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APOSTILA-CONTEXTO-HISTÓRICOS-DA-AVALIAÇÃO-PSICOLÓGICA-E-AVALIAÇÃO-NEUROPSICOLÓGICA

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2 
 
 
SUMÁRIO 
1 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO 
NEUROPSICOLÓGICA ............................................................................................... 4 
1.1 Conceito de avaliação neuropsicológica .............................................. 7 
1.2 Etapas da avaliação neuropsicológica ............................................... 13 
1.3 Contrastando avaliação psicológica e neuropsicológica: acordos e 
desacordos 18 
1.4 Caracterizando a avaliação e a avaliação neuropsicológica .............. 19 
1.5 Avaliação psicológica e neuropsicológica: convergências e 
divergências ........................................................................................................... 21 
1.6 O neuropsicólogo e seu paciente: a construção de uma prática ........ 26 
1.7 Contextualizando a avaliação psicológica .......................................... 36 
2 AS CONTROVESIAS DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: A formação do 
psicólogo para a prática da avaliação psicológica ..................................................... 39 
2.1 Aspectos relacionados à formação em avaliação psicológica ............ 39 
2.2 Problemas na prática da avaliação psicológica .................................. 43 
2.3 Competências em avaliação psicológica ............................................ 44 
3 Responsabilidade e ética no uso de padrões de qualidade profissional na 
avaliação psicológica ................................................................................................ 45 
4 Referências bibliográficas ......................................................................... 50 
5 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 53 
 
 
 
 
 
 
3 
 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI , esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO 
NEUROPSICOLÓGICA 
Fonte: bravineuropsicologia.com.br 
A neuropsicologia é uma área de estudos que se aproxima da medicina, 
principalmente com a parte de neurologia, é uma ciência híbrida que se interliga a 
diversas disciplinas, e que engloba as funções do sistema nervoso conjunturalmente 
a processos psico-cognitivos e comportamentais. 
 Compreende-se que o ser humano pensa, emociona-se, interage, fala, 
memoriza, processos quais que são invariavelmente constituídos, processados e 
enviados pelo sistema nervoso. 
Do mesmo modo que tais processos neuropsíquicos são elaborados no 
sistema nervoso, estes influem de forma, integra na acomodação e 
desenvolvimento das áreas tanto do sistema nervoso central como do 
sistema nervoso periférico (SILVA, 2011; apud Melo Diego & Borges Mikaelly, 
2019). 
Com o crescimento das áreas científicas e dos avanços ocorridos na 
tecnologia, novas ciências passaram a existir, criando um rol de disciplinas que 
visavam explicar o mundo que nos cerca, sendo a neuropsicologia uma destas, iniciou 
então do encontro de diversas outras áreas do saber, no caso específico pode-se 
considerar que essa área do conhecimento surgiu da interface entre as neurociências 
e as ciências do comportamento. De acordo com Lezak (2005), a neuropsicologia 
emergiu do encontro da neuroanatomia, neurofisiologia, estatística, linguística e das 
ciências do comportamento. 
Através da multidisciplinaridade, a neuropsicologia se constrói como uma 
disciplina de grande relevância na compreensão do comportamento humano, numa 
 
5 
 
época em que, como nos assinalam Kristensen et al (2001), as grandes teorias da 
psicologia perdem um pouco de seu poder explicativo à medida que os avanços 
científicos foram conduzidos e reciprocamente conduziram a uma enorme 
especialização do conhecimento, provocando desse modo o interesse de muitos 
pesquisadores, de neurologistas a educadores, que procuram compreender o 
funcionamento cerebral por meio do comportamento humano. 
Embora o seu campo de estudo envolva áreas como a educação e trabalho, a 
neuropsicologia tem também sua atenção voltada principalmente para a área da 
saúde, uma vez que a mesma começou ocupando-se das dificuldades cognitivas 
ocasionadas por danos neurológicos específicos. 
No entanto, suas atividades se expandiram e ela passou a atuar ainda no 
diagnóstico diferencial, na profilaxia, e na reabilitação cognitiva de pacientes com 
comprometimento tanto neurológico, quanto estrutural e funcional (RANDON, S/D). 
Deste modo, percebe-se uma óbvia aplicação da neuropsicologia em contextos de 
saúde, principalmente consultórios clínicos e ambientes hospitalares. Contudo, a 
atuação da neuropsicologia no Brasil, ao contrário dos grandes centros internacionais 
de saúde, ainda é bastante tímida. 
A existência da psicologia nos hospitais ainda é recente, passando a ocorrer 
somente na década de 50, onde começou com a atuação num modelo herdado do 
consultório clínico tradicional. Tal modelo teve dificuldades para efetivar o seu 
funcionamento, já que as exigências específicas dos hospitais, como o atendimento 
em curtos espaços de tempo, transformavam o modelo clínico tradicional da psicologia 
em uma atuação importante, no entanto insuficiente para o contexto hospitalar 
(MIYAZAKI et al 2002). Assim, a psicologia hospitalar tentou superar o desafio de 
adaptar a sua prática clínica a este novo contexto. 
A neuropsicologia, então, entra nos hospitais com a missão de adaptar-se ao 
modelo hospitalar que depende tanto de fatores externos, como as mudanças e 
avanços no conhecimento e desenvolvimento de tecnologias da área médicas, as 
mudanças nos padrões e modelos de gestão em saúde, quanto de fatores internos, 
como a capacidade de atender às exigências do contexto (MIYAZAKI et al, 2002). 
Compreender as possibilidades da neuropsicologia de se adaptar às 
necessidades do contexto, vale sempre analisar como se configura a prática da 
neuropsicologia, que cresce se desenvolvendo progressivamente, contribuindo de 
 
6 
 
forma significativa para a avaliação diagnóstica interdisciplinar, de pacientes 
portadores de comprometimentos neurológicos e/ou psiquiátrico em várias situações, 
aumentando as suas possibilidades de atendimento clínico (MALLOY-DINIZ et al, 
2010). 
A década de 1990, a chamada “década do cérebro” foi marcada por uma 
revolução nos conhecimentos científicos sobre a psicologia e neuropsicologia. Essa 
revolução foi provocada pelo paradigma do processamento da informação e da 
metáfora computacional, fazendo surgir uma nova a neuropsicologia cognitiva, 
formada, por sua vez, pelo diálogo entre neuropsicologia e psicologia cognitiva. De 
acordo com o paradigma do processamento da informação, a mente se comporta 
como umsoftware, sendo compreendida como um processador com capacidade 
limitada, necessitando de um hardware, que seria representado pelo cérebro, uma vez 
que esse é responsável por programar operações e atividades mentais cujos 
processos devem ser teoricamente detalhados (CAGNIN, 2010). 
Para grande parte dos neuropsicólogos contemporâneos, a neuropsicologia 
cognitiva transforma-se num tipo de modelo para o estudo do funcionamento 
normal da cognição humana (CAGNIN, 2010; apud Melo Diego & Borges 
Mikaelly, 2019). 
É importante salientar que existe uma diferença significativa entre 
neuropsicologia e neuropsicologia clínica: a primeira é uma disciplina básica e a 
segunda é uma disciplina aplicada (QUEMADA; ECHEBURÚA, 2008). A 
neuropsicologia clínica tem como preocupação maior a aplicação de conhecimentos 
surgidos por meio de investigações clínicas e experimentais a problemas específicos 
da relação cérebro-comportamento, identificando, mensurando e descrevendo 
variações comportamentais relativas à disfunção do cérebro, investigando déficits 
cognitivos e suas consequências na vida diária de pacientes com comprometimento 
neurológico. 
No Brasil, a neuropsicologia iniciou-se a partir da segunda metade do século 
XX, com a união de pesquisadores e clínicos de várias áreas da saúde, sobretudo em 
função do desenvolvimento da psicologia e da medicina (ANDRADE; SANTOS; 
BUENO, 2004). Nas décadas de 1950 a 1970, muitos trabalhos sobre os efeitos de 
psicofármacos sobre o comportamento ganharam espaço em estudos científicos. 
Segundo Kristensen et al (2001) quem primeiro levantou estudos no país 
acerca da neuropsicologia foi o médico e psicólogo Antônio Branco Lefévre (1916-
 
7 
 
1981), sendo apontado como o introdutor de tais estudos no Brasil e desenvolvendo 
estudos relacionados a aspectos evolutivos da linguagem, como afasias, gnosias e 
praxias, incluindo a avaliação sobre as funções cognitivas, além de participar de 
trabalhos práticos sobre distúrbios da linguagem escrita e falada. 
Os estudos que desenvolveram a neuropsicologia sofreram influência de 
trabalhos práticos de avaliação topográfica do cérebro de pacientes com epilepsia, 
pré e pós-cirúrgicos posteriormente, e também da análise sistemática de outros 
distúrbios de comportamento causados por doenças, intoxicações, traumatismos e 
infecções. 
1.1 Conceito de avaliação neuropsicológica 
A avaliação neuropsicológica é um procedimento científico, embasado em 
teorias psicológicas que tem como objetivo mensurar e descrever as qualidades ou o 
valor dos fenômenos psicológicos, ou seja, é um processo geralmente complexo, que 
tem por finalidade produzir hipóteses, ou diagnóstico, sobre uma pessoa ou um grupo. 
Essas hipóteses ou diagnósticos podem estar relacionadas com o funcionamento 
intelectual, características da personalidade, aptidões para desempenhar uma ou um 
conjunto de atividades (ALCHIERI & CRUZ, 2014). 
Segundo a “Cartilha sobre Avaliação Psicológica” (Conselho Federal de 
Psicologia, 2007) a avaliação psicológica representa um processo técnico e 
científico: 
“Realizado com pessoas ou grupos de pessoas que, de acordo com cada 
área do conhecimento, requer metodologias específicas. Ela é dinâmica, e se 
constitui em fonte de informações de caráter explicativo sobre os fenômenos 
psicológicos, com a finalidade de subsidiar os trabalhos nos diferentes 
campos de atuação do psicólogo, dentre eles, saúde, educação, trabalho e 
outros setores em que ela se fizer necessária. Trata-se de um estudo que 
requer um planejamento prévio e cuidadoso, de acordo com a demanda e os 
fins aos quais a avaliação se destina” (Conselho Federal de Psicologia, p. 8, 
2007 apud Melo Diego & Borges Mikaelly, 2019). 
A neuropsicologia, por meio da avaliação psicológica, busca compreender as 
manifestações cognitivas e comportamentais do indivíduo, visando contribuir para o 
avanço do entendimento acerca das manifestações do ser humano. 
A avaliação neuropsicológica compreende o campo do conhecimento que trata 
da relação entre cognição, comportamento e atividades do sistema nervoso em 
 
