Buscar

ANEXO 01 QUARTA SEMANA TEORIA DA EMPRESA (1)

Prévia do material em texto

24/03/2020 Considerações sobre o contrato de trespasse - Migalhas de Peso
https://www.migalhas.com.br/depeso/204078/consideracoes-sobre-o-contrato-de-trespasse 1/7
 0      
Inicie-se esse estudo através da apresentação dos conceitos necessários à compreensão
exata dos assuntos que serão aqui abordados, iniciando-se pelo conceito de empresário.
Nos dizeres de Rubens Requião, “empresário é o sujeito que exercita a atividade
empresarial. (...) é um servidor da organização de categoria mais elevada, à qual imprime o
selo de sua liderança, assegurando a eficiência e o sucesso do funcionamento dos fatores
organizados.”1
O CC de 2002 apresenta o conceito de empresário:
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Assim, todo àquele que exerce de forma profissional atividade econômica organizada, pode
ser classificado como empresário.
O Código Civil também apresenta o conceito de estabelecimento, o que se verifica em seu
artigo 1.142:
Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da
empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.
Logo, o estabelecimento é um complexo de bens funcionalmente destinados ao exercício da
atividade econômica. Trata-se de organismo econômico utilizado pelo sujeito para explorar
atividade econômica ou empresa, o que é mais comum. Em outras palavras, o
estabelecimento constitui o aparato instrumental que o empresário deve dispor e organizar,
para adequá-lo ao exercício da empresa.2
Isso implica dizer que todos os bens que integram o estabelecimento são indispensáveis ao
regular exercício da atividade empresarial, compondo-se pelos bens materiais (móveis,
maquinários etc) e imateriais (marca, ponto empresarial etc). Insista- se, a reunião
organizada de todos esses bens é definida como estabelecimento.
Imperioso destacar, que o estabelecimento não possui personalidade jurídica, mas, tão
somente, a empresa. O estabelecimento comercial pode ser classificado como bem móvel.3
É certo afirmar que o estabelecimento é propriedade da empresa, que por sua vez, pode
alienar, sem prejuízo de sua existência, um ou mais de seus estabelecimentos, como um
todo unitário cada um deles, como a universalidade que é. Assim, quando o estabelecimento
é colocado como objeto de um negócio, nele se incluem débitos e créditos, aviamento, ponto
comercial etc.4
Porém, para que a venda do ponto comercial seja formalizada, indispensável à observação
de diversos requisitos legais. Com isso, avançamos em nosso estudo para cuidar da
informativo de hoje
Migalhas nº 4.817
mais migalhas  colunas correspondentes catálogo de escritórios apoiadores fomentadores
 / Migalhas de Peso / Considerações sobre o contrato de trespasse
Considerações sobre o contrato de trespasse
André da Silva Sacramento
Para que a venda do ponto comercial seja formalizada, indispensável à observação de diversos requisitos legais. Com isso, avançamos
para cuidar da alienação, usufruto ou arrendamento do estabelecimento.
