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POLÍTICAS PÚBLICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Ana Manuela Ordonez O65p Ordonez, Ana Manuela. Políticas públicas de alimentação e nutrição [recurso eletrônico] / Ana Manuela Ordonez, Andrei Valerio Paiva. – 2. ed. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. Editado como livro impresso em 2017. ISBN 978-85-9502-029-0 1. Saúde pública. 2. Nutrição – Políticas públicas. 3. Alimentação – Assistência em saúde. I. Paiva, Andrei Valerio. II. Título. CDU 614:612.39 Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Politicas_publ_alim_nutri.indb 2 16/01/17 16:21 Política Nacional de Alimentação e Nutrição Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os princípios e propósitos da Política Nacional de Ali- mentação e Nutrição (PNAN). � Relacionar as diretrizes da PNAN com a segurança alimentar e nu- tricional da população brasileira. � Contextualizar a importância da PNAN na promoção da saúde. Introdução A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) tem o propó- sito de melhorar as condições de alimentação, nutrição e saúde da população brasileira, em busca da garantia da segurança alimentar e nutricional. Neste texto, você vai estudar a PNAN, que está organizada em diretri- zes voltadas à atenção nutricional no Sistema Único de Saúde (SUS). Tem foco na vigilância, promoção, prevenção e no cuidado integral de agravos relacionados à alimentação e nutrição. Política Nacional de Alimentação e Nutrição: surgimento e propósitos A alimentação e a nutrição compõem os requisitos básicos para a promoção e a proteção da saúde, sendo promotoras do potencial de crescimento e de- senvolvimento humano plenos, com qualidade de vida e cidadania. A alimen- tação e nutrição estão presentes na Lei nº 8.080, de 1990, que entende a ali- mentação como um fator condicionante e determinante da saúde. De acordo com a lei, as ações desse campo devem ser transversais às ações de saúde dentro do sistema de saúde. A Emenda Constitucional n° 64, aprovada em 2010 (Brasil, 2010a), intro- duziu no artigo 6° da Constituição Federal a alimentação como direito. Nesse sentido, o Estado Brasileiro, empenhado na construção de uma abordagem atuante no combate à fome, à pobreza e à promoção da alimentação adequada Politicas_publ_alim_nutri.indb 187 16/01/17 16:21 e saudável, publicou a Lei nº 11.346/2006 (Lei Orgânica de Segurança Ali- mentar e Nutricional [Brasil, 2010]) e o Decreto nº 7272/2010 (Brasil, 2010b) (Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional). Esses documentos apresentam na sua base o fortalecimento das ações de alimentação e nutrição no sistema de saúde. As transformações sociais pelas quais a população brasileira passou nas úl- timas décadas resultaram em mudanças no padrão de saúde e no consumo ali- mentar. No âmbito da nutrição, essas mudanças proporcionaram a diminuição da pobreza e da exclusão social e, consequentemente, da fome e desnutrição. No entanto, observa-se aumento crescente do excesso de peso, o que aponta um novo panorama de problemas relacionados à alimentação e nutrição. Esse processo, chamado de transição nutricional, foi acompanhado pelo aumento da disponibilidade média de calorias para consumo, em função da facilidade de acesso a produtos altamente industrializados. De um país que apresentava altas taxas de desnutrição, na década de 1970, o Brasil passou a ser, em 2008, o país cuja metade da população adulta apresenta excesso de peso. Os determinantes da obesidade são de natureza demográfica, socioeco- nômica, epidemiológica e cultural, além de questões ambientais, o que a torna uma doença multifatorial. O crescente número de casos de obesidade está fortemente ligado à ingestão excessiva de calorias e à diminuição das ativi- dades físicas. Apesar desse cenário, ainda é alta a prevalência de desnutrição crônica, sobretudo em grupos vulneráveis da população, como crianças indí- genas, quilombolas, moradores da região Norte do País e famílias beneficiá- rias dos programas de transferência de renda, sendo afetadas, principalmente, crianças e mulheres que vivem em bolsões de pobreza. No Brasil, estes outros agravos nutricionais também merecem a atenção das políticas públicas: � diminuição dos índices