8 
 
condições normais e patológicas, envolvendo o estudo das manifestações 
comportamentais (OLIVEIRA, 2016). 
Este modelo de avaliação não só fornece importantes informações diagnósticas 
e apresenta um papel fundamental, no que se refere à prevenção, sendo a 
identificação precoce dos transtornos do desenvolvimento um fator fundamental para 
estabelecer e estruturar rotinas de tratamentos e orientações com foco na prevenção 
de dificuldades ou transtornos mais sérios em outras etapas da vida, se tornando 
assim, um elemento fundamental para o diagnóstico, prognóstico e tratamento 
(OLIVEIRA, 2016). 
Malloy-Diniz et al, (2010) vai ressaltar que as principais razões para se 
solicitar uma avaliação neuropsicológica são: 
 O auxílio diagnóstico: as questões diagnósticas em geral buscam 
saber qual seria o problema do paciente e como ele se apresenta. Isso 
implica que seja realizado um diagnóstico diferencial entre quadros que 
têm manifestações muito semelhantes ou passíveis de serem 
confundidas. 
 O prognóstico: com o diagnóstico feito, deseja-se estabelecer o curso 
da evolução e o impacto que a desordem terá à longo prazo. Este tipo 
de previsão tem a relação com a própria patologia ou condição de base 
da doença ou transtorno, isso quando há lesão, com o lugar, o tamanho 
e lado no qual se encontra e, nesse caso, devem ser considerados os 
efeitos à distância que elas provocam. 
 A orientação para o tratamento: ao estabelecer a relação entre o 
comportamento e o substrato cerebral ou a patologia, a avaliação 
neuropsicológica não só delimita áreas de disfunção, mas também 
apresenta as hierarquias e a dinâmica das desordens em estudo. Tal 
delineamento pode colaborar para a escolha ou para mudanças nos 
tratamentos medicamentosos ou outros. 
 O auxílio para planejamento da reabilitação: a avaliação 
neuropsicológica estabelece quais são as forças e as fraquezas 
cognitivas, provendo assim uma espécie de mapa para orientar quais 
funções devem ser reforçadas ou substituídas por outras. 
 
9 
 
 A Seleção de pacientes para técnicas especiais: a análise detalhada 
de funções permite separar subgrupos de pacientes de mesma 
patologia, possibilitando uma triagem específica de pacientes para um 
procedimento ou tratamento medicamentoso. 
 A perícia: auxiliar a tomada de decisão que os profissionais da área do 
direito necessitam fazer em uma determinada questão legal (MALLOY-
DINIZ et al, 2010). 
Segundo a Resolução Nº002/2004 do Conselho Federal de Psicologia existem 
três campos de atuações que são fundamentais na profissão do Neuropsicólogo, o 
diagnóstico, no qual através do uso de instrumentos (testes, baterias, escalas) 
padronizados para avaliação das funções cognitivas, o Neuropsicólogo irá pesquisar 
o funcionamento de habilidades como atenção, percepção, linguagem, raciocínio, 
abstração, memória, aprendizagem, habilidades acadêmicas, processamento da 
informação, visuoconstrução, afeto, funções motoras e executivas. 
Esse diagnóstico tem o objetivo de coletar os dados clínicos para auxiliar na 
compreensão da extensão das perdas e explorar os pontos intactos que cada 
patologia provoca no sistema nervoso central de cada paciente. Por meio desta 
avaliação neuropsicológica, é possível estabelecer tipos de intervenção, de 
reabilitação particular e específica para indivíduos e/ou grupos de pacientes com 
disfunções adquiras ou não, genéticas ou não, primariamente neurológicas ou 
secundariamente a outros distúrbios (Psiquiátricos). 
O tratamento (reabilitação), com o diagnóstico em mãos é possível realizar asintervenções necessárias junto aos pacientes, para que possam melhorar, 
compensar, contornar ou adaptar-se às dificuldades. 
Essas intervenções podem ser no âmbito do funcionamento cognitivo, ou seja, 
no trabalho direto com as funções cognitivas (memória, linguagem, atenção, etc.) ou 
com um trabalho muito mais ecológico, no ambiente de convivência do paciente, junto 
de seus familiares, para que atuem como coparticipantes do processo reabilitatório, 
junto a equipes multiprofissionais e instituições acadêmicas e profissionais, 
proporcionando a cooperação na inserção ou reinserção de tais indivíduos na 
comunidade quando possível, ou ainda, na adaptação individual e familiar quando as 
mudanças nas capacidades do paciente forem mais permanentes ou de longo prazo 
(CFPRESOLUÇÃO Nº002/2004). 
 
10 
 
A pesquisa, que envolve o estudo de diversas áreas, como o estudo das 
cognições, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da 
relação entre estes aspectos e o funcionamento cerebral, para tais pesquisas o uso 
de testes Neuropsicológicos é um recurso empregado, para assim ter um parâmetro 
do desempenho do paciente nas determinadas funções que estão sendo pesquisadas 
(CFP-RESOLUÇÃO Nº002/2004). 
Na atualidade o uso de drogas específicas, para estimulação ou inibição de 
determinadas funções, tem sido usada com frequência para observar o 
comportamento e o funcionamento cognitivo dos sujeitos em dadas situações. 
Outra técnica que muito tem contribuído nas Neurociências e com grande 
especificidade na Neuropsicologia é o uso de neuroimagem funcional por 
Ressonância Magnética (FMRI) e tomografia funcional por emissão de pósitrons 
(PET-CT) que possibilitam o mapeamento de determinadas áreas relacionadas a 
atividades específicas, como por exemplo, recordação de listas de palavras durante o 
exame. Portanto, fica claro que a Neuropsicologia é um campo de trabalho e de 
pesquisa emergente, tanto para a Psicologia, quanto para as Neurociências, 
avançando e contribuindo de forma única para a compreensão do modo como 
pensamos e agimos no mundo. 
Desta forma, verifica-se que uma das principais atividades da neuropsicologia 
é a avaliação neuropsicológica, que tem como objetivo verificar mudanças no padrão 
de desempenho dos sujeitos em relação às funções cognitivas e comportamentais, 
suspeitando-se de algum tipo de alteração ou disfunção cerebral (ANTUNHA, 1987). 
Utilizando-se instrumentos psicométricos, escalas do desenvolvimento e 
análise qualitativa da produção do paciente, é possível identificar precocemente 
alterações no desenvolvimento cognitivo e comportamental, tornando possível a 
avaliação de funções cognitivas importantes, já que os principais objetivos da 
neuropsicologia são localizar as lesões cerebrais, responsáveis pelos distúrbios 
específicos de comportamento, e permitir uma melhor compreensão das funções 
psicológicas complexas (LEFRÉVE, 1998). 
Conforme Simonetti (2014), existem várias formas de se avaliar que não seja 
com o uso de testes apenas, a observação será um excelente crivo que pode-se 
utilizar diante de um paciente. Na avaliação neuropsicológica é utilizado uma série de 
 
11 
 
testes psicológicos, que inclui não somente os testes psicométricos, mas também as 
provas que visam analisar funcionalmente a atividade do córtex cerebral. 
Entretanto, vale salientar que a neuropsicologia não se resume a simples 
aplicação de testes, indo a uma análise global e sistemática dos resultados obtidos 
pela avaliação neuropsicológica, sejam resultados quantitativos obtidos através dos 
testes psicológicos ou qualitativos, oriundos das provas informais, da observação 
direta e informações adicionais obtidas em entrevistas com os familiares e 
profissionais que atendem o paciente. 
Portanto, os testes psicológicos têm apenas um caráter de instrumento auxiliar 
na avaliação neuropsicológica e ajuda a traçar um perfil neuropsicológico do paciente. 
Vale ressaltar, que os testes são apenas ferramentas que ajudam a entender um 
quadro clínico naquele momento específico, como uma fotografia daquele momento 
do funcionamento cerebral do sujeito (SIMONETTI, 2014). 
Segundo Tirapu Ustárroz (2011), o interesse principal do neuropsicólogo clínico 
está em conhecer a amplitude do déficit em um determinado processo ou processos 
cognitivos, planejando um programa de reabilitação individualizado, a avaliação 
neuropsicológica (ANP) é então um procedimento de investigação que se utiliza de 
entrevistas, observações, provas de rastreio e testes psicométricos, a fim de 
apresentar diagnósticos e oferecer meios de tratamento. 
A escolha dos instrumentos da avaliação deve levar em conta o objetivo do 
exame neuropsicológico, idade, sexo, nível sociocultural, grau de comprometimento e 
fatores situacionais, como hospitalização ou medicação. Nesse sentido, o 
estabelecimento de um plano de avaliação é de muita importância, uma vez que é por 
meio dele que o psicólogo poderá alcançar seus objetivos sem perder tempo e 
desestabilizar o paciente com testes que não têm uma funcionalidade prática. 
Em síntese, o plano de avaliação permite o estabelecimento de recursos que 
vão possibilitar um diagnóstico confiável, pois consiste na seleção de testes e técnicas 
que é delimitada por determinadas hipóteses diagnósticas (STRAPASSON et al, 
2004). 
Dessa forma, o desenvolvimento de baterias de testes e protocolos específicos 
de avaliação é imprescindível para aqueles que pretendem atuar com 
responsabilidade e qualidade em qualquer avaliação neuropsicológica. 
 