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Terça-feira, 24 de março de 2020

CADASTRE-SE

ENTRAR

FALE CONOSCO

ISSN 1983-392X
apoiadores
fomentadores
javascript:void(0);
https://www.facebook.com/dialog/feed?app_id=1774817415942244&display=popup&link=https%3a%2f%2fwww.migalhas.com.br%2fdepeso%2f204078%2fconsideracoes-sobre-o-contrato-de-trespasse
https://twitter.com/intent/tweet?text=Considera%26ccedil%3b%26otilde%3bes+sobre+o+contrato+de+trespasse&url=https%3a%2f%2fwww.migalhas.com.br%2fdepeso%2f204078%2fconsideracoes-sobre-o-contrato-de-trespasse
https://www.linkedin.com/shareArticle?mini=true&url=Considera%26ccedil%3b%26otilde%3bes+sobre+o+contrato+de+trespasse&title=Considera%26ccedil%3b%26otilde%3bes+sobre+o+contrato+de+trespasse&source=
https://api.whatsapp.com/send?text=Considera%26ccedil%3b%26otilde%3bes+sobre+o+contrato+de+trespasse
javascript:popup('/compartilhar/204078')
javascript:goToByScroll('commentaries');
https://www.migalhas.com.br/informativo/4817
https://www.migalhas.com.br/colunas
https://correspondentes.migalhas.com.br/
http://catalogo.migalhas.com.br/
https://www.migalhas.com.br/apoiadores
https://www.migalhas.com.br/fomentadores
https://www.migalhas.com.br/
https://www.migalhas.com.br/depeso
https://www.migalhas.com.br/depeso/204078/consideracoes-sobre-o-contrato-de-trespasse
https://www.migalhas.com.br/
https://www.migalhas.com.br/cadastre-se
https://www.migalhas.com.br/entrar
https://www.migalhas.com.br/fale-conosco
javascript:__doPostBack('ctl00$ctl00$lb_busca','')
https://www.migalhas.com.br/apoiadores
https://s.migalhas.com.br/?AP=331668&V=1&CN=S&E=C&S=6&L=http://www.angelicoadvogados.com.br
https://www.migalhas.com.br/fomentadores
https://s.migalhas.com.br/?AP=13050&V=1&CN=S&E=C&S=7&L=http://curucutu.org.br
24/03/2020 Considerações sobre o contrato de trespasse - Migalhas de Peso
https://www.migalhas.com.br/depeso/204078/consideracoes-sobre-o-contrato-de-trespasse 2/7
alienação, usufruto ou arrendamento do estabelecimento. 
O tema é regulado pelo Código Civil nos artigos 1.144 e seguintes, os quais serão abaixo
examinados, um a um:
Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do
estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem
da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de
Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial.
Como visto acima, para que tenha validade perante terceiros, o trespasse, arrendamento ou
usufruto do estabelecimento deve estar devidamente registrado perante os órgãos
competentes, bem como, é imperioso que se dê publicidade ao negócio realizado, através da
publicação na imprensa oficial.
Na hipótese do vendedor necessitar da anuência dos credores (o que será tratado
especificamente adiante), é indispensável, que sejam esses comunicados por meio hábil
para que não se alegue ignorância posteriormente, em razão do credor não ter acesso à
imprensa oficial.5
Consequência lógica, é que os contratos de trespasse, arrendamento ou usufruto do
estabelecimento, somente terão efeito perante terceiros se observados tais requisitos, a
saber, registro no órgão competente e publicação na imprensa oficial. É bem verdade que a
lei não impõe prazo para que tais atos sejam aperfeiçoados, não obstante, a recomendação
é no sentido inverso, qual seja, que tais fatos sejam praticados com a maior brevidade
possível, pois os prazos que implicam em desoneração de responsabilidade passam a fluir
da publicação da imprensa oficial.
Necessário ainda destacar que à observância dos requisitos mencionados (registro e
publicação), em alguns casos, não é suficiente para que o negócio tenha validade jurídica.
Aos contratantes, impõe-se ainda o dever de observar o quanto disposto no artigo 1.145 do
Código Civil:
Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a
eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores,
ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua
notificação.
O dispositivo supra transcrito é de maior relevância para proteção dos credores já tão
fragilizados pelo ordenamento jurídico nacional. Destaque-se a gravidade da norma na
hipótese de não restarem bens suficientes ao alienante para solver suas obrigações: a
eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou
do consentimento destes, de modo expresso ou tácito.
Isso implica dizer que, se o empresário devedor não dispor de patrimônio suficiente para
garantir suas pendências frente aos seus credores, o trespasse, arrendamento ou usufruto
apenas terá eficácia na hipótese de pagamento de todos os credores, a menos que esses
consintam com o negócio de modo expresso ou tácito.
É importante ter em vista que o estabelecimento pode ser o único patrimônio da empresa, de
tal sorte que eventuais execuções recairãoexclusivamente sobre esse bem, o que justifica à
forma prescrita em lei para formalização do negócio.
