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CORES Seus Significados e Influências em nossas Vidas Maria Helena Santos Publicitária Escritora Instrutora de Yoga Porto Alegre / Rio Grande do Sul / Brasil AGRADECIMENTOS Aos meus pais, irmão e irmãs pelo carinho e apoio. Ao meu saudoso professor, Hanns Peter Struck, por sua valiosa colaboração nas pesquisas sobre o tema. À escritora, coach, amiga e irmã Bhia Beatriz, pelo incentivo e assessoria para a publicação desta obra. Ao meu estimado professor Nicolau Chiavaro, sem cujo apoio eu não teria concluído o curso superior de publicidade e propaganda. Ao meu amado filho Sandro Santos, razão maior da minha existência. A todos os amigos, e à vida, por me permitir estar aqui até agora, apesar dos percalços. .:. DEDICATÓRIA Este livro foi escrito para você, um ser humano, que vive num planeta incrível, com lindos jardins cobertos de flores multicoloridas, com verdes matas, com rios e oceanos que fluem do azul ao verde passando por todas as suas nuances, tudo coberto por um imenso céu azul, com nuvens brancas como algodão, onde brilha um gigantesco sol amarelo dourado. Como você vê, um mundo repleto de cores por todos os lados. O seu mundo, o nosso mundo. A autora SUMÁRIO INTRODUÇÃO I – A ORDEM DAS CORES 1.0 – Cor Primária 2.0 – Cor Secundária II – AS CORES COMO OBJETO DE ESTUDO DA FISICA, DA FISIOLOGIA E DA PSICOLOGIA 1.0 – Fenômeno Físico da Cor 2.0 – Fenômeno Fisiológico da Cor 2.1 – Visão da Cor 2.2 – Daltonismo 3.0 – Fenômeno Psicológico da Cor 3.1 – Influências da Escolha de Cores 3.2 – Efeitos Físicos da Cor 3.3 – Linguagem das Cores III – AS PROPRIEDADES DAS CORES 1.0 – Quente e Frio 2.0 – Leve e Pesado 3.0 – Ativo e Passivo 4.0 – Claro e Escuro IV – A PÓS-IMAGEM V – COR & MARKETING VI – A COR NO AMBIENTE 1.0 – A Ação da Cor sobre o Homem no Ambiente Colorido 2.0 – A Cor nas Indústrias 3.0 – A Cor nos Estabelecimentos Comerciais VII – A COR NA EMBALAGEM 1.0 – Conotações da Cor com Produtos Alimentícios 2.0 – Conotações da Cor com Produtos Farmacêuticos 3.0 – Influência Visual da Cor sobre a Dimensão e Forma das Embalagens 4.0 – A Cor da Embalagem em Função dos Pontos de Venda CONSLUSÃO BIBLIOGRAFIA INTRODUÇÃO No princípio criou Deus os Céus e a Terra. A Terra, porém, era sem forma e vazia. Havia trevas por sobre a face do abismo e o espírito de Deus pairava por sobre as águas. Disse Deus: - Haja luz! E houve luz! E viu Deus que a luz era boa. E fez separação entre a luz e as trevas. Chamou Deus à Luz Dia e às Trevas Noite. E houve tarde e manhã o primeiro dia. E desde o momento em que Deus disse: Haja luz e houve luz, houve também cor. A cor que está em todos os momentos e em todas as situações da vida do homem. A cor está em todas as coisas que nos cercam e que constituem a nossa existência. Está no sorriso da criança. No desabrochar das flores. Na música que escutamos. Na embalagem que compramos. Na roupa que vestimos. No alimento que comemos. No trabalho que realizamos. E, até mesmo, no sonho que sonhamos. Não é possível, sequer, imaginar o mundo sem cor. É uma coisa, praticamente, inconcebível. Ela se faz presente em todos os nossos atos, em todos os nossos pensamentos, em todo o nosso “EU”. O seu império domina a nossa vida. Muitos estudiosos têm se preocupado com as cores desde as mais remotas datas, porém, muitos destes estudos se perderam no tempo e no espaço. Sabemos, apenas, que alguém se preocupa com os efeitos causados pelas cores, através de fragmentos encontrados no decorrer da História da humanidade. Encontramos, por exemplo, nas páginas da História Antiga, referências a Galeno e Pitágoras, os quais teriam praticado a terapia através das cores. Também Aristóteles e Platão teriam realizado estudos sobre a luz e a cor, cujos resultados foram sufocados pelos terrores da Idade Média. Pois, além de poucos se aventurarem a estudar os mistérios da cor, mesmo estes eram barrados inúmeras vezes e os resultados de seus estudos jamais eram difundidos, devido a crenças generalizadas de que experiências realizadas com cores eram atos de feitiçaria, os quais não deviam ser praticados. Mas, apesar das dificuldades encontradas em relação ao estudo da cor, ela faz parte da vida da humanidade em todos os seus momentos. As cores são usadas na representação das nações, na sociedade, nas ciências, nas artes, na arquitetura, na decoração, na indústria, na publicidade, no comércio, etc... O governo, a Nação é representada por uma ou mais cores, reconhecidas universalmente através da bandeira de cada país. É o uso das cores na representação das nações. E cada cor presente na bandeira de cada país não está ali meramente por acaso. Cada uma delas tem uma razão de ser e de estar; pois cada uma representa alguma coisa. Alguma coisa muito importante para cada cidadão nascido sob aquela bandeira. Muitas nações na Idade Média usavam os estandartes das casas imperiais que as regiam e no estandarte a casa imperial, intuitivamente representava o seu comportamento em relação à atitude tomada com as populações que dominava. A título de exemplo, do acima exposto basta lembrar o estandarte de Borbon (França), que foi de cor azul-clara com a Flor-de-lis branca. Ambas as cores denotam “afastamento e isolamento”, comportamento constatado historicamente dos Louizes reis da França que se isolaram da massa populacional. Obviamente veio a reação!... A Revolução Francesa no fim do século XVII. E o estandarte vermelho, como símbolo das massas, foi erguido pela primeira vez em 14 de julho, data da Queda da Bastilha. E novamente através do estandarte vermelho, que denota “agressão e guerra”, intuitivamente os líderes revelaram o seu comportamento. No futebol, encontramos outro exemplo interessante do emprego das cores no estandarte, que não cremos ter sido propositalmente idealizado. Nos referimos ao Grêmio e ao Internacional, principais times gaúchos. No Grêmio – os alemães isolaram-se da massa através do Branco, Azul e Preto. O Internacional, clube do povo, representa a massa através do seu estandarte predominantemente vermelho. Segundo Aldous Huxley, em seu famoso livro “Admirável Mundo Novo”, um dia a sociedade será totalmente criada em laboratórios e será, desde a mais tenra idade, condicionada para ser feliz. Os membros dessa sociedade, Alfas, Betas, Gamas, Deltas e Epsilões, formarão as cinco classes sociais da época. E cada uma destas criaturas, será condicionada para realizar um determinado tipo de tarefa na sociedade, sentindo-se sempre alegres e felizes. Entre as muitas características que identificarão as camadas sociais, a mais distinta será a cor das roupas usadas por cada grupo de pessoas. Os alfas, criaturas bonitas, altas, inteligentes, destinadas a realizar tarefas intelectuais na direção da sociedade usarão vestimentas brancas. Os Betas, também inteligentes, porém um pouco menos do que os primeiros, dos quais serão uma espécie de assessores diretos, vestir-se-ão de cinza-claro. Os Gamas, criados com a finalidade de realizar tarefas mais mecanizadas, vestirão roupas de cor verde. Os Deltas, criaturas dotadas de uma inteligência mínima, usarão a cor Caqui em suas vestimentas. E, por fim, os Epsilões, criaturas propositalmente retardadas, de feições deformadas, destinadas a fazer os trabalhos pesados e rotineiros para a boa manutenção da sociedade, usarão sempre o preto em suas vestimentas. Nas ciências a cor tem sido muitousada também. Na medicina, por exemplo, investigações e experiências têm sido realizadas por cromoterapeutas, mostrando os diversos efeitos das cores sobre os organismos vivos. Estas investigações realizadas por cientistas cromoterapeutas confirmam diversos resultados, os quais se encontram resumidos no quadro abaixo: LUZ VERDE acaba com as larvas das moscas e dos besouros. LUZ VERMELHA estimula as funções orgânicas do homem. Favorece a marcha da catapora, sarampo e escarlatina. Torna as plantas mais vigorosas. LUZ AZULADA acaba com as plantas. LUZ ANILADA possui poder analgésico. EXCESSO DE AMARELO favorece indigestões, gastrites e úlceras gástricas. EXCESSO DE AZUL favorece a pneumonia, tuberculose pulmonar e pleurisia. VARIAÇÕES DA COR VERDE favorece as doenças mentais e nervosas. VARIAÇÕES DA COR VERMELHA favorece as doenças do coração e reflexos na pressão arterial. A COR AZUL ajuda contra as doenças de olhos, ouvidos, nariz e pulmões. A COR VERMELHA ajuda contra doenças do estômago, fígado e baço. A COR VERDE ajuda contra doenças do sistema nervoso e aparelho digestivo. A COR AMARELA e A COR CAFÉ produzem enjôo quando o interior do veículo, especialmente o avião, é pintado nessas cores. CORES ALEGRES estimulam o apetite, quando a sala de jantar é assim pintada. CORES SUAVES geralmente para dormitórios, porque estimulam o repouso. Desde os primórdios da história da civilização, as cores vem influenciando o homem e tomando parte integrante em sua vida e em seus atos. Na arte temos, por exemplo, o grande Leonardo Da Vinci, dando expansão, beleza e sentimento às suas obras por intermédio das cores. Dizia ele que nada deve