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Concurso de Pessoas e Teoria do domínio do fato

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2
CONCURSO DE PESSOAS E A TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO
 Silva, Josenildo Pimentel da
Figueredo, Marcell Yves Pimentel
Lima, Pertson Haleson Severiano de
Oliveira, Talita Paula da Silva
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo busca fazer uma breve análise sobre o concurso de pessoas e a teoria de domínio do fato, demonstrando a preocupação do legislador, sobretudo após a reforma da parte geral do código penal, conforme a lei 7.209 de 1984, no sentido de delimitar a responsabilidade penal, de forma individualizada, nos crimes praticados em concurso de pessoas, na medida de sua culpabilidade. A teoria de domínio do fato será abordada sob o enfoque de sua influência nas organizações criminosas.
2 CONCEITO DOUTRINÁRIO DE CONCURSOS DE PESSOAS
Para a doutrina concursos de pessoas é a reunião de duas ou mais pessoas, de forma consciente e voluntária, concorrendo ou colaborando para o cometimento de certa infração penal.
Segundo Júlio Fabrini Mirabete: “é a ciente e voluntária participação de duas ou mais pessoas na mesma infração penal, havendo convergência de vontades, visando um fim comum, sendo dispensável um acordo prévio entre as pessoas”.
2.1 DO CONCURSO DE PESSOAS NO CÓDIGO PENAL.
Não existe um conceito específico no Código Penal, porém, isto fica evidenciado nos artigos 29 a 31 do referido diploma legal.
 Art. 29. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
§ 1º. Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.
§ 2º. Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
3 REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS
3.1 PLURALIDADE DE AGENTES
Não existe concurso de pessoas sem que, pelo menos, duas condutas sejam realizadas, podendo as duas ser principais ou uma principal e outra acessória, ou seja, realizadas respectivamente por dois autores, ou por um autor e um partícipe, devendo as mesmas praticarem um certo tipo penal, pois, ao contrário, estarão realizando condutas autônomas e não restará caracterizado o concurso de pessoas.
Para Rogério Greco: “A pluralidade de agentes (e de condutas ) é requisito indispensável para a caracterização do concursos de pessoas. O próprio nome induz sobre a necessidade de, no mínimo duas pessoas que, envidando esforços conjuntos, almejam praticar determinada infração penal.” (GRECO, Curso de direito penal,v.1.19ª ed.)
3.2 RELEVÂNCIA CAUSAL DAS CONDUTAS (NEXO OBJETIVO)
A conduta de cada agente de contribuir de forma efetiva para a perpetração do crime, do contrário, não podemos falar em concurso. Sem relevância causal em sua conduta o agente não agirá em concurso. As condutas de cada agente deverão estar integradas na cadeia causal para a produção do resultado. 
Para Fernando Capez: “se a conduta não tem relevância causal, isto é, se não contribui em nada para a produção do resultado, não pode ser considerada como integrante do concurso de pessoas”.
3.3 LIAME SUBJETIVO
É a convergência de vontades, que deve ser homogênea, ou seja, não pode haver participação dolosa em crime culposo ou vice-versa. É a chamada unidade de desígnios, onde todos cooperam na produção do resultado. Não se exige o ajuste prévio, basta que as vontades se encontrem, objetivando um fim comum. A consciência de que participam da empreitada criminosa. Sem esse elemento as condutas serão isoladas e autônomas, inexistindo o concurso de pessoas.
Para Júlio Mirabete: “somente a adesão voluntária , objetiva (nexo causal) e subjetiva ( nexo psicológico), à atividade criminosa de outrem, visando à realização do fim comum, cria o vínculo do concurso de pessoas e sujeita os agentes à responsabilidade pelas consequências da ação”. (MIRABETE, Manual, v.1.p.226).
3.4 IDENTIDADE DE FATO
Como a teoria adotada para o concurso de pessoas foi a unitária ou monista, a regra é a de que todos deverão responder pela mesma infração penal. Entretanto para que a identidade de fato seja reconhecida é necessário que o crime seja pelo menos tentado, conforme dicção do artigo 31 do código penal.
4 DAS ESPÉCIES DE CONCURSOS DE PESSOAS 
4.1 CONCURSO NECESSÁRIO
É aquele que ocorre nos chamados crimes plurissubjetivos, ou seja, naqueles que só podem ser praticados por mais de uma agente. É uma conditio sine qua non, a concorrência de mais de um autor, enquanto que a participação pode ser eventual.