12 
 
Uma atuação neuropsicológica que tem ganhado reconhecimento é a 
reabilitação neuropsicológica nas mais variadas disfunções cerebrais. Segundo 
Wilson (2005) a reabilitação neuropsicológica tem o objetivo de minimizar as 
alterações cognitivas, para que o paciente atinja seu melhor nível de funcionalidade 
possível na vida diária. 
 Esse tipo de atuação tem como objetivo a melhora da qualidade de vida dos 
pacientes, por meio de atividades de Pré treino e compensação de funções cognitivas. 
Tais intervenções devem contar com o apoio de familiares e cuidadores dos pacientes 
para que bons resultados sejam obtidos, portanto, as pessoas próximas acabam 
exercendo uma atuação de co-terapeuta no processo de reabilitação do paciente, 
sendo importante que eles também recebam o mínimo de preparo. 
Diante disso, percebemos que nas atividades de avaliação e reabilitação, como 
a neuropsicologia, é importante se atentar para os diversos contextos do paciente, 
não só hospitalar, uma vez que a avaliação neuropsicológica é um tipo de avaliação 
apropriada para casos em que há disfunções funcionais relacionadas a um problema 
caracteristicamente neurológico (SILVA et al, 2016). 
 Embora já esteja bastante difundida, ainda é necessário que a avaliação 
neuropsicológica seja mais explorada e investigada, já que a maioria dos trabalhos 
publicados são diretivos à contribuição da avaliação neuropsicológica para 
determinadas patologias e/ou públicos, evidenciando-se, assim, a urgência na 
produção de mais estudos na área. 
Embora, é notório que a evolução das neurociências pode contribuir 
substancialmente no processo de avaliação neuropsicológica, pois a partir 
desta tem-se o avanço na compreensão do funcionamento do cérebro 
(MARQUES, 2013 apud Melo Diego & Borges Mikaelly, 2019). 
Através da avaliação neuropsicológica, é possível haver a realização de 
diagnósticos precoces e diferenciais de uma criança, o que torna possível a existência 
de intervenções terapêuticas capazes de contribuir para o restabelecimento das 
funções cognitivas com funcionamento inadequado, já que o cérebro da criança 
encontra-seem desenvolvimento e é plenamente favorecido pela Neuroplasticidade 
ou Plasticidade Neuronal, áreas referentes à capacidade do sistema nervoso de 
mudar e adaptar-se tanto em função quanto em estrutura. 
A neuropsicologia, enquanto área de estudo acadêmico, utiliza conhecimentos 
de disciplinas que configuram áreas das neurociências, bem como a neurofisiologia, 
 
13 
 
neuroanatomia, neurofarmacologia e neuroquímica, e de atuação profissional do 
psicólogo, como psicologia clínica, psicopatologia, psicologia experimental, 
psicometria e psicologia cognitiva. 
 A neuropsicologia é, portanto, o estudo das relações entre o cérebro e o 
comportamento, que tem como função investigar as alterações cognitivas e 
comportamentais que se associam às lesões cerebrais (HAMDAN et al 2011). 
1.2 Etapas da avaliação neuropsicológica 
Surgida em 1913, a neuropsicologia vem se atualizando e evoluindo 
paralelamente aos avanços tecnológicos até os dias atuais, sendo reconhecida como 
especialidade em 2004 pelo Conselho Federal de Psicologia. Entende-se que esta é 
uma área promissora das neurociências que investiga os distúrbios cognitivos, 
emocionais e de personalidade associados a lesões cerebrais, além de ser capaz de 
avaliar o desenvolvimento neural dos indivíduos. Ressalta-se que a neuropsicologia 
se utiliza de uma avaliação neuropsicológica específica para diagnosticar os pacientes 
com alterações de comportamento e correlaciona-las com lesões cerebrais 
(CORTEZE, 2016). 
A avaliação neuropsicológica (AN), é uma avaliação de essência sistemática, 
que observa as relações entre cérebro e comportamento. De acordo com Zillmer et al, 
(2008), trata-se de um processo neuropsicológico que se aplica a vários contextos, 
consistindo então num exame sensível usado para avaliar a integridade do 
funcionamento cerebral, explicitando dificuldades psicológicas ou neurológicas. 
Sendo assim, é um método útil nos serviços de diagnóstico e em ambientes de 
pesquisa clínica quando estão envolvidos aspectos cognitivos e comportamentais. 
Segundo Corteze (2016) a avaliação neuropsicológica possui algumas 
etapas, sendo elas: 
 A obtenção dos dados clínicos do paciente, onde essas informações 
podem ser obtidas em hospitais ou mesmo através da carta de 
encaminhamento dos profissionais (psiquiatra, psicólogo, neurologista) 
relatando os sintomas apresentados pelo paciente e o evento 
desencadeador (traumatismos, doenças, etc.), além da solicitação para 
avaliação da função cerebral. 
 
14 
 
 A avaliação clínica do neuropsicólogo, pois de posse dos dados clínicos, 
o neuropsicólogo fará a anamnese, perguntando ao paciente sobre o 
início dos sintomas, se utiliza algum medicamento e como se sente em 
relação aquela situação. 
 Aplicação dos métodos neuropsicológicos, com base nas informações 
dos profissionais e do paciente, o neuropsicólogo selecionará então o 
método mais adequado para a função cerebral em análise. Este pode 
ser feito por meio de testes ou baterias neuropsicológicas. Os testes são 
utilizados para identificar uma função cognitiva específica e relacioná-la 
com as estruturas cerebrais envolvidas. Já as baterias 
neuropsicológicas são compostas por um conjunto de testes com o 
objetivo de responder dados mais direcionados sobre determinada 
função cerebral (CORTEZE, 2016). 
Sabe-se que os instrumentos neuropsicológicos são ferramentas fundamentais 
e necessárias no processo de avaliação neuropsicológica, e a escolha dos testes pode 
mostrar maior qualidade nos resultados. A escolha desses instrumentos utilizados irá 
depender das dificuldades apresentadas, tais como sintomas ou qualquer suspeita de 
diagnóstico anterior. 
O avaliador utiliza as informações encontradas com a avaliação, o 
conhecimento da doença em questão, o conhecimento da anatomia e funções 
cerebrais, além de conhecimento de aspectos do desenvolvimento evolutivo, a fim de 
que seja possível prover uma interpretação acertada dos resultados observados nos 
instrumentos (MEDEIROS, S/D). 
Os testes cognitivos são bastante utilizados pela neuropsicologia, mas eles são 
apenas um dos quatro pilares da avaliação neuropsicológica, que são compostos 
também pelas etapas da entrevista, da observação comportamental e das escalas de 
avaliação de sintomas. Eles auxiliam no diagnóstico, na compreensão da extensão 
das perdas funcionais, no estabelecimento dos tipos de intervenções específicas e 
adequadas, e a desenvolver um plano de reabilitação (MEDEIROS, S/D). 
Segundo Carazza (2018), a visão da avaliação neuropsicológica reduzida ao 
uso mecânico dos testes tem sido bastante difundida. 
 
 
15 
 
Entretanto, mensurar quantitativamente as funções e sintomas não é suficiente 
para se estabelecer um diagnóstico correto. E uma das justificativas para isso é que 
não existe um instrumento neuropsicológico autossuficiente para avaliar um 
determinado componente cognitivo. Desta forma, cabe ao neuropsicólogo escolher os 
instrumentos que poderão auxiliar na investigação da hipótese diagnóstica e no 
esclarecimento dos possíveis déficits apresentados pelo paciente. 
 Isso porque um bom diagnóstico precisa, necessariamente, responder a uma 
série de perguntas (hipóteses). 
 Por exemplo, se as características comportamentais são traços do indivíduo 
ou é algo que ele apresenta naquele momento em decorrência de alguma alteração 
neuropsicológica ou mesmo consequência de situações contextuais. 
Alguns testes padronizados e validados utilizados para população 
brasileira úteis na avaliação neuropsicológica: 
NEUPSILIN-inf- Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve 
Infantil: 
Trata-se de um instrumento neuropsicológico breve que avalia componentes 
de oito funções neuropsicológicas, por meio de 26 subtestes: orientação, atenção, 
percepção visual, memórias (de trabalho, episódica, semântica), habilidades 
aritméticas, linguagem oral e escrita, habilidades visuoconstrutivas e funções 
executivas. O NEUPSILIN-INF permite aos profissionais dimensionarem não só a 
avaliação e o diagnóstico, mas também o prognóstico e o delineamento terapêutico. 
O seu principal objetivo é identificar e caracterizar o perfil de funcionamento de 
processos neuropsicológicos visando a descrição cognitiva associada a diagnósticos 
em transtornos do neurodesenvolvimento, em geral, e da aprendizagem, em 
particular, quando aliado ao resultado de outros instrumentos e demais procedimentos 
no processo de avaliação neuropsicológica. O Público-alvo é crianças do primeiro ao 
sexto ano escolar do Ensino Fundamental (considerando anos de estudo formal), com 
idades entre 6 e 12 anos e 11 meses. A sua aplicação é individual, sem limite de 
tempo, sendo que a maioria das aplicações leva em média 50 minutos (SALLES et al., 
2016). 
WISC IV - Escala Wechsler de Inteligência para Crianças: 
É um instrumento clínico de aplicação individual que tem como objetivo avaliar 
a capacidade intelectual das crianças e o processo de resolução de problemas. 
 
