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LUTAS
PROFESSORES
Dr. Leonardo Vidal Andreato
Dr. Victor Silveira Coswig
2 
LUTAS 
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração 
Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente 
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Diretoria Executiva de Ensino Janes Fidélis Tomelin Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, 
Direção de Operações Chrystiano Mincof, Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção de 
Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção de Relacionamento Alessandra Baron, Head de Produção 
de Conteúdos Celso L. Filho, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo R. Garcia, Gerência de pro-
jetos especiais Daniel F. Hey, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida 
Toledo, Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráico José Jhonny Coelho, 
Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Bárbara Neves, Revisão Textual Talita 
Dias Tomé e Cintia Prezoto Ferreira Ilustração Ilustrador, Fotos Shutterstock.
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; 
COSWIG, Victor Silveira, ANDREATO Leonardo Vidal.
 Lutas. Leonardo Vidal Andreato; Victor Silveira Coswig.
 Maringá - PR.:Unicesumar, 2018.
 184 p.
 “Graduação em Educação Física - EaD”.
 1. Lutas . 2. Pedagogia . 3. Preparação Física 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1185-2
CDD - 22ª Ed. 796
CIP - NBR 12899 - AACR/2
NEAD 
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
Impresso por: 
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e proissionalismo, não 
somente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão 
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
nos em 4 pilares: intelectual, proissional, emocional 
e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de 
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil 
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro 
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa 
e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, 
com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. 
Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais 
de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos 
pelo MEC como uma instituição de excelência, com 
IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 
maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educadores 
soluções inteligentes para as necessidades de todos. 
Para continuar relevante, a instituição de educação 
precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, 
coragem e compromisso com a qualidade. Por 
isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, 
metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor 
do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes áreas 
do conhecimento, formando proissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar
boas-vindas
Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à 
Comunidade do Conhecimento. 
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar 
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores 
e pela nossa sociedade. Porém, é importante 
destacar aqui que não estamos falando mais daquele 
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas 
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, 
atemporal, global, democratizado, transformado pelas 
tecnologias digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, 
informações, da educação por meio da conectividade 
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares 
e da mobilidade dos celulares. 
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram 
a informação e a produção do conhecimento, que não 
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em 
segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer 
transformou-se hoje em um dos principais fatores de 
agregação de valor, de superação das desigualdades, 
propagação de trabalho qualiicado e de bem-estar. 
Logo, como agente social, convido você a saber cada 
vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a 
tecnologia que temos e que está disponível. 
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg 
modiicou toda uma cultura e forma de conhecer, 
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, 
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa 
cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o 
conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância 
(EAD), signiica possibilitar o contato com ambientes 
cativantes, ricos em informações e interatividade. É 
um processo desaiador, que ao mesmo tempo abrirá 
as portas para melhores oportunidades. Como já disse 
Sócrates, “a vida sem desaios não vale a pena ser vivida”. 
É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. 
Willian V. K. de Matos Silva
Pró-Reitor da Unicesumar EaD
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
proissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando 
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes 
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível 
com os desaios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem 
dialógica e encontram-se integrados à proposta 
pedagógica, contribuindo no processo educacional, 
complementando sua formação profissional, 
desenvolvendo competências e habilidades, e 
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, 
de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, 
estes materiais têm como principal objetivo “provocar 
uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta 
forma possibilita o desenvolvimento da autonomia 
em busca dos conhecimentos necessários para a sua 
formação pessoal e proissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento 
e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos 
fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe 
das discussões. Além disso, lembre-se que existe 
uma equipe de professores e tutores que se encontra 
disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em 
seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe 
trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória 
acadêmica.
boas-vindas
Janes Fidélis Tomelin
Diretoria Executiva de Ensino
Kátia Solange Coelho
Diretoria Operacional de Ensino
autores
Dr. Leonardo Vidal Andreato
Tem experiência na área de Fisiologia do Exercício, atuando principalmente nos 
seguintes temas: preparação física para esportes de combate, avaliação física, 
treinamento intervalado de alta intensidade e obesidade. Doutorado em Ciências 
do Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), 
sendo atualmente professor colaborador na mesma instituição. Mestrado em 
Ciências na área de Estudos do Esporte pela Universidade de São Paulo (USP) 
e especialização em Fisiologia do Exercício pela Universidade Federal de São 
Paulo (UNIFESP). Graduação em Educação Física pela Universidade Estadual 
de Maringá (UEM).
Currículo Lattes disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4249428A5 >
Dr. Victor Silveira Coswig
É Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Treinamento Esportivo e 
Desempenho Físico (GEPETED). Atualmente é Professor Adjunto na Universi-
dade Federal do Pará (UFPA). Tem experiência na área de Educação Física, com 
ênfase em Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo, especialmente 
com lutadores. Possui Doutorado na linha de Desempenho e Metabolismo 
Humano (ESEF/UFPel- 2017) e mestrado em Atividade Física e Desempenho 
pela ESEF/UFPel (2014). Pós-graduação em Fisiologia do Exercício e prescrição 
para academias e Personal Trainer pelo Centro Universitário de Volta Redonda 
(UniFOA/2011). Tem graduação em Educação Física pela Universidade Federal 
de Pelotas (UFPel /2010).
Currículo Lattes disponível em: <http://lattes.cnpq.br/0097939661129545>
apresentação do material
LUTAS
Caro(a) aluno(a), este livro tem por objetivo apresentar aspectos relevantes e atuais 
sobre diferentes perspectivas relacionadas às Lutas, Artes Marciais e Modalidades 
Esportivas de Combate. Inicialmente, é preciso destacar que as Lutas fazem parte 
da cultura do movimento humano, juntamente com o Esporte, a Ginástica, o Jogo 
e a Dança. De fato, a dimensão “Luta” ainda perpassa pelas demais expressões e, 
por vezes, confunde-se com o Esporte, com o Jogo e, até mesmo, com a Dança.
Dito isto, este conteúdo faz parte da base da Educação Física e a atuação dos 
professores e proissionais deve (ao menos deveria) contemplar aspectos histó-
ricos, sociais, técnicos, cientíicos e pedagógicos relacionados às lutas. Ademais, 
especialmente nos aspectos cientíicos, apresenta-se um crescimento em volume 
e relevância das pesquisas na área das ciências dos esportes de combate. Consi-
derando, então, as Lutas como conteúdo base da Educação Física e reconhecendo 
seu papel na sociedade e na ciência, torna-se indispensável que você seja capaz de 
dialogar sobre a temática com criticidade e por diferentes óticas.
Neste contexto, este livro busca proporcionar bases teóricas e metodológicas 
para dar suporte a sua atuação nos estágios e no mercado de trabalho, bem como 
em diversos espaços da comunidade. Para isso, inicialmente, são apresentados os 
conceitos terminológicos e aspectos históricos que ilustram o modo em que as 
Lutas estão enraizadas no DNA dos seres humanos (Figurativa e literalmente). Sim, 
literalmente, já que traços do nosso DNA primitivo diferenciam povos que saíram 
da África e conquistaram a Eurásia e o mundo daqueles que pereceram. Essas dife-
renças envolviam o modo de resolver conlitos e as práticas de lutas como rituais.
Na sequência, é dado foco na atuação didática e pedagógica que envolve o ato 
de lutar. Você será convidado a reletir criticamente sobre o modelo vigente de 
ensino nos diferentes espaços que oferecem práticas de lutas, bem como ao Sistema 
Iemoto, que é carregado de hierarquia e comando. Obviamente, não serão traçadas 
apenas as críticas, mas serão também sugeridos os modelos alternativos que de-
verão servir de referência para as práticas dos futuros professores e proissionais.
Ainda fazem parte do escopo deste livro as questões relativas ao peril físico e 
isiológico de lutas e lutadores de modalidades esportivas de combate, bem como 
acerca das avaliações e prescrições de treinamento especíicas das Lutas, já que 
estas apresentam características distintas de outras modalidades esportivas. 
Por im, esperamos que este livro ajude a qualiicar sua carreira proissional e 
acadêmica. Mais do que isso, esperamos que você seja encorajado a pensar com 
criticidade e que possa conhecer melhor um dos conteúdos base e que, por vezes, 
não recebe o protagonismo que lhe é devido. 
Boa leitura!
sumário
UNIDADE I
CONCEITOS E HISTÓRICO DAS LUTAS
14 Conceitos em Lutas, Artes Marciais e Esportes 
de Combate
18 Origem e Desenvolvimento das Lutas
22 Histórico das Lutas na Perspectiva Oriental
26 Histórico das Lutas na Perspectiva Ocidental
30 As Lutas no Brasil
34 Considerações i nais
39 Referências
41 Gabarito
UNIDADE II
ENSINO DE LUTAS
46 O Ensino das Lutas e a Educação Física
52 Categorizações, Regras de Ação e Jogos de 
Oposição
56 Modelo de Ensino Tradicional e Predomi-
nante
60 Modelos de Ensino das Lutas Por Meio da Tática
64 Organização e Trato Pedagógico das Lutas
68 Considerações i nais
72 Referências
74 Gabarito
UNIDADE III
PLANEJAMENTO DE AULAS DE LUTAS 
80 Do Ensino Fundamental ao Ensino Médio
84 Ensino de Lutas no Ambiente não Escolar
86 Abordagem de Temas Transversais por Meio 
do Ensino de Lutas
94 Montando a Aula
100 Festivais e Competições
103 Considerações i nais
107 Referências
107 Gabarito
UNIDADE IV
AVALIAÇÃO E PREPARAÇÃO FÍSICA DE LUTADORES
112 Avaliações Físicas Gerais para Lutadores
118 Avaliações Físicas Especíi cas para Lutadores
122 Métodos para Condicionamento Metabólico 
de Lutadores
126 Métodos para Condicionamento Neuromus-
cular de Lutadores
130 Periodização e Organização do Treinamento 
de Lutadores
133 Considerações i nais
137 Referências
139 Gabarito
UNIDADE V
FISIOLOGIA E PERFIL DAS MODALIDADES ESPORTIVAS 
DE COMBATE
144 Duração de Luta em Esportes de Combate
150 Categorias de Peso e Perda de Peso em Es-
portes de Combate
156 Estrutura Temporal nos Esportes de Combate
162 Peri l Antropométrico e Funcional de Atletas 
de Esportes de Combate
168 Respostas Fisiológicas e Perceptivas em Es-
portes de Combate
173 Considerações i nais
177 Referências
182 Gabarito
183 CONCLUSÃO GERAL
Professor Dr. Victor Silveira Coswig
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta 
unidade:
• Conceitos em lutas, artes marciais e esportes de combate
• Origem e desenvolvimento das lutas
• Histórico das lutas na perspectiva oriental
• Histórico das lutas na perspectiva ocidental
• As lutas no Brasil
Objetivos de Aprendizagem
• Conceituar Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas 
de Combate.
