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Políticas e Estratégias em Saúde - Aulas EAD

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POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS EM SAÚDE
Tema 2 – Histórico das Políticas de Saúde
Descrição
· As políticas de Saúde no Brasil, a construção histórica para a sociedade brasileira e a formação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Propósito
· Compreender o processo histórico das políticas de Saúde no Brasil, bem como a Reforma Sanitária Brasileira (RSB).
Objetivos
· 
· Módulo 1
· Identificar a evolução das políticas de Saúde no Brasil do período pré-colonial (até 1500) até a Era Vargas (1930 a 1945)
· Módulo 2
· Identificar a evolução das políticas de Saúde no Brasil do período de redemocratização (1945 a 1964) até o período da Reforma Sanitária Brasileira (início na década de 1970 até os dias atuais)
Introdução
· Todos nós temos direito de acessar o Sistema Único de Saúde (SUS), seja por serviços ou ações de saúde, como vacinas, consultas e exames, seja pelo restaurante que você frequenta, que tem ação da Vigilância Sanitária, ou pela medicação que você usa, que tem participação do SUS na formulação, entre tantas outras áreas.
· A concepção ampliada de saúde ultrapassa o entendimento meramente biológico. Dessa forma, é necessário um sistema de saúde com ações de promoção, prevenção e recuperação, incluindo no cuidado as questões sociais, econômicas, políticas, culturais, entre outras. Assim, é preciso um sistema complexo e universal, ou seja, todos devem ter acesso sem qualquer limitação. Você acha que sempre foi assim? Atualmente, o nosso direito é garantido pela Constituição Federal de 1988. Para chegar a essa grande conquista, existiu um longo caminho histórico de construção e desconstrução na área da Saúde.
· Veremos ao longo desse material os diversos períodos históricos, as dificuldades, as mudanças e as consequências de todo o processo até chegar ao atual momento. A proposta principal desse conteúdo é que você possa refletir sobre o impacto de toda a construção histórica das políticas de Saúde sobre o atual sistema de saúde e que consiga ter uma atuação profissional reflexiva baseada no conteúdo teórico trabalhado, considerando a realidade da prática.
MÓDULO 1
· Identificar a evolução das políticas de Saúde no Brasil do período pré-colonial (até 1500) até a Era Vargas (1930 a 1945)
Conceitos
· Para começarmos esse módulo, é importante fazer a seguinte reflexão: Por que precisamos estudar História? Existem muitas respostas possíveis para essa pergunta, mas uma resposta costuma ser consenso: estudamos História para aprender com o passado e planejar o futuro, evitando a ocorrência dos mesmos equívocos.
· Uma parte significativa dos que escolhem cursar uma graduação na área da Saúde relata não ter grande apreço por estudar conteúdos históricos e filosóficos. No entanto, ao trabalhamos com o conceito ampliado de saúde, é preciso compreender todo o contexto em que vive cada sujeito e, para isso, é imprescindível pensar nas questões históricas que geram as iniquidades e a dificuldades de acesso aos serviços e ações públicas de saúde.
· É primordial, por exemplo, conhecermos a história da profissão que escolhemos exercer, pois isso fortalece a identidade profissional, auxiliando a configurar cada uma delas como corpo político e social. Na mesma proporção, é essencial conhecermos a história das políticas de Saúde, como o processo foi se construindo, desconstruindo e reconstruindo, para chegar ao momento atual, que traz dificuldades significativas e avanços importantes. Nesse módulo, o foco será na evolução das políticas de Saúde no Brasil.
· O que seria uma política pública de saúde? Podemos dizer de maneira bem simples que uma política pública de saúde diz respeito a uma resposta do Estado para uma necessidade encontrada na sociedade. Ou seja, para enfrentar os problemas relacionados à saúde, são criadas as políticas públicas, que trarão impactos à vida da população.
· É importante ter clareza sobre um ponto: as políticas públicas de saúde nascem a partir de questões social e coletiva e não a partir de algo individual. Não podemos utilizar situações pontuais e isoladas para justificar uma política de saúde. A coletividade é o foco, porém, obviamente, ocorrerão também impactos nos indivíduos de maneira singular.
· O Brasil apresenta uma desigualdade social muito significativa. O Estado precisa garantir um sistema de saúde que busque diminuir as iniquidades, aumentar o acesso, pensando muito além da construção de hospitais. Grande parte da nossa população vive em condições precárias e, certamente, tal fato é resultado de um processo histórico de distribuição de renda fortemente desigual.
· O SUS existe a partir da premissa de que saúde é direito da população e deve ser garantida pelo Estado. Mesmo ainda com tantos desafios, podemos observar muitos avanços. Até chegarmos ao SUS, tivemos um longo caminho de construção das políticas de Saúde. Vamos ver, a partir de agora, como se dava essa questão em períodos históricos específicos.
Brasil Pré-Colonial
· Quando falamos em Brasil pré-colonial, estamos abordando o período em que o país ainda não havia sido colonizado por Portugal, ou seja, o período anterior ao ano de 1500. Nessa época, milhões de indígenas viviam em diversas tribos distribuídas por todo o território nacional.
· Os indígenas tinham suas próprias culturas, crenças e formas de organização social. Os rituais e práticas curativas com uso de plantas e chás eram realizados nas aldeias e conviviam com as questões que atravessavam a saúde, podendo realizar cuidados conhecidos até hoje. Quando os portugueses chegaram, a população indígena foi dizimada pelas novas doenças trazidas pelos europeus, como cólera e varíola, e sofreram inúmeras intervenções em sua cultura e crença, sendo alfabetizados em português, catequizados pelos líderes católicos e servindo de mão de obra escrava.
· As pesquisas mostram que, na década de 1970, o país não chegava a ter 100 mil indígenas. Lembra que vimos que milhões de indígenas moravam aqui antes da chegada dos portugueses? Alguns estudos apontam que eram aproximadamente cinco milhões. Pense em quantas vidas se perderam. Como seria possível responder a tal tragédia? Através de políticas públicas voltadas para a população indígena. Em função dessas políticas públicas, o censo de 2010 apontava que o país tinha uma população de cerca de 800 mil indígenas. Ou seja, é preciso investir nas políticas de Saúde para que essa população tenha melhores condições de vida.
BRASIL COLÔNIA
· A partir do momento que Portugal chegou ao Brasil, iniciamos o período chamado de Brasil Colônia, que vai de 1500 a 1822, quando sofremos grandes mudanças culturais, sociais, políticas e econômicas.
· Apesar das intervenções e perdas envolvendo os indígenas, muitas práticas utilizadas pelas tribos nativas foram aproveitadas pelos boticários no período colonial. Você sabe quem eram os boticários? Atualmente, entende-se que foram os precursores dos farmacêuticos. Eles viajavam por todo o país, prescrevendo remédios, poções e misturas para pessoas consideradas doentes. É importante reforçar que, naquele período, os médicos eram praticamente inexistentes no país e que a população ficava muito desamparada em relação à assistência em saúde.
· Para algumas doenças como a hanseníase, conhecida popularmente como lepra, as medidas tinham muito mais relação com afastar o chamado leproso do convício social do que em tratar sua questão de saúde. Cabe falar que as pessoas acometidas por essas doenças infectocontagiosas eram direcionadas para locais isolados, coordenados por religiosos. Outra questão importante diz respeito à chegada dos escravos africanos ao Brasil. Depois de algum tempo, o local de desembarque dos navios negreiros passou a ser realizado em local afastado para permitir a separação de escravos considerados saudáveis dos escravos considerados doentes.
· Percebe que não existia medida de cuidado em saúde, mas uma exclusão higienista e preconceituosa?
· Somente em 1808, com a chegada da corte portuguesa no Brasil, percebemos um estímulo maior para a presença médica, diante da necessidade de cuidarda nobreza. Foram inauguradas a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro e o Colégio Médico-Cirúrgico em Salvador. Alguns estudos apontam tentativas de construção de escolas de ensino superior para formação médica antes da chegada da corte portuguesa no Brasil, mas possuir formação em nível superior era considerado algo proibido por Portugal nos tempos do Brasil Colônia.
· Você consegue perceber que o avanço que começa a acontecer, com a vinda das escolas de formação médica, tem relação direta com a presença e interesses de um grupo privilegiado e nenhuma relação com as necessidades da população? Veremos adiante que essa lógica está sempre atravessando a construção de ações e serviços de saúde em nosso país.
Brasil Imperial
· Esse período histórico começou com a proclamação da independência do Brasil por D. Pedro I em 1822 e foi até 1889, quando aconteceu a proclamação da república. É importante reforçar que pouco se tem para relatar sobre avanços ou mudanças na área da saúde.
· As ações limitavam-se a manter certa higienização no Rio de Janeiro, a capital do Império, em função da grande disseminação de doenças e condições precárias de vida e da proteção da nobreza portuguesa. Essas ações eram realizadas principalmente com intuito de evitar grandes perdas financeiras diante do aumento significativo de doenças, já a questão da qualidade de vida para população não era levada em consideração.
· Algumas tentativas foram feitas como a criação da Junta de Higiene Pública para unificar os serviços sanitários do império a partir do surgimento de casos de febre amarela. Mesmo com essa criação, alguns anos depois a situação sanitária do país ainda continuava muito frágil; posteriormente foi instituído o Conselho Superior de Saúde Pública, que também não surtiu grandes efeitos práticos sobre a situação da salubridade do país.
