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Metodologia do Ensino de Arte Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Ana Kalassa El Banat Profa. Ms. Lidice Romano de Moura Revisão Textual: Profa. Ms. Fátima Furlan Fundamentos Estéticos da Arte na Educação 5 • Arte e experiência estética • Experiência estética como experiência de conhecimento • Por que fazer da arte o espaço para desenvolvimento da educação estética? · Nesta Unidade, abordamos a Educação Estética voltada para o ensino de arte, além de propostas metodológicas e ações educativas contemporâneas Seja bem-vindo a esta unidade na qual estudaremos conceitos importantes sobre o ensino e aprendizagem em Arte. Aqui, abordaremos os conceitos primordiais para o ensino da arte, principalmente os aspectos relacionados à educação estética. É essencial que você estude as aulas cuidadosamente e posteriormente não deixe de acessar os links e textos indicados no Material Complementar para ampliar sua compreensão. Fundamentos Estéticos da Arte na Educação 6 Unidade: Fundamentos Estéticos da Arte na Educação Contextualização Para compreender o papel desempenhado pela estética na educação é preciso esclarecer os conceitos do termo estética, de educação estética e de experiência estética. Entre os autores que abordam o tema na educação, trabalharemos principalmente com as ideias de João Francisco Duarte Jr. que pesquisou sistematicamente sobre o assunto, publicando artigos e livros sobre esse tema. Indicamos esse autor para esclarecer aspectos do sentir e do pensar em sua relação com a estética na educação. Para sua melhor compreensão do assunto, leia a entrevista do autor, no link abaixo: Entrevista – João Francisco Duarte Junior http://www6.univali.br/seer/index.php/rc/article/viewFile/4039/2387 http://www6.univali.br/seer/index.php/rc/article/viewFile/4039/2387 7 Arte e experiência estética Nesta Unidade, abordamos a Educação Estética voltada para o ensino de arte, além de propostas metodológicas e ações educativas contemporâneas. Para pensar Você já se perguntou sobre o que a arte deve ensinar na educação escolar? Em geral, a maior parte das pessoas responde o que parece óbvio: que a arte deve ensinar arte, isto é pintura, desenho, escultura e tantas outras técnicas que compõem o universo da criação artística. Aparentemente, não há problema nessa resposta, mas se analisarmos com atenção, perceberemos que essa definição esconde uma armadilha. Ao dizer que as técnicas são o objetivo do ensino de arte estamos reduzindo a arte ao aprendizado de um punhado de estratégias mecânicas, um conjunto de habilidades que podem ser treinadas. Por certo você deve estar se perguntando se a arte não é muito mais do que apenas técnicas e habilidades mecânicas. É claro que sim. A arte é mais do que a repetição de práticas há muito conhecidas. E, nesse momento, novas perguntas começam a se formar: então, por que a arte é importante para a sociedade? Por que ela deve ser ensinada na escola? As respostas a essas questões e a tantas outras que surgirão no nosso caminho serão tecidas ao longo da disciplina, mas para iniciarmos nosso caminho vamos lembrar que a arte é tão antiga como o próprio homem. As primeiras manifestações que chamamos de arte nos remetem às incríveis imagens de arte rupestre que povoam as paredes de cavernas do período paleolítico. Você sabia? Fonte: Wikimedia Commons Na França, foi descoberta uma caverna em que boa parte dos desenhos foram realizados por crianças entre 3 e 7 anos. Situada em Rouffignac e conhecida como caverna dos 100 mamutes, suas inscrições datam de cerca de 13.000 anos. Essas crianças desenharam com os dedos nas paredes macias da caverna fazendo sulcos que representam mamutes, cavalos e rinocerontes por cerca de 8 km, em vários locais diferentes. Não sabemos exatamente por que as crianças realizaram os desenhos, se fazem parte de algum tipo de ritual de iniciação, de alguma forma de aprendizagem ou se as crianças desenharam apenas como uma forma de distração. Não conhecemos com certeza sobre as razões pelas quais a arte foi praticada desde nossa pré-história. Muitas hipóteses são formuladas, mas a manutenção dessa manifestação está diretamente relacionada à natureza dessa experiência para o ser humano. A arte foi e continua sendo uma forma de conhecimento estético de nós mesmos e do mundo que nos circunda, configurando uma experiência complexa entre vivências, imaginação, criação, elaboração de significados, expressão de sentimentos e comunicação. 