• Indicar panorama histórico-cultural das Lutas e seu papel 
na sociedade.
• Apresentar a evolução das lutas no oriente.
• Apresentar a evolução das lutas no ocidente.
• Apresentar a evolução das lutas no Brasil.
CONCEITOS E HISTÓRICO DAS LUTAS
 unidade 
I
INTRODUÇÃO
Olá, seja bem-vindo(a)!
Esta unidade se inicia com uma breve contextualização acerca da 
terminologia que deine as práticas corporais de combate como Luta, 
Arte Marcial ou Modalidade Esportiva de Combate. De modo adicio-
nal, faremos uma diferenciação entre estes termos e outros que, errone-
amente, também são associados às lutas, que são as brigas e guerras. É 
fato, inclusive, que ainda hoje muitas pessoas desencorajam seus ilhos 
ou a si próprios da prática de Lutas por acreditarem que é um modo 
de incitar a violência. Esta é uma associação infeliz, já que a prática de 
Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate pode, na 
verdade, ser uma ferramenta importante para auxiliar na redução da 
violência (OLIVIER, 2000).
Mas de onde surgem os combates? Os homens das cavernas lutavam? 
Qual a importância disso para a evolução humana e a construção da so-
ciedade? Existem diferenças entre regiões? E, no Brasil, existe relação en-
tre Lutas e a nossa cultura? Nesta unidade, você será convidado a viajar 
dos primórdios da existência humana até os dia atuais e acompanhar a 
evolução das práticas corporais e sua associação à construção cultural de 
cada sociedade ao longo dos séculos. Para tentar responder a todas estas 
perguntas, vamos iniciar entendendo de que modo a presença de rituais 
de luta podem ter diferenciado os primeiros Homo Sapiens de outros hu-
manos primitivos e contribuído para que estes prosperassem e conquis-
tassem a Ásia e a Europa após a saída da África (MORENO, 2011). Saindo 
da pré-história para a história, temos uma dissociação entre as práticas 
orientais e ocidentais que podem ser percebidas ainda hoje, de acordo 
com os modelos de ensino utilizados (DEL VECCHIO; FRANCHINI,2006). Por im, você será apresentado às práticas de lutas genuinamente 
brasileiras, como a Capoeira, o Huka-Huka e a Agarrada Marajoara, que 
são expressões culturais fortemente regionalizadas.
14 
LUTAS 
Caro(a) aluno(a), você, possivelmente, já utilizou 
os termos “Lutas”, “Artes Marciais” e “Modalida-
des Esportivas de Combate” como sinônimos. É 
verdade que até mesmo as recomendações de utili-
zação de termos para aumento da visibilidade dos 
artigos cientíi cos relacionados à temática sugerem 
que estes (e outros) podem ser utilizados sem dis-
criminação (PÉREZ-GUTIÉRREZ; GUTIÉRREZ-
-GARCÍA; ESCOBAR-MOLINA, 2011). Por outro 
lado, é importante que você perceba que estas ter-
minologias apresentam noções e contextos diver-
sii cados (CORREIA; FRANCHINI, 2010) e que a 
falta de clareza nestas dei nições pode dii cultar a 
fundamentação teórica para as práticas pedagógicas 
(FRANCHINI, 1998).
O ato de lutar, patrimônio cultural da humani-
dade (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006), está 
presente em registros pré-históricos e parece ter tido 
papel fundamental na evolução da espécie humana 
e em seu desenvolvimento (MORENO, 2011; MOR-
GAN; CARRIER, 2013). É fato que, atualmente, a 
premissa de lutar não se relaciona diretamente com 
sua origem, que era decorrente de fatores associados 
à sobrevivência, como conquista/manutenção de ter-
ritórios, alimentação e reprodução (PAIVA, 2015). 
Neste sentido, parece ser indicado que a compreen-
são do termo “Luta”, no contexto da Educação Física 
(diferente da aplicação em outros contextos sociais, 
como a luta de classes, por exemplo), está associada 
a um conteúdo da cultura corporal, juntamente com 
o jogo, esporte, ginástica e dança (BRASIL, 1997). 
Apesar de reconhecer as limitações quanto às dei -
nições absolutas de Lutas, Artes Marciais e Esportes 
de Combate, convido você a conhecer as propostas 
mais sugeridas atualmente para tais conceitos, mas 
reforço que se trata de uma proposta que visa facili-
tar didática e pedagogicamente o seu entendimento 
sobre a temática.
Conceitos em Lutas, Artes Marciais e
Esportes de Combate
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 15
ARTES MARCIAIS
Fortemente associadas à cultura de um povo/nação, 
esta manifestação das Lutas se remete às práticas de 
guerra. Este fato reforça a utilização da nomenclatu-
ra “Marcial” que deriva de “Marte”, deus romano da 
guerra; enquanto o termo “Arte” remete a demandas 
expressivas, lúdicas e criativas (CORREIA; FRAN-
CHINI, 2010). Neste sentido, entende-se que, apesar 
da forte associação das Artes Marciais ao processo 
militarista e bélico, suas possibilidades transcendem 
a este contexto, o que indica que estas práticas rece-
bem relevante inluência étnica/cultural e abrangem 
concepções físicas, espirituais e sociais (CORREIA; 
FRANCHINI, 2010; DEL VECCHIO; FRANCHI-
NI, 2006; PAIVA, 2015). Esta ideia parece ser mais 
facilmente percebida quando estudamos a origem 
das Artes Marciais e sua abordagem ilosóica de 
base oriental, derivada essencialmente do budismo, 
que valoriza a trajetória do lutador, popularmente 
conhecido como “caminho do guerreiro” (REID; 
CROUCHER, 2003). Este tema será aprofundado 
nos Tópicos 2 e 3.
MODALIDADES ESPORTIVAS DE COMBATE
São lutas que têm como base as Artes Marciais, mas 
que foram “esportivizadas” (CORREIA; FRANCHI-
NI, 2010; DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006; 
PAIVA, 2015). Este termo refere-se ao fato que ca-
racterísticas inerentes ao esporte foram inseridas, ao 
passo que o plano de fundo espiritual, social, religio-
so e/ou ritualístico acabou por ser reduzido (PAI-
VA, 2015). Neste processo, você pode identiicar 
características especíicas desta “esportivização” que 
envolvem a prática regrada a partir do controle por 
entidades institucionais que regulamentam a práti-
ca (associações, federações e confederações) e que 
regem competições, premiações e rankings (DEL 
VECCHIO; FRANCHINI, 2006). Percebe-se, ainda, 
que, diferentemente das Artes Marciais, existe espa-
ço delimitado e adequado, gestos/golpes permitidos 
e proibidos e pontuações, além de equipamentos de 
proteção, já que existe importante preocupação com 
a integridade física dos praticantes. São exemplos de 
Modalidades Esportivas de Combate aquelas Olím-
picas que são o boxe, a luta olímpica, a esgrima, o 
judô, o taekwondo e o karatê (que estará nos jogos 
de 2020) e as não Olímpicas como, o Jiu-Jitsu brasi-
leiro, o Sambô, o Muay-hai e o Mixed Martial Arts 
(MMA- Artes Marciais Misturadas).
16 
LUTAS 
LUTAS
Além do contexto geral de se referir às práticas cor-
porais de combate genericamente como “Lutas”, se-
jam elas Artes Marciais ou esportivas, podemos ter 
uma interpretação mais especíica e que remete dire-
tamente às práticas pedagógicas que serão aprofun-
dadas na Unidade II. Essa classiicação diz respeito 
à interpretação de que as lutas fazem parte dos jogos 
categorizados como de oposição (Agon) (CALLOIS, 
2001), que apresenta como características básicas 
como ter por alvo o próprio adversário, ser pratica-
dos por duas ou mais pessoas e apresentar ataque e 
defesa simultâneos (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 
2006; PAIVA, 2015). É possível, ainda, encontrar 
menções com os termos jogos de combate ou brin-
cadeiras de luta.
GUERRAS E BRIGAS
Infelizmente, é preciso reconhecer que, talvez, você 
já tenha utilizado os termos que dão título a este tó-
pico como sinônimos de Lutas. Digo infelizmente, 
pois esta associação, por muitas vezes, acaba por 
afastar e distanciar da prática de lutas quem acredi-
ta que Artes Marciais ou Modalidades de Combate 
apresentam relação direta com o ato de brigar ou 
guerrear. Se você considerar que guerras envolvem 
oposição direta entre nações ou comunidades, uti-
lização de tecnologia ilimitada e meios de destrui-
ção em massa com objetivo territorial, econômico/
inanceiro ou ideológico pode facilmente associar 
ao termo Arte Marcial mencionado anteriormente. 