No concurso necessário as condutas se subdividem em:
a) Condutas paralelas, como no crime de associação criminosa art. 288 do CP;
b) Condutas convergentes, que encontramos no crime de Bigamia, art. 235 do CP;
c) Condutas contrapostas, present4es no crime de rixa. Art. 137 do CP.
4.2 CONCURSO EVENTUAL
O concurso eventual ocorre nos crimes monossubjetivos, ou seja, aqueles que podem ser cometidos por uma só pessoa ou por várias. Praticamente todos os crimes em geral, portanto, nesta espécie de concursos pode existir ou não a coautoria ou participação.
5 TEORIAS QUANTO AO CONCURSO DE PESSOAS
A grande discussão que ocorre em relação ao concurso de pessoas é no sentido de se estabelecer se, na associação das condutas dos agentes, ocorre somente um ou mais delitos. Por isso algumas teorias foram criadas, com o objetivo de dirimir dúvidas quanto ao tema. Dessa forma temos:
5.1 A TEORIA UNITÁRIA, MONISTA OU MONÍSTICA
Tendo sua origem no código penal italiano, para essa teoria, todos que concorrem para a pratica do delito são autores, não havendo distinção entre autor, coautor ou partícipe.
Segundo Romeu Falconi: “para a teoria monística ou unitária o crime é único e igual para todos os concorrentes e cada conduta constitui parte integrante do fato criminoso”.
5.2 A TEORIA DUALISTA
A teoria dualista alega que existem dois crimes, sendo um cometido pelos autores e outro pelos partícipes; além disso, alega que, na verdade, existem duas participações, sendo uma primaria e outra secundária, embora o crime seja único.
5.3 A TEORIA PLURALISTA OU PLURALÍSTICA
No concurso de pessoas, existem pluralidades de agentes e de crimes, respondendo cada participante por crime próprio, pois tem uma conduta própria e almeja alcançar resultado próprio. Portanto, o partícipe recebe a qualidade de autor, em decorrência da simultaneidade de delitos, pois pratica um delito próprio autônomo.
5.4 TEORIA DOTADA PELO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO
Adotamos a teoria unitária ou monista, entretanto, o legislador reconhece a figura do partícipe, fato que não ocorre no modelo italiano. O crime é único, porém, cada um dos agentes responde na medida de sua culpabilidade.
6 AUTORIA, COAUTORIA E PARTICIPAÇÃO
A autoria não está definida no código penal pátrio e não é tema pacífico entre os doutrinadores. Nas lições de Cezar Roberto Bitencourt a autoria não pode ficar adstrita à pessoa que diretamente pratica a conduta descrita no núcleo do tipo penal, mas deve compreender também quem se utiliza de interposta pessoa como instrumento para cometer o ilícito (Bitencourt, 2011). Bitencourt vai além e diz:
É possível que mais de uma pessoa pratique a mesma infração penal, ignorando que colabora na ação de outrem (autoria colateral), ou então consciente voluntariamente, coopere no empreendimento criminoso, quer praticando atos de execução (coautoria), quer instigando, induzindo ou auxiliando (participação) na realização de uma conduta punível. (BITENCOURT, 2011)
Assim sendo, diversas teorias surgiram com a finalidade de definir os conceitos de autor e partícipe.
6.1 TEORIAS DA AUTORIA 
6.1.1 Conceito Restritivo do Autor
Para essa teoria autor é aquele que pratica o verbo núcleo do tipo penal. Para os demais, que viessem a participar da ação delituosa, mas não realizassem a conduta narrada pelo verbo do tipo penal seriam considerados partícipes.
Afirma o professor Jescheck:
Desde o prisma do conceito restritivo de autor, a previsão de especiais formas de participação, como a indução e a cumplicidade, significa que a punibilidadese amplia a ações que fica fora do tipo, pois conforme o próprio tipo somente poderia castigar-se o que por si mesmo mata, furta ou oferece resistência. Outros intervenientes que se limitam a determinar ao autor a comissão do fato ou auxilia-lo, deveriam ficar impunes se não existissem os especiais preceitos penais que regulam a indução e a cumplicidade. (JESCHECK,1981 apud GRECO, 2017, p.533)
Nesse sentido Cezar Roberto Bitencourt afirma que para essa teoria nem todo aquele que interpõem uma causa realiza o tipo penal. As formas de participação, instigação e cumplicidade serão, “causas de extensão da punibilidade” (Bitencourt, 2011), visto que, por não integrarem a figura típica constituíram comportamentos impuníveis.