de aleitamento materno exclusivo (até os 6 meses) e total (até os 24 meses); � início precoce da alimentação complementar (transição entre aleitamento materno para os alimentos consumidos pela família); � substituição da dieta “tradicional” (com base no arroz com feijão) por ali- mentos ultraprocessados (com alto conteúdo calórico e teores elevados de gorduras, sódio e açúcar, além de baixo teor de micronutrientes); � declínio do nível de atividade física, reforçado pela adesão de um padrão de dieta rica em alimentos com alta densidade energética e baixa concen- tração de nutrientes; Políticas públicas de alimentação e nutrição188 Politicas_publ_alim_nutri.indb 188 16/01/17 16:21 � persistência das deficiências de ferro e vitamina A; � desajuste do consumo de iodo por adultos, o que resulta do consumo ex- cessivo do sal de cozinha iodado. Para o enfrentamento desses problemas, são necessárias ações que con- templem desde a produção até a comercialização final dos alimentos, pro- movendo ambientes que propiciem a mudança de conduta dos indivíduos e da sociedade. Assim, consciente de sua responsabilidade sanitária, a Polí- tica Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) constitui uma resposta específica do SUS para reorganizar, qualificar e aperfeiçoar as ações para o enfrentamento da situação alimentar e nutricional da população brasileira em toda sua complexidade. Ao mesmo tempo, busca promover a alimentação adequada e saudável e a atenção nutricional para todas as fases da vida. A PNAN foi formulada e aprovada no final da década de 1990, em um ce- nário no qual a segurança alimentar e nutricional (SAN) perdia visibilidade na agenda pública nacional. A homologação da PNAN foi considerada um meio para garantir um espaço para a SAN no governo, após a extinção do Con- selho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição. A primeira versão da PNAN teve como objetivo a garantia da qualidade dos alimentos colocados para consumo no País, a promoção de práticas alimentares saudáveis e a prevenção e o controle dos distúrbios nutricionais. Aprovada em 1999, a PNAN integrou os esforços em um conjunto de políticas públicas que propôs respeitar, proteger, promover e prover os direitos humanos à saúde e à alimentação. Dez anos após sua publicação, a PNAN obteve alguns méritos, como o de- senvolvimento da vigilância alimentar e nutricional – que permitiu a sistema- tização de informações sobre a situação alimentar e nutricional da população brasileira. Essa sistematização ocorreu a partir das seguintes ações: � implementação do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional; � implementação de inquéritos nacionais (Pesquisas de Orçamentos Fami- liares e vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico); � edição do Guia alimentar para a população brasileira; � qualificação de recursos humanos em alimentação e nutrição, a partir do trabalho da rede de Centros Colaboradores de Alimentação e Nutrição (CECAN). Essa rede foi formada por instituições públicas nas cinco re- giões brasileiras e buscava integrar ensino, pesquisa e serviço. Política Nacional de Alimentação e Nutrição 189 Politicas_publ_alim_nutri.indb 189 16/01/17 16:21 Em 2010 e 2011, o conjunto de novas necessidades de saúde da população brasileira norteou o processo de revisão da PNAN. Tais necessidades estavam relacionadas às modificações no quadro epidemiológico e socioeconômico, além das inovações na gestão e organização da atenção à saúde adotadas no SUS e das responsabilidades do setor de saúde para a promoção da SAN junto ao Sistema Nacional de Segurança Alimentare Nutricional (SISAN). O de- safio desse processo foi atualizar as diretrizes da PNAN de forma a orientar a organização e qualificação das ações de alimentação e nutrição nas Redes de Atenção à Saúde (RAS) e também de legitimar a PNAN como interlocutora entre o SUS e o SISAN. Atualizada por meio da Portaria nº 2.715 (Brasil, 2015), de 17 de novembro de 2011, o propósito da PNAN é a melhoria das condições de alimentação, nutrição e saúde da população brasileira, mediante a promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional, além da prevenção e do cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e nutrição. Essa atualização contemplou