Não obstante, as brigas podem ser caracterizadas 
pela oposição direta, entre duas ou mais pessoas, 
Quais são as características observáveis que 
diferem entre lutas e brigas?
REFLITA
 EDUCAÇÃO FÍSICA
 17
que, se não fosse a ausência de regras, a não ser as in-
trínsecas ao próprio indivíduo, poderia ser associa-
da às modalidades esportivas de combate. Por outro 
lado, apesar de as diferenças terminológicas serem 
relativamente pequenas, o contexto sócio-histórico-
-cultural é oposto. Por exemplo, enquanto as brigas 
são geradas e guiadas por sentimentos de aversão, 
repúdio e/ou ódio, as modalidades de combate de-
vem seguir o espírito esportivo, ou seja, o indivíduo 
praticante respeita e precisa do seu adversário, já 
que, sem ele, não há prática.
Agora você já sabe diferenciar Lutas, Artes Marciais 
e Esportes de Combate e, deste modo, começar a re-
l etir sobre quais destas práticas podem ser aborda-
das nas aulas de Educação Física, academia, clubes, 
entro outros espaços, bem como já pode entender 
que possibilidades de aplicação cada uma destas ma-
nifestações das práticas corporais de combate tem 
nos diversos contextos.
Atualmente, é possível que você, especial-
mente por ser estudante de Educação Física, 
esteja familiarizado(a) com manifestações de 
Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esporti-
vas de Combate que vão além das dei nições 
apresentadas. Um exemplo é a utilização de 
gestos motores das Lutas para atender ob-
jetivos relacionados à aptidão física e saúde, 
que estão presentes em academias e clubes. 
E estas se apresentam em aulas de ginástica 
(Body CombatTM, Fitboxing...) ou em protocolos 
de HIIT (exercícios intermitente de alta inten-
sidade) e, de fato, parecem ser uma estraté-
gia interessante para aumentar a adesão, a 
motivação, a aptidão física e o gasto calórico, 
inclusive em idosos.
Fonte: Cheema et al. (2015).
SAIBA MAIS
18 
LUTAS 
Neste ponto, você já foi apresentado às diferenças 
terminológicas entreLutas, Artes Marciais e Moda-
lidades Esportivas de Combate. Daqui em diante, 
o termo “Lutas” será utilizado de modo genérico 
neste e nos próximos tópicos, de modo que aborde 
as diferentes manifestações deste fenômeno cul-
tural, social e esportivo. Mas de onde se originam 
as Lutas? Os homens das cavernas lutavam? E de 
que modo estas práticas corporais evoluíram até o 
ponto como conhecemos hoje? Neste tópico, estu-
daremos questões sobre a origem e evolução das 
perspectivas relacionadas às Lutas.
Conforme anteriormente mencionado de modo 
breve, o ato de lutar faz parte da história dos seres 
humanos e de outros grandes primatas. Imagine que 
você vive na pré-história em um ambiente altamente 
hostil, no qual sua principal preocupação envolve a 
sua sobrevivência e a de sua espécie. Neste ambiente 
primitivo, guiado principalmente pela necessidade 
de se alimentar e se defender de outros agressores, 
escolher não lutar parece não ser uma opção. Porém, 
além disso, o ato de lutar já era associado à conquis-
ta de poder, seja pela conquista de território ou para 
disputas relacionadas à dominação sexual de parcei-
ros para acasalamento (PAIVA, 2015).
Origem e Desenvolvimento 
das Lutas
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 19
Mas estas lutas se limitavam a expressões irracionais 
e instintivas de sobrevivência e conquistas? Parece 
que não. Em um estudo importante, Moreno (2011) 
busca entender o papel das lutas na sociedade primi-
tiva de Homo Sapiens que migrou da África para po-
voar a Europa e a Ásia há, aproximadamente, 80.000 
anos. Por meio de análises genéticas, etnográicas e 
arqueológicas, os resultados indicam que os homi-
nídeos do período que prosperaram conquistando 
outros continentes eram agressivos, resolviam con-
litos com assassinatos e praticavam rituais de lutas, 
que poderiam envolver atividades simples associa-
das à música e dança ou mais complexas, como trei-
namentos de guerreiros para futuros conlitos entre 
tribos ou sacrifícios ofertados aos deuses. Por outro 
lado, as tribos que não apresentavam estes compor-
tamentos acabaram extintas. De modo adicional, te-
oriza-se que os hominídeos que povoavam a Europa 
e a Ásia neste mesmo período (Homo Neandertha-
lensis e Homo Erectus, respectivamente) acabaram 
sendo substituídos por estas tribos. O status de tribo 
guerreira foi, portanto, relacionado à prosperidade 
destes grupos de 1000 a 1500 indivíduos caçadores-
-coletores, enquanto tribos que preferiam se deslo-
car para evitar conlitos não evoluíram.
Este estudo indica que há uma relação forte entre 
aspectos herdados geneticamente e os aspectos cul-
turalmente construídos ao longo da evolução da es-
pécie humana. Então isso signiica que o ato de lutar 
foi passado geneticamente entre gerações? Não ne-
cessariamente. Na verdade, indica que as constru-
ções culturais ao longo da história apresentam uma 
força hereditária quase tão forte quanto os fatores 
genéticos (PAIVA, 2015).
Porém, a partir disso, de que modo as Lutas evo-
luem? E qual seu papel nas sociedades que se for-
mam ao longo da história? Estas práticas de luta que 
inicialmente estavam relacionadas especialmente ao 
sacrifício (oferendas aos deuses) ou ao ciclo de vida 
do guerreiro (transição para fase adulta) passam a ser 
praticadas em tempos de paz, como forma de prepa-
ração física e técnica para os combates que viriam. 
Este fato, acredita-se, acaba por originar as Artes 
Marciais ao longo da história (POLIAKOFF, 1987). 
Curiosamente, a prática de combates para transição 
do jovem para o adulto permanece em diferentes so-
ciedades ao longo dos séculos e, até mesmo, atual-
mente. No Brasil, a prática é presente na cultura dos 
povos indígenas do Alto Xingu, por meio do Huka-
-Huka (CURBY; JOMAND, 2015), que será melhor 
abordado à frente, ainda nesta unidade.
O ato de lutar acompanha a evolução dos 
seres humanos desde a pré-história. Por isso 
você pode ir além dos gestos motores e re-
lacionar as práticas de luta ao seu contexto 
sócio-histórico-cultural.
REFLITA
20 
LUTAS 
De modo paralelo, o avanço destes rituais de 
lutas evoluem tanto de modo bélico e militar, con-
forme estudamos a caracterização das Artes Mar-
ciais, quanto de modo cultural e social, ganhando 
características que podem ser fortemente associa-
das aos jogos com regras que se transformam em 
espetáculo, inclusive estando presentes nos Jogos 
olímpicos da Antiguidade (PAIVA, 2015). Parece, 
ainda, haver uma relação inversa quando as prá-
ticas militarizadas de combate corporal perdem 
relevância com a inserção de avanços tecnológicos 
nos campos de batalha, que se inicia com o avanço 
armamentista e de tecnologias de guerra que são 
seguidos pela invenção da pólvora.
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 21
Neste tópico, estudamos a origem e 
a evolução das lutas. Acredito que 
você tenha percebido que o ato de 
lutar contribuiu de diversas formas 
para a evolução humana. Ainda, 
ica evidente que, para entender a 
sociedade atual, é preciso aprofun-
dar o entendimento sobre compo-
nentes de sua estrutura histórica 
e cultural, sendo que, para isso, é 
preciso estudar os fenômenos rela-
cionados às práticas de combate em 
suas diversas manifestações.
Além da evolução cultural 
apresentada, existem in-
dícios que apontam que a 
morfologia humana também 
sofreu adaptações associa-
das aos combates corpo-
rais. Análises biomecânicas 
a anatômicas mostram que 
o ato de “cerrar os punhos” 
ou simplesmente fechar as 
mãos para socar pode ser 
uma adaptação que pro-
porciona maior impacto no 
alvo e maior segurança para 
o punho durante os golpes 
quando comparados aos 
gestos executados com as 
mãos abertas. Este “encaixe” 
na estrutura das mãos não 
é visto em outros primatas, 
o que pode ter inluenciado 
na seleção natural entre ho-
minídeos.
Fonte: Morgan e Carrier (2013).
SAIBA MAIS
22 
LUTAS 
No tópico anterior, você pôde acompanhar o 
modo como as Lutas estão enraizadas na cultura 
e na evolução humana. De modo geral, foi apre-
sentada uma perspectiva de como estas práticas 
evoluíram ao longo da história e ainda carregam 
marcas primitivas nos dias de hoje. Neste e no 
próximo tópico, convido você a estudar, de modo 
mais especíico, como as lutas se desenvolveram 
de modo diferente de acordo com as caracterís-
ticas dos povos orientais e ocidentais, respecti-
vamente, até as modalidades esportivas que co-
nhecemos. Em cada tópico, você será convidado 
a reletir sobre como as características diferentes 
inluenciaram a construção técnica e ilosóica das 
Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de 
Combate e como estas características moldaram 
os sistemas de ensino sob cada ótica.