ser imitado, somente a natureza merece ser copiada com toda a sua luz e as suas cores. Leonardo Da Vinci pintava rostos humanos com a grande beleza que havia em sua alma de artista. Dizia-se dele que era o pintor dos rostos sorridentes, que andava pelo mundo sonhando, inventando, construindo, pintando e filosofando rodeado por idéias, artes e cores. Muitos outros vultos célebres da nossa história podem ser citados aqui, como Dante Alighieri, Goethe, Shakespeare e Voltaire que, apesar de não trabalharem diretamente com tintas e pincéis, trabalharam com a cor através das idéias e expressões que legaram à humanidade. A cor nas mãos do artista é usada para expressar beleza, sentimento e vida. Já nas mãos do arquiteto, apesar de ser também usada para expressar beleza e harmonia é uma poderosa ferramenta, pois serve para aumentar ou diminuir volumes, para aproximar ou afastar estruturas imóveis de concreto, de acordo com as suas necessidades ou desejos, através de uma simples ilusão de ótica. O arquiteto, devido à sua formação, tem a tendência de preocupar-se muito mais com a forma do que com a cor, considerando a escolha desta como algo bastante simples de ser realizado. Porém, no final, não é a forma e sim a cor o que mais impressiona o observador. A cor, que se encontra na natureza, e que é vista pelos olhos do homem é sentida com o seu “eu” interior, com a sua mente. Segundo um dos princípios da “Teoria da Mente” de Sigmund Freud, “a repressão deve-se à qualidade desagradável do material reprimido e conserva certa ligação com este soterrada no inconsciente.” A “Teoria da Mente”, de Freud, vem assim explicar estranhas reações de determinadas pessoas diante desta ou daquela cor em particular. Há pessoas que detestam determinada cor ou cores sem, no entanto, conseguirem explicar o porquê desta atitude. Mas, a antipatia ou mesmo a simpatia de alguém diante de uma cor nunca é meramente antipatia ou simpatia. Nunca é gratuita. De uma forma ou de outra está ligada à alguma coisa que lhe aconteceu, da qual não se recorda. Alguma coisa que ficou arquivada para sempre no recôndito de sua mente e na qual estava presente a cor hoje odiada ou admirada. Em outros casos, porém, a escolha de determinada cor é feita pelo indivíduo, sem que este sinta simpatia ou antipatia pela cor que escolheu ou que deixou de escolher, respectivamente. Nem sempre é necessário que a cor escolhida tenha estado ligada a algo que aconteceu ao indivíduo no passado. Muitas vezes esta escolha é feita com bases apenas na empatia; ou seja, na existência de uma identificação do ser com a cor, através dos traços de personalidade do indivíduo e das características psicológicas da cor por ele preferida. É importante que o homem sinta-se bem no ambiente em que vive. Daí a grande importância de uma boa decoração feita com as cores adequadas ao conforto e ao bem estar do ser humano. Independente de preferências individuais de cada um, o decorador costuma usar as cores quentes em ambientes frios. Cores frias nos locais quentes. Cores que aproximam ou que distanciam, dependendo das necessidades impostas pelo espaço disponível, etc... como veremos no decorrer do presente trabalho. O processo de marketing envolve um produto desde a idéia de sua concepção até o seu consumo, satisfazendo plenamente as necessidades do consumidor. A sua fabricação nas indústrias, a sua divulgação através da publicidade e o seu consumo tornado efetivo por intermédio da venda realizada pelo comércio, envolvem a cor constantemente com suas influências positivas ou negativas sobre este produto. No interior das indústrias a cor assume importância capital. Apesar de sua importância não ser levada em conta por todos os industriais, sabe-se que nos países mais adiantados a cor é tratada com muita seriedade. É grande o seu uso e são inúmeras as suas aplicações nos grandes centros industriais. A cor é usada no interior de indústrias para criar ambientes adequados às diversas tarefas que os empregados, monotonamente, tem que realizar no dia a dia de suas vidas. A cor é muito usada, também, para evitar a fadiga visual, o cansaço físico e, conseqüentemente, muitos dos acidentes de trabalho. As máquinas, por exemplo, são pintadas com as cores mais adequadas. Nas partes móveis são empregadas cores dinâmicas, agressivas, para dar a impressão de que avançam, evitando assim que o indivíduo delas se aproxime. As partes estáticas, ao contrário, são pintadas de cores mais repousantes e neutras, com o objetivo de prevenir acidentes no ambiente geral das indústrias. Sabe-se também que tanto melhor será o rendimento de um grupo de pessoas, quanto melhor e mais adequado for o ambiente em que este grupo se encontra. Portanto, é de grande importância o emprego de cores nos tetos, paredes e pisos das mais diversas indústrias. Sabe-se também que quanto mais bem feita for a aplicação das cores no interior de uma fábrica, maior será o rendimento dos operários, maior será a produção e maiores serão os lucros. “Podemos afirmar que a criatividade dos homens de marketing é tão grande no seu setor quanto a dos artistas plásticos, dos escritores ou dos cineastas. Mas, além de conhecer as orientações e medir a sua potencialidade, eles necessitam um domínio técnico-teórico bem fundamentado que lhes possibilite uma margem de precisão e segurança cuja meta certa é o lucro”. Um dos pontos principais, que pode até mesmo ser considerado o grande objetivo do processo de marketing é vender o produto. Mas para atingir este objetivo não basta apenas anunciar, gastar somas incríveis em poderosos veículos de comunicação, se o anúncio veiculado não possuir uma mensagem adequadaque atinja o público consumidor. O consumidor precisa ser impressionado. A mensagem que se quer transmitir precisa ficar gravada no inconsciente do consumidor. E nada melhor para isto do que o uso das cores, de forma correta, no desempenho desta tarefa. Pois a cor adequada, no lugar certo e no momento exato vale muito mais do que mil palavras. Apesar de o anúncio publicitário apresentado em preto e branco possuir um grande poder de impacto, não podemos esquecer que o poder de uma peça publicitária colorida é muito maior por atuar diretamente sobre a parte sensorial do indivíduo. Uma boa combinação de cores num outdoor, por exemplo, pode facilitar a assimilação da mensagem. A mensagem escrita pode tornar-se mais sensível, facilitando ao transeunte a sua rápida leitura. São muitos os aspectos que devem ser levados em conta quando usamos a cor como um dos principais elementos para vender um determinado produto. A publicidade, em qualquer país ou estado, está diretamente ligada à moda atual. Por isso, o uso da cor em publicidade é algo bastante delicado que realmente funcionará se for feito com base em estudos e pesquisas neste sentido. Existem cores que vendem e cores que não vendem. Mas precisamos não esquecer que uma cor que vende um produto nos Estados Unidos pode não vender o mesmo produto no Brasil. Ou ainda, uma cor que vende numa determinada época pode perfeitamente não vender numa outra. É o fenômeno espaço-tempo o qual está intrinsecamente ligado à publicidade. E o bom publicitário não pode nunca esquecer estas importantes variáveis: Tempo, Espaço e Moda quando for determinar as linhas e cores de uma peça publicitária. Poderíamos dizer que os pontos de venda do produto, os locais no comércio onde o produto se encontra à disposição do consumidor, são as retas finais do processo de marketing. Pois é através do comércio que um produto vem atingir o objetivo para o qual foi criado, ou seja, a satisfação das necessidades do público consumidor. E neste momento é de suma importância a cor das embalagens e a disposição dos artigos nas prateleiras. Enfim, a apresentação do produto ao consumidor. E, segundo Modesto Farina, “as cores estão presentes em todos os processos de compra, pois elas são vibrações do cosmo que penetram em nosso cérebro para continuar vibrando e impressionando nossa psique, para dar um tom ao pensamento e às coisas que nos rodeiam. Enfim, para dar sabor à vida e ao ambiente em que vivemos”. CAPÍTULO I A ORDEM DAS CORES I – A ORDEM DAS CORES Há muitos séculos atrás as pessoas pensavam que os sons musicais jamais poderiam ser escritos e que certamente desapareceriam se não fossem retidos na memória. Mas, o aparentemente impossível foi conseguido. E por volta de 1700 já havia um completo e perfeito sistema de notas musicais, tornando possível a escrita de escalas. Sem este sistema a realização das grandes composições seria, praticamente, impossível. E mesmo se fossem criadas desapareceriam no tempo. Morreriam juntamente com seus autores. Assim eram também os vocabulários das cores em todos os idiomas de todos os países. Vagos, improvisados e quase inexistentes. Os povos mais primitivos não tinham nomes para designar as cores. Outros os tinham apenas para designar algumas poucas cores. Fazia-se necessário, portanto, a criação de um esquema gráfico das cores para facilitar a sua aplicação e uniformizar os estudos a