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1Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 2 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 3Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 3Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor F oi expedida, enfi m, a primeira Licença de Operação (LO) para um empreendimento de piscicultura em tanques-rede instalado em águas da União. Em outubro passado, o CPRH, órgão ambiental do Estado de Pernambuco, deu um passo histórico ao conceder a LO para a Associação Jovens Criadores de Peixe, instalada no lado pernambucano da represa de Moxotó, no município de Jatobá – PE. Essa é uma notícia espetacular, que chega para iluminar o caminho de centenas de piscicultores rumo à legalização dos seus empreendimentos. Além do mais, já deu a hora da piscicultura deixar para trás o estigma de ser uma atividade não licenciável. Os piscicultores, alguns há seis anos, aguardam a oportunidade de ter a sua licença ambiental. Estão todos de parabéns! Dessa história, vou guardar na lembrança o que disse um amigo piscicultor, diante da LO emoldurada na parede da Associação: “Jomar, é como ver uma cabeça de bacalhau... A gente sabia que existia, mas nunca tínhamos visto”. Mas não acabam aí as boas notícias para os criadores de peixe em tanques-rede. No início de dezembro, durante um seminário realizado em Paulo Afonso, pelo Sebrae e pela Bahia Pesca, o Banco do Nordeste do Brasil – BNB anunciou que não exigirá mais a licença ambiental para conceder o fi nanciamento de custeio para as pisciculturas que já estão em operação. A licença ambiental continuará, porém, a ser exigida se os fi nanciamentos se destinarem à investimentos. Para a carcinicultura, no entanto, o ano foi um dos mais difíceis. Mas, por conta dessas difi culdades, inúmeros novos conhecimentos sobre o manejo sustentável foram adquiridos, bem como foi possível conhecer melhor a dinâmica do vírus da mionecrose - IMNV. A expectativa do setor é que, com o amadurecimento do produtor, 2006 termine com resultados bem melhores que os alcançados em 2005. Um olhar sobre o ano que passou é um dos artigos dedicados ao cultivo de camarão, que publicamos nessa edição. Fica a torcida para que os carcinicultores de Santa Catarina, castigados demais pela Mancha Branca, sejam favorecidos pela sorte e pelo bom clima, para que possam contribuir com boas despescas em 2006. Março vem aí com mais uma Fenacam e, o maior evento da carcinicultura é sempre uma boa oportunidade de compartilhar informações e avaliar perdas e ganhos. E para os que pensam que o mar não está para peixe, trazemos também nessa edição um artigo sobre a larvicultura do bijupirá, que fecha a trilogia de artigos sobre esse peixe, iniciada com a engorda e seguida pelos cuidados com os reprodutores. Como das outras vezes, as informações sobre o bijupirá vêm do sangue novo que irriga o cenário da aqüicultura brasileira. O autor do artigo dessa edição, Marcell Boaventura Carvalho, é um engenheiro de pesca recém-formado, que faz parte da nova safra de especialistas na aqüicultura. Pois bem, diante de um 2005 bastante dinâmico, as minhas expectativas são as de que teremos um 2006 de boas safras. É isso que desejo compartilhar com todos. Uma boa leitura, 4 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 5Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 Edição 92– novembro/dezembro, 2005 Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Alberto Nunes Fernando Kubitza Marcell Boaventura Carvalho Marco Antonio Mathias Sérgio Melo Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. Assinatura: Fernanda Carvalho Araújo e Daniela Dell’Armi assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quan- tos exemplares ainda fazem parte da sua as si na tu ra. Basta conferir o número de créditos des cri to entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 15,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88 Projeto Gráfi co: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na SRG Gráfi ca & Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a qua li da de dos serviços e produtos anunciados. A única publicação brasileira dedicada exclusiva- mente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Mundo Novo, 822 # 101 22251-020 - Botafogo - RJ Tel: (21) 2553-1107 / Fax: (21) 2553-3487 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Capa: Arte Panorama da Aqüicultura Foto: Arquivo Panorama ...Pág 55 ...Pág 34 ...Pág 37 ...Pág 48 ...Pág 59 ...Pág 60 ...Pág 60 ...Pág 59 ...Pág 61 ...Pág 63 ...Pág 66 Í N D I C E ...Pág 61 ...Pág 25 ...Pág 26 Somos legais !!! Um cultivo de tilápias, na margem pernambucana do reservatório de Moxotó, no município de Jatobá, será sempre lembrado na história da piscicultura brasileira como sendo o primeiro empreendimento de cultivo em tanques-rede em águas da União a receber a “Licença de Operação – LO”. O potencial da piscicultura em tanque-rede como fonte de emprego e renda na região de Paulo Afonso chamou a atenção do Padre Antônio, levando-o a estudar não só o manejo dos tanques-rede, mas também a forma como tradicionalmente são administradas as associações de piscicultores da região. Na ocasião da implantação do projeto, a falta do licenciamento ambiental impedia que os associados tivessem acesso ao fi nanciamento, fato que o que levou a buscar recursos no valor de R$ 210 mil, junto à Conferência Episcopal da Itália. Leia esse caso vitorioso em artigo da página 55. ...Pág 41 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 15 ...Pág 25 ...Pág 10 Editorial Notícias & Negócios Notícias & negócios on line Impressões da Piscicultura em 2005 Aqüicultura equipara energia elétrica com a da agricultura irrigada Lançamento editorial: espécies nativas para a piscicultura Carcinicultura: Um ano de mudanças, perdas e danos Carcinicultura em busca da sustentabilidade Ibama: Estatística de 2004 Entrevista com o novo Diretor da Seap, Felipe Matias Larvicultura de bijupirá Licenciamento Ambiental: Somos legais!!! GAA: restaurantes e supermercados exigem certifi cação de camarões BNB abre crédito para a piscicultura Cresce a oferta de camarão para o mercado interno Calendário da 2ª Conferência de Aqüicultura e Pesca Para comer camarão sem medo Projeto de Lei benefi cia a carcinicultura potiguar Nova legislação garante segurança dos alimentos na União Européia Calendário Aqüícola 6 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 CESTA DE NATAL – De olho no público pau- lista e em empresas locais que entregaram cestas aos funcionários, para presenteá-los no Natal, a empresa Pescados Santa Catarina Indústria e Comércio (PESC), localizada em Itajaí (SC), criou kits especiais para as festas de final de ano. Os kits, que contêm pescados como linguado, pescada, camarões e lula, ao invés dos tradicionais peru e tender, foram concebidos em caixas térmicas de isopor e embaladas com motivos decorativos, e apresentados nas versões platinum e aureum, que variam na quantidade e variedade dos pescados. Esse é o segundo ano que a PESC usa essa alternativa para a comercialização de seus produtos. CIVA 2006 – Já está agendado para o pe- ríodo de 15 de novembro a 15 de dezembro de 2006, a quarta edição do Congresso IberoamericanoVirtual de Aqüicultura 2006, recomendado pelo Capítulo Lati- no-americano e Caribenho da Sociedade Mundial de Aqüicultura e pela Sociedade Espanhola de Aqüicultura (que participa da organização do CIVA 2006). As inscrições para participação no evento da internet são gratuitas e a entrega de trabalhos técnicos e científicos será possível até o dia 15 de julho. Informações sobre o CIVA 2006 já podem ser obtidas na página http://www. civa2006.org/parts/normas.asp WAS 2005 ONLINE – Estão disponíveis em formato de arquivo PDF na página eletrônica da World Aquaculture Society – WAS, http://www.was.org/Meetings/ SessionsByDay.asp?Meetingcode=WA2005 os resumos e também a íntegra de muitas conferências (não todas) apresentadas no último encontro anual da WAS, realizado em Bali, na Indonésia. FENACAM 2006 – Para o presidente da Co- missão Científica da Fenacam 2006, Walter M. Maia Jr, o próximo evento que se realizará entre os dias 22 e 24 de março, novamente no Centro de Convenções de Natal – RN, terá como seu maior desafio a superação das versões realizadas em 2004 e 2005. Segundo Walter, os trabalhos dedicados à cadeia produtiva do camarão marinho, representarão uma grande oportunidade para que a comunidade cientí- fica possa apresentar suas pesquisas e trocar conhecimentos sobre os avanços tecnológicos, os entraves e as perspectivas para expansão do setor. Walter Maia espera contar com a participação de todos os envolvidos com o desenvolvimento tecnológico da carcinicul- tura, através da apresentação de trabalhos técnico-científicos em forma de pôsteres ou apresentação oral. A entrega dos resumos deve ser feita até 1º de fevereiro e os trabalhos na íntegra deverão ser enviados até 15 de março de 2006. Mais informações: waltermaia@ mcraquacultura.com.br EPAGRI/FUNDAGRO – Foi aprovado o projeto “Implementação da Produção de Sementes da Vieira “Pata de Leão”, Nodipecten nodosus (Linnaeus,1758) em Santa Catarina”, subme- tido pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agro- pecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – Fundagro, e que tem como executor a Epagri e co-executor a UFSC. Para o pesquisador Gui- lherme Rupp, da Epagri/Cedap, esse projeto será um importante impulso para subsidiar a ampliação da produção de sementes de vieiras em laboratório. Estas sementes poderão ser repassadas para os produtores, viabilizando a implantação do cultivo de vieiras em escala comercial em Santa Catarina. O valor solici- tado para o projeto foi de R$ 340 mil. Além desse, um outro projeto também foi aprovado