· Você consegue perceber a fragilidade e desinteresse nesse período em cuidar da saúde da população?
· Considerando nossa sociedade escravocrata, a saúde da maior parte da população não era objeto de preocupação. Por isso, temos pouco a relatar em relação a mudanças positivas para a saúde em seu significado amplo: biológico, social, econômico, político, entre outros.
Primeira República
· Esse período histórico, que começou em 1889 com a proclamação da República e terminou em 1930, também é conhecido como “República Velha”. Tivemos nesse período uma alternância no governo do país entre os estados mais ricos:
· 
· Rio de Janeiro;
· São Paulo;
· Minas Gerais.
· 
· Houve um grande incentivo à cafeicultura, que se tornou o setor de destaque na economia, com boa parte do seu lucro direcionada para a industrialização e urbanização. Tal fato proporcionou um grande aumento da população nas cidades, com grande êxodo rural nesse período. Aconteceu também significativo aumento da imigração de europeus, principalmente, para trabalhar como mão de obra assalariada nas lavouras de café, tendo em vista que a escravidão foi abolida em 1888. 
· Diante desse aumento da população urbana, tivemos também um crescimento na transmissão de doenças e o surgimento de novos agravos de saúde, o que prejudicava fortemente a economia brasileira. Apesar de parecer estranha, essa lógica do mercado prevalecia e ganhava mais força ao longo do tempo. A preocupação com a saúde da população era muito inferior em relação à preocupação com as finanças do país. Existia forte ameaça com a presença significativa de varíola e febre amarela e, para isso, era necessária a adoção de ações voltadas para o enfrentamento dessas doenças. Nesse período, a saúde pública começava a ter um desenvolvimento mais acelerado no país, com práticas fortemente pautadas na Bacteriologia e Microbiologia. A partir da descoberta de microrganismos patogênicos, as práticas sanitaristas começaram a se estruturar. As campanhas sanitárias agiram fortemente nos portos, no controle de doenças e no saneamento, organizando serviços de saúde pública.
· Cada vez mais, no final do século XIX, ganhava visibilidade a necessidade de ampliar as ações de comércio no exterior e contratar imigrantes para trabalhar no país. Com uma estrutura pouco eficaz para enfrentar a questão epidemiológica, foram criados laboratórios de saúde pública e serviços sanitários foram organizados.
Saiba mais - Nessa época, importantes atores no processo de fortalecimento da Saúde Pública, como Vital Brasil, que testou soros e vacinas, e Emílio Ribas, que atuou fortemente no combate a epidemias e endemias, principalmente em relação à febre amarela, que vinha apresentando uma taxa de mortalidade muito alta. Muitos sabiam que, ao chegar no Rio de Janeiro, poderiam adoecer gravemente ou até morrer. Então, nosso país ganhou fama de ser um local altamente insalubre. Em função dessa situação, no ano de 1900, foi criado o Instituto Soroterápico Municipal.
· No governo de Rodrigues Alves (1902-1906), tivemos a presença marcante do sanitarista Oswaldo Cruz à frente da Diretoria Geral de Saúde Pública, com foco em ações higienistas para responder às questões de saúde no Brasil. O principal papel de Oswaldo Cruz era erradicar a febre amarela, sendo necessário convencer a população sobre a as intervenções de controle do vetor e vigilância das pessoas adoecidas.
· Imagine a seguinte cena: Você ouve alguém bater na porta de sua casa e, ao abrir, uma equipe invade seu espaço e começa a destruir colchões e cortinas e limpar possíveis reservatórios de mosquitos. Ou ainda lhe expulsa de sua moradia, alegando que sua casa está impossibilitada de continuar habitada. Qual seria sua reação?
· Essa cena foi proposta para dar dimensão das reações populares diante do que foi chamado de modelo campanhista de intervenção, implementado por Oswaldo Cruz para enfrentar as epidemias da época. É importante ressaltar que essas campanhas sanitárias eram altamente repressivas, interditando e invadindo casas, sempre com a presença da chamada polícia sanitária.
· Agora vamos imaginar outra situação: Algum profissional de saúde se aproxima de você e aplica uma vacina, sem a menor explicação. O que você faria?
· Atualmente, recorremos à vacinação porque temos acesso à informação e sabemos que as vacinas são potentes para a erradicação de muitas doenças. Porém, nem sempre a população teve acesso a essas informações.
· Veja como a vacinação era vista:
· Em 1904, foi aprovada uma lei que tornava obrigatória a vacinação contra varíola, medida também coordenada por Oswaldo Cruz. A forma violenta e invasiva desse processo, com a ação da polícia sanitária novamente, provocou uma revolta sangrenta da população em relação à medida governamental. Esse movimento ficou conhecido como Revolta da Vacina, tendo duração de aproximadamente seis dias, no Rio de Janeiro, até ser reprimido pelo governo. Em seguida, a lei que tornava a vacina obrigatória foi revogada. Houve significativa queda no número de pessoas com varíola, mas a maneira como a ação foi realizada trouxe outros prejuízos para a população.
· 
· Em 1920, houve a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública e foi implementada a chamada Reforma Carlos Chagas, que trouxe uma separação entre saúde pública e previdência. É importante que você saiba que, nesse período, as famílias que tinham uma posição social privilegiada recorriam aos médicos que iam às suas casas e recebiam pagamento pelos serviços prestados. Já a maior parte da população, pobre, precisava buscar cuidados em instituições filantrópicas ou religiosas.
· Em 1923, foi criada Lei Eloy Chaves, que representou o início da previdência social e trouxe as Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP) – que eram responsáveis pelos benefícios dos funcionários e organizadas por cada empresa, de natureza privada. O financiamento das CAP era feito a partir de um desconto do valor recebido pelos funcionários e de recursos dos empregadores. A arrecadação variava de acordo com cada empresa.
· 
· Naquele momento, a iniciativa pública somente atuava na resolução de conflitos. A partir da criação da previdência social, podemos perceber uma mudançapolítica do Estado diante das questões de saúde e de trabalho, com maior atenção às questões sociais, porém ainda muito distante das necessidades da população.
Era Vargas
· No período conhecido como Era Vargas, que foi de 1930 a 1945, tivemos importantes mudanças jurídicas e de proteção social no país. A perda de importância da cafeicultura trouxe prejuízos políticos para a classe dominante da época. Houve um movimento de pessoas da elite não ligadas à cafeicultura para fim da hegemonia da chamada “política do café com leite”, que contou com grande apoio de diversos grupos da sociedade. Com esse movimento, que ficou conhecido como Revolução de 1930, Getúlio Vargas chegou ao poder, trazendo importantes avanços sociais. Mas seu governo também foi extremamente autoritário, o que fez com que se tornasse um dos políticos mais enigmáticos da história brasileira.
· A Era Vargas foi marcada por forte perseguição à oposição e teve como um dos principais marcos a criação do Estado Novo, em 1937 – um regime de ditadura, com forte centralização de poder, que durou até 1945.
· O cenário da saúde no Brasil nesse momento era composto pela medicina previdenciária, pelas instituições filantrópicas e por profissionais médicos liberais. Houve também algum avanço com a construção de departamentos de saúde no interior do país e a criação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), que focava em áreas com pouca ou nenhuma cobertura pelos serviços oferecidos pelo governo.
· Os trabalhadores da época conseguiram que o salário mínimo fosse aprovado, porém o período era de crescente inflação, com grande piora nas condições de vida. Diante disso, a luta trabalhista precisava continuar, inclusive para conseguir melhor assistência de saúde.
· Foram criados os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP), que eram organizados por categorias profissionais. Algumas categorias foram mais beneficiadas que outras, gerando grandes desigualdades financeiras e nas condições de trabalho. Com a crescente industrialização, havia preocupação com a produção e, assim, com as condições físicas dos trabalhadores. Por isso, muitas empresas criaram serviços de saúde ambulatoriais. As classes mais beneficiadas eram os:
· 
· Marítimos
· Ferroviários
· Comerciantes
· Bancários
· Funcionários públicos
· Atenção
Atenção - É importante lembrar que os trabalhadores urbanos tinham muito mais acesso a esses avanços que os trabalhadores rurais.
· Lembra que falamos sobre as CAP, que eram organizadas pela iniciativa privada? Quando ocorre a mudança para os IAP, houve incremento da participação pública e significativa dependência do governo federal. Porém, esses institutos serviram mais como criadores de reserva financeira para o governo do que como prestadores de serviços à população.
· Nesse ritmo acelerado de industrialização nacional, outro destaque foi o crescimento da indústria farmacêutica, o que reforçava a concepção de saúde reducionista como algo biológico que pressupõe uma prática unicamente curativista, restando pouco espaço para ações de prevenção e promoção da saúde.
· É possível identificar avanços importantes nessa etapa da nossa história, como a ampliação de alguns direitos trabalhistas, porém muitas questões estruturais permaneciam, como a orientação de estruturar um modelo embasado nos interesses das grandes empresas e pouco estruturado nas reais necessidades de saúde da população em geral. Será que isso mudou nos anos posteriores? Veremos mais períodos históricos adiante para analisarmos.