O conceito restritivo de autor é complementado pela teoria objetiva de participação:
6.1.1.1 Teoria Objetivo-formal
Para essa teoria autor é aquele que pratica a conduta descrita no núcleo do tipo penal. Aquele que contribuir de qualquer outra forma será considerado participe.
6.1.1.2 Teoria objetivo-material
Tentando suprir os defeitos da teoria objetivo-formal, a teoria objetivo-material distingue autor de participe pela maior contribuição objetiva daquele na causação do resultado.
O conceito restritivo de autor, muito embora diferencie autor de participe, encontra dificuldades em contemplar a figura do autor mediato. A teoria tornou-se alvo de ataques, não goza, atualmente de preferência entre os doutrinadores.
6.1.2 Conceito Extensivo de Autor
Para essa teoria não apenas quem pratica o núcleo do tipo penal é considerado autor, mas todos aqueles que contribuírem de alguma forma para a prática do fato serão considerados como tal.
6.1.2.1 Teoria Subjetiva da participação
Segundo essa teoria existe uma vontade de ser autor e uma vontade de ser participe. O autor quer o fato como “próprio” e o participe quer o fato como “alheio”, valorando o elemento anímico dos agentes.
A distinção puramente subjetiva trouxe inconvenientes. Conforme exemplifica Rogerio Grecco, um matador de aluguel causa a morte da vitima não porque a desejava, mas, sim, porque fora pago. Utilizando-se dessa teoria o autor do crime, por não quere-lo como seu, poderia ser condenado como cumplice (Greco, 2017). Essa teoria poderia levar a condenar como participe sujeitos que realizam os elementos do crime e como autores, quem não tem intervenção material no fato, conforme leciona Roberto Bitencourt.
6.2 TIPOS DE AUTORIA
6.2.1 Autoria Imediata 
Autor imediato é aquele que realiza diretamente a conduta descrita no núcleo do tipo penal. Afirma Nilo Batista que “autor direto é aquele que tem o domínio do fato, na forma do domínio da ação, pela pessoal e dolosa realização da conduta típica” (BATISTA, 2004 apud GRECO, 2017, p.539).
6.2.2 Autoria Mediata
Autor mediato é aquele pratica a ação valendo de outro como instrumento para execução do delito. Conforme afirma Fernando Capez: “o executor atua sem vontade ou consciência, considerando-se, por essa razão, que a conduta principal foi realizada pelo autor mediato” (Capez, 2017).
O agente, nos casos de autoria mediata, detenha o controle da situação, ou seja, deverá ter o domínio do fato. O código penal prevê quatro casos de autoria mediata, são eles: erro determinado por terceiro; coação moral irresistível; obediência hierárquica; e caso de instrumento impunível em virtude de condição ou qualidade pessoal.
6.3 COAUTORIA
A coautoria funda-se sobre o principio da divisão do trabalho. Coautores são aqueles que têm o domínio funcional dos fatos. Conforme ensina Cezar Roberto Bitencourt: “é a atuação consciente de estar contribuindo na realização comum de uma infração penal. Essa consciência constitui o liame psicológico que une a ação de todos, dando caráter de crime único” (Bitencourt, 2011). 
A coautoria não exige que todos pratiquem a conduta descrita no tipo penal, sendo considerado coautor todos que tiverem participação importante e necessária ao cometimento da infração. Afirma Fernando Capez que: “O coautor que concorre na realização do tipo também responderá pela qualificadora ou agravante de caráter objetivo quando tiver consciência desta e aceita-la como possível” (Capez, 2017).
6.4 PARTICIPAÇÃO
A palavra participação, em um sentido amplo, significa todos aqueles que participam de um crime, englobando tanto autores quanto os partícipes propriamente dito.
Partícipes, em sentido estrito, são os que desempenham atividade diversa da do autor. Conforme ensina Bitencourt:
 A participação em sentido estrito, é a intervenção em um fato alheio, o que pressupõe a existência de um autor principal. O participe não pratica a conduta descrita pelo preceito primário da norma penal, mas realiza uma atividade secundária que contribui, estimula ou favorece a execução da conduta proibida. Não realiza atividade propriamente executiva. (BITENCOURT, 2011)
A doutrina classifica a participação em dois tipos: moral e material. 