dentro da chamada pública de aqüicultura, comunicada pela FINEP: “Caracterização Genética e Melhoramento de Ostras Nativas do Gênero Crassostrea”, que foi submetido pela UFSC/FAPEU e tem a Epagri como insti- tuição parceira, juntamente com outras oito instituições nacionais. BIBLIOTECA DIGITAL - A US National Sea Grant Library, biblioteca que faz parte do Sea Grant, programa de apoio e concessão de bolsas às pesquisas marinhas (uma espécie de CNPq norte-americano) organizou recentemen- te a Biblioteca Digital de Aqüicultura, que pode ser acessada pela Internet. A biblioteca digital possui um arquivo de trabalhos que inclui a aqüicultura em geral, a aqüicultura em mar aberto, cultivos em tanques-rede e cercados, sistemas de recirculação, intensificação de cultivos, leis e regulamentações e, projetos e construção. Os trabalhos estão disponíveis em sua íntegra e muitos deles não constam de pu- blicações. A biblioteca digital parece ser uma boa fonte de informações para quem não tem acesso ao portal Capes, do governo federal. A biblioteca digital pode ser acessada na página http://nsgl.gso.uri.edu/aquadig.html. PRÊMIOS - Além de bons lucros, uma boa parceria pode também gerar bons prêmios. A empresa catarinense Bluefish Piscicultura, que produz o catfish americano (Ictalurus puncta- tus) para a exportação através da sua parceria com a Leardini Pescados, está comemorando o recebimento de dois troféus na entrega do 11º Prêmio Talentos Empreendedores, promovido pelo SEBRAE. O evento incentiva o desen- volvimento de micros e pequenas empresas, premiando as melhores de Santa Catarina nos setores de serviço, comércio, base tecnológica 7Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 e turismo. Mais de 1.400 empresas concor- reram aos oito prêmios, cabendo a Bluefish Piscicultura o Prêmio Especial Exportação além de ter sido a vencedora na Categoria Agro- negócio. A parceria da Bluefish Piscicultura com a Indústria Leardini Pescados, permite o processamento mensal 45.000 kg de catfish com média de 600 gramas, o que resulta na carga de 18 toneladas de filés que seguem mensalmente para os EUA. A Bluefish foi a primeira empresa do Brasil a exportar filés de catfish para os EUA, fato que aconteceu em 2003. Segundo o diretor da empresa, André Luiz Theiss, esta parceria da piscicultura com a indústria de processamento e o agente impor- tador tem sido fundamental para a excelente qualidade final do produto, quesito da maior importância para o comércio com esse exigente mercado norte-americano. CATFISH DO MEKONG – Em breve as lojas da cadeia norte-americana de fast food Mc Donald’s de todo o mundo, poderão ser abastecidas com o catfish proveniente do Vietnã (basa). Representantes da empresa Mazzetta, maior fornecedora de pescados para o Mc Donald’s, estiveram na região do delta do rio Mekong visitando a Agifish, grande pro- dutora de pescados, de olho na possibilidade de negociação com a cadeia de fast food, que planeja oferecer, tanto filés de catfish quanto de tilápia, em seus sanduíches Mc Fishes. EMBUTIDOS DE TILÁPIA - A Produção de embutidos à base da carne de peixe foi o tema escolhido por Ricardo Targino Moreira, da Universidade Federal da Paraíba, para a sua tese de doutorado na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp – SP. A idéia beneficia também produtores que, com isso, ganham uma alternativa para agregar valor à tilápia e, à população de regiões distantes dos centros produtores, permitindo que tenham acesso à proteína animal com alto valor nutricional. O processamento dos embutidos de peixe é similar aos praticados com carnes bovina, suína ou de frango. Contudo, por conta da consistência da carne, que possui uma maior quantidade de água, foram feitas pequenas modificações no preparo da mortadela e sal- sicha de peixe. Deu-se também preferência à gordura vegetal, ao invés da animal, além de proteína de soja, visto que um dos objetivos do preparo desse produto foi a obtenção de um alimento mais saudável. O pesquisador realizou, ainda, testes de aparência, cor, sabor, aroma e textura dos embutidos de tilápia, além de uma pesquisa sobre intenção de compra, onde se concluiu que os produtos obtiveram uma aceitação acima de 80% e que poderão ser vendidos por R$10,00 o quilo. TRUTAS SALMONADAS – Pesquisadores da Estação Experimental de Salmonicultura de Campos do Jordão (SP) apresentaram para produtores e compradores uma truta que rece- beu uma pigmentação alaranjada, semelhante à do salmão, como uma alternativa para os restaurantes que trabalham com a culinária japonesa. De acordo com a bióloga Yara Aiko Tabata, pesquisadora da Estação de Salmoni- cultura, que é ligada à Apta (Agência Paulista de Tecnologia Agropecuária), utilizando-se o processo de tripoidização, a truta salmonada pode chegar a dois ou três quilos em dois anos de engorda, com boa qualidade da carne. No Brasil, a truta vem sendo comercializada com no máximo 300 gramas de peso médio, após um ano de engorda. A salmonização é obtida com a utilização de pigmento à base de leci- tina de soja acrescentada à ração, cerca de 60 dias antes do abate. O produto final é um peixe ideal para o consumo na forma de filés crus ou cozidos. CONSUMO NOS EUA – Uma pesquisa auto- rizada pela Red Lobster, maior cadeia norte- americana de restaurantes de frutos do mar, com 679 restaurantes nos EUA e no Canadá,mostrou que quase a metade dos consumidores habituais de pescados está, hoje, consumindo mais pescados que há cinco anos atrás. Os resultados da pesquisa indicam também que três entre quatro entrevistados consomem pescados pelo menos uma vez por mês. Dois terços disseram que consomem pescados por ser uma melhor alternativa e um alimento mais saudável que a carne de boi ou de frango. Dentre os pescados, o camarão foi apontado como o item mais consumido, seguido do atum enlatado, salmão, caranguejo, catfish, atum fresco, bacalhau e moluscos. Isso explica o porquê que muitos países, mesmo pagando tarifas antidumping, insistem em ter os EUA como mercado preferencial. TECNOLOGIA PARA A INDÚSTRIA - A 3ª edição da Seafood Expo Latin América – Feira Internacional de pescados, frutos do mar e tecnologia para a indústria da aqüicultura e pesca acontecerá entre os dias 24 a 26 de maio de 2006, no Pavilhão Amarelo do Expo Center Norte, em São Paulo. O evento, organizado pela VNU Business Media do Brasil, terá este ano, dentro da feira, uma área exclusiva de Tecnologia para a Indústria da Aqüicultura e Pesca, focado em ração, ingredientes alimen- tícios, insumos, equipamentos e máquinas para processamento, embalagens, transporte e armazenagem, tanques e aeradores e produtos e serviços para a indústria naval. Na última edição da feira a visitação de aqüicultores e fa- zendeiros de água doce e marinha foi muito 8 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 grande, daí a razão de segmentar o evento criando-se esta área exclusiva que terá o nome de Seafood Tech. Em 2005 a feira recebeu a visitação de 5.125 profissionais do setor, sendo que 12% foram compradores internacionais de mais de 20 países, entre os quais Estados Unidos, França, Itália, Alemanha e Espanha. Simultaneamente acontecerá o 3° Congresso Seafood que abordará as tendências e novas tecnologias para o setor. A Seafood Expo tem o apoio da ABCC, Conepe, Abracoa, Instituto de Pesca, Seap, Univali, Sindipi, GI Pescado, MRE, Acapesp , Abrasel-SP, Acapesp e ACNielsen. Mais informações: (11) 4613-2000 – e-mail: seafood@vnu.com.br – www.seafood.com.br NÚMERO TRÊS – Se você tenta e não conse- gue completar a sua ligação telefônica para algumas cidades do Brasil, experimente colocar o 3 (três) na frente do número que pretende falar. Muitas cidades adotaram essa mudança, mas nem sempre as companhias telefônicas disponibilizam essa informação quando tentamos completar a discagem. Isso tem dificultado importantes contatos comerciais e pessoais. Assim, se você está tentando se comunicar e não está conseguindo, lembre-se de colocar o 3 na frente do número. Pode ser esse o motivo. MEDICAMENTOS – A Schering-Plough do Brasil, uma das principais indústrias de medi- camentos veterinários do país, deverá iniciar a importação de medicamentos voltados para a piscicultura e à carcinicultura, a partir do primeiro trimestre de 2006. Para isso, a empre- sa está investindo cerca de R$1 milhão, com a expectativa de que esta linha de produtos venha a representar algo próximo de 3% do faturamento anual da empresa. Deverão ser trazidos dos EUA e da Europa, antiinflama- tórios, antibióticos e antiparasitários para tilápia, camarão e salmonídeos. MEDIDA PROTECIONISTA? – A Associação Catarinense dos Criadores de Camarão (ACCC), divulgou um comunicado alertando para o comércio de camarões suspeitos de serem portadores de enfermidades, provenientes de Estados das Regiões Sudeste, Norte e Nor- deste, o que contraria a portaria estadual Nº 026/2003, que proíbe a entrada de camarões in natura no Estado. Para entrar no mercado catarinense, os camarões precisam estar cozi- dos e embalados. Para a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), a medida é uma barreira comercial contra o produto proveniente do Nordeste. Na opinião da Bahia Pesca, trata-se de uma retaliação comercial e não sanitária, uma vez que o Brasil exporta camarão in natura para diversos países sem nenhuma restrição. CAMARÃO DE ÁGUA DOCE – Desde 1999 que o camarão de água doce Macrobrachium rosen- bergii vem sendo uma das principais espécies alvo para o desenvolvimento das atividades de aqüicultura, para o ministério da pesca do Vietnã. Recentemente, o governo deste país implementou uma política que irá permitir a conversão de áreas improdutivas para o plantio de arroz em fazendas de cultivo de camarões de água doce. A produção atual dessa espécie é de pouco mais de 10.000 toneladas