8 Unidade: Fundamentos Estéticos da Arte na Educação Essa formulação complexa entre viver e significar, conhecer e expressar, sentir e comunicar pode ser chamada de experiência estética, mas para entendê-la, precisamos compreender primeiro o que a palavra estética pode significar. Para pensar Segundo Aranha (2009), a palavra estética, em seu uso comum está associada principalmente à beleza física, como um adjetivo, quando é apresentada como uma qualidade para algo ou alguém, por exemplo, "Centro de estética corporal" ou "Clínica de estética facial". Para o campo das artes, a palavra estética adquire um sentido diferente: ela é apresentada como um substantivo, por exemplo: Estética do Barroco Italiano ou Estética do Romantismo Francês entre outros. "A palavra estética usada como substantivo designa um conjunto de características formais que a arte assume em determinado período e que poderia, também, ser chamado de estilo". (ARANHA, 2009, p. 341). No campo da filosofia, estética é um termo utilizado para definir o estudo racional do belo e, particularmente, sobre como a beleza age sobre nós, seres humanos, por exemplo, os sentidos que ela desperta e como é percebida. A origem do termo "vem do grego aisthesis, com o significado de “faculdade do sentir”, “compreensão pelos sentidos”, “percepção totalizante” ” (ARANHA, 2009, p. 341) . No desenvolvimento de sua história, a arte tem sido considerada o veículo por excelência por meio do qual a beleza se faz presente no mundo e ocupa posição de destaque nos estudos de estética. Mas será que essa ideia ainda se aplica aos caminhos atuais da arte? Para pensar Quando tratamos de arte Moderna e Contemporânea, as relações entre arte e beleza não são mais tão diretas, pelo contrário, muitas das manifestações artísticas realizadas na arte Ocidental a partir dos anos de 1905 até hoje usam preferencialmente do feio, do estranho, extravagante ou de matérias que chocam o público como forma de comunicar, dialogar, representar outras referências visuais, formais ou de pensamento. Fonte: Coleção Pinacoteca do Estado de São Paulo Fonte: Wim Delvoye www.wimdelvoye.be Em 1966, Nelson Leirner causou polêmica ao realizar a obra intitulada “O porco”, em que apresentou um porco empalhado dentro de um engradado de madeira. Em 2010, polêmica semelhante foi criada pelo artista Wim Delvoye com a obra “Porcos Tatuados” de 2010. A exposição apresentada no Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Nice, França, foi criticada também pelas entidades de defesa dos animais. 9 Então arte e estética estariam separadas a partir do advento da Modernidade? Não, arte e estética continuam caminhando lado a lado, não porque a arte esteja comprometida com a beleza, mas porque a percepção do objeto artístico, seja ele Moderno ou Contemporâneo continua ocorrendo por meio da percepção, isto é, pela mobilização dos nossos sentidos por seu caráter estético. A experiência estética continua sendo nossa guia para o reconhecimento desse objeto que é proposto pelo artista à nossa apreciação. Mas, o que seria a experiência estética? Saiba Mais Segundo Duarte Jr. (2008), experiência estética é uma vivência comum aos seres humanos, que acontece quando nos demoramos na descoberta de algo que está ao nosso redor. Essa experiência causa uma admiração, um "maravilhar-se" pelo mundo que nos rodeia. A partir dessa explicação de Duarte Jr., compreendemos que a fonte da experiência estéticaé nossa relação com a natureza, com o mundo que nos rodeia e, por sua vez, a obra de arte ou objeto artístico seria a materialização dessa experiência, tornando-se o objeto ou a fonte a partir da qual a experiência estética pode ocorrer no apreciador ou fruidor, isto é, no público. Não nos contentamos em vivenciar experiências estéticas apenas a partir da natureza. Tornamo-nos criadores de objetos que, potencialmente, podem conduzir a essa mesma forma de vivência e chamamos a isso de arte. Mas, como seria essa experiência estética que acontece a partir da arte? "A experiência estética que se tem frente a uma obra de arte (ou experiência artística) constitui uma elaboração simbólica daqueles nossos contatos sensíveis primordiais com o mundo.