16 
 
Faixa etária: 6 anos e 0 meses a 16 anos e 11 meses. É composto por 15 
subtestes, sendo 10 principais e 5 suplementares, e dispõe de quatro índices, à saber: 
Índice de Compreensão Verbal, Índice de Organização Perceptual, Índice de Memória 
Operacional e Índice de Velocidade de Processamento, além do QI Total 
(WECHSLER, 2013). 
R-2 – Teste não Verbal de Inteligência para Criança: 
O objetivo do teste é avaliar o fator G de inteligência de crianças. O seu público-
alvo são crianças com idade de 5 a 11 anos. A aplicação é realizada individualmente, 
sem um limite de tempo, sendo que a maioria das aplicações leva em média 8 minutos. 
O teste é composto por 30 pranchas comfiguras coloridas de objetos concretos e 
abstratos, que devem ser aplicadas de acordo com sua numeração. A criança escolhe 
a opção que será registrada pelo aplicador na folha apropriada. A correção é realizada 
pelo total de acertos, pela avaliação quantitativa e qualitativa, considerando os 
diferentes tipos de raciocínio exigidos para responder cada item do teste. O 
instrumento é restrito a psicólogos (ROSA; ALVES, 2018). 
Observação sobre os testes citados acima: 
 Os testes citados acima são suscetíveis a alterações, portanto 
aconselhamos sempre o Psicólogo (a), buscar informações sobre os 
testes no site SATEPSI onde o objetivo é de avaliar a qualidade técnico-
cientifica de instrumentos psicológicos para uso profissional, a partir da 
verificação objetiva de um conjunto de requisitos técnicos e divulgar 
informações sobre os testes psicológicos, para que a comunidade de 
psicólogas (os) possa aplicar o determinado teste. 
 A resolução CFP N° 009/2018 estabelece diretrizes para a realização de 
Avaliação Psicológica no exercício profissional do psicólogo e 
regulamenta o Sistema de Teste Psicológicos – SATEPSI, bem como 
estabelece quais requisitos mínimos os instrumentos devem apresentar 
para serem reconhecidos como testes psicológicos. 
 No site do SATEPSI são apresentados, em duas abas, os instrumentos 
que podem ser usados pelas (o) psicólogas (os) na prática profissional 
(testes psicológicos favoráveis e instrumentos não privativos do 
psicológico) e aqueles que não podem ser utilizados na prática 
 
17 
 
profissional (testes psicológicos desfavoráveis e testes psicológicos não 
avaliados). 
Porém, tanto a avaliação neuropsicológica quanto a psicológica, constituem um 
procedimento de investigação clínica, e compartilham alguns dos instrumentos de 
avaliação, tais como, entrevistas, observação comportamental, análise de 
documentos e uso de testes. Desta maneira, a testagem é somente uma das etapas 
de uma avaliação, seja ela neuropsicológica ou psicológica. 
 Os instrumentos utilizados são meios e não o fim de um processo amplo, 
complexo, que requer, além de conhecimentos teóricos, prática clínica e 
engenho por parte do profissional. Por fim, ainda que a avaliação 
neuropsicológica e a psicológica tenham suas particularidades, avaliar é, sem 
dúvida, uma arte (CARAZZA, 2018 Melo Diego & Borges Mikaelly 2019). 
Dessa forma, Malloy-Diniz et al, (2010) vai ressaltar que o exame 
neuropsicológico é um procedimento de investigação clínica, tendo como objetivo o 
esclarecimento de questões sobre os funcionamentos cognitivo, comportamental e em 
menor grau emocional de um paciente e, diferentemente de outras modalidades de 
avaliação cognitiva, ele parte necessariamente de um pressuposto materialista, de 
acordo com o qual todo comportamento, processo cognitivo ou reação emocional tem 
como fundamento primordial a atividade de sistemas neurais específicos. 
A neuropsicologia apresenta uma adversidade teórico-conceitual e impulsiona 
não apenas a produção de conhecimento como também a eficiência de suas 
aplicações. Sobre essa diversidade e sobre a prática clínica da neuropsicologia, 
Lamberty (apud Malloy-Diniz et al, (2010), sugere que o principal objetivo de um 
neuropsicólogo clínico é compreender como determinada condição patológica que 
afeta o comportamento observável do paciente. 
A avaliação neuropsicológica permite inferências sobre a estrutura e a função 
do sistema nervoso a partir da avaliação do comportamento do paciente em uma 
situação bem controlada de estímulo e resposta. 
 Nela, tarefas são desenvolvidas de modo cuidadoso para acessar diferentes 
domínios cognitivos, sendo então usadas para compreender os comportamentos de 
um paciente. Segundo Carazza (2018) o processo diagnóstico em Neuropsicologia 
consiste em observar, mensurar, testar hipóteses a partir do método de correlações 
estrutura-função. 
 
18 
 
Essas respostas advindas dos estímulos são interpretadas como normais ou 
patológicas pelo neuropsicólogo. Este, por sua vez, usará não apenas a interpretação 
de parâmetros quantitativos, mas se valerá principalmente, da análise dos fenômenos 
observados e de sua relação com a queixa principal do paciente ou de seu 
representante, da história clínica, da evolução de sintomas, dos modelos 
neuropsicológicos sobre o funcionamento mental e do conhecimento de 
psicopatologia. 
Sua atuação, portanto, é voltada para a avaliação e reabilitação de pessoas 
que apresentem alguma alteração cognitiva e/ou comportamental, associada às 
diversas patologias que afetam o sistema nervoso central. Aplica-se em crianças, 
adultos e idosos (MEDEIROS, S/D). 
Por fim, a importância da Avaliação Neuropsicológica reside no fato de se 
procurar identificar e constatar precocemente a presença de algum distúrbio, bem 
como o grau de sua evolução. Uma vez identificado algum prejuízo funcional, pode-
se contribuir para a inclusão social da pessoa, por exemplo, desenvolvendo-se novas 
estratégias para lidar com as limitações apresentadas, minimizando-as (MEDEIROS, 
S/D). 
1.3 Contrastando avaliação psicológica e neuropsicológica: acordos e 
desacordos 
A avaliação, é empreendida com fins profissionais, consiste na melhor 
descrição possível, por meio de técnicas e teorias cientificas particulares, dos 
aspectos relevantes de uma pessoa, almejando responder a questões específicas, de 
forma dinâmica e processual (Tavares, 2003). 
Conduzir um processo de avaliação está longe de ser tarefa trivial, e talvez, se 
constitua em as áreas da saúde. Não obstante possa haver diferenças fundamentais 
na condução de uma avaliação empreendida em contextos e áreas distintas, entende 
– se que, de maneira geral, a avaliação atende aos seguintes propósitos: 
 Descrever o funcionamento atual do indivíduo, ressaltando suas forças 
e dificuldades, sua capacidade para viver de forma autônoma e 
independente e suas possibilidades de adaptação social, profissional e 
pessoal com vistas à minimização do sofrimento físico e psicológico; 
 
19 
 
 Identificar necessidades terapêuticas, recomendar intervenções e 
apontar resultados possíveis dessas intervenções 
 Contribuir para o diagnóstico diferencial de distúrbios emocionais, 
cognitivos e comportamentais; 
 Monitorar a evolução do tratamento e identificar novas questões que 
possam requerer atenção profissional e; 
 Oferecer devolutiva de maneira competente e empática sobre os 
resultados de todo o processo (Meyer et al., 2001). 
A avaliação diagnóstica de características comportamentais e cognitivas faz 
parte da prática profissional de áreas como a psicologia, a psiquiatria, a neurologia e 
a neuropsicologia desde sua constituição como ciência e profissão (Anastasi & Urbina, 
2000; Haase et al., 2012; Meyer et al., 2001). 
Todas essas áreas têm em comum o comportamento humano como objeto de 
estudo e aplicação. Sem dúvida, a complexidade da rede de pensamentos, emoções, 
comportamentos e cognições que constitui o funcionamento idiossincrático humano é 
condizente com a existência de práticas interdisciplinares entre essas áreas, o que, 
por vezes, pode ocasionar dúvidas e equívocos quanto aos limites de atuação 
profissional entre, sobretudo em se tratando da avaliação psicológica e 
neuropsicológica. 
Não é à toa, portanto, que estudantes e profissionais constantemente se 
questionam acerca das semelhanças e diferenças entre os processos de avaliação 
psicológica e neuropsicológica. Nos parágrafos seguintes, irá caracterizar ambos os 
processos e apontar algumas semelhanças e diferenças entre eles. 
1.4 Caracterizando a avaliação e a avaliação neuropsicológica 
Partindo de uma análise mais ampla,a avaliação psicológica (AP) pode ser 
vista como área da psicologia e como atividade levada a cabo em contextos de prática 
profissional. Seus primórdios remontam ao final do século XIX, e seu surgimento 
esteve diretamente associado ao desenvolvimento de métodos científicos com 
objetivos para quantificação e mensuração dos fenômenos psicológicos, 
especialmente aplicados aos campos da educação e seleção de pessoas (Anastasi & 
 