anuais, mas com os novos incentivos do governo vietnami- ta, espera-se que a produção alcance 60.000 toneladas no ano de 2010. No Brasil, na região do Baixo São Francisco, também existem mui- tas áreas outrora utilizadas para o plantio de arroz que, por conta da baixa competividade do produto, se encontram agora desativadas. A CODEVASF vem há muito tempo incentivan- do o uso dessas áreas para a piscicultura e, a exemplo do Vietnã, o M. rosenbergii também se mostra como uma boa opção. CÂMARA DOS DEPUTADOS - Itamar de Paiva Rocha, presidente da ABCC filiado ao PMDB- RN, está se candidatando a Deputado Federal. Segundo Itamar a Aqüicultura vem há muito cogitando e necessitando de uma representa- ção comprometida com a defesa dos direitos e interesses setoriais na Câmara dos Deputados, tema esse, que vem sendo discutido no âmbito da ABCC, ANCC(RN) ACCC(CE) e ACCP (PI), es- pecialmente em épocas de acirramento de con- flitos com o IBAMA, MMA, MPF. Para Itamar, que acredita ter chances reais de sucesso, essa candidatura apesar de ter uma base estadual, tem uma conotação muito mais ampla, porém só se viabilizará se tiver o apoio de todos os segmentos envolvidos com a Aqüicultura e Pesca no Brasil. O Rio Grande do Norte conta atualmente com 8 (oito) vagas para Deputado Federal. O Estado possui 33 Municípios onde se desenvolve a carcinicultura, cujo número de eleitores (1.200.000) representa 55% do total de votos do Estado, sendo que cerca de 450.000 se encontram no município de Natal. A candidatura conta com o apoio do Sindicato das Empresas de Pesca do Rio Grande do Norte, bem como dos pescadores, representados por Colônias e pela própria Federação. Contatos com o comitê poderão ser feitos através do e-mail abccam@abccam.com.br PEIXES NATIVOS – Será realizada na cidade colonial de Morélia, no México, em novembro de 2006, a 1ª Conferência Latino-americana sobre Cultivo de Peixes Nativos e 3ª Conferên- cia Mexicana sobre Cultivo de Peixes Nativos, onde deverão ser discutidas a situação atual e o futuro potencial da maioria das espécies e dos importantes grupos para o desenvolvi- mento da aqüicultura na América Latina. A conferência, que terá a duração de três dias, tem o apoio da Fundação Darwin dentre outras importantes instituições. Mais informações e detalhes sobre a conferência, podem ser obtidos na página http://www.aqua.stir. ac.uk/GISAP/conference/index.htm. CUBA LANÇA ESTIMULANTE – Um novo produto desenvolvido em Cuba, denominado Acuabio 1, demonstrou grande eficácia como estimulante do crescimento, bem como forta- lecedor do sistema imunológico de espécies utilizadas na aqüicultura. Testes realizados em laboratório comprovaram que o uso desse novo produto, aumentou a sobrevivência de larvas de camarão que durante os experimentos, tiveram um crescimento em peso e tamanho de cerca de 130%, conforme foi apresentado no Congresso Internacional de Biotecnologia 9Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 Habana 2005, realizado na capital cubana de 27 de novembro a 2 de dezembro. Já os cama- rões adultos tratados com o mesmo produto tiveram um aumento de peso e tamanho de 40%. Os resultados comprovam a eficiência do produto, que já se encontra em processo de introdução no programa nacional cubano de aqüicultura, que é patrocinado pelo Ministério da Indústria Pesqueira. Dentre as vantagens da utilização do novo produto, ressalta-se sua ação no reforço do sistema imunológico,além da visível homogeneidade no tamanho dos animais, que é alcançada com a sua utilização, informou Mario Pablo Estrada, pesquisador do Centro de Ingeniaría Genética y Biotecnología (CIGB), situado en la capital cubana. O Acuabio 1 também está sendo testado em tilápias, carpas e outras espécies de peixes. A grande novidade deste produto está no fato de que os seus princípios ativos não se baseiam no em- prego tradicional de fungicidas e antibióticos, mas numa combinação de proteínas. ANÁLISES DE SOLOS - A produtividade na aqüicultura, está intimamente ligada à saúde do meio ambiente de cultivo. As condições predominantes para o bom desenvolvimento de espécies aquáticas incluem essencialmente a qualidade da água e também a dos solos subjacentes. Enquanto a água dos viveiros de criação normalmente pode ser renovada regularmente e aerada quando necessário, os solos permanecem com a história e herança dos cultivos anteriores. Além da granulome- tria, que pode auxiliar a calcular as taxas de percolação e o tempo de residência da água, outras análises do solo, como o teor de matéria orgânica, o pH, o potencial redox, porosidade, densidade real e densidade aparente, são im- portantes para apoiar a decisão de escolha de terras apropriadas para o desenvolvimento da atividade, além de orientar a melhor gestão do próximo ciclo de cultivo. Para tanto, os inte- ressados em realizar avaliações desta natureza em solos de viveiros de criação de peixes e camarões podem agora contar com o LAQUA- SIG - Laboratório de Aqüicultura e Sistemas de Informação Geográfica da Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, sob coordenação dos professores Philip C. Scott e Ricardo G. Pollery pelos emails: philip@laquasig.bio.br e pollery@usu.br ENGENHARIA DE PESCA – Será realizado em fevereiro de 2006, o vestibular para o curso de engenharia de pesca na Fundação Educacional da Região dos Lagos (FERLAGOS), localizada em Cabo Frio, no Rio de Janeiro. Os interessa- dos podem obter informações a respeito pelo telefone (22) 2645-6100, ou diretamente com o responsável pelo curso, o engenheiro de pesca Modesto Guedes Ferreira Junior, pelo e- mail mgfjunior@globo.com. Da mesma forma, informações ainda não confirmadas indicam que a Universidade Federal de São Paulo também está criando o curso de engenharia de pesca, que deverá ser ministrado na cidade paulista de Santos. DOMÍNIO CHINÊS – De acordo com os mais recentes números da FAO (The State of Food and Agriculture 2005 - SOFA 2005), a produção mundial de pescados provenientes da aqüicul- tura representou em 2003, 32% da produção total mundial de pescados (considerando pesca e aqüicultura), ou seja, das 132,5 milhões de toneladas de pescados produzidas em todo o mundo em 2003, 42,3 milhões de toneladas foram provenientes da aqüicultura marinha e de água doce. Grande parte do crescimento da participação da aqüicultura no contexto mundial da produção de pescados, se deve à China, que segundo o documento da FAO, foi responsável no ano de 2003, por 2/3 de toda a produção mundial de pescados proveniente da aqüicultura, ou o equivalente à 28,9 milhões de toneladas de pescados. EMBAIXADORA DA ONU – A princesa Máxima, da Holanda, embaixadora da ONU na área de microcrédito, esteve no final do mês de novembro visitando pequenos maricultores de Santa Catarina. Formada em economia, a esposa do príncipe herdeiro da Holanda, teve encontros com autoridades, representantes de instituições financeiras e ONG’s, visando ampliar o acesso de pequenos empreendedores aos microfinanciamentos. CAMARÃO NA EUROPA - A redução das taxas de importação dos países da União Européia para camarões frescos de 12% para 4,2% e, para camarão processado de 20% para 7%, deverá desviar parte do camarão do mercado norte-americano para o mercado europeu. Por outro lado, a devastação causada pelos vários furacões que atingiram a costa norte- americana nos últimos meses, também poderá causar impactos no abastecimento interno de camarões nos EUA, decorrendo na elevação dos preços no mercado norte-americano. A oferta de camarões na maioria dos países produtores é considerada de moderada à boa. Em 2005 ocorreram algumas alterações na composição dos fornecedores de camarão para os países da União Européia, com a China se tornando o principal fornecedor para a Espanha, seguido do Brasil, que perdeu espaço em função dos problemas com enfermidades. Apesar da re- dução do volume das importações, a Espanha, continuou a ser o principal importador de camarões da União Européia. De toda forma, as importações européias provenientes de pa- íses asiáticos, principalmente China e Vietnã, aumentaram. As importações de camarão da França, na primeira metade do ano, foram similares aos níveis recordes alcançados em 2004 e o Brasil foi o principal fornecedor de camarões congelados para este país. A França passou a importar também de outros países como Equador, Indonésia e Índia. Na Itália, o volume de camarões importados cresceu cerca de 5% na primeira metade de 2005 e as estatísticas indicam que o Equador conso- lidou sua posição como principal fornecedor de camarões congelados para este país. A Alemanha aumentou as suas importações de camarão em 16% no mesmo período, tendo a Índia como seu principal fornecedor. De acordo com a a Globefish /FAO, durante 2005, na Espanha, França e Reino Unido, os preços de importação se mantiveram estáveis, enquanto na Itália e Alemanha, ocorreu uma queda nos preços unitários médios para o camarão importado pelos países membros da União Européia. 10 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 Para fazer parte gratuitamente da Lista Panorama-L vá ao site www.panoramadaaquicultura.com.br clique em Lista de Discussão e siga as instruções. De: Fábio Sussel sussel@aptaregional.sp.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Infiltração de Água no Solo Necessito de informações referentes a utilização de algum produto que mini- mize as perdas de água por infiltração no solo. Considerando uma represa de 10.000 m2 (solo mais pra argiloso do que para misto) a qual não pretendo utilizar lona ou Gel Membrana. Alguém já ouviu falar do uso de esterco orgâ- nico (formação de colóides que tapam os poros do solo)? Ou do uso do Gesso Industrial? De: Eduardo Turra geneforte@geneforte.