respeito da mesma. Diz-nos a história, que o primeiro método de representação gráfica das cores foi criado por Newton e que o mesmo consiste no agrupamento circular das cores. Os estudos que temos hoje sobre cores, muito devem às experiências realizadas por Newton, bem como às pesquisas e estudos feitos por Goethe no fim do século XVIII e início do século XIX, relatados numa obra de 1.400 páginas manuscritas. Através de uma revisão crítica da obra de Newton, Goethe consegue, em 1810, evidenciar suas falhas, propondo ao mesmo tempo uma nova teoria das cores que, no entanto, fica um pouco à margem dos sistemas e teorias usuais. A teoria de Goethe aponta o choque entre luz e sombra como sendo a origem do fenômeno cromático. Portanto, de acordo com esta teoria, as cores podem ser definidas como sendo semiluzes e semissombras. Goethe baseia sua teoria num processo fisiológico no qual as imagens subjetivas são como sombra cromática, e as ilusões oriundas da interpretação das diferenças de cores, de claridade e de duas superfícies; e num processo físico em que defende a uniformidade da luz branca em oposição a Newton. Depois de Newton e Goethe, surgiram muitos outros estudiosos do assunto, sendo que todos usavam o círculo como base para seus estudos. Destacam-se dentre estes os seguintes: o de Moses Harris, em 1766; o de Sir David Brewster em 1831; o de Michel Cevreul em 1861; o de Albert H. Munsell em 1912; o de Wilhelm Ostwald em 1944 e outros. Todos estes estudos contribuiram grandemente para a organização das cores que temos atualmente. Os estudos de Munsell, por exemplo, deram origem ao “Sistema Munsell de cores”, o qual em 1942 já tinha então demonstrado sua validade e praticidade, de tal forma, que tinha então sido aceito inteiramente nos Estados Unidos, como a descrição padrão da sensação psicológica de cor. Em fevereiro deste mesmo ano foi inaugurada a Fundação Munsell de cor para auxiliar a pesquisa da cor na ciência, na psicologia, nas artes, na educação e na indústria. Ostwald, levado pela necessidade de uma grande exatidão na designação de uma cor, veio a criar um sistema de amostragem conhecido como “sólido das cores”. Neste sólido, formado por triângulos unidos pela base em torno de um eixo as cores são dispostas de forma que as suas complementares fiquem diametralmente a elas opostas. O vértice horizontal correspondente ao grau de saturação da cor. Ou seja, ao grau de maior pureza. A divisão da cor em oito estágios permite uma degradação progressiva da mesma até atingir o preto do vértice inferior e o branco do superior. O referido sistema tem a vantagem de permitir, com um único olhar, a percepção das várias gradações de uma cor, que em progressão sistemática chegam ao preto e ao branco. No círculo cromático de Chevreul, encontramos a seguinte representação gráfica de organização das cores: - Tomemos um círculo, dividimo-lo em doze partes iguais e coloquemos nele as três cores primárias ou fundamentais – vermelho, amarelo e azul, cuja mistura permite-nos a obtenção de todas as outras cores – a distâncias iguais em 1, 5 e 9. Se prolongarmos um raio partindo do vermelho, obteremos um raio a igual distância do azul e do amarelo. Onde este atingir o outro lado do círculo será, então, colocada a cor verde, que é, exatamente, a mistura de azul com amarelo. Baseado neste sistema de trabalho, Chevreul chegou ao seu catálogo de cores contendo 14.420 tons teoricamente classificados, desde as cores saturadas e suas mesclas até o branco e o preto. DISCO DE CORES, de Chevreul – partindo deste disco, Chevreul chegou ao seu catálogo de cores, o qual contém cerca de 14.500 tons teoricamente classificados. Chevreul chegou a este número de cores classificadas da seguinte forma: Dividindo cada um dos doze setores obtidos no círculo cromático em seis partes iguais pode então designar 72 cores francas. Estas cores francas, quando misturadas com quantidades crescentes de branco deram origem a cores cadavez menos saturadas, para as quais Chevreul indicou um modo de degradação em vinte etapas, desde o tom fraco até o branco absoluto. Deste processo, ou seja, 72 x 20, resultam 1.440 tons ou cores degradadas ou esbatidas. Mas, acrescentando às cores francas ou esbatidas, quantidades mais ou menos fortes de preto, obtém-se cores carregadas e se formarmos uma série de nove tonalidades carregadas por cada cor franca, que por sua vez são divisíveis em vinte tons esbatidos, chega-se a um total de 12.960 tons de cores carregadas, pois 72 x 9 x 20 = 12.960. Somando-se 1.440 tons de cores francas, mais 12.960 tons de cores carregadas com 20 tons de cinzentos normais teremos então a classificação das cores de Chevreul, em 14.420 tons. O círculo cromático de Chevreul é utilizado em todas as técnicas onde se faz necessário uma combinação exata das cores, como em indústrias de tapeçarias, gráficas, estampagem, etc. No entanto, segundo Maitland Graves, de todos os métodos criados para padronizar a classificação das cores-pigmento o mais bem sucedido foi o de Munsell, que inicialmente evoluiu para a confecção de seu “Atlas do sistema de cores Munsell”, o qual atingiu uma síntese ideal na chamada “Árvore de Munsell”, onde as cores puras – vermelho, amarelo, verde, azul e violeta – são graficamente demonstradas intercaladas com as cores intermediárias. Ou seja, laranja, verde-amarelado, azul-violeta e vermelho-violeta. É uma representação de seu sistema em coordenadas cilíndricas, com escalas de valores neutros como eixo vertical. Seções do círculo em torno do eixo representam o tom, e as distâncias do centro até os círculos extremos representam a saturação das cores. O Sistema Munsell é usado e recomendado atualmente por inúmeras entidades como: U.S.Departament of Agriculture, pelo International Printing Ink Corporation, pelo Lakesis Press, pela Walt Disney Productions e também por muitos artistas, decoradores, arquitetos e engenheiros industriais. As principais vantagens do sistema são apresentadas por Maitland Graves da seguinte forma: Apresenta uma nomenclatura clara, simples e específica para designar as cores. As cores podem ser, fácil e rapidamente determinadas através de uma simples comparação visual direta, pois o nome de cada cor é dado com base em seu grau de tonalidade, seu valor e seu matiz. O sistema possibilita ao usuário da cor ler e escrever a respeito da mesma, em linguagem padronizada que pode ser usada para cada profissão, pois a nomenclatura Munsell é compreendida por todos os profissionais da cor. A flexibilidade do sistema permite a sua expansão. 1.0 – Cor Pimária São consideradas cores primárias, em termos de pigmentos, o vermelho, o amarelo e o azul. Todas as demais cores existentes na natureza que impressionam a nossa retina são formadas a partir destas três cores primárias. Elas são encontradas puras na natureza e não podem ser formadas por nenhuma mistura. 2.0 – Cor Secundária São chamadas secundárias as cores resultantes de misturas óticas de quantidades iguais das cores primárias, duas a duas. As cores secundárias são: laranja (vermelho com amarelo), verde (amarelo com azul) e violeta (azul com vermelho). ESTRELA DE GOETHE – Composta pelas cores primárias e secundárias. A mistura de quantidades óticas iguais de uma cor primária com uma cor secundária nos dá uma cor terciária. Uma cor primária ou secundária misturada com uma cor terciária nos dá uma cor quartenária. Uma primária, secundária ou terciária com uma quartenária resulta numa quintenária e assim por diante. CAPÍTULO II AS CORES COMO OBJETO DE ESTUDO DA FÍSICA, DA FISIOLOGIA E DA PSICOLOGIA II - AS CORES COMO OBJETO DE ESTUDO DA FÍSICA, DA FISIOLOGIA E DA PSICOLOGIA. Quando dizemos que cores são freqüências eletromagnéticas que ao atingirem a retina humana sensibilizam-se despertando no homem sensações coloridas, estamos englobando neste simples conceito afirmações de três ramos distintos da ciência. A Física, a Fisiologia e a Psicologia. Já vimos no início deste trabalho que o fenômeno cromático vem sendo bastante estudado ultimamente. Bem como as cores têm tido grande aplicação em todos os setores da vida humana, tornando-se por isso mesmo objeto de estudo de quase todas as ciências. Mas não podemos fazer qualquer estudo do fenômeno cromático sem enfocar a cor sob o aspecto físico, onde ela é entendida como sendo derivada de características apresentadas pela energia luminosa, a qual age como estímulo; sob o aspecto fisiológico onde a cor é entendida como uma sensação proveniente de estímulos externos que atingem a sensibilidade do globo ocular; e, finalmente, sob o aspecto psicológico onde a cor é tratada de acordo com as tendências e condições sob as quais elas operam. 