O ilustre Silvio de Salvo Venosa, ao comentar o artigo 1.145 do Código Civil, leciona no
seguinte sentido:
“A alienação do estabelecimento até a criação da regra inserta no art. 1.145 era um
expediente utilizado por empresários que se encontravam em dificuldades ou mesmo até
por má-fé, como forma de exonerarem-se das obrigações. Alienavam o estabelecimento,
recebiam o preço, não ficando responsáveis pelo passivo.
O legislador agiu bem ao criar a regra desse artigo condicionando a alienação ao
pagamento de todos os credores ou sua anuência, quando não restarem outros bens
suficientes. Se o empresário tiver outros bens e outros estabelecimentos, poderá
continuar solvente. Importa examinar a situação concreta.6”
Importante ainda tecer considerações acerca da eventual oposição do credor. Como
verificamos no artigo em análise, os credores serão notificados para manifestarem sua
concordância ou não a respeito do trespasse no prazo de 30 (trinta) dias. A lei é
suficientemente clara em asseverar que a concordância pode ser expressa ou tácita, o que
24/03/2020 Considerações sobre o contrato de trespasse - Migalhas de Peso
https://www.migalhas.com.br/depeso/204078/consideracoes-sobre-o-contrato-de-trespasse 3/7
implica dizer que o silêncio será tido como anuência. Desse modo, após a publicação pela
imprensa oficial ou notificação, os credores que não concordarem devem manifestar sua
discordância por instrumento hábil no prazo de trinta dias, pois do contrário, a inércia será
reputada por aceitação.
Por outro lado, no que diz respeito à forma, é de bom tom destacar que a não observação da
forma prescrita em lei acarreta a invalidade do negócio jurídico, nos exatos termos do artigo
104 do Código Civil:
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
Logo, a inobservância dos procedimentos mencionados, poderá implicar na nulidade do
negócio jurídico celebrado, o qual não produzirá qualquer efeito perante terceiros.
Contudo, a inobservância do referido artigo 1.145, tem consequência ainda mais grave, com
expressa previsão na Lei 11.101/05 – Lei de Recuperação de Empresas e Falência:
Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:
III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação
judicial:
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os
credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;
Isso implica dizer que a venda do estabelecimento comercial sem o consentimento de todos
os credores e, desde que, inexistam bens suficientes para garantir as obrigações assumidas,
poderá ensejar na falência da empresa. Desnecessário verter maiores argumentos para
comprovar quão gravosa é uma falência.
Mas não é só. Note-se o que dispõe o artigo 129 da lei 11.101/05:
Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante
conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção
deste fraudar credores:
VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou
o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor
bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não
houver oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou
pelo oficial do registro de títulos e documentos;
O trespasse, usufruto ou arrendamento realizado nas condições acima, não tem qualquer
efeito em relação à massa falida, o que implica dizer que o estabelecimento poderá ser
arrecadado na falência e convertido em ativo para pagamento dos credores. Observe-se a
ressalva prevista no inciso VI: salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição
dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial de registro
de títulos e documentos. 
Assim, se os envolvidos no negócio observarem o procedimento legal e promoverem à
notificação de todos os credores, não incorrerão nesse risco, sendo certo dizer que, se
houver oposição de um credor, ao menos em tese, o negócio não deve prosseguir, pois
restará fragilizado.
Logo, é certo que a inobservância dos requisitos anteriormente destacados tornará o negócio
sem validade jurídica, não surtindo efeito algum contra terceiros, podendo ainda, ser motivo
de quebra da empresa.
Passemos agora à análise do artigo 1.446 do Código Civil:
Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos
anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o
devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos
créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.
A lei é mais do que clara em estender ao adquirente à responsabilidade integral pelo
pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que tais pendências estejam todas
escrituradas. Porém, em alguns casos, eventual passivo oculto não poderá ser refutado pelo
24/03/2020 Considerações sobre o contrato de trespasse - Migalhas de Peso
https://www.migalhas.com.br/depeso/204078/consideracoes-sobre-o-contrato-de-trespasse 4/7
adquirente, notadamente, quando se tratar de débito fiscal7 e decorrente de relação
trabalhista8. Nessa hipótese, restará assegurado ao adquirente o regresso contra o alienante
caso honre as obrigações não escrituradas.