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Infiltração de Água no Solo Nossa experiência com esterco bovino é muito boa. Também em situações pa- recidas com a sua - solo mais argiloso que arenoso, mas viveiros novos - uma camada pequena se mostrou suficiente. Usamos cerca de 3 caminhões (10 a 15 m3/caminhão) de esterco para forrar o fundo e parte do talude de um viveiro de cerca de 2.000 m2. O interessante é espalhar uma camada, gradear mis- turando com os primeiros 10-20 cm do solo e recompactar com o próprio peso do trator que fez o serviço ante- rior (logicamente levantando a grade). Tínhamos viveiros que infiltravam 40 cm por dia e passaram a 10 cm no dia seguinte ao serviço. Com o passar das semanas, não muitas, 2 cm é o máximo que se infiltra. O preço para nós depen- deu da distância da granja leiteira, pois o frete encarece. Pagamos R$ 150,00 pelo esterco e R$ 100,00 pelo frete (R$ 250,00 / caminhão, distância de 25-50 km). De: Jorge Luiz Vieira Cotan jlcotan@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Reprodução de Tilápias Possuo um pequeno laboratório de reprodução de tilápias para incubação artificial dos ovos e aconteceu um fato interessante que não sei se é normal. Ocorre que fazemos a verificação de desovas de 13 em 13 dias quando sepa- ramos as fêmeas que desovaram após a retirada dos ovos das mesmas. Estas são colocadas em caixas d’água separadas dos machos para descansarem durante os 13 dias. Quando fomos pegar estas fêmeas para juntá-las com os machos, verificamos a presença de ovos (não fecundados, brancos) na boca de algu- mas. Semprepensei que a presença do macho fosse necessária para ocorrer a desova da fêmea, mas parece que isto não é verdadeiro. Qual a explicação? A minha dúvida é que destas fêmeas foram retirados os ovos da boca e levados para incubação. Se existissem óvulos em maturação na fêmea estes não deveriam ser reabsorvidos pelo seu organismo já que não haveria estímulo para desova sem a presença dos machos? De: Ricardo Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Reprodução de Tilápias No mundo, as tilápias estão divididas em 3 gêneros, que se distinguem ba- sicamente pelo comportamento repro- dutivo. No gênero a que pertence a tilápia nilótica (Oreochromis), o macho prepara um ninho permanente, que é visitado sucessivamente pelas fêmeas em ovulação (igual com os ovos em fase de liberação no ovário). Com a chegada da fêmea preparada, ocorre o comportamento de corte sexual durante algumas horas para facilitar a ovulação e estimular a postura (desova). Após a desova, a fêmea guarda os ovos na boca e vai embora. O macho então, se prepara para outra, portanto, o ciclo de ovulação da fêmea não é controla- do pela presença do macho. O macho apenas ajuda a fêmea a se excitar para terminar a ovulação e efetuar a deso- va. Outro ponto interessante sobre o gênero Oreochromis é que o macho nem precisa lançar esperma sobre os ovos no ninho para fecundá-los. Ao invés disso, a fêmea deposita os ovos no ninho e imediatamente os recolhe com a boca. A seguir, vai até a papila genital do macho e dali recolhe o sêmen que vai fecundar os ovos dentro da boca. Isto garante uma elevada eficiência na fecundação dos ovos. Também explica porque o macho de tilápia nilótica pro- duz uma quantidade tão pequena de um sêmen tão ralo (diluído), e ainda assim, dá conta de fecundar todos os ovos. E explica ainda porque os ovos não-in- seminados de tilápia podem ficar um longo tempo imersos em água, e ainda se manterem aptos a serem fecundados (mais de 5 minutos, segundo meus 11Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 experimentos). Ou seja, o macho tanto pode fecundar os ovos no ninho, como pode cortejar antes a fêmea e esperar o resultado. Portanto, a presença de ovos na boca de suas tilápias sem macho é natural, pois a única etapa que faltou do ciclo reprodutivo foi a fecundação. Quando os ovos são removidos da boca da tilápia, o ciclo de maturação da nova batelada de ovos é reiniciado imediatamente na fêmea. Se tal prática é realizada sob temperaturas elevadas (ambiente tropical), uma tilápia pode produzir bateladas sucessivas de ovos com intervalo de 12 a 16 dias, mas já foi constatado intervalo experimental de apenas 7 dias. Obviamente, esses intervalos curtos não são sustentáveis em laboratório comercial, se a fêmea não tiver tempo suficiente para se alimentar e repor os nutrientes usados para gerar os ovos. Por outro lado, indica a pos- sibilidade de usar intervalo (= licença maternidade) mais curto se (a) a fêmea for alimentada com ração de excelente qualidade, (b) a temperatura for mantida constantemente elevada, e (c) na tria- gem, os peixes sejam manipulados com cuidado, para passar logo o estresse e voltarem a se alimentar rápido. De: Marco Antonio Pintaudi ranaiim@widesoft.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Peixes ornamentais Gostaria de saber se, como negócio, é interessante a compra de alevinos de peixes ornamentais para deixá-los crescer e depois comercializá-los nas casas de aquariofilia do ramo. Tenho uma ranicultura com tanques ociosos e penso numa maneira de usá-los. Se for viável, onde encontrar endereços de fornecedores. De: Manuel Vazquez Vidal Junior mvidal@uenf.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Peixes ornamentais A cadeia de produção de peixes orna- mentais, no Brasil, não segue o mesmo modelo de diversificação da cadeia de peixes de corte. A figura do produtor de alevinos é inexistente, o que afeta até os sistemas empregados. Fora do Brasil é muito comum o uso de hapas (tanques-rede), pois é viável a aquisi- ção de alevinos. Nos bolsões ou pólos de produção de peixes ornamentais (Grande Recife, Região de Muriaé, Região de Mogi, etc.), existem alguns casos de produtores que possuem uma capacidade de produção de alevinos superior à de engorda, e que formam parcerias com um ou mais sitiantes, fornecendo o alevino e garantindo a venda aos atacadistas. Falando, parece uma integração, mas é algo bem mais informal e de baixa sustentabilidade por diversos motivos, mas o principal é que os peixes de maior valor agregado são mantidos em engorda no produtor, que faz a reprodução. Nos parceiros são engordados os peixes de baixo valor comercial. Dependendo do número de tanques que você tem disponíveis (e do volume dos mesmos), você poderá pensar em criar algumas espécies que desovam naturalmente e cujos exemplares chegam ao tamanho comercial rapidamente. No grupo dos ciclídeos africanos temos mui- tas espécies com esse perfil (supondo que seus tanques sejam de concreto, fibra, alvenaria etc). De: Tarciso Lopes chef_lopes@terra.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Linhagem Híbrida em Or- namentais Prezados Amigos e Colegas da Panora- ma, sou um pequeno criador de peixes ornamentais, e me dedico especial- mente aos Pterophylum scalare “Acará Bandeira “. Gostaria de desenvolver uma nova linhagem com um padrão de cor e formato diferenciado do que existe atualmente no mercado. Alguém da lista poderia me informar como se desenvolve esse processo seletivo, e como se obtém estes híbridos? De: Ernesto Medeiros ernestomedeiros@gmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Linhagem Híbrida em Ornamentais Também sou um pequeno criador de ornamentais, e atualmente me dedico a reprodução de Pterophylum scalare, nos- so popular Acará Bandeira, ou Bandarra, como é conhecido entre os piabeiros do Rio Negro. Primeiramente, gostaria de dizer que, comercialmente, o melhor é você trabalhar com as linhagens mestiças, principalmente as variações de marmoratos, que vendem bem e são fáceis de reproduzir e engordar. Pode-se trabalhar também com matrizes de li- nhagens mais raras, mas devido aos cus- tos, é preciso avaliar bem os objetivos. Se for de pesquisa e desenvolvimento de técnicas e aprimoramento genético, tudo bem, mas se for com finalidades comerciais, é preciso ter uma certeza do mercado consumidor, de preferência 12 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 grandes compradores como as lojas de São Paulo que vendem muito, como Ecoanimal, Aquário Itaquera, dentre outras. Isso porque o valor agregado desses peixes é alto, e para compensar o trabalho, você precisará vendê-los por um preço que compense, penso em algo em torno de R$ 5 a 10 por peixe. Durante o processo reprodutivo, tenho como procedimento padrão a separação de peixes com características interes- santes, como cauda em véu, cabeça e corpo laranja, marmoratos uniformes (50% branco e 50% preto), partes do corpo em determinada cor, formato do corpo, etc. Isso no aspecto aparência. A característica formato do corpo me- rece aqui um comentário, pois tenho observado que encontramos nos peixes atuais as características dos ancestrais P. altum (corpo pequeno e barbatanas verticais e altas), leopoldi (corpo ova- lado), scalare (corpo grande). Paralelo a isso, observo também os alevinos que se destacam no crescimento em relação aos demais, pois a vitalidade e rápido crescimento é sinal de melhoramento genético e não devem ser desprezados na seleção de novas matrizes. Enfim, o ideal é a conciliação desses dois as- pectos. Se você quiser ganhar tempo, a solução é partir para a compra de matrizes já selecionadas, têm alguns criadores no Brasil e no exterior que podem te atender. Como exemplo, posso te indicar um site nos Estados Unidos que se especializou nos Orange Koi Angelfish, um Acará de corpo laranja que beira os 100%de cor, são lindos, mas comercial- mente falando não sei se são viáveis, pois as matrizes são caras, da ordem de US$100 o casal. O site é: www.mellowa- quatics.com . Não vou entrar nos detalhes de genética pois não me aprofundei ainda nesses estudos, mas pode-se ainda fazer uma análise de um ponto de vista cien- tífico. Os especialistas em ornamentais, como o Manuel Vidal, podem ter alguma informação a acrescentar. De: Daniel