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VT- PENAL III UNIVERSO

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DIREITO DE IR E VIR X DIREITO À SAÚDE 
 
Universidade Salgado de Oliveira - UNIVERSO 
Thalita Corsino Garcia - 600620715 
 
INTRODUÇÃO 
 
O direito de ir e vir ou liberdade de locomoção está presente desde o início 
em nosso ordenamento jurídico, hoje em dia é assegurado no inciso XV do artigo 5º 
da CF/88 e também outorgado a todo cidadão pela Declaração dos Direitos 
Humanos da ONU, assinada em 1948. Diante da pandemia da COVID-19, foram 
tomadas algumas medidas restritivas ao direito de locomoção, o que causou 
bastante repercussão midiática questionando se as referidas medidas seriam 
inconstitucionais. 
No dia 18 de março de 2020, um casal com suspeita de coronavírus foi preso 
após fugir de um hospital no Rio Grande do Sul , eles responderão pelo crime de 1
infringir determinação do Poder Público para impedir a propagação de doença 
contagiosa. Voltando às concepções iniciais, percebe-se uma violação ao direito de 
locomoção deste casal, porém em contrapartida vale destacar o dever do Estado 
estabelecido na Constituição Federal de cuidar da saúde coletiva, garantindo 
medidas que visem a redução do risco de doenças. 
Diante do cenário que se encontra o Brasil, é explícito que de um lado há a 
liberdade de locomoção e do outro o direito à saúde, também garantido pela 
Constituição. É essencial esclarecer que não existe direito absoluto. Até mesmo os 
direitos fundamentais, como afirma Alexandre de Morais (2016): 
 
“Os direitos e garantias fundamentais consagrados pela Constituição Federal, 
portanto, não são ilimitados, uma vez que encontram seus limites nos demais 
direitos igualmente consagrados pela Carta Magna (Princípio da relatividade 
ou convivência das liberdades públicas)”. 
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https://www.osul.com.br/casal-com-suspeita-de-coronavirus-e-preso-apos-fugir-de-hospital-no-rio-gra
nde-do-sul/ 
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O direito à saúde, é um direito fundamental, está interligado ao direito à vida e 
à existência digna, fundamentos da República Federativa do Brasil, sendo 
considerado uma obrigação do Estado que deve garantir mediante políticas sociais 
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros danos. 
 
1. OMISSÃO DE NOTIFICAÇÃO DE DOENÇA (art. 269, CP) 
 
Determinadas doenças, principalmente as contagiosas, têm que ser 
comunicadas pelos médicos às autoridades de saúde, sob consequência destas 
doenças se propagarem. A omissão de notificação de doença é um crime contra à 
saúde pública, previsto do artigo 269 do Código Penal; exemplo disso é a conduta 
do médico que após atender paciente com sintomas característicos do Coronavírus 
deixa de notificar o fato à autoridade competente e do médico que após ter o 
resultado positivo procede da mesma forma. 
No caso do casal, em epígrafe, o profissional da saúde agiu corretamente e 
rapidamente no momento em que se tomou consciência que eles haviam fugido do 
hospital, medida que se caso não fosse feita, iria causar um contágio acentuado da 
doença. 
 
2. INFRAÇÃO DE MEDIDA SANITÁRIA PREVENTIVA (art. 268, CP) 
 
Quando uma pessoa não cumpre determinações do poder público com a 
finalidade de impedir o surgimento ou a propagação de doença contagiosa, ela pode 
incorrer na prática do crime de infração de medida sanitária preventiva previsto no 
artigo 268 do Código Penal. 
Foi editada a Lei 13.979/2020, regulamentada pela Portaria 356/2020, que 
traz uma lista de medidas a serem adotadas para o enfrentamento do coronavírus, o 
agente que não cumprir essas determinações, tendo conhecimento delas, estará 
praticando o crime do art. 268, CP. 
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Ainda no que diz respeito ao casal, teriam praticado tal crime cometido por 
dolo eventual, decorrente do fato deles terem assumido o risco de introduzir ou 
propagar a doença contagiosa. 
 
CONCLUSÃO 
 
Portanto, podem as autoridades, no âmbito de suas atribuições e durante 
uma pandemia, limitar o direito de ir e vir dos cidadãos em razão do direito à saúde? 
Dessa forma, devemos nos questionar se as medidas de isolamento e quarentena 
são adequadas para o objetivo sanitário, isto é, a contenção da pandemia do 
coronavírus, em relação da restrição à liberdade de locomoção. 
Em uma situação como esta, que envolve o conflito aparente entre os 
princípios da liberdade de locomoção e direito à saúde, devemos aplicar o princípio 
da proporcionalidade para solução do impasse. Essa regra prescreve que um 
princípio deve ceder diante de outro desde que atenda aos seguintes requisitos: 
adequação; necessidade e proporcionalidade em sentido estrito, como bem 
descreve o professor Marcelo Lima Guerra: 
 
“Tais divisões são chamadas de subprincípios, a adequação, 
que estabelece a obrigatoriedade da medida adotada ser hábil 
à consecução do fim que se almeja; da necessidade, que se 
manifesta na obrigatoriedade da medida ser a mais branda, ou 
seja, de forma que seja a medida possível à consecução da 
finalidade que cause menor restrição ao direito fundamental; 
finalmente a proporcionalidade em sentido estrito, que 
examina a proporção a que se reveste entre meio e fim, de 
forma a concluir se a medida é propícia ao mesmo grau de 
necessariedade com o fim”. 
 
Assim, tais restrições de isolamento considera-se como adequadas, aptas a 
promover a preservação do direito fundamental da coletividade, visto que o direito à 
saúde e, por consequência, à vida, obtém preferência.

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