MÓDULO 2
· Identificar a evolução das políticas de Saúde no Brasil do período de redemocratização (1945 a 1964) até o período da Reforma Sanitária Brasileira (início na década de 1970 até os dias atuais)
· 
· Nesse módulo, seguiremos na linha do tempo proposta com a abordagem das questões que envolveram a área da saúde nos principais períodos históricos brasileiros até chegarmos ao nascimento do Sistema Único de Saúde (SUS). O foco desse módulo é mostrar as dificuldades desses períodos e os avanços importantes nessa construção da história das políticas de Saúde brasileira.
· É essencial desenvolver uma visão crítica acerca das questões que parecem estruturar retrocessos e das movimentações necessárias para modificá-las, tendo em mente que esse movimento de mudança é um processo constante, dinâmico e vivo.
Período de Redemocratização
· 
· Esse período da história brasileira começou em 1945 e foi até 1964. O mundo passava por muitas mudanças e crises decorrentes do fim da Segunda Guerra Mundial e o Brasil foi influenciado por essas questões. A população, insatisfeita com o governo Vargas, passou a reivindicar democracia, o que levou ao encerramento da ditadura de Vargas e ao início de um processo democrático, de eleições diretas para os cargos políticos do governo; a imprensa ganhou maior liberdade e os sindicatos se organizaram novamente.
· Mesmo com algumas flexibilizações, certas ações anteriores ainda foram mantidas, como, por exemplo, o intervencionismo nos sindicatos e em partidos políticos de oposição pelo presidente Eurico Dutra. O Brasil teve fortalecida sua aliança com os Estados Unidos; os movimentos sociais ganharam força em sua luta por melhores condições de vida e busca por melhores condições de saúde e de trabalho.
· 
· Lembra que falamos sobre o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) criado no período anterior? Nessa fase, em função dessa aliança do Brasil com Estados Unidos, o SESP teve uma atuação forte de assistência à saúde dos trabalhadores da Amazônia que faziam extração de borracha, pois eles ficavam muito suscetíveis a contraírem malária. Como a borracha era importante para as questões que envolviam a 2ª Guerra Mundial, era primordial manter esses trabalhadores saudáveis para não prejudicar a produção.
· 
· Percebe algo que estamos conversando desde o início desse conteúdo? Qual questão prevalece nessa conduta: o interesse do mercado ou as necessidades de saúde da população?
· Em função das ações de Saúde Pública passarem por uma significativa expansão, foi criado em 1953 o Ministério da Saúde, que teve atuação pouco significativa e recebia poucos recursos financeiros por parte do governo.
· 
· Havia uma luta para que os IAP fossem unificados e prestassem assistência médica aos seus trabalhadores. Entretanto, essa ideia não foi adiante, pois muitos acreditavam que uma fusão nos IAP poderia diminuir a qualidade dos serviços. Dessa maneira, os IAP que tinham mais recursos construíam seus próprios hospitais. É importante que você saiba que, nesse período, houve um investimento muito maior em construção de hospitais do que em serviços e ações de atenção primária. Como vivíamos uma segunda fase da industrialização, houve crescimento no número de equipamentos para exames e procedimentos médicos e da indústria farmacêutica, com a produção de novas medicações consideradas promissoras. Ou seja, o foco ainda permanecia em curar e não em prevenir e promover saúde da população.
· Você consegue perceber que, mesmo com avanços, o passado continua bem presente nesse momento?
Regime Militar
· Em 1964, ocorreu um golpe de Estado que colocou os militares à frente do governo do país, encerrando todas as instituições que buscavam por reformas de base, suspendendo direitos e punindo violentamente todas as pessoas que se opunham ao novo regime de governo. Muitos estudantes, políticos, artistas, líderes sindicais e até religiosos que lutavam por mudanças e melhores condições de vida foram presos e perseguidos. O argumento utilizado era a necessidade de proteger o país contra uma possível ameaça comunista, com promessas de garantir segurança e acabar com a corrupção.
Saiba mais - O chamado “milagre econômico” conferiu aumento da produtividade do país, aumentou a carga horária dos trabalhadores e reduziu salários, constituindo um período de grande concentração de renda para poucos e de altos índices de pobreza, inflação e desemprego para a maior parte das famílias do Brasil. Com o aumento da miséria, nossa população adoeceu mais – deu-se o surgimentode epidemias como poliomielite e meningite, e os veículos de mídia foram censurados em relação à divulgação dos dados alarmantes sobre essas epidemias.
· Mesmo diante desse cenário, houve um corte significativo e progressivo dos recursos destinados à saúde pública, e o Ministério da Saúde atuava muito mais numa perspectiva individual de saúde do que numa perspectiva coletiva.
· Houve também a intensificação do modelo hospitalocêntrico, ou seja, um modelo de saúde que focava na construção de hospitais como principal estratégia de assistência.
· Consegue notar o predomínio da lógica curativista na saúde? Parece fazer parte da lógica da industrialização – os grandes hospitais romperam com a lógica artesanal de cuidado e passaram a focar em produtividade. Por conta disso, os gastos cresceram muito, pois o governo financiava a construção de hospitais pela iniciativa privada e a população, em sua maioria, não tinha acesso a esse parque hospitalar.
· Você sabia que, nesse período, tivemos um crescimento desenfreado de hospitais psiquiátricos, mais conhecidos como hospícios? Nesses locais, muitas pessoas consideradas indesejadas pela sociedade eram depositadas, sofrendo violência e abandono e passando por grande negligência.
· Quem eram essas pessoas? Mulheres cujos maridos não queriam mais manter o casamento, homossexuais, negros, pessoas com deficiência física e pessoas com transtornos mentais, dentre tantas outras situações. O sofrimento acontecia entre muros, deixando as ruas sem a presença dos que eram vistos como desviantes.
· Em 1967, tivemos a fusão de todos os IAP, formando o Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), com grande concentração de recursos financeiros, o que aumentou a compra de serviços e ações da iniciativa privada. É importante reforçar que os trabalhadores sem vínculo formal de trabalho não possuíam direito a usufruir da previdência social. O INPS destinava boa parte dos seus gastos à cobertura de assistência médica individual especializada. Podemos notar mais uma vez a desvalorização das ações de saúde pública de viés preventivo e coletivo. Nesse período, havia o predomínio da busca por consultas médicas individuais. A medicina era vista como detentora da cura. Houve um crescimento importante de faculdades privadas de medicina – muitas vezes distantes da realidade das necessidades de saúde da população –, com formação fortemente embasada em equipamentos modernos e medicações lançadas a todo momento pela indústria farmacêutica. Perceba que não existia grande espaço e autonomia para as demais profissões da saúde, era um modelo hospitalocêntrico e médico-centrado.
Atenção - É primordial o reconhecimento da importância das universidades nesse cenário. A partir da impossibilidade da participação de trabalhadores e pesquisadores da saúde na formulação das políticas sanitárias, o meio acadêmico configurou-se como um importante espaço de luta e resistência para romper com as iniquidades e barreiras encontradas para acesso à saúde.
· A medicina comunitária começou a ganhar espaço no Brasil, fortemente apoiada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e propunha um acompanhamento em todo o território, com forte atuação de agentes de saúde, conhecedores da realidade do local, através de ações mais simples, com caráter de prevenção e participação da comunidade. Aconteceu também nesse período, o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS) para levar saúde às populações mais carentes e com menos acesso.
· Em 1975, tivemos a V Conferência Nacional de Saúde, que instituiu o Sistema Nacional de Saúde e deixou uma divisão clara na área:
· 
· Ministério da Saúde – Passou a ter uma função muito mais normativa, com foco em ações coletivas.
· Previdência Social – Concentrou-se em uma medicina curativa e individual.
· 
· Diante da grave crise financeira no INPS, foi criado o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), com a finalidade de reorganizar o modelo vigente através do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) – responsável pela assistência médica dos trabalhadores – e do Instituto de Arrecadação da Previdência Social (IAPAS), que cuidaria do Fundo de Assistência da Previdência Social. Mesmo com a ideia de organização a longo prazo, percebe-se uma fragmentação do sistema nesse modelo de organização. Tivemos, nesse período, a proposta do Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (PREV-SAÚDE), que buscava ampliar e reestruturar os serviços e ações de saúde, o saneamento e a habitação. Propunha colocar a atenção básica como porta de entrada do sistema, a partir de uma hierarquia no atendimento. Também propôs a regionalização do sistema, a participação da população e integração entre serviços públicos e privados. Por tratar-se de um período de ditadura militar, esse programa não foi aprovado.
Atenção - É importante que você saiba que o INAMPS (1977- 1993) configurou uma assistência bem segmentada à saúde, promovendo atendimento individual e especializado aos que contribuíam com a Previdência Social. Há até bem pouco tempo atrás era muito comum que pessoas com idade mais avançada apresentassem a carteira de trabalho aos profissionais de saúde, acreditando que seria necessária para o acesso, fato ainda recorrente nos dias de hoje nos serviços de saúde do SUS. É essencial que a população receba a informação de que, atualmente, o sistema público da saúde é um direito de todos.
· Podemos observar no início dos anos 1980 um desgaste profundo em diversos âmbitos, inclusive no da saúde. Tal desgaste fortaleceu os movimentos em busca de uma reforma sanitária a fim de romper com a lógica de saúde como mercadoria e a visão restritamente biológica. Também houve uma busca maior pela inclusão das questões sociais, culturais, políticas e econômicas ao lidar com saúde.