Ashidate dashidate@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Tilápia x meio ambiente Gostaria de saber se alguém conhece algum trabalho científico que diz res- peito ao cultivo de espécies exóticas que causam ou não problemas ambien- tais. Meu interesse maior é com relação ao cultivo de tilápias e saber se elas realmente “destroem” o meio ambiente natural. Caso não tenha, pode ser tam- bém outras espécies cultivadas como camarão, outros peixes, etc. De: Ricardo Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia x meio ambiente Ironicamente, algumas espécies de peixes brasileiros são as que efetiva- mente causaram problemas no meio ambiente quando foram transplantadas para outras bacias do próprio Brasil. São elas o tucunaré, a pescada-do-Piauí e as piranhas. Estes são os monstros verdadeiros, e que continuam a se espalhar sem controle. A pior espécie de caramujo aquático a invadir o mun- do é o nosso comum aruá (Pomacea), que dizima toda a flora aquática dos lagos onde se estabelece. Já dentre as plantas aquáticas existentes no mundo, duas plantas brasileiras são as que mais causam problemas ambientais pelo mundo: o aguapé (baronesa) e a elódea. Por tais critérios, os outros países do mundo é que deveriam temer o Brasil como local gerador de mons- tros aquáticos invasores. Portanto, não é o fato da espécie ser originária de fora das fronteiras políticas do país (“exótica”) que a torna problemática em potencial, e sim, as características biológicas e ecológicas particulares a cada espécie. Por exemplo, a piranha e o pacú são irmãos genéticos, pertencem à mesma subfamília, mas as conseqüên- cias ambientais de ambos são opostas. A família de peixes a que pertence a tilápia - os peixes Ciclídeos - tem uma ampla variedade de espécies nativas no Brasil. Dentre estas, os variados carás e o tucunaré. Devemos lembrar que o pre- dador voraz tucunaré é irmão genético do pacato acará bandeira dos aquários, e ambos são “nativos” daqui. No caso específico da tilápia nilótica, esta é uma espécie filtradora (que se alimenta de fito e zooplâncton) e onívora, sem especialização para predação de outros peixes. Portanto, o manejo correto da “exótica” tilápia deveria representar um risco muitíssimo menor do que o do “nativo” tucunaré (que era amazônico, mas já está chegando na Argentina após entrar nas grandes bacias). A quase totalidade dos ambientalistas é bem intencionada, e deseja sincera- mente proteger a natureza (tal como a maioria dos membros desta lista). Porém, os ambientalistas se baseiam nas informações que chegam até eles, para decidir as suas ações. O problema é que, tanto aqui como na América do Norte e na Europa, os aqüicultores não são organizados o suficiente para gerar 13Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 informações e mídia que mostrem o seu lado. Justamente para atuar nessa área é que, há vários anos, foi fundada a ONG americana denominada Global Aquaculture Alliance (Aliança Global da Aqüicultura), mas que se dedica principalmente a defender internacio- nalmente a imagem da carcinicultura, e ainda representa uma gota d´água no oceano. Precisaríamos agir localmente para esclarecer a mídia e a sociedade (inclusive reconhecendo os problemas onde eles realmente existam). De: George Yasui yasui_hokudai@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia x meio ambiente Apenas complementando, acho que o Tsukamoto tem razão quanto ao po- tencial ambientalmente impactante das nossas espécies. Só para se ter uma idéia, em dois simpósios realizados na Ásia, para a minha surpresa, houve uma grande discussão sobre o nosso conhecido “cascudo” (Hypostomus sp.), que tem se propagado rapidamente pela China e outros países asiáticos, e também por alguns países da Améri- ca Central e Norte. Há relatos de que esses “cascudos” prejudicam a desova de diversas espécies de peixes, inclu- sive cecídeos da América Central e do Norte, os quais realizam incubação no substrato. Entretanto, não sei até que ponto isso é verdade. De: Paul Johnson paulj-bel@uol.com.br Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: HDPE liners - revestimentos de polietileno de alta densidade Alguém tem alguma experiência com a ocorrência de superaquecimento da água de tanques externos devido a uti- lização de revestimentos de polietileno de alta densidade (HDPE liners) de cor preta? Estou no Nordeste do Brasil e planejando revestir os tanques, porém diversos produtores locais declararam que ao tentar revestir tanques sem um fundo de terra, a água dos tanques esquentou tanto que chegou a cozinhar os camarões. Algum comentário/experi- ência com esses revestimentos? De: Giovanni Chasin giovanni_chasin@yahoo.com.mx Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Re: HDPE liners - revestimen- tos de polietileno de alta densidade Os problemas mais comuns com a uti- lização dos revestimentos HDPE em tanques são: 1) esses revestimentos são difíceis de instalar, devido à sua rigidez. Os revestimentos de PVC tra- balham melhor; 2) são muito fáceis de romper quando utilizados para o revestimento de tanques de concreto ou de cimento. A temperatura não é problema para tanques revestidos com HDPE para a criação de camarões, no entanto, existem inúmeros materiais baratos destinados a cobertura de tan- ques, visando reduzir a incidência solar direta. Você está pensando em revestir tanques de larvicultura ou viveiros de engorda? De: Oscar L. Hennig ohennig@lava.net Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Re: HDPE liners -revestimentos de polietileno de alta densidade Temos tanques e viveiros de engorda revestidos com HDPE aqui em Kona (Ha- vaí), sem nenhum problema. De fato, a maior parte dos tanques que temos, são revestidos com um HDPE espesso e alguns deles estão instalados dentro de estufas. De: Durwood M. Dugger duggerdm@bellsouth.net Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Re: HDPE liners -revestimen- tos de polietileno de alta densidade A não ser que seus tanques fiquem muito rasos, aparentemente não deverá ocorrer nenhum problema. Na Flórida usamos revestimentos de cor preta (HDPE e EDPM), sem nenhum proble- ma de aquecimento. Esta afirmação admite que a água dos seus tanques e a água de abastecimento estarão na mesma salinidade. A única vez que tive algum problema com revestimento de cor preta, foi há 25 anos, quando eu estava adicionando água doce a um re- servatório de água salgada e não estava misturando a água doce efetivamente com a água doce que estava sendo adi- cionada. Neste caso, você tem um efeito de estratificação termal, que cria um índice refrativo diferencial entre a água doce e a água salgada. Esse diferencial é bastante eficaz (usado em alguns tipos de coletores de aquecimento solar) na absorção e retenção de calor nos tanques e aí sim, você poderá ter problemas de superaquecimento, como eu tive em meu reservatório. Ele possuía 1 metro de profundidade e 5 metros de diâmetro. O tanque estava com seu volume pela metade com água salgada que eu pretendia diluir para 15 ppt de salinidade. Eu adicionei a 14 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 água doce antes de escurecer e deixei por um dia. Na tarde seguinte, quando cheguei para medir a salinidade final do tanque, minha caneta que estava no bolso de minha camisa caiu dentro do reservatório. Sem pensar meti a mão para apanhá-la e hoje dou graças à Deus por não ter mergulhado, pois queimei a minha mão. A água do tanque estava com 71ºC!!!Assim, a não ser que você esteja planejando trabalhar com siste- ma de água clara e a não ser que você adicione água com baixa salinidade a tanques ou viveiros contendo água com salinidade mais alta e sem homogenei- za-las adequadamente, seu revestimen- to preto não deve trazer problemas, especialmente após o desenvolvimento de bloons de algas. De: Neal Van Milligen cavm@aol.com Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Alternativas para fazendas de camarão Quais são os usos mais populares para fazendas de camarão que encontram-se desativadas? Tenho visto inúmeras espé- cies de peixes tolerantes à água salgada sendo criados. Existem usos alternativos que sejam particularmente atrativos? De: Alexandre Wainberg piau.nat@zaz.com.br Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Re: Alternativas para fazen- das de camarão Eu engordo ostras (Crassostrea rizo- phorae) em bandejas flutuantes dentro dos viveiros de camarão (L. vannamei). A densidade das ostras não é alta o suficiente para alterar a qualidade da água. Estamos ainda começando a in- trodução das ostras, com somente 1/m2 (400.000/40 hectares), mas esperamos alcançar densidades de 8-10/m2. De acordo com o aumento da produção, é claro, os efeitos sobre a qualidade da água irão aparecer. Atualmente eu não tenho uma resposta para o tema ostra/ qualidade da água. Vamos aguardar o que irá acontecer no futuro. De: Alex Wong alexwongnl@yahoo.com Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Re: Alternativas para fazen- das de camarão Posso sugerir a engorda de pepinos do mar (holotúrias). Existe um grande mercado para esses organismos, que podem “limpar” o fundo dos viveiros! As holotúrias podem ser comercializa- das por excelentes preços, duplicando os benefícios para os produtores de camarão. De: Jorge Jalil jalilperna@yahoo.com Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Re: Alternativas para fazen- das de camarão Você tem alguma experiência com o cultivo de holotúrias? Quais os parâ- metros ideais de cultivo para esses organismos? De: Dipi Ghumman getdipi@yahoo.com Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Re: Alternativas para fazen- das de camarão Os pepinos do mar possuem uma grande demanda nos países asiáticos, mas a questão é: você ou alguém mais tentou esse cultivo antes? E quais as vantagens e desvantagens com respeito a produção de camarões, visto que o nosso trabalho primário é a produção de camarões de forma segura e econômica. Estou bas- tante interessado nestes policultivos, mas não temos informações suficientes. O método de produção em policultivo é muito importante e espero que alguém possa esclarecer melhor. De: Leland Lai lelandlai@aquafauna.com Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Re: Alternativas para fazen- das de camarão Os pepinos do mar são amplamente cultivados na China, mesmo na região norte, onde são criados em raceways em instalações cobertas. Um detalhe a ser considerado, é a necessidade de fundo arenoso e desta forma, os tra- dicionais viveiros de terra não devem funcionar bem. Mercados premium são para animais vivos, que são comerciali- zados e transportados de caminhão por quilômetros, para os grandes mercados. Mercados de menor qualidade são para estoques de animais desidratados que visam o consumidor final ou a expor- tação. O cultivo de garoupas é mais evidente no sul da China e atualmente é a principal alternativa para algumas fazendas de camarão. Novamente os cultivos alternativos são na maioria das vezes voltados para a exportação. 15Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 Impressões da Impressões da Piscicultura Piscicultura em 2005em 2005 Por: Fernando Kubitza, Ph.D. (Acqua & Imagem, Jundiaí-SP) fernando@acquaimagem.com.br O bviamente que não fui capaz de testemunhar todos os acontecimentos que marcaram a piscicultura em 2005. Vocês nem imaginam como este nosso país é imenso. Imenso não apenas em sua extensão, mas também na diversidade de espécies, de recursos naturais, empreendimentos, experiências pessoais e condições sociais e políticas que moldam o cenário da piscicultura no Brasil. Infelizmente sou apenas um. Gostaria de poder ser mais quando o assunto é sair por aí conhecendo as genialidades e equívocos, sucessos e tropeços, persistências e rendições dos perso- nagens e empreendimentos que dão forma e cor à face da piscicultura brasileira. Mas mesmo assim, dentro dos limites do que pude presenciar ou apreender da piscicultura no ano que passou, deixarei registradas aqui as minhas impressões. A virada de página da tilapicultura no Brasil O início de 2005 me pegou em meio à safra de alevinos da Indústria Brasileira do Peixe (IBP Ltda), sediada em Itupeva-SP. A IBP começou a ser idealizada em 2003 e desde seu princípio se espelhou em um modelo de integração semelhante ao adotado pela avicultura. Considero-me um privilegiado por ter, junto a um grupo competente de empresários e técnicos, contribuído com a estrutura- ção da produção de alevinos e do sistema integrado de produção de Matrizes de tilápia vermelha da IBP Ltda. (Itupeva, SP) Tanque com alevinos de tilápia vermelha da Indústria Brasileira do Peixe Ltda. (Itupeva, SP) Baixo São Francisco I - Seminário de Marketing da Tilápia em Propriá-SE Reafi rmando que a importância da tilapicultura não é res- trita ao Sudeste e Sul do país, em março de 2005 foi realizado o primeiro seminário sobre qualidade e marketing da tilápia do Baixo São Francisco, região que se estende do reservatório de Xingó à foz do Rio São Francisco (áreas da Bahia, Alagoas e Sergipe). tilápias vermelhas, além do prazeroso trabalho de capacitação da equipe de técnicos e funcionários da IBP. Privilégio ainda maior foi quando percebi que a IBP, mesmo ainda modesta em sua pro- porção, somava esforços a outros empreendimentos de São Paulo com foco na tilapicultura industrial no país e na abertura de novos mercados para os produtos da tilápia. Uma virada de página no setor, impulsionada pela atuação de empresas como a Tilápia do Brasil (ressaltada na edição 91 da Panorama da AQÜICULTURA), da Geneseas e do Frigorífi co Santa Cecília, todos em São Paulo. Da Mar & Terra, no Mato Grosso do Sul e da Netuno Pescados, em Pernambuco, além de muitas outras empresas país afora. Re- gistre-se o salto nas exportações brasileiras de fi lés de tilápia para os Estados Unidos e se reconhecerá a dimensão destes esforços. De modestas 8 toneladas exportadas em 2001 para 323 toneladas em 2004 e, seguramente, mais de 900 toneladas de produtos ex- portados em 2005, particularmente na forma de fi lés. 16 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 Além da apresentação de palestras sobre qualidade e pro- cessamento da tilápia, associativismo e dos resultados preliminares do contrato de trabalho fi rmado entre a INFOPESCA e a CODE- VASF, um dos destaques do seminário foi o anúncio por parte da empresa Netuno Pescados de que entraria no mercado da tilápia, particularmente visando a exportação. De fato, a Netuno consoli- dou sua intenção inicial e vem comprando tilápia em praticamente todo o Nordeste. Tilápias oriundas de Alagoas sendo descarregadas no Mercado do Carlito, em Fortaleza, um importante endereço da tilápia cultivada no Estado do Ceará I Encontro Nacional dos Piscicultores em Águas Públicas Realizado em Buritama-SP, o encontro reafi rmou a con- solidação da tilapicultura industrial em tanques-rede nos grandes reservatórios do oeste paulista. O evento contou com a participação de produtores e técnicos de diversos estados (notadamente São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, e alguns participantes do Nordeste), de diversos fabricantes de rações e algumas empresas de equipamentos. O objetivo central do encontro foi o de buscar soluções para o impasse em torno do licenciamento ambiental das pisciculturas em águas públicas, particularmente em tanques-rede. Além disso, um dos grandes destaques foi a visita ao frigorífi co e a uma das unidades de tanques-rede da empresa Tilápia doBrasil. Mais um pouco de tilápia, desta vez no Ceará Posso mesmo dizer que se ainda não me tornei um cidadão cearense foi por mera incompetência de minha parte. Do Ceará é onde estou escrevendo agora. Desde julho tenho mantido uma rotina freqüente de viagens a Fortaleza, que merece ser distinguida como a Capital Nacional do “Cará” Tilápia. Não há em qualquer parte deste país um povo tão comedor de tilápia como o cearense. Como dizem meus colegas do Nordeste, “pense num peixe gos- toso...”. A gôndola do Hipermercado Extra no Shopping Iguatemi abarrotada com tilápias, a maioria acima de quilo. Seguramente, mais de 50% da quantidade dos peixes ali expostos eram tilápias, o que demonstra o poder da aqüicultura na oferta de pescado no Estado. É tilápia que não acaba mais. 17Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 Loja especializada na venda de tilápia viva em Forlateza, CE, recebe um carregamento pexies Certamente sobrará pouco espaço para aqueles produtores que não se aprimorarem na gestão técnica e econômica dos seus cultivos. Serão necessários esforços para ampliar o mercado local, atingir outros grandes mercados no país e seguir rumo à exportação. E isso demandará organização do setor e investimentos na indus- trialização da tilápia, a exemplo do que vem acontecendo na região Sudeste do país. Algumas empresas do Brasil e do Exterior já estão atentas a esta necessidade e oportunidade. Uma delas é a Pecém Agroindustrial (do grupo Ypioca), que já intensifi cou sua produção de alevinos e juvenis para atender a demanda dos produtores do Ceará e de estados vizinhos. Além disso, está se preparando para investir na industrialização da tilápia no Ceará, de olho em outros nichos do mercado local e na exportação. Vista geral da fazenda de produção de alevinos da BRFISH (Pecém, CE) A Pecém Agroindustrial também consolidou com a Nutron Alimentos Ltda. um contrato de operação de sua moderna fábrica de rações no município de Pecém. Além da Nutron Alimentos, outros fabricantes de rações também já estão se preparando para investir no estado. Sinais de novos tempos na aqüicultura cearense! A aqüicultura continua na mira dos fabricantes de rações A indústria de ração continua atenta e apostando no cresci- mento da aqüicultura no país. Além das já consagradas empresas do setor, em 2005 dois fabricantes do Mato Grosso, dois de São Paulo, um de Minas Gerais e um do Mato Grosso do Sul coloca- ram à disposição dos piscicultores linhas de rações específi cas para piscicultura, apostando na oferta de rações de alta qualidade. Três destas empresas contaram diretamente com meu suporte no desenvolvimento de seus produtos. Outros fabricantes de diversos estados também me consulta- ram com o interesse de iniciar a produção de rações para peixes em 2006. Fico feliz, primeiro em ver o desenvolvimento do setor, onde quem ganha com isso é o produtor. Segundo, por ter acompanhado todo o desenvolvimento deste setor e contribuído com o crescimento de diversos fabricantes de rações na área de aqüicultura. Um grande salto, se considerarmos que no início da década de 90 havia um único fabricante de ração extrusada para peixes no país. Um breve registro da aqüicultura no Acre Em maio/2005 fui convidado a ministrar um curso para téc- nicos e piscicultores em Rio Branco. O curso foi tão bem aceito que em julho repetimos o treinamento, desta vez, em Cruzeiro do Sul. A Associação Cearense de Aqüicultura (ACEAq) fala em cer- ca de 25.000 toneladas/ano. Técnicos e produtores do estado acredi- tam em números mais modestos, entre 10 e 15 mil toneladas/ano. Além da oferta dos produtores cearenses, tilápias de pra- ticamente todos os estados do Nordeste chegam ao mercado de Fortaleza. Assim, o volume de tilápia comercializado no estado seguramente ultrapassa as previsões de produção. E com o po- tencial de produção no açude do Castanhão e a possibilidade de cultivo de tilápias em águas de salinidades moderadas em algumas fazendas de camarão marinho, esta produção poderá ser rapidamente ampliada. Seguramente vai faltar cearense para tanta tilápia. O resultado desta chuva de tilápia no mercado não poderá ser