A participação moral acontece por induzimento ou instigação. A participação por instigação ocorre quando o partícipe reforça, estimula uma ideia criminosa já existente, sem que tome parte na execução nem no domínio do fato. Na participação por induzimento o partícipe irá agir na vontade do autor, lançando a semente da ideia criminosa que até então não existia.
A participação material, também chamada de cumplicidade, é exteriorizada, conforme ensina Cezar Roberto Bitencourt, através de um comportamento, de um auxilio (Bitencourt, 2011). Em outras palavras, nessa espécie de participação o participe irá facilitar materialmente a pratica da infração, por exemplo, emprestando uma arma para que seja realizado um roubo.
6.4.1 Tentativa de Participação
O Código Penal pátrio dispõe em seu artigo 31 que: “Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado”. Se o partícipe estimula, instiga ou auxilia alguém a cometer algum delito que não chega sequer a ser tentado pelo autor, a conduta do partícipe, nas lições do professor Rogerio Greco, é considerada um indiferente penal (Greco, 2017). Assim sendo não se pode falar em tentativa de participação.
6.4.2 Participação de Menor Importância
Conforme consta no § 1º do artigo 29 Código Penal: “§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.” A participação de menor importância é causa geral de diminuição de pena. O § 1º, contudo, refere-se exclusivamente ao participe não abrangendo a conduta realizada pelo coautor, que será avaliada nos termos do caput do artigo 29.
A autoridade julgadora, constatando a contribuição mínima do participe para realização do delito, deverá aplicar a redução entre os limites estabelecidos que é de um sexto a um terço.
7 TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO
Trata-se de uma teoria que se propõe a explicar o fenômeno da autoria e coautoria no concurso de agentes, revelando um novo conceito de autoria. Com a finalidade de ocupar posição intermediária entre as teorias objetiva e subjetiva, é considerada uma teoria objetivo-subjetiva (Greco, 2017).
As teorias existentes na época só levavam à condenação os executores dos crimes, ficando impunes os verdadeiros autores. Para tentar acabar com essa injustiça, a teoria do domínio do fato distingue com clareza autor e partícipe, admitindo com facilidade a figura do autor mediato, além de possibilitar melhor compreensão da coautoria. 
Essa teoria tornou-se conhecida em 1939 com o finalismo do Hans Welzel, referindo-se a um domínio final do fato como critério determinante de autoria. Mas foi através da obra de Claus Roxin, inicialmente publicada em 1963, que a teoria do domínio do fato foi desenvolvida, adquirindo uma importante projeção internacional, tanto na Europa como na América Latina (Bitencourt, 2012).
Para essa teoria, autor é quem pratica a conduta principal e conduta principal é aquela praticada por quem detém o domínio final do fato. Domínio final do fato detém aquele que tem a capacidadede interromper, a qualquer momento, a realização da ação delituosa, embora não execute o núcleo principal do tipo penal.
Ao ampliar o conceito de autor, definindo-o como aquele que tem o controle final do fato, ainda que não realize o núcleo do tipo penal, contempla os seguintes conceitos: 
Autor imediato/autor propriamente dito: é aquele que pratica o núcleo do tipo penal (domínio sobre a própria vontade);
Autor mediato: é aquele que se vale de um inculpável ou de pessoa que atua sem dolo ou sem culpa para cometer a conduta criminosa (domínio sobre a vontade de terceiro);
Autor de escritório/intelectual: é aquele que planeja mentalmente a empreitada criminosa. É autor, e não partícipe, pois tem poderes para controlar a prática do fato punível. Exemplo: o líder de uma organização criminosa pode, do interior de um presídio, determinar a prática de um crime por seus seguidores. Se, e quando quiser, pode interromper a execução do delito, e retomá-la quando melhor lhe aprouver (Masson, 2019); (domínio por meio de aparato organizado de poder).
Para essa teoria o autor intelectual não se confunde com a figura do mandante, pois a teoria do domínio do fato exige alguns requisitos para aquele que não comete a ação do verbo do tipo possa ser considerado autor:
· Estrutura hierárquica
· Organização ilícita
· Executores fungíveis
O chefe de uma organização criminosa, por exemplo, para a teoria objetivo-formal, seria considerado um mero partícipe, pois estaria meramente induzindo ou instigando terceiro a prática de um crime. 