No tópico anterior, você pôde acompanhar o 
papel do ato de lutas na evolução dos seres huma-
nos durante a pré-história. Daí em diante, indi-
ca-se que, desde a transição da pré-história, para 
o que chamamos de história (após a invenção da 
escrita em aprox. 4000 a.C), existem indícios de 
homens lutando, como as descrições encontradas 
Histórico das Lutas
na Perspectiva Oriental
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 23
em um túmulo em Beni Hasan, datado do século 
20 a.C. Até mesmo antes disso, placas encontradas 
em escavações na Antiga Mesopotâmia (3500 a.C) 
indicavam a prática de modalidades de lutas com 
socos (MURRAY, 2008). Neste sentido, a Índia e 
o Egito antigos apresentam aprimoramento nas 
práticas corporais de combate e parece que, ainda 
na antiguidade, a China passa a receber maiores 
inluências das práticas do sul da Ásia enquanto 
que os impérios grego e, posteriormente, o roma-
no acabam por ter maiores inluências egípcias 
(POLIAKOFF, 1987; REID; CROUCHER, 2003). 
Essas inluências geram diferenças entre estas 
abordagens orientais (Asiática) e ocidentais (Eu-
ropeia e Norte Americana) que permanecem até o 
presente momento.
Na perspectiva oriental, um ponto marcante 
parece ter sido a chegada de um mongeindiano 
à China, em 520 d.C. Bodhidharma é conhecido 
por alguns como padroeiro das Artes Marciais 
orientais e seria criador do estilo de luta Shaolin e 
do Budismo Zen. De modo resumido, as práticas 
corporais foram introduzidas por ele no contex-
to do monastério com objetivo de condicionar os 
monges que permaneciam por longos períodos em 
meditação (REID; CROUCHER, 2003). Por outro 
lado, existem relatos chineses anteriores (200 d.C) 
que já indicavam a presença de exercícios de luta 
baseados em movimentos de animais, como o ti-
gre, o urso e o macaco e outros relatos de práticas 
de Wushu (popularmente conhecido por Kung-Fu) 
que datariam de 5000 anos atrás. Independente-
mente de você acreditar na lenda de Bodhidharma 
ou não, é da elevada probabilidade de a China já 
apresentar suas próprias práticas de lutas à época, 
é inegável a inluência do Templo Shaolin no de-
senvolvimento das Artes Marciais deste ponto em 
diante (REID; CROUCHER, 2003). A partir deste 
momento, as Artes Marciais chinesas se dissemi-
nam pela Ásia, chegando à Coréia e ao Japão, entre 
outros países. Novamente, é pouco provável que 
estes países já não tivessem suas próprias Artes 
Marciais, porém, a inluência chinesa parece indu-
zir de modo importante no avanço destas práticas. 
De qualquer modo, ao avançar da história, esta co-
nexão entre espiritualidade e prática corporal de 
combate permanece.
Apesar de esta contextualização histórica se 
fazer necessária como base para as próximas re-
lexões, este não é o objetivo central deste tópico. 
Então vamos a ele. Conhecendo esta perspectiva 
de origem oriental e o desenvolvimento das Ar-
tes Marciais, você consegue perceber como isso 
inluenciou o modo como estas práticas são en-
sinadas ainda nos dias de hoje e os componentes 
que ainda permanecem? Mesmo após a “esportivi-
zação” que viria posteriormente, elementos essen-
ciais estão presentes no ensino de lutas orientais 
em todo mundo. Você pode constatar isso ao ana-
lisar modalidades que apresentam indumentária 
especíica de caráter oriental, nas quais o profes-
sor utiliza contagem em idiomas, como coreano, 
japonês ou chinês. Nestas práticas, o Sensei (pro-
fessor ou mestre em Japonês) não se trata apenas 
de alguém que passa técnicas e golpes aos seus alu-
nos, mas é aquele indivíduo que se mantem acima 
hierarquicamente, responsável por ensinar valo-
res, como relacionamento, a fraternidade, a dis-
ciplina, o civismo e o respeito (VIRGÍLO, 2000). 
Este modelo é baseado no Sistema Iemoto (Mestre 
proprietário) que é caracterizado por Franchini, 
Emerson e Del Vecchio (2007):
24 
LUTAS 
• Relação professor-aluno de pura submissão, 
na qual o professor é detentor de todo co-
nhecimento e não deve ser questionado. Ao 
aluno também não é permitido trocar de pro-
fessor/equipe.
• Hierarquia contínua, que permite que o alu-
no que permanece tempo suiciente e progri-
de de graduações tenha seus próprios alunos, 
mas sempre sob a tutela de seu “mestre”.
• Autoridade do Iemoto, que indica que o mes-
tre mais graduado é responsável por toda a 
organização e do licenciamento dos futuros 
mestres, gerindo as graduações superiores.
• Relação pseudoconexão, que se refere ao fato 
de se procurar manter a relação dos dirigen-
tes das associações sob tutela de descendentes 
identiicáveis do criado original. Apesar dos esforços para manutenção deste modelo 
organizacional, é possível identiicar que sua aplica-
ção em espaços de ensino formais e não-formais nos 
dias de hoje apresenta problemas. Estes problemas e 
as sugestões alternativas de sistemas de ensino serão 
abordadas de modo mais profundo na Unidade II. 
Porém, cabe adiantar que as sugestões para o ensino, 
em especial de crianças, perpassam por práticas mais 
relexivas e inclusivas, que busquem o desenvolvi-
mento crítico e o empoderamento do praticante (DEL 
VECCHIO; FRANCHINI, 2006; ROGERIO, 2008).
Atualmente, oriundas desta vertente, algumas 
modalidades recebem certo destaque em sua po-
pularidade. Dentre as chinesas estão o Wushu, o 
Kempô, o Tai chi chuan e o Sanshou. Enquanto das 
japonesas destacam-se o Sumô, o Kendô, o Aikidô, 
o Caratê, o Jiu-Jitsu tradicional (ou Internacional) 
e o Judô. Já entre as coreanas destacam-se o Hapki-
dô e o Taekwondo. Por im, apresenta-se, também, 
o Muay-hai como representante da Tailândia. Vale 
destacar que destas o Judô e o Taekwondo fazem 
parte dos jogos Olímpicos da era moderna, sendo 
que o Caratê será inserido no quadro de 2020.
Você percebe que um dos motivos que dii-
cultam a inserção das lutas no ensino escolar 
pode estar associado ao fato de que somos 
condicionados a pensar as lutas de modo se-
melhante ao Sistema Iemoto?
REFLITA
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 25
Neste tópico, você foi levado a reletir sobre o de-
senvolvimento das lutas na perspectiva oriental, 
que apresenta, ainda hoje, forte ligação com fato-
res tradicionais e com um sistema de ensino rígi-
do e autoritário. Por outro lado, percebe, também, 
que existe uma preocupação voltada não apenas 
pela aquisição de proiciência nos gestos e golpes, 
mas também pelo caminho a ser percorrido para 
se tornar guerreiro (Budô) e a valores de cunho 
comportamental e social.
Já mencionei anteriormente que o termo “Ar-
tes Marciais” pode ser traduzido por Arte da 
Guerra e tem origem ocidental. No contex-
to oriental, outros termos com signiicado 
semelhante recebem destaque como, por 
exemplo, o Wushu, na China, e o Bujutsu, no 
Japão. Atualmente, o termo mais frequente 
no Japão é o Budô, que associa a ilosoia do 
budismo e recebe um caráter mais voltado ao 
processo de formação, podendo ser traduzido 
como “Caminho ou via marcial”. Lembre-se, 
ainda, que o termo Kung Fu, popularmente 
utilizado no ocidente, signiica “trabalho duro” 
ou aquilo que é conquistado com esforço, 
não sendo limitado apenas às lutas, o termo 
adequado para relacionar ao que envolve 
combates, portanto, é o Wushu.
Fonte: adaptado de Paiva (2015).
SAIBA MAIS
26 
LUTAS 
Caro(a) aluno(a) depois de viajar pelo tempo, dos 
primórdios aos dias atuais a partir da ótica das Lu-
tas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de 
Combate, estudamos, no tópico anterior, o modo 
como as lutas se desenvolveram pelas inluências ad-
vindas, principalmente, do sul da Ásia. Neste tópico, 
vamos usar uma abordagem semelhante, 
mas agora seguindo em direção à 
Europa e, posteriormente, a 
América do Norte.
Conforme mencio-
nei anteriormente, as 
vertentes grega e ro-
mana acabam por 
inluenciar mais for-
temente o desenvol-
vimento de práticas 
de combate na Eu-
ropa (POLIAKOFF, 
1987). Ainda na Idade 
Antiga, que se estende 
até a queda do império ro-
mano, a luta grega recebe forte 
inluência do Wrestling (aqui sinô-
nimo de luta) egípcio. Na Grécia, ainda 
no século 8 a.C., iniciam-se os Jogos Olímpicos da 
Antiguidade que, dentre outras modalidades, conti-
nham o boxe, a luta (Wrestling) e uma modalidade 
chamada Pankration, que apresentava características 
de agarre e de impacto, de modo semelhante ao Mi-
xed Martial Arts (MMA, Artes Marciais Misturadas) 
que conhecemos hoje (PAPANTONIOU, 2008; PO-
LIAKOFF, 1987). Mesmo com uma caracterização 
que remete ao que hoje conhecemos como Esporte, 
as práticas na Grécia Antiga apresentavam elevado 
teor religioso, ou seja, inicialmente, competir era, na 
verdade, um modo de prover oferendas aos deuses, 
em especial a Zeus (PAPANTONIOU, 2008). Digo 
inicialmente, pois acaba sendo crescen-
te o ato de competir pela glória de 
vencer em si, conquistada pela 
nobreza das competições.
Uma luta de boxe 
na Grécia Antiga não 
apresentava catego-
rias de peso ou rou-
nds e o objetivo era 
golpear o adversário 
até que este fosse 
a knockout ou de-
sistisse levantando 
um dedo (MURRAY, 
2008). Vestindo apenas 
as luvas, aos lutadores não 
era permitido morder, agarrar 
ou arranhar (POLIAKOFF, 1987), 
ao passoque a permissão de chutes ain-
da é discutida pelos historiadores (MURRAY, 2008). 