Reforma Sanitária
· Não existe uma data específica para colocarmos como início do processo de Reforma Sanitária Brasileira. O que podemos afirmar é que esse movimento, que ganhou força entre as décadas de 1970 e 1980, não tem fim, precisa continuar acontecendo sempre, ou seja, a reforma sanitária é um processo constante. Esse processo nasceu da luta contra a Ditadura e podemos observar que um objetivo fortaleceu o outro:
· 
· Movimento de reforma sanitária fortaleceu movimento de abertura democrática
· Movimento de abertura democrática fortaleceu movimento de reforma sanitária
· 
· O movimento sanitarista pela reforma vinha, desde a década de 1970, solicitando mudanças no modelo centrado no médico e no hospital, buscando fortalecimento do setor público da saúde e com foco em cuidados primários. Somente na década de 1980 que todos os pontos defendidos passaram a ganhar espaço. No início dessa década foi criado o Programa de Ações Integradas de Saúde (AIS), que propunha a integração dos serviços de saúde prestados à determinada região. Cada estado teria convênio com o Ministério da Saúde e o Ministério da Previdência para executar o programa. A ideia era unir a assistência de saúde pública com a assistência médica individual, diferentemente da lógica anterior do INAMPS e dos grupos privados de medicina.
· Reforma sanitária é um movimento que busca modificar não somente a assistência à saúde, mas mudar todo o paradigma que envolve o conceito de saúde, provocar mudanças e transformações na prática, para melhorar as condições de vida da população. O termo “Reforma Sanitária” teve grande inspiração na experiência italiana. Alguns chamavam os protagonistas desse movimento de “partido sanitário”, dando um ar depreciativo ao que ia muito além disso – tratava-se de uma ação mobilizada pelo social. É importante que você perceba que todo processo de mudança enfrenta grandes dificuldades, desde apelidos pejorativos e informações equivocadas a ações mais violentas de repressão.
· Um tema presente no processo inicial de reforma sanitária foi “Saúde é Democracia”, que ganhou força nas universidades e nos sindicatos, com ápice em 1986, durante a realização da VIII Conferência Nacionalde Saúde, da qual falaremos mais adiante, que teve como um dos seus principais representantes Sérgio Arouca.
· Outro ponto importante é que você saiba que a concepção de saúde e assistência estava se modificando no mundo todo. Um momento bastante importante e que influenciou o Brasil foi a Conferência de Alma-Ata, que aconteceu em 1978 no atual Cazaquistão, organizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para priorizar os cuidados primários em saúde, principalmente nos países em desenvolvimento. Esse encontro gerou um documento conhecido como Declaração de Alma-Ata, que trouxe pontos essenciais e orientadores para a implementação da Atenção Primária da Saúde.
· A tese defendida por Sérgio Arouca, em 1975, chamada “O Dilema Preventivista”, impulsionou a ideia da reforma sanitária. Também ajudaram na ideia de um movimento que reformasse a saúde no Brasil a criação, em 1976, do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (CEBES) e, em 1979, da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO). Essa duas instituições ainda hoje são altamente relevantes, para um sistema que seja integral, fazendo dentro dele a interlocução política. Outra instituição de grande importância nas articulações e avanços na saúde, a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da FIOCRUZ, surgiu nesse momento e, com ela, projetos e feitos importantes, como a clínica da família e pesquisas sobre saúde comunitária.
· Consegue perceber que, no cenário de desgaste do regime autoritário, toda essa movimentação crescente forma um grupo coeso, lutando por uma causa comum? O acesso universal à saúde só seria possível a partir de um modelo democrático. Uma das propostas do movimento de Reforma Sanitária era transferir o INAMPS para o Ministério da Saúde, diminuindo essa fragmentação.
· Outro acontecimento importante nesse processo de fortalecimento da proposta da reforma sanitária foi o I Simpósio de Política Nacional de Saúde da Câmara dos Deputados, quando a criação do SUS foi defendida ineditamente.
· Agora retornamos ao que foi chamado de ápice da Reforma Sanitária, a VIII Conferência Nacional de Saúde, em Brasília, no ano de 1986, coordenada por Sérgio Arouca. Essa foi a primeira conferência aberta à população, contando com participação significativa dessa parcela tão importante para a configuração de um sistema construído dentro da concepção ampliada de saúde.
· Na VIII Conferência Nacional de Saúde, tivemos também a participação de trabalhadores, gestores e prestadores de serviços de saúde. As propostas da conferência originaram-se de apontamentos realizados em conferências municipais e estaduais, ou seja, um processo ascendente, que, de fato, poderia trabalhar em torno das reais necessidades da população.
· Percebe a busca por romper com o que vimos até aqui?
Saiba mais - Um legado importante da VIII Conferência Nacional de Saúde foi o documento final gerado a partir dos debates, que trouxe uma ampliação da necessidade de cuidado e promoção de saúde. Podemos ver nesse relatório final que saúde é definida como “resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar desigualdades nos níveis de vida.” Esse documento é a base do texto da Constituição Federal de 1988, ainda vigente atualmente, na parte que diz respeito à saúde. É importante que você saiba que a pauta da saúde foi abordada dentro de um texto constitucional pela primeira vez. É perceptível o avanço!
· O Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS) foi uma ferramenta de transição para o SUS durante o processo de redemocratização. Ele propunha a transferência dos serviços do INAMPS para estados e municípios, estabelecendo que cada esfera (nacional, estadual e municipal) deveria contar com um gestor da saúde.
· Segundo Bertolozzi e Grecco: [...] Os principais pontos aprovados na Carta Magna de 1988 foram: o direito universal à saúde: a saúde como um dever do Estado: a constituição do SUS, integrando todos os serviços públicos em uma rede: além da preservação dos princípios aprovados pela VIII Conferência e a participação do setor privado no SUS de forma complementar, bem como a proibição da comercialização de sangue e de seus derivados. Apesar dos avanços alcançados, algumas questões permaneceram indefinidas tais como, o financiamento do setor saúde, a política de medicamentos e as ações no âmbito da saúde do trabalhador. Há ainda que ressaltar que permaneceu intocável o paradigma do modelo assistencial centrado na assistência médica individual e, portanto, na figura do médico. Bertolozzi; Grecco, 1996.
· As propostas da VIII Conferência de Saúde proporcionaram um momento único e diferente para sociedade brasileira. Algumas dessas propostas foram:
· Saúde como direito de todo cidadão, trabalhador rural ou urbano, contribuinte ou não.
· Ações de saúde integrais de cunho preventivo e curativo.
· Descentralização do sistema, em âmbito financeiro e administrativo (ou seja, o poder não seria mais centralizado em uma única entidade, como na época da Ditadura).
· Controle e participação social e acompanhamento das ações das políticas públicas de saúde.
· A postura de Sérgio Arouca, ao sustentar o protagonismo da população nesses espaços de decisão, foi bastante criticada, pois, até então, esses eventos só contavam com a participação de políticos e gestores. Sérgio Arouca foi chamado por muitos de louco e irresponsável pelo teor de suas ideias.
· É essencial que você compreenda que todo esse movimento de mudança tinha como objetivo criticar as intervenções focadas na doença, investindo arduamente em hospitais e exames complexos, de maneira vertical e distante.
· A ideia principal era a garantia de acesso à saúde por todos (universalidade); um trabalho pautado na concepção ampliada de saúde; a descentralização das ações entre os níveis federal, estadual e municipal; a hierarquização do sistema, com entrada pela atenção primária; a participação da população; a regionalização dos serviços e a integração entre saúde previdenciária e saúde pública.
· Em 1990, ocorreu a promulgação de duas leis importantes para a saúde, chamadas de leis orgânicas da saúde, sendo a primeira a Lei nº8.080/1990, que instituiu o SUS, e a Lei nº 8.142/1990, que aborda as questões do controle e participação social no sistema.
· Toda essa trajetória histórica tem o intuito de sensibilizar e instrumentalizar a defesa do SUS, entendendo como evoluímos até chegar a esse sistema, num país com tanta desigualdade social e econômica desde o século XVI. Compreender esse processo é de grande ajuda para tornar-se um futuro profissional que possa direcionar um olhar sensível aos serviços e em suas ações de saúde. Defenda o SUS, pois assim você está defendendo a cidadania de todos nós!
CONCLUSÃO
Considerações Finais
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· Visitamos os principais períodos históricos do Brasil, identificando e refletindo sobre as questões da evolução das políticas de Saúde no país. Muitos avanços foram alcançados, como o direito a um sistema de saúde universal, em que não é necessário ser trabalhador com vínculo formal para acesso. Percebemos também que muitas dificuldades históricas permanecem com o passar dos anos. Além disso, ficou nítida a importância dos movimentos constantes de estudantes, profissionais de saúde, pesquisadores e população na luta pelo direito a um sistema de saúde que funcione pautado na integralidade, universalidade e equidade.
Explore+
· Assista ao documentário produzido pela Fiocruz: A História da Saúde Pública no Brasil: 500 anos na busca de soluções, que conta o processo histórico da construção das políticas de Saúde no Brasil.
· Procure na Internet a revista Saúde em Debate. Essa revista traz diversas pesquisas, artigos e estudos feitos nos mais distintos campos da Saúde.