(DUARTE JR.,2008)" Duarte Junior descreve as sensações que a experiência artística pode despertar em quem participa dessa vivência: A obra cria em mim uma experiência de “como se”: frente a ela é como se eu estivesse vivenciando a situação que ela me propõe, com todas as maravilhas, dores e prazeres que isto me desperta. A arte me faz vivenciar, ainda que no modo do “como se”, acontecimentos e experiências de vida de outras pessoas, de outras latitudes, de outras realidades, ou mesmo da minha e que me eram desconhecidas. DUARTE JR., 2012 Compreendemos assim nossa atitude de admiração diante de uma obra de arte ou objeto artístico, como uma experiência que nos "abre os olhos" para novas percepções e que podem nos conduzir a novas elaborações ou reflexões sobre nós mesmos e o mundo que nos rodeia. Mas, esse mesmo autor alerta: "Contudo, para que isto ocorra, para que a arte nos abra um mundo, é necessária sempre uma aprendizagem, uma aprendizagem de seus códigos." (DUARTE JR., 2012) advindo daí a necessidade de que a estética seja abordada na educação. 10 Unidade: Fundamentos Estéticos da Arte na Educação Em síntese Podemos pensar que a experiência estética é uma experiência potencialmente inata ao ser humano, mas para que ela seja um elemento chave para a ação da nossa percepção é necessário aprender a expandir seus limites, apreender os códigos de representação por meio dos quais a experiência estética se manifesta no mundo à nossa volta, e em nós, para então poder relacionar-se com ela de forma ativa, como criador e apreciador com autonomia. Duarte Jr. defende que esse aprendizado tem características especiais. Ele não pode ser adquirido por teoria. É preciso vivenciar e não há melhor vivência que a produção artística: ... aprende-se a ter experiências estéticas frente à arte, aprendem-se os seus códigos, não a partir de teorias, da filosofia ou da história da arte, mas sim no modo sensível, vivencial, tendo-se contínuo contato com ela. Sintetizo com um pequeno poema do Oswald de Andrade: “aprendi com meu filho de dez anos / que a poesia / é a descoberta das coisas que nunca vi". DUARTE JR., 2012 Compreendemos então que a parcela de contribuição da arte na educação está justamente em realizar essa aprendizagem: proporcionando ao estudante uma vivência da criação artística "no modo sensível", em contato direto com a arte, como criador e apreciador. Nesse momento do nosso estudo, você já entendeu que experimentar novas situações criativas, diferentes suportes e materiais não são apenas variações técnicas divertidas, mas situações de aprendizagem em que a experiência estética é elaborada com vistas a formação de novos conhecimentos. Essa proposição da arte na educação por seu caráter cognitivo tem sido constantemente defendida por educadores como Ana Mae Barbosa que questiona a abordagem da arte na educação apenas como expressão. Para Barbosa: Aqueles que defendem a arte na escola meramente para libertar a emoção devem lembrar que podemos aprender muito pouco sobre nossas emoções se não formos capazes de refletir sobre elas. Na educação, o subjetivo, a vida interior e a vida emocional devem progredir, mas não ao acaso. Se a arte não é tratada como um conhecimento, mas somente como um "grito da alma", não estamos oferecendo nem educação cognitiva, nem educação emocional. Para pensar A arte pode ser um meio de organizar formas de "pensar, diferenciar, comparar, generalizar, interpretar, conceber possibilidades, construir, formular hipóteses e decifrar metáforas" (BARBOSA, entrevista, 2008) proporcionando o desenvolvimento cognitivo da criança. Fonte: Freeimages.com/Susie J. 11 Experiência estética como experiência de conhecimento Vamos retomar nosso conceito central? Em síntese Podemos sintetizar experiência estética como a mobilização de nossa percepção em algo ou alguém que nos faz submergir, por um curto período de tempo, nessa admiração e ao retornarmos à nossa experiência cotidiana adquirimos novos conhecimentos sobre esse objeto. Duarte Junior defende que a experiência estética é uma forma de conhecimento que se configurou junto com o desenvolvimento da linguagem. Como humanos construímos sistemas de signos para elaborar os significados que atribuímos ao mundo. Esses sistemas tornaram-se mais complexos levando à formação da linguagem. Essa linguagem, por sua vez, foi a base a partir de onde todos os conhecimentos que nos caracterizam se formaram incluindo os chamados sistemas estéticos de significação que funcionam de forma muito particular. Para pensar De que forma então a estética contribui para a formação de novos conhecimentos? Por meio dos sistemas estéticos nos tornamos capazes de "perceber elementos da nossa dimensão sensível (corporal e emocional) de maneira diversa daquela possível com o uso dos sistemas inteligíveis, conceituais." (Entrevista: João Francisco Duarte Jr.,2012) O chamado "conhecimento inteligível", que advém de formas mais racionais ou lógicas de pensamento, não acessa totalmente certos aspectos sensíveis da experiência humana, por outro lado, os sistemas estéticos podem apontar significados para essas