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METODOLOGIA DA PESQUISA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Dra. Ivonete Telles Medeiros Plácido Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: P698m Plácido, Ivonete Telles Medeiros Metodologia da pesquisa. / Ivonete Telles Medeiros Plácido. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 81 p.; il. ISBN 978-65-5646-013-0 ISBN Digital 978-65-5646-004-8 1. Pesquisa - Metodologia. - Brasil. Centro Universitário Leon- ardo Da Vinci. CDD 001.42 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO .....................................................................................7 CAPÍTULO 2 PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO POR MEIO DA PESQUISA E AS ETAPAS DO PROCESSO DE PESQUISAS CIENTÍFICAS ...........................................................37 CAPÍTULO 3 TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – TCC .......................63 APRESENTAÇÃO Caro acadêmico, o livro Metodologia da Pesquisa Científica foi pensado para proporcionar a você um conteúdo com elementos que o ajudem no momento de elaborar seu trabalho de conclusão de curso. Não somente neste momento, mas que possas visitar e revisitar os escritos sempre que precisar consultar o material ao elaborar trabalhos acadêmicos! Durante a trajetória de sua vida acadêmica, você deve ter feito diversos trabalhos de cunho científico. Assim, podemos inferir que tenha um conhecimento prévio do que se utiliza na comunidade científica para este fim. De forma didática, o livro está dividido em três capítulos. No Capítulo 1, será abordado o processo de pesquisa, conhecimentos e método científico, em que será apresentada a definição de metodologia da pesquisa e o seu planejamento. Será apresentada as vantagens de se utilizar o método científico, os hábitos de estudo e o que caracteriza o conhecimento como sendo científico, bem como os tipos de conhecimento. No Capítulo 2, apresentaremos a produção e a transmissão do conhecimento por meio da pesquisa científica e as etapas do processo de pesquisas científicas, em que a jornada do saber inicia com breves reflexões sobre como a ciência evolui para se tornar conhecimento, também trataremos sobre as escolas do pensamento científico e como podemos entender o que é método e metodologia. No Capítulo 3, trataremos sobre a monografia e o trabalho de conclusão de curso, apresentando os tópicos básicos para a elaboração de um projeto de trabalho final de curso e também qual é o modelo utilizado pela instituição. Portanto, esperamos que os conteúdos abordados estimulem sua leitura e que o livro de estudos seja útil e relevante em sua aprendizagem e formação profissional. Boa leitura e bons estudos! CAPÍTULO 1 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Entender o processo de pesquisa contextualizado com a metodologia da pesquisa científica. � Conhecer os aspectos da ciência e a sua aplicabilidade no contexto da pesquisa científica. � Compreender os tipos de conhecimento e a coexistência entre eles. 8 Metodologia da Pesquisa 9 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A atividade intelectual da pesquisa visa à construção do conhecimento. Essa construção pode significar descoberta ou avanço para a ciência ou descoberta e avanço do conhecimento do aprendiz, na medida em que se apropria, individualiza ou faz seu o conhecimento já desenvolvido e tornado disponível pelas diversas ciências. Nos dois casos, a postura e o método científico são indispensáveis. Ruiz (1991) aponta muito bem para essas necessidades comuns entre os dois níveis da pesquisa ao dizer que a diferença entre os trabalhos dos cientistas e o dos estudantes universitários não deveria residir no método, mas nos propósitos. Os cientistas já estão trabalhando com o intuito de promover o avanço da ciência para a humanidade; os estudantes ainda estão trabalhando para o crescimento de sua ciência. Ambos, porém, devem trabalhar cientificamente. Os estudantes trabalham cientificamente quando realizam pesquisas dentro dos princípios estabelecidos pela metodologia científica, quando adquirem a capacidade não só de conhecer as conclusões que lhes foram transmitidas, mas se habilitam a reconstituir, a refazer as diversas etapas do caminho percorrido pelos cientistas. A seguir, um breve conceito e as vantagens de utilizar o método científico na elaboração de pesquisas. 2 DEFINIÇÃO Segundo Saunders, Lewis e Thornhill (2009), a metodologia refere-se aos fundamentos teóricos sobre como a pesquisa será realizada ou, ainda, estudos dos métodos que são empregados nas mais diversas ciências, com seus fundamentos e validações, bem como a relação com as teorias científicas. De acordo com Martins (2000), há teóricos que utilizam o termo metodologia, independente do seu cunho científico. A metodologia científica é o saber produzido através do raciocínio lógico aliado à experimentação prática, caracterizando-se por um conjunto de paradigmas para a observação, a identificação, a descrição, a investigação experimental e a explanação teórica de fenômenos. O método científico envolve técnicas exatas, objetivas e sistemáticas, implementadas através de regras fixas para a formação de conceitos, para a condução de observações, para a realização de experimentos e para a validação de hipóteses explicativas. 10 Metodologia da Pesquisa O objetivo básico da atividade científica não é o de descobrir verdades ou ser uma compreensão plena da realidade, mas sim o de fornecer um conhecimento que, ao menos provisoriamente, facilite a interação com o mundo, permitindo previsões verificáveis sobre eventos futuros e indicando mecanismos de controle para que se possa intervir favoravelmente sobre eles. 3 VANTAGENS DA METODOLOGIA CIENTÍFICA O uso do método científico agrega vantagens específicas ao saber por ele produzido, incluindo: • A produção de um conhecimento prático e aplicável, que pode ser usado diretamente para a previsão e/ou controle de fenômenos e ocorrências. • O uso de uma expressão objetiva e detalhada não apenas do saber que é produzido, mas também do modo como se chegou até ele, permitindo um conhecimento amplamente compartilhável e transmissível, independentemente do conteúdo; verificável e passível de quantificação do grau de confiança que se pode ter nele. • Redução ou minimização dos vários tipos de viés que podem surgir na observação e interpretação dos diversos fenômenos que se pretende estudar. • Fornecimento de suporte metodológico e representacional ao pensamento, permitindo o uso de ferramentas socioculturais e tecnológicas que favorecem a transcendência das limitações individuais do pesquisador em suas análises e sínteses. Assim, tem-se que fazer ciência é um processo complexo, demorado e de difícil execução, porém o seu uso é justificado pelos benefícios que traz em termos de praticidade, transmissibilidade, verificabilidade, solidez e alcance. Nesse tópico, não exaurimos o assunto método, porém,no próximo capítulo, apresentaremos de forma mais específica este tema. Assim, para que se possa colocar em prática, apresentaremos no próximo tópico, sugestões para desenvolver hábitos de estudo. 11 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 4 HÁBITOS DE ESTUDO A vida acadêmica de um estudante de qualquer nível traz consigo uma série de alterações nos seus hábitos estudantis. Isto porque muitas vezes o estudante não possui programação habitual de estudo e pesquisa. Para a realização plena de um estudo, principalmente em cursos de graduação e pós-graduação, torna-se necessária a adoção de hábitos de estudo. De acordo com Bastos e Keller (1996), dizemos que, filosoficamente, o hábito pode ser definido como uma qualidade estável e permanente, boa ou má, que torna a ação fácil. É importante que cada estudante descubra sua melhor maneira de estudar. Alguns acreditam que só aprendem com o outro lendo, outros, se isto acontecer, não gravam uma frase sequer; alguns preferem um canto quieto e sem movimentos que desviem a sua atenção; outros procuram estar de frente para uma avenida de grande movimento; alguns escolhem a opção de deitar-se no carpete, outros vão para o fundo da casa e passam grande parte do tempo mirando a paisagem; alguns buscam a beira-mar, outros atraídos pelos corredores agitados. Não há muita diferença entre estudar e andar de bicicleta ou nadar, porque qualquer atividade requer repetição e disciplina, até incorporar-se ao comportamento do sujeito. Assim como andar de bicicleta ou nadar não se aprende teoricamente, mas andando ou nadando, da mesma forma estudar se aprende estudando, ou seja, formando hábito de estudo. A formação de hábito requer disposição, determinação e disciplinas pessoais. Para que o hábito de estudo seja desenvolvido, requer-se ainda uma determinada organização. Nesta organização para a formação do hábito de estudo devem ser levados em consideração três elementos: tempo, material e ambiente. 4.1 TEMPO Para quem julga que não tem tempo para estudar, o que lhe serve de justificativa para o baixo rendimento acadêmico, responde-se “tempo é questão de preferência”. O espaço para estudar poderá ser: aberto, porque normalmente gasta-se mais tempo que o necessário para a execução de qualquer tarefa. É impossível que alguém não consiga abrir espaços de 10 ou 15 minutos entre uma atividade e outra, por exemplo: refeições, higiene, transportes etc. Pode parecer pouco, mas bem aproveitados, estes espaços representarão, pelo menos, 30 minutos diariamente, 3 horas e meia por semana, 15 horas mensalmente e 180 12 Metodologia da Pesquisa horas anualmente. Este tempo é superior a qualquer disciplina ofertada em um semestre. Uma vez aberto este espaço, deve tratar-se de aproveitá-lo com o máximo de concentração e atenção. Como faz parte do hábito, ou seja, da formação do hábito, é recomendável que os horários sejam sempre os mesmos. 