1.0 – Fenômeno Físico da Cor O que é a luz? Luz é a parte visível da energia radiante do espectro eletromagnético. A luz, ou energia radiante visível é a forma mais comum de estímulo causador da sensação colorida. O espectro eletromagnético é o conjunto de todas as ondas conhecidas e classificadas de acordo com a sua longitude, as quais estendem-se por todo o universo. O espectro eletromagnético é formado por raios de luz, de rádio, de televisão, raios quentes, raios x, raios comuns e raios cósmicos. Todos estes são formas diversas de energia radiante. São ondas de energia eletromagnéticas diferenciadas apenas pelos seus comprimentos – distância entre duas cristas da onda – e pelas suas freqüências de oscilações ou pulsações. Das longas ondas de rádio para as curtas ondas cósmicas o comprimento do espectro radiante é de sessenta oitavas de energia eletromagnética. No meio deste espectro, ocupando um quarto dele, situam-se as quinze oitavas de energia solar, que são ondas irradiadas pelo sol. Destas quinze oitavas, cinco são ultravioletas, nove são infravermelhas e, somente uma oitava é de energia solar visível, ou seja, luz. Isto quer dizer que só podemos ver 1/15 dos raios do sol e apenas 1/60 da irradiação do espectro eletromagnético. Assim como o aparelho de rádio é sintonizado para receber e responder as ondas de energia radiante mais longas, chamadas ondas de rádio, também o olho humano é um instrumento altamente com capacidade de receber e responder somente as ondas de energia radiante, de certos comprimentos, conhecidas como ondas de luz. O metro é a unidade básica de medida, internacionalmente reconhecida pela ciência. As ondas de luz são, normalmente designadas pela unidade conhecida como “lilimicrons” que corresponde a uma bilionésima parte do metro. A luz vermelha, situada no final do espectro visível, tem a mais baixa freqüência, ou seja, a que possui o mais baixo número de vibrações por segundo e o maior comprimento de ondas de 800 milimicrons. Isto se assemelha a um forte som de baixa força ou potência. A freqüência vai aumentando através do espectro, de tal modo, que o violeta na outra extremidade tem a maior freqüência de vibrações por segundo e o menor comprimento de onda de 400 milimicrons; o violeta corresponde a uma nota aguda de alta força ou potência. O senhor James Jeans em seu livro “Através do Tempo e do Espaço”, disse: “Assim como as diferentes cores são produzidas por diferentes ondas de luz de diversos comprimentos, deste mesmo modo, os sons de diferentespotências são produzidos por ondas de sons de diferentes comprimentos. Por exemplo, meio C no piano, tem um comprimento de onda de quatro pés. O espaço C triplo tem um comprimento de onda de dois pés. Quando um som tem exatamente a metade do comprimento de cada outro, nós dizemos que ele é 1/8 mais alto em potência. Da mesma forma, quando uma cor de luz tem exatamente a metade do comprimento de onda da outra, nós podemos dizer, por analogia, que ela é uma oitava mais alta em potência. Deste modo, como a luz violeta tem exatamente a metade do comprimento de onda da luz vermelha, nós podemos dizer que a luz violeta é uma oitava mais alta em potência do que a luz vermelha. Entretanto, não erramos longe se pensamos a respeito das sete cores do espectro, como a respeito das sete notas musicais, vermelho sendo C, laranja sendo D, amarelo sendo E, verde F, e assim por diante. Já vimos que todas as linhas visíveis do espectro estão dentro de uma oitava. Nossos ouvidos podem ouvir onze oitavas de som, mas nossos olhos podem ver somente uma oitava de luz”. Além do violeta do espectro visível, estendem-se os invisíveis raios ultravioletas, ou raios de bronzear, os quais podem passar através de vidro de quartzo, mas não através de vidro comum. Assim, como as extremamente altas freqüências das ondas do som são inaudíveis para o ouvido humano – mas que um cão pode ouvir – as ondas ultravioletas também estão além da ordem dos sentidos humanos, em regiões nas quais sua presença somente pode ser detectada através de aparelhos especiais. Depois dos raios ultravioletas estão situados os raios X. E, além destes, estão os calmos e mais curtos raios gamma ou raios radium. E, bem no final do espectro radiante, localizam-se os misteriosos e infinitamente pequenos raios cósmicos cuja energia é irradiada de algum ponto desconhecido do espaço celestial. No outro extremo do espectro eletromagnético encontram-se as ondas mais longas. Depois do vermelho estão os raios infravermelhos, ou ondas quentes, as quais podemos sentir, mas não ver. E além destes, estão os raios hertzianos (ondas eletromagnéticas descobertas pelo físico alemão Heinrich Hertz). E finalmente as ondas mais longas – as de rádio. A velocidade da luz é incrivelmente grande. E era desconhecida até 1675, quando Roemer a descobriu por meio de um simples, mas engenhoso estudo dos intervalos de tempos, as eclipses de uma das luas do Planeta Júpter. Após passar seis meses cronometrando estes intervalos, Roemer pode determinar que a luz, igualmente a todas as outras formas de energia radiante, viaja no espaço a 300 mil km por segundo. Poderemos compreender melhor esta espantosa velocidade se considerarmos que a lua viajaria sete vezes e meia por segundo ao redor da terra, se ela possuísse a velocidade da luz. Através de materiais transparentes como a água, o álcool e o vidro, a luz viaja com menos velocidade do que através do espaço. Isto acontece devido à curvatura ou refração sofrida pela passagem do ar para um meio mais denso. Quando falamos em pigmentos ou corantes consideramos como cores primárias o vermelho, o amarelo e o azul. Em termos de luz, porém, o vermelho, o verde e o azul é que são chamadas cores primárias, porque elas não podem mais ser decompostas ou produzidas por misturas de outras luzes, e quando misturadas em várias proporções ou combinações elas produzem luz branca. Outros efeitos coloridos como podemos ver em diamantes, são também causados pela refração da luz. Newton demonstrou em 1666, que a luz branca pode ser decomposta nas sete cores do espectro eletromagnético. Se deixarmos passar um raio de luz do sol através de um prisma, veremos que este dividir-se-á nas sete cores do espectro ao se projetar sobre superfície branca. A luz branca é, portanto, a soma de irradiações dos diferentes comprimentos de ondas. Ou seja, o branco é a presença de todas as cores refletidas. Ao passo que o preto á a absorção de todas as cores pelo objeto. Pois a luz, como todas as demais formas de energia pode ser transformada, mas nunca destruída. Ao encontrar um objeto ela pode ser totalmente absorvida ou refletida. Ou ainda, e isto é o mais comum, refletida em parte e em parte absorvida. Sabemos que todo corpo tem características próprias que lhe permitem absorver uma parte da luz branca e refletir a outra. E é este o fato que dá ao homem a sensação de cor em tudo o que o rodeia. Um objeto considerado pelo olho humano como sendo amarelo, por exemplo, nada mais é do que um corpo com características de absorver todas as freqüências de ondas de energia eletromagnética incidentes sobre ele, menos a freqüência correspondente à luz amarela a qual nos é devolvida através da reflexão. E é isto que causa em nós a sensação colorida de amarelo neste determinado objeto. E o mesmo acontece com todas as demais cores que conhecemos. 2.0 – Fenômeno Fisiológico da Cor “A visão representa uma das preciosidades que o homem recebeu da natureza. É o sentido que faz vibrar o ser humano e o faz pensar, gozar e desfrutar as coisas do mundo que o rodeia. Os olhos, através dos quais se processa a visão, constituem, portanto, os órgãos de ligação entre o mundo interior do homem e o exterior que o rodeia. Esta ligação somente se realiza quando há luz. A luz é assim a grande intermediária entre a natureza e o homem. Ela apresenta todos os detalhes à percepção do ser humano numa multivariada gama de sensações visuais coloridas ou não.” Como já dissemos, a luz é energia radiante visível que ocupa uma oitava do espectro eletromagnético. E, também, que o olho humano só pode ver ondas de energia que medem entre 400 e 800 milicrons, aproximadamente. O olho humano possui um mecanismo de funcionamento semelhante ao de uma máquina fotográfica. A imagem é recebida de forma invertida pela retina e só é colocada em posição correta quando alcança o centro do cérebro, através do nervo ótico. O olho, órgão localizado numa cavidade óssea do crânio, compreende a seguinte estrutura, tal como se vê na figura abaixo. Corte longitudinal do olho humano. RETINA – Os 130 milhões de células, aproximadamente, são as receptoras da imagem externa e ao mesmo tempo transmissoras da mesma ao centro visual. Os cones e os bastonetes são as mais importantes células. Os bastonetes localizados mais na periferia da retina não reagem aos diversos comprimentos das ondas, sendo, portanto, os responsáveis pela visão da forma e do movimento e não da cor. Os responsáveis pela visão da cor são os cones, os quais se localizam na zona central da retina. ESCLERÓTICA – è o nome dado à camada rígida exterior do olho. COROIDE – É uma camada que contém diversos vazos sanguíneos e que se encontra logo depois da esclerótica. CÓRNEA – É uma camada transparente que fecha o globo ocular, completando a esclerótica na parte da frente. Possui uma curvatura que atua como lente conexa. HUMOR AQUOSO – Solução