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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE EDUCAÇÃO SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DIRETORIAS DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE CADERNO PEDAGÓGICO REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA NUMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA CURITIBA, NOVEMBRO DE 2013 IDENTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA – TURMA 2013 Título: Reflexões sobre a Prática Pedagógica numa Perspectiva Emancipatória. Autora: Maria Clarete Barbosa Disciplina/Área: Pedagogia Escola de Implementação do Projeto e sua localização: Colégio Estadual Dr. Xavier da Silva, Av. Silva Jardim, 613, Rebouças. Município da Escola: Curitiba Núcleo Regional de Educação: Curitiba Professor Orientador: Américo Agostinho Rodrigues Walger Instituição de Ensino Superior: Universidade Federal do Paraná Resumo: Considerando as complexidades do mundo contemporâneo, refletidas na forma de enormes desafios no campo educacional, há a necessidade de intervençõesque permitam refletir sobre a atuação do (da) pedagogo (a) e a organização da prática pedagógica. Para desencadear processos de reflexão com vistas à educação emancipatória, requer-se estudos, busca do conhecimento nas teorias pedagógicas, nas ciências afins etc.. Neste sentido, o caderno pedagógico tem por objetivo subsidiar as reflexões e as discussões nos encontros que acontecerão com as (os) pedagogas (os), por meio de leituras, debates, pesquisas e exibição de filmes. Propicia-se, nestes momentos formativos, uma oportunidade para refletir sobre as ações da escola com possibilidadesde elaboração junto aos pares de novas abordagens e perspectivas de mudanças e transformações na educação. A prática pedagógica, deve buscar olhares, gestados na reflexão pelos envolvidos no processo, na luta em construir diariamente de forma crítica, consciente e responsável um novo pensar, que considere os cenários educacionais, sociais e políticos de nosso tempo. Palavras - chave: Educação Emancipatória, Pedagogo (a), Prática Pedagógica e Sociedade Contemporânea. Formato do Material Didático: Caderno Pedagógico. Público: Pedagogas e Pedagogos. Sumário IDENTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA – TURMA 2013 ......................................... 2 APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................................... 4 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 5 UNIDADE 1 - EDUCAÇÃO COMO FORMAÇÃO HUMANA ...................................................................... 7 UNIDADE 2 - CONTEXTO DA SOCIEDADE ATUAL ................................................................................ 11 UNIDADE 3 - PAPEL DO (A) PEDAGOGO (A) ........................................................................................ 15 UNIDADE 4 - PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO ................................................................................. 25 UNIDADE 5 - CONVERSANDO SOBRE ÉTICA ........................................................................................ 36 UNIDADE 6 - A ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA E A FORMAÇÃO HUMANA: LIMITES E POSSIBILIDADES ................................................................................................................................... 43 REFERÊNCIAS: ....................................................................................................................................... 45 APÊNDICES: .......................................................................................................................................... 48 APÊNDICE A-INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS PARA PROFESSORAS (ES), PEDAGOGAS (OS), FUNCIONÁRIAS (OS) E EQUIPE DIRETIVA). .......................................................................................................................... 48 APÊNDICE B - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS PARA ALUNOS E ALUNAS .............................................. 50 APÊNDICE C - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS PARA OS PAIS OU RESPONSÁVEIS. ................................. 