4.2 MATERIAL Considerando que, atualmente, temos à disposição muito material disponível de forma virtual, é necessário organizar o material que utilizaremos para estudo. Essa organização começa pela formação de um acervo pessoal, que consta livros introdutórios, textos fornecidos pelos professores, revistas e sites especializados, dicionários, além do aproveitamento de sala de aula. Esse acervo deverá ser formado no transcorrer do curso a partir das indicações fornecidas pelos professores das diversas disciplinas, segundo sua ordem de facilidade e importância. Em outras palavras, é a formação de uma biblioteca pessoal especializada. Claro que, hoje em dia, temos a tecnologia a nosso favor, então, esse acervo pode ser compilado em um pendrive, tablet ou até mesmo no smartphone. 4.3 AMBIENTE É importante que o estudante tenha um local próprio e apropriado para o estudo. O local deverá satisfazer algumas condições como: iluminação, arejamento, silêncio e ordem. Esses itens, de acordo com Marconi e Lakatos (2010), devem ser observados por questões fisiológicas e psicológicas, visto que a memória tem seu centro primitivo no olfato (arejamento); a memória é mais auditiva que visual (silêncio); ambientes mal iluminados tornam o estudo mais cansativo e, como é óbvio, danificam a visão: ambiente desordenado é a causa de dispersão da atenção (ordem). Caso o estudante não consiga estudar sem ouvir música, recomenda-se que a utilize a seu favor com fator de associação, por exemplo, ouvindo o mesmo estilo de música para o mesmo assunto ou ao gosto do estudante. Nos tópicos seguintes, apresentaremos algumas sugestões para desenvolver hábitos de leitura. 13 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 4.4 A LEITURA TRABALHADA Não basta ir às aulas para garantir pleno êxito nos estudos. É preciso ler e, principalmente, ler bem. Quem não sabe ler não saberá resumir, não saberá estudar, logo, escrever poderá se tornar uma prática pouco atrativa. Ler bem é o ponto fundamental para os que quiserem ampliar os conhecimentos do tema a ser pesquisado e desenvolver bom trabalho. É muito importante participar das aulas; elas não circunscrevem, não limitam, ao contrário, abrem horizontes para as grandes caminhadas do aluno que leva a sério seus estudos e quer atingir resultados plenos de seus cursos. Aliás, quase todas as cadeiras desenvolvem programas de pesquisas bibliográficas para que o aluno desenvolva temas e reconstrua ativamente o que outros já construíram. Para elaborar um trabalho de pesquisa, é necessário ir às fontes, aos autores, aos livros; é preciso ler, ler muito e, principalmente, ler bem. A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência pelo contato com formas e ângulos diferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado. Quem lê constrói sua própria ciência: quem não lê memoriza elementos de um todo que não se atingiu. Ao terminar um curso de graduação, deveríamos não só estar capacitados a repetir muitas das coisas aprendidas na faculdade, como também estar habilitados a desenvolver, através de pesquisas, temas nunca abordados em aula. Deveríamos ser pequena fonte, não um pequeno depósito de conhecimento, ou mero encanamento. A leitura é um processo que envolve habilidades, entre as quais a interpretação do texto e sua compreensão. O processo inicia pelo reconhecimento das palavras impressas, o que pode ocorrer sílaba por sílaba, palavra por palavra, conjuntos de palavras ou captação de frases inteiras. Após o reconhecimento, passa-se a interpretação do pensamento do autor para, a seguir, compreendê-lo. O passo seguinte será a retenção das ideias do autor e, quando necessário, a reprodução das ideias de modo pessoal, o que confirma a compreensão. A leitura não é simplesmente um deslizar dos olhos pelas letras impressas. Quando o olho salta, permanece cego, nada vê. Quando se fixa consegue ver. Veja algumas conclusões que se pode tirar do exercício da leitura: • A boa leitura depende do número de fixação por linha. • Captar um conjunto de palavras em cada fixação aumenta a velocidade da leitura. • Quando se lê uma sílaba por sílaba ou palavra por palavra, além de a 14 Metodologia da Pesquisa leitura ser mais lenta, o significado permanece truncado. • Para alguém tornar sua leitura mais eficiente, precisa aprender a ler pelo significado, o que se consegue captando conjuntos de palavras. 4.5 REQUISITOS PARA UMA LEITURA TRABALHADA a) Como selecionar o que ler O título do livro é a primeira informação que temos sobre o seu conteúdo, mas não deve figurar como critério de escolha para a leitura. Devemos examinar sumariamente o livro cujo título nos interessa à primeira vista. É necessário verificarmos o nome do autor, seu curriculum; devemosler a “orelha” da obra, o índice da matéria, a documentação ou as citações de rodapé, a bibliografia, assim como verificar a editora, a data, a edição e ler rapidamente o prefácio. A convergência desses vários elementos ajuda a selecionar o que ler. Ademais, podemos consultar professores da respectiva área. No caso de artigos científicos e materiais acessados pela internet, podemos conseguir informações através do resumo. b) Comodidade e higiene na leitura O ambiente material de leitura deve reunir condições que a favoreçam. É preferível ler em ambiente amplo, arejado, bem iluminado e silencioso. É preferível ler sentado a ler em pé ou deitado. Além do texto a ser lido, é importante ter em mãos um bom dicionário, lápis e um bloco de papel. Não esqueça de concentrar- se naquilo que se vai fazer. Mesmo nesta era de tecnologias, já podemos contar com apetrechos para anotação, como é o caso de tablets versão note, em que existe caneta específica para anotação ou, ainda, documentos em PDF que já permitem anotações. c) Definição de propósitos A finalidade básica da leitura cultural é a procura, a retenção, a captação, a crítica e a integração de conhecimentos, e isso se faz, em primeiro lugar, pela procura das ideias-mestras, das ideias principais, também chamadas ideias diretrizes. Cada texto, cada seção, cada capítulo e, mesmo cada parágrafo, tem uma ideia principal, uma palavra-chave, um conceito fundamental. Em cada parágrafo é importante o leitor captar a ideia principal, deve concentrar-se em sua procura. É importante que o leitor vá além das palavras, 15 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 ou seja, deve perceber o pensamento contido e o decodificar, deve ler as ideias e as hierarquizar enquanto lê, de maneira a encontrar a ideia-mestra ou a palavra- chave. Quem lê ideias é mais veloz na leitura e capta melhor o que lê. Isto, é claro, é fruto de treinamento e exercícios. À medida que lê vai elaborando mapas mentais sobre o tema. d) Sublinhar Sublinhar é uma arte que ajuda a colocar em destaque as ideias-mestras, as palavras-chave e os pormenores importantes. Quem sublinha com inteligência está constantemente atento à leitura, descobre o principal em cada parágrafo e o diferencia do acessório. Esse propósito mantém o estudante concentrado e em atitude de crítica durante todo o tempo dedicado à leitura. Além desse efeito benéfico, já durante a leitura, o hábito de sublinhar com inteligência favorece o trabalho das revisões imediatas, bem como as revisões globalizadas posteriores. Cada um pode adotar uma simbologia arbitrária e pessoal para sublinhar e fazer anotações à margem dos textos. Basta que a simbologia adotada mantenha uma significação bem definida e constante. Segundo Tierno (2005), o ato de sublinhar promove alguns ganhos para as técnicas de estudo. • Sublinhar apenas as ideias principais e os detalhes importantes. • Não sublinhar por ocasião da primeira leitura, exceção aos que dominam a sua área. • Reconstruir o parágrafo a partir das palavras sublinhadas. • Ler o texto sublinhado com a continuidade e plenitude de sentido de um telegrama. • Sublinhar com dois traços as palavras-chaves da ideia principal e com um único traço os pormenores importantes. • Assinalar com linha vertical a margem do texto e as passagens mais significativas. • Assinalar com um sinal de interrogação a margem e os pontos de discordância. Apresentamos informações sobre os elementos que compõem hábitos de estudo e de que forma podem ser introduzidos em nossa rotina de estudos, no próximo tópico, será apresentado como se desenvolve o processo de pesquisa. 5 PROCESSO DE PESQUISA Por pesquisa, segundo Marconi e Lakatos (2010), entende-se como sendo 16 Metodologia da Pesquisa um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo e que requer um tratamento científico. O trabalho de pesquisa visando à construção do conhecimento desenvolve- se por etapas, que se constituem num método, num caminho facilitador do processo. Essas etapas são didaticamente separadas em: preparação, construção e constatação. Veja, a seguir, cada uma delas. 5.1 PREPARAÇÃO O momento de preparação também pode ser considerado como o momento de ruptura. De acordo com Quivy e Campenhoudt (2005), todos carregamos uma “bagagem” teórica, que na hora de aplicar à pesquisa, pode nos empurrar para uma armadilha. Isto porque uma parte de nossas ideias se inspiram em aparências, partidarismo ou senso comum. Outras vezes, podem ser ilusórias ou preconceituosas no momento de construir pesquisa de cunho científico. Portanto, neste momento, da preparação, devemos romper com estas ideias, desconstruindo-as e nos cercando do conhecimento científico a fim de produzir pesquisas com bases sólidas. 