabalho caminhou, passo a passo, até completar-se, com a precisão e a sequência rígida de um problema matemático. (POE, 1999)
E assim, o poema vai tomando forma, até que o mesmo se adeque ao gosto popular e ao crítico ao mesmo tempo. Para isso, o autor se refere ao seu próprio poema, escrito um ano antes, como exemplo. Poe não acredita em intuição artística, mas em um procedimento disciplinado e minucioso, longe da espontaneidade. Mais do que discorrer sobre a criação do próprio poema, Poe descreve uma série de fatores envolvidos no processo de criação literária.
A primeira coisa que o autor considerou foi a extensão. Se um trabalho literário é muito longo para ser lido de uma só vez, é possível que se perca o efeito de impressão, pois se a leitura for feita em duas vezes, as atividades realizadas entre uma leitura e sua continuação podem destruir o efeito esperado no todo. Mas dado que, nenhum poeta pode perder qualquer coisa que sirva para sustentar a sua obra, deve ser visto se na extensão existe alguma vantagem que compense a perda de unidade que é intrínseca a ele. O que chamamos de poema longo é, na realidade, uma mera sucessão de poemas curtos. 
Parece evidente, então, que em todas as obras literárias se impõe um limite preciso no que diz respeito à sua extensão e ao gênero pretendido: o limite de uma única sessão de leitura; e que, com exceção em obras de prosa, que não exige a unidade, esse limite pode ser vantajosamente superado, nunca deve ser excedido em um poema. Dentro deste limite, uma relação matemática pode ser estabelecida entre a extensão de um poema e seu mérito, ou seja, a excitação ou elevação que ele produz, ou, em outras palavras, o grau de efeito poético autêntico que é capaz de alcançar; é claro que a brevidade deve estar diretamente relacionada com a intensidade do efeito procurado, e o último com apenas uma condição: que um certo grau de duração é um requisito obrigatório para atingir qualquer efeito.
Atento a essas considerações, bem como a um grau de excitação que não ultrapassasse o gosto popular ou menosprezasse a opinião crítica, Poe calculou o comprimento apropriado para o poema: o ideal chegaria a uma centena de versos. “The Raven” foi finalizado com 108 versos.
Outra argumentação de Poe foi sobre a função da obra literária. Ele diz que esse processo deve ser iniciado com a escolha do efeito que se pretende criar e quais os meios necessários para se atingir tal efeito. Para ele, deve-se fugir do equívoco de se construir uma história simplesmente para se transmitir uma tese ou construir uma narrativa: o objetivo mais importante da escrita é a obtenção de um efeito.
O conflito exposto pelo autor é a tensão entre recurso estético e conteúdo moral, respectivamente, beleza e verdade. Essa preocupação se materializa na distinção que faz entre poesia e prosa. Para Poe, a poesia é a apreciação de tudo o que é belo, é a mais intensa e pura elevação da alma. Quanto ao objetivo verdade, ou a satisfação do intelecto, são provenientes da prosa, pois exige precisão, que é, segundo ele, adverso do que pode ser criado na poesia. Seja no campo da beleza, ou da verdade, qualquer que seja a intenção do autor, este só alcançará seu objetivo com muito empenho, pois uma obra literária não é pura inspiração, não cai do céu. A verdade, nem sempre revelada pelos poetas, é que eles não são seres iluminados, mas operários eficientes em uma metodologia extensa, cansativa e que exige muita precisão e dedicação.
Cortazar complementa essa argumentação:
Neste texto exaltadamente metafísico, Poe incorpora já a expressão técnica: "Mediante combinações multiformes das coisas e dos pensamentos temporais”, isto é, o trabalho do poeta como combinador da receita transcendente. A técnica é severa e exige importantes restrições. O poema é coisa estética, seu fim é a beleza. Por isso (e aqui Poe se lembra das suas leituras juvenis de Coleridge) é preciso distinguir entre Beleza e Verdade. A poesia didática, a poesia que tem por finalidade um ensinamento qualquer, é um monstro, um compromisso, que se deve evitar, entre a exaltação da alma e a instrução da inteligência. Se o belo é naturalmente verdadeiro e pode ensinar algo, tanto melhor; mas o fato de que possa ser falso, isto é, fantástico, imaginário, mitológico, não só não invalida a razão do poema, mas também, quase sempre, constitui a única beleza verdadeiramente exaltadora (2006, p. 115).