52 APÊNDICE D - INSTRUMENTO PARA ANÁLISE E DISCUSSÃO DO FILME “A ONDA” DO DIRETOR DENNIS GANSEL. ............................................................................................................................................................... 54 4 APRESENTAÇÃO A produção do presente Caderno Pedagógico tem como finalidade contribuir com subsídios teóricos para os encontros de reflexão dos (as)pedagogos (as) sobre a organização do trabalho pedagógico no espaço escolar, nas atividades vinculadas ao Projeto de Intervenção Pedagógica do PDE/2013. Para além da exigência do projeto, esta proposição é um convite à escola, no exercício de pensar à luz da teoria crítica a partir dos desafios vividos na prática pedagógica, possibilitando novas leituras desta prática, outras percepções, na perspectiva de avanços. 5 INTRODUÇÃO Num primeiro momento devo registrar os limites cronológicos do programa PDE, para construir uma proposta de intervenção pedagógica e a produção didática num tempo que impossibilita um nível de aprofundamento à altura dos desafios educacionais vividos na escola nos dias atuais. Esta constatação demandou delimitar conteúdos de maior relevância a meu ver, em detrimento de outros, também relevantes na discussão com as (os) pedagogas (os). A proposição deste caderno está organizada em seis unidades, com os subsídios de apoio às discussões dos encontros pedagógicos, por meio de textos no intuito de provocar discussões numa postura de reflexão crítica do nosso papel profissional sem diminuir esforços empreendidos e demandados em nossos locais de trabalho. Cada unidade será composta de uma reflexão teórico-prática com questões a serem pensadas pelo grupo, além das sugestões de leituras complementares. A primeira unidade aborda a educação como formação humana numa perspectiva emancipatória, segundo a teoria crítica da sociedade trazida por Theodor Adorno e outros pensadores da educação. Asegunda unidade realiza um panorama do contexto da sociedade atual com seus reflexos na escola. Buscando a compreensão dos processos de transformações da sociedade contemporânea sob diversos facetas: sociológicos, filosóficos, psicológicos e históricos. A terceira unidade, traz reflexões sobreo papel do (a) pedagogo (a), como profissional articulador (a) do trabalho pedagógico na escola e os desafios colocados no desenvolvimento de uma educação emancipatória dos sujeitos no contexto da sociedade contemporânea. A quarta unidade fala da importância do projeto político pedagógico como construção coletiva do planejamento da escola, considerando os estudos de Ilma Passos Veiga. A quinta unidade, conversando sobre ética, aborda a discussão sobre ética na escola. Numa sociedade em crise de valores, é mister a importância da conduta ética na vida e no exercício profissional, bem como no processo de educar a si mesmo pela consciência dos valores éticos. Torna-se como referência, nesta 6 unidade, a trajetória do educador Paulo Freire e os conteúdos de aula trabalhados pela professora Dulce Dirclair Haf Bais da UFPR nos encontros do PDE/SEED. A sexta unidade fala dos limites, das possibilidades e das perspectivas identificados pelas (os) pedagogas (os) para uma educação emancipatória, e dos desafios para uma permanente reflexão da comunidade escolar.7 UNIDADE 1 - EDUCAÇÃO COMO FORMAÇÃO HUMANA Texto: A educação enquanto formação humana numa sociedade de organização capitalista, desafia constantemente educadores e educadoras a repensar a prática pedagógica, perguntando-se: que tipo de homem pretendemos formar? Para qual sociedade? Para atender expectativa do mercado de trabalho de uma sociedade na qual o capital se sobrepõe ao valor pessoa humana?Quais as conseqüências na formação de valores humanos quando acontece a valorizaçãodo ter em detrimento do ser? Como desenvolver a capacidade em pensar por si mesmo, para formar cidadãos conscientes e capazes de atuarem numa sociedade de classes sem serem manipulados por esta? Como a escola, considerando sua função social poderá contribuir com os processos emancipatórios dos estudantes? Na proposta de refletir sobre a prática pedagógica, via organização do trabalho pedagógico, a questão central que perpassará todo