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1Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 2 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 3Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 3 Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor carcinicultura brasileira tem realmente bons motivos para comemorar. Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), no ano que passou a indústria do camarão cultivado no país despescou 80 mil toneladas, chegando, portanto, muito perto da sua safra recorde de 90 mil toneladas despescadas em 2003. Com os preços médios praticados na porteira, o setor faturou ao redor de R$ 600 milhões em 2010, ao vender seu produto para um mercado interno ávido e ainda não muito exigente. Apesar de todo o camarão produzido no ano passado ter sido voltado para saciar esse mercado, um fato curioso revela a enorme fome desse monstro, que se mostrou muito maior do que o setor produtivo imaginava. Fascinados com uma enorme e surpreendente demanda, grandes empresas revendedoras de pescado travam, neste momento, uma batalha na justiça reivindicando que o governo brasileiro desconsidere a Instrução Normativa no 39, (4/11/1999), que proíbe a importação de camarão, abrindo, desta forma, o mercado nacional para inúmeros países aptos a atender essa crescente demanda com “precinhos sedutores”. O setor sabe que produzir mais é preciso, mas não deve esquecer que em 2003, quando nadando de braçadas produziu 90 mil toneladas, foi pego de surpresa por doenças que o nocautearam. Preocupa então saber que, para alcançar as 80 mil toneladas atuais, o setor produtivo só pode estar usando densidades mais altas, se aproximando perigosamente do ponto em que o leite derramou da panela. Portanto, apesar dos bons ventos que sopram a favor, é preciso atenção para que o setor não reviva seus erros recentes. Então, o que é preciso fazer para aumentar a produção na atual área alagada, sem se tornar vulnerável às doenças? Para onde a carcicincultura brasileira deve aprumar suas velas e aproveitar esse vento tão desejado que agora sopra? Nesta edição, trazemos os resultados dos experimentos realizados pela equipe da bióloga Ana Carolina Guerrelhas, da Aquatec, que com sua experiência foi buscar tecnologia junto a produtores asiáticos. A seu ver, trata-se do manejo mais viável, sob todos os aspectos, para aumentar a produção de camarões, reduzir drasticamente o impacto ambiental e afastar os riscos sanitários, como as doenças e a ação dos varejistas que, obviamente, deve ser também considerada de grande risco sanitário. Escolhemos como matéria de capa o artigo que apresenta os resultados da incrível pesquisa realizada pela equipe do engenheiro de pesca Alberto J. P. Nunes, do LABOMAR/UFC, que trabalha com uma nova geração de rações para camarão com zero de farinha de peixe, e com resultados extremamente favoráveis, tanto no aspecto zootécnico quanto econômico. Nas próximas páginas o leitor encontrará ainda ótimas soluções para uma dor de cabeça que frequentemente ocorre nas pisciculturas: a indesejável presença das plantas aquáticas, além de muitos outros artigos interessantes. Terminamos essa edição com a certeza de que ela está ótima! A todos, sempre, uma ótima leitura. A 4 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 5Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 CAMARÃO MARINHO O negócio do camarão no Brasil e no mundo depende de boas técnicas de cultivo e de boas rações para engorda. Entretanto, esses alimentos dependem de ingredientes ricos em proteína como a farinha de peixe, cuja produção mundial está estagnada. A boa notícia é que estão nascendo nos laboratórios do LABOMAR-UFC , alimentos voltados para a carcinicultura, onde a farinha de peixe é integralmente substituída por ingredientes alternativos, de forma segura, sem que haja prejuízo zootécnico ou econômico. Leia na página 24 o artigo “As próximas gerações de rações para camarão marinho”, capa dessa edição. ...Pág 59 ...Pág 63 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 10 ...Pág 24 ...Pág 36 Í N D I C E Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Alberto J. P. Nunes, Alex Alves dos Santos, Ana Carolina de Barros Guerrelhas, Ana Paula Teixeira, André Luis Tortato Novaes, André Luiz Vicente, Antonio Ostrensky, Carlos Alpoim, Carlos Augusto Gomes Leal, Eduardo Godoy, Fabiano Müller Silva, Fernando Kubitza, Glei dos Anjos de Carvalho- -Castro, Hassan Sabry Neto, Henrique César Pe- reira Figueiredo, Marcelo Vinícius do Carmo e Sá, Ricardo Tsukamoto, Robson Ventura de Souza Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Alegrete, 32 22240-130 - Laranjeiras - RJ Fone/fax: (21) 3547-9979 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br Skype: panoramadaaquicultura ISSN 1519-1141 Assinatura: Daniela Dell’Armi & Fernanda Araújo assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Assistente: Ricardo Carvalho ricardo@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 18,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88, 107, 111, 112, 113, 114 Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a quali- dade dos serviços e produtos anunciados. Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA Foto: Alberto J. P. Nunes Edição 123 - Janeiro/Fevereiro - 2011 Controle de plantas aquáticas em viveiros de criação de peixe. Página 14... ...Pág 42 ...Pág 52 ...Pág 14 Cultivo intensivo. Página 52... ...Pág 62 ...Pág 63 Editorial Notícias & Negócios Notícias & Negócios on-line Controle de plantas aquáticas em viveiros de criação de peixe As próximas gerações de rações para camarão marinho Malacocultura em Santa Catarina Sanidade Aquícola: Infecção por Streptococcus dysgalactiae: uma nova doença para a tilápia do Nilo Cultivo Intensivo: pode ser a solução para o aumento da produção da carcinicultura? Seria nosso velho mexilhão uma espécie exótica? SOFIA 2010: uma radiografia mundial da Aquicultura e da Pesca em 2008 Camboriú receberá especialistas para o IV Workshop sobre Jundiá José Graziano está cotado para ocupar a presidência da FAO Ideli Salvatti recebe visita de ministra norueguesa e assina acordo de cooperação técnica Ficha de Assinatura da Panorama da AQÜICULTURA Calendário Aquícola ...Pág 63 ...Pág 65 ...Pág 66 6 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Notícias & Negócios WAS EM NATAL - O World Aquaculture So- ciety (WAS), o maior encontro da aquicul- tura mundial, que reúne uma feira de ne- gócios e congressos de diversos segmentos será realizado esse ano no Brasil, entre os dias 06 e 10 de junho, junto com a VIII FENACAM - Feira Nacional do Camarão, evento tradicional do setor no Brasil, e que acontece anualmente em Natal - RN. Para que tudo dê certo no WAS 2011 o comitê organizador do evento já esteve no Cen- tro de Convenções de Natal, para vistoriar o espaço de 4 mil m² de feira, onde cer- ca de 120 empresas do Brasil e de outros países, já reservaram estandes para expor seus produtose serviços voltados para o mercado da aquicultura. No Centro de Con- venções um espaço será dedicado à apre- sentação de trabalhos técnico-científicos, envolvendo um auditório para as palestras do VIII Simpósio Internacional de Carcini- cultura e mais doze salas para a realização de workshops. O programa técnico vai de- bater os diversos aspectos do tema esco- lhido para o WAS 2011/FENACAM: “Aquicul- tura para um mundo em transformação”. De acordo com Wagner Valenti e Ronaldo Ca- valli, membros do Comitê Científico, foram mais de 1.100 resumos submetidos. Estão sendo esperados 4,5 mil congressistas vindos de todo o mundo. Dentre os pa- lestrantes confirmados para o evento, merece destaque George Chamberline, presidente da Aliança Global de Aqui- cultura e produtor de camarão na Ma- lásia. Os participantes brasileiros de- vem fazer as inscrições através do site: www.fenacam.com.br e os estrangeiros pelo site: www.was.org. O ingresso para o evento inclui entrada para todas as sessões, workshops e a feira de negó- cios, além de entrada para a solenidade de abertura e as recepções. Estudantes terão ainda a entrada gratuita para a festa dos estudantes. Mas, atenção: após o dia 1 de maio não serão mais aceitas inscrições via internet. SEM FRONTEIRAS - A Guabi, uma das maiores empresas de nutrição para aquicul- tura doou para a ONG “Aquaculture without Frontiers – AwF” (www.aquaculturewithou- tfrontiers.org), 30kg de filés de camarão (caldas) para serem rifados durante o even- to. De acordo com o técnico responsável pela área de aquicultura, João Manoel C. Alves, a Guabi não pode ficar alheia ao trabalho que vem sendo realizado por esta ONG em comunidades carentes ligadas a aquicultura em diversos países. As rifas, que custarão R$ 10,00 cada, serão ven- didas durante o WAS/FENACAM 2011 pelo Comitê de Estudantes do evento. NOVA TECNOLOGIA - Cientistas do Insti- tute for Agri-Food and Land Use da Queen’s University, em Belfast, Irlanda, desenvol- veram uma nova tecnologia que avalia de forma rápida e segura se moluscos estão livres de toxinas e seguros para consumo. O novo monitoramento das toxinas poten- cialmente perigosas em moluscos é mais rápido e confiável do que os métodos usa- dos até então. O método tradicionalmen- te usado precisa de dois dias de análise, enquanto o novo teste, que usa um bio- -sensor para detectar diminutas quantida- des de proteína, precisa de apenas 30 mi- nutos para fornecer resultados confiáveis. De acordo com o coordenador do projeto, o professor Chris Elliott, diretor do Insti- tuto, “as toxinas excretadas pelas algas, e que estão concentradas em mariscos, são uma grande ameaça para a saúde dos con- sumidores, e podem levar a grandes perdas econômicas na aquicultura”. Para