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Marcelo Ananias 1a parte ok

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1. Drogas E SUAS RELAÇÕES SOCIAIS
Para que esta pesquisa prossiga de maneira clara e objetiva, é necessário compreender a relação das substâncias psicoativas com os sujeitos e a sociedade. Nesse contexto considera-se importante salientar os diferentes tipos de uso, lugar social, posicionamento diante da legalidade, prejuízos e políticas públicas a qual as drogas estão inseridas. 
Sabe-se que, desde os primórdios, existe uma estreita relação entre o ser humano e o consumo de substâncias psicotrópicas. Sherratt (1995 apud MORAES e BARRETO NETO, 2014) aponta que existem contextos históricos, sociais e antropológicos que explicam a conjuntura do uso de drogas pelo homem ao longo de sua existência. 
Conta-se que, há cerca de 5 mil anos, pigmeus da África Central, observando o comportamento de alguns animais ao seu redor, perceberam que javalis apresentavam comportamento diferente – mais calmos ou aparentemente entorpecidos – após consumirem uma determina espécie de planta. Curiosos, os homens decidiram experimentar as folhas desse arbusto e também se sentiram inebriados. Logo, toda a tribo passou a atribuir essa sensação algum ser místico que habitaria a tal planta, que passou a ser adorada pelos hominídeos em cultos que também foram adotados por outras tribos e acabaram por se tornar comuns várias outras regiões (LOPES, 2019). 
O historiador grego Heródoto de Halicarnasso (485-425 a.C.), conhecido como o “Pai da História”, por ter sido o primeiro a registrar, por escrito, a história do homem, conta sobre a presença da maconha entre o povo cita, que viveu entre os séculos VIII A.C. e II D.C., na região onde hoje é localizada a Turquia. A planta era usada em rituais, atividades recreativas e na fabricação de tecidos (VILAR, 2013).  
Matyszak (2019, p. 1) destaca as seguintes passagens da obra História, de Heródoto, datada de mais de 2400 anos atrás, para exemplificar a presença da maconha entre os citas:
Depois, os citas pegam as sementes de cannabis e jogam sobre pedras quentes, onde [queimam] e levantam fumaça. 
[...] 
Armam uma tenda e ficam embaixo dela, enquanto a fumaça emergia tão densamente que nenhum banho de vapor grego seria capaz de produzir mais. Os citas uivavam de alegria em seu banho de vapor. 
Já Lopes (2019, p. 1), lança luz sobre outro trecho também revelador sobre o consumo de entorpecentes no mundo antigo: “O banho de vapor dava um gozo tão intenso que arrancava gritos de alegria”.
De acordo com Criado (2019), estudos arqueológicos recentes comprovam que povos antigos usavam maconha para fins recreativos. Em 2013, foi encontrado, no Planalto do Pamir, na China ocidental, um cemitério fossilizado com mais de trinta tumbas, onde, após minuciosas buscas e estudos laboratoriais, foram identificados resíduos de cinzas com a presença de canabinol e canabidiol, as substâncias componentes da maconha. Trata-se das “amostras mais antigas de cannabis fumada” (CRIADO, 2019, p.1).
Escohotado (2007 apud MORAES e BARRETO NETO, 2014, p. 11) destaca que as sociedades primitivas exploravam as propriedades alucinógenas das drogas para, basicamente dois fins, sendo que
o primeiro era direcionado ao sacrifício expiatório, recorrendo-se às drogas em rituais que, basicamente, agraciavam a entidade superior com uma oferta, viva ou morta, dada em troca do perdão dos pecados e faltas cometidos pelos ofertantes. O segundo contexto de utilização de drogas na era pagã tinha sentido diverso, que buscava encontrar a união entre os seres sagrados e os homens, profanos.
Nesse contexto, o efeito que as drogas provocavam servia “para elevar os usuários a níveis superiores da existência, quase alcançando o status dos deuses” (IDEM). Em outras palavras, a alucinação permitia aos homens alcançar a santidade para se comunicarem com os espíritos elevados, uma vez que havia a crença de que seres místicos habitavam nas plantas consumidas para esse fim. 