o material será pensar sobre educação de forma abrangente enquanto proposta de emancipação dos sujeitos, no recorte da educação escolar na concepção crítica de formação humana, nos reportando à Theodor Adorno, filósofo da teoria crítica da escola de Frankfurt. A sociedade contemporânea do século XXI chega com o componente da “urgência”: é urgente salvar o planeta, acabar com a pobreza, com a corrupção, com a violência, com a falta de ética, com os maus políticos com a falta de seriedade na oferta de serviços públicos principalmente de segurança, saúde, educação etc.; e as urgências não param por aí, pois são muitas as questões a serem resolvidas. No contexto das urgências, onde entra a formação do cidadão, que de acordo com a constituição de 1988 é de responsabilidade da sociedade como um todo desde a família, as instituições de ensino, os meios de comunicação de massa (em todas suas linguagens e interações: escrita, falada, através da imagem na dramatização, ou seja, o jornal, a TV, o cinema o teatro e a mais destacada dentre elas, a Internet, ou melhor dizendo o facebook, que tem possibilitado as mobilizações que as organizações sindicais e sociais têm encontrado dificuldades. De forma simples, mas não simplista, tento mapear um pouco do contexto de sociedade no qual estamos vivendo. Há muitos estudos, muitas discussões nas 8 universidades, muitos escritores, enfim, muitos debates sobre os desafios da escola hoje. Temos uma sociedade que vem se construindo ao longo da história. Alguns, não muitos, se perguntam: o que de fato está acontecendo na nossa sociedade? Porque está acontecendo? O que é possível fazer? É responsabilidade de quem fazer? O que a sociedade espera da escola e de nós, educadores? Sem pensar mais demoradamente nas perguntas, tenderemos a posturas simplificadas com diversas atitudes inférteis, iniciando por culpar alguém, normalmente o governo. Ao refletirmos, porém, podemos descobrir que todos são, responsáveis pelos acertos e desacertos desta marcha, desde a escola às gestões de governos. Nesta perspectiva está presente a proposta de pensarmos sobre a Organização do Trabalho Pedagógico da Escola, considerando a mesma como parte de um contexto maior, compreendê-la é o desafio que os encontros de estudo e reflexão nos coloca neste momento. A reflexão entendida apenas como a simples crítica pela crítica na tentativa de encontrar um culpado, não faz parte da proposta deste projeto de intervenção. Assim, o avanço ou não, nas compreensões e necessidades de alterações de percurso da prática pedagógica caberá ao grupo definir por novas práticas. Wolfang Leo Maar, na introdução do livro Educação e Emancipação de Theodor W. Adorno,coloca a necessidade da crítica permanente no sentido de não cometer os mesmos erros, neste caso, ele se refere ao que aconteceu em Auschwitz, na Alemanha, no período de Hitler. Quais leituras podem ser feitas a partir dos movimentos das sociedades. Adorno (1995), “alerta os educadores em relação ao deslumbramento geral, e em particular o relativo à educação, que ameaça o conteúdo ético do processo formativo em função de sua determinação social. Isto é, adverte contra os efeitos negativos de um processo educacional pautado meramente numa estratégia de “esclarecimento” da consciência, sem levar na devida conta a forma social em que a educação se concretiza como apropriação de conhecimentos técnicos“ (ADORNO, 1995.p.11). Ainda segundo ADORNO (1995), (...) ”o próprio processo que impõe a barbárie aos homens ao mesmo tempo constitui a base de sua sobrevivência... a função da teoria crítica seria justamente analisar a formação social em que isto se dá, 9 revelando as raízes deste movimento - que não são acidentais – e descobrindo as condições de interferir em seu rumo. O essencial é pensar a sociedade em seu devir. Só assim seria possível fixar alternativas históricas tendo como base a emancipação de todos no sentido de se tornarem sujeitos refletidos da história, aptos a interromper barbárie e realizar o conteúdo positivo, emancipatório, do movimento de ilustração da razão” (p.12). Segundo a teoria postulada por ADORNO (1995), “em cada momento, a teoria crítica confrontaria a realidade mais ou menos bem sucedida da