Elliott, há evidências crescentes de que as alte- 7Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Notícias & Negócios rações climáticas podem causar episódios tóxicos em todo o mundo, que resultam no fechamento das áreas afetadas de cultivo de mexilhões, ostras, mariscos e vieiras. O teste está sendo desenvolvido como parte de projeto BioCop, que está sendo condu- zido pela Queen’s University, e inclui a par- ticipação de 32 parceiros internacionais de pesquisa e da Comissão Europeia. ÁGUAS DE CHAPECÓ - A nova estação de piscicultura de Chapecó, que está sen- do construída próximo à barragem Foz do Chapecó, e será voltada para o desenvolvi- mento da piscicultura na região, é resulta- do de um convênio firmado pela Fundação Universitária do Desenvolvimento do Oeste (Fundeste), com o Ministério da Pesca e Aquicultura. Com investimento de R$ 2,94 milhões, essa unidade terá 40 mil m2 de área alagada, às margens do rio Uruguai. Atualmente já estão concluídos 25 viveiros que serão destinados ao desenvolvimento de tecnologia. Outros 45 viveiros serão construídos para que sejam utilizados na reprodução e larvicultura. A conclusão das obras das instalações do laboratório de reprodução, bem como escritório, audi- tório, e alojamento para 24 pessoas, está prevista para março, enquanto o término total das obras da estação de piscicultura está previsto para junho de 2011, embora o convênio com o Ministério da Pesca e Aquicultura tenha seu prazo até dezembro de 2011. Dos R$ 2,94 milhões de inves- timentos previstos no convênio, R$ 2,30 milhões são advindos do MPA enquanto que a contrapartida de R$ 643,3 mil é de responsabilidade da Fundeste. NUTRIAD EM NOVO ENDEREÇO - Dando continuidade ao seu plano de desenvolvi- mento para o mercado brasileiro, a Nutriad Nutrição Animal (www.nutriad.net) empre- sa belga presente em 80 países, anuncia mudança de endereço. Segundo o diretor geral da empresa Marcelo Manjabosco Nunes o novo escritório oferecerá melhor infra-estrutura, novas salas de reunião e instalações amplas e modernas, condizen- tes com o crescimento da Nutriad aqui no Brasil. “A ideia é criar um ambiente onde a comunicação e transparência sejam valori- zadas,” comenta Marcelo. Anote aí: Nutriad Nutrição Animal Ltda - Av. Dr. José Boni- fácio Coutinho Nogueira, n° 214, Cj. 242 - Cond. Spot Galleria - B. Jardim Madalena, Campinas, SP CEP: 13091-611. Os números de telefone (19 3206-0199), fax (19 3207- 0770) e o e-mail nutriad@nutriad.net.br continuam inalterados, assim como todos outros dados cadastrais da empresa. TAMBAQUICULTURA SUSTENTÁVEL - O cultivo do tambaqui de tamanho peque- no, conhecido como curumim, possibilitou a mudança da conduta extrativista para a produtiva nas seis comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé, fato que se deu a partir da implemen- tação do projeto da pesquisadora e profes- sora do Departamento de Ciências Pesquei- ras da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Ana Cristina Belarmino de Olivei- ra. Segundo Ana Cristina, a experiência foi inédita, pois, até então, coletava-se em campo e pesquisava-se em laboratório, sem nenhum relacionamento com as comu- nidades rurais. “A partir da integração com esse público, percebi que a pesquisa só é realmente produtiva quando se consegue interagir com quem precisa do conheci- mento e das informações geradas”, afirmou a professora. Nesse sentido, a pesquisa intitulada “Aspectos socioeconômicos do cultivo comunitário do tambaqui (Colosso- ma macropomum) em tanques-redes, como 8 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Notícias & Negócios alternativa produtiva sustentável da reser- va RDS do Tupé”, visou avaliar os aspec- tos socioeconômicos do cultivo da espécie amazônica numa Unidade Familiar de Pro- dução (UFP). “Experimentos para determi- nar a densidade e a viabilidade econômica, dentre outras ações acadêmicas, serviram de indicativos que possibilitaram mensurar a quantidade de tanques necessários para viabilizar economicamente a criação da espécie em uma determinada comunida- de”, explicou a professora, que conseguiu a aprovação de sete projetos para o Pro- grama Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, congregando estudantes das es- colas comunitárias. ARENALES NO GUINNES - O Laboratório Veterinário Homeopático Fauna & Flora Arenales (www.arenales.com.br), de Presi- dente Prudente, São Paulo, entrará para o Livro dos Recordes Guinnes do Rank Brasil como a primeira empresa a fabricar em es- cala industrial medicamentos homeopáti- cos destinados a animais, maior número de remédios fabricados e mais ampla empre- sa do setor. “Entrar para o Guinnes Brasil será apenas o primeiro passo da nossa ca- minhada, pois depois da audição do Rank Brasil, pretendemos entrar efetivamente para o Livro dos Recordes Mundial”, diz entusiasmada, Maria do Carmo Arenales a fundadora e diretora geral do laboratório. INTERESSE POR MACROALGA - Represen- tantes da FMC Agricultural Products, uma empresa que pesquisa e desenvolve tec- nologias para indústria de medicamentos, alimentícia, têxtil, de baterias, de constru- ção, de vidro, cerâmica, de plástico, além do setor agrícola,visitaram Florianópolis para conhecer a pesquisa de produção da macroalga vermelha em Santa Catarina, desenvolvido pela Epagri/Cedap e UFSC. Para o diretor de pesquisa da Epagri, Luiz Antonio Palladini, o interesse da multina- cional reforça a importância da pesquisa, que é viabilizar inovações buscando novas alternativas para os produtores. O interesse da FMC está na carragenana, matéria-prima extraída da alga, utilizada como espessante e estabilizante. O Estado de Santa Catarina espera liberação ambiental do Ibama para o cultivo da macroalga, atualmente conce- dida apenas a algumas áreas do litoral de SP e RJ. Segundo o pesquisador da Epa- gri/Cedap Alex Alves dos Santos, a partir da licença concedida, Santa Catarina tem a perspectiva de iniciar uma nova cadeia produtiva e de dar aos maricultores uma nova alternativa de trabalho e renda. “Ter um comprador para essa produção, como é o interesse da FMC, é uma garantia a mais para o produtor”, disse Alex. 10 MIL OSTRAS POR DIA - Uma unidade de depuração de moluscos com capacidade para beneficiar até 10 mil ostras vai ga- rantir qualidade ao produto produzido no Estado de Alagoas. A unidade construída com apoio da Agência Espanhola de Coo- peração Internacional para o Desenvolvi- mento (AECID) é a única no Brasil e foi instalada no município de Coruripe, no litoral Sul do Estado. De acordo com o su- perintendente da Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (SEAGRI), Edson Maruta, a unidade tem o Selo de Inspeção Estadual (SIE) e está pleiteando o Selo de Inspeção Federal (SIF), para que possa enviar um produto seguro e sem risco nenhum para a saú- de humana a todos os estados do Brasil. A depuradora de ostras recebeu 300 mil dólares de investimentos da AECID, enti- dade que faz parte do governo espanhol e é vinculada ao Ministério de Relações 9Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Exteriores. O projeto tem como parceiros, além do governo do Estado e da AECID, a Prefeitura de Coruripe, o Instituto Am- biental Brasil Sustentável (IABS) e o Sebrae/AL. PARABÉNS! - A Engepesca Ltda. (www.engepesca.com.br), pio- neira no ramo de telas para aquicultura comemora esse ano o seu 25o aniversário. A empresa que ajudou na construção do sucesso da aquicultura em nosso país tem no comando o engenheiro de pesca Philip Conolly, que durante todo esse período reuniu forças e enfrentou desafios para sempre oferecer ao setor novos produtos destinados à captura e manuseio. O atendimento com qualidade e agilidade somado à responsabilidade técnica sempre foi o prin- cipal foco de atenção da Engepesca, assim como a diversificação dos seus produtos. Philip revela que a fórmula para conquistar e manter clientes é se antecipar ao mercado, se baseando em in- formações sobre onde está o aquicultor e o que ele necessita. “O relacionamento com o cliente e com o fornecedor é muito impor- tante”, afirma. A Engepesca foi fundada em 1986, na cidade de Itajaí, Santa Catarina, com o objetivo de projetar e construir redes de primeira linha para a aquicultura, pesca industrial e projetos especiais. Hoje, ao completar 25 anos de mercado, a empresa é ponto de referência para aquicultores de todas as regiões do Brasil, seja por seus produtos, projetos ou serviços. Como planos para o futuro, Philip conta que sua meta é sempre a expansão da sua clientela, que hoje soma cerca de 7500 pessoas em todo Brasil e no exterior, além de que quer preparar as gerações futuras para dar continuidade ao trabalho iniciado por ele. CAMARÃO ORGÂNICO - A Nutrimar Pescados, localizada em Ara- caú (CE), preocupada em agregar valor ao seu produto, dedica ao cultivo orgânico 10% da sua produção total de 8 mil toneladas de camarões anuais. “A valorização dos orgânicos é de pelo me- nos 40% mais que os convencionais”, diz Ribeiro, um dos sócios da empresa, que pleiteia desde 2009 no Instituto de Propriedade Industrial (INPI) o selo de Denominação de Origem Comprovada (DOC). “Acreditamos que temos capacidade para produzir camarões de forma sustentável e ao mesmo tempo estimular a economia local. Isso não é extrativismo”, explica. A Nutrimar acompanha, orienta e compra a produção total de 32 produtores locais, mas o cultivo orgânico está centralizado na fazenda própria. Os orgânicos são produzidos exclusivamente para exportação, mas a populari- zação do camarão entre os brasileiros pode acelerar o processo de inserção do produto orgânico no mercado doméstico. FLEXIBILIZAÇÃO AMBIENTAL - O Estado do Ceará quer incenti- var a criação intensiva de camarão em áreas de salinas, áreas de salgados, áreas de apicuns, áreas de restinga, em toda e qualquer área adjacente aos manguezais, rios, lagoas e dunas, respeitando as Áreas de Preservação Permanente (APP´s). Para isso está em debate na Assembleia Legislativa um projeto-de-lei que discute a instalação de empreendimentos nessas áreas, mas que proíbe o cultivo em áreas de manguezais e em Áreas de Preservação Perma- nente, respeitando todos os limites da legislação ambiental. 