Para a teoria do domínio do fato, por sua vez, comprovando-se que se trata de uma organização com estrutura hierarquizada, com caráter ilícito em suas ações e executores fungíveis o chefe da organização responderá pela autoria do crime por deter o domínio final sobre a ação do autor imediato.
Para isso é necessário e imprescindível que aquele que não realizou o verbo do tipo tenha conhecimento dos fatos, não sendo suficiente que a posição hierárquica superior.
Assim, propõe Roxin que se reconheça a possibilidade de domínio por meio de um aparato organizado de poder, na hipótese de alguém servindo-se de uma organização verticalmente estruturada, dissociada de uma ordem jurídica, que emite uma ordem cujo comportamento é entregue a executor fungível, que funciona como mera engrenagem de uma estrutura automática, não se limitam a instigar mas é o verdadeiro autor mediato dos fatos (L. Greco, 2014).
A teoria do domínio do fato admite também a figura do partícipe.
Partícipe, no campo da teoria do domínio do fato, é quem de qualquer modo concorre para o crime, desde que não realize o núcleo do tipo penal nem possua o controle final do fato. Dentro de uma repartição estratificada de tarefas, o partícipe seria um simples concorrente acessório.
O partícipe só possui o domínio da vontade da própria conduta, tratando-se de um “colaborador”, uma figura lateral, não tendo o domínio finalista do crime. O delito não lhe pertence: ele colabora no crime alheio.
Em face de sua finalidade, a teoria do domínio do fato somente tem aplicação nos crimes dolosos. 
Com efeito, essa teoria não se encaixa no perfil dos crimes culposos, pela razão de que, neste delito, o agente não quer o resultado, logo, não pode ter domínio final sobre algo que não deseja (Capez, 2018). A teoria do domínio do fato, portanto, é acometida da mesma deficiência da teoria finalista da conduta, criticada por não se encaixar nesses delitos.
Em suma, é preciso destacar, para afastar a responsabilidade penal objetiva, que a teoria do domínio do fato não preceitua que a mera posição de um agente na escala hierárquica sirva para demonstrar ou reforçar seu dolo, e também não permite a condenação de quem quer que seja com base em meras conjecturas, desprovidas de suporte probatório. É indispensável a individualização da conduta de todos os envolvidos na empreitada criminosa, inclusive com a demonstração do dolo de cada um deles, para que assim possa responsabilizar aqueles que, de fato, são os verdadeiros autores.
7.1 DA APLICAÇÃO DA TEORIA DO DOMINÍO DO FATO NO BRASIL
A aplicação da Teoria do Domínio do Fato, no Brasil, ganhou notoriedade, sobretudo, quando fora invocada no julgamento da Ação Penal (AP) 470, o popular “Mensalão”.
A referida aplicação, entretanto, fora objeto de vários questionamentos e discussões, uma vez que a teoria em apreço não teria sido aplicada de maneira coerente, mormente na condenação do Ministro José Dirceu, amparada na teoria de Claus Roxin.
Para fins de contextualização, é necessário rememorar que, para Roxin, o superior hierárquico da organização, tão somente por ocupar a função, não pode ser responsabilizado pelos delitos apreciados. Jamais. Nos termos do próprio Roxin, in verbis: “Quem ocupa posição de comando tem que ter, de fato, emitido a ordem. E isso deve ser provado”.
Ora, a necessidade do conjunto probatório que indique que o superior controlou/comandou o fato delitivo configura elemento imprescindível para a aplicação da Teoria do Domínio do Fato. 
Contudo, o que se depreende do voto do Ministro Joaquim Barbosa, “precursor” da trazida ao lume da teoria em comento, é uma condenação lastreada em indícios, existentes por ocupar José Dirceu alta posição. De trecho do seu voto no acórdão da AP, verifica-se:
Em razão do cargo elevadíssimo que exercia à época dos fatos, o acusado JOSÉ DIRCEU atuava em reuniões fechadas, jantares, encontros secretos, executando os atos de comando, direção, controle e garantia do sucesso do esquema criminoso, executado mediante divisão de tarefas em que as funções de cada corréu encontrava nítida definição”.