experiência formativa com sua “idéia”, com o conceito de uma formação verdadeiramente realizada” (p.24 e 25). Desta forma, ela apresenta um aspecto “negativo” ao confrontar-se com o que não é, com o próprio limite, para um vir a ser. O processo acontece ao recusar o existente por meio da contradição e da resistência. Na prática, seja no âmbito pedagógico ou não, tradicionalmente aprendemos que discordar representa ficar contra a pessoa do outro, contra a “autoridade” dos pais (leia-se autoritarismo), o pensar diferente transforma deste modo, em fator de exclusão. Esta constatação é uma provocação para um auto-rever-se no sentido de trilhar caminhos rumo ao profissionalismo, como educadores que nos propomos ser. Em que medida já somos? O que motivou escolher a profissão do campo educacional? ADORNO (1995), ainda vai mais longe dizendo que: “o conteúdo da experiência formativa não se esgota na relação formal do conhecimento – das ciências naturais, por exemplo – mas implica uma transformação do sujeito no curso do seu contato transformador com o objeto da realidade” (p.25). Ou seja, uma postura passiva diante de qualquer situação vivida pelo sujeito não resultará em formação, como diríamos, não haverá apropriação do conteúdo trabalhado. O pensador alemão ainda nos traz o conceito do que seria a “semiformação” mas, para compreendê-la de forma abrangente, ele nos coloca o que significa a ação formativa no contexto da sociedade capitalista. Segundo o pensamento de (Marx. apud Adorno, 1995): (...) “a realidade efetiva da história é uma “formação pelo trabalho” (...) a partir desta formação pelo trabalho seria possível doravante pensar no capitalismo como uma síntese socialmente formada. Mas muito cedo ficaria claro que, embora o trabalho fosse formador, o que seobservava era a 10 universalização da forma social do trabalho alienado, deformador; a formação se desenvolveria como um déficit ético no capitalismo” (p.17). Destaca-se o peso que a formação pelo trabalho exerceu e exerce na formação da sociedade na expressão de Adorno (1995): “a experiência formativa pelo trabalho social acompanha o desenvolvimento do processo de trabalho e tudo o que isto representa em termos de transformações culturais, científicas, tecnológicas etc.” (p.17). Assim, quanto maior for o comprometimento da escola para que os estudantes possam ter o entendimento em compreender aspectos históricos e sociais da formação de uma sociedade de base capitalista, maior a possibilidade de desenvolvimento. Reflexão/Ação: Como a escola expressa no Projeto Político Pedagógico os objetivos quanto asua proposta formativa para os estudantes? Leitura Complementar: Texto 1: Educação para quê?, do livro Educação e Emancipação deTheodor W. Adorno; Texto 2: A Educação contra a Barbárie, do livro Educação e Emancipação deTheodor W. Adorno; Texto 3 : Tempo e Formação Humana, do Livro Imagens Quebradas, de Miguel Arroyo. 11 UNIDADE 2 - CONTEXTO DA SOCIEDADE ATUAL Texto: Não há como falar de contexto educacional sem falar da sociedade organizada em classes. No regime capitalista prevalecendo sempre os interesses para manutenção do capital em detrimento do atendimento às necessidades básicas do ser humano. Não há uma compreensão, em nossa sociedade de como os processos acontecem, ou seja, como as pessoas submetem-se a esta situação e, acabam por não refletir, naturalizando-a. Na ausência de pensamento emancipado, que não é um processo simples, acata-se o que chega “enlatado” pronto para consumir. Isto vale para todos os processos de formação humana que são reflexos de uma sociedade da pressa e do descartável, em que os supostos avanços parecem contribuir muito para esta forma acelerada de desumanização. Há um preço a pagar pelas “facilidades” sem dúvida, trazidas pelas novas descobertas tecnológicas. Exemplificando: na educação dos filhos, o caminho mais fácil parece ser dissuadi-los com “historinhas” e as vezes com repressões e até castigos, do que exercitar o diálogo sobre os temas que eles trazem das interações sociais. E na escola, como a proposta formativa acontece? Os conteúdos são significativos? Para quem? O que eles podem estar reproduzindo numa sociedade de classes? O que dizemos aos nossos alunos quando