Paralelamente, havia, ainda, outro propósito no cultivo e consumo de substâncias psicotrópicas, que diz respeito à cura de males do corpo físico, e não mais apenas no campo espiritual. Assim, pode-se afirmar que o uso médico das drogas também remonta às primeiras sociedades da história (MORAES e BARRETO NETO, 2014).
MacRae (2017, p.1) acrescenta que
desde a pré-história, diferentes substâncias psicoativas vêm sendo usadas para um grande leque de finalidades que se estendem do seu emprego lúdico, com fins estritamente prazerosos, até o desencadeamento de estados de êxtase místico/religioso. De grande importância também tem sido seu uso para fins curativos, seja no bojo de práticas religiosas tradicionais, seja no contexto médico-científico da atualidade.
A partir desse pensamento é possível inferir que a utilização de diferentes tipos de drogas para diversos fins é praticamente inerente ser humano, já que desde há registros desse tipo de atividade datadas do início da história da humanidade. 
MacRae (2017) comenta que da Pré-história até a Idade Média esse fato nunca representou problema ou ameaça real ou consciente às sociedades, mas que naquele período da história, quando que tudo aquilo que ia de encontro aos mandamentos católicos era marginalizado, o uso de substâncias desconhecidas, sejam para quaisquer fins, mas principalmente se recreativo ou espiritualista, era considerado heresia e altamente repreendido. 
Segundo Avelino (2010, p.1),
durante a Idade Média, a Igreja cristã alcança o posto de maior instituição feudal do Ocidente europeu, exercendo sua hegemonia ideológica e cultural, estabelecendo normas e comportamentos. O conhecimento pagão, inclusive no que se refere ao uso terapêutico ou recreativo de drogas, passa a ser considerado heresia, contaminado por práticas de bruxaria. Durante esse período, acusadas de práticas contrárias aos ideais cristãos, inúmeras pessoas foram perseguidas por inquisidores.
Somente no Renascimento, por volta do século XV, época em que os dogmas medievais começaram a ruir, o uso de drogas, tanto para fins medicinais quanto recreativos ou religiosos voltou a se tornar comum (IDEM). 
Assim, evidencia-se o fato de que o consumo de drogas é um fato histórico em diversos povos e culturas, desde as mais antigas. Cada civilização cultivou suas próprias formas de lidar e interagir tanto com as substâncias psicotrópicas quanto com seus efeitos no corpo e na mente humana, que variam desde meio de elevação e adoração espiritual até necessidades de cura do corpo físico, passando também pela busca da sensação de relaxamento, distanciamento da realidade ou euforia. A história das drogas confunde-se, em muitos momentos, com a própria evolução da humanidade, estando presentes em todas as fases da história, e, com isso, pode-se afirmar que suas evoluções foram concomitantes, chegando até os dias atuais ainda bastante articuladas uma à outra. (AVELINO, 2010). 
Na contemporaneidade, como se sabe, as drogas ilícitas são regulamentadas por leis específicas, que as reprime e criminaliza, enquanto as lícitas, apesar de causarem tantos problemas ou mais que as proibidas, continuam sem muita normatização, apesar de também contribuírem grandemente para muitos problemas sociais.
Dados do 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, iniciado em 2015 e publicado pela Fundação Oswaldo Cruz em 2019, mostram que cerca de cinco milhões de brasileiros usaram alguma substância ilícita no ano anterior à divulgação do estudo (FIOCRUZ, 2019). 
O objetivo do estudo, realizado em parceria entre pesquisadores da Fiocruz, técnicos e cientistas de outras instituições brasileiras e da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, foi traçar o perfil do consumo de drogas lícitas e ilícitas no Brasil. Foram entrevistadas quase 17 mil pessoas, com idades entre 12 e 65 anos. Trata-se da maior pesquisa sobre o uso de drogas já realizada no país. Pela primeira vez, os dados contemplam informações de cidades de pequeno porte de municípios localizados no interior e em regiões fronteiriças, o que permitiu abranger todo o território nacional,tendo sido possível, ainda, distinguir as várias dimensões do consumo, desde os padrões mais relevantes, que impactam direta e imediatamente na saúde pública, até uma forma de consumo que, pelo menos a curto prazo, não repercute com gravidade no sistema. 