Estas práticas avançam na história e parecem icar 
ainda mais violentas quando praticadas na Roma 
Antiga, momento no qual é inserido o Caestus, uma 
espécie de luvas com componentes de metal que au-
mentam substancialmente a brutalidade das lutas 
(MURRAY, 2008; PEATFIELD, 2007).
Histórico das Lutas 
na Perspectiva Ocidental
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 27
Ao avançar da história no século 2 a.C. ocorre, em 
Roma, o primeiro combate documentado entre gla-
diadores, prática que atingiria seu auge com a inau-
guração do Coliseu em meados de 72 d.C. e per-
maneceria em alta por mais 300 anos. As técnicas 
e armas de combate seguem a evoluir e as práticas 
europeias de lutas ganham um caráter ainda mais 
esportivo, inicialmente com os cavaleiros durante a 
era medieval e depois com o pugilismo na Inglaterra 
(entre 1000 e 1800 d.C.). Em 1896, ocorre a primeira 
edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna e já nes-
ta edição estão presentes a Luta e a Esgrima. Nos Jo-
gos de Atenas, em 1908, é inserido o boxe no progra-
ma olímpico. Deste ponto em diante, após o im da II 
Guerra Mundial, ocorre uma interação maior entre 
Oriente e Ocidente, e o Judô (1972) e o Taekwondo 
(2000) são inseridos como modalidades olímpicas.
Novamente reforço que essa contextualização his-
tórica é importante para que possamos entender 
algumas diferenças relevantes quanto à evolução 
das Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esporti-
vas de Combate. No entanto, conforme falamos no 
tópico anterior, a sua dúvida, neste ponto, prova-
velmente tem algo a ver com: mas de que modo 
estas práticas ocidentais se diferenciam das orien-
tais? De que modo o modelo de ensino se apresen-
ta neste contexto?
28 
LUTAS 
Bom, enquanto no modelo Oriental o Sistema 
predominante era o Iemoto, no qual o professor 
(Sensei) era detentor do conhecimento que ia além 
da prática corporal e avançava para fatores ilosó-
icos; no modelo Ocidental, as características são 
diferentes. O professor não precisava (e ainda não 
precisa) ser, necessariamente, alguém que passou 
por um processo de graduação e atravessou um 
mar de hierarquias e graduações. Também não 
precisava dominar a arte da meditação e este não 
tem, necessariamente, poder sobre o aluno sub-
misso. O “Professor” das modalidades da Grécia 
Antiga, por exemplo, era chamado do “Paidotri-
bo” e normalmente era um ex-campeão que pas-
sava adiante seus conhecimentos sobre as técnicas 
das modalidades, somado a algumas noções de 
terapias e medicina (DEL VECCHIO; FRANCHI-
NI, 2006; POLIAKOFF, 1987). Mais uma vez, a 
participação do aluno é nada relexiva, é coadju-
vante e se limita à imitação dos gestos executados 
pelo indivíduo mais experiente (DEL VECCHIO; 
FRANCHINI, 2006).
Nestes dois últimos tópicos, vimos que, apesar das 
diferentes perspectivas de evolução das Lutas, Ar-
tes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate, 
seja no ocidente ou no oriente, os modelos de ensi-
no parecem não atender às demandas pedagógicas 
atualmente sugeridas. Na próxima unidade, discu-
tiremos, de modo mais aprofundado, as consequ-
ências disso e as alternativas para o ensino das lutas 
em diferentes contextos.
Independentemente da sociedade, geograia 
ou data, os seres humanos lutam desde sua 
origem, seja por ins bélicos, status social, 
poder, estética, aptidão física, religião ou por 
ins espirituais.
REFLITA
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 29
30 
LUTAS 
Agora que você já teve um panorama internacional 
da origem e da evolução das Lutas, Artes Marciais 
e Esportes de Combate, faz-se necessário conhecer 
algumas características destas práticas corporais as-
sociadas à cultura brasileira.
Você já se perguntou se existem Lutas original-
mente brasileiras? Se sim, é possível que a Capo-
eira tenha vindo à sua mente. Mas você sabia que 
existem outras modalidades que podem ser consi-
deradas como tendo sua origem por aqui? Obvia-
mente, por ter acompanhado os tópicos anterio-
res, você sabe que, de algum modo, as Lutas que 
se originaram no Brasil apresentam inluências de 
civilizações anteriores, já que a prática de combates 
corporais é constante em toda história da humani-
dade. Mas existem práticas que sofreram inluência 
local a ponto de terem sido “naturalizadas” brasi-
leiras? A resposta é sim. E o objetivo deste tópico 
será abordar estas modalidades e sua relação com 
a nossa cultura.
As Lutas no Brasil
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 31
CAPOEIRA
A Capoeira está fortemente associada à cultura e 
à história afro-brasileira. Em uma época na qual 
a escravidão e o tráico de pessoas eram permiti-
dos, negros trazidos da África eram submetidos ao 
trabalho árduo de sol a sol, com sessões de tortura 
frequente a base de chicotadas (entre outras estra-
tégias de tortura) e alimentação limitada. Um dos 
objetivos dessas ações pelo regime escravocrata 
era de limitar o potencial de rebelião destes escra-
vos. Sem armas ou qualquer outro meio de defesa, 
em um determinado momento, grupos de negros 
escravizados passam a praticar uma modalidade 
de luta baseada em movimentos de animais e em 
práticas de luta africana. Inicialmente praticada às 
escondidas, já que havia tortura adicional quando 
a prática era percebida. Elementos de jogos, brin-
cadeira e dança (outros componentes da cultura 
do movimento humano) foram adicionados, a im 
de mascarar em forma de ritual o que se tratava 
de uma prática de aprimoramento técnico e físico. 
Neste ponto, o Berimbau, instrumento característi-
co que dá ritmo à Capoeira, torna-se ponto chave, 
visto que, dependendo do modo como era tocado, 
indicava se a prática deveria ser “suavizada” ou se 
podia seguir sem limitações (FRIGEIRO, 1989; 
SENNA, 1980).
Mesmo após a abolição da escravatura, em 1888, 
os capoeiristas seguiram sendo marginalizados e 
perseguidos, o que chegou ao ponto de gerar proibi-
ção por lei com pena de 2 a 6 meses de prisão a quem 
fosse visto fazendo “capoeiragens”. Esta proibição só 
seria revista na década de 30, com a liberação da 
prática vigiada e em locais fechados que tivessem 
alvará. Inicialmente classiicada como “Arte Marcial 
Brasileira” pela sua proximidade com golpes de mo-
dalidades asiáticas com predominância de utilização 
dos membros inferiores, atualmente (desde 1972) a 
capoeira pode ser entendida (também) como mo-
dalidade esportiva de combate, por atender aos pre-
ceitos que você conheceu no início desta unidade 
(FRIGEIRO, 1989; SENNA, 1980). Para além disso, 
você, na posição de docente, pode abordar a Capo-
eira em sua expressão mais ampla, que não se limita 
ao esporte, mas que avança para fatores culturais e 
folclóricos que envolvem a dança, a música, a arte, 
a religião e, em especial, a luta entre classes sociais.
Você, professor/proissional de Educação Físi-
ca, pode utilizar estas modalidades de modo 
interdisciplinar e contribuir para contar a his-
tória do Brasil por meio da perspectiva das 
práticas corporais de combate.
REFLITA
32 
LUTAS 
HUKA-HUKA
A luta Huka-Huka é de origem indígena, de modo 
mais especíico, é praticada pelos índios do Alto 
Xingu, localizado no estado do Mato Grosso. A 
modalidade de agarre tem por objetivo projetar o 
oponente ao solo, sendo vencedor, ainda, o lutador 
que agarrar a região posterior da coxa do adversário, 
levantá-lo do solo ou icar sobre suas costas. Além 
das competições, o Huka-Huka faz parte do Quarup 
(ritual de homenagens a mortos ilustres), encerran-
do o ritual (GUERREIRO, 2015).
Infelizmente, as informações cientíicas sobre a 
modalidade são escassas, mesmo assim gostaria de 
propor uma relexão sobre o signiicado da prática do 
Huka-Huka para estas tribos. Jovens que objetivam se 
tornar líderes ou grandes campeões passam por uma 
preparação especíica que envolve alimentação espe-
cial, ensinamentos dos mais velhos, treinamentos in-
tensose diários, além de longos períodos de reclusão 
(chegando a 6 anos) e o adiamento do início da vida se-
xual até que este se torne um grande lutador (MADEI-
RA, 2006; PAIVA, 2015). A relação destas práticas com 
o passado da tribo e com a espiritualidade associada 
aos seus deuses parece remeter ao que foi visto junto 
aos primórdios do início das práticas de luta, apesar de 
que, atualmente, a modalidade ganha características 
esportivas, mas tem por objetivo manter viva a memó-
ria dos ancestrais e dos tempos de guerra, mantendo, 
ainda, os indivíduos em constante preparação.
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 33
Seja Capoeira, Huka-Huka ou Agarrada Marajoara, 
ica evidente que essas modalidades de combate fa-
zem parte da identidade cultural brasileira de modo 
muito particular. Deste modo, convido você a pen-
sar a prática de lutas não apenas no aspecto técnico 
e esportivo, mas ministrar aulas que relacionem os 
conteúdos de modo a inserir os componentes sócio-
-culturais e propor relexões que transcendam aos 
fatores tecnicistas.
AGARRADA MARAJOARA
A Agarrada Marajoara é uma modalidade de com-
bate típica da região norte do Brasil, de modo mais 
especíico no arquipélago do Marajó, no Estado do 
Pará. Com elementos semelhantes ao Huka-Huka, a 
Agarrada Marajoara é, também, uma luta de agarre, 
em que o objetivo é sujar as costas do oponente ao 
promover contato com o solo. Teoriza-se que a ori-
gem da modalidade tem ligação com a observação 
do modo como os búfalos da região lutavam.