um amplo e democrático processo de discussão que contou com a presença de conse- lheiros estaduais e municipais de saúde, entidades da sociedade civil e trabalhadores da saúde, gestores estaduais e municipais de Alimentação e Nutrição e da Atenção Básica, conselheiros estaduais de Segurança Alimentar e Nutricional, Centros Colabo- radores de Alimentação e Nutrição vinculados a universidades e especialistas em polí- ticas públicas de saúde e de alimentação e nutrição. A nova versão da PNAN tem por pressupostos os direitos à saúde e à alimentação e é orientada pelos princípios do SUS, aos quais se somam os seguintes princípios: - alimentação como elemento de humanização das práticas de saúde; - respeito à diversidade e à cultura alimentar; - fortalecimento da autonomia dos indivíduos; - determinação social e natureza interdisciplinar e intersetorial da alimen- tação e nutrição; - Segurança Alimentar e Nutricional com soberania. A PNAN está organizada em diretrizes que abrangem o escopo da atenção nutricional no SUS com foco em vigilância, promoção, prevenção e cuidado integral de agravos relacionados à alimentação e nutrição. Tais atividades são Políticas públicas de alimentação e nutrição190 Politicas_publ_alim_nutri.indb 190 16/01/17 16:21 integradas às demais ações de saúde nas redes de atenção, tendo a atenção básica como ordenadora das ações. PNAN e a segurança alimentar e nutricional da população brasileira Uma década após a publicação da PNAN, iniciou-se o processo de atuali- zação e aprimoramento das suas bases e diretrizes, de forma a consolidá-la como uma referência para os novos desafios a serem enfrentados no campo da alimentação e nutrição no SUS. A PNAN é orientada pelos princípios do SUS, isto é, universalidade, integralidade, equidade, descentralização, regio- nalização, hierarquização e participação popular. Assim, são princípios que se somam à PNAN: � Alimentação como elemento de humanização das práticas de saúde: a alimentação expressa relações sociais, valores e a história do indivíduo e dos grupos populacionais, com implicações diretas na saúde e qualidade de vida. Essa abordagem da alimentação e da nutrição contribui para a valorização do ser humano para além da condição biológica e o reconheci- mento de sua centralidade no processo de produção de saúde. � Respeito à diversidade e à cultura alimentar: a alimentação brasileira é a síntese do processo histórico de intercâmbio cultural, entre as matrizes indígena, portuguesa e africana que se somam às influências de práticas e saberes alimentares de outros povos que compõem a cultura brasileira. Deve-se reconhecer, respeitar, preservar, resgatar e difundir a riqueza das diferentes práticas alimentares que compõem nossa cultura. � Fortalecimento da autonomia dos indivíduos: fortalecimento ou am- pliação dos graus de autonomia para as escolhas e práticas alimentares. Promoção da autonomia significa poder experimentar, decidir, reorientar, ampliar os objetos de investimento relacionados ao comer e poder contar com as pessoas nas suas escolhas e movimentos. Para isso, deve-se in- vestir em instrumentos e estratégias de comunicação e educação em saúde que apoiem os profissionais de saúde em seu papel de socialização do co- nhecimento e da informação sobre alimentação e nutrição e de apoio aos indivíduos e coletividades na decisão por práticas promotoras da saúde. � Determinação social e natureza interdisciplinar e intersetorial da ali- mentação e nutrição: conhecer as determinações socioeconômicas e cul- Política Nacional de Alimentação e Nutrição 191 Politicas_publ_alim_nutri.indb 191 16/01/17 16:21 turais da alimentação e nutrição dos indivíduos e coletividades contribui para a construção de formas de acesso à alimentação adequada e saudável, colaborando para a mudança do modelo de produção e consumo de ali- mentos que determinam o atual perfil epidemiológico. � Segurança alimentar e nutricional com soberania: a SAN é estabele- cida como a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Suas bases são as práticas alimen- tares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. A soberania alimentar se refere ao direito de decidir seu próprio sistema alimentar e de produzir alimentos saudáveis e culturalmente adequados e acessíveis, de forma sustentável e ecológica, colocando acima das exigências de mer- cado e no centro dos sistemas e das políticas alimentares os indivíduos que produzem, distribuem e consomem alimentos. Diretrizes da PNAN As diretrizes da PNAN são nove e integram a síntese das ações que compre- endem a política de alimentação e nutrição, indicando as linhas de ações para o alcance do seu propósito. Tais diretrizes são descritas a seguir. 