· Consulte também a Declaração da conferência ALMA-ATA, disponível na biblioteca virtualdo Ministério da Saúde.
Tema 3 – O SUS e Seus Principais Caminhos Normativos
Descrição
· A origem e a construção do Sistema Único de Saúde (SUS) e seus principais marcos normativos.
Propósito
· Compreender a origem e a construção do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de seus principais marcos normativos a fim de identificar toda a complexidade e importância desse sistema para a saúde pública e sua atuação profissional.
Objetivos
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· Módulo 1
· Identificar a construção do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir da Constituição Federal de 1988 e das Leis n. 8.080/1990 e 8.142/1990
· Módulo 2
· Reconhecer o processo de construção e amadurecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir das Normas Operacionais Básicas (NOBs), Normas Operacionais de Atenção à Saúde (NOAs), Pacto pela Saúde e Decreto n. 7.508/2011.
Introdução
· 
· Abordaremos a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) e o quanto é complexa a existência de um sistema que precisa garantir saúde para toda a população brasileira, estando em um cenário de grandes desigualdades sociais e com diversas outras questões que colocam inúmeros desafios para que seus princípios aconteçam na prática.
· Veremos também os avanços que o SUS já alcançou e o quanto é importante defender esse sistema, que existe não somente para prestar assistência à saúde, mas para garantir um olhar integral, que acolha as diferenças e que seja acessível a todos, ou seja, uma garantia para a nossa cidadania.
· 
· Vamos trazer pontos importantes, como as principais legislações que embasam o SUS e a aplicabilidade dessas leis, decretos e portarias na prática do cotidiano. Você perceberá o quanto é essencial o papel de cada um de nós na sustentação e no avanço desse sistema tão importante!
MÓDULO 1
· Identificar a construção do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir da Constituição Federal de 1988 e das Leis n. 8.080/1990 e 8.142/1990
A Base do Sistema Único de Saúde (SUS)
· 
· Pode parecer cansativo estudar leis, decretos e portarias, principalmente para quem escolheu investir em formação na área da saúde. Porém, veremos de maneira dinâmica exemplos da prática para que você possa associar pontos importantes da legislação que embasa o Sistema Único de Saúde (SUS).
· A saúde não era considerada um direito de toda a população, ou seja, era acessada somente por aqueles que tinham mérito para tal. Essa visão meritocrática da saúde excluía a maior parte da população brasileira, tendo em vista que, desde a colonização, o país possui concentração de riqueza para pequenos grupos.
· 
· Você consegue identificar quando esse cenário começou a mudar? Na década de 1970, muitos começaram a unir forças contra o regime de ditadura vigente, lutando contra a opressão e a exclusão que atingiam diversos setores, inclusive a área da saúde. Na década de 1980, o Brasil reconquistou um regime democrático de governo e, a partir desse renascimento da democracia, começou a construção de um sistema de saúde universal, ou seja, para toda a população, até para os que não tinham vínculos formais de trabalho.
· Percebe como o SUS tem ligação estreita com a democracia? Os dois nascem juntos e são garantidos pela nossa Constituição Federal de 1988. Por isso, ouvimos rotineiramente a seguinte frase: “Lutar pelo SUS é lutar pela democracia!”.
Relembrando - É importante que você se lembre de que o texto constitucional referente à saúde universal é originário da 8ª Conferência Nacional de Saúde de 1986, a primeira conferência que teve participação popular, pensando em mudanças significativas no sistema vigente. Porém, o fato de estar garantido na Constituição Federal de 1988 não exclui os inúmeros desafios para sua real implementação no cotidiano.
· Discutiremos a seguir pontos importantes dessa construção do SUS a partir da Constituição Federal de 1988.
Constituição Federal de 1988
· No sistema que surge junto com a democracia, além de acesso universal, a ideia é melhorar a qualidade de vida da população, pensando que não seria possível ter saúde em um modelo em que predomine concentração de renda, com grande marca de exclusão, ou seja, não seria possível ter saúde a partir de um modelo de governo opressor e autoritário.
· O movimento democrático fortaleceu o movimento sanitário e vice-versa, ou seja: saúde é democracia e democracia é saúde. É nesse contexto que a Constituição Federal de 1988 é publicada, com o intuito de assegurar direitos, liberdade, segurança, justiça, entre outros, visando a uma sociedade igualitária e sem preconceitos. Em função de todo o cuidado em detalhar tais pontos em seu texto, a Constituição Federal de 1988 é conhecida como uma das melhores do mundo, sendo chamada também de Constituição Cidadã.
· A Constituição reforça, em um de seus parágrafos, que todo poder emana do povo e que a população exerce esse poder diretamente e por meio de governantes eleitos democraticamente, tendo como alguns de seus objetivos:
· 
· Erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades sociais;
· Construir uma sociedade justa e livre;
· Promover o bem de todos sem nenhum tipo de exclusão.
· 
· Independentemente de raça, gênero, sexo, idade, todos estão contemplados no texto constitucional. Por que estamos falando disso? Porque isso é saúde, ultrapassa a visão biologicista.
· A Constituição de 1988 aborda os nossos direitos sociais, que são:
· 
· Alimentação
· Assistência aos desamparados
· Educação
· Lazer
· Moradia
· Previdência social
· Proteção à maternidade e à infância
· Saúde
· Segurança
· Trabalho
· 
· Pensando em todo o cenário que você estudou até aqui, consegue perceber o avanço que é ter esse texto como base legal para o funcionamento do país? Vamos, porém, trazer tudo isso para o dia a dia: conseguimos, pensando coletivamente, o acesso a todos esses direitos que são garantidos constitucionalmente?
· Visualize o Brasil como um todo: quantas pessoas ainda vivem em situação de rua? Quantas crianças precisam trabalhar para ter comida? Quantas pessoas não conseguem estudar? E os índices de desemprego? É possível ter grande acesso à cultura e ao lazer? Sabemos que as respostas a tais perguntas reflexivas são de cunho pessimista em função de uma realidade ainda tão desigual e assim temos um outro direito minado: a segurança. Por que tantas falhas nessas questões acontecem? A violência cresce, causando adoecimento e morte.
· Ao chegar à parte que aborda a questão da saúde, que vai dos artigos 196 a 200, a Constituição Federal de 1988 afirma que as ações e os serviços de saúde precisam fazer parte de uma rede regionalizada e hierarquizada. Também reforça a necessidade de ocorrer a descentralização, a integralidade e a participação da comunidade. Leia o trecho constitucional a seguir: Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988
· Percebe que não basta construir serviços de saúde para responder a questões individuais e coletivas? É preciso investimento em políticas sociais e econômicas que proporcionem acesso à educação, à alimentação, à cultura, entre outros. Tal diretiva rompe com a ideia de saúde como algo biológico e privilegiado.
· Você já reparou o quanto a maior parte da população deseja um plano privado de saúde? A visão de saúde como mercadoria ainda está presente na sociedade brasileira em nossos dias. No texto constitucional, vemos que a iniciativa privada na saúde deve participar de forma complementar em relação ao Sistema Único de Saúde, preferencialmente a partir de entidades filantrópicas e sem fins lucrativos, segundo as diretrizes do SUS.
· Vamos pensar: você acha que, na prática, a iniciativa privada complementa ou compete com o SUS?
· Outra questão muito importante que aparece no texto constitucional, no art. 200, diz respeito às diversas atribuições do SUS. São elas:
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· Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substânciasde interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos.
· Executar ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador.
· Ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde.
· Participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico.
· Incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico.
· Fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e água para consumo humano.
· Participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos.
· Colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o trabalho.
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· Lendo todas essas atribuições trazidas pela Constituição, você ainda acha que o SUS restringe-se a exames, consultas e procedimentos em saúde? É possível algum brasileiro dizer que não usa o SUS? A partir da leitura desse fragmento de texto, podemos afirmar que todos os brasileiros utilizam o SUS!
· Que tal disseminar essa informação a partir desses pontos?
· Precisamos buscar uma sociedade justa, rompendo com preconceitos e exclusões, dando lugar a todos, sendo a saúde um dos âmbitos capazes de possibilitar que o texto constitucional aconteça na prática.
· Agora que vimos o nascimento do SUS e da democracia, formalizados pela Constituição de 1988, discutiremos duas leis que vieram para regulamentar o sistema, detalhando seu funcionamento e sua organização.
Lei N. 8.080 de 1990
· No caminho de mudanças tão significativas para a saúde no Brasil, temos, em 1990, a promulgação da Lei n. 8.080, conhecida como Lei Orgânica da Saúde. É importante que você entenda essa lei na íntegra, pois ela traz muitos conteúdos essenciais para sua atuação no SUS e para a sua formação. Abordaremos aqui os pontos mais importantes.
· A Lei Orgânica da Saúde traz as condições para promover, proteger e recuperar saúde, pensando na organização e no funcionamento dos serviços, bem como outras providências. Todo o território nacional será regulado por essa lei a partir de ações e serviços de saúde, ou seja, a Lei n. 8.080/1990 institui o SUS!
· A Lei n. 8.080/1990 aponta a competência de cada esfera de governo no SUS, ou seja, o sistema funciona de maneira descentralizada, rompendo com a lógica federal centralizadora de períodos anteriores, dando atribuições e autonomia a estados e municípios.