5.2 CONSTRUÇÃO A construção pode ser entendida como a parte teórica e é considerada um ponto fundamental para a elaboração de propostas e planos de pesquisa científica sólidos. De acordo com Quivy e Campenhoudt (2005), a definição dos passos a serem realizados e estimativa dos resultados esperados também dependem da teoria. Sem este processo de construção não teremos propostas válidas. Isto nos leva ao próximo momento do processo, a constatação. 5.3 CONSTATAÇÃO Quivy e Campenhoudt (2005) entendem este momento como aquele em que se apresenta uma proposta de pesquisa considerada científica, ou seja, quando a proposta pode ser avaliada por conter informações da realidade concreta. Pode ser chamada também de experimentação. A preparação, a construção e a constatação são três eixos principais e 17 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 interdependentes que estão interligados no processo de pesquisa. Eles podem acontecer mais de uma vez durante a pesquisa e dizemos que, sem o momento de ruptura, não é possível a constatação. A qualidade da pesquisa depende da sincronia desses três elementos. Após as considerações iniciais do processo de pesquisa, iremos avançar, assim, poderemos perceber que os demais passos que seguimos no momento de pesquisar, está ou estará, em algum momento, acontecendo em uma das três oportunidades que apresentamos anteriormente (preparação, construção e constatação). Minayo (2002) nos diz que o processo de pesquisa se inicia com o que alguns autores denominam de “fase exploratória” da pesquisa. Essa fase não deve ser confundida com a chamada “pesquisa exploratória”, que será apresentada em momento oportuno. Mesmo apresentando certas semelhanças, a fase exploratória diz respeito a uma sequência de etapas que objetivam o aprofundamento e a compreensão preliminar do objeto estudado. Minayo (2002) apresenta algumas etapas da fase exploratória de pesquisa: • a escolha do tópico de pesquisa; • a delimitação do problema; • a definição do objeto e dos objetivos; • a construção do marco teórico conceitual; • a escolha dos instrumentos de coleta de dados; • a exploração de campo (o campo empírico). O planejamento dessa fase deve ser cuidadosamente elaborado e pode ser seguido para a realização de pesquisas para escrita de artigos, monografias, teses e dissertações, pois trata-se de um processo que é a base de um bom projeto de pesquisa. Trataremos especificamente sobre o projeto de pesquisa no Capítulo 3. O marco teórico é o estabelecimento de um conjunto bem articulado e coerente de teorias e conceitos, que fundamentam teoricamente a pesquisa. Em geral, o marco teórico é representado ao final de um capítulo ou de uma seção por um quadro-síntese conceitual denominado “quadro teórico”. Pode também ser denominado como “referencial teórico” ou “modelo de análise”. 18 Metodologia da Pesquisa 6 PLANEJANDO A PESQUISA A etapa do planejamento da pesquisa também pode ser entendida como um pré-projeto e faz parte da fase exploratória. A pesquisa científica objetiva, em última análise, responder àsnecessidades humanas. É, porém, uma atividade teórica, racional e deve, portanto, desde o início, assumir o formato de atividade intelectual planejada. É no pré-projeto que o pesquisador vai ter as primeiras ideias sobre o que pesquisar. O que se pretende é, a partir de um tema, gerar uma ou mais hipóteses. A necessidade de pesquisar e investigar só toma forma e concretiza-se diante de uma hipótese, pois temas apenas anunciam a presença de uma necessidade humana qualquer. A atividade intelectual propriamente dita inicia-se pela percepção e problematização da necessidade. Daí, pode-se dizer que sem hipótese(s) não há pesquisa. Pode-se dividir a atividade de pré-projeto em cinco passos básicos: escolha do tema, revisão de literatura, problematização, seleção/delimitação e geração da(s) hipótese(s). 6.1 ESCOLHA DO TEMA Sugerem-se alguns critérios que ajudarão na escolha adequada de um tema de pesquisa: a) Gosto pessoal, preparo técnico e tempo disponível Um tema da preferência do pesquisador gera empatia, entusiasmo e favorece a perseverança. A formação cultural e a vivência pessoal garantirão o início bem- sucedido do processo de busca; o tempo para dedicação garantirá a continuidade do processo até o ponto necessário/desejado. b) Importância ou utilidade do tema Um tema tem relevância social quando o desenvolvimento e as conclusões acenam com uma contribuição direta para a sociedade. c) Existência de fontes É condição essencial. É até possível pesquisar algo desgostoso e irrelevante; é pesquisar sem fontes de dados. 19 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 Em resumo, o tema ideal para pesquisa é aquele que preenche as três características: atende ao gosto, aptidão e tempo do pesquisador; é relevante para uma sociedade, uma ciência ou para a escola; e sobre ele é possível obterem-se dados. 6.2 REVISÃO DE LITERATURA Uma vez escolhido o tema, o próximo passo é procurar materiais escritos que tratem do assunto. Embora seja verdade que ao escolhermos determinado tema algo dele já nos é conhecido, a releitura exploratória tem o mérito de aumentar a extensão e a profundidade dos conteúdos conhecidos. 6.3 PROBLEMATIZAÇÃO A problematização é a transformação de uma necessidade humana em problema que, por sua vez, define-se como “necessidade humana, quando pensada”. O que se faz, na realidade, é dividir a necessidade em seus aspectos componentes julgados importantes. Segue-se aquilo que foi aconselhado por René Descartes (2002): divide-se um problema em tantas partes quantas necessárias para bem resolvê-lo. Sugere-se o “questionário” como instrumento de problematização. As respostas devem ser colocadas em uma frase única, que indique aquilo que o pesquisador sabe como resposta naquele momento, a respeito do assunto. 6.4 SELEÇÃO/DELIMITAÇÃO DO ASSUNTO As pesquisas podem considerar a extensão e a profundidade do assunto, isto é, podem ser feitas privilegiando a multiplicidade de aspectos conhecidos que compõem um tema, seus aspectos “horizontais”, a extensão do assunto. Podem também se concentrar em aspectos “verticais”. Tenderia, neste caso, a diminuir a extensão do assunto e a sua multiplicidade horizontal, para possibilitar o aprofundamento. Na prática, seleção/delimitação de um assunto consiste em escolher, entre os vários aspectos anteriormente levantados, aquele que merecerá estudo e 20 Metodologia da Pesquisa investigação no momento. De qualquer maneira, mesmo que todos os aspectos fossem considerados importantes, seria tratado um por vez. 6.5 GERAÇÃO DE HIPÓTESE(S) Hipótese é caracterizada como uma “verdade provisória”. É fundamental para qualquer processo de investigação científica, pois consiste no lançamento de uma afirmação a respeito de algo ainda desconhecido, ou pelo menos, não satisfatoriamente conhecido. Em pesquisas de ponta, lança-se uma afirmação a respeito do desconhecido, com base no conhecimento que a humanidade construiu e publicou a respeito do tema. Em pesquisas acadêmicas, faz-se a mesma coisa, porém com base no conhecimento já construído pelo pesquisador. É a partir de uma “base conhecida” que se lançará um novo desafio de conquista intelectual. Tudo que foi apresentado até o momento pode ser sintetizado na figura apresentada a seguir. FIGURA 1 – PERGUNTAS PARA A ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA FONTE: Adaptada de Minayo (2002) As respostas a essas perguntas constituem-se um roteiro que pode ser seguido no momento de iniciar a pesquisa. Todavia, de forma geral, nem sempre é possível responder todas essas questões logo no início, pois exigem clareza a respeito do objeto de pesquisa, que somente é possível após sucessivas leituras e troca de ideias com o orientador, necessitando muitas vezes certo conhecimento 21 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 empírico. Nos próximos tópicos serão apresentados assuntos relacionados com o tema ‘conhecimentos e método científico’. 7 CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Neste tópico serão apresentados assuntos relacionados com o tema ‘conhecimento e método científico’, visto que não é possível falar sobre este assunto sem antes tecermos algumas considerações sobre ciência e natureza da ciência. Em seguida, serão apresentados os tipos de conhecimentos. 7.1 DEFINIÇÃO DE CIÊNCIA O termo ciência, em sentido geral, quer dizer “saber, conhecimento”; em sentido restrito, como é usada hoje a ciência, quer dizer “conhecimento das coisas pelas causas”, ou como diria Francis Bacon (1561-1626), “o conhecimento em si mesmo é o poder” (SUPERINTERESSANTE, 2015). Como vemos, a ciência gira em torno do conhecimento e da busca por ele. A ciência é conhecimento, mas isso não implica afirmar que todo o conhecimento é ciência. Como já vimos anteriormente, há vários tipos de conhecimento e todos eles têm seus aspectos de verdade, mas isso não significa que todos sejam científicos. Segundo Chauí (2000, p. 10): As ciências pretendem ser conhecimentos verdadeiros, obtidos graças a procedimentos rigorosos de pensamento. Pretendem agir sobre a realidade, através de instrumentos e objetos técnicos. Pretendem fazer progressos nos conhecimentos, corrigindo-os e aumentando-os. 7.2 NATUREZA DA CIÊNCIA Duas dimensões devem ser explicadas quando se trata de analisar a natureza da ciência, mas que se apresentam inseparáveis: a) A compreensiva (contextual ou de conteúdo). b) A metodológica (operacional). Essa abrange aspectos lógicos e técnicos. 