localizada atrás da córnea, através da qual o raio de luz tem que atravessar para poder chegar até o humor vítreo e posteriormente à retina. HUMOR VÍTREO – É uma substância gelatinosa e transparente localizada entre a retina e o cristlino que serve para manter em seus lugares o globo ocular e a retina. CRISTALINO – Possui uma curvatura. É formado de tecido maleável e transparente. Sua função é focalizar os raios luminosos quando penetram na córnea para formar a imagem na retina. PÁLPEBRAS – Por seus rápidos movimentos no sentido de abrir e fechar servem para proteger o olho contra luzes ou grandes luminosidades. Servemtambém para manter a superfície do olho sempre úmida. IRIS – Colocada diante do cristalino, tem a função de regular a quantidade de luz que atinge a retina. Ela funciona da mesma forma que o diagrama da máquina fotográfica, regulando a quantidade de luz que deve entrar. Se a luz for muito intensa, ela se alarga protegendo a retina. Se a luz incidente for fraca, ela se contrai e a pupila – orifício central – se alarga permitindo a entrada de maior quantidade de luz. FOVEA – Tem um diâmetro aproximado de 0,5 mm e está localizada no centro da retina, próxima ao local de encontro de todas as fibras nervosas à saída da retina. É composta somente de cones, sendo sensível, portanto, aos mínimos detalhes. NERVO-ÓTICO – Serve para levar ao cérebro o estímulo transformado pela retina em sensação fisiológica. No cérebro é que se produz tanto a simples visão, como a sensação da visão de cor. PONTO CEGO – É o cabo único formado pelas fibras nervosas saídas da retina em direção ao cérebro, no qual não existem células visuais. A formação da imagem, como já dissemos, acontece no cérebro, onde está localizada a área de projeção visual. Esta área tem a função de interpretar as imagens recebidas pela retina. A movimentação dos olhos se dá através da coordenação dos músculos formadores do sistema oculomotor. Os músculos controladores destes movimentos são os seguintes: RETOS – Internos e Externos – que servem para mover os olhos, de um lado para outro, se contraindo reciprocamente. RETOS – Superior e Inferior – que movem os olhos para cima e para baixo. OBLÍQUOS – Superior e Inferior – mantém os campos visuais em posições adequadas, girando os globos oculares. Os olhos tem a capacidade de se movimentarem, simultaneamente, na mesma direção. E a este fenômeno a fisiologia dá o nome de movimento conjugado dos olhos. E é desta forma, através do desencadeamento de um complicado processo, que começa na retina e termina no cérebro, que os estímulos externos são transformados em imagens visuais, permitindo ao homem ver o mundo que o rodeia e do qual ele faz parte. 2.1 – Visão da Cor A visão de cores é um processo fisiológico cujo mecanismo, apesar das muitas teorias existentes a respeito, ainda não está totalmente esclarecido. Através dos séculos, desde a Era Cristã, cientistas vem se dedicando ao esclarecimento deste processo. Dentre as inúmeras teorias existentes à respeito deste assunto as que mais se destacaram foram as seguintes: A de Hering, que defende a existência de três diferentes grupos de cones de ação dupla. O primeiro destes grupos sensível a um determinado comprimento de ondas permitindo a percepção de sensações coloridas azuis e amarelas. O segundo, sensível às ondas geradoras de sensações verdes e vermelho. E o terceiro, sensível ao preto e ao branco. Para ele, as três cores primárias existentes são o vermelho, o amarelo e o branco, cujas negativas são respectivamente, o verde, o azul e o preto. Keppers, defende outra teoria, na qual diz existir apenas um tipo de cones sensíveis a todas as variações de intensidade e de longitude de ondas. Diz também que os bastonetes servem para registrar apenas as diferenças de tonalidades. Uma terceira teoria a ser considerada é a de Christine Ladd Franklin, a qual explica que o fenômeno da visão cromática é devido à evolução. Isto é, inicialmente existiam apenas os bastonetes, permitindo a visão do preto, branco e cinzentos. Dos bastonetes surgiram os cones, e destes, posteriormente, surgiu a visão das cores conhecidas atualmente. E, por último, entre as principais teorias formuladas sobre a percepção cromática, encontramos a de Young-Helmholtz a chamada teoria tricromática, que se baseia na existência de três tipos de cones sensíveis às diferentes zonas do espectro de formas diversas. Um grupo de cones sensível aos estímulos causados pelas ondas curtas, outro aos causados pelas ondas médias e por último, um terceiro grupo que reagiria somente aos estímulos ocasionados pelas ondas mais longas. A presente teoria defende, portanto, a existência de três tipos de cones reativos ao azul-violeta, ao verde e ao vermelho-alaranjado. Deste modo a sensação de cor se produziria pelo processo de mescla aditiva de cores. Segundo esta teoria, afirma Modesto Farina, em seu livro “Psicodinâmica das Cores em Publicidade” que, a “estimulação destes três tipos de cones diversos vai produzir 100.000 ou mais sensações diferentes da cor no cérebro”. Dentre todas as teorias conhecidas a respeito da percepção cromática, a de Young-Helmholtz parece ser a mais aceitável cientificamente. Ela tem sido aperfeiçoada e muitos detalhes foram-lhe acrescentados desde 1807, quando Thomas Young a propôs. 2.2 – Daltonismo Quando uma pessoa percebe distintamente todas as cores do espectro dizemos que esta pessoa é normal no que se relaciona à visão das cores. Existem pessoas, porém, que devido ao fenômeno do acrotismo possuem a retina totalmente insensível às cores. Isto, no entanto, só ocorre raramente. O mais comum entre as pessoas que têm problemas quanto à visão cromática é que estas percebem as cores de formas anômalas; ou seja, que não distinguem perfeitamente todas as cores do espectro solar. O daltonismo é a mais comum destas anomalias. É hereditária e mais comum entre os indivíduos do sexo masculino do que feminino. Segundo Modesto Farina, dos indivíduos que sofrem de daltonismo 95% são do sexo masculino constituindo 10% da população masculina. O daltonismo pode ser do tipo protânopo, no qual o espectro solar é encurtado do lado dos grandes comprimentos de ondas, fazendo com que o indivíduo, por possuir menos sensibilidade ao vermelho, confunda as cores vermelha, laranja, amarela e verde; ou do tipo deuterânopo, que é semelhante ao primeiro mas, permite ao indivíduo uma visão mais próxima do normal por não estar o espectro encurtado do lado do vermelho. A visão defeituosa das cores, bem como a própria cegueira a elas, resulta sempre de um funcionamento anormal dos cones. 3.0 – FENÔMENO PSICOLÓGICO DA COR Segundo Aurélio Buarque de Holanda, em seu “Pequeno Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa”, o termo psicologia significa “ciência que estuda as idéias, sentimentos e determinações, cujo conjunto constitui o espírito humano.” A psicologia, portanto, se ocupa da vida espiritual do homem, de seus fenômenos psíquicos, de seus sentimentos e reações. As cores, como já vimos anteriormente, ocupam um lugar de destaque na vida do ser humano, fazendo-lhe companhia diária, tanto em casa como na rua, como também em seu trabalho, agindo constantemente sobre os seus sentimentos, a sua sensibilidade e o seu humor. Não é de estranhar, portanto, que a psicologia venha preocupando-se seriamente com o estudo das cores. A psicologia experimental, onde mais especificamente se enquadram os estudos da cor, teve sua autonomia definitivamente estabelecida por Wundt, que pretende explicar todos os fenômenos como nada mais sendo do que reflexos psicológicos. Wundt, como também Helmholtz, define a distinção que deve ser feita entre sensação e percepção. Define sensação como sendo o simples resultado da estimulação de um órgão sensorial; e percepção como a tomada de consciência de objetos ou acontecimentos exteriores. Ebbinghaus, foi o sistematizador do estudo dos processos superiores – memória, imaginação,faculdade de compreender, etc. – tomando como ponto de partida os domínios da sensação e da percepção. Juntamente com os estudos sobre a memória, realizou pesquisas sobre a inteligência e estudou a teoria das cores. Seus estudos vieram mostrar a existência de certa relação entre a percepção e inteligência; isto equivale a dizer que, quanto mais um individuo percebe maior é a sua inteligência. A reação psicológica é muito importante na percepção da cor por estar relacionada com o processo visual, o qual engloba observação, memória e adaptação dos olhos à cor. A percepção visual é ocasionada por estímulos físicos, mas depende também da resposta psicológica de cada individuo, a qual está sujeita a diversas variações. 