· Outros pontos importantes:
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· Traz a organização do sistema, com o SUS acontecendo em uma direção única, partindo da atenção primária até a atenção terciária.
· Detalha melhor o funcionamento e a participação complementar dos serviços privados de assistência à saúde.
· Traz questões de recursos humanos necessárias no sistema.
· Aborda questões de recursos financeiros, gestão financeira, planejamento e de orçamento.
· 
· Essa lei traz princípios doutrinários e organizativos para o funcionamento do SUS. Vamos trazer cada um deles de maneira clara e que desperte seu interesse. Os princípios doutrinários são: universalidade, equidade e integralidade. Os princípios organizativos são: descentralização, participação e controle social, resolutividade, regionalização e hierarquização.
Os Princípios Doutrinários do SUS
· Descrever e exemplificar os princípios doutrinários do SUS: equidade, integralidade e universalidade. 
· Vamos conversar primeiro sobre os princípios doutrinários:
· Universalidade - Quando falamos que saúde é um direito de todos e que é dever do Estado que suas ações e serviços sejam garantidos, estamos falando de universalidade. Esse princípio busca garantir o acesso de todos que tenham necessidade de fazer uso do SUS, independentemente de sexo, raça, classe econômica, profissão ou qualquer outra particularidade. O princípio da universalidade rompe com a lógica do Inamps, que limitava saúde a quem tivesse vínculo empregatício formalizado. Saúde é para todos, tanto quando se pensa em prevenção como para promoção da saúde ou recuperação. É comum ainda ver idosos apresentando carteira de trabalho ou justificando a ausência dela ao acessarem algum serviço de saúde. É preciso que os profissionais expliquem que não há mais necessidade desse tipo de ação.
· Equidade - Não podemos confundir equidade com igualdade; de maneira alguma estamos falando de sinônimos. Precisamos pensar em equidade como justiça social, em que as diferenças são reconhecidas, respeitadas e acolhidas. Ou seja, é preciso entender que partimos de lugares desiguais, necessitando assim de intervenções diferenciadas para que se possa chegar ao mesmo lugar. Em equidade não é possível a presença de preconceitos ou privilégios, pois reconhecemos que vivemos em um país de dimensão continental, com diversas culturas, questões regionais e sociais. Todos somos diferentes, mas existem diferenças que são prejudiciais e afetam o coletivo. É nesse caminho que a equidade vai atuar. Para você compreender melhor, vamos a um exemplo: a população indígena. A ideia é que essa população tenha o mesmo atendimento e acesso que todos os brasileiros, mas temos conhecimento de que essa população foi dizimada por séculos, tendo sua cultura, organização social e política sendo violentadas e invadidas. Para uma tentativa de recuperação histórica, é preciso construir políticas públicas de saúde para essa população, incluindo suas particularidades, direcionando um olhar minucioso para dificuldades, barreiras e peculiaridades. É preciso investir para que os profissionais de saúde recebam formação para essa atuação específica, bem como é necessária a presença de representantes indígenas na coordenação e aplicação dessa política. Para representar a equidade e sua importância no SUS, poderíamos usar mais exemplos como: população em situação de rua, população privada de liberdade no sistema prisional, mulheres, população negra, entre outros.
· Integralidade - Esse princípio traz a importância de se olhar o sujeito como um todo, acolhendo suas necessidades específicas, olhando além da doença, incluindo todas as suas dimensões de existência, utilizando ações de promoção, prevenção e recuperação em saúde. Mesmo em situações similares, o atendimento integral pressupõe ações singulares. Para você entender melhor, vamos a um exemplo: pense em dois homens de 50 anos, com diagnóstico de diabetes tipo 2. Um deles mora em uma pequena casa, trabalha como camelô e consegue fazer caminhada duas vezes por semana. O outro mora na rua, não tem renda e só consegue comer porque vive na calçada ao lado de uma padaria. Mesmo com pontos em comum, não podemos traçar para eles o mesmo plano de cuidados. Possivelmente, o homem que tem casa e trabalho poderá cuidar um pouco mais de sua dieta do que o homem que vive nas ruas e depende de doações, comendo o que consegue ganhar. É possível pensar também na questão do sedentarismo e no acesso aos serviços de saúde: no caso do homem em situação de rua, as barreiras são maiores, sendo importante que os serviços possam ir até ele.
· Agora que discutimos os princípios doutrinários, vamos discutir os princípios organizativos, ou seja, aqueles que vão explicar o funcionamento e a organização do sistema. São eles:
· Regionalização - As ações e serviços de saúde devem compor uma região de saúde, com organização por níveis de complexidade, delimitados geograficamente, definindo a população que será atendida, ou seja, regionalizar envolve muito mais do que somente contornar espaços. A região de saúde precisa de características comuns de transporte, de cultura, ou seja, precisam ter realidades semelhantes e com funcionamento compartilhado. O acesso inicial é feito por meio da Atenção Básica ou Atenção Primária que, a partir de um acompanhamento no cotidiano do território, consegue responder a muitas questões. As situações que precisam de níveis mais específicos de cuidado e intervenção serão direcionadas, a partir da atenção primária, para serviços de maior complexidade. Já no texto daConstituição Federal de 1988, podemos encontrar apontada a necessidade de o SUS ser regionalizado. Vamos a um exemplo para ajudar no entendimento: em uma região de saúde que contenha sete municípios, estes precisarão compartilhar ações e serviços de saúde. Cada município precisa ter atenção básica, porém vamos pensar juntos: seria necessária a construção de uma maternidade de alto risco em cada um desses sete municípios? Podemos concentrar a maternidades de alto risco em menos municípios, possibilitando maior investimento financeiro e em recursos humanos, bem como abrir atendimento para todos os municípios da região, pois, felizmente, a maior parte dos partos são de baixo risco. Isso otimiza recursos e aprimora o cuidado!
· Hierarquização - A organização dos serviços em redes deve ser feita de maneira hierarquizada a fim de fazer um diagnóstico mais aprimorado dos problemas e das questões de saúde de uma região e assim traçar as ações necessárias de prevenção, promoção e recuperação de saúde para aquele local. Ou seja, a partir do território nasce o planejamento para gestão e cuidado em saúde, em uma lógica ascendente.
· Resolutividade - Em qualquer nível de complexidade que as pessoas necessitem, é preciso que o atendimento em saúde seja resolutivo, capaz de resolver a questão.
· 
· Descentralização - Tem relação direta com a regionalização. As três esferas de governo — federal, estadual e municipal — terão competências e responsabilidades em relação a ações e serviços de saúde, tanto no sentido administrativo quanto no sentido financeiro. A descentralização existe com o intuito de estimular a capacidade de cogestão entre os entes na lógica regional, rompendo com a ideia de que o ente federal deve ser o maior responsável pelo sistema, como antes acontecia, com forte centralização de poder.
· Controle e Participação Social - Para que o SUS atue conforme os interesses e as necessidades populares, é preciso que a população ocupe entidades representativas, como os conselhos de saúde, existentes nas três esferas (federal, estadual e municipal) e participe de conferências de saúde também nas três esferas, formulando e fiscalizando a execução das políticas de saúde.
· 
· Finalizamos a discussão dos princípios organizativos do SUS, porém daremos destaque maior a um deles no item a seguir, que traz outra lei do ano de 1990, promulgada alguns meses depois da Lei n. 8.080. Veja adiante.
Lei N. 8.142 de 1990
· Em 28 de dezembro de 1990, foi promulgada a Lei n. 8.142, que aborda a questão da participação da comunidade e do controle social no SUS e as questões de transferências intergovernamentais.
· A Lei n. 8.142/1990 determina que as conferências de saúde precisam ter participação representativa de diversos segmentos sociais, ocorrendo a cada quatro anos nas três esferas de governo, as quais vão se reunir a cada quatro anos para avaliar a situação de saúde e propor novas diretrizes para a formulação das políticas públicas de saúde.
· Essa lei também traz detalhes sobre o funcionamento e a composição dos conselhos de saúde: Deve ter caráter permanente e deliberativo, com a seguinte composição nos três níveis de gestão: 50% dos usuários, 25% de gestores e prestadores de serviço e 25 % de profissionais de saúde. Os conselhos de saúde devem atuar na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde em cada instância correspondente, incluindo aspectos econômicos e financeiros. As decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo. LEI n. 8.142, 1990
· Será que a população faz uso efetivo desses espaços? Você já frequentou alguma reunião de conselho de saúde ou participou de alguma conferência de saúde?
Saiba mais - É importante que você leia na íntegra a Lei n. 8.080/1990 e a Lei n. 8.142/1990 para aprofundar ainda mais seus conhecimentos e defender o SUS com embasamento legal e teórico.
MÓDULO 2
· Reconhecer o processo de construção e amadurecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir das Normas Operacionais Básicas (NOBs), Normas Operacionais de Atenção à Saúde (NOAs), Pacto pela Saúde e Decreto n. 7.508/2011.
· Você conseguiu perceber até aqui a complexidade do SUS? Para muitos estudiosos e pesquisadores, é uma das melhores políticas públicas do mundo. Abordaremos agora os muitos desafios para a implementação desse sistema e da continuidade dos marcos normativos que surgiram ao longo dos anos após a promulgação da Lei n. 8.080/1990 e da Lei n. 8.142/1990.