experiências. Para ampliarmos essa discussão sobre os aspectos cognitivos da experiência estética, abordaremos as ideias de um dos autores mais influentes para a redefinição da experiência estética como experiência de conhecimento. Seu nome é John Dewey e seu trabalho mais influente no campo do ensino de arte é chamado "Arte como experiência". Para Dewey, todo processo criativo é uma ação da inteligência que ativa o cérebro tanto quanto o pensamento científico. O fator estético é um aspecto fundamental da inteligência no acontecimento que o autor define como uma experiência. Importante! Vamos conceituar o que seria essa experiência segundo Dewey? A experiência a que ele se refere é aquela que mobiliza totalmente os nossos sentidos, ainda que por pouco tempo, mas que durante o período em que está sendo vivenciada ficamos absortos em um processo perceptivo pleno, sem nos dispersarmos. 12 Unidade: Fundamentos Estéticos da Arte na Educação Nessa experiência, há uma integração entre os estágios vivenciados e não há distrações. “É singular e tem seu próprio começo e fim” (DEWEY, 1974, p. 247). Dewey defende que o aspecto estético e a experiência intelectual estão indissoluvelmente ligados, pois se o aspecto estético não estiver presente a experiência não está completa. Mas, como a arte participa desse processo? A arte, segundo Dewey (1974,p. 255) é um dos mecanismos mais eficientes por meio do qual essa experiência pode se tornar acessível em um processo de aprendizagem: ... a ideia de que o artista não pensa tão intensa e penetrantemente quanto um pesquisador científico é absurda. Um pintor precisa padecer conscientemente o efeito de cada toque do pincel, ou não será capaz de discernir aquilo que está fazendo e para onde se encaminha o seu trabalho. Ademais, tem de ver cada conexão particular de sofrer e agir em sua relação com o todo que deseja produzir. A experiência estética é uma prática de conhecimento tanto para a criança que faz experimentos para descobrir misturas de cores, efeitos de materiais sobrediferentes suportes e outras variações de aprendizado do repertório de linguagem da arte quanto para o adulto que, já conhecedor dos processos de linguagem, se lança nos caminhos da arte profissionalmente. Fonte: Freeimages.com/Kym Parry. Fonte: Wikimedia Commons A arte como espaço privilegiado para uma experiência, em vista de sua dimensão estética e reconstrutiva do real, permite a vivência criativa tanto para o artista que produz quanto para o público que aprecia. Especificamente, em relação à produção artística, seja ela do artista profissional, seja da criança que experimenta a arte em caráter didático, mas criativo, o fazer arte e o percebê-la são um processo contínuo, em que um aspecto alimenta o outro. Em seus escritos, Dewey demonstra como a arte é considerada uma habilidade prática pelo senso comum, usando para isso de sua própria conceituação: "Tão marcante é o aspecto ativo da arte, ou a aspecto “fazer”, que os dicionários a definem em termos de ação destra, habilidade na execução". (Idem, p. 256). 13 Dewey se opõe à ênfase da arte como um fazer. Ele não nega o aspecto técnico da produção artística: "Toda a arte faz alguma coisa com algum material físico, o corpo ou alguma coisa fora do corpo, com ou sem o uso de instrumentos, e com vistas à produção de algo visível, audível ou tangível". (Idem, p. 256). Entretanto, demarca que esse fazer nunca pode ser desvinculado da percepção, da consciência, da inteligência: “O artista incorpora a si próprio à atitude do que percebe, enquanto trabalha” (Idem, p. 257). Todos os procedimentos adotados pelo artista durante a realização de sua arte organizam- se por um oscilar da ação à reflexão e de volta à ação, seguida por novo pensar, num processo dinâmico, influindo diretamente na constituição de quem é esse sujeito e de como ele compreende o mundo à sua volta e à si mesmo. Sua defesa sobre a necessidade e contribuição da arte na educação está justamente na valorização da vivência artística como uma experiência incrivelmente relevante para a formação de sujeitos com autonomia de pensamento e capazes de agir e pensar sobre o mundo, sobre si mesmos e suas ações. 