somos questionados? O bimestre está acabando precisamos vencer os conteúdos? Como fica vencer a ignorância de não saber, em receber uma educação que reproduz interesses de outro sem ao menos poder fazer perguntas. Como professores, “carregamos” uma herança pesada de que temos que saber,dar as respostas certas sempre. O que seriam as respostas certas hoje no século 21? Como organizarmos o trabalho pedagógico pensado coletivamente no sentido de torná-lo uma busca de respostas para as perguntas que são tantas nos nossos dias? Na tentativa de identificar e compreender os desafios colocados a nós educadores nos dias atuais, citarei algumas das reflexões de Miguel Arroyo, em seu livro Imagens Quebradas, que, com determinação nos coloca diante da realidade escolar no início do século XXI. Mudanças da sociedade que vem ocorrendo em seu processo histórico, ainda hoje, não são percebidas e nem admitidas por nós educadores, pois as mesmas são como um espelho evidenciando, de alguma forma, a nós mesmos. E por mais evidente que pareçam as mudanças ocorrida na 12 sociedade, a escola parece não perceber o movimento e, quando observam suas formas de ensinar e organizar, nem ao menos percebe-se reprodutora. O que pode significar esta resistência? O que seria ressignificar a pedagogia e docência no entender de Arroyo? O autor descreve suas percepções da escola do nosso tempo: (...) “os diálogos nas escolas tornaram – se tensos entre alunos e mestres” (...) “há apreensão nas escolas, e não apenas com salários, carreira e condições de trabalho que pouco melhoraram. Há apreensão diante dos alunos. É deles que vem as tensões mais preocupantes vivenciadas pelo magistério. Os alunos estariam colocando seus mestres em um novo tempo? O mal-estar nas escolas é preocupante porque não é apenas dos professores mas também dos alunos” (ARROYO, 2009, p.9). Como compreender o que podem significar essas tensões, a forma como reagem os (as) professores (as), suas interpretações, suas buscas do que fazer nas situações que têm desafiado constantemente seu modo de ensinar? Para ARROYO (2009): (...) “parecia que se tratava de tensões diante das condutas indisciplinadas e até violentas dos alunos. Num olhar mais cuidadoso foi descobrindo que as tensões são mais profundas, mais de raiz. Estão em jogo nossas auto- imagens. Inseparáveis das imagens que nós fazemos dos educandos” (...) Ao longo da história sempre que os educandos mudaram, a pedagogia e a docência foram tensionadas (...). Aí as tensões assumem um caráter mais radical: quando as imagens dos educandos se quebram, que acontecerá com nossas imagens docentes? (...) continuamos atrás de nossas identidades pessoais e coletivas. Com uma novidade: destas vez vemos nossas identidades refletidas no espelho da infância, adolescência e juventude com que lidamos. São as imagens deste tempo de vida que estão se quebrando? Com elas quebram-se também as imagens da pedagogia e do magistério? Haveremos de construir outras imagens dos educandos para reencontrar nossas identidades. Este pode ser o desafio que neste momento incomoda a categoria docente” (p.10). ARROYO (2009) diz ainda que “se acertarmos com os tratos que dêem conta das formas concretas de viver estes tempos de vida com que convivemos por ofício, talvez acertaremos com nossa próprias identidades” (p.10).Neste sentido,considera que o mal-estar e o incômodo vivenciados nas escolas pode tornar-se fecundo, com significado positivo, possibilitando reflexões que permitam visualizar caminhos ainda não trilhados pelo coletivo da escola. Buscar pelo conhecimento possibilita criar compreensões sobre as complexidades da sociedade vividas neste século 21, muitas delas refletidas na educação escolar. As reflexões necessárias ao fazer pedagógico, ganham novas dimensões quando realizadas no coletivo, ampliando as possibilidades assertivas. 