· Estudamos os princípios doutrinários e organizativos do SUS e pudemos perceber que os profissionais que estão na prática do cotidiano tentam fazer com que esses princípios aconteçam, mesmo diante de cenários de desmonte, com investimento financeiro insuficiente, falta de insumos, de infraestrutura muitas vezes precária, salários insuficientes, entre tantos outros problemas.
Exemplo - O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é o principal dispositivo de cuidado em saúde mental do SUS e existe em todo o país com o intuito de cuidar em liberdade, longe de muros de hospitais psiquiátricos, de pessoas com transtornos mentais severos, articulando seu trabalho com diversos outros dispositivos da cidade. Vamos pensar em um CAPS localizado em uma grande cidade. A lógica de atendimento corresponderá a questões da regionalização, ou seja, existe uma área territorial que cada CAPS é responsável por cuidar. Nesse CAPS, existe uma equipe multiprofissional, porém em número insuficiente, pois falta investimento da gestão para aumento dos recursos humanos nesse serviço. Sabemos que nem todos os pacientes conseguem ir até o CAPS para o acompanhamento, então é necessário que profissionais do serviço se dirijam a essas pessoas. Por exemplo, Maria vive com seu companheiro em situação de rua, em um bairro próximo ao CAPS, porém não consegue organizar-se para ir até o serviço (ser atendida pela psicóloga, pelo psiquiatra e pela enfermeira para ajudar Maria a estabilizar-se psiquicamente). A equipe precisa se organizar para ir até Maria uma vez por semana para realizar o atendimento e levar a medicação utilizada. Porém, isso só é possível quinzenalmente em função do número insuficiente de profissionais no serviço para atender a toda a clientela que frequenta o CAPS diariamente. Diante da saída de qualquer profissional, a fragilidade aumenta na equipe.
· Pensando nesse exemplo, como sustentar os princípios doutrinários do SUS (equidade, universalidade e integralidade) diante desse grande problema? Esse é apenas um exemplo de desafio no cotidiano da assistência. Ou seja, é difícil garantir esses princípios mediante uma gestão sem qualificação, que fragmenta e fragiliza o cuidado. Muitos outros desafios aparecem.
· O SUS todo o tempo nos desafia com seus conteúdos complexos: a sua estrutura; a sua organização jurídico-administrativa; o conceito de saúde; os serviços que devem ser oferecidos à população; o aspecto econômico cada dia mais ofensivo e oneroso e a luta que se trava entre um sistema que deve ser público e universal e serviços que podem e são explorados economicamente pelo mercado. SANTOS, 2013
Desafios do SUS
· Temos um grande desafio em nível de gestão, que é o fato de três entes serem responsáveis, autônomos, solidários e cooperativos no sistema — o que chamamos de articulação interfederativa —, que é essencial para a descentralização e a integralidade, mas que ainda precisa avançar significativamente, pois, na prática, ainda vemos protagonismo do Ministério da Saúde.
· Em algum momento você já pode ter pensado que o Ministério da Saúde seria o órgão com maior poder no SUS, mas já vimos no módulo anterior que essa não é a realidade.
· 
· Outro desafio é a participação da população no SUS, pois ela ainda não ocupa de maneira eficaz os espaços — como em conselhos de saúde para controle e participação social —, podendo fiscalizar e propor políticas de saúde.
· Podemos citar também o grande desafio que é a dificuldade de regulamentação do setor privado na saúde brasileira, devendo ser complementare não substitutivo. Existe também alta rotatividade de profissionais em gestão e assistência devido a vínculos frágeis, mudanças de governo, entre outros fatores.
· 
· Tudo que estamos conversando aqui exemplifica o quanto o SUS é complexo e o quanto precisamos caminhar para que, de fato, ele possa atuar na prática. É preciso uma aposta da gestão dos trabalhadores e dos usuários para evoluir nessa caminhada.
· Agora, voltemos à questão dos marcos normativos, pensando nas mudanças que vieram após a instituição do SUS em 1990. Para entender esse sistema na prática dos dias atuais e refletir sobre os avanços e desafios, precisamos olhar sempre para a história e para a legislação.
As Normas Operacionais Básicas (NOBS) e As Normas Operacionais de Atenção á Saúde (NOAS)
· Ainda na década de 1990, tivemos algumas normas operacionais publicadas com o intuito de embasar o SUS juridicamente e institucionalmente, trazendo normatização, objetivos, prioridades, diretrizes e estratégias para o sistema. Foram publicadas as Normas Operacionais Básicas (NOBs) e as Normas Operacionais de Atenção à Saúde (NOAs), com a presença dos três níveis de governo, buscando formalização e regularização nessa articulação interfederativa. Antes de explicarmos cada uma dessas normas, é importante que você entenda como acontece a gestão do SUS entre os três entes. No nível federal, o órgão responsável por gerir é o Ministério da Saúde; no nível estadual, temos as secretarias estaduais de saúde e no nível municipal temos as secretarias municipais de saúde. Os gestores de cada esfera reúnem-se em espaços chamados Comissão Intergestores Bipartite (CIB), com participação do estado e municípios e Comissão Intergestores Tripartite (CIT), com a presença dos níveis federal, estadual e municipal. Nesses espaços, com reuniões periódicas, as políticas e os programas de saúde são avaliados e pactuados.
Exemplo - Vamos pensar no estado do Rio de Janeiro. Pelo menos uma vez por mês os gestores da Secretaria Estadual do Rio de Janeiro encontram-se na CIB com os gestores das Secretarias Municipais de Saúde dos 92 municípios existentes no estado para analisar a situação da saúde, e assim acontece em todos os estados brasileiros. Dessa mesma maneira, pelo menos uma vez por mês, os gestores das três esferas (federal, com estados e municípios de todo Brasil) reúnem-se em Brasília, na CIT.
· Voltando às normas publicadas:
· 1991 - Foi publicada a Norma Operacional Básica do SUS 01/91 (NOB/SUS 01/91), instituindo o pagamento por produção de serviços, equiparando prestadores públicos e privados na compra e venda de serviços. Mesmo sendo um fato negativo para o SUS, os municípios apoiaram essa NOB, pois assim receberiam recursos diretamente do nível federal, o que fragilizava o papel dos estados no processo.
· 1992 - Tivemos a publicação da segunda dessas normas, a NOB 01/92, seguindo a NOB anterior, mantendo o pagamento por produção de serviços, com exceção das internações hospitalares.
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· 1993 - Tivemos a NOB/SUS 01/93, que trazia o tema: "A municipalização é o caminho", com fortalecimento da gestão municipal no sistema, instituindo as seguintes formas de gestão municipal e estadual: incipiente, parcial e semiplena. Os municípios que antes eram pouco atuantes foram habilitados como gestores e, nesse momento, surgem as Comissões Intergestores Bipartite e Tripartite.
· 1996 - Publicada a NOB/SUS 01/96, que fortaleceu a descentralização, inovando nas condições de gestão dos municípios e estados, definindo competências e responsabilidades. Houve a criação do Piso da Atenção Básica (PAB), ampliando o acesso à atenção primária a partir do financiamento global per capita, promovendo uma mudança no modelo de atenção à saúde, o que consolidou o Programa da Saúde da Família.
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· 2001 - Temos a publicação da NOAS 01/01, dando maiores responsabilidades aos municípios na Atenção Básica, definindo como acontece a regionalização na atenção à saúde. Define também o processo de regionalização da assistência por meio do Plano Diretor de Regionalização (PDR), um instrumento para organizar o processo de regionalização, pensando na garantia de acesso próximo às residências dos usuários. O Plano Diretor de Investimento (PDI) também vem como instrumento para desenvolver estratégias de investimentos, com o intuito de ofertar assistência em todos os níveis de complexidade. Nesse sentido, a Atenção Básica ganha força com a NOAS/2001, a partir de ações mais claras. Nesse momento temos também valorização e estímulo aos municípios para trabalharem conjuntamente, trazendo a questão de referência e contrarreferência e propostas de ações de média e alta complexidade.
· 2002 - Foi publicada a NOAS/SUS 01/02, que fortalece a gestão estadual a partir de acordos relativos aos serviços de média e alta complexidade e do mecanismo de acompanhamento dos recursos federais para assistência da saúde.
Dica - Quando a Atenção Básica é fortalecida, reduz agravos em saúde e diminui hospitalizações. Muitas vezes, quando falamos em Atenção Básica, chamamos de “posto de saúde”, que recebe o nome oficial de Clínica da Família. Quanto mais eficaz é o trabalho nesses serviços, melhor será a qualidade de vida da população.
Exemplo - As clínicas da família realizam um potente trabalho no acompanhamento de pacientes hipertensos e diabéticos. Com isso, vemos que o número de internações decorrentes de complicações dessas doenças crônicas diminuiu fortemente. Quem ganha? Todos!
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· Depois de todo esse processo de retrospectiva da construção de políticas de saúde, percebemos que as normas trouxeram avanços, porém tinham grande protagonismo ainda do Ministério da Saúde, sendo este o órgão responsável pelo controle de mais de 5.000 municípios e dos 27 estados, ou seja, uma forte centralização.
· O processo de municipalização a partir dessas normas foi muito importante, mas, ao mesmo tempo, tornou a regionalização mais difícil de acontecer na prática, ou seja, sobre municípios que fazem parte da mesma região de saúde trabalharem compartilhando ações e não de maneira individual, fragmentando o sistema. Tal fato, muitas vezes, ainda acontece.