10 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Notícias & Negócios On-line Participe da Lista de Discussão Panorama-L Inscreva-se no site www.panoramadaaquicultura.com.br De: Luciano Kellner lucianokellner@yahoo.com.br Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Preço médio da tilápia Os atravessadores e frigoríficos estão apro- veitando a falta de informação, a falta de união, ingenuidade e a pouca orientação profissional dos piscicultores, e isto não pode acontecer. Precisamos trocar informa- ções. Por exemplo, na minha micro-região (médio Rio Grande) tenho o seguinte cená- rio: o preço médio do quilo da ração com 32% de proteína está em R$ 1,19. O qui- lo vivo de tilápia criada em tanque-rede e com peso médio de 900 gr está R$ 4,30 para pesque-pague e o filé está sendo vendido com preço médio de R$ 15,50. De: Cristiano Gomes cristiano.industriacruz@gmail.com Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Aqui no RN comprei tilápia inteira fresca de um produtor em Mossoró, com peso médio de 800 gr, a R$ 4,20. Com isso o filé de tilápia congelado com todos os custos de beneficiamento, embalagem e logística vai ficar em torno de R$ 17,00. Aqui fazemos uma classificação para o que vai ser cortado em postas, ser congelado inteiro ou filetado. Assim, durante o beneficiamento temos um melhor aproveitamento. De: João Ribeiro joaoacquasul@gmail.com Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Aqui na região do Baixo Sul da Bahia a ra- ção de 32% de proteína custa R$ 1,24/kg. A tilápia de 800 gr é vendida entre R$ 3,70 e R$ 4,00/kg, filé de tilápia a R$ 17,00/kg e o custo do beneficiamento para fazer o filé é R$ 3,00. De: Sergio Tamassia tamassia.panorama@gmail.com Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Olá João, o custo do beneficiamento de R$ 3,00 a que você se refere são apenas as despesas como mão de obra, energia elétri- ca, embalagens, etc. ou já incluem o lucro do beneficiador? O valor atribuído ao filé de R$ 17,00 é na indústria ou consumidor final? O produtor que processa o pescado? Ele participa de outras etapas da cadeia ou encerra a sua participação quando o peixe está pronto em sua unidade de produção? De: João Ribeiro joaoacquasul@gmail.com Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Sergio, eu entrego o peixe e as embala- gens na unidade de beneficiamento e eles me entregam o filé embalado e congelado. Este é o filé que vendo em hotéis, bares e restaurantes por R$ 17,00/kg. De: Francisco Leão f_leao@hotmail.com Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia O preço de venda é quase o mesmo em todo o Brasil e o custo da ração de 32% não varia muito. Isso significa que a margem de lucro fica por conta da mão de obra e da duração do ciclo de produção. Claro que os custos não se aplicam à tilápia consorciada com suinocultura.De: Sergio Tamassia tamassia.panorama@gmail.com Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Este é o filé vendido em hotéis, bares e res- taurantes. Atuar em outros elos da cadeia, além da produção é fundamental, especial- mente quando estes elos já são próximos do consumidor final. Isto permite que o produ- to fique com preços competitivos, mas sem achatar muito os preços pagos ao produtor. Considerando o preço final de R$ 17,00/kg, quanto mais elos estiverem no meio, mais R$ o produtor perde. É fácil estruturar algo assim? Com certeza não. De: Francisco Leão f_leao@hotmail.com Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Tamassia, o que “rola” é o seguinte: 1) As associações de produtores (pelo menos as que eu conheço) conseguem manter o pe- queno produtor apenas flutuando. Elas, não conseguem baixar o custo da ração e outros insumos. A ração de 32% tem o mesmo pre- ço em diferentes partes do país, seja para grandes médios ou pequenos. 2) Filé conge- lado virou commodity, cujo preço é ditado pelos grandes produtores, os quais, devido à sua escala, têm um custo de produção que o pequeno e o médio jamais terão. Mas é ele quem dita o preço do filé congelado no atacado, assim como o CEASA dita o preço do peixe fresco no atacado. 3) Ficar perto do consumidor final é o sonho dourado de todo mundo, desde que você resolva o pro- blema do alto custo da logística do pedido pequeno e picado, além da oferta constante e perene de um produto padronizado. Mas se você está perto de algum grande centro, a saída é a venda de peixe fresco em filé ou inteiro. Este é um serviço que o grande produtor de filé não pode entregar devido ao desenho do seu negócio e à sua estrutura. Foi assim que os primeiros criadores de tru- ta conseguiram sobreviver: eles começaram vendendo a truta fresca para restaurantes e foram escalando a produção a medida que os clientes novos iam aparecendo. Se você está a menos de 100 km de uma centena de pesqueiros e se você produz menos do que 150 ton de tilápia por ano, o pesquei- ro leva tudo, paga os R$ 4,20 por kg e a sua inadimplência vai ser de uns 5%, se você souber administrar as suas contas a receber e o crédito. Some-se a isto o que você vende no varejo a R$ 7,00 o kg. No meu caso são uns 350 kg/mês. O que en- tra em dinheiro vivo eu pago 70% da mi- nha folha, mas conheço pisciculturas que estão se inviabilizando por problemas de logística para tirar a produção do lugar. Outros empreendimentos estão afundando porque não têm escala para operar no ata- cado e não têm pesqueiros em volta. Estes são obrigados a vender o peixe abaixo do custo e muitos deles sequer sabem qual é o preço de custo. Sobre o CEASA: este entreposto tem 11% de comissão e você tem que colocar o peixe fresco lá na ma- drugada e no gelo. Fazendo a conta, se o CEASA vende o seu peixe a R$ 4,00 ele vai pagar R$ 3,60. Deste valor você tem que abater o frete e o gelo. Portanto, sobram 11Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Notícias & NegóciosOn-line R$ 3,30. Eu duvido que seja possível produ- zir menos do que 100 ton/ano a um custo inferior a R$ 2,90 (a não ser a piscicul- tura consorciada com suinocultura). Por- tanto, o médio e o pequeno não podem vender para o CEASA, que se abastece de tilápia do grande ou da pesca extrativis- ta. Cada lugar tem um mercado com ca- racterísticas distintas: em Fortaleza você vende o peixe vivo na peixaria. Em São Paulo você vende para o pesqueiro e para o restaurante japonês a tilápia de 1kg por 8 ou 9 reais. Se você quiser se meter com processamento em pequena escala, o meu conselho é que você seja totalmente clan- destino, porque você nunca vai conseguir atender às exigências do SISP e muito me- nos do SIF. Portanto, faça o produto na sua cozinha e leve diretamente no ponto de venda do cliente, caso contrário você não sobreviverá. Isto é o que está rolando no Brasil real (não no Brasil do Real). Quem tem o pé sujo de barro e a roupa fedendo a peixe como eu, sabe direitinho do que estou falando. De: Francisco Leão f_leao@hotmail.com Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Outra coisa muito importante é que este segmento da tilápia é muito dinâmico e muda muito. Há pouco mais de 10 anos você ia nos EUA e o povo de lá nunca tinha ouvido falar de tilápia. Hoje está em tudo o que é restaurante. O brasilei- ro também aprendeu a comer tilápia e já sabe que Saint Peter, Stirling e tilápia é tudo a mesma coisa. O número de produ- tores cresceu muito e o que vai falar mais alto não é quem tem o peixe, mas sim quem tem a logística. Hoje o transporta- dor de peixe vivo cobra por quilo não im- portando a distância, isto encarece o seu peixe no cliente da esquina e você acaba perdendo os seus vizinhos para os con- correntes. Se você tiver o próprio trans- porte e cobrar por km rodado, você vai ver que o seu peixe vai atingir um preço melhor, sem contar que você estará junto ao seu cliente. Outro caminho é conse- guir uma carteira de clientes que justi- fique você sair com uns 300kg de peixe fresco abatido no dia e entregar no pica- do do varejo um peixe fresquinho. Esta é a palavra mágica: “fresquinho”. Nem que você tenha que colocar um tanque com peixe vivo no seu carro e sair vendendo. Este é um diferencial para restaurante que os grandes distribuidores não têm e se o restaurante quiser comprar o filé de peixe fresco no supermercado ou na peixaria vai pagar mais do que R$ 20,00 o kg, pois está pagando R$ 17,00 pelo congelado. Tudo isto, com muito mais detalhes está no artigo do Fernando Ku- bitza no último número da Panorama da AQÜICULTURA (ed.122), e que todo mun- do tem que ler. Da informação toda, a tônica que eu não acredito é nas 113 mil toneladas de tilápia produzidas no Brasil. Este número é ficção, mas para os produ- tores médios, tanto faz se são 113, 130 ou 90 mil, porque atuam somente na sua microrregião. E esta você tem que conhe- cer na palma da mão. 12 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Notícias & Negócios On-line De: Silvia Midei produtos@pratsy.com.br Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Essa semana nos ofereceram R$ 2,70 para peixe de 550 gr. Garantiram que compram no noroeste paulista e que o produtor tem lucro vendendo a esse preço. O segredo des- ses produtores, além da escala de produção, parece estar na compra da ração, já que se- gundo as informações, pagam 20% menos na ração de 1ª linha. Já tentamos tudo: carga