3.1 – Influência na escolha das cores Inúmeros são os fatores que influenciam na escolha de cores. Consideraremos, porém, apenas os mais importantes de ordem sociológica, fisiológica e psicológica. Um dos fatores que determinam a escolha de cores são os costumes sociais adotados nas diversas regiões. Podemos observar, por exemplo, as cores nas vestimentas. Antigamente, em nossa cultura ocidental, eram usadas roupas de cores diferentes para distinguir as mulheres jovens das mais idosas. Bem como os homens também costumavam vestir-se com roupas de cores diferentes das usadas pelo sexo feminino. Mas atualmente como podemos observar, estas diferenças tendem a desaparecer dos hábitos sociais. Os significados conotativos das cores também influenciam na formação dos hábitos de um povo; pois estes significados se fixam, de tal forma nas mentes das pessoas que se torna comum usar na linguagem diária frases que empregam sensações visuais para definir sentimentos ou situações por elas vividas. No campo psíquico temos as experiências de Rorschach, que comprovam que os indivíduos mais abertos ao mundo exterior tem maiores preferências pelas cores do que os mais introspectivos, cuja reação é mais voltada para as formas. Segundo Bamz o fator fisiológico é também determinante na escolha de cores, porque as preferências variam de acordo com a idade das pessoas. Segundo ele temos o seguinte quadro de preferências: Vermelho: de 01 a 10 anos (idade da efervescência e da espontaneidade) Laranja: de 10 a 20 anos (idade da imaginação, excitação, aventura) Amarelo: de 20 a 30 anos (idade da força, potência, arrogância) Verde: de 30 a 40 anos (idade da diminuição do fogo juvenil) Azul: de 40 a 50 anos (idade do pensamento e da inteligência) Lilás: de 50 a 60 anos (idade do juízo, do misticismo, da lei) Roxo: de 60 anos em diante (idade do saber, da experiência e da benevolência). De fato, se observarmos adultos e jovens fazendo compras perceberemos que a maioria dos artigos adquiridos pelos adultos estão contidos em embalagens de cores sérias como o azul, por exemplo. Ao passo que os jovens já preferem as cores mais alegres, como mostra Bamz no quadro acima. Em conseqüência de todos estes fatores, as cores são usadas nos mais diversos campos que exploram a sugestionabilidade de acordo com as influências e reações físico-sócio-psíquicas do indivíduo diante delas. 3.2 – Efeitos Físicos da Cor Este é um campo muito vasto e ainda pouco explorado no qual nada está ainda, cientificamente, bem definido. Mas inúmeras experiências vem sendo feitas, as quais têm provado que o indivíduo reage direta e espontaneamente diante da cor. Estas reações causadas pela cor no indivíduo devem-se, além das conotações psicológicas com fatos de sua vida passada, também, às propriedades específicas de cada cor como: claro e escuro, quente e frio, leve e pesado, ativo e passivo, que veremos mais tarde em capítulo à parte. Na cromoterapia, por exemplo, os efeitos pela ação das cores sobre determinadas enfermidades são realmente fantásticos. A prática da cromoterapia se concentrava antigamente em Munique; hoje já se alastra por todos os grandes centros da medicina e inúmeras experiências têm comprovado sua eficácia. Sabendo que as cores atuam sobre os estados de espírito a cromoterapia vem sendo cada vez mais utilizada obtendo-se efeitos diretos das luzes coloridas sobre os indivíduos para curar-lhe as enfermidades, especialmente as de fundo nervoso. Segundo Simão Goldman, a ação das cores não se faz sentir somente através do mecanismo da visão, pois, segundo ele, foi experimentalmente constatado que, dentro de determinados limites, também os cegos reagem à cromoterapia de maneira semelhante a pessoas visualmente normais. Além das doenças de fundo nervoso a cromoterapia mostra-se também eficaz no tratamento de outros tipos de enfermidades como: obesidade, eczemas da pele, reumatismo, problemas da coluna, etc. Cabe lembrar aqui que os “banhos de radiações vermelhas e amarelas atuam como estimulantes mentais e emotivos, tendo também demonstrado sua eficácia em inúmeros casos de enfermidades da pele, em anemia e na redução de inflamações. Verdes e azuis, encontram ótima aplicaçõe no tratamento das enfermidades da mente, excitações e transtornos psicopáticos. Ao passo que verdes são sedantes hipnóticos, azuis funcionam como tônicos e antissépticos. Somente em casos de excitações extremas é que se emprega o violeta como calmante, enquanto que o laranja é usado para levantar o ânimo.” 3.3 – Linguagem das Cores A cor, além de possuir sua nomenclatura e sua sistematização, a qual com pequenas divergências é universalmente reconhecida por todas as ciências, possui também o seu próprio vocabulário para exteriorizar os sentimentos humanos. Cada cor componente do espectro possui, além de suas vibrações magnéticas, um campo de vibrações emotivas e sensitivas com suas características peculiares. Através da cor o artista, o decorador, o engenheiro industrial, o arquiteto, bem como inúmeros outros profissionais conseguem transmitir mensagens que expressam sentimentos, estados de espírito, desejos, etc. Já vimos que a reação do homem à cor é ocasionada por diversos fatores de ordem subjetiva; mas apesar disto, as cores possuem, e isto também influencia, certos significados que as caracterizam. Veremos abaixo um resumo do que os cientistas estabeleceram a respeito do significado psicológico das cores: VERMELHO Associação Material: rubi, guerra, cereja, fogo, lábios, sinal de parada, sangue, sol, coração, ferida, perigo, combate, luta, chama, mulher, rochas vermelhas. Associação Afetiva: barbarismo, vida, energia, revolta, ira, perigo, paixão, dinamismo, força, baixeza, movimento, coragem, intensidade, vulgaridade, vigor, poderio, violência, excitação, calor, glória. LARANJA Associação Material: fogo, pôr do sol, fruto, festa, chama, luz. Associação Afetiva: calor, luminosidade, energia, estímulo, vivacidade, luxúria, dureza, euforia, tentação, alegria, advertência. AMARELO Associação Material: topázio, palha, verão, fruto maduro, enxofre, sol, flores grandes, limão, terra argilosa, ouro. Associação Afetiva: traição, iluminação. covardia, vontade, ciúme, alegria, orgulho, fé, sabedoria, gozo, alerta, conforto. VERDE Associação Material:planície, umidade, verão, mar, tapete de jogos, folhagem, frescor, diafaneidade, primavera, águas claras, bosques, natureza. Associação Afetiva: esperança, amizade, calma, verdade, equilíbrio, saúde, segurança, ideal, tranqüilidade, paz, bem-estar, serenidade, abundância, juventude, crença, adolescência, suavidade. AZUL Associação Material: céu, espaço, viagem, água, horizonte, frio, gelo, montanhas longínquas, mar. Associação Afetiva: verdade, paz, intelectualidade, sentido, precaução, advertência, meditação, serenidade, infinito, nobreza, confiança, frieza, limpeza, repouso, imaterialidade, afastamento. ROXO Associação Material: aurora, igreja, noite, mar profundo, sonho. Associação Afetiva: mistério, profundidade, fantasia, dignidade, justiça, eletricidade, grandeza, misticismo, egoísmo, calma, espiritualidade, delicadeza. VIOLETA Associação Material: noite, flor, igreja. Associação Afetiva: mistério, fantasia, angústia, justiça, profundidade, depressão, intimidade, feminilidade. PÚRPURA Associação Material: vinho, flor. Associação Afetiva: luxo, pompa, valor, satisfação, dignidade, respeito, poder, nobreza, riqueza, pastosidade, melancolia, estima. MARROM Associação Material: outono, águas lamascentas, terra, doença, madeira, café, chocolate. Associação Afetiva: melancolia, traição, isolamento, pesar, humildade. BRANCO Associação Material: farinha, casamento, nuvens, areia clara, leite, neve, lírio, batismo, cisne, primeira comunhão. Associação Afetiva: inocência, dignidade, modéstia, afirmação, pureza, piedade, paz, deleite, despertar, ordem, limpeza, pensamento, simplicidade, bem, otimismo, juventude, luz, virtude, leveza, serenidade, claridade, amplitude. CINZA Associação Material: mar tempestuoso, neblina, ratos, pó, máquinas, chuva, grafite. Associação Afetiva: sombra, passividade, tédio, neutralidade, tristeza, compaixão, passado, velhice, decadência, seriedade, pena, desânimo, sabedoria, finura. PRETO Associação Material: sujeira, morte, noite, enterro, sombra, fumaça, condolência, carvão, graxa. Associação Afetiva: tristeza, oposição, mal, miséria, dor, nulidade, vácuo, agressividade, medo, opressão, trevas, negação, fatalidade, frio, sordidez, pessimismo, desgraça, temor, frigidez, maldade. Estes poderes que as cores exercem sobre os indivíduos podem ser atenuados ou modificados, dependendo das várias associações ou combinações em que as mesmas lhes são apresentadas. Examinando o campo das cores denominadas “quentes”, facilmente podemos estabelecer as relações com as cores “frias”, suas complementares no disco cromático. O vermelho é uma cor que possui calor intenso: é excitante, ativa, possui movimento e equilibra-se quando a misturamos em quantidades óticas iguais com o verde, que é uma cor passiva, repousante e tranqüila. Desta mistura resulta o cinza neutro. O laranja é uma cor dinâmica que lembra a cor do sol. A sua complementar que lhe dá equilíbrio é a fria, estática e quieta cor azul. Ambas misturadas em partes iguais originam o cinza. O amarelo, símbolo do ouro e da arrogância, é a cor mais suave e que contém mais luz. A cor que lhe está diametralmente oposta, ou seja, a