22 Metodologia da Pesquisa Pode-se conceituar o aspecto lógico da ciência como o método de raciocínio e de inferência acerca dos fenômenos já conhecidos ou a serem investigados; em outras palavras, pode-se considerar que o aspecto lógico constitui o método para a construção de proposições e enunciados, objetivando, dessa maneira, uma descrição, interpretação, explicação e verificação mais precisa. A logicidade da ciência manifesta-se através de procedimentos e operações intelectuais que, de acordo com Trujillo (1974): a) Possibilitam a observação racional e controlam os fatos. b) Permitem a interpretação e a explicação adequada dos fenômenos. c) Contribuem para a verificação dos fenômenos, positivados pela experiência ou pela observação. d) Fundamentam os princípios da generalização ou o estabelecimento dos princípios e das leis. Por sua vez, o aspecto técnico da ciência pode ser caracterizado pelos processos de manipulação dos fenômenos que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar, cuidando para que sejam medidas ou calculadas com a maior precisão possível, registrando-se as condições em que eles ocorrem, assim como sua frequência e persistência, procedendo-se a sua decomposição e recomposição, sua comparação com outros fenômenos, para detectar similitudes e diferenças e, finalmente, seu aproveitamento. 7.3 COMPONENTES DA CIÊNCIA As ciências possuem:a) Objetivo ou finalidade: preocupações em distinguir a característica comum ou as leis gerais que regem determinados eventos. b) Função: aperfeiçoamento através do crescente acervo de conhecimentos da relação do homem com o seu mundo. c) Objeto: subdivido em: o Material: aquilo que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar, de modo geral. o Formal: o enfoque especial, em face das diversas ciências que possuem o mesmo objeto material. 23 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 7.4 CARACTERÍSTICA DA CIÊNCIA Através da análise, a ciência resolve os casos concretos e complexos em seus elementos simples e abstratos. Os seres são decompostos em seus elementos mais simples para serem medidos. O aspecto qualificativo dos fatos, para ser tratado cientificamente, tem de sofrer um processo de mensuração. Assim, a própria qualidade tem de ser expressa em termos de quantidade. Os fatos são relacionados pelas leis, para que constituam princípios gerais ou teorias. A ciência satisfaz o espírito e esclarece dúvidas, explicando o “como” e o “porquê” dos fatos. Diz como se processa um fato e porque ele ocorre. Graças a essas maneiras de estudar os fatos, tornou-se possível à previsibilidade, tão necessária ao homem. A previsibilidade em Ciência não é mais do que o fruto de uma certeza quanto ao comportamento dos fatos. Ninguém, sinceramente, faria uma previsão sem ter certeza da veracidade dos dados de que dispõe. Essa certeza é oriunda de que todos os fatos se submetem a uma causa ou conjunto de causas e que não ocorrem espontaneamente, arbitrariamente. Em outras palavras, que nas mesmas circunstâncias, as mesmas causas produzem os mesmos efeitos, o que vem dar o postulado fundamental, de que a natureza é uniforme e que um determinismo científico, absoluto, rege todos os fenômenos. A ciência é fundamentalmente metódica. É certo que muitas descobertas científicas se realizaram à revelia de qualquer método, mas isso não passa de exceção. Um dos instrumentos de validade para os conhecimentos científicos é a metodologia adotada pela Ciência. A Ciência anda sobre o método, método para tudo: para investigar, comprovar e sistematizar. O conhecimento científico, por certo, não satisfaz o homem somente pelo auxílio que lhe empresta, mas também pela satisfação que causa a sua curiosidade, com fim puramente especulativo. O que não se pode dizer é que o homem chegue a ‘fazer ciência desinteressadamente’, pois por mais que não haja, há o interesse pela própria ciência. Assim, pode-se dizer que a ciência tem duas funções: especulativa e prática. • Na função especulativa, o homem encontra interesse no seu próprio trabalho, no descobrir novas relações de causalidade. • Na função prática, ao contrário, o homem tem interesse na aplicação dos conhecimentos teóricos para atender às necessidades de vida. As razões sociais são aquelas que plenamente justificam o esforço teórico, e é que dá sentido e razão de ser de todo esforço egoisticamente, isolado de seus semelhantes, mas unidos a todos, em esforço comunitário. 24 Metodologia da Pesquisa 7.5 UTILIDADE DA CIÊNCIA A Ciência satisfaz a sede de saber do homem, o que parece inesgotável, uma vez que ele também é um curioso. A curiosidade, aliada às necessidades de vida, impele o homem a conhecer cada vez mais. O conhecer, em nosso século, aliou-se à política e à economia. A necessidade de se manter globalizado e de produzir maiores riquezas, fazem com que a pesquisa científica seja patrocinada pelo Estado. A Ciência prevê a marcha dos fenômenos e pode interferir no seu desenrolar, tendo em vista maior segurança para a vida individual e coletiva. As comunidades já estão marchando no sentido de terem o seu conselheiro-cientista. A “visão comum da ciência” caracteriza-se por um grau de certeza alto, desfrutando assim de uma posição privilegiada com relação aos demais tipos de conhecimento (o do homem comum, por exemplo). Teorias, métodos, técnicas e produtos contam com aprovação geral quando considerados científicos. A autoridade da ciência é evocada amplamente. Indústrias, por exemplo, frequentemente rotulam de “científicos” processos por meio dos quais fabricam seus produtos, bem como os testes aos quais os submetem. Atividades de pesquisa nascentes se autoqualificam “científicas”, buscando afirmar-se: ciências sociais, ciência política, ciência agrária etc. Essa atitude de veneração frente à ciência deve- se, em grande parte, ao extraordinário sucesso prático alcançado pela física, pela química e pela biologia, principalmente. Assume-se, implícita ou explicitamente, que por detrás desse sucesso existe um “método” especial, uma “receita” que, quando seguida, resulta em conhecimento certo, seguro. 7.6 A CIÊNCIA E O ESPÍRITO CIENTÍFICO O espírito científico requer uma série de qualidades ou atitudes que se manifesta em estudantes e demais frequentadores do ambiente acadêmico, como professores e pesquisadores. Uma das tarefas da Educação deve ser munir o 25 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 maior número possível de homens de atitude científica. É claro que o espírito compreende sólida formação moral, mas a ela deve- se acrescentar: independência de pensamento, espírito positivo, imparcialidade; pensamento desinteressado, fé na Ciência e sentimento de responsabilidade. a) Independência de pensamento O espírito científico opõe-se ao conhecimento estabelecido pela simples autoridade. Não se contenta apenas com que o “fulano disse”; quer verificar, quer provas sobre a veracidade de asserção. Opõe-se ao dogmatismo, em que uma afirmação ou conhecimento tem de ser aceito sem discussão. Essa atitude de independência de pensamento implica livre exame às questões e independência intelectual, de maneira a não se prender a preconceitos, dogmatismos e autoridades discutíveis. b) Espírito positivo Espírito positivo é aquele que se orienta mais por dados objetivos do que subjetivos. Faz o mesmo esforço, para evitar que o subjetivismo influa em seus juízos. Raciona com base em dados e não em suposições. O espírito positivo é aquele que quer provas para aceitar um princípio e também fornece provas quando quer convencer alguém a respeito da verdade ou inverdade deste mesmo princípio. O espírito positivo é o contrário daquele que acredita em fatos que não possam ser provados ou para os quais são dadas explicações não naturais. c) Espírito crítico Espírito crítico é aquele que sempre alimenta certa dúvida e não dá total crédito às primeiras impressões sem antes examiná-las cuidadosamente. A atitude crítica não quer dizer desconfiança nem ataque, mas exame cuidadoso de todas as provas, mesmo daquelas que pareçam irrefutáveis. A essa atitude pode- se dar também o nome de “dúvida cartesiana”. Na verdade, a própria ciência se renova e progride, em grande parte, graças ao espírito crítico. A atitude crítica é essencial para o espírito crítico. Deveria ser uma atitude desejável para todos os homens e não somente para o cientista. Quanto mais uma comunidade se compenetra em atitude científica, mais próxima ela se encontra em equacionar e resolver seus problemas. d) Imparcialidade O espírito científico é contrário a qualquer tipo de parcialidade, quer religiosa, 26 Metodologia da Pesquisa política, familiar, racial, nacional ou cultural. Tem de fazer com que o seu afeto não perturbe a visão dos fatos, não torça a verdade, mesmo quando esta lhe seja desfavorável, no sentido pessoal. e) Espírito desinteressado O cientista não pode ficar preso em suas investigações, à aplicação prática, o que seria, talvez, tarefa demasiada para um só cérebro. Um cientista ou grupo de cientistas pode cuidar da investigação pura e outro cientista ou grupo de cientistas de sua aplicação prática. A verdade é que a aplicação prática deve ser uma decorrênciada pesquisa e, nos dias atuais, a sua justificativa mais forte. A preocupação de aplicação pelo investigador puro traria o perigo de limitar certas investigações que contribuiriam para melhor compreensão de certos problemas ou conjunto deles. f) Acreditar na ciência O cientista, apesar de eliminar preconceitos e não dar crédito a não ser a fatos comprovados, precisa crer, ter fé na ciência, decorrendo essa fé na crença de que a natureza é regida, determinantemente, por leis invariáveis. g) Sentimento de responsabilidade social Por último, o cientista deve estar imbuído de suas responsabilidades sociais e certo de que seu trabalho tem dois objetivos: • o primeiro, de alcançar a verdade; • e o segundo, de trabalhar para o engrandecimento do homem, tendo em vista torná-lo mais consciente dos mistérios que o envolvem e mais próximo de seus semelhantes em colaboração e respeito. 