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O CONCEITO DE INFANCIA Eduardo Paiva Brandão Turma 3 O CONCEITO DE INFANCIA Houve um tempo em que não se tinha a concepção da infância tal como hoje a entendemos, ou seja, como um ser singular, com uma particularidade que a diferencia do adulto. Em História social da criança e da família, Philippe Ariès faz um estudo na Europa, no período compreendido entre a Idade Média e o século XX, para demonstrar como a definição de criança se modificou no decorrer do tempo de acordo com parâmetros ideológicos. Pela análise de pintu- ras, diários, esculturas e vitrais produzidos na Europa no período anterior aos ideais da Revolução Francesa, Ariès forja a expressão "sentimento da infância" para designar "a consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto" Na Idade Média, a criança era vista como um pequeno adulto, sem caracteristicas que a diferenciassem, é desconsiderada como alguém merecedor de cuidados especiais. Isso não significava que as crianças fossem até então desprezadas ou negligenciadas, mas sim que não se tinha consciència de ma serie de particularidades intelects, comportamen tais e emocionais que passaram, então, a ser consideradas como inerentes ou até mesmo naturais as crianças Aries comenta, inclusive, que os pintores ocidentais reproduziam rianças vestidas como pequenos adultos, e que somente percebemos se tratar de uma criana devido ao scu Lamanho reduzido Pode-se perceber que o sentimento da infância não existia para o homem medieval, ou melhor, predominava o que Ariès denomina "paparicação", ou seja, um tratamento superficial que dedicavam à criança enquanto ela ainda era um bebê engraçadinho. Em Rousseau, o termo criança remete a essa etapa da o infante, aquele que não fala desprovido de toda sexualidade, e foi essa idéia que se impôs no imaginário social Também é importante ressaltar que, no século XVII, a |Igreja já se preocupava em afastar a criança de assuntos liga- dos ao sexo, apontando as inadequações que estas vivências traziam à formação do caráter e da moral dos indivíduos. Construíram escolas onde, além da preocupação básica com o ensino da religião e da moral, ensinavam-se habilidades como leitura, escrita, aritmética etc. Já no século XIX e mesmo no século XX, observamos uma preocupação mais ampla e sistemática com o estudo da criança e a necessidade de uma educação mais formal. A pedagogia, a pediatria e as especializações em torno da criança desenvolvem-se rapidamente. O discurso psicológi- co destaca-se como aquele capaz de produzir um discurso científico sobre a infância no qual a pedagogia, cada vez mais, vai se ancorar para produzir práticas educativas e sa- neadoras. Esse caráter normatizador torna-se imperativo principalmente na infancia, que é a etapa da vida em que o desenvolvimento do caráter encontra-se em fase embrioná- ria e, portanto, mais suscetível às influências externas. Entendemos que o desenvolvimento das ciências pro- porcionou um estudo mais amplo sobre a criança, porém resultou na desqualificação da família como aquela que po- deria gerir a educação dos filhos. Os pais tornaram-se sub- missos aos ditames da ciência, esta sim, capaz de instruí-los quanto à forma correta de conduzir a educação das crianças. Portanto, dentro de uma perspectiva histórica, pode- mos observar que partimos de um momento no qual pre- dominou um total desconhecimento da criança e que, no decorrer dos séculos, o discurso ideológico sobre a infância ressaltou a representação da criança marcada por uma na- tureza a ser corrigida pelo adulto, um ser assexuado, sem desejo próprio, imaturo. Essa idéia imperou por muito tem- po e foi somente a partir das teorizações de Freud concepção se modificou.