Vale reforçar. Se os credores do alienante (devedor) anuírem com a venda do
estabelecimento comercial e, desde que as obrigações estejam devidamente
O citado artigo 1.146 acima transcrito, ainda traz outra garantia ao credor, a saber, a
responsabilidade solidária do alienante e adquirente pelo prazo de um ano. Logo, concluída
a venda, arrendamento ou usufruto do estabelecimento comercial, o alienante permanecerá
responsável solidariamente pelas obrigações por até um ano. Esse prazo, começará a
correr, para as obrigações vencidas, a partir da publicação que informar a realização do
negócio, e para as obrigações vincendas (já existentes à época do negócio), a partir do
vencimento de cada obrigação respectiva.
Prossigamos.
Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode
fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência.
Parágrafo único. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição
prevista neste artigo persistirá durante o prazo do contrato.
O dispositivo acima faculta aos contratantes a vedação à concorrência do alienante com o
adquirente, pelo prazo de 5 anos. A regra é pela proibição da concorrência, porém, o
adquirente poderá autorizar de forma expressa que o alienante permaneça no mesmo ramo
de negócio.
Adiante, trataremos do artigo 1.148 do Código Civil.
Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub- rogação do
adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não
tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em noventa dias a
contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a
responsabilidade do alienante.
Em outras palavras, o citado artigo dispõe que a alienação do estabelecimento compreende
todos os bens e todos os negócios jurídicos, ativos e passivos, que dele façam parte9, à
exceção dos contratos pessoais ou expressa disposição
contratual. Entende-se por contrato de cunho pessoal, aqueles em que há algum tipo de
qualidade ou habilidade do contratante e que se eleva a causa determinante para a
existência da avença, como, por exemplo, os contratos de serviços de advogado ou de
pintura artística.10
Não obstante, o mesmo dispositivo faculta aos terceiros que rescindam os contratos no
prazo de noventa dias, contados da publicação da transferência, se resultar em justa causa.
Silvio de Salvo Venosa qualifica como justa causa o gravame, o desequilíbrio ou alteraçãoda
base do contrato, advindos da transmissão do estabelecimento, como por exemplo, quando
o contrato contava com garantia fidejussória de pagamento pelo alienante, extinta com a
alienação do estabelecimento e não renovada pelo adquirente.11
Por fim, examinaremos o artigo 1.149 do Estatuto Civil.
Art. 1.149. A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá
efeito em relação aos respectivos devedores, desde o momento da publicação da
transferência, mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente.
Como verificado, todos os créditos do estabelecimento transferem-se com a realização do
negócio, a menos que exista expressa disposição em contrário. Logo, a partir da publicação
mencionada no art. 1.144, os devedores do estabelecimento deverão honrar seus
compromissos perante o adquirente. Porém, a norma exonera de responsabilidade o
devedor que, de boa-fé, efetuar o pagamento ao alienante.
Ainda se faz necessário destacar expediente comum em nosso país, qual seja, o
encerramento irregular de uma empresa com a transferência do estabelecimento para
terceiro. De pronto, frise-se que o encerramento irregular da empresa acarreta várias
consequências aos sócios perante seus credores, dentre elas, a desconstituição da
24/03/2020 Considerações sobre o contrato de trespasse - Migalhas de Peso
https://www.migalhas.com.br/depeso/204078/consideracoes-sobre-o-contrato-de-trespasse 5/7
personalidade jurídica da empresa, o que fará com que os sócios respondam pelos débitos
da empresa com seu patrimônio pessoal.
Porém, a pergunta que se quer responder é se a empresa que assume a posição daquela
encerrada irregularmente, responderá pelo passivo de sua antecessora. Como vimos, se
houver trespasse, arrendamento ou usufruto, a resposta é positiva nas condições acima
mencionadas.