A terceira questão abordada por Edgar Allan Poe é sobre o tom. Todas as experiências mostraram que o tom que mais se manifesta é o da tristeza, pois provoca lágrimas nas almas sensíveis, de modo que a Melancolia pode ser vista então como o mais legítimo de todos os tons poéticos. No poema “O Corvo”, quanto à natureza dessa Melancolia, no caso, ele decide por aquela que seria invariavelmente absorvida por todos: a morte de uma mulher. Acreditando ser inquestionavelmente, a melancolia, o uso mais poético do sentimento.
Determinados os três pilares da composição: extensão, efeito e tom, procurou algum efeito artístico ou recursos poéticos que lhe servisse de eixo, em torno do qual, toda a estrutura iria girar. O efeito que melhor representa a atmosfera melancólica escolhido pelo autor é o refrão. 
Pensando na complexidade que seria aplicar uma frase ou uma sentença mais extensa por inúmeras vezes adequando as mesmas palavras a sentidos variados, Poe decidiu por uma única palavra, que seria repetida várias vezes, servindo de eixo para a construção do poema. Determinado de que essa palavra deveria ter caráter melancólico de acordo com o tom, ser forte e apresentar sonoridade, a palavra escolhida foi “Nevermore” (Nunca mais). 
Observando que seria necessário um pretexto para a repetição da palavra, e que poderia ser instalada a monotonia se tal palavra fosse pronunciada por um ser humano, optou por escolher um animal irracional para realizar tal função. A princípio, foi sugerido um papagaio, talvez pela capacidade de tal ave produzir sons e palavras, mas, devido à concordância com o tom pretendido do poema, optou por um pássaro mais funesto e conhecido por sua característica sinistra: o corvo.
Como uma grande estrutura arquitetônica, Poe continuava em busca da perfeição na composição de seu poema buscando relacionar o tópicomorte com a beleza da figura de uma mulher:
Eu já havia chegado à ideia de um Corvo, a ave do mau agouro, repetindo monotonamente a expressão "Nunca mais", na conclusão de cada estância de um poema de tom melancólico e extensão de cerca de cem linhas. Então, jamais perdendo de vista o objetivo - o superlativo ou a perfeição em todos os pontos -, perguntei-me: "De todos os temas melancólicos, qual, segundo a compreensão universal da humanidade, é o mais melancólico?" A Morte - foi a resposta evidente. "E quando", insisti, "esse mais melancólico dos temas se torna o mais poético?" Pelo que já explanei, um tanto prolongadamente, a resposta também aí era evidente: "Quando ele se alia, mais de perto, à Beleza; a morte, pois, de uma bela mulher é, inquestionavelmente, o tema mais poético do mundo e, igualmente, a boca mais capaz de desenvolver tal tema é a de um amante despojado de seu amor". (POE, 1946)
Num misto de superstição e tortura, observando o dicotômico caráter profético ou demoníaco da ave, perguntas foram freneticamente organizadas e elaboradas para serem respondidas com a palavra única escolhida como refrão. Estabeleceu-se então o clímax de tristeza e desespero melancólico almejados no planejamento de sua composição.
Começando seu poema pelo fim, como diz o autor, que é de onde devem começar todas as obras de arte, compôs seu poema trabalhosamente, estabelecendo o ponto culminante, o efeito rítmico, a métrica, o espaço onde a narrativa aconteceria e focando seus versos na originalidade. Somando-se todas essas adaptações, assegurou-se de ter conseguido o efeito pretendido.
E assim, nota-se que o escritor de contos de mistério construiu, alicerçado em princípios lógicos, toda a sua narrativa. E, apoiado na elaboração do seu entendimento, planejou e concretizou sua mais notável poesia.
4 Considerações finais
É realmente impossível esgotar toda a riqueza existente no texto de Poe, recriado e traduzido nos mais variados e requintados estilos em épocas distintas. Atemporal. 
Analisar e explicar os métodos utilizados para a criação de um poema é uma tarefa normalmente destinada aos críticos. Mas, Edgar Allan Poe, sabiamente, descreveu em um ensaio o método criativo de uma obra, em questão, a sua própria.