20 
 
Urbina, 200). Por ter, em sua origem, se voltado à elaboração de testes psicológicos 
e a psicometria, a AP se viu circunscrita à denominação de área aplicada. 
Para além da visão simplista que muitas vezes perpassa a compreensão de 
outros profissionais, leigos, estudantes de psicologia e dos próprios 
psicólogos, a AP não pode ser entendida como uma área técnica, dedicada 
exclusivamente à produção de instrumentos para uso por psicólogos (Primi, 
2010 apud Diniz Leandro, Fuentes Daniel, Mattos Paulo e Abreu Neander, 
2018). 
Trata – se de uma área intrinsecamente responsável por possibilitar que teorias 
psicológicas possam ter seus postulados teóricos testados, falseados ou corroborados 
a partir de sua operacionalização em eventos observáveis (Primi, 2003). 
Entretanto, é como processo que a AP se confunde com a avaliação 
neuropsicológica (AN). A AP constitui – se em um processo dinâmico e sistemático de 
conhecimento a respeito do funcionamento psicológico das pessoas, gerado a partir 
de demandas e perguntas específicas, de maneira a orientar ações e decisões futura 
(Primi, 2010). A condução de uma AP deve estar sempre pautada em métodos, 
técnicas e teorias psicológicas cientificamente reconhecidos. 
Conforme apontado no início, o processo de avaliação tem propósitos gerais, 
que passam por adaptações de acordo com as demandas do contexto em que é 
conduzido. 
 Como os usos e as aplicações da AP são, na atualidade, os mais variados, 
incluindo os contextos de clínica, escolar, hospitalar, organizacional, jurídico, esportivo 
e de trânsito, também são diversas as demandas que o profissional encontra em cada 
um deles, sendo, pois, essencial que tenha conhecimento aprofundado dos métodos, 
das pesquisas, das teorias e da legislação pertinente à condução da avaliação 
psicológica em cada contexto. 
Já a AN é uma atividade que emerge no campo da neuropsicologia e que 
consiste em um método para investigar as funções cognitivas e o comportamento, 
relacionando – os com o funcionamento normal ou deficitário do sistema nervoso 
central (SNC), com vistas a possibilitar o diagnóstico, a determinação da natureza ou 
etiologia dos sintomas, a gravidade das sequelas, o prognóstico, a evolução do caso 
e oferecer bases para a reabilitação (Haase et al., 2012). 
Considerando que a neuropsicologia surgiu do atendimento a pacientes com 
lesões cerebrais, a NA foi orginalmente concebida para avaliar indivíduos que 
sofreram danos cerebrais durante o período de guerra e esteve, ao longo do tempo, 
 
21 
 
majoritariamente presente em consultórios, ambulatórios e hospitais (Harvey, 2012; 
Mader-Joaquim, 1996, 2010; Ramos & Hamdam, 2016). Atualmente, a AN responde 
a demandas também advindas dos contextos educacional e forense (Lezak, 2004). 
1.5 Avaliação psicológica e neuropsicológica: convergências e divergências 
 
Fonte: unepneuro.com.br 
Tanto a (AP) á (AN) consiste em processos complexos que envolvem a 
utilização de diversas ferramentas, como entrevistas, exame do estado mental, 
anamneses, escalas, observação em contexto clínico e em situações cotidianas, 
tarefas e instrumentos padronizados para investigação de diversos aspectos do 
funcionamento cognitivo e socioafetivo individual. 
Os instrumentos padronizados, que seguem procedimentos sistemáticos para 
construção e aplicação, são, geralmente, conhecidos como testes psicológicos 
(Urbina, 2007). Os testes psicológicos são ferramentas padronizadas, cujos 
resultados são interpretados com relação a uma norma, que toma como base o 
desempenho de um grupo como parâmetro para interpretação do funcionamento 
individual (Hutz, 2015). 
Desde os seus primórdios e mais acentuadamente a partir das décadas de 
1970 e 1980, a preocupação com a qualidade psicométrica do teste psicológico, por 
 
22 
 
meio da investigação sistemática dos parâmetros de validade e fidedignidade, é 
constante no campo da AP. 
 No Brasil, essa preocupação assumiu status de regulamentação por meio de 
resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP), em 2003 (CFP, 2003; Reppold 
& Gurgel, 2015). Embora os testes psicológicos sejam ferramentas importantes e 
recorrentes em processos de AP, esta não se resume à utilização deles. Há muitos 
profissionais que realizam processos inteiros de AP sem recorrer a testes 
psicológicos. 
 O uso do teste psicológico em um processo de AP deve estar pautado em uma 
análise de demanda (ou seja, da melhor forma de responde – lá) e do custo – benefício 
de usa – ló naquele processo em particular (Meyer et. Al, 2001). 
Não há testes disponíveis e/ ou confiáveis para tudo o que se quer avaliar e 
tampouco todo e qualquer aspecto do funcionamento individual depende unicamente 
de um teste para ser avaliado de forma confiável e clinicamente útil. 
Aqui, faz – se importante uma ressalva: o processo da AP não se baseia 
somente no uso de testes psicológicos. Porém, segundo a Lei Federal n° 4.119/62, 
constitui função privativa do psicólogo a utilização de métodos e técnicas psicológicas 
com objetivos de diagnóstico psicológico, orientação e seleção profissional, orientação 
psicopedagógico e solução de problemas de ajustamento (Brasil, 1962, Art. 13°§ 1). 
Em outras palavras, seguindo a interpretação corrente dessa lei, entende – se 
que, quando um instrumento de avaliação é definido pelo CFP como testes 
psicológico, ele só pode ser usado por psicólogos. Essa é uma diferença entre a (AP) 
e a (AN): como nem todo especialista em neuropsicologia tem formação superior em 
psicologia (a neuropsicologia é, por definição, um campo de atuação e pesquisa 
interdisciplinar), nem todo especialista em neuropsicologia poderia usar testes 
psicológicos em processo de AN, ao passo que todo e qualquer psicólogo tem 
permissão legal para uso de testes psicológicos em um processo de AP. 
Destaca – se que essa não é uma questão isenta de controvérsias. Tais 
controvérsias vão desde as diferentes formas de interpretação da lei a discussões 
relativas ao estabelecimento de critérios para formação superior em AP e a 
necessidade e viabilidade de processos de certificação dos profissionais já formados, 
objetivando, se não solucionar, ao menos minimizar os impactos éticos, sociais e 
 
23 
 
legais da formação, por vezes insuficiente, superficial e inconsistente em AP no Brasil 
(Noronha et.al., 2010). 
Não obstante, cabe ressaltar que, em processos de NA, é comum que o 
profissional inclua, como fonte de informação complementar, resultados de exames 
de neuroimagem, que podem auxiliar na investigação dos substratos neurais de 
processos cognitivos específicos (Ramos & Hamdam, 2016). 
A interpretação adequada dos exames de neuroimagem exige conhecimentos 
específicos sobre estrutura e função do SNC, que, quando ausentes, podem contribuir 
para a construção de inferências equivocadas, superficiais e estatísticas sobre a 
relação cérebro- comportamento (Ramos & Hamdam, 2016). 
Outro ponto que merece atenção é quanto ao uso de análises quantitativas e 
qualitativas em AP e A N. Nas primeiras, a atenção se volta à comparação do indivíduo 
com um grupo normativo ou de critério (abordagem nomotética); ao passo que, na 
segunda, não se objetiva verificar a performance do indivíduo relativa ao grupo,mas 
sim comparar sua própria performance em momentos e situações diferentes 
(abordagem ideográfica) (Haase, Gauer, & Gomes, 2010). 
 Frequentemente se advoga que a AN extrapola a questão quantitativa para 
incluir complementarmente a análise qualitativa. Grande parte dos primeiros métodos 
de avaliação na neuropsicologia estiveram baseados na neurologia comportamental 
e no modelo médico. 
 Assim, pois, o método tradicionalmente usado na AN era de natureza 
qualitativa e largamente baseados em normas internas, informalmente elaboradas, 
com base em estudo de caso (Frazen, 2013). Mais recentemente, contudo, o 
desenvolvimento da neuropsicologia clínica e sua aproximação com modelos 
psicológicos dimensionais têm fomentado a aplicação das teorias psicométricas aos 
instrumentos de avaliação neuropsicológicos e a sofisticação progressiva das análises 
quantitativas na AN (Franzen, 2013; Hasse et al., 2012). 
No que se refere ao uso de abordagens qualitativas e quantitativas na AP, 
essa é caracterizada por uma diversidade de estilos de pensamento que dão 
origem a diferentes práticas na área (Primi, 2010 apud Diniz Leandro, 
Fuentes Daniel, Mattos Paulo e Abreu Neander, 2018). 
Há profissionais que primam pelo uso de abordagens mais quantitativas, outros 
que utilizam quase que exclusivamente análises qualitativas e, ainda, os que fazem 
uso de ambas as abordagens de maneira complementar. Inclusive, muitos testes 
 