7.7 CLASSIFICAÇÃO DA CIÊNCIA Refletindo as suas diversas atividades, as ciências podem ser classificadas numa escala indicadora de níveis probabilísticos de predição, sendo que em uma escala ascendente, partindo da baixa predição à alta predição, classificaríamos a ciência na seguinte ordem, conforme Lakatos e Marconi (2011): • Ciências Humanas. • Ciências Sociais. 27 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 • Ciências Biológicas. • Ciências Exatas. Devemos refletir sobre o que se apresentou nos tópicos anteriores, pois até aqui, foi apresentado os caminhos que os acadêmicos de pós-graduação trilharão no momento de fazer ciência e escrever suas pesquisas, de se apropriar e fazer acontecer o conhecimento. Aqui, cabe um questionamento: será que este tipo de conhecimento – o conhecimento científico – é igual a outras formas existentes de conhecimento, que nos permitem compreender e explicar a realidade a nossa volta? Nos próximos tópicos, aprenderemos mais um pouco sobre os tipos de conhecimento. 8 TIPOS DE CONHECIMENTO O ser humano não age diretamente sobre as coisas. Sempre há um intermediário, um instrumento que faz a ponte entre o homem e seus atos. Quando o homem faz ciência, quando investiga cientificamente, isso também acontece, ou seja, existe esta ponte entre ele e sua realização científica. Ora, não é possível fazer um trabalho científico sem conhecer os instrumentos. É por meio deste conhecimento que o homem atinge várias áreas da realidade a fim de possuí-la. Esta própria realidade é constituída por diversos níveis e estruturas diferentes. Isso significa que determinado assunto ou fenômeno pode ser compreendido de maneira mais simples ou avançar para uma forma mais complexa, de acordo com o resultado ou finalidade que queira ser atingida. Esta abstração que existe na absorção da realidade leva o homem a compreendê-la em níveis diferentes, não no sentido de evolução, mas no sentido de apreciação de determinada realidade, levando em conta a área e a estrutura que o homem deseja penetrar. Assim, podemos considerar que os resultados desta absorção da realidade – o conhecimento adquirido – acontecem em níveis diferentes, que de acordo com Lakatos e Marconi (2011), coexistem entre si, em quatro níveis diferentes, a saber: • Conhecimento popular ou empírico. • Conhecimento filosófico. • Conhecimento religioso ou teológico. • Conhecimento científico. Apresentaremos, a seguir, um breve panorama de cada um deles, acompanhe: 28 Metodologia da Pesquisa 8.1 CONHECIMENTO POPULAR OU EMPÍRICO O conhecimento popular é aquele conhecido como sensível, vulgar, empírico ou senso comum. Este tipo de conhecimento é resultante das suposições, vivências e crenças pessoais, ele é adquirido nas inter-relações humanas através da herança dos antepassados. A forma de julgamento do conhecimento popular não é reflexiva, pois é desenvolvido para solucionar necessidades cotidianas imediatas, estando relacionado à praticidade factual. O conhecimento popular é ocasional e assistemático, ou seja, baseia-se na “organização” particular das experiências próprias do indivíduo e não em uma sistematização das ideias, na procura de uma formulação geral que explique os fenômenos observados, aspecto que dificulta a transmissão, de pessoa a pessoa, desse modo de conhecer. É verificável, visto que está limitado ao âmbito da vida diária e diz respeito àquilo que se pode perceber no dia a dia. Finalmente, é falível e inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto, não se submetendo à crítica. O conhecimento empírico se baseia quase que exclusivamente nos sentidos. São as impressões das coisas que fornecem o conhecimento, mas de modo superficial, sem ligação umas com as outras. Assim, o conhecimento é caótico, retalhado, sem articulação. Essas impressões, sendo individuais, criam maneiras diversas de compreender a mesma coisa, conforme as variações individuais. Isso dá ao conhecimento empírico um caráter muito particular, não só no sentido de que ele varia de indivíduo para indivíduo, como no sentido de que uma noção só se emprega a uma coisa em particular. O mundo não passa de um desfilar de fatos independentes, sem ligação entre si. Nestas circunstâncias, poucos são os fatos que apresentam explicação, a fim de podê-los prever. As coisas são vistas em toda a sua complexidade, sem discernimento de caracteres comuns, graças aos quais se reduz e simplifica. No conhecimento empírico há o predomínio do aspecto qualitativo sobre o quantitativo. As coisas são tomadas isoladamente e assim consideradas. Importa a diversidade aparente, a subjetividade e a falta de previsão, limitando, assim, o poder de ação do homem. Concluindo, o “conhecimento empírico” é profundamente particular e subjetivo. 29 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 8.2 CONHECIMENTO FILOSÓFICO O conhecimento filosófico constitui-se de pressupostos críticos que orientam as ações, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses que não poderão ser submetidas à observação, por esse motivo, o conhecimento filosófico não é verificável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas, ao contrário do que ocorre no campo da ciência, não podem ser confirmados nem refutados. É racional e objetivo em virtude de consistir num conjunto de enunciados logicamente correlacionados. Tem a característica de sistemático, pois suas hipóteses e enunciados visam uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade. Por último, é infalível e exato, tendo em vista que, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer na definição do instrumento capaz de aprender a realidade, seus postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação). 8.3 CONHECIMENTO RELIGIOSO OU TEOLÓGICO O conhecimento religioso, também chamado místico, dogmático ou teológico, apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis e indiscutíveis (exatas); é um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um Criador divino; suas evidências não são verificadas: está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. O conhecimento teológico, de acordo com Cervo e Bervian (1987), é feito com base na lei suprema da inteligência: aceitar a verdade venha de onde vier, contanto que seja legitimamente adquirida. 8.4 CONHECIMENTO CIENTÍFICO O conhecimento científico é gerado por meio de observação e descrição, sendo tanto quantitativo como qualitativo. Finalmente, o conhecimento científico é real (factual) porque lida com ocorrências ou fatos, isto é, com toda forma de existência que se manifesta de algum modo. 30 Metodologia da Pesquisa Constitui um conhecimentocontingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida através da experiência e não apenas pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico. É sistemático, já que se trata de um saber ordenado logicamente, formando um sistema de ideias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos. Constitui-se em conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final e, por esse motivo, é aproximadamente exato: novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teoria existente. O conhecimento científico tem origem na tentativa de explicações dos fatos. Este começa a existir, porém, quando o homem tenta explicar os efeitos pelas causas, pelas leis que os regem. As tentativas de explicação primitivas baseavam- se em atribuir às coisas certas forças e poderes, como “a leveza”, “o peso”, “o calor” etc. Estas tentativas são realizadas por imposição das necessidades práticas da vida, que obrigam o homem a lidar com as coisas. Desse modo, o pensamento, de subjetivo que era, vai tornando-se objetivo. Os conhecimentos de particulares tornam-se gerais graças à generalização. A mensuração toma parte constante em torno das coisas e dos fatos. Há uma sistematização de dados e circunstâncias para esgotar-lhes a cognoscibilidade. Com a descoberta das relações de causa e efeito, a previsibilidade torna- se possível. Tem-se a ciência. O que possibilita erigir a ciência é a crença na uniformidade do universo, regida por um determinado natural, que preside todos os fenômenos. Apresentaremos, a seguir, uma figura que contempla a síntese da ideia principal de cada um dos tipos de conhecimento: FIGURA 2 – TIPOS DE CONHECIMENTO FONTE: Adaptada de Lakatos e Marconi (2011) 31 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 Este é, pois, o postulado fundamental da Ciência: uniformidade do universo quanto às leis que o regem. É esta uniformidade, esta crença no determinismo natural, que possibilita a previsão e dá esperanças ao homem de poder conhecer e atuar sobre a natureza. O conhecimento científico, segundo Santo (1992), pode ser interpretado resumidamente da seguinte forma: • O conhecimento científico é racional. Isto porque não é constituído por sensações e imagens, mas por conceitos, juízos e raciocínios. • O conhecimento científico transcende os fatos. Este conhecimento não se limita apenas aos fatos conhecidos e observados, mas procura ir além da observação superficial, inferindo o que pode haver por trás dos fatos. • O conhecimento científico também é analítico. Ele é analítico em virtude de abordar um fato, processo, situação ou fenômeno, e, em seguida, decompõe o todo em suas partes componentes. • O conhecimento científico é sistemático. Ele é sistemático porque é formado de um sistema de ideias relacionadas entre si. Seus sistemas são: de referências, teorias e hipóteses, fontes de informação e quadro explicativo das propriedades relacionadas. • O conhecimento científico é cumulativo. Ora, uma vez que o seu desenvolvimento é uma consequência de contínua seleção de conhecimento, novos conhecimentos são cumulados. • O conhecimento científico tem uma característica preditiva, isto porque, fundamentando-se em leis já estabelecidas, pode, através da indução probabilística, prever ocorrências. 