O objetivo deste artigo não era analisar e questionar se foi escrito de forma correta ou não, se realmente o autor utilizou com rigor as regras descritas por ele em seu próprio ensaio, mas sim, evidenciar que a escrita de um poema, ou de qualquer outro texto literário não advém de meras palavras despejadas em um papel, advindas de inspiração ou de ideias subidas e incoerentes. São trabalhos minuciosos e que necessitam de atenção constante para se atingir o objetivo proposto no início do pensamento.
Essas informações são essenciais para podermos entender a parcela de genialidade e dom de cada autor e seus recursos utilizados para mostrar que o efeito alcançado é o resultado de uma organização de elementos formais cuidadosamente pensado e dispostos para despertar a emoção no leitor.
Modestamente, este trabalho não encerra novos olhares para se analisar o poema “O corvo” de Edgar Allan Poe, apenas evidencia uma pequena visão da estrutura da elaboração utilizada na composição da obra abrindo caminho para novas pesquisas. Os novos olhares com que o leitor analisa o poema, fazem com que o corvo renasça com novas releituras e diferentes roupagens. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARROSO, Ivo. O corvo e suas traduções. Rio de Janeiro: Lacerda Ed., 1998.
BRITO, Pedro A. de O. O Acorveamento de Poe. Março, 2014.
CORTÁZAR, Julio. Valise de cronópio. Tr.: Davi Arriguci e João Alexandre Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2006.
POE, Edgar Allan. Poemas e Ensaios. A filosofia da composição (Trad. Oscar Mendes e Milton Amado). São Paulo: Globo, 1999. 3. ed. revista.
TODOROV, Tzvetan. Introdução à Literatura Fantástica. São Paulo: Perspectiva, 2004.
ANEXOS
O corvo
(Tradução de Milton Amado)
Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria,
A ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,
E, exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído,
Tal qual se houvesse alguém batido à minha porta, devagar.
"É alguém ? fiquei a murmurar ? que bate à porta, devagar;
Sim, é só isso e nada mais."
Ah! claramente eu o relembro! Era no gélido dezembro
E o fogo, agônico, animava o chão de sombras fantasmais.
Ansiando ver a noite finda, em vão, a ler, buscava ainda
Algum remédio à amarga, infinda, atroz saudade de Lenora
Essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora
E nome aqui já não tem mais.
A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina,
Arrepiando-me e evocando ignotos medos sepulcrais.
De susto, em pávida arritmia, o coração veloz batia
E a sossegá-lo eu repetia: "É um visitante e pede abrigo.
Chegando tarde, algum amigo está a bater e pede abrigo.
É apenas isso e nada mais."
Ergui-me após e, calmo enfim, sem hesitar, falei assim:
"Perdoai, senhora, ou meu senhor, se há muito aí fora me esperais;
Mas é que estava adormecido e foi tão débil o batido,
Que eu mal podia ter ouvido alguém chamar à minha porta,
Assim de leve, em hora morta." Escancarei então a porta:
Escuridão, e nada mais.
Sondei a noite erma e tranqüila, olhei-a a fundo, a perquiri-la,
Sonhando sonhos que ninguém, ninguém ousou sonhar iguais.
Estarrecido de ânsia e medo, ante o negror imoto e quedo,
Só um nome ouvi (quase em segredo eu o dizia) e foi: "Lenora!"
E o eco, em voz evocadora, o repetiu também: "Lenora!"
Depois, silêncio e nada mais.
Com a alma em febre, eu novamente entrei no quarto e, de repente,
Mais forte, o ruído recomeça e repercute nos vitrais.
"É na janela" ? penso então. ? "Por que agitar-me de aflição?
Conserva a calma, coração! É na janela, onde, agourento,
O vento sopra. É só do vento esse rumor surdo e agourento.
É o vento só e nada mais."
Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto:
É um Corvo hierático e soberbo, egresso de eras ancestrais.
Como um fidalgo passa, augusto e, sem notar sequer meu susto,
Adeja e pousa sobre o busto ? uma escultura de Minerva,
Bem sobre a porta; e se conserva ali, no busto de Minerva,
Empoleirado e nada mais.
Ao ver da ave austera e escura a soleníssima figura,
Desperta em mim um leve riso, a distrair-me de meus ais.
"Sem crista embora, ó Corvo antigo e singular" ? então lhe digo ?
"Não tens pavor. Fala comigo, alma da noite, espectro torvo!"