24 
 
psicológicos possibilitam o uso simultâneo das abordagens nomotéticas e 
ideográficas. 
Pode – se citar, por exemplo, um teste de inteligência, contudo dependendo do 
determinado teste a análise dos resultados pode ser estendida muito além dos 
escores de QI e indicies fatoriais (Tavares, 2003). 
Pode-se identificar os tipos de erros, respostas com conteúdos bizarros nas 
subprovas verbais, tipo de estratégias na solução de tarefas de aritmética e memória 
de trabalho, habilidades metacognitivas, entre outras. 
Parece, pois, plausível supor que tanto a AP quanto a AN fazem uso de análises 
quantitativas e qualitativas em seu processo diagnóstico. A diferença é que a AN o 
uso de ambas as abordagens não é somente complementar, mas tradicionalmente 
imprescindível. 
As demandas e a interpretação dos achados podem diferir entre AP e a 
AN, no que se refere ás demandas, para a AN elas são eminentemente clínicas 
e, em geral, direcionadas para: 
 Diagnóstico ou detecção precoce de sintomas de transtornos do 
neurodesenvolvimento (p.ex., transtornos específicos de aprendizagem, 
transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade, perfil cognitivo nas 
síndromes genéticas) e mudanças cognitivas decorrentes de doenças 
neurodegenerativas (p.ex., demências), lesão cerebral fruto de 
traumatismos, acidentes vasculares ou abuso de substâncias; 
 Para elaboração de programas de reabilitação, acompanhamento de 
procedimentos cirúrgicos que possam resultar ao SNC e consequentes 
alterações cognitivas e comportamentais e; 
 Procedimentos legais que envolvam documentar incapacidades mentais 
de pessoas com lesões ou doenças que afetam o SNC (Mader-Joaquim; 
Ramos & Hamdam, 2016). 
Não obstante a AP pode decorrer de demandas clínicas para diagnóstico, 
detecção precoce de sintomas ou dificuldades cognitivas e emocionais, e preparação 
psicológica para a realização de procedimentos cirúrgicos (p.ex., bariátrica), muitas 
das demandas que chegam para essa avaliação não são clínicas. 
 Elas podem ser resultantes de uma necessidade de autoconhecimento (p.ex., 
orientação profissional ou de tomada de decisão acerca da aptidão ou preparação 
 
25 
 
psicológica do indivíduo para adaptação a vários contextos (como para habilitação 
veicular no trânsito, concessão de porte de armas ou seleção de pessoas em 
contextos de instituições ou organizações). No campo da clínica, independentemente 
da procedência da demanda, tanto a AP quanto a AN se pautam em um trabalho 
investigativo, em que o enfoque principal é o teste de hipóteses, o diagnóstico, o 
prognóstico e a indicação de condutas terapêuticas. 
Todavia, o teste de hipóteses e o processo inferencial e interpretativo na AN 
são realizados em função de modelos neurocognitivos, de correlação estrutura – 
função, ou seja, os resultados são interpretados sempre a partir de correlatos entre as 
funções cognitivas, executivas e os comportamentos com a topografia e o 
funcionamento do SNC (Haase et al., 2012). 
Na AP, são as teorias e os modelos psicológicos aqueles que embasam a 
elaboração de hipóteses e as interpretações acerca dos achados, sem que o 
profissional tenha de recorrer a modelos explicativos neurobiológicos. 
 Faz – se importante, contudo, destacar que nem sempre o processo de AP 
está baseado no teste de hipóteses e na investigação mais detalhada acerca do 
funcionamento psicológico. Para alguns contextos e demandas, o processo de AP é 
muito mais sucinto, pontual, prescindindo de análises mais sofisticadas, tal como 
ocorre, por exemplo, no exame psicológico pericial do trânsito. 
Ainda, acrescenta – se que a natureza do processo investigativo em AN pode 
também estar associada ao tipo de teste utilizado. Testes psicométricos que avaliam 
funções cognitivas (memória, atenção, linguagem) são comuns e frequentes aos dois 
tipos de avaliação. 
Entretanto, testes psicológicos expressivos (gráficos ou não), projetivos ou 
mesmo testes psicométricos de personalidade e interesses são comumente menos 
usados como ferramentas em processos de AN, embora alguns autores compartilhem 
da ideia de que questões relativas ao desajustamento emocional poderiam influenciar 
a resposta ás tarefas cognitivas (Fuentes et al., 2010). 
 Mesmo quando utilizados na AN, os testes de personalidade não são centrais 
nos processos ou os únicos usados, tampouco são realizadas inferências baseadas 
em teorias psicológicas, inferências mais lineares acerca da relação de construtos, 
como a personalidade, com estruturas cerebrais específicas, são limitadas pelo 
estado da arte atual. 
 
26 
 
As avaliações psicológicas e neuropsicológicas constituem – se em processos 
fundamentais para a prática de profissionais da saúde, contribuindo não apenas para 
o diagnóstico, mas também para o desenvolvimento de programas ou estratégias 
interventivas adequadas e individualizadas. 
 Ambas são dinâmicas, multifásicas, teoricamente embasadas e utilizam – se 
de testes psicológicos como uma de suas ferramentas de apoio diagnóstico. 
Entretanto, há diferenças importantes entre os dois processos no que se refere as 
diretrizes legais para uso de testes e formação profissional, aos tipos de testes 
utilizados, as demandas de encaminhamento, aos contextos de utilização e aos 
modelos teóricos que embasam o raciocínio inferencial envolvido nesses processos. 
Não obstante as convergências e divergências, faz-se importante destacar 
que os profissionais envolvidos com cada uma delas devem estar sempre 
atentos a necessidade de formação de qualidade, atualização constante, 
postura ética e humana e, acima de tudo, falibilidade do processo de 
avaliação e sua natureza contextual e social (Tavares, 2010; apud Diniz 
Leandro, Fuentes Daniel, Mattos Paulo e Abreu Neander, 2018). 
1.6 O neuropsicólogo e seu paciente: a construção de uma prática 
O desenvolvimento tecnológico é surpreendente nos dias de hoje. As invenções 
do século XX transformaram a vida do cidadão comum de um modo que, em 1900, só 
livros de ficção poderiam sugerir. 
 A primeira metade do século XX viu a transformação do transporte, das 
carroças e dos bondes aos aviões, encurtando, assim, as distâncias entre as pessoas. 
 A segunda metade transformou a comunicação, passando da simplescarta 
manuscrita ao e-mail pela internet, e hoje, textos e imagens são transmitidos a uma 
velocidade inimaginável há poucas décadas. A internet revolucionou a comunicação 
cientifica e pessoal. Quais as modificações esperadas para os próximos 50 anos? 
Quais serão os novos hábitos diários? 
As duas últimas décadas do século XX proporcionaram um avanço das técnicas 
de imagem para exames do corpo humano lançando luz sobre as estruturas cerebrais. 
Dessa forma, hoje, permitem maior precisão diagnóstica tanto de localização como de 
causa das doenças no sistema nervoso central (SNC). Outras áreas, como a biologia 
e a genética, igualmente avançaram com seus microscópios. 
 
27 
 
Compreender a complexidade do funcionamento cerebral é absolutamente 
necessário para o bom desenvolvimento da prática clínica de psicólogos, 
fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Em primeiro lugar é 
preciso compreender que as neurociências envolvem vários campos de pesquisa, 
abrangendo a neuroanatomia, a neuropsicologia e a psiquiatria. A história do 
desenvolvimento das neurociências está calcada nas contribuições dos cientistas em 
todas essas áreas. 
A neuropsicologia, tal como cunhada por William Osler em 1913 (Bruce, 1985), 
surge como a ciência de interface que enfoca a complexa organização cerebral e suas 
relações com o comportamento e a cognição, tanto em relação ás doenças que afetam 
o SNC como no desenvolvimento normal. 
Lezak, Howieson, Loring, Hannay e Fischer (2004) definem a neuropsicologia 
clínica como a ciência aplicada que estuda a expressão comportamental das 
disfunções cerebrais. J. Odgen (1996) aborda o tema como o “ ... estudo do 
comportamento, das emoções e dos pensamentos humanos e como eles se 
relacionam com o cérebro, particularmente o cérebro lesado”. 
 McCarthy e Warrington (1990) enfocam a neuropsicologia cognitiva como um 
campo interdisciplinar drenando informações tanto da neurologia como da psicologia 
cognitiva, investigando a organização cerebral das habilidades cognitivas. O termo “ 
função cognitiva” refere-se à integração das capacidades de percepção, ação, 
linguagem, memória e pensamento. 
Mesulam (2000) define a neurologia comportamental como o campo de 
interface entre neurologia e psiquiatria que trata dos aspectos comportamentais das 
doenças que afetam o SNC. Embora com abordagens um pouco diferentes, todas 
essas disciplinas voltam seus olhares para o cérebro em relação ao comportamento. 
A avaliação neuropsicológica consiste na avaliação objetiva do desempenho 
cognitivo, linguístico, perceptual e psicomotor de uma pessoa com o objetivo de 
relacionar esse desempenho com as condições funcionais e estruturais do cérebro 
(Benton, 2000). 
Trata – se da aplicação de técnicas de entrevista, exames quantitativos e 
qualitativos, o exame neuropsicológico, segundo Bento, é a extensão e o refinamento 
da observação clínica. 
 
28 
 
 Dessa forma, esse autor ressalta que um teste neuropsicológico se define por 
seu uso, especificamente com relação a função cerebral, e não por sua natureza. 
A história da neuropsicologia está demarcada principalmente pelo estudo de 
casos clássicos, Gage, Leborne, H.M., entre os mais conhecidos. Os relatos desses 
casos permitiram a exploração de vários casos similares. Leonor Welt (uma das 
primeiras mulheres que estudou medicina em Zurich), em 1988, analisou um de seus 
pacientes em conjunto com outros 10 casos relatados na literatura, associando lesões 
nas áreas orbitofrontais com a alterações afetivas e sociais. Essa integração pela 
literatura que atravessou o atlântico levou ao desenvolvimento das técnicas de 
avaliação. 
A primeira bateria de testes neuropsicológicos foi publicada por Rieger, um 
neuropsiquiatra, em 1888, em Wurzburg, Alemanha. Praticamente desconhecida pela 
história, essa bateria de longa duração influenciou o trabalho de outros, como 
Poppelreuter, Goldstein e Liepmann. No início do século XX, foram desenvolvidos 
vários testes para avaliação de funções neuropsicológicas específicas, assim como 
os testes de inteligência, (Benton, 2000). 
Sir Francis Galton estabeleceu em Londres, em 1884, um laboratório 
psicométrico na Internacional Health Exibition, que, posteriormente, foi transferido 
para a University College de Londres. O norte-americano James McKeen Cattel 
esteve com W. Wundt (Alemanha) no laboratório de psicologia experimental de 
Leipzig e, depois, trabalhou com Galton. Tais experiências reforçaram a psicometria 
nos estados unidos por ocasião de seu retorno. 
No início do século XX, na França, Alfred Binet e Theodore Simon publicaram 
a Escala de Inteligência Binet-Simon, estabelecendo os princípios básicos para uma 
bateria de avaliação psicométrica. Alexander Luria (Rússia), na década de 1960, 
elaborou a teoria dos sistemas funcionais, trazendo uma visão mais dinâmica do 
funcionamento cerebral. 
Brenda Milner (Canadá), estudando o caso H.M., cuja cirurgia para tratamento 
das crises epiléticas foi realizada pelo doutor Scoville, em Hartford (Estados Unidos), 
estabeleceu as diretrizes para a metodologia de avaliação neuropsicológica dos atuais 
centros de cirurgia de epilepsia. 
 