1. Organização da Atenção Nutricional: a atenção nutricional compre- ende os cuidados relativos à alimentação e nutrição voltados à promoção e proteção da saúde, prevenção e ao diagnóstico e tratamento de agravos. Esses cuidados devem estar associados às demais ações de atenção à saúde do SUS para indivíduos, famílias e comunidades, contribuindo para a conformação de uma rede integrada, resolutiva e humanizada de cuidados. Nesse intuito, o processo de organização e gestão dos cuidados relativos à alimentação e nu- trição na rede de atenção à saúde deverá ser iniciado pelo diagnóstico da situ- ação alimentar e nutricional da população (realizado pelos serviços e equipes de Atenção Básica). A vigilância alimentar e nutricional possibilitará a cons- tante avaliação e organização da atenção nutricional no SUS, identificando prioridades de acordo com o perfil alimentar e nutricional da população as- sistida. 2. Promoção da Alimentação Adequada e Saudável: A Promoção da Alimentação Adequada e Saudável é uma das vertentes da Promoção à Saúde. É compreendida como um conjunto de estratégias que proporcionem aos in- Políticas públicas de alimentação e nutrição192 Politicas_publ_alim_nutri.indb 192 16/01/17 16:21 divíduos e coletividades a realização de práticas alimentares apropriadas aos seus aspectos biológicos e socioculturais, bem como ao uso sustentável do meio ambiente. A implantação dessa diretriz da PNAN fundamenta-se nas dimensões de incentivo, apoio, proteção e promoção da saúde e deve combinar iniciativas focadas em (a) políticas públicas saudáveis; (b) criação de ambientes favorá- veis à saúde, nos quais indivíduo e as comunidades possam exercer o compor- tamento saudável; (c) o reforço da ação comunitária; (d) o desenvolvimento de habilidades pessoais por meio de processos participativos e permanentes; (e) a reorientação dos serviços na perspectiva da promoção da saúde. 3. Vigilância Alimentar e Nutricional: essa vigilância subsidiará o plane- jamento da atenção nutricional e das ações relacionadas à promoção da saúde e da alimentação adequada e saudável, além da qualidade e da regulação dos alimentos nas esferas de gestão do SUS. Contribuirá com o controle e a partici- pação social e com o diagnóstico da segurança alimentar e nutricional. O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, operadoa partir da atenção básica à saúde, tem como objetivo principal monitorar o padrão ali- mentar e o estado nutricional dos indivíduos atendidos pelo SUS, em todas as fases da vida. Esses sistema deverá apoiar os profissionais de saúde no diagnóstico local e oportuno dos agravos alimentares e nutricionais e no le- vantamento de marcadores de consumo alimentar que identifiquem fatores de risco ou proteção, como o aleitamento materno e a introdução da alimentação complementar. 4. Gestão das Ações de Alimentação e Nutrição: a PNAN, além de ser uma referência política e normativa para a realização dos direitos à alimen- tação e à saúde, representa uma estratégia que articula dois sistemas: o SUS e o SISAN. Cabe aos gestores do SUS, nas três esferas, promover a imple- mentação da PNAN, viabilizando parcerias e a articulação interinstitucional necessária para fortalecer a convergência com os Planos de Saúde e de Segu- rança Alimentar e Nutricional. Para o alcance da melhoria das condições de alimentação e nutrição da população, é necessário garantir estratégias de financiamento tripartite para a implementação das diretrizes da PNAN, tendo como prioridade os seguintes aspectos: (a) aquisição e distribuição de insumos para prevenção e tratamento das carências nutricionais específicas; (b) adequação de equipamentos e es- trutura física dos serviços de saúde para realização das ações de vigilância alimentar e nutricional; (c) garantia de processo de educação permanente em Política