13 Neste momento, a pedagogia e a docência são desafiadas a criar compreensões e alternativas de enfrentamento das tensões vividas neste novo tempo por todas as instâncias organizadas da sociedade, mas, de forma singular pela escola, que conserva ainda formatos “antigos” de realizar a educação, concebendo o ensinar muito desvinculado do educar. No contexto da sociedade atual, percebe-se claramente o conflito de papéis da família e da escola. A sensação para nós educadores, é que perdemos algo no caminhar, as peças parecem não se encaixarem mais, a língua que falamos parece não estar sendo ouvida,o que fazer para encontrar sentidos à docência e a pedagogia, que assumimos enquanto profissionais? Ao nos referirmos ao contexto na educação torna-se necessário nos situarmos: Em que sociedade vivemos? Como está organizada? Formas de governo, as relações políticas internas e externas e a função que a educação ocupa neste cenário? A forma como concebemos este cenário pode ter reflexos na nossa prática pedagógica, conscientes ou não. Nesta “engenharia” em que constitui a escola na sua comunidade escolar, tratando dos conhecimentos científicos acumulados historicamente pela humanidade, ao organizá-lo em caixinhas especializadas em suas minucias para chegaraos educandos, como conectá-los para lhes dar um sentido para que possam ser incorporados com autonomia. Se nos vemos como uma comunidade, isto pressupõe ações comuns. Como podemos fazer a conexão com o outro que integra esta comunidade escolar? Trabalhar com os conhecimentos científicos, em outras palavras, educar para a formação humana que vai além do domínio de conhecer historicamente, mas perpassa o conhecimento que está sendo construído socialmente, ou seja, todos os viventes ou que já viveram deixaram sua participação pois estamos falando de construção histórica da sociedade na qual vivemos. Seria possível estudar qualquer assunto dentro das áreas do conhecimento que não nos remetesse à história para compreendê-la a fim de serpossível tomar decisões e atuar de forma consciente em nosso existir em sociedade? Esta unidade trata de forma abrangente um conjunto de questões hoje pensadas na academia por meio das pesquisas e vivenciadas pela escola nos dias atuais, para tambémpensá-las neste grupo sobre a educação escolar hoje e qual 14 nosso papel profissional enquanto educadores no enfrentamento dos desafios colocados por este século com as heranças dos anteriores. A todos, especialmente a nós educadores a necessidade é cada vez maior em rever os rumos da docência e da pedagogia para a educação da formação humana. Para pensarmos uma prática com reflexos de novas posturas de sujeitos de suas vidas e não objetos alienados numa sociedade consumista perdendo o sentido da existência humana, que valoriza o ter em detrimento do ser, e pergunta- se em seguida: porque as crianças, adolescentes e jovens mudaram seus comportamentos quando comparados a um passado ainda recente? as instituições, principalmente a escola,encontram muitas dificuldades, em saber como lidar com esses.O desafio está lançado aos profissionais da educação. Reflexão/Ação: 1. No decorrer do texto, várias questões foram levantadas. A seu ver quais refletem em maior grau sua prática cotidiana? 2. De onde vêm os estudantes que estão na escola hoje? Quais são suas trajetórias? Essas trajetórias poderiam contribuir para a escola refletir sua proposta formativa? Leitura Complementar: Texto 1: Imagens Perdidas? Quebradas? do livro “Imagens Quebradas” de Miguel Arroyo; Texto 2: Outro olhar sobre os Educandos; Texto 3: Trajetórias Escolares no Olhar dos Educandos. 15 UNIDADE 3 - PAPEL DO (A) PEDAGOGO (A) Texto: Numa postura pedagógica significativa com componente ético, o foco da prática pedagógica precisa ser deslocado dos comportamentos dos (as) alunos (as), sejam esses comportamentos adequados ou inadequados. O olhar deve voltar-se para o movimento do projeto Político Pedagógico – PPP, que em princípio registra o planejamento das ações e as intencionalidades da escola para desenvolver o trabalho educativo. Nesta proposição, é possível abrir espaços para acontecer a educação na perspectiva emancipatória dos sujeitos, contribuindo cada vez mais em diminuir distâncias entre estudantes e a escola. Esta reflexão para ser frutífera pressupõe o envolvimento de todas que integram a escola, que poderá acontecer em diversos momentos formativos oportunizados dentro da escola. O PPP, oportuniza uma ação coletiva, ainda que haja funções que cada um desempenhe, o objetivo é um só: formação dos estudantes. Todos (as) participam