29 
 
Elisabeth Warringon (Inglaterra) enfocou basicamente a análise das funções 
cognitivas relacionadas ás disfunções cerebrais, voltando seus métodos para a 
análise de habilidades complexas, seus componentes e subcomponentes. 
Arthur Benton (Estados Unidos) elaborou métodos de avaliação 
neuropsicológico com testes de memória, percepção visual e práxis construtivas. Edith 
Kaplan e o grupo de Boston (Estados Unidos) desenvolveram métodos de avaliação 
do processamento das informações nos diversos testes psicométricos, conhecidos 
como “ Process Approach” (Benton, 2000; Kaplan, 1990; Mader, 1996; Sattler, 1992). 
O enfoque fundamentalmente localizacionista referido nas publicações antes 
do desenvolvimento das técnicas de neuroimagem foi embasado no estudo de 
pacientes com lesões cerebrais. 
Atualmente, com os exames de imagem (a tomografia foi desenvolvida na 
década de 1970; e a ressonância magnética, na de 1980), o foco primordial da 
neuropsicologia, na de 1980), sendo o foco maior da neuropsicologia está na 
observação de correlação entre modelos cognitivos e as áreas cerebrais e no 
desenvolvimento de métodos de avaliação coerentes com o contexto sociocultural e, 
se possível adequados ecologicamente (Ardilha, 2005; Barbizet & Warrington, 1990). 
A psicometria contribuiu largamente para o desenvolvimento da 
neuropsicologia, mas é necessário diferenciar a postura do neuropsicólogo e a do 
psicometrista. O neuropsicólogo tem por objetivo principal de correlacionar as 
alterações observadas no comportamento do paciente com as possíveis áreas 
cerebrais envolvidas, realizando essencialmente um trabalho de investigação clínica 
que utiliza testes e exercícios neuropsicológos. 
O enfoque é clínico e, como tal, deve ser compreendido. Já o psicometrista 
observa atentamente a construção da metodologia e o desenvolvimento dos testes, 
privilegiando as amostragens e padronizações de grandes grupos de pessoas 
normais. 
Face a face com o paciente, o neuropsicólogo trabalha com enfoque 
diagnóstico, seja para a descrição das alterações cognitivas em determinada doença, 
seja para o diagnóstico diferencial. Tanto testes como exercícios neuropsicológicos 
são seus instrumentos, mas o profissional experiente na aplicação de testes 
neuropsicológicos sabe que situações diferentes podem interferir no desempenho do 
paciente durante a testagem. 
 
30 
 
Parte do trabalho do neuropsicólogo consiste em controlar essas variáveis e 
observar cuidadosamenteesses dados a fim de interpretar os resultados à luz da 
ciência e não apenas das tabelas. O treinamento do profissional está justamente 
calcado em dominar seus instrumentos, pois o trabalho fascinante da neuropsicologia 
consiste em interpretar comportamentos e resultados dos testes no contexto clínico 
(Ewing, 2000; Mader, 2001; Miranda, 2005; Walsh, 1992; Weintraub, 2000). 
Walsh e Darby (1999) sugerem que o treinamento em avaliação 
neuropsicológica deve abordar principalmente casos extremos, graves e bem-
localizados. Dessa forma, o profissional aprende a observar os sintomas em sua 
expressão máxima e pode, assim, identificar melhor as alterações sutis das funções 
cognitivas nos casos mais leves. 
A oportunidade de avaliar pacientes com doenças diferentes mantém o 
neuropsicólogo alerta para a variabilidade das manifestações clínicas dos 
comprometimentos cerebrais. 
A formação em neuropsicologia deve privilegiar o treinamento, de preferência 
em um ambiente com equipe multiprofissional. Esse é um campo de trabalho que 
depende essencialmente da prática supervisionada. 
A neuropsicologia é uma ciência com contribuições multidisciplinares, mas há 
estruturas de trabalho diferentes conforme as organizações profissionais de cada 
país. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Neuropsicologia é uma instituição 
multidisciplinar fundada em 1988. 
Em 2004, o Conselho Federal de Psicologia reconheceu a especialidade de 
neuropsicologia para os psicólogos. Em 2014, o Conselho Federal de Fonoaudiologia 
reconheceu a especialidade para os fonoaudiólogos. 
A academia Brasileira de Neurologia contempla um Departamento Científico de 
Neurologia Cognitiva e Envelhecimento. Cada profissional, dentro de sua habilitação 
técnica, colabora para a integração das neurociências, mas essa interseção é delicada 
e merece atenção das instituições formadoras, buscando beneficiar um objetivo 
comum, o paciente. 
O processo de avaliação inicia com uma entrevista clínica, na qual o histórico 
do paciente é investigado (escolaridade, ocupação, antecedentes familiares e história 
da doença mental) e esses parâmetros são utilizados na análise de resultados e na 
interpretação do impacto cognitivo das doenças neurológicas. 
 
31 
 
No Brasil, apesar da unidade da língua em todo o território, a diversidade 
cultural é imensa. As imigrações ao longo dos séculos XIX e XX proporcionaram uma 
integração entre as culturas europeias, africanas e asiáticas. 
As diferenças educacionais relacionadas ás condições econômicas são tão 
importantes quanto as diferenças culturais. As áreas economicamente bem-
desenvolvidas dos grandes centros contrastam com regiões de extrema pobreza. 
Todos esses brasileiros podem, em algum momento, tornar –se pacientes para os 
neuropsicólogos. 
O questionamento sobre a diversidade cultural e suas implicações para a 
interpretação de determinado resultado leva ao problema da adaptação aos testes 
estrangeiros. 
No mundo globalizado pela rigidez dos meios de comunicação, as fronteiras 
são mais amplas e permitem uma compreensão mais precisa das diferenças entre as 
culturas. 
Evocando a história dos testes psicométricos, esses métodos nascem com 
Binet (na França) e atravessam o Atlântico Norte (Estado Unidos) para sofrer 
as adaptações. A própria construção das escalas Wechler é uma composição 
de vários métodos é uma composição de vários métodos com a preocupação 
de resolver os problemas culturais e educacionais observados no início do 
século XX (Boake, 2002 apud Diniz Leandro, Fuentes Daniel, Mattos Paulo e 
Abreu Neander, 2018). 
Hoje, a demanda na neuropsicologia difere um pouco daquela observada antes 
da viabilização dos exames de imagem. A localização específica das lesões cerebrais 
é detectada de modo mais preciso por meio desses métodos, mas a avaliação 
neuropsicológica é capaz de revelar as alterações sutis, o nível e a qualidade do 
funcionamento cognitivo (Jones-Gotman, 1991). 
Em linhas gerais, as demandas por avaliação neuropsicológica estão 
direcionadas para: 
 Quantificação e qualificação detalhadas de alterações das funções 
cognitivas, buscando diagnóstico ou detecção precoce de sintomas, 
tanto em clínica como em pesquisa. 
 Avaliação e reavaliação para acompanhamento dos tratamentos 
cirúrgicos, medicamentosos e de reabilitação. 
 Avaliação direcionada para o tratamento, visando principalmente à 
programação de reabilitação neuropsicológica. 
 
32 
 
 Avaliação direcionada para os aspectos legais, gerando informações e 
documentos sobre cerebral ou uma doença, afetando o SNC. 
As baterias fixas são extremamente úteis no contexto de pesquisas ou serviços 
especializados em determinadas doenças neurológicas em que é necessária uma 
avaliação o mais formal possível. 
 Por exemplo, um serviço de investigação preparatória para a cirurgia de 
epilepsia exige um protocolo com ênfase em funções de memória, já uma equipe 
voltada para avaliação em crianças com transtornos de aprendizagem ressalta 
aspectos da leitura, da escrita e do cálculo. 
 As baterias fixas são desejáveis e praticamente obrigatórias em pesquisas 
clínicas, portanto, a escolha dos testes deve ser abrangente o suficiente para cobrir a 
investigação das funções geralmente comprometidas nas doenças a serem 
investigadas. O protocolo deve ser organizado considerando o tempo e o local para 
avaliação. 
As baterias breves e os testes de rastreio são mais indicados para aplicação 
no contexto ambulatorial ou de internação hospitalar. A avaliação breve propicia 
apenas um resultado indicativo de alteração e sugere possíveis áreas de investigação, 
mas não permite uma avaliação mais detalhada e, em casos que podem envolver uma 
questão jurídica, uma conclusão diagnóstica baseada apenas no “teste breve”. 
Deve –se ressalta que, em casos nos quais a alteração é sutil, essas técnicas 
são evidentemente insuficientes. Justamente por isso, é necessária uma boa 
integração do neuropsicólogo com a equipe. 
Na avaliação clínica, na qual é comum a diversidade de manifestações (trauma 
craniencenfálico, acidentes vasculares, demências, transtornos de aprendizagem), a 
abordagem por meio de baterias flexíveis é mais indicada. A partir de uma história 
clínica detalhada, são estabelecidas as bases para a investigação neuropsicológica 
(Camargo, Bolognani, & Zuccolo, 2008; Ewing, 2000; Walsh, 1992). As habilidades de 
entrevista clínica são necessárias para estabelecer o contato e avaliar a demanda do 
paciente e do profissional que solicitou a avaliação. 
O profissional solicitante quer complementação do diagnóstico, objetivo que 
abrange, ás vezes, documentar as condições do paciente antes ou depois de um 
tratamento. 
 