Qual é teu nome, ó nobre Corvo, o nome teu no inferno torvo!"
E o Corvo disse: "Nunca mais."
Maravilhou-me que falasse uma ave rude dessa classe,
Misteriosa esfinge negra, a retorquir-me em termos tais;
Pois nunca soube de vivente algum, outrora ou no presente,
Que igual surpresa experimente: a de encontrar, em sua porta,
Uma ave (ou fera, pouco importa), empoleirada em sua porta
E que se chame "Nunca mais".
Diversa coisa não dizia, ali pousada, a ave sombria,
Com a alma inteira a se espelhar naquelas sílabas fatais.
Murmuro, então, vendo-a serena e sem mover uma só pena,
Enquanto a mágoa me envenena: "Amigos? sempre vão-se embora.
Como a esperança, ao vir a aurora, ele também há de ir-se embora."
E disse o Corvo: "Nunca mais."
Vara o silêncio, com tal nexo, essa resposta que, perplexo,
Julgo: "É só isso o que ele diz; duas palavras sempre iguais.
Soube-as de um dono a quem tortura uma implacável desventura
E a quem, repleto de amargura, apenas resta um ritornelo
De seu cantar; do morto anelo, um epitáfio: o ritornelo
De "Nunca, nunca, nunca mais".
Como ainda o Corvo me mudasse em um sorriso a triste face,
Girei então numa poltrona, em frente ao busto, à ave, aos umbrais
E, mergulhado no coxim, pus-me a inquirir (pois, para mim,
Visava a algum secreto fim) que pretendia o antigo Corvo,
Com que intenções, horrendo, torvo, esse ominoso e antigo Corvo
Grasnava sempre: "Nunca mais."
Sentindo da ave, incandescente, o olhar queimar-me fixamente,
Eu me abismava, absorto e mudo, em deduções conjeturais.
Cismava, a fronte reclinada, a descansar,sobre a almofada
Dessa poltrona aveludada em que a luz cai suavemente,
Dessa poltrona em que ela, ausente, à luz cai suavemente,
Já não repousa, ah! Nunca mais?
O ar pareceu-me então mais denso e perfumado, qual se incenso
Ali descessem a esparzir turibulários celestiais.
"Mísero!, exclamo. Enfim teu Deus te dá, mandando os anjos seus,
Esquecimento, lá dos céus, para as saudades de Lenora,
Sorve-o nepentes. Sorve-o, agora! Esquece, olvida essa Lenora!"
E o Corvo disse: "Nunca mais."
"Profeta!” brado. Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal
Que o Tentador lançou do abismo, ou que arrojaram temporais,
De algum naufrágio, a esta maldita e estéril terra, a esta precita
Mansão de horror, que o horror habita, imploro, dize-mo, em verdade:
Existe um bálsamo em Galaad? Imploro! Dize-mo, em verdade!"
E o Corvo disse: "Nunca mais."
"Profeta!" exclamo. "Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal!
Pelo alto céu, por esse Deus que adoram todos os mortais,
Fala se esta alma sob o guante atroz da dor, no Éden distante,
Verá a deusa fulgurante a quem nos céus chamam Lenora,
Essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora!"
E o Corvo disse: "Nunca mais!"
"Seja isso a nossa despedida! ? ergo-me e grito, alma incendida. ?
Volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais!
Nem leve pluma de ti reste aqui, que tal mentira ateste!
Deixa-me só neste ermo agreste! Alça teu vôo dessa porta!
Retira a garra que me corta o peito e vai-te dessa porta!"
E o Corvo disse: "Nunca mais!"
E lá ficou! Hirto, sombrio, ainda hoje o vejo, horas a fio,
Sobre o alvo busto de Minerva, inerte, sempre em meus umbrais.
No seu olhar medonho e enorme o anjo do mal, em sonhos, dorme,
E a luz da lâmpada, disforme, atira ao chão a sua sombra.
Nela, que ondula sobre a alfombra, está minha alma; e, presa à sombra,
Não há de erguer-se, ai! nunca mais!
� Graduação em Letras – Português e Inglês, Especialização em Literatura em Língua Inglesa pela Instituição Faculdade de Educação São Luís. E-mail do autor:andreia.teixeira@yahoo.com.br Orientador: Maria Tereza Garcia Faitarone.

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