A prática apresenta relação altamente íntima a 
outros elementos culturais do local, sendo praticada, 
em sua maioria (98%), pelo homem do campo ma-
rajoara, em geral vaqueiros que declaram recorrer 
a santos protetores, o que denota a conexão entre a 
prática desportiva com fatores religiosos e espiritu-
ais (ASSIS; PINTO; SANTOS, 2017). A prática ain-
da se mostra tão fortemente ligada ao cotidiano do 
povo local que, além da prática de treinamento para 
os eventos competitivos institucionalizados, os indi-
víduos chamados “caboclos” utilizavam-na ao inal 
do dia para aquecer o corpo antes do banho. Eles 
declaram, ainda, que a prática foi criada localmente 
em função do ambiente de luta e reconhecem como 
elemento cultural da região, juntamente a outros 
elementos conhecidos como as ervas medicinais, o 
artesanato e o Círio de Nazaré.
O Brasil ainda apresenta um papel impor-
tante no desenvolvimento de outras mo-
dalidades de combate, a exemplo do Jiu-
-Jitsu que se tornou Brazilian Jiu-Jitsu ao 
ser adaptado pela família Gracie e recebe, 
hoje, popularidade internacional reconhe-
cida como modalidade brasileira. Por outro 
lado, diferentemente das três modalidades 
estudadas neste tópico, o Brazilian Jiu-Jitsu 
carrega, ainda, uma identidade cultural for-
temente oriental, que pode ser vista pela 
indumentária de prática (Gi ou Kimono) e 
pelos termos frequentemente utilizados em 
idioma japonês, como a expressão “Oss” 
que signiica “perseverança sob pressão” e 
frequentemente é utilizada como sinônimo 
de “sim senhor”.
Fonte: Gracie (2008).
SAIBA MAIS
34 
considerações inais
N
esta unidade, foi possível estudar o modo como surgem e evoluem 
as lutas de modo associado à evolução humana, não só biológica, 
mas, principalmente, como seres sociais. Além disso, você deve ser 
capaz de entender a terminologia debatida e identiicar as diferentes 
expressões destas práticas de combate. Por outro lado, não existe necessidade real 
de classiicar uma prática especíica como Luta, Arte Marcial ou Modalidade de 
Combate, o que existe é a necessidade de contextualizar o que será abordado de 
acordo com uma destas perspectivas.
É importante que você identiique, nos tópicos abordados, que as práticas 
corporais de combate sempre estiveram presentes, desde a sociedade mais pri-
mitiva até a mais evoluída. Negar a relação da luta com nossa história parece 
ser semelhante a reprimir instintos que são naturalmente humanos, o que, teo-
ricamente, poderia desencadear situações extremas que geram conlitos e brigas. 
Ao contrário, vivenciar e conhecer o dano que pode ser causado e recebido em 
embates corporais pode aumentar a capacidade do indivíduo de avaliar quando 
entrar ou não em confronto.
Atualmente, as práticas de combate receberam uma conotação “esportivi-
zada”, mas você, sendo professor/proissional de Educação Física, não deve se 
limitar aos Esportes de luta. Nesta unidade, você pôde perceber que Lutar apre-
senta relação com signiicados ilosóicos, sociais e culturais que não devem ser 
esquecidos. Evitar práticas pouco relexivas e contextualizá-las pode aumentar o 
interesse e o fascínio dos alunos. As estratégias para fazer isso serão apresentadas 
ao longo da próxima unidade, mas já adianto que tematizar as aulas de lutas pode 
ser uma escolha inteligente para estimular o componente lúdico e a fuga da rea-
lidade. Por im, são apresentados elementos que permitem que você associe estes 
conteúdos a outras disciplinas em uma abordagem interdisciplinar.
 35
atividades de estudo
1. Os termos nominais para lutas são fundamentais 
para aumento da visibilidade dos artigos cientíi-
cos relacionados à temática, sugerindo que estes 
(e outros) podem ser utilizados sem discrimina-
ção, como potencial especiicação destas modali-
dades esportivas. Sobre terminologia aplicada às 
Lutas, assinale a alternativa correta.
a) Estes termos são sinônimos.
b) Lutas não têm relação com fatores culturais.
c) Artes Marciais e guerras são sinônimos.
d) Modalidades esportivas de combate e jogos 
de oposição são sinônimos.
e) Nenhuma das anteriores.
2. A presença de rituais de luta podem ter diferencia-
do os primeiros Homo Sapiens de outros huma-
nos primitivos e contribuído para que estes pros-
perassem. Os primeiros relatos de expressões 
corporais relacionadas às lutas remetem a:
a) Índia.
b) Grécia.
c) África antiga.
d) China antiga.
e) Egito antigo.
3. A histórica das lutas é muito importante para que 
possamos entender algumas diferenças relevan-
tes quanto à evolução das diferentes modalida-
des que as envolve. Principalmente, os modelos 
metodológicos empregados. Assinale a alternativa 
que não corresponde à característica do sistema 
Iemoto:
a) Relação professor-aluno de pura submis-
são, na qual o professor é detentor de 
todo conhecimento e não deve ser ques-
tionado. Ao aluno também não é permitido 
trocar de professor/equipe.
b) Hierarquia inexistente, que permite que o 
aluno permaneça tempo suiciente, progri-
da de graduações e tenha seus próprios 
alunos, mas sem necessidade de tutela de 
seu “mestre”.
c) Autoridade do Iemoto, que indica que o 
mestre mais graduado é responsável por 
toda a organização e do licenciamento dos 
futuros mestres, gerindo as graduações 
superiores.
d) Relação pseudoconexão, que se refere 
ao fato de se procurar manter a relação 
dos dirigentes das associações sob tute-
la de descendentes identiicáveis do cria-
dor original.
4. As Lutas que se originaram no Brasil apresentam 
inluências de civilizações anteriores, já que a práti-
ca de combates corporais é constante em toda his-
tória da humanidade. No Brasil, três modalidades 
recebem destaque, o Huka-Huka, a agarrada Mara-
joara e a Capoeira. Das modalidades citadas a se-
guir, indique qual recebeu grande contribuição 
a ponto de ser internacionalmente conhecida 
brasileira.
a) Judô.
b) Boxe.
c) Muay-Thai.
d) Jiu-Jitsu.
e) Karatê.
5. Nos dias atuais, as práticas de combate rece-
beram uma conotação “esportivizada”, o que 
não deve se limitar aos Esportes de luta e suas 
origens históricas. Indique as principais diferen-
ças que podem ser percebidas ainda hoje nas 
modalidades de combate, de acordo com sua 
origem oriental ou ocidental.
36
LEITURA
COMPLEMENTAR
Leia este trecho do artigo “Conceito dos tipos de lutas a partir de uma visão de cultura cor-
poral”, que reforça os conceitos abordados nesta unidade e apresenta as lutas folclóricas.
Lutascomo Cultura Corporal e a Educação Física
Partindo de que os movimentos naturais do ser humano (andar, correr, saltar, trepar, 
nadar, etc.) sejam inerentes ao ser humano pré-histórico, provavelmente, o primeiro 
gesto abstraído, pensado, tenha sido aquele ligado a gestos de defesa ou de ataque.
Quando pensamos em lutas, não podemos deixar de citar as Artes Marciais. Entende-
mos por artes marciais as formas de lutas praticadas e guiadas por princípios religiosos 
e/ou i losói cos. Também aquelas formas de lutas que tenham sido usadas compro-
vadamente em conl itos de guerra. Aqui se encaixam os exemplos de lutas orientais 
indianas, chinesas, japonesas e coreanas.
Devemos salientar que, em algum momento, a maioria das modalidades tratadas a 
seguir foram consideradas artes marciais, pois foram criadas para guerra, mas esta-
mos contextualizando a partir da atualidade, após sistematizações para se tornarem 
esporte para possíveis práticas com cunho educacional e competitivo, sendo agregadas 
regras para praticantes de todos os gêneros e faixa etária sem distinção. Assim, sua 
caracterização é por maior predominância, atualmente, podendo ser categorizada em 
uma classii cação de luta.
Hoje, quando pensamos em ataque e defesa, caracterizamos da seguinte maneira. As 
técnicas de ataque e defesa são formas abreviadas de Artes Marciais aplicadas de forma 
prática por proi ssionais de segurança (agentes de segurança do metrô, seguranças 
pessoais), formas de combate corpo-a-corpo desenvolvida por policiais militares e sol-
dados das forças armadas. Também são formas de técnicas de ataque e defesa as lutas 
criadas para este i m. Exemplo disto é a luta israelense conhecida como Krav-maga.
37
LEITURA
COMPLEMENTAR
As lutas folclóricas e/ou culturais são aqui conceituadas por aqueles folguedos feitos por 
uma cultura ou país com características de confronto, pertencente à tradição de deter-
minado país. Assim, poderíamos dizer que existe, para cada país, uma formas de luta 
típica. Por exemplo: Damnyè ou Ladja da Martinica, no Caribe. O Many de Cuba. Cheibi 
gad ga de Manipur na Índia, Chausson ou Savate francês, Escrima ou Arnis das Filipinas, 
Krabi-krabong e Muay thai da Tailândia, Guresh da Turquia, Glima da Islândia, Pentjak silat 
da Indonésia, Gouren Bretão e o Uka uka de índios no alto Xingu, entre outros.