Mas avancemos. E se não houver a formalização do trespasse, arrendamento ou usufruto? A
resposta ainda é positiva. Oportuno destacar entendimento exarado pelo Egrégio Tribunal de
Justiça do Distrito Federal, por ocasião do julgamento do Agravo de Instrumento
20130020008062, relatado pelo Eminente Desembargador José Divino de Oliveira, que
reconhece a possibilidade da sucessão presumida:
A caracterização da sucessão empresarial não decorre necessariamente de sua formalização,
admitindo-se sua presunção quando os elementos indiquem a aquisição do fundo de comércio
e o prosseguimento na exploração da mesma atividade econômica, no mesmo endereço, com
o mesmo objeto social, atingindo, inclusive, a mesma clientela já consolidada pela empresa
sucedida. (grifo nosso)
Ocorrendo a sucessão, a sociedade adquirente passa a responder solidariamente pelos
débitos contraídos pela empresa sucedida, mesmo os contraídos anteriormente à aquisição.
No presente caso, a sucessão foi regularmente formalizada por meio do negócio jurídico
entabulado entre a devedora e a agravante (fls. 208/227). Nos termos encetados, houve a
transferência de todo o fundo do comércio, incluído o ponto, as instalações e demais recursos
materiais e humanos do estabelecimento comercial localizado no Lago Sul.
A alegação de que outras unidades ou filiais da empresa devedora continuaram suas
atividades após a referida sucessão não ficou comprovada, sendo certo que, consoante
explicitado pela certidão do oficial de justiça de fls. 185, o Supermercado Bom Motivo
encerrou suas atividades no local indicado em seus registros comerciais há muitos anos,
conforme, inclusive declarado pelo patrono da devedora (fl.192).
Dessa forma, está sobejamente demonstrada a sucessão empresarial, porquanto devidamente
comprovada a transferência do estabelecimento comercial, o encerramento das atividades
pela empresa sucedida e a continuação da atividade empresarial pela agravante.
Caracterizada, portanto, a sucessão, impõe-se a responsabilização da sucessora pelas
obrigações da devedora.
Por oportuno, reitero os seguintes precedentes:
"DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO
FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. INCLUSÃO DE PARTE NO
POLO PASSIVO DA EXECUÇÃO. SUCESSÃO EMPRESARIAL.
RECONHECIMENTO. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. REJEIÇÃO.
PRESCRIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. INOCORRÊNCIA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. DESCABIMENTO. DECISÃO PARCIALMENTE REFORMADA. 
1 - Em face dos documentos acostados aos autos, dos quais se extrai que a
Excipiente/Agravante adquiriu o fundo de comércio da empresa que inicialmente
constava do polo passivo da Execução Fiscal, o que se presume pelo fato de os
sócios das referidas empresas serem parentes, de as empresas usarem o mesmo
nome fantasia, de funcionarem no mesmo endereço, bem assim porque o
encerramento das atividades da empresa anterior coincide com o início das
atividades da nova empresa e, ainda, por explorarem o mesmo ramo de comércio, é
certo que a hipótese se enquadra no comando legal constante do art. 133 do CTN,
portanto, houve a sucessão empresarial e, por conseguinte, afigura-se correta a
inclusão da empresa sucessora no polo passivo da Execução Fiscal. (...) Agravo de
Instrumento parcialmente provido."
"APELAÇÃO CÍVEL. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA
POR RESCISÃO IMOTIVADA DE CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO
COMERCIAL. IMPOSSIBILIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REDUÇÃO.
CABIMENTO. 
1. A situação dos autos demonstra tratar-se a espécie de sucessão empresarial em
decorrência da continuidade negocial efetivada por uma pessoa jurídica em lugar
de outra, antecedente, no mesmo local, exercendo a mesma atividade, inclusive na
contratação da representação comercial, denotando verdadeira sucessão comercial,
impondo-se reconhecer a continuidade contratual.(...)"