A maconha e a cocaína aparecem, respectivamente em primeiro e segundo lugares como as mais consumidas, dentre as ilícitas. O crack foi apontado como a substância com maior capacidade de provocar dependência e de também de letalidade, entretanto, cerca de 1,5 milhão de pessoas já experimentaram a droga. Dentre as substâncias lícitas, o consumo de tabaco demonstrou uma queda, apesar de mais de 13% dos entrevistados terem se declarado como fumantes. O álcool é consumido por 30, 1% da população e aproximadamente 2,3 milhões de pessoas admitiram serem dependentes desta substância (FIOCRUZ, 2019). 
Figura 1: Gráfico sobre o consumo de drogas ilícitas, segundo o 3ºLNUD
Figura 2: Gráfico sobre o consumo de drogas lícitas, segundo o 3ºLNUD
À época da divulgação desses resultados, a Advocacia Geral da União (AGU) publicou uma nota à imprensa que contextualiza a pesquisa, seus dados e objetivos.
A divulgação da pesquisa científica destinada à realização do III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira é o primeiro resultado de entendimentos iniciais entre a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (SENAD/MJSP) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde, no âmbito da Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Pública Federal, órgão da Advocacia Geral da União (CCAF/CGU/AGU) (AGU, 2019, p. 1). 
Outro documento de grande relevância para a compreensão do uso de drogas, neste caso em nível mundial, é o Relatório Mundial sobre Drogas, também publicado em 2019, que demonstra que
 
O número de pessoas em todo o mundo que usaram drogas ao menos uma vez por ano permaneceu estável em 2016, com cerca de 275 milhões de pessoas, ou cerca de 5,6% da população global entre 15 e 64 anos. [...] O Relatório conclui que o uso de drogas e os danos associados a ele são os mais elevados entre os jovens em comparação aos mais velhos. A maioria das pesquisas sugere que a adolescência precoce (12-14 anos), a tardia (15-17 anos) é um período de risco crítico para o início do uso de substâncias e pode atingir o pico entre os jovens (com idade entre 18 e 25 anos) (ESCRITÓRIO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DROGAS E CRIME [UNODC], 2019 , p.1). 
Infere-se, assim, que a incidência do uso de drogas entre jovens é bastante elevada, o que requer atenção dos sistemas de saúde pública, a fim de protegê-los dos efeitos negativos que esse hábito tende a provocar tanto em relação à saúde física e mental quanto no que se refere a questões sociais. 
É importante também compreender as motivações que levam ao consumo de drogas. Carneiro (2012, p. 3) considera que “as drogas são necessidades humanas”, sejam essas necessidades de origem medicinal, religiosa ou social. Segundo o autor, “não apenas o álcool, como quase todas as drogas são parte indispensável dos ritos da sociabilidade, da cura, da devoção, do consolo e do prazer. Por isso as drogas foram divinizadas em inúmeras sociedades” (CARNEIRO, 2002, p.3).
De forma bastante didática e por isso muito apropriada para o esclarecimento de alguns dos principais enfoques do tema deste trabalho de pesquisa, Pires (2010) explica que diversos são os fatores que levam ao uso de substâncias psicoativas, tais como a mera curiosidade, a busca por novas fontes de prazer ou, numa manifestação psicológica mais grave, uma tentativa de preencher um vazio existencial que não tem origens claras, mas que encontram alívio imediato, mesmo que muitas vezes pouco duradouros, o que leva ao aumento no consumo do entorpecente. Há ainda fatores relacionados à própria droga, a predisposições genéticas, doenças de cunho psiquiátrico preexistentes ou adquiridas. Em suma, o que leva a maior parte dos usuários de drogas, em seus diversos tipos, a tal comportamento é, ou a busca pelo prazer e pela felicidade, ou a necessidade de suprir alguma carência, de disfarçar algum sentimento ruim, de preenchimento do vazio existencial.
