Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GESTÃO HOSPITALAR UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 O direito a saúde é provisionado na constituição de 1988, onde é descrita entre os direitos fundamentais, devendo ser garantida pelo Estado de forma universal, gratuita e equânime. Nesta etapa estaremos conversando um pouco mais sobre o sistema de saúde no território brasileiro, sua regulamentação, as propostas das reformas sanitárias, as conferências de saúde realizadas dentre outros aspectos. Serão objeto de estudo os princípios do Sistema único de Saúde, que é a política pública de saúde deste território que pretende atender os cidadãos nos aspectos relacionados a promoção, prevenção e reabilitação da saúde. Faremos uma retomada das questões que envolvem a responsabilidade civil nas ações e prestações de serviços em saúde, além da revisão dos conteúdos acerca dos indicadores epidemiológicos. Saiba mais, bons estudos! APRESENTAÇÃO Organização Sonia Adriana Weege Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 .01 1 INTRODUÇÃO Está em curso uma reforma democrática não anunciada ou alardeada na área da saúde. A Reforma Sanitária brasileira nasceu na luta contra a ditadura, com o tema Saúde e Democracia, e estruturou-se nas universidades, no movimento sindical, em experiências regionais de organização de serviços. Esse movimento social consolidou-se na 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, na qual, pela primeira vez, mais de cinco mil representantes de todos os segmentos da sociedade civil discutiram um novo modelo de saúde para o Brasil. O resultado foi garantir na Constituição, por meio de emenda popular, que a saúde é um direito do cidadão e um dever do Estado . (AROUCA, 1988 – grifo da autora). FONTE: Disponível em: <http://bvsarouca.icict.fiocruz.br/sanitarista05.html>. Acesso em: 21 set. 2013. A Constituição de 1988, também chamada de a Constituição Cidadã representou uma vitória não apenas para o setor saúde, mas para o povo brasileiro em geral. Muitos direitos civis são considerados inalienáveis somente a partir desta data. Vamos transcrever a primeira parte que trata da saúde como um direito. Esta lei foi detalhada posteriormente pela Lei Orgânica do SUS, que teve a sua promulgação no ano de 1990, em duas etapas, com as leis nº 8.080 e nº 8.190. Depois disto, algumas emendas constitucionais se fizeram necessárias, pois como todos os processos, o sistema de saúde e a sociedade são dinâmicos e, portanto, passíveis de discussão, acertos e mudanças. A Constituição constitui como o direito à saúde de todo cidadão e subsequentemente o dever do Estado em fornecer condições para a sua obtenção. A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ DE 1988 – SAÚDE É DIREITO DE TODOS CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 Leia a seguir este trecho da Constituição que trata da saúde como direito. Transcrevemos apenas a primeira parte dele. Seção II - DA SAÚDE Art. 196 A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 197 São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Art. 198 As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade. FONTE: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. FONTE: Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/ html/pt/legislacao/constituicao_196_200.html>. Acesso em: 22 set. 2013. 2 LEIS Nº 8.080/90 E Nº 8.142/90 – A REGULAMENTAÇÃO DO SUS Logo após a oitava conferência, abriu-se o processo constituinte, destinado a elaborar a nova Carta Magna. Constituíram-se, então, uma Comissão Nacional da Reforma Sanitária e a Plenária Nacional de Saúde, ambas encarregadas de elaborar uma proposta constitucional. A Comissão era paritária, isto é, tinha representantes do governo e da sociedade civil. A Plenária Nacional de Saúde foi um capítulo à parte: representava 168 entidades como sindicatos, universidades, partidos políticos de esquerda, associações de profissionais de saúde, de estudantes, e movimentos populares. Foi esta plenária que apresentou, no ano de 1987, durante o processo constituinte, a proposta da emenda popular, ratificada com 54.133 assinaturas e lida no plenário por Sérgio Arouca, presidente da FIOCRUZ e diretor da 8ª Conferência. (ESCOREL, 2000). CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 Atualmente, as passagens de avião têm custo acessível e a internet prolifera as campanhas virtuais de coleta de assinaturas, ironicamente chamadas pelos militantes mais antigos de “ativismo de sofá”. Porém, há 26 anos, quando a Plenária Nacional de Saúde iniciou as suas mobilizações, os documentos eram produzidos em máquinas de datilografia e não existia comunicação por e-mail, os telefonemas interurbanos custavam caro, não existiam celulares e, muitas vezes, as linhas telefônicas eram bastante congestionadas. No entanto, este movimento conseguiu produzir debates de alto nível, com uma representatividade nunca antes vista na história da democracia e reunir um número tão grande de assinaturas, (assinaturas físicas, em papel) que tornou a emenda popular da saúde uma proposta irrefutável! Após a promulgação da Constituição, os trabalhos de discussão não cessaram, pelo contrário, a tarefa agora se desdobrava na discussão e redação da lei que construiria com detalhes o arcabouço jurídico do SUS. Novamente a Plenária Nacional de Saúde encabeçou as discussões que culminaram na Lei Orgânica do SUS. Agora propomos a você que faça um “passeio virtual” pelas leis no 8.080, de 19/09/1990 e no 8.142, de 18/12/1990 e se familiarize com a sua linguagem. Conhecer estas leis é fundamental para qualquer profissional ligado à área da saúde. Você pode acessar as leis em: <http://portal.saude. gov.br/portal/saude/Gestor/area.cfm?id_area=169>. 3 A CONTINUIDADE DAS PROPOSTAS DA REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRA É importante para nós, que trabalhamos com saúde, termos no horizonte de nosso pensamento a ideia de que a Reforma Sanitária e as conquistas obtidas na legislação não são estáticas. Elas são um processo em movimento dinâmico e sujeitas às contradições políticas e econômicas. Tão importante quanto conhecer a legislação que temos – e que é considerada pelos especialistas muito boa – é cuidar e fiscalizar para que a mesma seja cumprida. O SUS não é uma utopia socialista, embora tenha muitos críticos. Também não é um sistema de saúde primário para atender aos mais pobres. O SUS propõe um processo civilizatório, com profundas mudanças na sociedade. Muitas já foram conquistadas. Muitas outras são promessas por cumprir. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 Cabe aos que iniciam sua caminhada agora, no âmbito da academia e depois na atuação ou na gestão em saúde, familiarizar-se com nossas leis e sistema de saúde e sua história. E continuar em seu papel de ator social crítico: aquele que conhece a sua história, a história de seu país e de sua gente, e se sente participante dela, responsável pela continuidade das conquistas daqueles que o antecederam. 4 AS NOVAS CONFERÊNCIAS DE SAÚDE Desde a Oitava Conferência em 1986, vinte e sete anos (e mais seis conferências) são passados. Nosso país seprepara agora para a 15ª Conferência, que será precedida das conferências de âmbito estadual e municipal. Além destas, outras importantes conferências setoriais ampliarão o debate em seus espaços de atuação, agregando-se posteriormente ao debate nacional. Conferências setoriais de saúde mental, saúde indígena, assistência social, entre outras, têm como eixo condutor e instância máxima a Conferência Nacional de Saúde. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 PRINCÍPIOS LEGAIS DO SUS .02 1 INTRODUÇÃO À medida que você for avançando neste curso e em suas leituras sobre o SUS e sobre a legislação orgânica da saúde, você se familiarizará e entenderá os princípios do SUS. Eles são muitos, mas nos detalharemos nos principais. De acordo com a classificação de Giovanella (2008), são: a) Universalidade. b) Integralidade. c) Igualdade. d) Descentralização. e) Participação popular. Antes de nos determos em cada um deles, vamos a uma definição acadêmica do SUS. O Sistema Único de Saúde (SUS) é o arranjo organizacional do Estado Brasileiro que dá suporte à efetivação da política de saúde no Brasil, e traduz em ação os princípios e diretrizes desta política. Compreende um conjunto organizado e articulado de serviços e ações de saúde, e aglutina o conjunto das organizações públicas de saúde existentes nos âmbitos estadual, municipal e nacional, e ainda os serviços privados de saúde que o integram funcionalmente para prestação de serviços aos usuários do sistema, de forma complementar, quando contratados ou conveniados para tal fim. O (SUS) foi instituído com o objetivo de coordenar e integrar as ações das três esferas de governo e pressupõe a articulação de subsistemas verticais (de vigilância e assistência à saúde) e subsistemas de base territorial – estaduais, regionais e municipais – para atender de maneira funcional às demandas por atenção à saúde. (CAMPOS et al., 2006, p. 531). O SUS faz parte do chamado tripé da seguridade social mencionada no artigo 194 da Constituição Federal: “um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (BRASIL, 1988). CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 2.1 UNIVERSALIDADE O primeiro dos princípios que sempre se menciona é este, a universalidade, porque o acesso para o sistema está aberto a todos, sem diferenciação e sem exceção. Quando se constituiu o arcabouço jurídico legal do SUS, somente os contribuintes do INPS – Instituto Nacional de Previdência Social –, trabalhadores de carteira assinada, que contribuíam mensalmente para a previdência, é que detinham o direito à assistência de saúde prestada pelo sistema anterior. E antes disto, algumas categorias que se organizaram, como ferroviários, bancários, entre outros, detinham este direito. Os trabalhadores rurais foram tardiamente incluídos, mas também de forma desigual. Resumindo: o acesso à saúde era desigual, injusto e diferenciado, “com pelo menos 40 instituições públicas de cunho municipal, federal e estadual, cuidando dos serviços de saúde, além de unidades isoladas”. (FIGUEIREDO, 2005, p. 262-263 apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Esta foi a primeira coisa que o sistema se propôs a universalizar: o acesso igualitário aos serviços de saúde, independente das condições laborais deste usuário. Não existem para o acesso ao SUS nem exclusões, nem condições preexistentes, nem carências e nem nacionalidades. Todos os indivíduos que vivem neste país, brasileiros ou não e independente de sua condição legal ou política, têm legalmente acesso ao SUS. Naturalmente que o SUS encontra problemas para cumprir tudo aquilo que a lei diz. Falta financiamento, existem filas e, como já mencionamos antes, quase 500 municípios brasileiros sem sequer um único médico. Mas o que está na lei é o horizonte para onde temos que mirar, a direção para onde orientar nossa participação política. Os esforços no sentido de cumprir as metas da Reforma Sanitária tornaram e tornam o Brasil um país mais justo e mais igualitário, com mais qualidade de vida. 2.2 INTEGRALIDADE Quando pensamos em integral idade, devemos pensar em duas abordagens: CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 1) A integralidade do ser humano biopsicossocial. Bio: idade, sexo, compleição física, ciclo de vida. Psico: sua história de vida, nível de relacionamentos, estresse ocupacional, crenças, cultura. Social: condições de vida, habitação, trabalho. 2) A integralidade das ações em saúde direcionadas a este indivíduo, e que partem, em geral, de uma queixa, do doente. O sistema deve atuar de forma integrada para atender a esta pessoa em sua demanda, tratando o problema a curto prazo, mas olhando também a médio e longo prazo, direcionando-a, quando necessário, em níveis de maior complexidade, realizando a prevenção, estendendo os cuidados para a família em uma abordagem familiar, realizar as referências, encaminhar para outros setores, como centros de referência em assistência social ou educação (às vezes, há crianças que necessitam de creche pela vulnerabilidade social da família) e outros. A queixa ou questão que o usuário traz (e que os profissionais devem escutar cuidadosamente) pode estar escondendo ou estar “na frente” de inúmeros outros problemas. Enfim, poderíamos escrever muito mais sobre a integralidade, porque cada pessoa é única, como é única e criativa a sua estratégia de abordagem, mas tentamos sintetizar a ideia. Vejamos esta pequena história: Sra. Ana, 73 anos, viúva, aposentada e mãe de três filhos é trazida pelo filho mais velho e pelo neto para realizar um curativo. Ela tem uma ferida na perna há mais de 3 anos. Às vezes, a ferida quase fecha, mas ela não deixa ninguém da família mexer. Faz os curativos sozinha e não gosta de tomar remédios. A enfermeira recebe a família e conversa com o filho que está nervoso, com pressa e irritado. Ela verifica a pressão dos três, e o peso também. Os dados da idosa são normais, o filho está com pressão alta e o neto de vinte anos está obeso. A senhora passa a vir todos os dias fazer o curativo, aceita a consulta médica e os antibióticos. Nas semanas seguintes, Ana comparece diariamente à unidade de saúde para os curativos. Às vezes, vem andando sozinha e, às vezes, trazida pelo filho ou pelo neto. Quando a ferida está melhorando ela para de vir. Quando a enfermeira consegue sair para fazer uma visita, uma semana depois, a ferida piorou. Ana conversa então com a enfermeira, chora, diz que se sente sozinha e que se a ferida fechar ela acha que ninguém mais da família vai aparecer na casa dela. A enfermeira escuta e estimula a doente a falar mais sobre ela e sobre a sua família. Ana conversa muitas coisas de sua vida. Ela então conta que um dos outros filhos bebe muito e a nora quer deixá-lo. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 A partir desta visita, Ana volta a realizar os curativos na unidade e a enfermeira discute o caso com a equipe. Durante os curativos a enfermeira ou as técnicas procuram conversar bastante com Ana. Convidam a idosa para vir ao grupo de trabalhos manuais e às aulas de educação física do bairro. Com o passar do tempo o filho de Ana passa a frequentar a unidade de saúde e controlar a pressão arterial. Ana se torna menos queixosa e se reaproxima das noras. Ana passa a vir em dias alternados, e depois uma vez por semana (para o curativo), até que a ferida fecha. Ana passa vir à unidade de saúde duas vezes por semana, mas não para tratamentos: vem para a caminhada e o artesanato – estratégias preventivas, socializadoras e de saúde mental. O médico da equipe, acompanhado da ACS, faz uma visita para aquele outro filho de Ana que sofreu uma queda de bicicleta e cortou a testa. Encaminha a esposa deste para um grupo de familiares no CAPS – Centro de Atenção Psicossocialda cidade, pois o problema está muito mais grave do que Ana contou. O alcoolista pede para ficar no CAPS, porque ele está desempregado. A unidade encaminha-o para desintoxicação ambulatorial no CAPS, mas continua monitorando sua pressão diariamente (mas a pressão é um pretexto para fazê-lo vir à unidade, na volta do CAPS). Um dos profissionais do CAPS vem mensalmente às reuniões de equipe para o MATRICIAMENTO, isto é, discutir os casos compartilhados entre CAPS e Unidade de Saúde da Família. Ele conta que o filho de Ana está fazendo o tratamento e a esposa deste também frequenta as reuniões dos familiares. FONTE: Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_humanizasus_atencao_hospitalar. pdf>. Acesso em: 24 set. 2013. AUTOATIVIDADE Baseado(a) na história que acabou de ler, responda às questões a seguir: 1 Faça uma lista de todos os problemas de saúde (ou outros) que aparecem nesta família (não apenas em Ana). 2 Por que Ana não queria que a ferida fechasse? 3 Quantas pessoas com problemas de saúde na mesma família apareceram nesta história? 4 Se os profissionais que atenderam Ana não pensassem de maneira integral, teriam desconfiado que existissem mais doentes na família? 5 Houve uma intervenção educativa no atendimento de Ana? CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 Utilizar a criatividade no trabalho é muito importante para que os trabalhadores em saúde gostem daquilo que fazem. Falaremos sobre o trabalho criativo na Unidade 2 deste caderno. 2.2.1 Responsabilização e vínculo Responsabilização e vínculo são desdobramentos da integralidade e também da territorialização dos cuidados. Explicando: só é possível realizar uma abordagem desta forma descrita no caso acima se há proximidade. Pelo que deduzimos do caso, todos os envolvidos moram no mesmo bairro e são atendidos pela mesma equipe de saúde da família. Desta forma, todos se conhecem bem (vínculo) e a equipe é (e se sente) responsável por eles. A enfermeira que fez o primeiro acolhimento percebeu que o filho apresentava sintomas de hipertensão e se sentiu responsável por ele. Da mesma forma, se sentiu responsável quando Ana não veio mais. Alguém que não tenha estudado este assunto pode dizer: mas se ela não veio mais, para que ir atrás dela? Isto não é passar da conta, procurar mais problemas para a unidade? Mas os profissionais de saúde sabem que atrás do não vir deve existir algum outro problema (ou muitos). E falando do ponto de vista econômico e administrativo, as situações abordadas, no caso ainda são passíveis de resolubilidade na unidade de saúde, e se estas complicarem as pessoas vão voltar depois e dar muito mais trabalho e o tratamento vai custar muito mais caro. E além disto, o nível de sofrimento desta família vai piorar. Alguém que à primeira vista pensou que esta equipe está sendo “paternalista e ainda arranjando sarna para se coçar” não conhece como funciona um sistema de saúde calcado na prevenção, responsabilização, vínculo, resolubilidade, territorialização e integralidade. AUTOATIVIDADE Observe quantos princípios e atributos do SUS aparecem aí no último parágrafo e nesta história: você poderia descrevê-los com as suas palavras? 1 Integralidade 2 Responsabilização 3 Vínculo 4 Territorialização 5 Matriciamento CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 6 Prevenção 7 Resolubilidade Resolubilidade – também é um dos atributos do SUS. A atenção básica deve dar resolubilidade a 80% da demanda de seus usuários. Mas para isto tem que investir na forma de cuidado preventiva, como foram abordadas as situações deste caso. Se as situações complicam pode haver necessidade de hospitalização destas pessoas, ou encaminhamento para especialistas. Note que mesmo no caso que a equipe encaminhou para atenção secundária, no caso do alcoolista que está se tratando no CAPS, o cuidado é compartilhado e as duas equipes (CAPS e Unidade de Saúde) estão de acordo por causa do MATRICIAMENTO, que é uma forma de trabalhar juntos. FONTE: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/ handle/10183/1862/000310803.pdf?sequence=1>. Acesso em: 24 set. 2013. 2.2.2 Complementaridade dos setores público e privado Embora esteja em expansão em vários setores, notadamente na atenção básica, o SUS necessita comprar serviços de outros prestadores, pois não dispõe dentro do quadro de serviços públicos, de todos os profissionais, equipamentos ou leitos hospitalares necessários. E mais ainda: à medida que aumenta o acesso na atenção básica, há o risco de aumentar a demanda de serviços de mais densidade tecnológica, embora esta relação causa-efeito não devesse ocorrer desta forma. Explicando: pode parecer óbvio que mais unidades de saúde = mais exames, mais consultas de especialistas, mais tratamentos de alto custo. Porém se a atenção básica está qualificada, com financiamento adequado, formação profissional e com estrutura suficiente para atender de acordo com o que a estratégia do sistema preconiza, diminuirão as solicitações de exames e de procedimentos especializados , porque já se consegue trabalhar de maneira resolutiva e preventiva. Para isto servem de exemplo o caso da dentista ou a história da Sra. Ana, como vimos. Em ambos os casos, as equipes são resolutivas e cuidam da doença imediata que se apresenta, mas investem na promoção de saúde e na prevenção do agravamento dos problemas. Equipes como as descritas acima não vão aumentar as listas de encaminhamentos, pelo contrário. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 Mas voltando à complementaridade dos setores, como ocorre esta parceria do público-privado? Vamos consultar a nossa Lei Orgânica do SUS, no 8.080/90: CAPÍTULO II Da Participação Complementar Art. 24 Quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial à população de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada. Parágrafo único. A participação complementar dos serviços privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as normas de direito público. Art. 25 Na hipótese do artigo anterior, as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos terão preferência para participar do Sistema Único de Saúde (SUS). Art. 26 Os critérios e valores para a remuneração de serviços e os parâmetros de cobertura assistencial serão estabelecidos pela direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), aprovados no Conselho Nacional de Saúde. § 1° Na fixação dos critérios, valores, formas de reajuste e de pagamento da remuneração aludida neste artigo, a direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) deverá fundamentar seu ato em demonstrativo econômico- financeiro que garanta a efetiva qualidade de execução dos serviços contratados. § 2° Os serviços contratados submeter-se-ão às normas técnicas e administrativas e aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio econômico e financeiro do contrato. § 3° (Vetado). § 4° Aos proprietários, administradores e dirigentes de entidades ou serviços contratados é vedado exercer cargo de chefia ou função de confiança no Sistema Único de Saúde (SUS). FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm>. Acesso em: 23 set. 2013. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 2.2.3 Como o SUS regulamenta outras formas de atenção à saúde Acreditamos que o item acima possibilitou a você compreender como ocorre esta complementaridade e a sua regulação. É livre, em nosso país, a prestação de serviços de saúde pela iniciativa privada, desde que cumpridas as disposições legais. E é permitido o contrato destes serviços privados pelo SUS, quando houver a necessidade, cumprindo-se o estabelecido na legislação. 2.3 IGUALDADE Muitas coisas mudaram para melhor no acesso do usuário ao sistema. A igualdade foi uma mudança fundamental para acredibilidade do SUS. Ninguém pode ter privilégios por apadrinhamento político, nível social, raça, gênero. Ninguém pode solicitar atendimento prioritário através do tráfico de influência (a velha história do padrinho político). Tal atitude é considerada crime, passível de punição para todos os envolvidos. Porém, muitos trabalhadores de saúde contam que foram assediados por pessoas importantes para arranjar um “encaixe” na agenda de uma consulta, procedimento ou exame. Os que trabalharam e trabalham na gestão de serviços de saúde pública ainda recebem bastante pressão neste sentido. AUTOATIVIDADE Entreviste informalmente algum gestor ou ex-gestor do SUS. Pode ser o coordenador de um programa, o enfermeiro ou a enfermeira, o coordenador de uma unidade de saúde próxima de sua casa, ou algum profissional de saúde no sistema público para perguntar se ele ou ela já foi abordado(a) para favorecer alguém. Lembre-se de não mencionar os nomes de ninguém e nem os locais de trabalho. Esta norma é importante para qualquer atividade acadêmica. 2.3.1 Equidade – (quando a igualdade não é bem igual) É isto mesmo que você leu. Às vezes, a igualdade de acesso não funciona. Pense em um pronto-socorro repleto de gente esperando a vez. E agora imagine a ambulância trazendo alguém que está sofrendo um enfarto. Quem vai passar na frente de todos? Aquele que está em risco iminente de morrer. O pronto-socorro é um exemplo bem simples e bem fácil de entender: algumas pessoas precisam de prioridade pelo nível de risco de sua situação: CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 A equidade no acesso às ações e aos serviços de saúde traduz o debate atual relativo à igualdade, prevista no texto legal, e justifica a prioridade na oferta de ações e serviços aos segmentos populacionais que enfrentam maiores riscos de adoecer e morrer em decorrência da desigualdade na distribuição de renda, bens e serviços. Inclui-se à lógica do SUS, desta forma, o princípio da discriminação positiva para com os grupos sociais mais vulneráveis, buscando-se assegurar prioridade no acesso às ações e serviços de saúde aos grupos excluídos e com precárias condições de vida, considerando as desigualdades de condições decorrentes da organização social. (CAMPOS et al., 2006, p. 535). Caberá aos profissionais de saúde utilizar todo o bom senso possível para que os princípios do SUS sejam cumpridos. Não existe um protocolo para determinar quem apresenta mais risco ou necessita de atendimento prioritário. Cada caso é único em sua especificidade e necessita ser ouvido e alguma direção precisa ser dada para este usuário e sua queixa. Esta primeira escuta faz parte do processo terapêutico e é chamada tecnicamente de acolhimento. Alguns prontos-socorros adotam uma espécie de protocolo para priorizar o que é urgência, que é chamado de classificação de risco. A classificação de risco também apresenta muitas opiniões discordantes quanto à sua implantação e não exclui o bom senso e escuta pessoal de cada caso pelo profissional de saúde. 2.3.2 SISREG – Os sistemas de regulação e as filas O Sistema Nacional de Regulação é um sistema on-line que funciona para apoiar a regulação de oferta de serviços como consultas especializadas, exames e procedimentos. É por intermédio destas centrais de regulação que as consultas são marcadas. O sistema deve ser alimentado com a oferta e a procura de serviços e pode fornecer informações sobre os locais e tipos de atendimentos (ambulatórios, especialidades). O SISREG deve gerenciar o complexo regulatório, humanizar os serviços, otimizar seus recursos, controlar os fluxos, e estar integrado com o setor de avaliação e registros, controle e auditoria. Este sistema também dificulta os encaminhamentos “por fora”, ou informais, porque tudo tem que estar registrado e informatizado. O SUS tem feito um monumental investimento em informatizar os ambientes de trabalho da atenção básica, (e nos outros níveis); criar prontuários eletrônicos e trabalhar com o tratamento destes dados e disponibilizar informações para usuários e profissionais da saúde. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 2.4 DESCENTRALIZAÇÃO No livro Tratado de saúde coletiva (CAMPOS et al., 2006) consideram a descentralização a mudança mais signif icativa no aspecto polít ico- administrativo da Reforma do Sistema de Saúde no Brasil. A essência deste princípio é repassar aos municípios a gestão de seus serviços e suas ações de saúde. A base de nosso sistema de saúde é municipal e ao município cabe a responsabilidade da prestação direta da maioria dos serviços. 2.4.1 Territorialização Baseada em modelos bem-sucedidos de atenção primária à saúde, implantados em Cuba e em outros países de orientação socialista, como a França e o Canadá, construiu-se no Brasil a estratégia de dirigir os atendimentos aos diferentes territórios em que se localiza a população a ser atendida. A territorialização é um dos princípios da ESF. Cada unidade de saúde como porta de entrada do sistema, atende a uma população adscrita a seus limites territoriais. Cerca de quatro mil pessoas, no máximo, por equipe de saúde. Embora seja um importante critério organizativo, a territorialização não é excludente! Existem usuários que não têm domicílio fixo, tais como trabalhadores itinerantes, profissionais do sexo, andarilhos e pessoas em situação de rua. Estes deverão ser atendidos em todas as unidades por onde circulam, por não ter domicílio fixo e pelo alto grau de risco social e sanitário que podem vir a apresentar. Outro caso onde os limites territoriais necessitam ser negociados é dos trabalhadores que atuam nas imediações das unidades de saúde. Muitas vezes estes trabalhadores residem em outras cidades e se deslocam por muito tempo para seu trabalho, por vezes entre cidades diferentes. Seria uma coisa tão absurda “contrabandear” as leis de território para que este trabalhador que atua próximo a uma unidade de saúde possa ser atendido ao lado de seu trabalho para controlar, por exemplo, uma hipertensão ou diabetes? O exemplo do parágrafo acima é polêmico, mas como este é um curso para administradores de sistemas de saúde, a discussão é bem pertinente: a legislação foi feita para facilitar a vida das pessoas e não o contrário. Se a equipe da unidade negar o atendimento ao seu vizinho hipertenso que trabalha na padaria ao lado e mora em outra cidade e só vai para casa à noite, este hipertenso provavelmente não fará o tratamento, ou o fará quando já tiver o problema piorado e agravos à saúde instalados. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 Precisamos lembrar sempre que as pessoas precisam trabalhar e nem sempre os empregadores são compreensivos com faltas e atestados. As pessoas não podem perder o emprego por estarem doentes e necessitarem de tratamento para recuperar a saúde. Você pode alegar que, se a equipe agir assim, vai sobrecarregar a sua unidade. Mas podemos pensar que, se todos agirem desta forma, haverá a complementaridade dos serviços e ninguém ficará sobrecarregado. Desta forma, a população de um bairro está vinculada a uma equipe de saúde que conhece a todos e chama muitos dos usuários pelo nome próprio sem necessitar dos prontuários, porque já os tem de cor. Esta equipe pode atender de maneira integral e multiprofissional, encaminhando para atenção de maior complexidade apenas os casos necessários, mas mantendo o vínculo de gerenciamento do cuidado por parte da equipe. Conhecendo o usuário mais de perto, sua família e modos de viver, formando vínculos, a integralidade no cuidado virá de forma mais natural, pois muitos dos aspectos deste conhecimento só são possíveis com a convivência. A convivência com vínculos vai criando relações de confiança e revelando parte das dores que causam os sintomas da pessoa doente. Muitas vezes estas não estão no organismo físico, mas nas situações difíceis que a pessoa está vivenciando.Apropriar-se do território é o primeiro desafio lançado a uma equipe recém-chegada. É necessário lançar mão de mapas construídos em conjunto e debatidos pela equipe assinalando regiões de risco, acessibilidade, barreiras geográficas, aspectos populacionais. 2.4.1.1 A unidade de saúde do bairro como porta de entrada do sistema O local de domicílio de um usuário será também a base territorial de seu tratamento. É em sua casa que ele recebe a ACS e as visitas da equipe, caso necessite. São os profissionais da USF, que encaminharão, se necessário, os tratamentos de maior complexidade que não poderiam ser feitos na sua unidade de saúde. Para isto é importante que você tenha assimilado o conceito de território. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 2.4.1.2 Distritos sanitários, áreas e microáreas Um distrito sanitário é uma área delimitada para atuação de amplitude maior. Uma cidade inteira pode ser o distrito sanitário. Se a cidade for grande, se subdividirá em vários distritos. Um hospital, onde haja um centro especializado em oncologia, por exemplo, tem o seu distrito como sua área de abrangência. O lugar de onde lhes encaminham seus doentes para tratamento. Isto vale para um hospital geral ou clínica também. À área de abrangência de uma unidade de saúde da família correspondem várias microáreas. Para cada microárea corresponde um ACS – Agente Comunitário de Saúde. Microárea é a menor parte do território de abrangência. Porém, conceitualmente, a menor unidade territorial do sistema de saúde é o domicílio onde o indivíduo vive e talvez o melhor lugar para este ser cuidado pela família, por sua rede de apoio (igreja, amigos, vizinhos) e por sua equipe de saúde de referência. 2.5 A PARTICIPAÇÃO POPULAR: OS CONSELHOS DE SAÚDE A comunidade deve participar do SUS. A representação dos usuários do sistema nas reuniões de caráter consultivo (conselho local) e deliberativo (conferências e conselho municipal) é pré-requisito para que exista o conselho, que deve reunir-se mensalmente em reuniões ordinárias e com horários combinados. O município para cumprir suas metas pactuadas deve ter os conselhos atuantes e documentados. É a participação popular no SUS, e em seus conselhos locais, municipais, estaduais ou nacionais e suas respectivas conferências de saúde, que apresenta uma instância democrática para a construção da consciência de cidadania, utilizando as lutas no campo da saúde como móbil social de uma prática libertadora. O movimento de reforma sanitária, calcado em movimentos populares, resultou em um sistema de saúde de orientação socialista, labutando em contexto econômico de orientação contrária. Apesar de suas contradições, o SUS apresenta índices impressionantes de redução de morbimortalidade populacionais. (PERNA apud ZETZSCHE, 2009, p. 31). O conselho local de saúde é a unidade mínima aonde se exerce o princípio determinado pelo SUS de participação popular. O CLS tem caráter consultivo, reunindo-se mensalmente. Caso a unidade de seu bairro ainda não possua um conselho local, ela está em descumprimento com as diretrizes do SUS. O CLS deve ter a representação da gestão municipal, dos trabalhadores de saúde, dos usuários e contar com os grupos organizados locais como participantes representando os usuários; (associação de moradores, escola, igrejas ou associações do bairro, clube de mães, ou outros grupos). Um conselho local de saúde pode ser formado também num hospital que preste seus serviços ao SUS. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 Já o Conselho Municipal de Saúde é formado por representantes de todo o município, incluindo os conselhos locais. E sempre respeitando a paridade para que todos: usuários, prestadores de serviços, gestores, associações de usuários e profissionais de saúde estejam representados. No Conselho Municipal de Saúde devem se fazer presentes também os outros conselhos locais existentes no município. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE (RSS) .03 1 INTRODUÇÃO O gerenciamento dos RSS constitui-se em um conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente (ANVISA, 2006). O PGRSS, quando elaborado, deve ser compatível com as normas locais relativas à coleta, transporte e disposição final dos resíduos gerados nos serviços de saúde, estabelecidas pelos órgãos locais responsáveis pelas etapas. De acordo com Zamoner (2008), um programa eficiente de gerenciamento dos resíduos infectocontagiosos gerados nos estabelecimentos de saúde objetiva promover a melhoria das condições de saúde pública, através da proteção do meio ambiente. Um sistema adequado de manejo dos resíduos em um estabelecimento de saúde permitirá controlar e reduzir com segurança e economia os riscos para a saúde associados a esses resíduos (BRASIL, 1997). Segundo Zamoner (2008), o gerenciamento adequado destes resíduos é de extrema importância, favorecendo tanto a segurança de profissionais de saúde e a comunidade, quanto a preservação ambiental. Para Salomão, Trevizan e Günther (2004), o gerenciamento dos RSS, considerado como as diferentes etapas por que passam os resíduos, desde sua geração até sua disposição final, pode ser dividido em gerenciamento interno e gerenciamento externo, este último envolvendo a coleta, transporte e destinação final. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 2 GERENCIAMENTO DOS RSS A ANVISA (2006) define o Gerenciamento dos RSS como um conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, à preservação da saúde pública dos recursos naturais e do meio ambiente. O gerenciamento inadequado dos RSS tem ocasionado um crescimento do número de funcionários que são acometidos por acidentes de trabalho, principalmente decorrentes do incorreto acondicionamento dos resíduos perfurocortantes, além de contribuir para o aumento da incidência de infecção hospitalar. Cabe ressaltar que todo esforço para promover um papel ativo e contínuo na melhoria do gerenciamento dos RSS acaba por possibilitar uma maior segurança no manejo e, ao mesmo tempo, proporciona melhor organização dos serviços prestados. Uma correta técnica de gerenciamento pode reduzir o custo da disposição, enquanto mantém a qualidade dos cuidados ao paciente e a segurança dos trabalhadores (NERY e NAVARRO, 2012). O gerenciamento deve abranger todas as etapas de planejamento dos recursos físicos, dos recursos materiais e da capacitação dos recursos humanos envolvidos no manejo dos RSS. Possibilitando que se estabeleça de forma sistemática e integrada, em cada uma delas, metas, programas, sistemas organizacionais e tecnologias, compatíveis com a realidade local. (BRASIL, 2006). Na prática, os modelos de gerenciar e fiscalizar o “caminho” dos resíduos no Brasil depende de muitos fatores, como a realidade econômica, interesse das autoridades locais (políticas, sanitárias e jurídicas) e ao nível de conhecimento e consciência sobre os riscos desses resíduos (SERAPHIM, 2010). Um grande obstáculo para as ações de gerenciamento dos RSS é que não há uma correta classificação destes resíduos, a qual requer a aplicação e o cuidado de todos, desde o médico e a enfermeira, que são geradores de resíduos ao utilizar equipamentos e materiais descartáveis; o pessoal de limpeza, que se encarrega de colocar sacos plásticos, recipienteslimpos e coletar o lixo; os mecânicos e técnicos, que dão manutenção nos meios de transportes e nos equipamentos; até os encarregados do transporte externo e da planta de tratamento. Se algum destes empregados se descuida ou não dá a devida importância à sua tarefa, altera-se o bom funcionamento do sistema e se agravam os riscos (BRASIL, 2001). CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 Conforme dados do IBGE de 2003, aproximadamente quatro mil toneladas de resíduos produzidos pelos serviços de saúde são coletados a cada dia em prefeituras de 5.507 municípios brasileiros (SERAPHIM, 2010). Portanto, lança-se a pergunta: será que todos estes resíduos estão recebendo o devido gerenciamento, ou estão colocando a população e o ambiente frente a possíveis danos causados pelo seu potencial infectante? A legislação brasileira estabelece que é de responsabilidade do gerador dos RSS a sua gestão, iniciando na geração até a destinação final, conforme legislação vigente. É importante e imprescindível o gerenciamento adequado desses resíduos, e isso requer não apenas a organização e sistematização dessas fontes geradoras, mas, principalmente, a busca da consciência humana e coletiva dos profissionais que atuam nesses ambientes (SERAPHIM, 2010). 3 RESÍDUOS DE SAÚDE Para Zamoner (2008), consideram-se resíduos de serviços de saúde todos aqueles que resultam de atividades exercidas no serviço que têm relação com o atendimento de saúde, tanto humana quanto animal, o que inclui serviços de atendimento domiciliar, laboratórios analíticos de produtos para saúde, necrotérios, funerárias, drogarias e farmácias (incluindo as de manipulação), unidades móveis de atendimento à saúde, centro de controle de zoonoses, serviços de acupuntura, tatuagens e outros similares. 4 RESPONSABILIDADE CIVIL NOS SERVIÇOS DE SAÚDE 4.1 RESPONSABILIDADE CIVIL PELA NEGATÓRIA DE ASSISTÊNCIA Não deveria tratar-se de rotina, entretanto as negativas ocorrem em demasia. As operadoras sempre negam a prestação de serviço sob o argumento das doenças e lesões preexistentes, e, também pelo não cumprimento das carências. Entretanto, sabemos que a operadora não pode deixar de prestar assistência à saúde do beneficiário do plano, sob esses argumentos, se não preenchidos os devidos requisitos que justifiquem os mesmos. Quando falamos em doenças e lesões preexistentes, observa-se aquelas que o beneficiário possuía à época da celebração do contrato, e, caso tivesse conhecimento deveria ele informar à operadora sobre a existência da doença. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 Caso informado diretamente pelo contratante, a operadora na qualidade de prestadora do serviço deveria apresentar solução para aquele problema, trata-se, nesse caso, da aplicação do agravo durante a carência estabelecida pela Lei no 9.656/98 – Lei dos Planos de Saúde, onde o beneficiário pagará uma quantia extra para obter a devida cobertura à moléstia preexistente. Entretanto, não é o que ocorre, a operadora utiliza-se apenas de uma entrevista antes do firmamento contratual, não utiliza a maioria, da solicitação de exames que demonstrem a existência ou não de enfermidade preexistente, sendo negligente, não agido com o devido dever de cautela. Muitas vezes, o consumidor desconhece a doença que está portando ou desconhece sua gravidade, ademais, é dever da operadora exigir perícia médica para comprovação do estado de saúde do futuro beneficiário. Borges (2016) ressalta que diante disso, não pode a operadora negar cobertura a tratamento argumentando que a doença era preexistente, e que ainda não foi cumprida a carência por parte do beneficiário. Deparando-se com tal situação, é dever da operadora prestar o serviço, uma vez que não verificado no momento oportuno a existência de enfermidades no beneficiário, não pode, agora, no momento de necessidade do mesmo, negar atendimento. A operadora é obrigada a prestar o serviço, e se nega, deve o beneficiário buscar resguardo ao seu direito no Judiciário, para que seja imposta a devida obrigação objetiva de prestação do serviço, e ainda, quem deve provar que a doença é realmente preexistente é a operadora, pelo instituto da inversão do ônus da prova. Para que a operadora saia ilesa nessa situação é necessário demonstrar a má-fé do beneficiário à época da contratação, que o mesmo tinha ciência da existência da enfermidade e que ludibriou a operadora. Portanto, uma vez celebrado o contrato e não verificada a existência de doença ou lesão preexistente, não pode a operadora no decorrer da vigência da carência, negar assistência, pois, a carência estabelecida é com relação a doenças e lesões preexistentes, e as mesmas não foram verificadas, por fim, deve a operadora assistir o beneficiário por imposição de dever contratual (BORGES, 2016). Quando se fala em negatória de assistência pelo não cumprimento das carências estabelecidas no contrato, muitas vezes verifica-se que a operadora nega até cobertura em casos de urgência e emergência. Como o próprio nome diz, urgência e emergência são casos que fogem ao comum, são situações em que o beneficiário não tem o controle sobre os acontecimentos, são acidentes, acontecimentos externos que dão causa à necessidade de uso da assistência contratada com a operadora, sem culpa do beneficiário. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 Nesses casos, não pode a operadora escusar-se a cobrir o tratamento, pois assim o feito, se está contrariando a Constituição Federal de 1988, quanto à proteção do direito à vida e à saúde artigos 5º e 6º. Igualmente, a própria Lei no 9656/98 – Lei dos Planos de Saúde, em seu artigo 35-C estabelece: Art. 35-C É obrigatória a cobertura do atendimento nos casos: I – emergência, como tal definidos os que implicarem risco imediato de vida ou de lesões irreparáveis para o paciente; II – de urgência, assim entendidos resultantes de acidentes pessoais ou de complicações no processo gestacional. [...]