· Como seria isso na prática? Vamos pensar em uma região de saúde composta por 11 municípios. Cada município precisa ter sua Atenção Básica fortalecida, porém não é necessário que todos tenham hospitais de grande porte e complexidade. É importante que todos que integram tal região possam compartilhar esse tipo de serviço, que pode concentrar-se em alguns municípios, porém considerados serviços regionais, de modo que o recurso é otimizado e a assistência pode ser mais qualificada.
Pacto Pela Saúde
· Voltando aos marcos normativos, a Portaria n. 399, de 22 de fevereiro de 2006, instituiu o Pacto pela Saúde, uma proposta formalizada pelos os três entes — federal, estadual e municipal —, visando o fortalecimento da regionalização e o alcance dos princípios do SUS para superar sua fragmentação. Vamos ver como era dividido o Pacto pela Saúde e as competências de cada uma dessas composições. O Pacto era composto por três partes: Pacto pela vida, Pacto em defesa do SUS e Pacto de gestão do SUS.
· Pacto Pela Vida - Esta parte trazia um conjunto de compromissos e prioridades definidos pelos três entes gestores (triparte) a partir da análise da situação de saúde da população. Trazia metas nacionais, estaduais e municipais, com objetivos e prioridades, buscando resultados. Algumas prioridades do Pacto pela vida:
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· Ações para contribuir com a redução da mortalidade por câncer de colo de útero e de mama;
· Atenção integral para a população idosa, por meio da implementação da Política Nacional de Saúde da População Idosa;
· Focar no cuidado dentro do SUS voltado para as doenças emergentes e endemias, como dengue e hanseníase, buscando fortalecer as respostas a essas questões;
· Diminuir a mortalidade materna e infantil;
· Fortalecer e qualificar a Estratégia de Saúde da Família na Atenção Básica;
· Estimular e fortalecer a promoção da saúde por meio da implantação da Política Nacionalde Promoção da Saúde, pensando em ações que estimulassem um estilo de vida saudável para a população.
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· Pacto de Gestão do SUS - Determina as responsabilidades de cada ente federado, com gestão solidária e compartilhada no SUS, com fortalecimento da descentralização, incentivando a organização dos sistemas a partir da territorialização da saúde, trazendo as regiões de saúde e instituindo Colegiados de Gestão Regional. É importante que você saiba também que cada esfera de gestão possui conselhos gestores que se reúnem frequentemente para planejar e organizar a saúde. São eles: o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (composto por secretários estaduais de saúde) e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS).
· Pacto de Defesa do SUS - Engloba ações articuladas entre os três níveis de gestão para qualificação do SUS, fortalecendo os princípios basilares. Visa dar apoio à mobilização social, objetivando a garantia de saúde como um direito. Diante de tanto conteúdo trabalhado, você consegue perceber o quanto o Pacto pela Saúde trouxe importantes avanços em pontos frágeis do SUS, que até aquele momento ainda eram confusos teoricamente? Como colocar em prática uma teoria que ainda não era tão clara como, por exemplo, quanto à questão da regionalização?
Decreto N. 7.508/2011
· O tempo foi passando e algumas questões ainda permaneciam confusas para a implementação do SUS. Em 28 de junho de 2011, foi pulicado o Decreto n. 7.508, que veio regulamentar a Lei n. 8.080/1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde (SUS), o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa. Ou seja, 21 anos depois nasce um decreto para esclarecer pontos importantes da Lei Orgânica da Saúde. Percebe o tempo de amadurecimento necessário diante de tanta complexidade?
· O Decreto n. 7.508/2011 reforça a importância da articulação interfederativa, ou seja, que os três entes sejam autônomos, dividindo e compartilhando ações no SUS. É muito importante que as ações, ainda muito centradas no Ministério da Saúde, cedam espaço para os outros dois entes.
· O SUS formal, construído sob grande complexidade conceitual e operativa, somente teve sua Lei n. 8.080, de 1990, regulamentada pelo Decreto n. 7.508 em junho de 2011, 21 anos depois. Esse fato postergou deleteriamente a explicitação de conceitos, com desgaste para a organização do sistema, que o tempo todo careceu de uma explicitação adequada e unívoca de conceitos organizativos. SANTOS, 2013
· Muitos pontos encontrados na Lei n. 8.080/1990 — redes de atenção à saúde; planejamento regional integrado; regiões de saúde; serviços portas de entrada; assistência farmacêutica e regulação — precisavam ser aprofundados para de fato acontecerem no SUS. As inúmeras portarias publicadas até então geravam interpretações diversas e muitas vezes equivocadas, fragilizando e fragmentando o SUS, trazendo dúvidas e dificuldade de organização efetiva.
· Esclarecendo pontos tão importantes, o Decreto n. 7.508/2011 trouxe mais transparência à gestão do SUS, mais segurança jurídica nas relações interfederativas (entre os entes federal, estadual e municipal) e controle social mais efetivo, com participação da sociedade, em uma perspectiva de gestão compartilhada.
· A questão da regionalização fica mais evidente e valorizada nesse decreto, definindo região de saúde como: Espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde. DECRETO n. 7.508, 2011
· É importante que essas regiões sejam vistas a partir de um aspecto vivo, rompendo com a lógica estritamente burocrática. Ainda precisamos avançar muito nesse sentido, mas o Decreto n. 7.508/2011 vem para fortalecer.
Saiba mais – Você precisa ler o Decreto n. 7.508/2011 na íntegra, vai contribuir bastante para o entendimento e o aprendizado adquirido aqui!
Atenção - As leis abordadas são extensas. É importante que você leia todas na íntegra. Essas leis são bastante cobradas em concursos públicos.
Dica - O conteúdo que trabalhamos aqui é extenso, com muitos detalhes essenciais para compreensão do SUS, mas é primordial que você articule esse material com outros: a Reforma Sanitária é um processo constante e todos esses marcos normativos fazem parte dessa trajetória contínua. Tudo isso, no entanto, não garante um SUS eficaz porque é preciso vontade política, investimento e conhecimento para avançarmos ainda mais. A luta é de todos nós!
CONCLUSÃO
Considerações Finais
· Conhecemos a construção do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir dos principais marcos normativos que servem de base para a sustentação do sistema. Vimos que, atualmente, o SUS encontra muitos desafios para que seus princípios doutrinários (equidade, integralidade e universalidade) aconteçam na prática e conseguimos discutir importantes avanços ao longo dos anos. Entendemos que é preciso que o SUS seja defendido na sociedade, na formação e nos serviços de saúde, pois concluímos que o SUS está em muitos espaços que ultrapassam a assistência de saúde. Ou seja, todos usam o SUS e é fundamental que possamos compartilhar informações sobre esse sistema tão importante.
Explore+
· Acesse o site PenseSUS, da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), e amplie seus conhecimentos sobre diversas questões do Sistema Único de Saúde (SUS).
Tema 4 – Programas e Projetos
Descrição
· Programas e projetos estratégicos no campo da Saúde Pública. Políticas públicas de Saúde. Políticas sociais e desafios atuais.
Propósito
· Compreender os principais conceitos dos programas e projetos estratégicos do SUS no campo de saúde individual e coletiva, bem como os desafios atuais de implementação de políticas públicas de Saúde no Brasil.
Objetivos
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· Módulo 1
· Identificar as principais características dos programas de Saúde Pública do SUS
· Módulo 2
· Apontar os desafios encontrados no campo da Saúde Coletiva
Introdução
· O Brasil passou por intensas transformações ao longo dos últimos anos. A crescente urbanização decorrente desse período trouxe diversas transformações no âmbito da Saúde Coletiva e uma reestruturação do sistema de saúde do país.
· Os movimentos sociais surgiram nesse cenário de mudanças devido à falta de políticas populacionais. Como reflexo, grande parte dos trabalhadores viram-se obrigados a construir suas moradias em áreas de risco, que resultaram em favelas. Consequentemente, houve aumento na ocorrência de agravos à saúde da população devido à precariedade sanitária e a políticas de saúde voltadas apenas para o modelo biomédico da época. Nesse contexto, uma expressiva parcela da população começou a reivindicar melhores condições de saúde para a massa que se desenvolvia ao redor das grandes cidades. A partir dessas manifestações, foram criados conselhos com participação popular, quando puderam ser identificadas características econômicas, sociais e ambientais baseadas nas necessidades das camadas mais carentes. Tais acontecimentos permitiram a criação do campo da Saúde Coletiva, que originou ações no sentido de minimizar os problemas de saúde no campo individual e coletivo por meio de prevenção e promoção da saúde. Desse modo, a partir da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), foram implementados programas e projetos no campo da Saúde Coletiva que proporcionassem melhoria da qualidade de vida da população.
MÓDULO 1
· Identificar as principais características dos programas de Saúde Pública do SUS
Políticas Públicas e Políticas de Saúde no Campo Social
· As políticas públicas consistem em resoluções e ações distribuídas entre os níveis federal, estadual e municipal. Em teoria, abrangem a comunidade como um todo, na proposição de intervenções que visam o bem-estar do cidadão sem distinção, em sua totalidade e de forma igualitária. Na prática, as parcelas

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