1 Relacione a coluna da direita com a coluna da esquerda: (1) Tempo. (2) Material. (3) Ambiente. (4) Conhecimento empírico. (5) Conhecimento filosófico. (6) Conhecimento religioso. (7) Conhecimento científico. ( ) É gerado por meio de observação e descrição, sendo tanto quantitativo como qualitativo. ( ) Apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural 32 Metodologia da Pesquisa (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis e indiscutíveis (exatas). ( ) Tal conhecimento não é verificável, já que os enunciados das hipóteses, ao contrário do que ocorre no campo da ciência, não podem ser confirmados nem refutados. ( ) Este tipo de conhecimento é resultante das suposições, vivências e crenças pessoais, ele é adquirido nas inter-relações humanas através da herança dos antepassados. ( ) É importante que o estudante tenha um local próprio e apropriado para o estudo. O local deverá satisfazer algumas condições como: iluminação, arejamento, silêncio e ordem. ( ) Considerando que o ensino teológico, pelo menos em seus períodos iniciais é teórico, e, portanto, fundamenta-se em cultura livresca. ( ) Uma vez aberto este espaço, deve tratar-se de aproveitá-lo com o máximo de concentração e atenção. Como faz parte do hábito, ou seja, da formação do hábito, é recomendável que os horários sejam sempre os mesmos. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: ( ) 5 – 4 – 7 – 6 – 2 – 1 – 3. ( ) 1 – 2 – 4 – 5 – 7 – 3 – 6. ( ) 6 – 5 – 7 – 1 – 4 – 3 – 2. ( ) 4 – 5 – 3 – 7 – 2 – 6 – 1. 2 Qual o objetivo básico da atividade científica? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 33 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Iniciamos o capítulo falando sobre o processo de pesquisa considerando os hábitos de estudo. Em seguida, pudemos compreender que a ciência é um tipo de conhecimento diferente de outros, como o conhecimento religioso, o conhecimento filosófico e o conhecimento oriundo do senso comum, sendo que cada qual possui um conjunto específico de condições e características. Vimos que a ciência é classificada com relação a seus objetos de estudos: ciências formais e factuais; e que também é classificada de acordo com os seus fins: ciências básicas e aplicadas. Nesse sentido, pudemos comparar as especificidades dos diversos tipos de conhecimento. Foi possível compreender que a ciência é um tipo de conhecimento peculiar e diferente dos outros tipos, pois se utiliza de toda uma metodologia e racionalidade que permite que a ciência evolua e, na verdade, não é possível dissociar uma da outra, pois se complementam. Só há conhecimento se houver ciência, só há ciência se houver conhecimento. 34 Metodologia da Pesquisa REFERÊNCIAS BASTOS, C.; KELLER, V. Aprendendo a aprender: introdução à metodologia científica. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. BUNGE, M. La ciencia, su método y su filosofia. Buenos Aires: Siglo Veinteuno, 1973. CERVO, A. L. J.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 7. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1987. CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000. CHIBENI, S. S. O que é ciência? 2014. Disponível em: http://www.unicamp. br/~chibeni/textosdidaticos/ciencia.pdf. Acesso em: 17 fev. 2020. DESCARTES, R. O discurso do método. Tradução: Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2002. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MARTINS, G. A. Manual para elaboração de monografias e dissertações. São Paulo: Atlas, 2000. MINAYO, M. C. de S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2002. QUIVY, R.; CAMPENHOUDT, L. V. Manual de Investigação em Ciências Sociais. 4. ed. Lisboa: Gradiva, 2005. RUIZ, J. A. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1991. SANTO, A. do E. Delineamentos da metodologia científica. São Paulo: Edições Loyola, 1992. SAUNDERS, M.; LEWIS, P.; THORNHILL, A. Research methods for business students. 5. ed. São Paulo: Pearson Education, 2009. 35 PROCESSO DE PESQUISA: CONHECIMENTOS E MÉTODO CIENTÍFICO Capítulo 1 SUPERINTERESSANTE. FrancisBacon: “O conhecimento é em si mesmo um poder”. 2015. Disponível em: https://super.abril.com.br/ideias/o-conhecimento-e- em-si-mesmo-um-poder-francis-bacon/. Acesso em: 1º maio 2020. TIERNO, B. As melhores técnicas de estudo. São Paulo: Martins Fontes, 2005. TRUJILLO, F. A metodologia da ciência. 3. ed. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974. 36 Metodologia da Pesquisa CAPÍTULO 2 PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO POR MEIO DA PESQUISA E AS ETAPAS DO PROCESSO DE PESQUISAS CIENTÍFICAS A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer o processo de evolução da ciência e do conhecimento científico. � Entender quais os posicionamentos filosóficos da pesquisa. � Compreender a metodologia e os métodos da pesquisa científica. 38 Metodologia da Pesquisa 39 PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO POR MEIO DA PESQUISA E AS ETAPAS DO PROCESSO DE PESQUISAS CIENTÍFICAS Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO “Para o espírito científico, qualquer conhecimento é uma resposta a uma pergunta. Se não tem pergunta não pode ter conhecimento científico. Nada se dá, tudo se constrói” (JAPIASSÚ, 1999, p. 84). Com essa citação, iniciamos este capítulo dizendo que a busca pelo conhecimento é considerada a busca eterna do ser humano. Como parte do processo evolutivo, o ser humano foi ousado em filosofar e experimentar; este experimento fez com que descobrisse o conhecimento empírico, definisse regras e produzisse tecnologias; e tudo isso foi possível porque a força motriz foi a curiosidade. É a pesquisa que nos permite experiências para evoluirmos da barbárie à compreensão de tudo a nossa volta e é isso que torna a curiosidade o combustível que propulsiona o querer saber sempre mais. Assim, independente do domínio das nossas necessidades, devemos sempre manter a curiosidade aguçada, pois uma produz na outra a busca pela criação, pensar em novos métodos, técnicas e assim, fazer ciência e refletir sobre nossas ações no mundo. Segundo Boente e Braga (2004), são as experiências e os experimentos que promovem em nós a compreensão do todo. Assim, é importante manter o espírito investigativo, pois independente de dominarmos nossas necessidades, aquele promove neste o desejo da busca pelo criar novos métodos, novas experiências, técnicas e o mais importante, fazer ciência e a reflexão do porquê existimos. Este capítulo tratará sobre os caminhos que são importantes a serem percorridos para que haja a produção e a transmissão do conhecimento por meio da pesquisa e as etapas do processo de pesquisas científicas. 2 EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA PARA O CONHECIMENTO Desde que tomamos conhecimento da existência dos seres humanos, independente do seu contexto histórico, há sempre a busca por descobrir sobre tudo ou quase tudo ao seu redor. Assim, perguntas como: Em quais circunstâncias estamos vivendo? Quais as características deste mundo que estamos vivendo?, são uma constante na tarefa diária na busca pelo conhecimento. Além disso, de acordo com Aristóteles, em sua obra “Ética a Nicômaco”, alcançar a felicidade também deve ser uma constante na vida do ser humano (VALLANDRO; BORNHEIM, 1991). 