fechada, pagamento antecipado e não chegamos nesse desconto. E, mesmo que se chegássemos, considerando todos os custos (+depreciação, custo financeiro, etc.) esta- ríamos no “osso”, trocando seis por meia dúzia. Deve ter algum milagre e só não des- cobrimos o santo! De: Francisco Leão f_leao@hotmail.com Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Não dá pra fazer milagre com a ração. Eu po- deria comprar ração a R$ 0,90/kg a de 32%. Ocorre que me dei mal: o peixe ficou doente porque a ração é vagabunda! De: Silvia Midei produtos@pratsy.com.br Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia A ração que eles usam é de 1ª linha, de em- presa super conceituada e da mesma marca que usamos. Só que enquanto eu pagava a de 32% a R$ 28,80 a carga fechada + pgto antecipado, eles afirmavam pagar R$ 24,00! Estamos fazendo gestões junto ao fornece- dor para entender como isso é possível! De: Alvaro Graeff agraeff@epagri.sc.gov.br Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Por que utilizam sempre a ração de 32%PB em cultivo de tilápia? Existem inúmeras pes- quisas afirmando terem bons resultados com 28% de PB. É necessidade biológica ou eco- nômica que estamos a procurar? Se são os dois podemos utilizar o manejo de seis dias com alimentação e o sétimo jejum total, dando uma economicidade de 26 dias sem ração em um tempo de 180 dias. De: Fábio Susselsussel@apta.sp.gov.br Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Alvaro, não se usa ração de 28% PB na tilapicultura porque os produtores ainda insistem em comprar a de 32%. É fato que as atuais rações de 28% existentes no portfólio das fábricas é uma ração “de combate”. É ração pra quem quer apenas manter um peixe já terminado pra pesque- -pague e pra quem tem um tanquinho de peixes no fundo de casa. Ou seja, esta ra- ção de 28% não é formulada com os mes- mos ingredientes de qualidade usados na ração 32%. Os níveis de garantia contidos no rótulo são respeitados. Nenhuma fábri- ca ousa fazer uma ração de 28% e apre- sentá-la aos produtores como sendo capaz de proporcionar os mesmos resultados da 32%. O produtor achará que isto é conver- sa do vendedor, o que não é verdade. Uma ração de 28% ou até uma de 26%, pode sim trazer os mesmos resultados que uma de 32%. Com uma vantagem muito impor- tante: o ambiente de cultivo agradecerá! Amigos produtores: cobrem das fábricas uma ração de 28% de PB para tilápias com os mesmos ingredientes da 32%. Se a di- ferença de preço não for grande o ambien- te de cultivo agradecerá! De: Ricardo Campos ricardoncf@yahoo.com.br Para:lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Há dez anos usávamos ração com 28%PB aqui no Ceará com ótimos resultados. Mas chegou um vendedor de olhinho puxado e puxando o errrrrrre, e todo mundo fi- cou impressionado com a conversa da 32%PB. Se aí em São Paulo os resulta- dos com a 28% podem ser bons, imagine por aqui, com temperatura média anual de 27°C, insolação constante o ano in- teiro, baixí ssima variação térmica diária, etc. Tenho um cliente que acredita nis- so, tem ótimos resultados, tem um lucro bom, mas os que se acostumaram com a 32% PB não acreditam. 13Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Notícias & NegóciosOn-line De: Fábio Sussel sussel@apta.sp.gov.br Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Pois é Ricardo, as condições climáticas cons- tantes aí do Nordeste realmente favorecem bons resultados com 28% de PB. Aliás, in- dependente da ração ser de 28 ou 32% os resultados daí são superiores. Apenas quero enfatizar que as possibilidades de bons re- sultados com ração de 28%, aí no Nordes- te, são mais prováveis. A disposição que os peixes daí têm para se alimentar é uma maravilha. E isto é um bom indicativo da “aptidão” que o peixe cultivado aí tem para “botar peso”. Exemplo disso é o cliente seu que acredita na ração de 28% e vem conse- guindo bons resultados. Por outro lado, eu não vejo nada de errado quando há 10 anos atrás um profissional saiu do Paraná para explorar um mercado em potencial apresen- tando uma ração de 32%. Na época os resul- tados com a ração de 32% foram superiores aos resultados da 28% não necessariamente pela diferença percentual de proteína, mas sim pela melhor qualidade dos ingredientes contidos na de 32%. Mesmo a ração de 32% sendo de maior custo do que a de 28%, fo- ram os produtores que optaram em usar a de 32%. Não acredito que o profissional em questão tenha sido tão determinante nesta decisão. Além do mais, há 10 anos atrás a ração de 32% realmente era uma tendência. Talvez não para academia, mas para as fábri- cas de ração sim. Hoje todas as fábricas (eu disse todas!) são sabedoras que não precisa destes 32% de PB. Mas como já expliquei no e-mail anterior, todas preferem manter suas vendas. Apesar de todas as grandes marcas terem um grande compromisso com desempenho, acima de tudo elas visam lu- cro. Normal! Digo que as grandes fábricas têm compromisso com desempenho porque o grande desafio delas é não perder clientes e, aos poucos, ir conquistando mais. E pra isto elas jogam com qualidade de fórmula. Porque se jogarem com preços baixos, per- dem qualidade de fórmula, e aí ganha um cliente aqui e perde um acolá. Isto não interessa a nenhuma delas e só bagunça o mercado. Agora, bacana mesmo seria se to- das começassem a jogar com esta qualidade de fórmula em cima de 28%. De lambuja o produtor ganharia uma redução no custo da ração e o ambiente de cultivo algumas tone- ladas a menos de nitrogênio. Discursar sobre isto é relativamente fácil. Sei que executar na prática não é algo tão simples assim. O primeiro passo é tentar conscientizar os segmentos envolvidos deste propósito. De: Ricardo Pereira Ribeiro rpribeiro@uem.br Para: lista@panorama-L.com.br Assunto: Re: Preço médio da tilápia Fábio, faz tempo que eu gostaria de ver essa discussão, parabéns pela iniciativa. A litera- tura já apresenta vários resultados compro- vados de rações com fórmula e ingredientes adequados, com resultados até superiores ao que temos no mercado, inclusive com dietas com níveis bem inferiores a 28%. O que se precisa é saber como acabar com este hábi- to comercial que impera entre os aquiculto- res e fornecedores. 14 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Por: Fernando Kubitza, Ph. D. Acqua Imagem Serviços Ltda fernando@acquaimagem.com.br plantas aquáticas em viveiros de criação de peixe O que favorece o desenvolvimento de plantas aquáticas e algas filamentosas nos tanques de piscicultura? Diversos fatores contribuem com a proliferação de plantas aquáticas e algas filamentosas nos tanques de criação, sendo os principais relacionados a seguir: l Alta taxa de renovação de água; l Insucesso na formação (estabelecimento) do fitoplâncton; l Excessiva aplicação de fertilizantes (nutrientes), em especial os fosfatados; l Viveiros muito rasos ou áreas muito rasas nos viveiros e açudes; l Erosão do solo nas imediações dos viveiros; l Entrada de macrófitas e algas através da água de abastecimento. Controle de lantas aquáticas e algas filamentosas podem tomar conta dos viveiros de criação de peixes, prejudicando a qualidade da água, dificultando o manejo da alimentação e a captura dos peixes. Uma vez instaladas, o controle destas plantas pode ser difícil e dispendioso, particularmente em viveiros e açudes de grandes dimensões. Neste artigo serão discutidas as principais práticas de pre- venção e controle da proliferação de plantas aquáticas em tanques de criação de peixes. 15Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Controle de plantas aquáticas Os principais tipos de plantas aquáticas Existem diversas espécies de plantas aquáticas, cada qual com uma forma peculiar de desenvolvimen- to e ocupação dos viveiros e açudes. Para a finalidade deste artigo, vamos agrupar as plantas aquáticas em 4 grupos, a saber: • Algas filamentosas: são algas em forma de longos filamentos ou com formato de malha de rede (Ex. Hydrodctium). Algumas até mesmo se parecem com plantas de folhas finas. Exemplos: Chara e Nitela. • Plantas submersas: são plantas enraizadas ou não no substrato dos viveiros e que são capazes de viver completamente embaixo da água. Exemplos: Elodea, Cabomba, Sagitaria, Valisneria, entre outras. • Plantas emersas: são plantas geralmente enraizadas no substrato dos viveiros e açudes, mas que precisam projetar parte do caule e das folhas acima da superfície d’água para respiração e captura Figura 1. Aglomerados de algas filamentosas em viveiros de criação de peixes. A alta transparência da água favorece o desenvolvimento destas algas. Mesmo com a água ficando turva, estas algas podem se desenvolver nas laterais mais rasas dos tanques, onde conseguem receber adequada luz. (Fotos do autor) Figura 2. Plantas aquáticas submersas – plantas enraizadas ou não no substrato dos viveiros e que podem ficar com suas partes vegetativas totalmente cobertas pela água. (Fotos a e b: do autor; Foto c: cortesia do Eng. Agrônomo Fábio Mori) de gás carbônico para a fotossíntese. Exemplos: pinhei- rinho d’água, potamogeton, taboa, braquiária do brejo, entre outras. • Plantas flutuantes: são aquelas dotadas de capa- cidade de flutuação na superfície da água, mantendo as folhas emersas e as raízessubmersas. Exemplos: aguapé, alface d’água, salvínia, lentilha d’água, entre outras. Como evitar que as plantas aquáticas tomem conta dos viveiros e açudes? Algumas dicas aqui para evitar o desenvolvimento de plantas aquáticas em viveiros e açudes usados na criação de peixes ou mesmo para recreação. • Evite construir viveiros muito rasos. Assegure uma profundidade de pelo menos 60-80 cm nas partes mais rasas dos viveiros (margens). Em locais muito rasos as plantas aquáticas recebem mais luz. Além da luz, as plantas são favorecidas pelos nutrientes disponíveis no solo próximo às margens dos tanques. 