. Borges (2016) alerta que a Lei no 9.656/98 – Lei dos Planos de Saúde, em seu artigo 12, inciso V, alínea c, e diz ser de 24 (vinte e quatro) horas o prazo para cobertura de tratamento de urgência e emergência, soa absurdo, mas, são esses os termos da Lei, que em face dessa situação se entende perfeitamente aplicável o Código de Defesa do Consumidor para haver superado tal vedação emitida pela dita lei, vez que acarreta um ônus absurdamente excessivo ao consumidor, que é o de arcar com o tratamento diante de um acidente o qual qualquer ser humano está sujeito. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) vem com o seu entendimento nas decisões jurisprudenciais decidindo que não pode a operadora aplicar a regra da carência diante de casos de urgência e emergência. Mesmo que a Lei admita tal manobra, é abusiva frente ao consumidor e deve ser afastada. 4.2 RESPONSABILIDADE DA OPERADORA PELOS PROFISSIONAIS ASSOCIADOS Para prestar os serviços aos beneficiários, as operadoras dos planos devem ter uma gama de profissionais associados para melhor prestação do serviço, onde esses profissionais preenchem um quadro de colaboradores em diversos ramos de atuação voltado à saúde. Na prestação da assistência, o profissional da saúde deve sempre usar das melhores técnicas aplicadas ao caso e sempre atualizado com os avanços de sua área de atuação, pois a saúde é um ramo deveras complexo, e a cada nova descoberta muito se avança nos tratamentos. Contudo, se porventura de sua atuação emerge um erro profissional, como deve ser apurada a responsabilidade deste? CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 Sabe que o artigo 14, § 4º do Código de Defesa do Consumidor, traz: “art. 14 – [...] § 4º - a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação da culpa”, ocorre que muitas vezes o erro ‘médico’, não é tão claro, a não ser nos casos em que o cirurgião esquece um bisturi alojado no corpo do paciente,é de difícil percepção a sua constatação. Todavia, o médico presta serviço em função do contrato firmado com a operadora do plano, e o consumidor, ora lesado, tem um contrato de prestação de serviço com a operadora, e que, portanto, tem ele o direito de haver indenizado seu dano em face da operadora, independentemente de culpa, ou responsabilidade objetiva pelos seus colaboradores. Ademais, sabe-se que como pessoa jurídica, a operadora não realiza ou prática atos médicos, assim a ela não são aplicáveis o disposto no art. 951 do Código Civil que dispõe o seguinte: “o disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplicam-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho”. Entretanto, ao observar o disposto no art. 932, inciso III do Código Civil que “são também responsáveis pela indenização civil: o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele”, portanto, conclui-se que responde solidariamente a operadora com o médico-associado/colaborador pelos erros advindos do seu ofício durante o exercício da sua função na instituição. Eis a importância e a obrigação da operadora escolher bem os seus colaboradores, associados, por se tratar de uma relação de consumo onde a prestadora do serviço é a operadora do plano, a figura médica é apenas o meio pelo qual o serviço é prestado. 4.3 RESPONSABILIDADE DA OPERADORA PELA MÁ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO Na efetiva prestação dos serviços, a operadora do plano tem em sua rede além de profissionais, conforme exposto anteriormente, tem convênio com hospitais, ambulatórios e laboratórios, para prestar o serviço. No entanto, diante da má prestação dos mesmos, dificuldades colocadas para realização dos devidos procedimentos, ou outras inadmissíveis, acarretam ao beneficiário do plano a pleitear indenização da operadora. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 Responde solidariamente a operadora do plano, seja com o laboratório, ambulatório ou hospital que causa dificuldade na prestação de serviço ou impõe ao consumidor uma prestação indevida para melhor atendê-lo. 4.4 RESPONSABILIDADE DA OPERADORA NA ASSISTÊNCIA REALIZADA PELO SUS Reiterando o conteúdo anteriormente discutido, uma vez que o consumidor se utiliza dos serviços médicos, prestados pelo Sistema Único de Saúde – SUS, sendo este beneficiário de plano de saúde, e ainda, que o serviço público prestado esteja dentro das coberturas estabelecidas no plano, deve a operadora ressarcir os custos do tratamento ao SUS. Tal ressarcimento está previsto na Lei dos Planos de Saúde – Lei no 9.656/98, em seu artigo 32 que dispõe o seguinte: Art. 32. Serão ressarcidos pelas operadoras dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o desta Lei, de acordo com normas a serem definidas pela ANS, os serviços de atendimento à saúde previstos nos respectivos contratos, prestados a seus consumidores e respectivos dependentes, em instituições públicas ou privadas, conveniadas ou contratadas, integrantes do Sistema Único de Saúde – SUS. [...] § 3o A operadora efetuará o ressarcimento até o décimo quinto dia após a apresentação da cobrança pela ANS, creditando os valores correspondentes à entidade prestadora ou ao respectivo fundo de saúde, conforme o caso. [...]. Conforme dispõe a lei, não há que se questionar o ressarcimento ao SUS – Sistema Único de Saúde e deve o pagamento ser efetuado nos moldes do supracitado parágrafo 3º, em até 15 (quinze) dias após a apresentação da cobrança pela ANS – Agência Nacional de Saúde. No que faz referência aos planos de saúde, levando em consideração a relação contratual estabelecida, haverá, sempre, responsabilidade solidária entre o médico que prestou diretamente o serviço e o plano de saúde que indicou o mesmo, o que de acordo com o código de defesa do consumidor, as empresas prestadoras de serviços sempre respondem, objetivamente pelos atos de seus prepostos, de forma que em constatado o erro médico, determinante do prejuízo suportado pelo contratante-paciente, devido à má prestação de serviço prestado, o plano de saúde responderá objetivamente por este dano. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 CONCEITOS DE EPIDEMIOLOGIA E SUA APLICAÇÃO .04 1 INTRODUÇÃO Ao longo de toda a disciplina, e durante a sua vida profissional, você encontrará importantes conceitos de epidemiologia que necessitará dominar para entender o que está escrito nas revistas, artigos e pesquisas. Muitos desses conceitos já foram apresentados até aqui. Tomamos o cuidado de colocá-los em negrito para indicar-lhe que esta palavra será encontrada muitas vezes e dominar e entender o seu significado é importante para a sua vida e para a disciplina. E lembre-se: o conhecimento é um processo contínuo e nunca está pronto. Segundo o educador Paulo Freire, um dos nomes mais queridos quando se fala em educação no Brasil e no mundo, o conhecimento nunca está pronto. Estamos o tempo todo nos educando, aprendendo uns com os outros e educando os demais. O trabalho em saúde é um trabalho educativo por excelência. Quer um exemplo de como a educação é importante para a epidemiologia? Todos nós sabemos hoje que as vacinas são importantes e consideradas indispensáveis. Foi assim que doenças mortais como a varíola, a difteria, a poliomielite e o sarampo foram erradicadas. No entanto, no ano de 1904, durante a campanha de vacinação contra a varíola, a população do Rio de Janeiro se revoltou e recusou-se a receber os agentes vacinadores e tomar a vacina. Houve quebra-quebra, depredação das linhas de bonde, e muitos bondes foram