24/03/2020 Considerações sobre o contrato de trespasse - Migalhas de Peso
https://www.migalhas.com.br/depeso/204078/consideracoes-sobre-o-contrato-de-trespasse 6/7
"AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO MONITÓRIA. EXECUÇÃO DE
SENTENÇA. SUCESSÃO DE EMPRESAS. IDENTIDADE DE OBJETO SOCIAL,
ENDEREÇO E ATIVIDADE ECONÔMICA EXPLORADA. PRESUNÇÃO.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. DESVIO DE
FINALIDADE CARACTERIZADO. INTELIGÊNCIA DO ART. 50 DO CÓDIGO
CIVIL.
- A moderna doutrina e jurisprudência pátrias têm entendido que, além dos casos
expressamente previstos em lei, a sucessão empresarial, excepcionalmente, pode ser
presumida quando a sucessora, tendo o mesmo objeto social e o mesmo endereço,
prossegue explorando idêntica atividade da empresa sucedida. (grifo nosso) 
- A desconsideração da personalidade jurídica de uma empresa, prevista no art. 50
do CC/02, não obstante se trate de medida excepcional, pode ser efetivada quando
comprovada a ocorrência de confusão patrimonial, desvio de finalidade ou gestão
fraudulenta.
- Recurso improvido. Maioria."
Importa destacar que as disposições negociais entre as partes que estabeleçam em sentido
diverso quanto à assunção solidária das dívidas da empresa sucedida não produz efeitos
contra terceiros. A empresa sucessora, se lhe convir, poderá exercer o direito de regresso
contra a empresa sucedida por obrigação não assumida contratualmente.
Confira-se o seguinte precedente:
"CIVIL E PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO. OBRIGAÇÃO DE FAZER.
PRELIMINAR. AGRAVO RETIDO. NÃO PRODUÇÃO DE PROVA ORAL.
CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. PONTO COMERCIAL.
ALIENAÇÃO. SUCESSÃO DE EMPRESAS. RESPONSABILIDADE DA
ADQUIRENTE E DA SUCEDIDA. SOLIDÁRIA PERANTE TERCEIROS.
CONTRATUAL ENTRE AS PARTES. 
(...) 
Demonstrado que a empresa adquirente comprou o fundo de comércio e prosseguiu
na exploração do mesmo objeto social, da mesma atividade econômica e no mesmo
endereço, herdando, inclusive, a clientela já consolidada pela empresa sucedida, a
presunção da sucessão empresarial se mostra incontroversa, devendo a adquirente
responder solidariamente pelo adimplemento das obrigações contraídas pela
empresa sucedida antes do trespasse. A solidariedade trazida pela sucessão
empresarial refere-se somente à responsabilidade da pessoa jurídica perante
terceiros, em razão da proteção aos direitos de eventuais credores daquela
sociedade empresária garantidapelo Código Civil. No que tange à responsabilidade
das partes para com elas mesmas, quanto ao negócio entre elas entabulado,
prevalece o que restou estipulado no contrato. (...) 
Quando há sucessão empresarial, cabe aos adquirentes exigir dos alienantes a
correta contabilização de todos os débitos anteriores à transferência do fundo de
comércio. Se pretendiam os adquirentes se resguardarem totalmente de quaisquer
dívidas anteriores, cabia a eles iniciarem por conta própria suas atividades
comerciais ao invés de adquirir o ponto comercial de outra empresa. Recurso
conhecido e parcialmente provido."
Contudo, consoante a documentação acostada (fls. 225), ao entabularem o negócio
jurídico de transferência do estabelecimento, as próprias partes estabeleceram a
retenção de parte do pagamento por eventual responsabilização por sucessão (item
3.3, alínea "e" – fls. 225), razão pela qual a pretensão da agravante de afastar a sua
responsabilidade pelos débitos da empresa sucedida não pode prosperar. A decisão
agravada é irreprochável. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso. É
como voto.”
Logo, admite-se a presunção da sucessão empresarial se as evidências verificadas no caso
concreto apontarem nesse sentido. Até porque, ou a empresa sucessora comprou o
estabelecimento ou o recebeu por doação e, no primeiro caso, a empresa adquirente
responderia pelos débitos e, no segundo caso, haveria fraude contra credores se o
patrimônio do empresário anterior fosse insuficiente para garantir suas obrigações, nos
termos do artigo 158 e seguintes do Código Civil.