14 Unidade: Fundamentos Estéticos da Arte na Educação Por que fazer da arte o espaço para desenvolvimento da educação estética? Podemos afirmar que a presença da arte na escola visa garantir a realização da formação estética do indivíduo, tendo em vista que a estética é apontada por todos os documentos norteadores da educação brasileira como um dos três princípios básicos sobre os quais a educação deve estar apoiada. (TROJAN, 2004) . A estética foi eleita para compor o tripé sobre o qual a educação brasileira está legalmente amparada – estética, ética e política – entretanto, sua importância fica menos visível que a dos outros dois componentes e os caminhos por meio dos quais esse desenvolvimento deve se realizar também são menos evidentes. Ainda que a estética possa ser associada a diversas áreas de conhecimento é na arte que a potencialidade de desenvolvimento estético se torna mais ampla. A arte é o veículo por excelência da presença da estética na educação, e as ações com arte na escola não podem ignorar essa relação. Para esclarecermos os pontos necessários a essa questão, retomaremos o autor já tratado no início dessa unidade, acrescentando mais alguns argumentos aos já propostos. João Duarte Jr. defende que a estética deve participar do processo educativo, pois a experiência estética tem muito a acrescentar no processo de aprendizagem pela qualidade do conhecimento que proporciona. Segundo esse autor: [...] quando defendo uma educação que seja estética em sua essência, em seus fundamentos, penso num auxílio às novas gerações para que não apenas percebam esse jogo primordial corpo-mundo no qual estamos metidos, mas também as ajude a jogá-lo de maneira mais acurada e consciente. (Entrevista: João Francisco Duarte Jr.) Com essas palavras, ele está advogando que precisamos aprender a "ser e estar no mundo" com autonomia, isto é, com capacidade de pensamento analítico e reflexivo que, potencialmente, nos habilite a transformar a realidade em que estamos inseridos. Duarte Jr. defende que o estado de admiração que vivenciamos durante uma experiência estética é a fonte para a formação de novos saberes: "Para se pensar sobre a vida e o mundo é fundamental que se os sinta e que nos maravilhemos com eles". (Entrevista: João Francisco Duarte Jr.,2012) Acrescenta também que, a partir das condições de vida da sociedade moderna, tornou-se ainda mais necessária uma educação que movimente as relações entre o corpo, as vivências e o conhecimento: "Num tempo em que o corpo queda passivo frente a telas em que mais do que se apresenta, se recria o mundo, parece, pois, premente à educação recolocar esse corpo em contato com os assombros da realidade concreta, não virtual". (Entrevista: João Francisco Duarte Jr.,2012) Nunca foi tão necessário desenvolver nas crianças e jovens autonomia criativa e capacidade de produzir conhecimento e não apenas de consumi-lo e é exatamente nesse ponto que arte e experiência estética se encontram. 15 A arte, ao realizar o desenvolvimento estético do indivíduo, cria condições para que a autonomia criativa se manifeste, pelo refinamento da percepção, da sensibilidade e da cognição, como aspectos que caminham lado a lado na constituição do sujeito. A estética manifesta-se nas ações culturais e sociais, expressando e representando o mundo, mas sua presença é, sem nenhuma dúvida, maciça nas manifestações artísticas. Ao desenvolver as capacidades artísticas, organizam-se também o desenvolvimento pessoal, a autoestima e a percepção da sociedade como fatores que estão conectados, oportunizando a interpretação tanto de relações pessoais como sociais e culturais. (CASTILHO; FERNANDES) . Para pensar Mas, há ainda uma pergunta que não pode deixar de ser feita: De que forma o ensino de arte pode, efetivamente, promover o tão desejado desenvolvimento estético dos sujeitos? Não há definição fácil ou receita que dê conta de responder a essa indagação. A resposta mais óbvia é ainda a mais relevante: trazendo arte para dentro da sala de aula, nas suas mais diversas formas e nas mais variadas manifestações. Isso significa criar situações de aprendizagem em que a força de organização do conhecimento por meio da arte seja valorizada. Em que a arte esteja presente como linguagem e expressão tanto individual como social, fazendo interagir uma multiplicidade de manifestações artísticas para serem apreciadas, pesquisadas e realizadas. Segundo Frederico de Morais (2002, p. 205), a arte reinventa o mundo, criando novos significados às parcelas de mundo que conhecemos. Se você se interessou em estudar arte é possível que esteja familiarizado ao processo de criação, mas você se deu conta de como sua atenção é mobilizada durante esse processo? O fazer arte, como processo de criação estética, coloca em movimento contínuo aspectos da memória, da vontade, da consciência, do inconsciente, da intuição, do olhar, da vontade, da ação do corpo sobre os materiais e da reação que esses mesmos materiais exercem sobre nós e mais tantos outros aspectos que estão