40 Metodologia da Pesquisa Assim, dizemos que investigar ou procurar novos conhecimentos são características inerentes aos seres humanos. Dessa forma, podemos inferir que a investigação ou a busca por novos conhecimentos está no cerne de todo ser humano, o tornando inquieto e sedento pelo saber. Os meios para desenvolver as tarefas até conseguir avançar e ampliar este caminho, exigem dedicação para se fazer história; e mesmo que os caminhos pareçam pacíficos ou até mesmo suaves, sem o esforço da busca, não haverá a conquista do fazer história. Para que entenda esta busca constante, apresentaremos a seguir um texto que complementa as ideias até aqui apresentadas. O desejo da busca constante por descobertas deve ser a mola propulsora que nos impulsiona a sempre querer mais e mais, pois isto nos levará a fazer ciência. Algo que sempre deslumbra o ser humano é contemplar as estrelas e o vasto mundo que o cerca; o interesse em desvendar o universo ainda o impulsiona e o acompanha nesta incrível aventura. A busca pelo aprendizado faz com que perceba que quanto mais sabe, mais precisa saber. Apresentaremos, a seguir, um trecho do livro do físico Roberto de Andrade Martins (1994), que trata sobre estes eternos questionamentos do ser humano. Mostra a angústia e a aventura do ser humano em sua jornada por descobrir o mundo. O texto procura trazer uma reflexão sobre esta busca constante que acompanha o ser humano desde os primórdios dos tempos. Boa leitura! A origem do universo é um tema que sempre interessou à humanidade. Em todos os povos, em todas as épocas, surgiram muitas e muitas tentativas de compreender de onde veio tudo o que conhecemos. No passado, a religião e a mitologia eram as únicas fontes de conhecimento. Elas propunham certa visão de como um ou vários deuses produziram este mundo. Há mais de dois mil anos, surgiu o pensamento filosófico. Ele propôs novas ideias, modificando ou mesmo abandonando a tradição religiosa. Por fim, com o desenvolvimento da ciência, apareceu um outro modo de estudar a evolução do universo. Atualmente, a ciência predomina. É dessa ciência que muitos 41 PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO POR MEIO DA PESQUISA E AS ETAPAS DO PROCESSO DE PESQUISAS CIENTÍFICAS Capítulo 2 esperam obter a resposta as suas indagações sobre a origem do universo. Muitas vezes, lemos notícias em jornais e revistas apresentando pesquisas recentes sobre a formação do universo. Na tentativa de chamar a atenção para uma nova descoberta, os jornalistas às vezes exageram sua importância e publicam manchetes do tipo: “Acaba de ser provado que o universo começou de uma explosão”. Entretanto, foi provado, mesmo? As notícias, quase sempre, dão a impressão de que acabaram todos os mistérios, que não há mais dúvidas sobre o início e a evolução do cosmo, mas a verdade não é exatamente essa. Há dezenas de anos, os jornais repetem as mesmas manchetes, com notícias diferentes. Quem se der ao trabalho de consultar tudo o que já se publicou sobre o assunto, verá que os meios de comunicação revelam sempre um enorme otimismo. O resultado de cada nova pesquisa é apresentado como se tivesse sido conseguida a solução final, mas se a notícia de trinta anos atrás fosse correta, não poderiam ter surgido todas as notícias dos anos seguintes – até hoje – repetindo sempre que certo cientista ou grupo de pesquisadores “acaba de provar” que o universo começou assim e assim. A ciência tem evoluído, isso é inegável. Durante o século XX, nossos conhecimentos aumentaram de um modo inconcebível. Entretanto, nem todos os problemas foram resolvidos. A ciência ainda não esclareceu a maior parte das dúvidas. As teorias sobre a origem do universo ainda devem sofrer muitas mudanças no futuro. Por isso, ninguém deve esperar encontrar aqui a resposta final. A última palavra ainda não foi dita. A ciência não é o único modo de se estudar e tentar captar a realidade. O pensamento filosófico e o religioso possuem também grande importância. As antigas indagações ressurgem sempre: será possível que esse universo tenha surgido sem uma intervenção divina? Até que ponto a ciência e a religião se contradizem ou se completam? Ao longo da história da humanidade, desenrolou-se – e ainda se desenrola – um enorme esforço para descobrir de onde veio tudo aquilo que existe. É a história desse esforço que será descrita neste livro. Apenas sabendo todas as fases pelas quais já passou o pensamento humano, podemos tentar avaliar corretamente o estágio atual de nossos conhecimentos. Para isso, não podemos nos limitar apenas às investigações mais recentes, nem apenas à 42 Metodologia da Pesquisa ciência. Devemos recuara um passado distante e acompanhar essa grandiosa aventura intelectual da humanidade: a tentativa de entender a origem do universo, a sua própria origem e o seu próprio significado. Em nossa viagem, encontraremos alguns dos maiores pensadores de toda a história. Muitas teorias são difíceis ou obscuras. Será preciso certo esforço para entendê-Ias, mas vale a pena esse esforço de elevar-se e poder dialogar com alguns dos maiores gênios da humanidade. Nossa viagem pela história do pensamento humano nos mostra muitas tentativas realizadas para se compreender a origem de nosso universo. Essa busca existiu em todas as civilizações, em todos os tempos, mas a forma de buscar essa explicação variou muito. O mito, a filosofia, a religião e a ciência procuraram dar uma resposta às questões fundamentais: O universo existiu sempre, ou teve um início? Se ele teve um início, o que havia antes? Por que o universo é como é? Ele vai ter um fim? Nosso conhecimento moderno sobre o universo está muito distante daquilo que era explicado pelos mitos e pela religião. Nenhum mito ou religião descreveu o surgimento do sistema solar, do Sol, das galáxias ou da própria matéria. Esperaríamos da ciência uma resposta as nossas dúvidas, mas ela também não tem as respostas finais. Por que não desistimos, simplesmente, de conhecer o início de tudo? Que importância pode ter alguma coisa que talvez tenha ocorrido há 20 bilhões de anos? A presença universal de uma preocupação com a origem do universo mostra que esse é um elemento importante do pensamento humano. Possuir alguma concepção sobre o universo parece ser importante para que possamos nos situar no mundo, compreender nosso papel nele. Em certo sentido, somos um microcosmo. O astrônomo James Jeans explicou da seguinte maneira o interesse dos cientistas por coisas tão distantes de nossa vida diária: “Ele quer explorar o universo, tanto no espaço quanto no tempo, porque ele próprio faz parte do universo, e o universo faz parte do homem”. 43 PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO POR MEIO DA PESQUISA E AS ETAPAS DO PROCESSO DE PESQUISAS CIENTÍFICAS Capítulo 2 Essa busca de uma compreensão do universo e do próprio homem ainda não terminou. De uma forma ou de outra, todos participamos dessa mesma procura. Uma procura que tem acompanhado e que ainda deverá continuar a acompanhar todos os passos da humanidade. FONTE: MARTINS, R. de A. O universo: teorias sobre sua origem e evolução. São Paulo: Moderna, 1994. Contudo, neste movimento de questionamentos e respostas ou possíveis respostas, historicamente, as inquietações do ser humano são um esforço que encontram na aquisição do conhecimento as possíveis soluções para problemas de ordem teórica ou prática, que vão além da simples necessidade de conformar- se com os desafios modernos que são de competência científica e que somente são passíveis de construção através da pesquisa, que resulte em capacidade de elaboração própria. Dessa forma, os seres humanos, através da evolução histórica do conhecimento, do saber e da liberdade, começaram a compreender o agir das forças que os movem e passaram a formular uma nova concepção de mundo e, consequentemente, do seu agir no contexto social a qual pertencem. 3 ESCOLAS DO PENSAMENTO CIENTÍFICO: POSITIVISMO E CONSTRUTIVISMO No tópico anterior, falamos sobre a constante busca do ser humano pelo conhecimento e como este movimento evolui para o fazer ciência. Acontece que, quando estudamos sobre ciência, existem duas posturas filosóficas que norteiam a pesquisa científica, a saber: o Positivismo e o Construtivismo. Um dos elementos que é considerado primordial neste posicionamento está relacionado ao conceito de verdade nas ciências. Não há consenso sobre o que é verdade; há sempre uma longa e exaustiva busca pela verdade, assim, nesta busca pela verdade, os filósofos propuseram certos critérios e métodos que têm como resultado as consagradas escolas do pensamento científico. Vamos explanar brevemente cada um deles. 44 Metodologia da Pesquisa Alguns autores, como Saunders, Lewis e Thornhill (2009), denominam o termo pensamento científico de paradigmas de pesquisa. De acordo com Kuhn (1996), os paradigmas podem ser entendidos como realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares a uma comunidade de praticantes de uma ciência. Assim, o termo paradigma sugere a partilha de crenças, valores, técnicas etc. por determinada comunidade. Entretanto, não há consenso sobre este conceito nas ciências e existem trabalhos que vão além do conceito, como o de Burrell e Morgan (1979), que sugerem a existência de quatro paradigmas nas ciências sociais: funcionalista, estruturalista, interpretativista e humanista radical. De acordo com Abbagnano (1998), paradigma significa um modelo ou padrão a seguir. Sobre os paradigmas de Burrell e Morgan, sugerimos a leitura a seguir. Gareth Morgan, em seu trabalho “Paradigmas, Metáforas e Resolução de Quebra-Cabeças na Teoria das Organizações” (2005), apresenta questões ligadas aos diferentes paradigmas trabalhados pelo autor, o que para ele são visões explicitas ou implícitas da realidade social. Os paradigmas devem ser encarados como realidades alternativas, as quais guiam nossas ações e pesquisas em determinados momentos de nossas vidas, fazendo com que passemos a enxergar a realidade de uma ou de outra maneira, por meio de uma ou outra lente. “Para entendermos a natureza da ortodoxia na teoria das organizações, faz-se necessário entender o relacionamento entre os modos específicos de teorização e pesquisa, e as visões de mundo que eles refletem” (MORGAN, 2005, p. 59). Enxergar a realidade a partir de diferentes lentes traz implícito o risco da adoção de uma lente única, geralmente aquela que mais se adéqua às necessidades ou conveniências que adotamos para ver o mundo. 