E pelo seu voto a sustentação é contínua sobre José Dirceu ter o domínio final dos fatos. De fato, poderia ter, não obstante, não se vislumbraram os comandos emitidos por ele para torná-lo autor com base na Teoria do Domínio do Fato de Roxin. Em verdade, condenar alguém apenas por sua posição hierárquica seria um mau uso, como outrora definiu o próprio autor.
Desta feita, é imperioso o destaque de que para a configuração do domínio do fato é imprescindível que o autor tenha absoluto controle sobre o executor do fato, não suprindo apenas a superioridade hierárquica na instituição, pensar ajustado na nossa jurisprudência.
Isso remete, inclusive, a um instituto basilar do Direito Penal como um todo, que é o in dubio pro reo. Indícios de ocorrência, milhares que sejam, jamais são convertidos em prova provada. Se por eventualidade pairar dúvida sobre a culpabilidade de outrem, ínfima que seja, não perde o caráter duvidoso e caracteriza fundamento idôneo para determinar sua absolvição.
Conclui-se, pois, que o “domínio do fato à brasileira”, posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal, além de ir de encontro com o que propôs Claus Roxin, feriu instrumentos vitais da tônica material e processual do direito, deixando grande mácula no julgado em apreço e, indubitavelmente, abnegou-se de boa impressão jurídica para impressionar o clamor popular.
8 CONCLUSÃO
Estudada no âmbito do concurso de pessoas a teoria do domínio do fato revelou-se um grande avanço no ordenamento jurídico internacional, principalmente no cenário onde se via a impunidade dos verdadeiros responsáveis pelas diversas barbáries ocorridas nos séculos XIX e XX. 
A teoria do domínio do fato veio para complementar à teoria restritiva da autoria, ampliando o conceito de autor, passando a ser considerado sujeito ativo não apenas o agente que comete os atos executórios, mas também aquele que domina finalisticamente a vontade de outrem.
Apesar de longínqua data de sua criação até os dias de hoje há bastante controvérsia quanto a sua aplicabilidade. Contudo, essa teoria é amplamente aceita na jurisprudência brasileira, mas é bastante criticada quanto a sua correta aplicação.
O exame realizado até aqui permite concluir que tanto a doutrina quanto a jurisprudência brasileiras há muito cometem graves equívocos e incongruências, no
que diz respeito ao tratamento e aplicação da teoria do domínio dofato, principalmente no quanto a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Ação Penal N° 470.
Ademais, é possível concluir que o STF ao julgar a da Ação Penal N° 470, não adotou a teoria do domínio final do fato, desenvolvida por Welzel, nem a teoria do domínio do fato, desenvolvida por Roxin, mas sim, utilizou uma anomalia resultante da conjugação dos critérios de ambas as concepções, o que conduziu a uma absoluta contradição. 
Por fim, cabe ter em vista que a teoria do domínio do fato de Roxin não é compatível com a ordem jurídico-penal brasileira, em virtude da opção do legislador brasileiro por um sistema unitário funcional no tocante ao concurso de pessoas. Todavia, isso não implica o rechaço à ideia de domínio do fato, mas a necessidade de construção de uma teoria compatível com a ordem jurídica nacional.
BIBLIOGRAFIA
Autoria como domínio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito penal brasileiro / Luís Greco... [et alii]. 1. Ed. – São Paulo: Marcial Pons, 2014. (Direito Penal e Criminologia)
Bitencourt, Cezar Roberto Tratado de direito penal: parte geral, 1 / Cezar Roberto Bitencourt. – 17. ed. rev., ampl. e atual. de acordo com a Lei n. 12.550, de 2011. – São Paulo: Saraiva, 2012.
Capez, Fernando Curso de direito penal, volume 1, parte geral : / Fernando Capez. – 21. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2017
_____________ Curso de direito penal, volume 1, parte geral : / Fernando Capez. – 22. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018
Entrevista de Claus Roxin concedida às repórteres Cristina Grillo e Denise Menche, da Folha de S. Paulo, publicada no domingo, dia 11 de novembro de 2012.
Greco, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral, volume I / Rogério Greco. – 19. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017
Masson, Cleber Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cleber Masson. – 13. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019.
STF, AP 470/MG, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA, julgado em 17/12/2012, vide o voto do ministro Joaquim Barbosa, especialmente à fl. 4.673 do acórdão (fl. 56.288 dos autos).
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