16 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Co nt ro le d e pl an ta s aq uá ti ca s • Não renove água sem necessidade. Muitos produto- res ainda acreditam que é preciso renovar a água continua- mente para não faltar oxigênio nos tanques de criação. Tais produtores desconhecem o importante papel do fitoplâncton na oxigenação da água dos viveiros, através da fotossíntese. Uma renovação de água excessiva deixa a água dos viveiros muito transparentes, favorecendo a entrada de luz na coluna d’água e, assim, o desenvolvimento de algas filamentosas e plantas aquáticas no fundo dos viveiros. • Promova um rápido desenvolvimento do fitoplânc- ton. Isso reduzirá tanto a entrada de luz na coluna d’água, como a disponibilidade de nutrientes (nitrogênio, fósforo e outros), dificultando o desenvolvimento de plantas aquá- ticas e algas filamentosas no fundo dos viveiros. • Evite a aplicação de adubos fosfatados. Não apli- que fertilizantes diretamente sobre o fundo dos viveiros. A aplicação excessiva de fósforo e o excesso de nutrientes no solo do fundo dos viveiros favorecem o desenvolvimento de plantas aquáticas e algas filamentosas. • Não deixe os viveiros drenados por muito tempo. Sempre os mantenha com água até seu nível máximo, mesmo que não sejam estocados com peixes. No entanto, não renove água nestes viveiros sem peixes e procure aju- dar o fitoplâncton a se desenvolver, realizando a calagem Figura 3. Plantas aquáticas emersas se fixam no substrato dos viveiros, porém, projetam sua parte vegetativa acima da superfície d’água (Fotos: cortesia do Eng. Agrônomo Fábio Mori) Figura 4. Plantas aquáticas flutuantes mantêm sua parte vegetativa acima da superfície da água e as raízes submersas (Foto a: do autor; Fotos b e c: cortesia do Eng. Agrônomo Fábio Mori) (quando necessário) e a fertilização da água com um adubo nitrogenado (uréia ou nitrato de cálcio). • No caso de açudes, proteja as áreas no entorno, evi- tando que ocorra erosão e aporte de sedimentos, que resulta em pontos de assoreamento nos açudes, locais favoráveis para o crescimento de plantas aquáticas. Nos locais de mar- gens muito rasas (menos de 40 cm de profundidade) deve ser feito um aprofundamento até atingir cerca de 50-60 cm. • Use telas nas entradas de água dos viveiros, preve- nindo a entrada de plantas aquáticas e sementes das mesmas. Plantas flutuantes como o aguapé, salvínia, azola, dentre outras, podem facilmente adentrar os viveiros e açudes através da água de abastecimento. O que fazer quando as plantas já tomaram conta dos viveiros? Geralmente as plantas aquáticas se desenvolvem em vi- veiros com excessiva renovação de água. A renovação de água lava os nutrientes gerados na criação dos peixes. Com poucos nutrientes na coluna d’água, o fitoplâncton não se desenvolve a contento. Assim, com uma água de alta transparência, uma grande quantidade de luz chega ao fundo do viveiro. Isso favo- rece o desenvolvimento de plantas aquáticas submersas e algas 17Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Controle de plantas aquáticas filamentosas, que além da luz, se beneficiam das reservas de nutrientes disponíveis no solo. Esse desenvolvimento de plantas e algas filamentosas é ainda mais agravado em viveiros rasos. Controle físico (remoção manual) - em um viveiro tomado por plantas, a primeira medida é a redução da massa vegetal. Isso pode ser feito através da remoção manual. Plantas flutuantes podem ser removidas com o auxílio de uma rede de arrasto rasa ou uma rede na qual a linha de chumbo foi enrolada sobre a linha de bóia, de forma que o arrasto ocorra apenas na superfície. Isso possibilita concentrar as plantas próximo às margens sem grandes dis- túrbios aos peixes. As plantas então podem ser removidas manualmente ou com a própria rede ou outros utensílios (puçás, cestos, etc.). Algas filamentosas também podem ser removidas em grande parte com o arrasto de uma rede (aberta, neste caso), concentrando as algas em uma das extremidades do viveiro. Os peixes vão sendo empurrados junto com as algas. Isso não é adequado em tanques com pequenos alevinos, mas pode ser realizado com peixes maiores. Pouco antes de chegar à margem, a rede deve ser recolhida, de forma que os peixes possam fugir do local de concentração das algas filamentosas. Os peixes devem ser espantados para o lado oposto do viveiro. Após alguns minutos, o produtor novamente posiciona a rede no ponto onde parou e finaliza o arrasto até a margem. Poucos pei- xes serão capturados no meio das algas procedendo dessa maneira. Plantas submersas enraizadas no fundo são mais difíceis de serem retiradas com o auxílio de uma rede, exigindo remoção manual ou outras formas de combate a serem discutidas mais adiante neste artigo. limpa e livre de obstáculos, para onde os peixes podem ser atraídos (com ração, por exemplo) e capturados com rede de arrasto. Diversas capturas parciais podem ser necessárias até que a maior parte dos peixes seja removida. Feito isso, o viveiro pode então ser drenado aos poucos, facilitando a remoção das plantas. Caso a remoção das plantas não seja completa, com o viveiro já sob um reduzido volume de água, pode ser realizado o envenenamento das plantas restantes com o uso de herbicidas. Mais detalhes sobre o uso de herbicidas serão apresentados ao longo deste artigo. Após o envenenamento do restante das plantas, o viveiro pode ser drenado por completo. O excesso de material vegetal (plantas mortas e vivas) deve ser removido, para que não haja um grande consumo de oxigênio no início do cultivo seguinte. Feita essa remoção, o viveiro está pronto para ser colocado em uso novamente. Figura 5. Viveiros totalmente tomados por plantas aquáticas, tornando muito difícil o manejo da alimentação e da captura dos peixes. A melhor opção para corrigir o problema é a remoção manual das plantas. Herbicidas podem ajudar a matar as plantas. Porém, após a aplicação e morte das plantas, é preciso remover o máximo possível dessa massa orgânica, para que não haja declínio do oxigênio dissolvido na água viveiros (Fotos do autor) Quando não há peixes nos viveiros ou quando é pos- sível remover a maior parte dos peixes (mesmo com as difi- culdades impostas pelas plantas ao arrasto com rede), a melhor opção é drenar os viveiros e remover as plantas manualmente. Quando a remoção dos peixes for difícil, a alternativa é remo- ver o máximo possível de plantas, procurando deixar uma área Figura 6. Viveiro sendo drenado. As macrófitas acabam se concentrando em um menor volume de água, facilitando a remoção manual ou, mesmo, o envenenamento das plantas com herbicidas (Foto do autor) Quando os viveiros não puderem ser drenados e/ou os peixes não puderem ser removidos, a alternati- va é tentar promover o desenvolvimento do fitoplâncton de forma a diminuir a transparência da água e, com isso, dificultar o desenvolvimento das plantas aquáticas e algas filamentosas. Nesse momento alguns produtores se pre- cipitam, aplicando fertilizantes na água como forma de estimular a formação do fitoplâncton. Acabam, assim, favo- recendo ainda mais as plantas aquáticas que já dominam o ambiente. Para criar condições adequadas para a formação do fitoplâncton, sugerimos a seguinte sequência de ações: Primeiro passo. Fechar a entrada de água nos vivei- ros. Isso evitaa diluição excessiva dos nutrientes gerados durante a criação (através da excreção fecal e nitrogenada dos peixes e a decomposição da matéria orgânica aportada nos viveiros, reciclando assim os nutrientes fornecidos nos alimentos e adubos, bem como presentes nas plantas e algas em decomposição). 18 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 19Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Controle de plantas aquáticas Segundo passo. Remover o máxi- mo possível de plantas. Essa remoção ge- ralmente resulta em distúrbios no fundo dos viveiros e açudes, suspendendo argila e a água do fundo. Uma grande quanti- dade de argila em suspensão pode causar irritação nas brânquias e dificuldade de respiração para os peixes. A água dos estratos mais profundos pode estar com baixo oxigênio e altas concentrações de compostos tóxicos aos peixes (amônia, nitrito, gás sulfídrico e metano, entre outros). Assim, em viveiros e açudes completamente tomados por plantas e algas filamentosas, essa remoção deve ser feita um pouco a cada dia, cerca de 10 a 15% da área total do viveiro por dia, para evitar prejuízos à qualidade da água e desconforto aos peixes. De início, procure remover os aglomerados de plantas das áreas mais profundas, processo facilitado pela ainda boa visibilidade com a água transparente. Conforme a água vai ficando um pouco mais turva, comece a fazer a remoção de plantas submer- sas nas áreas mais rasas, próximas às margens dos viveiros. Terceiro passo. Quando não for possível realizar a remoção manual das plantas, ou se, mesmo com tal remoção ainda sobrou um bocado de plantas nos viveiros, o produtor deverá partir para outras alternativas de redução da popu- lação de plantas aquáticas. Uma delas é a estocagem de peixes como a carpa capim, que consome plantas tenras e algas filamentosas, contribuindo com este controle. A outra é o uso de her- bicidas / algicidas. Estas alternativas serão discutidas oportunamente neste artigo e podem ser necessárias para uma redução mais eficaz da população de plantas aquáticas. Quarto passo. Correção da alcalinidade e realização de aduba- ção nitrogenada. Após a redução na população de plantas, o produtor pode agora pensar em estimular o de- senvolvimento do fitoplâncton. Uma aplicação de calcário pode ser neces- sária, para