outro, que não a redução nos preços pagos aos produtores. O que já ocorreu em outros estados. "...Certamente sobrará pouco espaço para os produtores que não se aprimorarem na gestão técnica e econômica dos seus cultivos. Serão necessários esforços para ampliar o mercado local, atingir outros grandes mercados no país e seguir rumo à exportação. E isso demandará organização do setor e investimentos na industrialização da tilápia, a exemplo do que vem acontecendo na região Sudeste do país..." 18 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 19Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 Foi nessas duas oportunidades, de iniciativa do Sebrae/AC, que conheci um pouco da ainda modesta piscicultura acreana. No treinamento em Cruzeiro do Sul realizamos uma manhã de campo em Mâncio Lima, a cidade mais ocidental do Brasil, praticamente na fronteira com o Peru. Mâncio Lima estava sob a sombra da malária. Mais de mil casos registrados no município até aquele momento do ano. Por conta disso, as pisciculturas do mu- nicípio estavam sendo pulverizadas sob a suspeita de serem focos de proliferação do mosquito. Fui agraciado duplamente com estes dois treinamentos. Primeiro por ter tido a oportunidade de conhecer um pouco do Acre, estado que, juntamente com Roraima, ainda não havia entrado no meu mapa de viagens. Segundo por ter conhecido o ex- tremo ocidental do Brasil, distante cerca de 4.300km da Ponta dos Seixas, na Paraíba, que conheci em 1985 enquanto participava da Agronomíades Nacional em João Pessoa. Visto os dois extremos horizontais do país, aumentou minha vontade de conhecer os extremos verticais, Oiapoque e Chuí. Não foi muita surpresa de minha parte constatar que, além das espécies nacionais tradicio- nalmente cultivadas, a tilápia estava presen- te em diversas pisciculturas do Acre. O interesse dos piscicultores acrea- nos pela tilápia é expressivo, o que refl ete a boa aceitação do mercado por este peixe. Isso confi rma a preferência, de freqüenta- dores de um pesque-pague em Manaus (que visitei em 1998), pela tilápia em compara- ção ao tucunaré, outro campeão em gos- tosura. Alevinos de tilápia são produzidos por produtores locais e mesmo providos por produtores de outros estados. Há muito que se ponderar em relação às restrições ao cul- tivo de tilápias nos estados da Região Norte, enquanto se permite o cultivo de espécies nativas da Bacia do Pantanal e do Prata (como o piauçu) e o híbrido tambacu. Isso é, no mínimo, um grande contra-senso. As ti- lápias foram introduzidas há muitos anos no Acre e em outros estados da Região Norte (Amazonas, Amapá, Rondônia e Pará). No entanto, não há registro de estabelecimento de populações deste peixe em ambientes naturais, nem sequer registro de danos a elas atribuíveis sobre os ecossistemas e ictiofauna local. Um gaúcho perspicaz na piscicultura de Rondonópolis Foi uma grande satisfação e um aprendizado ainda maior ter conhecido o Sr. Oswaldo e a forma como ele conduz sua piscicultura em Rondonópolis-MT. O Oswaldo, gaúcho em sua origem, desafi ou as práticas convencionais de condução de uma piscicultura. Eu mesmo, se não tivesse visto, acharia seu relato impossível. E foi numa tarde de campo em sua piscicultura, juntamente com produtores e técnicos do Mato Grosso, que eu não só vi, como ouvi o testemunho do Sr. Jailton, proprietário de um pesque-pague em Rondonópolis e principal comprador dos peixes do Oswal- do: “Quando passa a rede em um pequeno canto do tanque, a quantidade de peixes que pega não cabe no caminhão. Tem que devolver um monte pra água”. Agora, caros leitores, “Pensem num viveiro abarrotado de peixes...” Uma produção anual de 40 toneladas de peixes redondos. Não pare- ce muito, realmente, não fosse a área de 5.000m2de tanques escavados e uma vazão de água apenas sufi ciente para renovar 3% do volume ao dia. É um “Baita Monte de Peixes”! Obviamente que não há milagres. Há muita disciplina na condução do culti- vo, muita atenção ao comportamento dos peixes, intervenções oportunas no controle de parasitos, ração de boa qualidade e o uso de aeradores para garantir o oxigênio. Uma questão intrigante: com tamanha biomassa de peixes, altas taxas de alimentação e baixa renovação de água, como o sistema se mantinha livre de problemas com a amônia tóxica ou excessiva proliferação de fi toplâncton? A resposta: mantendo a água turva, com argila em suspensão, que con- trolava o desenvolvimento do fi toplâncton e, assim impedia a elevação do pH devido a fotossíntese. Com o pH baixo (entre 6,0 e 6,5) praticamente não havia amônia tóxica na água. O Oswaldo, prático na sua experiência, desconhecia essas interações Galpão da futura fábrica de ração da Pecém Agroindustrial (Grupo Ypioca) em Pecém, CE ".. Há muito que se ponderar em relação às restrições ao cultivo de tilápias nos estados da Região Norte, enquanto se permite o cultivo de espécies nativas da Bacia do Pantanal e do Prata, como o piauçu e o híbrido tambacu. Isso é um grande contra-senso. As tilápias foram introduzidas há muitos anos no Acre e em outros estados da Região Norte. No entanto, não há registro de estabelecimento de populações deste peixe em ambientes naturais, nem sequer registro de danos a elas atribuíveis sobre os ecossistemas e ictiofauna local..." 20 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 na qualidade da água. No entanto, conduzia como ninguém o sis- tema de cultivo que ele mesmo montou. Pois esta experiência fi cou registrada junto aos participantes do curso e quem quiser ver isso de perto vai ter que agendar uma visita à piscicultura do Oswaldo em Rondonópolis. E aproveitando o gancho, os piscicultores de Rondonópolis também estão enfrentando restrições quanto às espécies de peixes que podem ser cultivadas. Há pressão contra o cultivo do tambaqui e do híbrido tambacu em áreas que drenam para a Bacia do Pantanal. De outro lado, pressão contra o cultivo de tambacu e pacu em áreas que drenam em direção ao Rio Araguaia. Também sentem a difi cul- dade de expandir a piscicultura através do cultivo exclusivo de peixes nativos, devido às restrições de mercado da maioria destas espécies. Muitos externam o interesse de investir no cultivo de tilápias, visto a expansão do cultivo e mercado deste peixe no Brasil e no mundo. No entanto, o cultivo de tilápias no Mato Grosso no momento está proibi- do. Essas limitações de espécies para cultivo empunham a bandeira de uma pretensa necessidade de preservação da integridade da ictiofauna nos ecossistemas aquáticos do estado e da região. Pois é só trafegar pelas estradas do estado e verifi car a situação de degradação dos rios (assoreamento, destruição de matas ciliares, águas extremamente turvas e a poluição com o esgoto doméstico), que não é diferente do que está acontecendo em quase todo o país. Isso tudo, mais a pressão da pesca profi ssional sobre os já dizimados estoques remanescentes e, aí sim, a ictiofauna do Pantanal, do Araguaia ou de qualquer outro ecossistema aquático do país estará arrasada. Assim, é preciso que os órgãos ambientais e os ambien- talistas de plantão, ao invés de adotarem uma postura impeditiva ao avanço da piscicultura no país, concentrem esforços sobre os agentes e ações que de fato estão impactando e dizimando os re- cursos hídricos, os ecossistemas aquáticos e a ictiofauna no nosso país. Também é necessário que a SEAP/PR e outras instituições encarregadas de ordenar, estimular e fomentar o desenvolvimento tecnológico e a produção da piscicultura em âmbito federal e estadual sejam mais efi cazes na priorização de recursos para de- senvolvimento e difusão de tecnologias que viabilizem o cultivo em escala comercial de peixes nativos de maior alcance e apelo de Vista aérea da Estação de Pisicultura de Itiúba – CODEVASF, sede do CERAQUA-SF em Porto Real do Colégio, AL 21Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 mercado. Dentre eles os surubins (com tecnologia de reprodução ainda restrita a poucos empreendimentos privados no país); os grandes bagres amazônicos, como a dourada e a piraíba, que já desfrutam de mercado consolidado em praticamente todo o Brasil, oriundas exclusivamente da pesca extrativa na Amazônia. O gigante de escama pirarucu, que mesmo após signifi cativa pesquisa realizada pelo DNOCS nos anos 50, fi cou mais de cinco décadas de castigo no canto da sala da nossa aqüicultura. Só agora, e ainda muito timidamente, foram destinados modestos recursos federais para desenvolvimento de pesquisas que viabilizem o cul- tivo comercial deste peixe que seguramente será a principal estrela da piscicultura no país e no mundo. Mais recursos fi nanceiros e humanos devem estar envolvi- dos no desenvolvimento de tecnologia para o cultivo do pirarucu, particularmente na Região Norte do país, onde há uma maior faci- lidade de coleção de exemplares adultos na natureza para agilizar os estudos sobre sua reprodução controlada em cativeiro. Ibama repassa aos estados a responsabilidade do licenciamento ambiental A boa nova deste fi nal de ano foi a transferência - do IBAMA aos órgãos estaduais de meio ambiente - da competência de emissão de outorga de uso da água e licenciamento ambiental paras as atividades aqüícolas. Com isso, alguns empreendimentos de cultivo de peixes em tanques-rede já conseguiram obter suas licenças ambientais para operação. Os grandes benefi ciários disso tudo: a aqüicultura do país, que contará com um processo mais ágil de licenciamento de seus empreendimentos e o meio ambiente, que contará com uma fi scalização mais criteriosa por parte das agências ambientais estaduais, que conta com funcionários e escritórios espalhados em diversas regionais de cada estado. Baixo São Francisco II - desta vez em Penedo-AL Penedo-AL é uma pérola colonial na margem esquerda do Rio São Francisco em seu baixo trecho