sua cor complementar é o violeta, a qual representa os mistérios, opressões e tristezas, exatamente por ser a cor mais pesada e que possui menos luz do espectro. A sua mistura, em quantidades óticas iguais, também dá origem ao cinza neutro. O branco, símbolo da pureza e da inocência, quando misturado ao preto que representa a morte, a tristeza, o mal, imediatamente formam o cinza neutro. Podemos concluir então, que o cinza neutro representa o meio termo entre todas as cores. Representa o equilíbrio, que consciente ou inconscientemente, todos nós buscamos e que é o eterno segredo da harmonia do universo. Equilíbrio transmitido pelo artista em sua obra e revelado pelos sábios através de todas as ciências. CAPITULO III AS PROPRIEDADES DAS CORES III - AS PROPRIEDADES DAS CORES As cores, através de sua ação psíquica, podem alterar a sensação de temperatura criando num ambiente uma sensação de frio ou de calor. Da mesma forma, elas atuam sobre as sensações de dimensão, de peso, de espaço dos ambientes e dos objetos criando ou modificando sensações. Vemos assim que a sensação fisiológica da percepção cromática pode causar uma sensação psicológica confortável ou desconfortável. Isto é de suma importância para os profissionais que usam a cor como ferramenta de trabalho, como o decorador, o artista plástico, o publicitário e muitos outros. Cada uma das cores do espectro eletromagnético apresenta um certo grau de vibração emotiva e possui uma importância específica, que pode ser usada para transformação de um ambiente ou de um estado emocional. Mas a força expressiva da cor tem que ser submetida a uma série de regras, para realmente alcançar sucesso quando usada numa composição. Dependendo da forma como for usada poderá até mesmo anular a sua própria expressividade. Certos artistas, por exemplo, através das forças antagônicas das cores, procuram ocasionar tensão devido à luta destas forças em um mesmo campo. A colocação em plano bidimensional de uma série de tons de uma mesma cor pode causar uma sensação de harmonia. No entanto, esta harmonia pode ser resultante de um estado de palidez das cores apresentadas, não causando impacto nem transmitindo a mensagem deseja pelo artista. Podemos chamar de harmonia uma composição, quando em todas as cores utilizadas para formá-la existe parte da cor básica. A combinação de amarelo, verde, azul e laranja suave pode ser considerada uma composição harmônica, estejam as cores apresentadas no mesmo tom ou em tons diferentes. A combinação de cores totalmente diferentes entre si, tanto apresentadas em tons diversos como no mesmo tom, é chamada de combinação contrastante. Por exemplo, uma combinação de azul, amarelo, roxo e verde. Porém todas estas regras e fórmulas são muito importantes, mas não servem como receitas padrões capazes de permitir a alguém realizar obras perfeitas baseado somente nelas. Conhecer as instruções transmitidas por leis psicológicas ou por dados científicos do emprego do movimento, da cor e da luz, saber que um espaço pode ser alterado visualmente de maneira exata através do correto emprego da cor, são fatores tão importantes como todas as outras informações que o estudo da percepção pode fornecer. Mas, além de tudo isto, o grande fator decisivo para a realização de um bom trabalho é a individualidade daquele que utiliza estes recursos. De qualquer modo, as regras e leis gerais são de grande utilidade para aqueles que tem a capacidade de transmitir e comunicar mensagens através de sua arte, utilizando-se das formas e das cores. E para estes, conhecê-las equivale a aumentar sua capacidade de trabalho. 1.0 – QUENTE E FRIO A sensação de quente e frio diante de uma cor, além de ser relativa ao indivíduo que a percebe, é devida também ao significado psicológico e filosófico específico que as cores possuem e que já assumiu importância universal, por serem experiências da humanidade. As cores consideradas quentes são as componentes do grupo do vermelho, laranja, grande parte do amarelo e uma pequena parte do violeta. As frias pertencem ao grupo do verde, do azul, pequena parte do amarelo e grande parte do violeta. Realmente estascores parecem criar no ambiente e produzir nos indivíduos, estas sensações de calor ou de frio. Além disto, as cores quentes transmitem também sensações de proximidade, opacidade, densidade e estimulam a atividade. As cores principais do grupo das cores quentes são o vermelho, o laranja e o amarelo em seu estado cromático. O vermelho é estimulante de qualquer ação; o laranja é estimulante de sentimento e o amarelo é estimulante da comunicação. As cores frias parecem distantes, leves, úmidas, transparentes, aéreas e calmantes. As principais do grupo são o azul, o verde e o violeta. O azul é delimitativo e retrocessivo. Quando no tom esverdeado, induz o indivíduo ao isolamento e à frieza. Experiência realizada nos Estados Unidos conta que numa indústria norte-americana, localizada em zona de baixa temperatura, os trabalhadores de determinada seção queixavam-se constantemente de sentirem frio, apesar de a temperatura ambiente ser mantida sempre em 22ºC. Após ser revisado todo o sistema de ar do local, um especialista recomendou que a pintura azul- esverdeada das paredes e teto fosse trocada por vermelho-alaranjado. Isto foi feito e, desde então, as reclamações cessaram. “Essa sensação de temperatura provocada pelas cores foi questionada em sua natureza pela equipe do Joint A.S.H.V.E. Illuminating – Engin Soc”. A dúvida residia em considerar esse efeito, ou como puramente fisiológico, ou como psicológico derivado de reação fisiológica que, por sua vez, seria originada nos efeitos metabólicos de produção de calor. As experiências demonstraram que não existia nenhuma correlação definida entre a sensação de calor e a sensação de cor do ambiente, dentro dos limites habituais de conforto. A sensação de frio ou de calor existe, mas fora de toda variação térmica do indivíduo. Assim, trata-se de um efeito psicológico e não fisiológico. 2.0 – LEVE E PESADO O peso atribuído às cores, na realidade, não passa de um valor peso psicológico. Estes juízos e sentimentos produzidos no indivíduo pela percepção cromática são resultantes de efeitos fisiológicos exercidos pelas cores sobre o organismo humano. Pois, como se sabe, a cor cada dia mais vem sendo usada como uma força de terapia. E experiências vêm comprovar a validade deste método de utilizar a cor para curar, ou então, não utilizá-la quando se deseja evitar determinados efeitos psicológicos ou fisiológicos. Segundo Modesto Farina, recomenda-se não pintar de branco o teto do quarto onde o doente deva permanecer por longo tempo; pois como o branco reflete muita luz (reflete todas as cores), pode ocorrer o fenômeno do ofuscamento, que tem a propriedade de ocasionar no doente a sensação de cansaço e de peso na cabeça, devido ao fato de normalmente ele ter de repousar deitado de costas com os olhos voltados para a superfície branca. Este fenômeno pode explicar o cansaço numa pessoa que aparentemente não poderia estar cansada, já que devido a seu estado, encontra-se em repouso. Uma cor dá a impressão de peso, quando em sua composição existe uma parcela de vermelho ou de preto. E mesmo que o tom apresentado possua a luminosidade do amarelo a parcela avermelhada, embora seja matiz rosa, concederá ao tom um valor-peso específico. Portanto, quando estamos em dúvida para decidir se uma cor é leve ou pesada, basta uma rápida análise das parcelas de vermelho ou preto que esta contém. No círculo cromático temos o grupo de cores pesadas representando o violeta, o azul e o vermelho, sendo porém o violeta a cor de valor-peso maior do espectro. A cor amarela é considerada a mais leve, formando o grupo das cores leves juntamente com o laranja e o verde. A mistura destas cores com o branco ou com o preto torna-as, respectivamente, mais leves ou mais pesadas. Experiência foi realizada em determinado grupo de operários os quais foram mandados transportar, manualmente, caixas metálicas pintadas de preto até um ponto relativamente próximo. Após poucos transportes vieram reclamar junto ao gerente, expedidor da ordem, que os pesos dos volumes deveriam ser diminuídos, pois não tinham mais condições de continuar o trabalho devido a fortes dores sentidas nos braços e nas costas. Pesadas as caixas, a balança comprovou que seu peso era inferior ao dos volumes que os reclamantes estavam acostumados a carregar. Os volumes foram então pintados de verde-claro e os serventes receberam ordem de continuar o trabalho. Estes, certos de que os volumes haviam diminuído, agradeceram satisfeitos e continuaram trabalhando ainda mais rápido do que antes e sem falarem mais em dores. Outra experiência conta que alguns objetos iguais foram pintados de cores diferentes – preto, vermelho, púrpura, cinza, azul, verde, amarelo e branco – e que aos mesmos foram atribuídos pesos diferentes. E os oito objetos, todos do mesmo tamanho e com o mesmo peso, porém de cores diferentes, foram colocados a uma certa distância um do outro. As