Dalpiaz et. al (2014) comenta que dentre os principais fatores que levam ao uso de álcool e outras drogas, destacam-se os transtornos do humor, como a tristeza e a depressão, e os propósitos de recreação e experimentação. As alterações do humor são, geralmente associadas ao início do consumo de drogas por adultos, enquanto a busca por diversão e a curiosidade são associadas aos mais jovens. Ressalva-se, entretanto, que essa é uma relação de preponderância, ou seja, tais fatores podem ser motivo para o uso de drogas em diversas fases da vida. Sobre esses conceitos, tem-se que
A depressão é um transtorno de humor que interfere no funcionamento normal do ser humano, pois causa dor e sofrimento. Pode também alterar a capacidade da pessoa realizar atividades cotidianas (como comer, dormir, trabalhar, relacionar-se com outras pessoas) e transformar sua própria opinião sobre ela mesma e sobre tudo ao seu redor. 
[...]
Entretanto, destaca-se que o uso de drogas pode servir também a outros propósitos como de recreação e experimentação. O uso de drogas para recreação é caracterizado como algo social e relaxante, em que não há outros problemas relacionados, e o uso experimental é caracterizado como os primeiros episódios de uso, que são passageiros e não numerosos. O adolescente experimenta o álcool ou outra droga, pois o período que atravessa se caracteriza pelo desafi o às instituições em geral, e pela busca de novas sensações e descobertas (DALPIAZ et. al, 2014, p. 60 - 61)
Crives e Dimenstein (2003, p. 34) identificaram algumas concepções de usuários acerca o uso de drogas. Em uma pesquisa científica em que foram entrevistados 14 usuários, perguntou-se “O que você pensa sobre o uso de drogas?”. As respostas foram:
1. Representa uma fuga dos problemas familiares e financeiros; 
2. Prejudicial à saúde; 
3. Falta de conhecimento sobre os riscos da dependência; 
4. Insatisfação com a vida e a busca de prazer; 
5. Um vício; 
6. Curiosidade; 
7. Influência de amigos; 
8. Destruição da vida do ser humano (fraqueza pessoal)
Nota-se que algumas dessas resposta são compatíveis com os motivos apontados por Dalpiaz et. al (2014). Quando se busca por mecanismos de fuga para problemas inerentes à vida, como os relacionados a finanças e a insatisfação com a vida, por exemplo, é possível associar esse comportamento aos transtornos de humor como a tristeza e a depressão. Da mesma forma, quando os entrevistados de Crives e Dimenstein (2003) mencionam a busca pelo prazer e a influência de amigos é evidente a relação com a recreação e a experimentação apontadas por Dalpiaz et. al (2014).
A conceituação de droga é outro ponto de extrema importância para o desenvolvimento deste trabalho de pesquisa, bem como para o estreitamento do tema aqui abordado. À luz de Lima (2013, p. 25) tem-se que
O termo droga possui várias acepções, podendo ser referido a medicamentos ou remédios com propriedades terapêuticas estabelecidas e mais especificamente a substâncias que são capazes de causar dependência e/ou são objeto de abuso [grifo nosso]. Em um contexto legal o termo “droga” refere-se às substâncias psicoativas e, em particular, às drogas ilícitas ou àquelas cujo uso é regulado por lei. No Brasil, a legislação define como droga “as substâncias ou produtos capazes de causar dependência” assim especificado no parágrafo único art.1º da Lei nº 11.343/2006 que institui o Sistema Nacional de Políticas Sobre Drogas – SISNAD.[footnoteRef:1] [1: Sempre que este trabalho mencionar a palavra ‘droga(s)’, estará se referindo ao exposto nesta, salvo se expresso o contrário. ] 
No que tange à legislação, a citação acima alude à Lei 11.343/2016, o Sistema Nacional de Políticas Sobre Drogas – SISNAD, cujo caput enuncia que 
[o SISNAD] prescreve medidaspara prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências (BRASIL, 2013).
De acordo com a letra da lei, em seu Artigo 3º, tem-se que 
O SISNAD tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com:
I - a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
II - a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.
Daí, depreende-se que o Estado se preocupa muito mais com o proibicionismo e com a rígida coibição aos crimes relacionados às drogas do que com as medidas de RD. 