presentes durante a criação artística, fazendo da arte uma condição humana indispensável à sociedade. Nesse processo: O educador precisa propiciar à criança um diálogo íntimo e profundo com produções culturais, para que ela amplie horizontes particulares, quanto maior for o contato com os bens culturais, à medida que ela compreende e dialoga com a cultura que a cerca, como estão configuradas os elementos construtivos e qual é o contexto estético, social e histórico, maior será o desenvolvimento e aprendizado da criança. CASTILHO; FERNANDES) E, qual seria o papel do professor nesse processo? O educador é o mediador que propõe os objetivos de aprendizagem e, ao mesmo tempo, pensa e organiza os processos por meio dos quais esses objetivosserão alcançados e de que forma ele avaliará o processo para pode dizer, com segurança, que aprendizagem realmente aconteceu: 16 Unidade: Fundamentos Estéticos da Arte na Educação A escola e os professores são os mediadores que devem oferecer perspectivas teóricas e práticas, discussões e experiências com atividades que promovam o entendimento de formas de expressão, das tradicionais e novas técnicas artísticas. (CASTILHO; FERNANDES) Em síntese Sintetizando, podemos então finalizar essa primeira unidade afirmando que a arte deve estar presente na educação pela qualidade da experiência estética que pode proporcionar, pelas possibilidades de conhecimento e reinvenção do mundo que ela permite, pelas expectativas de desenvolvimento que ela cria e pela autonomia que ela pode permitir aos indivíduos que dela usufruírem. 17 Material Complementar Vídeos: Analise também o vídeo – Dewey: A Relevância da Experiência (1/2) https://www.youtube.com/watch?v=-Tc-vEXvg1I Apreciando a arte: o gosto é relativo. https://www.youtube.com/watch?v=LkooSPKm9zo Sites: Entrevista com Dra. Ana Mae Barbosa: “A arte na escola custa caro” http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Entrevista-%96-Ana-Mae-Barbosa/12/10517 A estética da sensibilidade como principio escolar. Da Autora Rose Meri Trojan. Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-15742004000200008&script=sci_arttext https://www.youtube.com/watch%3Fv%3D-Tc-vEXvg1I https://www.youtube.com/watch%3Fv%3DLkooSPKm9zo http://www.scielo.br/scielo.php%3Fpid%3DS0100-15742004000200008%26script%3Dsci_arttext 18 Unidade: Fundamentos Estéticos da Arte na Educação Referências ARANHA, Ma. Lúcia. Filosofando – introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2009. DEWEY, John. Arte como experiência. Martins Fontes, São Paulo, 2010. DUARTE JR., João Francisco. Fundamentos estéticos da educação. Campinas, Papirus, 1988. IAVELBERG, Rosa & MOURÃO, Luciana. Ensino da Arte. São Paulo, Thomson, 2006. MARTINS, M. C. F. D.; GUERRA, M. T. T.; PICOSQUE, G. Didática do Ensino de Arte: A Língua do Mundo: Poetizar, Fluir e Conhecer Arte. São Paulo: FDT, 1998. TROJAN, Rose Meri. Estética da sensibilidade como princípio curricular. Cadernos de Pesquisa. vol.34 no.122 São Paulo May/Aug. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/ pdf/cp/v34n122/22512.pdf Webgrafia BARBOSA, Ana Mae. Arte, Educação e Cultura. Revista do Itamarati. Disponível em: http:// dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista7-mat5.pdf CASTILHO, Ana Lúcia Serrou; FERNANDES, Vera Lúcia Penzo . Questão Estética No Ensino de Artes no Ensino Fundamental. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp. br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20 NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf DUARTE JÚNIOR, João Francisco. Fundamentos estéticos da educação. Campinas: Papirus, 2008. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=8aMGeB0v0ZcC&p rintsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false Entrevista: Ana Mae Barbosa por Rosângela Rezende . “Refinar os sentidos e alargar a imaginação é o trabalho que a arte faz”. Disponível em: http://indigo-gm.blogspot.com. br/2008/12/entrevista-querida-ana-mae-pela.html Entrevista: João Francisco Duarte Júnior. Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 12 - n. 3 - p. 362-367 / set-dez 2012. Disponível em: http://siaiweb06.univali.br/seer/index.php/ rc/article/view/4039/2387. http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4 PDF/QUEST%C3O EST%C9TICA NO ENSINO DE ARTES NO ENSINO.pdf http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4 PDF/QUEST%C3O EST%C9TICA NO ENSINO DE ARTES NO ENSINO.pdf http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4 PDF/QUEST%C3O EST%C9TICA NO ENSINO DE ARTES NO ENSINO.pdf 19 Anotações
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