pessoas ali presentes receberam a informação de que os pesos destes objetos variavam entre 3 e 6 kg. Entre o objeto preto e o branco, situados nos dois pontos extremos do conjunto, registrou-se a diferença na avaliação dos pesos em cerca de 2.5 kg. Na verdade, o peso de todos os objetos era o mesmo, ou seja, 4 kg. 3.0 – ATIVO E PASSIVO Outro efeito causado pela cor sobre o indivíduo que a percebe é a sensação de atividade ou passividade que determinadas cores transmitem. As cores frias, do grupo do azul, através de uma sensação de afastamento ampliam os espaços. O vermelho, juntamente com as demais cores quentes de seu grupo, tem a propriedade de se aproximarem. São cores agressivas, as quais avançam em nossa direção. Os objetos pintados com cores quentes e brilhantes – amarelo, laranja, vermelho – atraem mais rapidamente a nossa atenção por parecerem maiores do que os outros, que estão pintados com cores frias e apagadas, como o azul-claro, o verde, o bege. Em sua “Teoria das Cores”, Goethe apresenta o amarelo e o azul, como sendo a cor mais ativa e a mais passiva, respectivamente. ESCALA DE GOETE Mais ativa: Mais passiva: AMARELO AZUL Luz Sombra Claro Escuro Força Fraqueza Calor Frio Perto Longe Atrai Afasta Relativo a ácido Relativo a alcalinos Atividade Passividade Se enfileirarmos uma série de mastros pintados de diversas cores, todos a uma mesma distância, veremos que a nossa atenção se voltará primeiramente para os amarelos e brancos e depois então para os cinzas ou tonalidades apagadas. Os mastros amarelos e brancos além de se destacarem parecerão maiores do que os outros. Desta forma podemos modificar os espaços ambientais. Se formos cuidadosos na escolha de cores poderemos tanto transformar pequenos em amplos ambientes, como locais exageradamente grandes em espaços aconchegantes e confortáveis. Estesconhecimentos assumem grande importância especialmente para aqueles profissionais que lidam diretamente com a cor, valendo-se dela para causar determinados efeitos. Basta olharmos as nossas cidades atuais, onde inúmeros edifícios se erguem em ritmo frenético, todos divididos em pequenos apartamentos, nos quais cada centímetro de espaço será grandemente disputado. Neste caos, por exemplo, o uso bem feito das cores assume uma importância enorme. Segundo Simão Goldmann, o ideal seria o emprego de cores apagadas, mas como estes pequenos apartamentos geralmente são escuros devem então ser usadas cores claras, mas que não sejam muito intensas. Os amarelos, bem como toda a série de amarelos-verdes deve ser evitada. Quando um apartamento é pequeno, outro recurso que pode ser usado para a obtenção de um aparente aumento, é pinta-lo todo de uma só cor, ou ao menos, as peças que se comunicam diretamente. Os tetos, no caso, devem ser pintados da mesma cor, porém em tonalidades levemente mais claras do que as empregadas nas paredes. A cor mais ativa é o quente e pesado vermelho, o qual é excitante por excelência. E sua complementar no círculo cromático, representante da tranqüilidade e da paz exterior, é a fria e leve cor verde, a qual é também indicada como sendo a cor que possui maior passividade. 4.0 – CLARO E ESCURO Assim como as cores quentes são dinâmicas e excitantes e as frias são calmantes e sedativas, as cores claras tem a prioridade de transmitir alegria, ao passo que as cores escuras inspiram no indivíduo sensações de tristeza e de melancolia. É considerada cor clara aquela que envia à visão luz abundante. E cor escura aquela que envia pouca luz à visão. O preto é representante, por excelência, do escuro, pois quando um objeto causa a sensação de preto, sabemos que é devido ao fato de ele absorver todos os raios de luz que sobre si incidem. O branco, ao contrário, representante da luz e da claridade, reflete todos os comprimentos de ondas eletromagnéticas sobre ele incidentes, causando-nos, por isso, a sensação de branco. Como já vimos anteriormente, quando falamos de passividade e atividade das cores, a sua claridade ou escuridão podem também interferir na formação (ou transformação) dos ambientes. Uma superfície branca ou clara parecerá sempre maior, pois a luz que reflete lhe confere amplidão. As cores escuras, porém, diminuem os espaços. Como vemos, em cima, a sala parece mais baixa por ter o teto pintado de preto. Abaixo, a sala parece ser mais ampla por ser toda pintada de tons claros. Sabemos também que um dos fatores determinantes na escolha da cor é o clima das diversas regiões. Segundo Modesto Farina “para se sentir menos calor nas regiões quentes ou no verão, recomenda-se o uso de roupas brancas, amarelas, azuis e verdes, de tonalidades claras, cores estas que refletem os raios solares. O inverno requer a utilização do preto, de tonalidades escuras no azul, cinzento e marrom, porque estas cores absorvem mais calor.” CAPÍTULO IV A PÓS-IMAGEM IV - A PÓS-IMAGEM O fenômeno da pós-imagem pela primeira vez observado pelo Dr. Purknje, em 1882, é explicado como sendo pós-sensações visuais produzidas por dois estímulos sucessivos. As pós-imagens são também conhecidas como sucessivos contrastes de cores. Todo estímulo visual repentino produz pós-imagens. Algumas são fracas e momentâneas; outras, porém, são fortes e de longa duração, dependendo da intensidade de exposição do estímulo. Toda cor intensa, franca e forte observada por um determinado tempo, cria na retina o fenômeno da pós- imagem, ou seja, uma imagem retina. Estas imagens fantasmas, apesar de às vezes serem rápidas, não são ilusões e sim sensações reais. Mas, para o indivíduo desconhecedor de suas causas elas poderão parecer misteriosas ou ilusórias. O fenômeno da pós-imagem comprova a teoria Tricromática de Youn Helmheltz, que se baseia na existência de três grupos diversos de cones, sensíveis às diferentes zonas do espectro. Um grupo de cones, diz a teoria, reagiria à ondas curtas; outro às ondas médias e um terceiro sensibilizar-se-ia somente com o estímulo causado pelas ondas de luz denominadas longas. Cada grupo ou tipo de cones seria, então, responsável pela percepção de uma das três cores juntamente com todas as suas variações. A reação da pós-imagem causada pela recepção das três cores também estabelece a validade de complementaridade das cores componentes do círculo cromático. Também no uso prático da cor, o conhecimento das pós-imagens com suas causas e efeitos é de grande valia. Em locais de trabalho, por exemplo, deve-se procurar dispor as cores de tal forma, que as pós-imagens de uma e outra não afetem a acuidade visual necessária. Isto se consegue utilizando em ambientes de muita luz cores complementares, para que as pós-imagens se sobreponham às cores posteriormente visualizadas. Por outro lado, não devem ser empregadas em ambientes bastante iluminados, cores francas, fortes e intensas ao lado de tonalidades acinzentadas, pois isto faria com que as pós- imagens se sobrepusessem aos cinzas. As pós-imagens são causadas pela excitação e conseqüente fadiga da retina. Por exemplo, quando fixamos por determinado tempo uma luz muito intensa como a do sol, o ponto da retina onde a luz foi focalizada é muito mais estimulado do que toda área ao seu redor. E, segundo Maitland Graves, ao olharmos para outro ponto, primeiro veremos um brilho e a pós-imagem positiva do sol, e só mais tarde, quando a forte fadiga da retina começar a diminuir, veremos então a pós-imagem negativa do sol. Isto se deve ao fato de a retina haver sido estimulada por uma luz muito intensa. A maioria das exposições a estímulos fortes ou intensos produzem apenas pós-imagens negativas fortes de maior duração. Quanto mais fraco o estímulo e menor o tempo de exposição, mais rápidas e fracas serão as pós- imagens negativas. Se olharmos fixamente, por alguns segundos, para o ponto central de um triângulo preto sobre uma superfície branca, sob a ação de um a luz clara, a pós- imagem negativa branca deste triângulo aparecerá ao redor do ponto preto existente abaixo, assim que transferirmos o olhar fixo para este ponto. A pós- imagem branca do triângulo preto aparecerá mais branca do que a superfície sobre a qual se projeta, porque a parte da retina sobre a qual o triângulo preto foi projetado, foi mais estimulada do que a área ao seu redor. As pós-imagens cromáticas são causadas pela parcial, ou temporária cegueira da cor produzida em um olho normal pela dessensibilização de um ou dois dos três tipos de cones sensíveis às luzes vermelha, verde e azul. Esta dessensibilização de um ou dois cones receptores é feita estimulando-os com luz colorida para produzir-lhes fadiga, a qual os tornará menos receptivos, ou parcialmente cegos à luz de determinada cor em particular. Por exemplo, ao fixarmos um triângulo vermelho por alguns segundos sob uma luz brilhante, os receptores do vermelho serão fatigados naquela mancha sobre a retina onde o triângulo vermelho foi focalizado, tornando-os menos sensíveis, ou parcialmente cegos à luz vermelha. Desta forma a pós- imagem negativa do triângulo vermelho, após
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