Contudo, a publicação “Legislação e Políticas Públicas sobre Drogas no Brasil” (2010) reúne as políticas e as leis em vigor no país a respeito do assunto, além de destacar os seus principais pontos, sob a ótica da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas no Brasil, que, por sua vez é vinculada ao Gabinete de Segurança Pública da Presidência da República. Os principais pressupostos do documento regulamentário são:
· Proteger a sociedade do uso de drogas ilegais e do abuso das legais;
· Reconhecer e tratar adequadamente o cidadão usuário ou dependentes de substâncias lícitas ou ilícitas;
· Conscientizar a sociedade sobre o problema das drogas, em toda sua amplitude, valorizando, assim, a prevenção ao uso e ao abuso de substâncias entorpecentes;
· Planejar ações coordenadas entre diferentes setores do governo e da sociedade que visem a enfrentar essa problemática, abrangendo toda sua complexidade;
Quanto aos objetivos da Política Nacional sobre Drogas, destacam-se:
· Validar conhecimentos científicos que subsidiem a educação, a formação e a capacitação de profissionais de diversas áreas do conhecimento, para que, integradas, elaborem e executem ações preventivas e combativas relacionadas às drogas; 
· Minimizar as consequências sociais e de saúde pública decorrente do uso de drogas ilícitas e do uso indevido de drogas lícitas;
· Combater os crimes relacionados às drogas ilegais, tais como a produção, o tráfico, a comercialização etc. (SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS, 2019). 
Lima (2013) sustenta que, pelo fato de o uso, moderado ou não, de substâncias entorpecentes ser um fator de interferência em diversos âmbitos da vida do indivíduo, as drogas representam um grave problema social. Atos de violência, acidentes (ou crimes) de trânsito, desentendimentos nas relações interpessoais e profissionais, problemas de saúde físicos e psicológicos, dentre várias outras consequências do uso de drogas extrapolam o campo da individualidade e se tornam casos que necessitam de controle e cuidados especializados, voltados tanto para a pessoa quanto para a sociedade. Segundo a autora, 
Diversos aspectos conflitivos da vida social relacionam-se direta ou indiretamente ao estatuto do comércio ilegal de drogas, gerando processos de delinquência e marginalidade, contribuindo para a formação das redes de narcotráfico e para a consolidação de conflitos de diferentes grupos. Em decorrência, esse panorama provoca uma situação de tensão permanente levando o sentimento de fragilidade, medo e impotência a contingentes expressivos da população e por consequência ao apelo desesperado clamando por soluções, sobretudo no âmbito da saúde e da segurança pública. Nesse cenário, vemos surgir uma variedade de respostas em diferentes campos: religioso, legal, acadêmico, policial, clínicas especializadas, comunidades e fazendas terapêuticas, entre outras (LIMA, 2013, p. 30).
Fica evidente, assim, que o problema das drogas é extremamente complexo, envolve uma série de áreas do conhecimento e é de responsabilidade compartilhada entre Estado e sociedade, visto que afeta negativamente a ambos. 
Conforme Oliveira (2017), a finalidade da Lei 13.343/06 é criminalizar a produção e o tráfico de drogas ilícitas e promover a conscientização e ressocialização do chamado usuário. A regulamentação anterior, datada de 1976, reprimia o uso e aplicava severas penas, como multa e prisão aos usuários, mas 
com a nova redação, aquele que adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trazer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: advertência; prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento em programa ou curso educativo [grifo nosso] (OLIVEIRA, 2017, p. 1).
Esse olhar voltado para o dependente de substâncias ilícitas não o trata mais como um criminoso, como era na redação anterior. Agora, o usuário é merecedor de atenção especial para que se liberte do vício e prossiga sua vida em conformidade com as leis e as convenções sociais (IDEM). 
É de amplo conhecimento que no Brasil, as políticas públicas e as práticas de combate às drogas e de cuidados com o cidadão que sofre de dependência química, na maioria das vezes, são ineficientes, paliativas e excludentes, quando não cruéis, como a internação compulsória, amplamente discutida de tempos em tempos, e que o problema se agrava com o passar dos anos (CAVALCANTE, 2008). 
Nesse contexto, vale ressaltar a importância das ações previstas na política de redução de danos, como a educação do usuário para que sua integridade física e moral sejam preservadas o máximo possível; a reinserção do usuário recuperado (ou conscientizado) na sociedade, no mercado de trabalho; a retomada de sua subsistência, de sua dignidade e de sua equiparação em relação aos demais cidadãos, tirando-o da marginalidade e lhe assegurando os mesmos direitos e deveres garantidos a todos os brasileiros pela Constituição Federal.