rumo ao Atlântico. Nas- cida sobre as remanescências do Forte de Nassau, Penedo mescla infl uências culturais dos portugueses, holandeses e franceses. Seus imponentes casarões, igrejas e conventos lhe asseguram o título de “Ouro Preto” de Alagoas. Penedo também é a terra do Marciano, poeta e repentista que propaga os encantos da cidade e de seu grande rio. Foi o segundo Marciano que conheci em toda a minha vida. O primeiro deles, conheci já criador de peixes, em Piracicaba-SP. O segundo participou dos cursos que ministrei este ano em Penedo e pretende ser piscicultor. Não tenho mais dúvidas de que Marte já não tem mais água. Os “Marcianos” estão invadindo a Terra para criar peixes. O Baixo São Francisco, na minha mais modesta opinião, é uma das regiões de maior potencial para a piscicultura no país. E por sorte, este potencial é reconhecido por instituições federais e pelos governos estaduais. Eu me sinto extremamente orgulhoso por ser um persistente colaborador junto a estas instituições na promoção da piscicultura na região. Assim sendo, em setembro de 2005, a convite do SEBRAE-AL, estive novamente em Penedo ministrando um curso de capacitação de técnicos multiplicadores dentro do Arranjo Produtivo da Piscicultura do Baixo São Fran- cisco. Nas duas semanas do treinamento tivemos a oportunidade de conduzir as aulas práticas nas instalações do muito idealizado e pretendido Centro de Referência em Aqüicultura do São Francisco (o CERAQUA-SF). O CERAQUA de nome, mas ainda não de direito, utiliza a parcialmente reformada Estação de Piscicultura de Itiúba da CO- DEVASF, em Porto Real do Colégio-AL. Durante o ano de 2002 eu e mais 5 profi ssionais da ACQUA IMAGEM estivemos na região por nove meses auxiliando a CODEVASF na concepção e planeja- mento do CERAQUA e no acompanhamento das obras de reforma daEstação de Itiúba. Na ocasião ministramos diversos módulos de capacitação dos técnicos envolvidos com a piscicultura na região. Uma das equipes de técnicos de Alagoas e Sergipe que participaram de treinamento ministrado pelo equipe da Acqua Imagem nas instalações do CERAQUA-SF (Estação de Piscicultura de Iitiúba - CODEVASF) Meu sentimento foi de grande realização ao retornar à Estação de Itiúba, três anos depois. Apesar das obras de reforma não terem sido concluídas como planejado e os laboratórios de suporte do CERAQUA ainda não terem sido equipados por falta de recursos, a equipe de técnicos e funcionários da Estação de Itiúba resgatou a im- portância daquele centro na produção de alevinos para o peixamento de lagoas e para o atendimento de produtores da região. Os viveiros estão pouco a pouco sendo recuperados e, ca- minhando pela estação foi fácil perceber a retomada da produção. O que não dá pra entender é a morosidade e timidez dos governos estadual e federal em fi nalizar a implantação do CERAQUA e implementar ações complementares concretas que estimulem o desenvolvimento e a consolidação da piscicultura na região. Se há de existir um plano estratégico para o zoneamento e desenvol- vimento da aqüicultura, o Baixo São Francisco não pode estar em "...É preciso que os órgãos ambientais e os ambientalistas de plantão, ao invés de adotarem uma postura impeditiva ao avanço da piscicultura no país, concentrem esforços sobre os agentes e ações que, de fato, estão impactando e dizimando os recursos hídricos, os ecossistemas aquáticos e a ictiofauna no nosso país.." 22 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 23Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 outro lugar, senão no topo da lista das regiões com real vocação para a aqüicultura no Brasil. O sucesso do Simpósio Internacional de Nutrição de Peixes Quando parecia que 2005 iria passar em branco sem um evento técnico-científi co de peso na área de nutrição de organis- mos aquáticos (como nos anos anteriores), Botucatu-SP acolheu, em novembro, na minha melhor estimativa, algo entre 250 e 300 profi ssionais e estudantes para o Io Simpósio de Nutrição e Saúde de Peixes. O evento foi fruto de esforços da equipe de professores e pesquisadores da UNESP (Dra. Margarida Barros e Dr. Luiz Edivaldo Pezzato), da ESALQ-USP (Dr. José Eurico Cyrino) e da UEM (Dr. Wilson Furuya) e de outros colaboradores, aos quais peço desculpas pela falta de lembrança do nome de todos. Além das brilhantes palestras proferidas por profi ssionais de renome no Brasil, o simpósio contou com a participação de palestrantes do exterior, entre eles o Dr. Chorn Lim, do Laboratório de Pesquisa de Organismos Aquáticos do USDA (Auburn, Alabama). A ausência do Dr. Delbert Gatlin, da Texas A&M University foi muito sentida, embora seu tempo de apresentação tenha sido brilhantemente preenchido pela esmerada palestra do Dr. Wilson Furuya. Um dos pontos merecedores de destaque, durante o encon- tro, foi o reconhecimento feito ao Engenheiro Agrônomo, Professor e empresário, Dr. Newton Castagnolli. Uma homenagem modesta, porém impecavelmente justa pela sua imensurável contribuição na formação de um grande número de profi ssionais de destaque, nas áreas de pesquisa e produção em aqüicultura. Modesta, diante da sua inigualável trajetória profi ssional, com mais de 40 anos de trabalho dedicados à promoção e ao desenvolvimento da aqüicul- tura no Brasil. Finalizo aqui o registro dos acontecimentos mais rele- vantes que presenciei em 2005, que na minha opinião saiu com um balanço do ano muito positivo. Acredito que 2006 será ainda melhor para todos que têm participado do aqua-negócio. Certa- mente um Feliz Ano Novo. Wilson Furuya, em nome dos organizadores do o Iº Simpósio de Nutrição e Saúde de Peixes, homenageia o Dr. Newton Castagnolli pela sua contribuição na formação de muitos profi ssionais da aqüicultura brasileira 24 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 25Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2005 O pleito da Associação Brasileira de Criadores de Ca-marão – ABCC no sentido de viabilizar para a aqüi- cultura a equiparação da tarifa de energia elétrica já aplicada para a agricultura irrigada, foi finalmente alcançado em novembro último com a assinatura da Lei 11.196/05, também conhecida como MP do Bem. Após intensificar seus esforços nos últimos três anos, a ABCC conseguiu uma importante vitória, não só para a carcinicultura, mas também para a piscicultura brasileira. As articulações iniciadas na década de 80, resultaram em contatos formais com os governos de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe e, também, com o governo federal através da Seap/PR. Assim, com o apoio de alguns senadores e com empenho decisivo do deputado federal José Múcio Monteiro (líder do PTB – PE), a ABCC iniciou um movimento político para viabilizar a sua proposta via Senado Federal, elaborando até uma minuta de Projeto de Lei. Insistindo em seus objetivos, a ABCC tentou também fazer com que o benefício pudesse ser obtido através de uma Portaria da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Porém, entre idas e vindas, técnicos da ANEEL recomendaram que a ABCC marcasse uma audiência com o Ministro das Minas e Energia (MME), de forma a conseguir o apoio para ao seu Projeto de Lei. Foi quando a assessoria do ministro sugeriu a inclusão de um artigo especial na MP (Medida Provisória) do Bem, que estava em vias de ser assinada. Foi preparada então, a sua versão final, na forma como foi sugerida anteriormente pela ABCC. Após inúmeros percalços, a ABCC conseguiu ver final- mente publicado na Lei 11.196/05, o artigo 121, que altera o artigo 25 da Lei nº. 10.438/2002, e inclui a aqüicultura entre as atividades beneficiadas com tarifas especiais de energia elétrica. Segundo Itamar Rocha, presidente da ABCC, a princípio apenas a carcinicultura seria beneficiada com a medida, mas por entender que a piscicultura dificilmente iria conseguir tal tipo de articulação, a ABCC decidiu incluir também a piscicultura na mesma proposta, ampliando a solicitação para toda a aqüi- cultura brasileira. Com a nova lei, os produtores terão subvenção da energia elétrica, das 21h30min às 6h da manhã. O benefício é o mesmo praticado para a irrigação. Ou seja, o Governo Federal abre mão dos impostos sobre a energia elétrica garantindo com isso uma redução no custo de energia para o produtor em um percentual entre 28% e 30%. O benefício é extensivo a todos os produtores que utilizam a água, seja para bombeamento ou para aeração dos reservatórios, o que garante, neste último caso, maior produtividade no setor em todo o território nacional. Para os carcinicultores, a medida viabilizará uma melhor utilização de aeradores para oxigenação da água em decorrência da dimi- nuição do custo de utilização da energia noturna. Para o Secretário Especial de Aqüicultura e Pesca, José Fritsch, com a nova lei, “o país vai ganhar muito, porque se por um lado o governo abre mão de impostos, por outro vai garantir aumento de produção, mais investimentos e mais renda, que reverterá em desenvolvimento econômico, empregos e riqueza para o nosso país”. O próximo passo será a regulamentação pela ANEEL que virá provavelmente após uma reunião programada para o dia 9 de janeiro. Dados sobre a criação de espécies brasileiras de pei- xes geralmente estão distribuídos em revistas científicas ou em anais de congressos, sendo difícil para os pis- cicultores e também para os cientistas obterem informações completas e atualizadas. Esse fato motivou o lan- çcamento do livro “Espécies nativas para piscicultura no Brasil”, organiza- do por Bernardo Baldisserotto e Levy C. Gomes e publicado pela editora Aqüicultura consegue equiparação da tarifa de energia elétrica com a que é aplicada à agricultura irrigada O artigo 121 da Lei 11.196/05 assinada pelo Presidente da República em 21 de novembro de 2005
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