elevar a alcalinidade total da água para valores próximos de 30 mg CaCO3/l. Para tanto, pode ser necessário aplicar algo entre 100 a 500 g de calcário agrícola por metro quadrado de viveiro (1 a 5 toneladas/ha). O calcário eleva a alcalinidade da água, melhorando a oferta de gás carbônico para a fotossíntese do plâncton. Também ajuda a aumentar um pouco a trans- parência da água que ficou turva com a suspensão de argila durante a remoção das plantas. Aplicado o calcário, agora podemos realizar a adubação da água para estimular o desenvolvimento do fitoplâncton. Partimos de uma dose próxima a 5 kg de nitrogênio / 1.000 m2 ou 50 kg de N/ha. Usando uréia (45% N) aplicamos 11 kg do fertilizante / 1.000 m2; se usar nitrato de cálcio (15,5% de N), aplicamos 32 kg deste adubo / 1.000 m2. Os fertilizantes devem ser diluídos previamente em água antes da aplicação. A aplicação deve ser feita de forma homogênea sobre toda a superfície do viveiro onde estamos combatendo as plantas aquáticas. O bombeamento de um pouco de água verde de um viveiro com fitoplâncton já estabelecido serve como inóculo e favorece a rápida formação do fitoplâncton no viveiro onde as plantas estão sendo combatidas. Aguardamos, então cerca de 7 a 10 dias para ver o resultado, tempo suficiente para que a água comece a ganhar um tom esverdeado e a diminuir sua transparência. Se isso não ocorrer, pode ser necessário repetir a aplica- ção de nitrogênio, tomando cuidado para observar se as plantas aquá- ticas não estão se recuperando e tomando conta de novo do viveiro. Com o tempo, a aplicação de nitrogênio já não é mais neces- sária. A morte das plantas e a sua decomposição fornecem nutrientes e gás carbônico em quantidades suficientes para o desenvolvimento e sustento do fitoplâncton. Além disso, sempre há um aporte de nutrientes nos viveiros. Estes pro- vêm da excreção nitrogenada dos "Quando os viveiros não puderem ser drenados e/ou os peixes não puderem ser removidos, a alternativa é tentar promover o desenvolvimento do fitoplâncton de forma a diminuir a transparência da água e, com isso, dificultar o desenvolvimento das plantas aquáticas e algas filamentosas. Nesse momento alguns produtores se precipitam, aplicando fertilizantes na água como forma de estimular a formação do fitoplâncton. Acabam, assim, favorecendo ainda mais as plantas aquáticas que já dominam o ambiente." 20 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 peixes e da decomposição das fezes, sobras de ração e materiais orgânicos diversos, suprindo a necessidade do fitoplâncton. Assim, controlando o excesso de plantas e fechando a en- trada de água, os nutrientes gerados na produção dos peixes ficam mais disponíveis ao fitoplâncton, favore- cendo o seu desenvolvimento. Peixes herbívoros no controle de plantas aquáticas Uma boa opção para o pisci- cultor no controle de macrófitas é a estocagem de peixes herbívoros nos viveiros e açudes. Peixes como a tilápia e a carpa capim podem aju- dar nesse controle. Pelo fato de não se reproduzir em viveiros e açudes, consumir grande volume de material vegetal e não exercer canibalismo sobre outras espécies de peixes, par- ticularmente com peixes pequenos, a carpa capim é a primeira opção. Outra vantagem da carpa capim é o fato dela tolerar grande amplitude térmica, pode ser usada tanto em áreas tropicais, como em regiões de inverno bem rigoroso. Em diversos países a carpa capim tem sido usada como importante ferramenta para o controle permanente de plantas aquáticas. A carpa capim se alimenta de uma grande variedade de plantas aquáticas tenras e algas filamento- sas presentes nos viveiros e açudes. Porém, não são capazes de consu- mir plantas mais grosseiras como o aguapé e a taboa. Carpas pequenas são pouco eficientes nesse controle, pois, além do hábito alimentar her- bívoro ainda não estar bem definido, consomem pouca massa de plantas. Peixes com tamanho acima de 20 cm são mais eficientes no controle de macrófitas. Carpas capim de maior porte chegam a consumir diariamen- te uma quantidade de plantas e algas equivalente a 30 a 45% do seu peso corporal. Em geral é recomendada a estocagem de 50 a 200 carpas capim (entre 25 e 30 cm) por hectare. No entanto, o número adequado de car- pas para o estoque não é tão simples de ser determinado, pois depende muito da quantidade de plantas existen- tes, do tamanho das carpas, da tempe- ratura da água (que afeta a quantidade de plantas consumidas pelos peixes), dentre outros fatores. Quanto maiores forem as carpas, menor for a infestação de plantas e maior for a temperatura, menos peixes são necessários por área de viveiro. Assim, vale o bom senso e a observação para determinar se a quantidade de carpas estocadas está promovendo um adequado controle das plantas. Se colocamos carpas demais ou de menos, isso não é problema. Podemos adicionar mais peixes ou remover parte dos peixes, conforme o resultado visualizado no controle das plantas. Tomar como base a biomassa de carpas estocadas é melhor do que apenas considerar o número de peixes. Alguns estudos sugerem a necessidade de estocar algo entre 5 e 25 g de carpa capim para cada m2 de área coberta com plantas aquáticas. Por exemplo, se um viveiro de 1.000 m2 apresenta cerca de 50% de sua área coberta por plantas aquáticas (500 m2) seria recomendável estocar algo entre 2,5 e 12,5 kg de car- pa capim. Ficando com a média, algo próximo de 8 quilos de carpa. Se os ju- venis tiverem 100 g, seriam necessários 80 peixes. Para juvenis de 200 g, 40 peixes seriamsuficientes. Para carpas com 1 kg, oito peixes seriam capazes de promover o controle. Se o mesmo viveiro estivesse completamente toma- do por plantas aquáticas, o número de carpas estocadas deveria ser dobrado. Estoques de carpa entre 200 e 1.000 kg de peixes por hectare são capazes de eliminar todas as plantas de um viveiro ou açude em menos de 30 dias. Herbicidas no controle de plantas aquáticas Herbicidas e algicidas podem ajudar no controle de macrófitas e algas filamentosas. No entanto, é recomendável que esses produtos se- jam usados somente após haver sido retirado o máximo possível de plantas dos viveiros e açudes. A eficiência do uso dos herbicidas depende de diversos fatores. Por exemplo, o tipo de planta a ser controlada, a estratégia (modo) de Co nt ro le d e pl an ta s aq uá ti ca s "O uso dos herbicidas depende de diversos fatores como por exemplo, o tipo de planta a ser controlada, o modo de aplicação do produto, as possíveis interações dos herbicidas com a qualidade da água, as condições climáticas prevalentes, o estágio de desenvolvimento das plantas, dentre diversos outros aspectos. Diante disso, o piscicultor deve sempre contar com profissionais experientes para tomar a decisão sobre o uso ou não de herbicidas e a escolha dos produtos mais adequados às necessidades da sua piscicultura." 21Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 aplicação do produto, as possíveis interações dos herbicidas com a qualidade da água (dureza, alcalinidade, argila em suspensão, pH, entre outros fatores), as condições climáticas prevalentes (chuvas, temperatura, etc.), o estágio de desen- volvimento das plantas, dentre diversos outros aspectos. Diante desses detalhes, o criador deve sempre contar com o suporte de profissionais experientes no assunto para tomar a decisão sobre o uso ou não de herbicidas e a escolha dos produtos mais adequados às necessidades e condições de sua piscicultura. No Brasil existem diversos herbicidas registrados para o controle de plantas aquáticas, sendo muito usados no controle de plantas em grandes reservatórios de hidrelétri- cas e de abastecimento de água para diversos municípios. Estes herbicidas e seus princípios ativos também são apro- vados para uso no controle de plantas aquáticas em açudes, Tabela 1 – Alguns compostos herbicidas usados no controle de plantas aquáticas viveiros e tanques usados para a criação de peixes em outros países. No Brasil, ainda não há herbicidas especificamente registrados para uso na aquicultura. No entanto, os herbicidas regularmente usados na agricultura, em especial para o controle de plantas aquáticas, podem ser aplicados ao controle de plantas em viveiros e açudes com peixes. Na Tabela 1 são relacionados alguns destes herbicidas. Os herbicidas para este fim devem ter componentes ativos de baixa toxicidade aos peixes e aos demais animais aquáticos e terrestres que podem vir a ter contato com o am- biente onde o produto foi aplicado. Dependendo do produto utilizado, o criador também deve respeitar um período de carência maior ou menor, de acordo com os outros usos que a água dos açudes ou viveiros tratados com herbicidas possa vir a ter na propriedade Controle de plantas aquáticas 22 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 23Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 (irrigação, consumo animal, recreação, en- tre outros). Na dúvida sobre estes detalhes, procure orientação especializada. Na opção pelo uso de herbicidas, o criador deve realizar o envenenamento das plantas de forma parcial (um pouco a cada dia). As plantas mortas começam a ser de- gradadas nos açudes e viveiros, consumindo oxigênio e gerando grande quantidade de gás carbônico e outros compostos tóxicos. Assim, para evitar problemas com a degradação da qualidade da água (em particular com o baixo oxigênio dissolvido) após o uso de herbicidas, é recomendável limitar o uso de herbicidas a um controle de 10 a 15% do estande de plantas por dia. Mesmo tomando esses cuidados, é recomendável monitorar os níveis de oxigênio na água durante o processo de controle das plantas, e contar sempre com um aerador para alguma eventual emergência. Outras formas de controle de