33 
 
O paciente, ou seu familiar, pode ter uma demanda diferente. Quando um 
familiar acompanha um paciente que sofreu alguma lesão cerebral, ele quer mais 
explicações sobre as dificuldades que observa em casa, precisa saber como lidar com 
as situações do dia a dia e, principalmente, qual o prognóstico. Nem sempre as 
notícias são boas, mas, na maioria dos casos, uma longa conversa com o familiar 
expõe o alcance das alterações observadas nos testes e o auxilia a compreender a 
origem dos comportamentos. 
A partir da demanda, o profissional seleciona as técnicas adequadas e compõe 
sua bateria flexível, pois o processo de avaliar acaba por sugerir áreas a serem 
investigadas em profundidade. Para os pacientes submetidos à avaliação pela 
primeira vez, as tarefas iniciais podem ser mais simples, de modo a introduzir o ritmo 
e verificar sua capacidade de se adaptar e colaborar com o processo. 
A escolha do método de trabalho depende, assim, das questões a seremrespondidas. A abordagem quantitativa é fortemente baseada em normas, análises 
fatoriais e estudos de validade. O processo de avaliação privilegiada traz consigo uma 
bateria de testes essencialmente quantitativos e enfoca as propriedades 
psicométricas dos testes. 
A abordagem qualitativa – flexível, em contrapartida, é referendada por 
diversos autores que alertam para as armadilhas da interpretação rápida de escores, 
embora não abandonem por completo as técnicas formais (Kaplan, 1990; Lezak, 
2004; Odgen, 1996; Walsh, 1992; Walsh & Darby, 1999; Weintraub, 2000). 
Os instrumentos neuropsicológicos podem ser classificados, em linhas gerais, 
como testes e exercícios. Os testes formais são métodos estruturados aplicados com 
instrumentações especificas e normas derivadas de uma população representativa. 
Os resultados são medidos em escalas padronizados ou descritos a partir de média e 
desvio padrão que permitem a utilização de cálculos para comparação (p. ex., escores 
z ou t) (Fachel & Gamey,2000). 
Embora permitam uma avaliação quantitativa, os testes formais podem ser 
também interpretados qualitativamente. Os exercícios neuropsicológicos são métodos 
de exploração da cognição e do comportamento, abordando as diversas etapas 
necessárias para desempenhar determinada função. 
São fundamentados nos sintomas neuropsicológos, desenvolvidos 
gradualmente pela experiência clínica (Goldstein & Scheerer, 1941; McCarthy & 
 
34 
 
Warrington, 1990) ante as diversidades dos pacientes com lesões cerebrais. São 
exercícios destinados a explorar as etapas dos processos cognitivo. De fato, a forma 
como o paciente confronta – se com o exercício (seja ele um cálculo ou um desenho) 
e que tem significado clínico. Algumas dessas técnicas foram encorpadas as baterias 
de avaliação cognitiva e validadas. 
Weintraub (2000) ressalta que não existe testes formais com normas definidas 
para avaliar algumas alterações neuropsicológicas mais específicas, nem uma bateria 
de testes completa, abrangente e totalmente padronizada. A autora argumenta que 
não é possível ter normas detalhadas para todas as variáveis que podem interferir nos 
testes (como idade, gênero, educação e cultura). Do mesmo modo que não é possível 
evitar por completo os efeitos de “ teto” e “ chão” em todos os níveis de testes. 
Walsh (1992) adota uma postura essencialmente clínica quando afirma que “... 
na realidade, não existem testes neuropsicológicos. Apenas o método de construir as 
inferências sobre os testes é neuropsicológico”. O impacto dessa colocação é 
destacado anos depois por Ewing (2000) e Lezak e colaboradores (2004). 
Diversos fatores podem interferir no desempenho do paciente, sendo assim, a 
interpretação baseada apenas em resultados quantitativos pode levar a concepções 
errôneas. A partir dessa linha de pensamento, a concepção da validade ecológica 
cresceu, isto é, a capacidade dos exames neuropsicológicos de inferir sobre a 
adaptação do paciente ao meio em que vive e seu retorno ao trabalho ou à escola 
após a lesão cerebral. Tal aspecto torna- se importante justamente quando a 
avaliação subsidia o campo jurídico (Ewing, 2000). 
O relatório (ou parecer) da avaliação neuropsicológica é o resultado final do 
processo, o fechamento da avaliação e a abertura das orientações para reabilitação. 
Deve incluir aspectos descritivos (com ou sem dados numéricos) e a interpretação dos 
dados obtidos. Esse é o meio de comunicação oficial, o documento que responde à 
demanda e pode ter desdobramentos jurídicos. 
O relatório (parecer) pode também subsidiar profissionais de outras áreas nas 
decisões sobre retorno ao trabalho ou interdição. Para o paciente, em contrapartida, 
o importante é a entrevista devolutiva. As alterações observadas devem ser traduzidas 
com exemplos das situações práticas. 
 
35 
 
Tanto o paciente como o familiar precisam de orientações e indicações para o 
acompanhamento futuro. Os termos técnicos dos relatórios, então, podem ser 
explanados; e as dúvidas, sanadas. 
A avaliação neuropsicológica não é um processo de investigação pronto e 
acabado; está em estruturação e provavelmente estará assim por muito tempo. Lezak 
e colaboradores (2004) instigam os neuropsicólogos a buscarem novas formas de 
abordagem, alterando que “... nesse campo complexo e em expansão, poucos fatos 
ou princípios podem ser tomados como verdade, poucas técnicas não vão se 
beneficiar das modificações de conhecimento e experiência. ” 
Ao contrário dos testes, as tarefas neuropsicológicas não são restritas a 
nenhuma categoria profissional, podendo ser utilizadas pelos demais profissionais da 
saúde com formação em Neuropsicologia. 
A escolha dos instrumentos utilizados na Avaliação Neuropsicológica deve 
levar em conta vários fatores como a idade e a escolaridade do examinando, assim 
como o objetivo da avaliação. De acordo com Abreu, Fuentes, Malloy-Diniz e Mattos 
(2010) os instrumentos escolhidos podem ser estruturados por meio de baterias fixas 
ou flexíveis, ambas avaliam uma série de domínios cognitivos. No entanto, enquanto 
as baterias flexíveis são compostas por testes e tarefas escolhidos com base na 
condição individual do examinando, as baterias fixas caracterizam-se pelo uso dos 
mesmos instrumentos para um grupo de pessoas. 
 As baterias fixas são extremamente úteis dentro do contexto de pesquisas e, 
nesse contexto, a escolha dos testes deve ser suficientemente abrangente para cobrir 
a investigação das funções cognitivas comumente comprometidas nas patologias a 
serem investigadas. Já na avaliação clínica, onde é comum a diversidade de 
manifestações (por exemplo, trauma crânioencefálico, acidentes vasculares, 
demências, distúrbios de aprendizagem), a abordagem por meio de baterias flexíveis 
é mais indicada. 
Embora Haase (2009) sugira que a formação do neuropsicólogo deve ocorrer 
preferencialmente em um nível de pós-graduação, o interesse pela área geralmente 
ocorre ainda na graduação. Para o psicólogo, uma forma bastante frequente de 
aprendizado da Avaliação Neuropsicológica ocorre no contexto de pesquisas cuja 
metodologia utiliza esse tipo de avaliação. Tais pesquisas podem ser realizadas por 
 
36 
 
laboratórios de pesquisa vinculados às instituições de ensino ou mesmo por iniciativa 
de professores. 
1.7 Contextualizando a avaliação psicológica 
A avaliação psicológica é considerada uma das primeiras referências 
profissionais do psicólogo e uma prática que se insere nos mais diversos campos de 
aplicação dos conhecimentos da profissão: clínicas, escolas, processos seletivos para 
empresas, concursos públicos, auxílio em perícias judiciais, concessão para a Carteira 
Nacional de Habilitação (CNH) e para o porte de armas (NUNES et al. 2012). 
 Deste modo, torna-se fundamental ao profissional da área aliar o 
conhecimento teórico e metodológico ao conhecimento dos instrumentos e 
procedimentos aplicados neste processo. 
A testagem psicológica enquanto ferramenta utilizada na tomada de decisões 
envolvendo pessoas teve seu início antes mesmo do reconhecimento da psicologia 
enquanto profissão (URBINA, 2007:18). No final de século XIX e início do século XX, 
vários pesquisadores empenharam-se na atividade de elevar a psicologia ao status 
de ciência através da criação de instrumentos mensuráveis que representassem uma 
amostragem de comportamentos ou processos mentais. 
 Nesse contexto vale destacar as contribuições pioneiras do inglês Francis 
Galton, que introduziu o estudo das diferenças individuais; do americano James 
McKenn Catell, com a realização das provas denominadas "testes mentais"; e pelos 
franceses Alfred Binet e Theophile Simon, organizadores de um teste para

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