Nacional de Alimentação e Nutrição 193 Politicas_publ_alim_nutri.indb 193 16/01/17 16:21 alimentação e nutrição para trabalhadores de saúde; (d) garantia de processos adequados de trabalho para a organização da atenção nutricional no SUS. 5. Participação e controle social: a instituição do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e das Conferências Nacionais de Segu- rança Alimentar e Nutricional, juntamente com o fortalecimento dos diversos fóruns e conselhos das políticas relacionadas à SAN, traz como desafio para o Conselho Nacional de Saúde e para a Comissão Intersetorial de Alimentação e Nutrição a ampliação do diálogo e a busca de consensos para construir as demandas da sociedade civil sobre a PNAN. A participação social deve estar presente no cotidiano do SUS, sendo transversal ao conjunto de princípios e diretrizes. Deve ser reconhecido e apoiado o protagonismo da população na luta pelos direitos à saúde e à ali- mentação por meio da criação e do fortalecimento de espaços de escuta, de participação popular na solução de demandas e de promoção da inclusão so- cial de populações específicas. 6. Qualificação da força de trabalho: qualificação dos gestores e de todos os trabalhadores da saúde para implementação de políticas, programas e ações de alimentação e nutrição voltadas à atenção e vigilância alimentar e nutricional; promoção da alimentação adequada e saudável e segurança ali- mentar e nutricional. Todos esses fatores representam uma necessidade es- tratégica para o enfrentamento dos agravos e problemas decorrentes do atual quadro alimentar e nutricional brasileiro. Os cursos de graduação e pós-graduação, em especial de Nutrição, devem contemplar a formação de profissionais que atendam às necessidades sociais em alimentação e nutrição e que estejam em sintonia com os princípios do SUS e da PNAN. Os Centros Colaboradores de Alimentação e Nutrição – lo- calizados em instituições públicas de ensino e pesquisa e credenciados pelo Ministério da Saúde para o apoio ao desenvolvimento de estratégias que aper- feiçoem as ações da PNAN – são parceiros estratégicos para articular as ne- cessidades do SUS com a formação e qualificação dos profissionais de saúde para agenda de alimentação e nutrição. 7. Controle e Regulação dos Alimentos: a preocupação é ofertar ali- mento saudável e com garantia de qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica à população, como produto final de uma cadeia de processos, isto é, produção (incluindo a agricultura tradicional e familiar), processamento, industrialização, comercialização, abastecimento e distribuição. A responsa- bilidade é partilhada com diferentes setores de governo e sociedade. Políticas públicas de alimentação e nutrição194 Politicas_publ_alim_nutri.indb 194 16/01/17 16:21 A atual complexidade da cadeia produtiva de alimentos coloca a sociedade brasileira diante de novos riscos à saúde, como a presença de agrotóxicos, adi- tivos, contaminantes, organismos geneticamente modificados e inadequação do perfil nutricional dos alimentos. A PNAN e o Sistema Nacional de Vigi- lância Sanitária se convergem na finalidade de promover e proteger a saúde da população na perspectiva do direito humano à alimentação, por meio da normatização e do controle sanitário da produção, comercialização e distri- buição de alimentos. 8. Pesquisa, inovação e conhecimento em alimentação e nutrição: O de- senvolvimento do conhecimento e o apoio à pesquisa, à inovação e à tecnologia, no campo da alimentação e nutrição em saúde coletiva, possibilitam a geração de evidências e instrumentos necessários para implementação da PNAN. 9. Cooperação e articulação para a segurança alimentar e nutricional: a garantia da SAN para a população, assim como a garantia do direito à saúde, não depende exclusivamente do setor da saúde, mas este tem papel essencial no processo de articulação intersetorial. A articulação e cooperação entre o SUS e o SISAN proporciona o fortalecimento das ações de alimentação e nutrição na rede de atenção à saúde, com vistas ao enfrentamento da insegurança alimentar e nutricional e dos agravos em saúde, na ótica de seus determinantes sociais. Nesse contexto, devem ser destacadas ações direcionadas a: (a) melhoria da saúde e nutrição das famílias