plantas aquáticas Além da remoção manual, do uso de peixes herbívoros (como a carpa capim) e do uso de herbicidas, outras ferramentas já foram avaliadas no controle de plan- tas aquáticas. Nem todas elas podem ser facilmente aplicadas em viveiro e açudes de criação de peixes, particularmente em viveiros de grandes dimensões. Dentre muitas, merecem destaque: A manipulação de nutrientes - em particular o sequestro de fosfatos da coluna d’água e sua deposição no substrato sob formas menos disponíveis. Isso pode ser feito com aplicações de sulfato de alumínio ou gesso. O bloqueio de luz - há três formas de realizar isso: a) através de cobertura física so- bre as plantas no fundo dos viveiros ou mes- mo sobre uma parte das plantas flutuantes; b) uso de corantes que diminuem a entrada de luz e filtram os diferentes espectros de luz, impedindo a entrada dos espectros que esti- mulam a fotossíntese; c) aumento intencional da turbidez mineral da água, suspendendo a argila do fundo dos viveiros ou aplicando argilas na água (tornando a água barrenta). Geralmente em uma a duas semanas as plan- tas começam a morrer por falta de luz. O revestimento das laterais e do fundo dos tanques - o revestimento do fundo e das laterais dos viveiros e canais com mantas de vinil, concreto ou outros materiais previne o crescimento de plantas aquáticas. A relação benefício/ custo desta medida deve ser avaliada. O uso do fogo - plantas aquáticas podem ser queimadas, com o auxílio de lança chamas. Após uma aplicação de herbicida, o fogo também pode ser usado como complemento no controle das plan- tas. A queima do material ressecado pelo herbicida ajuda a danificar as partes das plantas não atingidas. O uso do fogo deve ser feito com cuidado e de forma bem pla- nejada, para não correr o risco de espalhar chamas para outras áreas da propriedade. Manipulação do nível da água nos viveiros - algumas plantas podem ser controladas através do roçado e sub- sequente inundação antes que elas tenham oportunidade de projetar suas partes aére- as na superfície. O material roçado deve ser removido do viveiro, para não provo- car grande demanda de oxigênio para a sua decomposição quando o viveiro for novamente enchido. No caso de plantas submersas sensíveis à exposição direta ao sol ou à desidratação, o controle pode ser realizado através da drenagem completa dos viveiros, mantendo-os secos por algu- mas semanas. Também é recomendável a aplicação de um herbicida sobre as plan- tas ainda vivas nas áreas mais úmidas do fundo dos viveiros. Isso complementa o controle. Também nesse caso, as plantas mortas devem ser removidas para que não haja uma depleção severa no oxigênio dissolvido após o enchimento dos vivei- ros para um novo ciclo de cultivo. Considerações finais O controle de plantas aquáticas, portanto, exige ações integradas, envol- vendo não apenas o controle das plantas em si, mas também medidas preventivas e estratégias de condução da criação que dificultem o desenvolvimento des- tas plantas e mantenham os viveiros e açudes livres das mesmas durante todo o ciclo de produção. Dessa forma, os criadores que enfrentam problemas crônicos com infestação por plantas aquáticas não devem hesitar em recorrer a um suporte profissional especializado, evitando perda de tempo e desperdício de recursos e dinheiro com medidas ineficazes ou de curta duração. Controle de plantas aquáticas "O controle de plantas aquáticas exige medidas preventivas e estratégias de criação que mantenham os viveiros e açudes livres das mesmas durante todo o ciclo de produção. Dessa forma, os criadores não devem hesitar em recorrera um suporte profissional especializado, evitando perda de tempo e desperdício de recursos e dinheiro com medidas ineficazes ou de curta duração." 24 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 cultivo de camarões marinhos é a atividade mais lucrativa de toda indústria aquícola. Em 2008 foram despescados 3,4 mi- lhões de toneladas de camarão de fazendas marinhas, resultando em uma movimentação financeira da ordem de US$ 14,3 bilhões (Fig. 1). Atualmente os camarões estão entre os frutos do mar mais consumidos e apreciados no mundo. Para atender a crescente demanda, os produtores desse crustáceo tiveram que triplicar sua produção em apenas oito anos. Entre 2000 e 2008, a velocidade no crescimento anual da produção de camarões cultivados chegou a 15,1% (FAO, 2010). Este rápido aumento no volume de camarão cultivado foi alcan- çado primordialmente por avanços na genética e nutrição dos camarões peneídeos e pela modernização das técnicas de cultivo. Em 2006, mais de 15 milhões de ton. de toda produção mundial de peixes e camarões em cativeiro já era realizada mediante o uso de rações balanceadas (Fig. 2). Até 2020, este volume deverá alcançar 45 milhões de ton., representando ¾ de toda produção de peixes e camarões cultivados no mundo (Tacon & Metian, 2008). Estas mudanças têm permitido realizar cultivos cada vez mais seguros, rápidos e rentáveis. Apesar dos sistemas comerciais de cultivo de camarão apresen- tarem variações no seu nível de intensificação (uso de recursos capitais, tecnologia e mão-de-obra), desde baixa intensificação (entre 10 e 35 camarões/m2) até super-intensivos (> 100 camarões/m2), estes sistemas têm em comum a dependência no aporte de alimento externo para viabilizar a produção. As rações para engorda de camarões possuem níveis proteicos elevados, podendo chegar até 40% de proteína bruta. Isto requer a utilização de ingredientes ricos em proteína para fabricação destas rações. Os ingredientes proteicos geralmente empregados são de Por: Alberto J. P. Nunes, Ph.D.* alberto.nunes@ufc.br Marcelo Vinícius do Carmo e Sá, Dr.** marcelo.sa@ufc.br Hassan Sabry Neto, M.Sc.* Universidade Federal do Ceará LABOMAR - Instituto de Ciências do Mar* Departamento de Engenharia de Pesca** Fortaleza, Ceará CAMARÃO MARINHO As próximas gerações de ração para Camarões estão entre os pescados mais apreciados em todo o mundo, fazendo com que os carcinicultores precisem au- mentar a sua produção de forma rápida e segura para atender a esse mercado super aquecido. O negócio do camarão, porém, se utiliza de técnicas modernas de cultivo e de boas rações para en- gorda, geralmente elaboradas com ingredientes ricos em proteína como a farinha de peixe, um importante insu- mo cuja produção mundial encontra-se estagnada. Então, qual a melhor saída para esse impasse? O presente artigo resume os principais avanços na nutri- ção de camarão, discutindo alguns dos resultados de estudos realizados no LA- BOMAR/UFC. Esses trabalhos têm como objetivo substituir integralmente a farinha de peixe em rações de camarões marinhos por ingredientes alternativos, em associação com diferentes aditivos. Os novos conhecimentos buscam com- pensar restrições de disponibilidade mercadológica e de preço da farinha de peixe, de forma segura, sem que haja prejuízo zootécnico ou econômico. Camarões alimentados com dietas com proteína 100% vegetal despescados após 72 dias de cultivo 25Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Figura 1: Produção de camarões marinhos cultivados em cativeiro entre 1980 e 2008. Linhas indicam a tendência no cultivo das duas principais espécies de camarões peneídeos. Fonte: FAO (2010) Figura 2: Produção mundial de peixes e crustáceos (ton. x 1.000) e percentual dependente de rações industrializadas. Não estão incluídas as espécies de peixes filtradores. Estimativas segundo Tacon & Metian (2008). origem marinha (farinha e óleo de pei- xe), produzidos a partir de subprodutos da agricultura (farelo de soja, farelo de trigo, glúten de milho), ou advindos do abate de animais terrestres (farinha de penas, farinha de carne e ossos, farinha de sangue, farinha de vísceras de aves). Embora a aquicultura ainda seja a atividade zootécnica que mais consome farinha de peixe no mundo (3,7 milhões de ton. em 2006, 68,2% da produção mundial), a produção estagnada deste insumo, aliada a limitada capacidade dos estoques pesqueiros de sustentar demandas crescentes, tem causado aumento progressivo nos seus preços, quando comparados a outras fontes proteicas disponíveis no mercado (Fig. 3). Essa situação tem levado a mudanças signi- ficativas no desenho das rações de camarões. Em 1995, a farinha de peixe constituía 28% da composição das rações de camarão, hoje não ultrapassa uma média de 12% (Tacon & Metian, 2008). Restrições e Avanços A criação de camarão marinho é o segmento aquícola que mais consome farinha de peixe em termos absolutos, à frente da indústria de cultivo de salmão e peixes marinhos, e isto se deve ao fato de sua produção ser mais elevada quando comparada a estas outras atividades aquícolas. Na verdade, os camarões são menos Figura 3: Flutuações no preço (US$/ton.) da farinha de Anchoveta produzida no Peru e do farelo de soja. Fonte: Josupeit (2010) Rações para cam arões m arinhos 26 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Ra çõ es p ar a ca m ar õe s m ar in ho s 27Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 dependentes em relação ao uso de proteína marinha do que o salmão e os peixes marinhos cultivados. Um maior conhecimento sobre as exigências nutricionais1 dos camarões tem sido primordial para o desenvolvimento de rações balanceadas que melhor atendam essas exigências e estejam corretamente alinhadas aos sistemas de cultivo e metas produtivas das fazendas. Com isso, a necessidade de uso da farinha de peixe se torna cada vez menor. No passado, as formulações de rações para camarões marinhos ainda se baseavam em “receitas prontas” ou fórmulas fixas. Isto geralmente resultava em dietas nutricionalmente sobredimensionadas, ou seja, com perfil nutricional muito além do