Oliveira (2017, p.1) destaca, acertadamente, que 
o usuário de drogas tem direitos como qualquer cidadão, sendo garantido o respeito, a dignidade humana, mas não é o que ocorre. O abuso de poder está presente na vida desses indivíduos, como por exemplo na abordagem policial, sabemos que a função repressiva faz com que muitas vezes eles usem da violência, porém, o respeito aos direitos humanos de todas as pessoas, ainda que ela esteja cometendo um crime é o limite da ação policial.
Dessa maneira, enfatiza-se a tese de que a dependência química é uma doença crônica que, assim como as demais, necessita de cuidados específicos e contínuos para que seja mantida sob constante controle, uma vez que não há cura permanente para a compulsão por drogas, de uma forma geral. A dependência química, portanto, é caracterizada pela falta de autocontrole do indivíduo no uso de substâncias psicoativas lícitas ou ilícitas. Esse comportamento leva o usuário, agora considerado dependente, a se desagregar da sociedade, tornando-se um cidadão marginalizado, à mercê de diversos perigos que podem ser reduzidos com a política da redução de danos (NOVAES, 2014). 
REFERÊNCIAS (deste trecho) 
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO. Nota à Imprensa. 2019. Disponível em: http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/789618. Acesso em: 01 maio 2020.
AVELINO, Victor Pereira. A evolução do consumo de drogas: aspectos históricos, axiológicos e legislativos. Aspectos históricos, axiológicos e legislativos. 2010. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/14469/a-evolucao-do-consumo-de-drogas/3. Acesso em: 25 abr. 2020.
BRASIL. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD). Drogas: cartilha sobre maconha, cocaína e inalantes / Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD); conteúdo e texto original: Beatriz H. Carlini. -- 2. ed., reimpr. – Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2011. 48 p.: il., color. - (Série Por dentro do assunto)
CARNEIRO, Henrique. As necessidades humanas e o proibicionismo das drogas no século XX. Outubro, São Paulo, v. 6, p.115-128, out. 2002. Disponível em: <http://www.neip.info/downloads/t_hen2.pdf>. Acesso em: 02 nov. 2019.
CAVALCANTE, Regina Cláudia Barroso. Políticas Públicas SobreDrogas: labirinto entre a marginalidade e a cidadania. 2008. Disponível em: http://www.uece.br/cmasp/dmdocuments/reginabarroso_2008.pdf. Acesso em: 20 maio 2020.
CRIADO, Miguel Ángel. Maconha já era fumada há 2.500 anos. 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/12/ciencia/1560325693_718056.html. Acesso em: 25 abr. 2020.  
CRIVES, Miranice Nunes dos Santos; DIMENSTEIN, Magda. Sentidos produzidos acerca do consumo de substâncias psicoativas por usuários de um Programa Público. Saúde e Sociedade, Natal, v. 12, n. 2, p. 26-37, jul. 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/sausoc/v12n2/04.pdf. Acesso em: 12 maio 2020.
DALPIAZ, Ana Kelen et al. Fatores associados ao uso de drogas: depoimentos de usuários de um caps ad. depoimentos de usuários de um CAPS AD. 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/aletheia/n45/n45a05.pdf. Acesso em: 05 maio 2020.
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. 3° Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira. 2019. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisa-revela-dados-sobre-o-consumo-de-drogas-no-brasil. Acesso em: 25 abr. 2020.
MORAES, Daniel Cardoso; BARRETO NETO, Heráclito Mota. O panorama conceitual e histórico do uso de drogas: uma necessária compreensão da autonomia, para além do proibicionismo imediatista. 2014. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=7d757465b17e6b28. Acesso em: 30 abr. 2020.
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VILAR, Leandro. Heródoto de Halicarnasso: o pai da história. O Pai da História. 2013. Disponível em: http://seguindopassoshistoria.blogspot.com/2013/07/herodoto-de-halicarnasso-o-pai-da.html. Acesso em: 17 abr. 2020.

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