Também podemos enquadrar como lutas folclóricas e culturais as brincadeiras infantis, 
realizadas em forma de confronto. Enquadram-se, aqui, os desai os de cabo de guerra, 
desai os de desequilíbrio, as brigas de galo, e outros, típicos dos conteúdos das aulas 
de Educação Física infantil.
Algumas modalidades de lutas foram tão difundidas que acabaram se esportivizando. 
Sendo assim, por esporte de combate entendemos as Artes Marciais que se tornaram 
competitivas, tais como o Judô e o Taekwondô. Para se tornarem modalidades espor-
tivas, foi necessário minimizar de alguma maneira sua forma de execução tradicional, 
criando-se regras para as competições.
Também podemos entender por esporte de combate as lutas historicamente feitas nos 
Jogos Olímpicos, tais como boxe, luta olímpica e greco-romana. Estas últimas derivadas 
do antigo Pankracio grego, luta realizada nos Jogos Olímpicos da antiguidade.
Ainda como esporte de combate entendemos como as lutas criadas para competição. 
Exemplos são o Full Contact e o Kick boxing. O primeiro criado na década de 70 quando 
caratecas americanos criaram regras especíi cas para competições desta modalidade. 
Já o Kickboxing é uma junção de técnicas de chutes ao boxe tradicional.”
Fonte: Oliveira, Rodrigo e Suzuki (2009).
38 
material complementar
Olhar Clínico nas Lutas, Artes Marciais e Modalidades de Combate
Leandro Paiva
Editora: OMP
Sinopse: o livro Olhar Clínico nas Lutas é uma obra completa com informações 
inéditas sobre o universo das Lutas e Artes Marciais. Pode ser compreendido em 
duas partes macro. A primeira abrange a área de Preparação Física, Nutrição (per-
da de ‘peso’), Psicologia e Medicina Esportiva. A segunda, História, Antropologia, 
Sociologia e História da Arte. Completamente em cores e escrito em linguagem 
bem acessível, aguça a curiosidade de qualquer indivíduo, quer seja ai cionado, 
fã, pesquisador, universitário, atleta, praticante, técnico ou outro proi ssional, até 
mesmo se estiver deparando pela primeira vez com esta área. Após o lançamento 
no Rio de Janeiro, o livro foi aclamado pelos críticos e é forte candidato ao Prêmio 
Jabuti - 2016.
Indicação para Ler
Terra de luta
Ano: 2017
Sinopse: o documentário faz uma viagem pelas origens da luta no Brasil, partin-
do dos primeiros registros arqueológicos pré-históricos encontrados no Brasil, 
na Serra da Capivara (PI); passando pela Huka-Huka dos índios do Xingu, no 
Mato Grosso; pela Luta Marajoara, da Ilha de Marajó (PA), até a Capoeira em 
Salvador (BA).
Indicação para Assistir
 39
referências
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nifestação de identidade cultural da ilha do Marajó, Pará. Lecturas-EFDeportes, 
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Issues and Future. International Journal of Wrestling Science, v. 5, n. 1, p. 
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rico e implicações. In: ______. Ética e compromisso social nos Estudos Olímpi-
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40 
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TIPOS_DE_LUTAS_A_PARTIR_DE_UMA_VISAO_DE_CULTURA_COR-
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VIRGÍLO, S. A Arte e o Ensino do Judô. Porto Alegre: Ed. Rígel, 2000.
 41
gabarito
1. E.
2. C.
3. B.
4. D.
5. Vestimentas, reverências, sistema Iemoto, ilosoia e formação dos professores.
Professor Dr. Victor Silveira Coswig
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta 
unidade:
• O ensino das lutas e a educação física
• Categorizações, regras de ação e jogos de oposição
• Modelo de ensino tradicional e predominante
• Modelos de ensino das lutas por meio da tática
• Organização e trato pedagógico das lutas
Objetivos de Aprendizagem
• Contextualizar o ensino das lutas na escola e nas 
academias de luta.
• Categorizar pedagogicamente as lutas, os jogos de 
oposição e as brincadeiras de lutas.
• Apresentar os problemas dos modelos vigentes.
• Apresentar modelos de ensino por meio da tática como 
alternativa aos modelos tecnicistas.
• Sugerir progressão de conteúdo das lutas de acordo com 
faixas etárias.
ENSINO DE LUTAS
 unidade 
II
INTRODUÇÃO
A
pesar de ser altamente indicado por diferentes diretrizes de en-
sino da Educação Física, sabe-se que o ensino das lutas neste 
contexto é extremamente raro. Infelizmente, outros conteúdos 
são “preferidos” e, normalmente, envolvem modalidades es-
portivas coletivas, como futebol, futsal, handebol, basquetebol e voleibol. 
Nos piores cenários, as modalidades coletivas dominam a totalidade das 
aulas de Educação Física, ainda em uma perspectiva na qual a Educação 
Física se confunde com o ensino de esportes.
Além disso, esporte é apenas uma das dimensões da cultura do mo-
vimento humano, ao lado dos jogos, ginástica, dança e as lutas. Por 
isso, não são apenas as lutas que acabam por receber menor atenção do 
que o ideal. É possível perceber essa disparidade, inclusive, em progra-
mas governamentais, como o Segundo Tempo, ou ainda, em diretrizes 
com a Base Comum Curricular. Para ter como exemplo, no primeiro, 
existem sugestões sobre modalidades “para aprender” e modalidades 
“para conhecer”. Não surpreende que aquelas que estão na primeira 
categoria são usualmente coletivas, enquanto as lutas se apresentam 
(quando muito) na segunda.
Mas você provavelmente já conhece essa realidade. Se pergunte quan-
tas aulas de lutas você teve no ensino fundamental e médio. Agora faça 
este mesmo exercício com a turma. Caso vocês estejam na média do que 
se conhece do ensino no Brasil, poucos indicarão contato com as lutas e, 
destes, serão relatos sobre atividades isoladas. 
Nesta unidade, vamos problematizar estes aspectos e o modelo vi-
gente de ensino de luta. Além disso, é objetivo dar condições teóricas e 
indicações diretas sobre como modiicar essa realidade!
Vamos lá!
46 
LUTAS 
Caro(a) aluno(a), permita-me iniciar este tópico 
com algumas provocações sobre o ensino das lutas. 
Primeiramente, gostaria de perguntar sobre sua opi-
nião quanto ao ensino das Lutas na Educação Física 
Escolar. Você acredita que ensinar lutas na escola é 
algo positivo ou apresenta mais riscos do que bene-
fícios? E quanto ao ensino de lutas para crianças e 
jovens fora do ambiente escolar? É algo a ser estimu-
lado ou os fatores negativos são maiores que os posi-
tivos? Neste tópico, vamos aprofundar nestas ques-
tões, em especial, focando nos benefícios e riscos da 
utilização do conteúdo lutas na Educação Física.
Se você respondeu às perguntas anteriores 
de acordo com o senso comum e de acordo com 
grande parte dos Professores de Educação Física, 
possivelmente indicou que existem riscos que se 
sobrepõem aos benefícios acerca da aplicação de 
lutas na escola. Por outro lado, possivelmente tam-
bém indicou que, fora da escola, a prática apresenta 
mais benefícios do que riscos, e que pode ajudar a 
disciplinar os alunos (entre outros benefícios). Mas 
por que existe essa contradição? Por que lutar fora 
da escola parece ser interessante enquanto que, no 
ambiente escolar, icamos cheios de “dependes”. Se 
O Ensino das Lutas e a 
Educação Física
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 47
você me permite, ainda vou além. Busque na me-
mória seu histórico com Lutas e Educação Física 
Escolar, compartilhe essas memórias com seus 
colegas, amigos e familiares. Possivelmente pou-
cas pessoas participaram de atividades de lutas na 
escola (lembre-se que luta é diferente de briga) e, 
quando houve, provavelmente foi por meio de al-
guma atividade com professores de modalidades 
esportivas de combate convidados. Isso nos leva a 
outra questão: para dar aula de lutas, na escola, o 
professor precisa ter experiência com Modalidades 
Esportivas de Combate? No decorrer desta aula 
vou tentar ajudar você a encontrar argumentos que 
lhe permitam responder a todas essas questões.
tre as práticas ofertadas nas disciplinas de educação 
física, 93% envolve Futebol/Futsal, 90% jogos, 75% 
Handebol, 70% Voleibol, 60% Dança, Ginástica e 
Atletismo, 40% Basquetebol, enquanto Lutas apa-
rece com 14%, atrás, até mesmo, da opção “outros”, 
que ica com 30% (VIEIRA; SOUZA, 2007). E como 
isso se justiica? Os argumentos são diversos, mas 
acabam envolvendo, de modo geral, a falta de estru-
tura, a falta de preparação especíica do professor, 
resistência dos pais e o risco de promover situa-
ções violentas, além, é claro, daqueles que indicam 
que o conteúdo Lutas é inapropriado para escolas 
(FONSECA; FRANCHINI; DEL VECCHIO, 2013; 
REGO; FREITAS; MAIA, 2011; VIEIRA; SOUZA, 
2007). A partir de agora, convido você a aprofundar 
cada um desses argumentos.
A ritualização ou tematização das Lutas pode 
signiicar “brincar de fazer como se fosse”, 
sem violência, já que esta não faz parte do 
jogo e fazê-lo seria acabar com a brincadeira.