virados e depredados pela população enfurecida. A revolta da vacina deixou um saldo de aproximadamente 30 mortos e 100 feridos. Quem estava no comando da campanha era o médico e sanitarista Oswaldo Cruz, um dos maiores nomes na história da saúde pública brasileira. O governo precisou suspender a obrigatoriedade da campanha e empreender um grande trabalho educativo para continuar a vacinação. E por falar nisto, como está a sua situação vacinal? CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 2 INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS Como se constrói uma medida para determinar a quantidade e qualidade de saúde de uma população? A ONU – Organização das Nações Unidas decidiu, no ano de 1952, convocar um grupo de trabalho para encarregá-lo de determinar o que seriam indicadores de saúde, ou maneiras confiáveis de avaliar os coletivos humanos. Não se encontrou nenhuma fórmula global para avaliar qualidade e quantidade de saúde, é lógico, mas o grupo sugeriu indicadores parciais agregados para: • Condições de trabalho • Ensino técnico (quantidade, disponibilidade e qualidade dos profissionais de saúde) • Saúde • Nutrição • Educação • Recreação • Transporte • Habitação • Segurança social (ROUQUAYROL apud CAMPOS, 2012, p. 324) Cinco anos depois, em 1957, dada a dificuldade de encontrar uma medida que indicasse o que seria saúde, a ONU, por meio do informe técnico número 137, passou a recomendar que se usassem os dados dos óbitos para avaliar a quantidade/qualidade de saúde das coletividades. Ou seja, as taxas de mortalidade passaram a ser o mais importante indicador epidemiológico. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 VIGILÂNCIA SANITÁRIA .05 1 INTRODUÇÃO Para clarear bem esta diferença entre as vigilâncias, achamos por bem transcrever a definição de Vigilância Sanitária constante do manual/glossário “O SUS de A a Z”, que é um material bastante interessante e que você, caro(a) acadêmico(a), também poderá ter disponível para consulta imediata: A vigilância sanitária é um conjunto de ações legais, técnicas, educacionais, de pesquisa e de fiscalização, que exerce o controle sanitário deserviços e produtos para o consumo que apresentam potencial de risco à saúde e ao meio ambiente, visando à proteção e à promoção da saúde da população. O campo de atuação da vigilância sanitária é amplo. Tem por responsabilidade o controle sanitário sobre medicamentos, alimentos e bebidas, saneantes, equipamentos e materiais médico-odonto-hospitalares, hemoterápicos, vacinas, sangue e hemoderivados, órgãos e tecidos humanos para uso em transplantes, radioisótopos e radiofármacos, cigarros, assim como produtos que envolvam riscos à saúde, obtidos por engenharia genética. Exerce também o controle sanitário dos serviços de saúde, portos, aeroportos e fronteiras, das instalações físicas e equipamentos, tecnologias, ambientes e processos envolvidos em todas as fases de produção desses bens e produtos e mais o controle da destinação de seus resíduos, do transporte e da distribuição dos produtos referidos. A vigilância sanitária é parte do SUS. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é a instância federal do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e, como tal, formuladora de políticas e coordenadora desse subsistema do SUS. Em todos os estados brasileiros existem unidades específicas – coordenações, departamentos ou similares – que executam, implementam e orientam as ações de vigilância sanitária. O mesmo ocorre em muitos municípios brasileiros. (BRASIL, 2009 , p. 390). CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 2 ÁREAS DE ATUAÇÃO DA ANVISA • Agrotóxicos/análises de resíduos. • Alimentos/registro. • Cosméticos e produtos de beleza/registro. • Farmacovigilância. • Hospitais-sentinela. • Infecção hospitalar/controle. • Inspeção em vigilância sanitária. • Medicamentos/remédios. • Mercado de medicamentos. • Portos, aeroportos e fronteiras. • Programa Produtos Dispensados de Registro (Prodir). • Propaganda de medicamentos. • Rotulagem nutricional. • Saneantes/produtos de limpeza. • Tabaco/cigarro. • Termo de Ajustes de Metas (TAM). • Vigilância em saúde. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA .06 A PORTARIA Nº 1.271, DE 6 DE JUNHO DE 2014, define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos do anexo, e dá outras providências. A portaria não inventa quais os tipos de doenças são perigosos para toda a população, mas estabelece como obrigatoriedade para notificação uma série de doenças. Esta indicação atende a um critério técnico e é atualizada periodicamente. Se houver emergências populacionais ou riscos de epidemia, outras doenças podem ser temporariamente acrescentadas. Estas doenças ainda são as que mais preocupam os epidemiologistas brasileiros e deverão ser da competência de todas as ESF – equipes de saúde da família. Muitas delas podem ser tratadas sem problemas e com sigilo. São doenças muito estudadas, dada a importância de ter seus tratamentos sabidos por todos os profissionais de saúde e seus tratamentos à disposição na rede pública de saúde. São obrigatoriamente notificáveis por todos os estabelecimentos de saúde, sejam eles públicos ou privados. CURSO LIVRE - GESTÃO HOSPITALAR - UM OLHAR PARA A SAÚDE 3 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA – BREVE HISTÓRICO E DEFINIÇÕES .07 De todas as vigilâncias, a que mais interessa para a nossa disciplina é a Vigilância Epidemiológica. A definição do que seria a VE passou por diversos estágios, pois esta sempre teve o caráter fortemente influenciado pela economia, uma vez que o adoecimento dos trabalhadores prejudica os processos de produção e o giro de mercadorias. Podemos dizer que nos dias de hoje igualmente há este caráter econômico a compor a vigilância, pois além de salvar vidas humanas e prevenir o adoecimento, prevenir doenças, reduz a mão de obra parada e inativa, os custos com tratamento e hospitalização e facilita o fluxo internacional de viajantes, turistas, mercadorias e negócios. Podemos dizer que a Vigilância Epidemiológica toma a seu cargo as ações de investigação epidemiológica e as medidas de prevenção e controle das doenças transmissíveis. E também das doenças crônicas não transmissíveis. Quanto às doenças transmissíveis, a VE está encarregada de eliminar ou minimizar os riscos da disseminação ou prevalência da doença, diminuindo os impactos e o adoecimento e a mortalidade em decorrência das mesmas. Também está a cargo da VE normatizar condutas, preparar material didático acessível, divulgar ampla informação para capacitar os profissionais de saúde da rede pública e da rede privada a responderem às emergências e riscos de forma rápida e padronizada, de acordo com os insumos disponíveis. De acordo com a introdução do Guia de Vigilância Epidemiológica de 2009: O Guia de Vigilância Epidemiológica tem se constituído em importante instrumento de divulgação das normas e procedimentos de vigilância e controle de doenças transmissíveis de interesse para o Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. Essa ação, atribuição específica do Ministério da Saúde, é essencial para assegurar a padronização de procedimentos em todo o país e permitir a adoção das medidas capazes de prevenir e controlar as doenças transmissíveis. (BRASIL, 2009c, p.15).
Compartilhar