exigido pela espécie cultivada. Essa realidade frequentemente levava a desperdícios, com custos financeiros e ambientais desnecessários. A redução no nível de inclusão de farinha de peixe em ra- ções para camarões marinhos pode ser acompanhada pela análise do fator FIFO (Fish In: Fish Out). Esse fator tem sido frequentemente utilizado por ambientalistas para estimar a quantidade de peixe pe- lágico capturado, necessária para produzir 1 kg ou 1ton de camarão ou peixe em cativeiro. Em 2020, o FIFO para os camarões marinhos deverá ser de 0,3 (serão necessários 300 kg de peixes pelágicos, processados como farinha de peixe, para produzir 1 tonelada de camarão em cativeiro). Em 1995, esse fator para camarões era de 1,9 (Fig. 4). Portanto, a carcinicultura marinha saiu de uma situação deficitária, ou seja, havia maior captura de peixes pelágicos para transformação em farinha de peixe que produção de camarão, para uma situação superavitária, ou seja, há maior produção de camarão que uso de peixes pelágicos na forma de farinha. Somente ao longo dos últimos 15 anos se conseguiu esta- belecer as exigências nutricionais dos camarões peneídeos para os nutrientes essenciais mais importantes, como os aminoácidos e os ácidos graxos (Tabela 1). Tabela 1: Quantidades mínimas de nutrientes essenciais necessárias para o Penaeus monodon e o Litopenaeus vannamei alcançarem crescimento máximo. Todas os valores estão apresentados na base seca. Figura 4: Histórico do volume de captura de peixes pelágicos para uso em rações para criação de camarão marinho. Área azul indica as tendências da relação FIFO (Fish IN: Fish OUT). Estimativas segundo Tacon & Metian (2008) 1 A exigência nutricional de uma espécie é definida como o nível mínimo de um determinado nutriente necessário parasobrevivência e crescimento máximo de uma espécie. 1Para o P. monodon de acordo com Millamena et al. (1996a,b, 1997, 1998, 1999) e para o L. vannamei segundo Fox et al. (1995, 1999) e Huai et al. (2009); 2Para o P. monodon de acordo com Glencross & Smith (1997, 1999, 2001a,b) e Glencross et al. (2002a,b); 3Na forma de cloreto de colina Rações para cam arões m arinhos 28 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 Os aminoácidos são as unidades básicas constituintes das proteínas. Por isto, quanto mais disponível e próximo for o perfil de aminoácidos essenciais da exigência nutricional do camarão, melhor será a qualidade nutricional do ingre- diente ou ração utilizada. Para o camarão Penaeus monodon, já se conhece a exigência para os 10 aminoácidos considera- dos essenciais à dieta (AAE): arginina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano e valina. Pelo fato do Litopenaeus vannamei apresentar tendências alimentares mais herbívoras, especula-se que essa espécie possua uma menor exigência de AAE quando comparado com os níveis já estabelecidos para o P. monodon. Nas rações balanceadas, todos os aminoácidos essenciais precisam estar presentes em quantidades adequadas para ob- tenção de crescimento máximo. Se estiverem em quantidades insuficientes ou em formas não biologicamente acessíveis aos camarões, o crescimento máximo não ocorrerá. Em relação aos ácidos graxos, quatro são considera- dos essenciais para os peneídeos, os ácidos linoléico, lino- lênico, eicosapentaenóico (EPA) e docosaexaenóico (DHA). O ácido araquidônico é pouco exigido, podendo deteriorar o crescimento do P. monodon em níveis elevados. Os ácidos graxos altamente insaturados da série omega-3 (EPA e DHA) são encontrados em abundância somente em óleos marinhos, tais como no óleo de peixe, lula, Krill e em outros organis- mos marinhos ainda pouco competitivos comercialmente para uso em rações animais, como as microalgas. Os óleos vegetais e as gorduras de animais terrestres são desprovidos dos ácidos graxos EPA e DHA. Além de aminoácidos e ácidos graxos, outros nutrien- tes essenciais são os fosfolipídios e o colesterol. Os fosfoli- pídios atuam no transporte de colesterol, facilitam o arma- zenamento de lipídeos no hepatopâncreas que, servem de reserva energética durante o processo de muda dos camarões. O colesterol é um esteróide essencial que está diretamente ligado à muda do camarão. Há alguns anos atrás se descobriu existir uma interação inversa entre o nível de fosfolipídios e de colesterol na dieta (Gong et al., 2000). Na medida em que os níveis de fosfolipídios aumentam, decrescem as exigências de colesterol na dieta do camarão. A exigência de colesterol para o L. vannamei é de 0,35% quando não há fosfolipídios presentes na dieta, mas de somente 0,13% da dieta quando o nível de fosfolipídios alcança 3%. A relevância desta informação se deve ao alto custo do colesterol para uso em dietas animais, ao contrário dos fosfolipídios que podem ser obtidos em altas concentrações através da lecitina de soja, uma fonte relativamente barata. Rações à Base de Proteína Vegetal A soja é vista como a matéria-prima de maior potencial para substituir integralmente a farinha de peixe em dietas para camarões, por apresentar boa digestibilidade, bom perfil de aminoácidos essenciais e ser a semente oleaginosa mais pro- duzida no mundo, com colheitas anuais que ultrapassam 250 milhões de ton. Cerca de ¼ deste total é convertido em farelos e tortas de soja para uso na alimentação animal. Em rações para organismos aquáticos, os produtos derivados da soja incluem fontes proteicas e lipídicas, tais como o farelo de soja (SBM), o concentrado proteico de soja (SPC), o óleo de soja e a lecitina de soja. Os dois últimos são utilizados em rações primordialmente para suprir energia digestível, ácidos graxos essenciais e fosfo- lipídios em níveis exigidos pelos camarões marinhos cultivados. Muitas rações balanceadas para camarões marinhos já apresentam níveis de inclusão de SBM (farelo de soja) de até 45%. Porém, uma fonte mais refinada de proteína da soja é o SPC (concentrado proteico de soja), no qual os carboidratos solúveis são removidos durante o processamento, havendo redução de fatores antinutricionais e concentração da proteína em até 65%. Hoje o uso do SPC é bastante reduzido em rações para camarões marinhos. No entanto, o SPC tem recentemente despertado um crescente interesse no setor produtivo devido sua maior disponi- bilidade no mercado nacional e, consequentemente, preços mais competitivos. Por estas razões, e pelo fato do Brasil ser um dos líderes mundiais na produção de soja, o SBM e o SPC foram escolhidos como os concentrados proteicos para substituição de farinha de peixe, nas pesquisas realizadas no LABOMAR. Pesquisas no LABOMAR Foram realizados quatro estudos consecutivos que foram conduzidos nas instalações de pesquisa em nutrição de organis- mos aquáticos do LABOMAR, entre abril de 2008 e setembro de 2010 (Tabela 2). Tabela 2: Características dos quatro estudos realizados no LABOMAR Nesses trabalhos, fo- ram empregados tanques de 500 L (0,57 m2 de área) que operam em área coberta e pos- suem água clara, sem alimento natural, com aeração constante e filtragem mecânica. As pes- quisas foram realizadas com juvenis do camarão L. vanna- mei estocados na densidade de 70 animais/m2 que foram alimentados duas vezes ao dia, oferecendo-se refeições aos animais em função do consumo alimentar observado. Ra çõ es p ar a ca m ar õe s m ar in ho s 29Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro, 2011 l 1: Substituição da Farinha de Peixe pelo Concentrado Proteico de Soja (SPC) O primeiro estudo objetivou uma substituição pro- gressiva na inclusão de farinha de peixe pelo SPC em dietas práticas para o L. vannamei. Neste trabalho, uma dieta basal (FPX) foi desenvolvida com 18% de farinha de peixe de Anchoveta e farinha de peixe nacional (relação de 5:1), sem conter SPC (Tabela 3). Sistema de cultivo para experimentos de nutrição com camarões marinhos do Labomar Tabela 3: Composição de dietas práticas com substituição progressiva da farinha de peixe pelo concentrado proteico de soja (SPC), sem inclusão de óleo de soja A partir da dieta basal, quatro outras dietas experimen- tais foram formuladas para substituir de forma progressiva a proteína da farinha de peixe pela proteína do SPC em 130,0% de farelo de soja, 20,0% de farinha de trigo, 3,0% de farinha de carne e ossos, 1,5% de lecitina de soja, 1,0% de glúten de milho, 1,0% de premix-vitamínico mineral, 1,0% de sal comum e 0,1% de ácido ascórbico polifosfatado 25% (C25), 50% (C50), 75% (C75) e 100% (C100). A substituição da farinha de peixe pelo SPC foi realizada assegurando-se níveis mínimos de amino- ácidos essenciais (AAE) nas fórmulas. Assim, para compensar a queda de metionina nas dietas com alta inclusão de SPC, foi realizada a suplementação com DL-metionina sintética. As dietas com SPC também continham 2,0% de farinha de lula inteira para pre- servar a atratividade e a palatabilidade. O trabalho iniciou com camarões juvenis de 4,0 ± 0,73 g (media ± desvio padrão), empregando-se 25 tanques durante 72 dias de cultivo. Dietas empregadas no estudo #1 com substituição progressiva de farinha de peixe pelo concentrado proteico de soja l 2: Níveis Mínimos Possíveis de Óleo de Peixe O primeiro estudo empregou inclusões de óleo de peixe entre 1,9 e 2,5% nas dietas contendo SPC. O óleo de peixe aporta ácidos graxos essenciais da série omega-3 para os camarões. Contudo, este ingredien- te é obtido do processamento da farinha de peixe e também sofre as mesmas limitações de oferta e preço que a farinha. O segundo experimento empregou as projeções de Tacon & Metian (2008) sobre o uso de farinha e óleo de peixe em rações de camarões para os anos de 2010, 2015 e 2020. Esse trabalho objeti- vou determinar os níveis mínimos
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