45 PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO POR MEIO DA PESQUISA E AS ETAPAS DO PROCESSO DE PESQUISAS CIENTÍFICAS Capítulo 2 Esta adoção acaba por nos colocar em uma posição a qual muitas vezes nos dá a sensação de que a lente adotada é superior às demais existentes, pois nos faz enxergar a realidade com mais clareza do que as demais. Contudo, esta sensação de superioridade é resultado do fato de que estamos “contaminados” por um emaranhado de modos de ver a realidade, os quais muitas vezes precisam ser reavaliados e repensados, pois como afirma Morgan (2005, p. 59), quando utiliza um exemplo mencionado por Mannheim, “os modos de pensar o mundo são mediados pelo ambiente social e a aquisição de novos modos de pensar depende de um afastamento da antiga visão de mundo”. Este afastamento diz respeito ao tomar pé de que existem outras maneiras tão válidas de aproximação com a realidade quanto àquelas que adotamos, também que não há uma visão correta em detrimento a uma visão equivocada da realidade. Astley e Van de Ven (2005), Morgan (2005) e Reed (1998) apresentam definições muito parecidas, umas mais outras menos, sobre o como eles veem e analisam os paradigmas nos quais a Teoria das Organizações se baseia. Parece-me também que todos compartilham no aspecto de que é necessário: [...] descobrir as principais suposições que caracterizam e definem uma dada visão de mundo para fazer com que seja possível consolidar o que há de comum entras as perspectivas dos teóricos cujos trabalhos poderiam, caso contrário, em um nível mais superficial, parecer distintos e de amplo alcance (MORGAN, 2005, p. 59). É fundamental que se compreenda quais são as teorias que procuram entender, auxiliar ou ainda “explicar” as organizações e que se faça uma reflexão no sentido de buscar nestas teorias não uma concorrência ou a melhor a ser seguida, porém sim, procurar entendê-las, utilizando aqueles aspectos que possam nos ajudar em nossa busca e assim iniciar uma procurapor explicações que possam dar conta das complexidades analisadas à luz das teorias, porém nunca esquecendo que, como afirma Reed (1998, p. 64): [...] a criação de uma teoria é uma prática intelectual situada em dado contexto histórico e que está voltada para a construção e mobilização de recursos, ideais, materiais e institucionais para legitimar certos conhecimentos e os projetos políticos que deles derivam. No contexto deste trabalho, utilizaremos visão, lente e 46 Metodologia da Pesquisa paradigma como sinônimos. Burrel e Morgan (1979) apresentam uma estrutura composta de quatro paradigmas para a análise da teoria social, sendo eles o funcionalista, o interpretativista, o estruturalista radical e o humanista radical, os quais são distribuídos em quatro dimensões, apresentadas na Figura 1. FIGURA 1 – QUATRO PARADIGMAS PARA A ANÁLISE DA TEORIA SOCIAL FONTE: Adaptada de Burrell e Morgan (1979) A estrutura apresentada na Figura 1 deve ser analisada, inicialmente, tendo como ponto de partida o entendimento dos paradigmas propostos pelos autores, porém, após este primeiro momento, os paradigmas devem ser atrelados ao entendimento das dimensões que constituem os eixos propostos pelos autores. O eixo da sociologia da regulação versus sociologia da mudança radical tem relação com o movimento de que vai do entendimento ao conflito, sendo estes os marcos ontológicos da estrutura apresentada pelos autores. A regulação tem relação com a estabilidade, a integração e o consenso, privilegiando a manutenção dos status quo, da ordem 47 PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO POR MEIO DA PESQUISA E AS ETAPAS DO PROCESSO DE PESQUISAS CIENTÍFICAS Capítulo 2 social coesa e integrada, da solidariedade e das necessidades de satisfação. Já a dimensão de conflito se relaciona com a mudança, a desintegração e a coerção, a privação, privilegiando a mudança radical, os conflitos estruturais, o questionamento aos modos de dominação, a contradição, a emancipação e as potencialidades. Os marcos ontológicos estão ligados à essência da natureza dos fenômenos investigados. A realidade investigada pode ser entendida a partir de duas diferentes óticas, uma externa, de natureza objetiva, a qual se impõe e existe independentemente de cada um dos indivíduos que compõem os grupos sociais e outra interna, produto da consciência e cognição individual, portanto, construída a partir da interação entre os diferentes indivíduos que compõem os grupos sociais. Já o eixo objetividade versus subjetividade diz respeito aos marcos epistemológicos dos diferentes paradigmas apresentados. Os marcos epistemológicos dizem respeito à obtenção e à construção de conhecimento. O acesso ao conhecimento tem relação com as aproximações estabelecidas entre o indivíduo e a realidade, construída a partir das relações objetivas ou subjetivas estabelecidas nos grupos sociais. É esperado que pesquisadores utilizem metodologias que sejam consistentes com suas perspectivas teóricas sobre a natureza do ser e da realidade (ontologia) e a natureza do conhecimento (epistemologia). Silva e Roman Neto (2006, p. 60-61), teorizando sobre a relação entre o eixo objetividade versus subjetividade, afirmam que: Uma visão objetivista do mundo social como uma estrutura concreta encoraja uma posição epistemológica que enfatiza a importância de estudar a natueza das relações entre os elementos que constituem aquela estrutura. Nessa perspectiva, o conhecimento do mundo social implica uma necessidade de entender e traçar a estrutura social com ênfase na análise empírica de relações concretas em um mundo social externo. Por outro lado, a visão subjetiva encara a realidade como uma projeção da imaginação humana, cuja epistemologia enfatiza a importância de compreender os processos pelos quais os seres humanos concretizam sua relação com seu próprio mundo. Os quatro paradigmas representam diferentes lentes ou cosmovisões de aproximação com a realidade: 1) o funcionalista é baseado na suposição de que a sociedade tem existência concreta e real, tendo um caráter sistêmico orientado para produzir um sistema social ordenado e regulado; 2) o interpretativista é baseado na visão 48 Metodologia da Pesquisa de que o mundo social possui uma situação ontológica duvidosa e de que a realidade social não existe em qualquer sentido concreto, mas é um produto da experiência subjetiva e intersubjetiva dos indivíduos; 3) o humanista radical vincula sua análise ao interesse no que pode ser descrito como patologia da consciência, por meio da qual os seres humanos se tornam aprisionados nos limites de realidade que eles mesmos criam e sustentam; e o 4) estruturalista radical preocupado em entender as tensões intrínsecas e o modo como os que possuem o poder na sociedade procuram se manter nessa posição por meio de diversos modos de dominação. Para Morgan (2005, p. 62), “cada um desses quatro paradigmas define os fundamentos de modos opostos de análise social e possui implicações radicalmente diferentes para o estudo das organizações”, pois refletem “uma rede de escolas de pensamento relacionadas, diferenciadas na abordagem e na perspectiva, mas compartilhando suposições comuns fundamentais sobre a natureza da realidade de que tratam” (MORGAN, 2005, p. 61). A rede de escolas de pensamentos citada por Morgan (2005) não foi detalhada neste trabalho, para efeitos de análise somente serão levados em consideração os quatro paradigmas apresentados pelo autor. De todo modo é importante ressaltar a questão de que estes quatro paradigmas apresentados pelo autor não esgotam as possibilidades e nem representam a totalidade dos paradigmas adotados na produção do conhecimento científico. A matriz proposta por Morgan (2005) representa uma possível tentativa de estruturar as análises tanto da produção de conhecimento quanto das posturas adotadas pelos pesquisadores em relação às metodologias de produção do conhecimento, o qual é classificado, de acordo com cada paradigma, como científico. Os paradigmas trabalhados por Morgan (2005) devem necessariamente ser relacionados ao debate, assumido por diversos autores, o qual procura discutir as questões relacionadas ao modernismo e ao pós-modernismo. No escopo deste trabalho serão apresentados os trabalhos de Cooper e Burrel (1988), Vieria e Caldas (2006) e Alvesson e Deetz (1998). Copper e Burrel (2006) ilustram questões sobre o modernismo, o pós-modernismo e a análise organizacional. Cooper e Burrell (2007, p. 313) definem modernismo e pós modernismo: “Modernismo, com sua crença na capacidade 49 PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO POR MEIO DA PESQUISA E AS ETAPAS DO PROCESSO DE PESQUISAS CIENTÍFICAS Capítulo 2 essencial da humanidade de buscar sua perfeição pelo poder de seu pensamento racional; e o pós-modernismo, com seu questionamento crítico e muitas vezes total rejeição do racionalismo etnocêntrico propugnado pelo modernismo”. Estas duas correntes de pensamento determinam uma polarização, tanto ontológicas quanto epistemológicas, do debate relacionado aos diversos paradigmas possíveis de abordagem na elaboração e análise do conhecimento científico. A matriz apresentada por Morgan (2005) já não dá mais conta de explicar as complexidades da produção de conhecimento, pois limitam-se a lançar luz em análises fundamentadas nos quadro paradigmas apresentados por Burrell e Morgan (1979) e Morgan (2005), porém a inclusão do debate relacionado ao pós-modernismo traz consigo uma diversidade de possibilidades que incluem outras formas de pensar a realidade e a produção de conhecimento científico. Estas novas possibilidades podem ser melhor compreendidas a partir do entendimento de que a realidade encontra-se em constante construção e reconstrução, e que a constituição do sujeito é permeada não somente pelos marcos estabelecido pelo debate modernista, mas também
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