Assim, diante de todos os argumentos acima deduzidos, conclui-se que à observância estrita
da norma é requisito indispensável para celebração de contrato de trespasse, posto que, do
contrário, esse não terá qualquer segurança para os contratantes, o que poderá resultar em
sérios prejuízos para os envolvidos.
24/03/2020 Considerações sobre o contrato de trespasse - Migalhas de Peso
https://www.migalhas.com.br/depeso/204078/consideracoes-sobre-o-contrato-de-trespasse 7/7
migalhas amanhecidas migalhas quentes migalhas de peso colunas migalhas dos leitores eventos mercado de trabalho dr. Pintassilgo apoiadores
fomentadores central do migalheiro fale conosco
correspondentes catálogo de escritórios precatórios livraria
___________________
1 Curso de Direito Comercial. 1º vol. 30ª ed. rev. ataul. São Paulo: Saraiva, 2011. P. 110. 
2 Paolucci, Luigi Filippo. Manuale di diritto commerciale I – L'impresa e le società. Padova: CEDAM, 2008. p. 47. 
3 Requião, Rubens. Op. Cit. p. 326. 
4 Venosa, Silvio de Salvo. Direito civil; direito empresarial. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 35. 
5 Venosa, Silvio de Salvo. Direito civil; direito empresarial. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 36. 
6 Op. Cit. p. 36. 
7 CTN - Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de
comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou
outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento
adquirido, devidos até à data do ato: 
I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade; 
II - subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da
alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão. 
8 CLT - Art. 10 - Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus
empregados. 
9 Venosa, Silvio de Salvo. Direito civil; direito empresarial. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 38. 
10 Venosa, Silvio de Salvo. Direito civil; direito empresarial. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 39. 
11 Op. Cit. p. 39 
___________________
* André da Silva Sacramento é advogado do escritório CMMM –
Carmona Maya, Martins e Medeiros Advogados.
 0      
migalhas dos leitores
Deixe seu comentário
entrar
 ATUALIZAR
mais migalhas
serviços
https://www.migalhas.com.br/amanhecidas
https://www.migalhas.com.br/quentes
https://www.migalhas.com.br/depeso
https://www.migalhas.com.br/colunas
https://www.migalhas.com.br/leitores
https://www.migalhas.com.br/eventos
https://www.migalhas.com.br/mercado-de-trabalho
https://www.migalhas.com.br/drpintassilgo
https://www.migalhas.com.br/apoiadores
https://www.migalhas.com.br/fomentadores
https://www.migalhas.com.br/central-do-migalheiro
https://www.migalhas.com.br/fale-conosco
https://correspondentes.migalhas.com.br/
http://catalogo.migalhas.com.br/
https://precatorios.migalhas.com.br/
https://www.migalhasbooks.com/
javascript:void(0);
https://www.facebook.com/dialog/feed?app_id=1774817415942244&display=popup&link=https%3a%2f%2fwww.migalhas.com.br%2fdepeso%2f204078%2fconsideracoes-sobre-o-contrato-de-trespasse
https://twitter.com/intent/tweet?text=Considera%26ccedil%3b%26otilde%3bes+sobre+o+contrato+de+trespasse&url=https%3a%2f%2fwww.migalhas.com.br%2fdepeso%2f204078%2fconsideracoes-sobre-o-contrato-de-trespasse
https://www.linkedin.com/shareArticle?mini=true&url=Considera%26ccedil%3b%26otilde%3bes+sobre+o+contrato+de+trespasse&title=Considera%26ccedil%3b%26otilde%3bes+sobre+o+contrato+de+trespasse&source=
https://api.whatsapp.com/send?text=Considera%26ccedil%3b%26otilde%3bes+sobre+o+contrato+de+trespasse
javascript:popup('/compartilhar/204078')
javascript:goToByScroll('commentaries');
javascript:__doPostBack('ctl00$ctl00$body$ChildContent$Content_Comment$bt_reload','')

Continue navegando