beneficiárias de programas de transferência de renda, implicando ampliação do acesso aos serviços de saúde; (b) inter- locução com os setores responsáveis por produção agrícola, distribuição, abastecimento e comércio local de alimentos visando ao aumento do acesso a alimentos saudáveis; (c) promoção da alimentação adequada e saudável em ambientes institucionais, como escolas, creches, presídios, albergues, locais de trabalho, hospitais e restaurantes comunitários; (d) articulação com as redes de educação e socioassistenciais para a promoção da educação alimentar e nutricional; (e) articulação com a vigilância sanitária para a regulação da qua- lidade dos alimentos processados e o apoio à produção de alimentos advindos da agricultura familiar, dos assentamentos da reforma agrária e de comuni- dades tradicionais, integradas à dinâmica da produção de alimentos do Brasil. Política Nacional de Alimentação e Nutrição 195 Politicas_publ_alim_nutri.indb 195 16/01/17 16:21 No Brasil, a anemia por deficiência de ferro é um problema nutricional de grande mag- nitude e acomete mais crianças, mulheres em idade fértil e gestantes. No País, a Pes- quisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS de 2006) avaliou, pela primeira vez em nível nacional, a prevalência de anemia em crianças e observou que 20,9% das crianças menores de 5 anos, ou seja, aproximadamente 3 milhões de brasileiros, apresentam anemia. As maiores prevalências foram observadas no Nordeste, Sudeste e Sul. A anemia causa sérios problemas, como aumento na mortalidade em mulheres e crianças, diminuição da capacidade de aprendizagem e diminuição da produtividade em indivíduos em todos os ciclos vitais. Esses efeitos danosos sobre a saúde física e mental afetam a qualidade de vida e a produtividade. Diante desse panorama, é de extrema importância que o Brasil adote políticas públicas para prevenção e controle da anemia. Importância da PNAN na promoção à saúde De acordo com os princípios do SUS, os responsáveis por atuar no sentido de viabilizar o alcance do propósito da PNAN são os gestores de saúde nas três esferas, trabalhando de forma articulada e dando cumprimento às suas atribuiçõescomuns e específicas. A instituição da PNAN, ocorrida em 1999, tornou-a um marco para a SAN no Brasil por ter sido a política pública que manteve a temática da segurança na agenda do governo, sustentando a neces- sidade de buscar a garantia do acesso da população à alimentação adequada e saudável. Apesar dos avanços significativos na sua construção, há evidências de que persiste uma insuficiente inserção da área de nutrição no âmbito do SUS, o que compromete a articulação da saúde com a SAN. O simples reconheci- mento do papel vital da nutrição para a saúde não é suficiente para garantir a sua priorização no SUS. É preciso considerar que o SUS é um projeto ainda em implementação e que a produção social da saúde passa por produção, dis- tribuição e consumo de uma alimentação adequada e saudável para todos. Políticas públicas de alimentação e nutrição196 Politicas_publ_alim_nutri.indb 196 16/01/17 16:21 O esforço empregado pelo Ministério da Saúde em dispor de uma política articulada com a promoção da segurança alimentar e nutricional tem como objetivo contribuir com a garantia do direito humano à alimentação adequada e saudável e com a pro- moção da qualidade de vida dos usuários do SUS. 1. A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) objetiva a melhoria das condições de alimentação, nu- trição e saúde da população brasileira. Para isso, a PNAN busca a promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional e a prevenção e o cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e à nutrição. A portaria que atualiza a PNAN é: a) Portaria nº 4.279/GM/MS, de 30 de dezembro de 2010. b) Portaria nº 2.246/GM/MS, de 18 de outubro de 2004. c) Portaria nº 2.715/GM/MS, de 17 de novembro de 2011. d) Portaria nº 2.488/GM/MS, de 21 de outubro de 2011. e) Portaria nº 154/GM/MS, de 24 de janeiro de 2008. 