(Jean-Claude Olivier)
REFLITA
Vamos lá! De acordo com um estudo feito no sul do 
Brasil, as contradições acerca do tema parecem ser 
profundas (FONSECA; FRANCHINI; DEL VEC-
CHIO, 2013). Neste trabalho, dos 69 docentes entre-
vistados, apenas 6,25% indicou que a prática de lutas 
na escola é inadequada, o que eu e você entendemos 
como algo positivo. Por outro lado, desses mesmos 
docentes, 91,3% indicou não contemplar lutas como 
conteúdo de suas aulas e, quando o faziam, era por 
meio de atividades lúdicas, vídeos ou por um espe-
cialista convidado. Outra pesquisa indica que, den-
48 
LUTAS 
FALTA DE ESTRUTURA FÍSICA
A ausência de estrutura e material adequado fa-
zem parte da realidade dos professores de Educa-
ção Física. Mas será que isso impede a realização 
de práticas de combate? Se, para você, a prática das 
atividades de luta na escola remete à prática espor-
tiva, você deve estar calculando que, para uma ati-
vidade destas, você precisaria de roupas adequadas 
(Kimono, Gi, Dobok etc.), protetores (capacetes, ca-
neleiras, luvas e bucais) e piso adequado (Tatame). 
Mas se você lembrar da classiicação do termo luta 
na unidade anterior, perceberá que existem possi-
bilidades para além das propostas esportivas e que 
não exigem materiais tão especíicos (OLIVIER, 
2000). De fato, muitas das atividades de luta não 
precisam, sequer, de material, outras são possíveis 
apenas com lenços, prendedores de roupas e cor-
das. Em último caso, para vivências maisespecí-
icas, visitas a espaços de treinamento podem ser 
uma estratégia interessante.
FALTA DE PREPARAÇÃO ESPECÍFICA DO 
PROFESSOR
O professor de Educação Física precisa ter sido luta-
dor ou ser um faixa preta para ministrar suas aulas 
de lutas na educação física escolar? Não, não precisa. 
Um estudo interessante comparou o ponto de vista 
de três professores:
a. Professor/Treinador de Modalidades Esporti-
vas de Combate em ambientes não-escolares.
b. Professor de Educação Física em escola, mas 
sem experiência pessoal com lutas.
c. Professor de Educação Física em escola com 
experiência pessoal com lutas.
Os achados, apesar de preliminares, indicam que, en-
quanto o professor/treinador (a) sugere foco em aspec-
tos técnicos, especíicos e que especializam os alunos, 
o professor (b) aborda as Lutas como conteúdo da cul-
tura corporal, de modo que mantém presente relexões 
sobre brigar e lutar, sobre valores e sobre aspectos his-
tóricos, sociais e ilosóicos dessas práticas. Além disso, 
o professor (b) ressalta a lógica não necessariamente 
pelo aprimoramento de gestos técnicos, mas pela re-
lação dos movimentos na composição do leque motor 
dos alunos (SO; BETTI, 2009). De modo geral, a expe-
riência do professor poderia até mesmo prejudicar sua 
visão mais ampla de conteúdo, limitando o conteúdo 
Lutas ao que se relaciona às suas particularidades.
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 49
Quadro 1 - Jogo de luta versus Luta a sério
Dimensões Jogo de luta Luta a sério
Comportamento
Movimentos vigorosos (bater, caçar), sem 
contatos, ou com as mãos abertas.
Movimentos vigorosos com contato físico 
voluntário e intencional.
Afetividade
Positivo, faces sorridentes, relaxadas, boca 
aberta (face de jogo).
Negativo, faces franzidas, boca fechada 
(dentes cerrados).
Consequências Ficam juntos após a luta. Afastam-se após a luta.
Estrutura
As crianças alternam os papéis de caçador 
e caça.
Sem mudança de papéis.
Nº de alunos Pode envolver várias crianças em simultâneo. Quase sempre acontece entre duas crianças.
Ecologia 
Frequentemente acontece em superfícies 
macias.
Acontece em qualquer área.
Observadores Não tem observadores. Atrai muitos observadores.
Fonte: Marques (2010).
de conlitos sociais, vide novelas, ilmes, telejornais 
e a própria convivência em comunidade. Por outro 
lado, torna-se papel do professor de Educação Físi-
ca e da escola desmistiicar esta ideia e transformar 
as brigas em jogos de luta que sejam regrados, rela-
cionados aos valores inerentes às práticas corporais 
e relexivo, no sentido controle da agressividade e o 
conhecimento desta ação oposta do outro.
LUTAS E VIOLÊNCIA NA ESCOLA
Como vimos, apesar de não ser o pensamento da 
maioria dos docentes, a prática de Lutas para crian-
ças ainda é vista como possível catalisadora de 
ações violentas (FONSECA; FRANCHINI; DEL 
VECCHIO, 2013; REGO; FREITAS; MAIA, 2011; 
VIEIRA; SOUZA, 2007). Mas será que isso relete 
Percebe-se, portanto, que as situações são ampla-
mente diferentes e a distinção entre elas não é di-
fícil, facilitando, assim, o julgamento de quando 
intervir ou não.
E o jogo de luta pode levar à briga? Segundo Oli-
vier (2000), a proposta é justamente o inverso. Em 
um mundo informatizado, é perceptível que a prá-
tica de lutas é frequentemente associada à resolução 
a realidade? Alguns desses indivíduos indicam que 
depende da abordagem do professor. Pois bem, ini-
cialmente vamos diferenciar uma briga de uma brin-
cadeira de luta? De acordo com Marques (2010), as 
características de cada uma destas situações se mos-
tram de acordo com o quadro a seguir:
50 
LUTAS 
De modo adicional, a ciência têm conirmado 
a hipótese de que a prática de Lutas parece redu-
zir e não aumentar a violência. Uma meta-análise 
recente, realizada a partir de 9 estudos que reu-
niram 507 crianças de 6 a 18 anos, mostrou que 
a prática de Artes Marciais reduziu o comporta-
mento antissocial e de externalização e promoveu 
maior autocontrole, autoconiança, autoestima 
e estabilidade emocional (HARWOOD; LAVI-
DOR; RASSOVSKY, 2017). No mesmo sentido, 
outra pesquisa investigou o efeito da prática de 
Artes Marciais em relação à práticas de bullying. 
Os achados indicam que aqueles alunos que mais 
frequentaram as atividades de luta apresentaram 
a menor frequência de agressões e a maior fre-
quência de comportamento de suporte (ajuda a 
quem é vítima de bullying). Os autores relacio-
naram os resultados à melhoria de empatia e ao 
autocontrole, além de estratégias paciicadoras 
(TWEMLOW et al., 2008).
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 51
Tomando estes argumentos em conjunto, 
percebemos que existe a possibilidade de 
qualiicar o ensino das lutas, especialmente 
para crianças. Mas talvez tudo isto ainda pa-
reça um pouco abstrato para você. Por isso, 
adianto aqui um exemplo que será aprofun-
dado nos próximos tópicos:
Imagine que você solicita aos alunos que for-
mem duplas e que iquem de frente para o 
colega. Ao seu sinal o objetivo do aluno será 
tocar em um dos ombros do seu adversário 
que, obviamente, irá tentar defender e con-
tra-atacar. Esta atividade ocorre entre duas 
ou mais pessoas? (Sim!). Apresenta ataque e 
defesa de modo mútuo e simultâneo? (Sim!). 
O objetivo é ou está no corpo do oponente? 
(Sim!). Portanto é Luta! E quanto material es-
pecial você precisaria para executar esta ati-
vidade? O quanto de conhecimento especíico 
de gestos e golpes você precisará ensinar? 
Será que um pai/mãe proibiria esta prática? 
Será que esta é realmente uma prática que 
estimula a violência?
Fonte: o autor.
SAIBA MAIS
52 
LUTAS 
Neste ponto você já avançou consideravelmente 
no entendimento sobre o conteúdo Luta. Inicial-
mente quanto a origem histórica e a evolução ao 
longo dos séculos na Unidade I e no tópico an-
terior quanto a rel exões especíi cas da aplicação 
deste conteúdo nas aulas de Educação Física. A 
partir de agora, pressupondo que você entendeu a 
importância de inserir esta temática na educação 
de crianças e jovens, avançaremos para fatores de 
instrumentalização, ou seja, vamos focar no “como 
fazer”. Vamos nessa?
Como visto anteriormente, a prática de lutar está 
inserida na classii cação dos jogos, neste contexto, 
considere as seguintes manifestações dos jogos, pro-
postas por Callois (2001) e sua relação com as mo-
dalidades de combate:
Alea: remete-se a fatores que não podem ser 
controlados pelo jogador, ou seja, o jogador é nor-
malmente passivo e o vencedor é dei nido por fa-
tores associados ao acaso, pelo destino, por sorte. 
Nestes jogos de azar encontramos relações apenas 
indiretas relacionadas às Lutas. Quando, por exem-
plo, o lutador depende de um chaveamento por sor-
teio, quando um apostador investe dinheiro ao “adi-
vinhar” quem vencerá ou mesmo quando a vitória é 
alcançada por um motivo diferente do desempenho 
do lutador (Lesão do oponente, por exemplo).
Categorizações, Regras de Ação e
Jogos de Oposição
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
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Ilynx: remete-se à busca da vertigem, a exemplo de 
práticas em que crianças giram até sentirem tontu-
ra. Não será difícil para você lembrar de atividades 
de luta, em especial relacionadas ao modelo orien-
tal, nas quais o praticante se coloca em situações de 
desequilíbrio extremo. Apesar desse exemplo, ica 
evidente que esta não é a melhor dimensão para se 
classiicar os jogos de combate.
Agon: remete-se à competição por comparação, per-
seguição ou oposição, nas quais inserem-se nesta 
manifestação do jogo as características de igualdade 
de chances de vitória. Supõe, ainda, preparação para 
a prática e vontade de vencer. É nesta dimensão dos 
jogos que as lutas se inserem, de modo mais especíico 
na categoria de jogos de oposição, apesar de ser possí-
vel encontrar relação com as demais dimensões (vide 
exemplos anteriores). As tentativas de manutenção de 
igualdade de chances de vitória é aparente e você pode 
perceber, por exemplo, nos

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