2. Assinale a alternativa que con- templa uma ação de importância da PNAN: a) A elaboração de guias alimen- tares destinados à população brasileira seguindo um padrão unificado. b) A fortificação de farinhas de trigo e milho com ferro, para redução de anemia por carência de ferro na população brasileira. c) A distribuição de sulfato ferroso para crianças de 0 a 4 anos e gestantes para região Norte, Nordeste e Sul. d) A implementação de 50 estudos e pesquisas nutricionais para o mapeamento nacional das carên- cias nutricionais. e) A distribuição de vitamina A para crianças entre 6 e 48 meses em áreas endêmicas. 3. O propósito da PNAN é a melhoria das condições de alimentação, nu- trição e saúde da população brasi- leira por meio de: a) Estímulo a práticas alimentares adequadas e cuidado integral dessas práticas nas instituições hospitalares. b) Promoção de práticas alimen- tares adequadas e saudáveis e prevenção de doenças, princi- palmente as infecciosas causadas por parasitas. c) Controle através da vigilância alimentar e nutricional e cuidado integral de agravos, como pneu- monias infantis. Política Nacional de Alimentação e Nutrição 197 Politicas_publ_alim_nutri.indb 197 16/01/17 16:21 d) Promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, vigilância alimentar e nutricional, prevenção e cuidado integral de agravos relacionados à alimentação e nutrição. e) Vigilância alimentar e nutricional nos níveis primário, secundário, terciário e quaternário da saúde. 4. A PNAN foi reformulada em 2011, passando a apresentar como pro- pósito a melhoria das condições de alimentação, nutrição e saúde, em busca da garantia da segurança alimentar e nutricional da população brasileira. Assinale a alternativa que não relaciona uma diretriz da nova PNAN: a) Organização da atenção nutri- cional. b) Qualificação da força de trabalho. c) Participação e controle social. d) Prevenção e tratamento de doenças prevalentes. e) Gestão das ações de alimentação e nutrição. 5. Para atingir a melhoria das condições de alimentação e nutrição da popu- lação, é necessário garantir estraté- gias de financiamento tripartite na implementação das diretrizes da nova PNAN. É uma prioridade dessa estratégia de financiamento: a) A garantia de processo de edu- cação permanente em alimen- tação e nutrição para usuários do SUS. b) A garantia de processos ade- quados de trabalho para orga- nização da atenção nutricional no SUS. c) A organização da atenção nutri- cional e promoção da alimen- tação adequada e saudável. d) A aquisição e distribuição de insumos para prevenção e tratamento de doenças e agravos gerais. e) A adequação da estrutura física dos hospitais para realização das ações de vigilância alimentar e nutricional. Políticas públicas de alimentação e nutrição198 Politicas_publ_alim_nutri.indb 198 16/01/17 16:21 BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de alimentação e nutrição. Brasília, DF, 2012. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/pnan2011. pdf>. Acesso em: 10 dez. 2016. Leituras recomendadas ALVES, K.P.S.; JAIME, P.C. A política nacional de alimentação e nutrição e seu diálogo com a política nacional de segurança alimentar e nutricional. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n.11, p. 4331-4340, 2014. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 2.715, de 17 de novembro de 2011. Brasília, DF, 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/ prt2715_17_11_2011.html>. Acesso em: 10 dez. 2016. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Emenda constitucional n. 64, de 4 de fevereiro de 2010. Brasília, DF, 2010a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Cons- tituicao/Emendas/Emc/emc64.htm>. Acesso em: 10 dez. 2016. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Brasília, DF, 2006. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2006/lei/l11346.htm>. Acesso em 01 dez. 2016. BRASIL. Presidência da República. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto n. 7.272, de 25 de agosto de 2010. Brasília, DF, 2010b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7272.htm>. Acesso em 01 dez. 2016. RIGON, S.A. et al. Desafios da nutrição no Sistema Único de Saúde para construção da interface entre a saúde e a segurança alimentar e nutricional. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 32, n. 3, p. e00164514, 2016. Referência Política Nacional de Alimentação e Nutrição 199 Politicas_publ_alim_nutri.indb 199 16/01/17 16:21 Conteúdo:
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