do processo pedagógico, professores (as) com os estudantes na sala de aula, os (as) funcionários (as) cuidando da limpeza, da alimentação, da documentação escolar, etc., das (os) pedagogas (os), articulando o PPP além da equipe diretiva coordenando para que a orquestra não saia do ritmo que foi pensado por todos (as). Optei em iniciar a reflexão sobre o papel do (a) pedagoga (a) pelo aspecto das condutas dos estudantes dentro da escola. Nossa formação acadêmica inicialmente dividida especializa-se em quem cuida do que. O supervisor cuida dos professores, o orientador dos alunos e o diretor de toda a escola. É nesta divisão que o trabalho pedagógico fragmenta-se, onde todo mundo atira e nem ninguém acerta. Diria que o momento nos convida a pensarmos juntos e para esta conversa contaremos com a presença escrita de Demerval Saviani, Miguel Arroyo, entre outros, pois nossa tarefa é um tanto quanto desafiadora. Em sua palestra na Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP, na cidade de Cornélio Procópio, proferida aos (as) formandos (as) do curso de pedagogia, Demerval Saviani, traz em seu discurso várias questões em torno do papel do pedagogo na sociedade capitalista bem como, uma análise sobre as mudanças ocorridas no curso de pedagogia a partir da instituição pelo Conselho Nacional de Educação, em 2006, das Diretrizes Nacionais para o curso. 16 Considerando a pertinência das questões trazidas por Demerval Saviani (2012), ao proferir sua palestra e também, para as reflexões propostas neste material apoio, irei ancorá-las considerando para nossas reflexões os principais aspectos abordados em seu discurso sobre o papel do pedagogo como articulador do trabalho pedagógico numa postura crítica, no compromisso explícito com a classe dominada, na compreensão das contradições vividas no exercício da democracia, numa sociedade de classes quando diz: (...) “o papel do pedagogo será um se ele se colocar a favor do desenvolvimento do capital, portanto, a serviço dos interesses da classe dominante, isto é, dos proprietários dos meios de produção. E será outro, se ele se posicionar a favor dos interesses dos trabalhadores. Não há possibilidade de uma terceira posição. Não se pode ser neutro” (p.1). No contexto de uma sociedade organizada em classes onde o capital dita as regras, os interesses são diferentes para os defensores do lucro e para os trabalhadores, vivemos uma crise na sociedade, consequentemente na educação. SAVIANI (2012), descreve: (...) “do ponto de vista dos interesses dominantes, a crise é vista como um fenômeno de conjuntura, como um desvio que cabe ser contornado. Do ponto de vista dos interessados dominados, a crise é vista como uma manifestação das contradições da estrutura. Então, vejam como é que se configura a correlação de forças nesse contexto. Configura-se da seguinte maneira: dado que os interesses dominantes apontam na direção da conservação da forma social existente, da perpetuação da estrutura dominante, tais interesses caminham no sentido de evitar que as contradições da estrutura venham à tona. Assim, poderíamos dizer que os interesses da classe dominante caminham contra a história, quer dizer,coincidem com a tendência de frear o processo histórico, processo este que se configura pelas transformações em nível conjuntural que, à medida que vão se aprofundando, se transformam em fatores geradores da nova estrutura” (p.2). Enquanto pedagogos (as), profissionais da educação, qual seria nosso papel nesta estrutura social ao lidar com as contradições postas por este modelo de sociedade? Como compreender as manifestações contraditórias como instrumentos de luta, no sentido de mudar a correlação de forças, e então, abrir possibilidades para transformação da estrutura dominante? Neste sentido SAVIANI (2012), comenta: (...) “é nesse quadro que o pedagogo se situa” E o pedagogo tanto pode desempenhar o papel de contornar acidentes da estrutura, de impedir que as contradições estruturais venham à tona, de segurar a marcha da história, de consolidar o status quo, quanto pode desempenhar o papel inverso de, a partir dos elementos de conjuntura, explicitar as contradições da estrutura, 17 acelerar a marcha da história, contribuindo, assim, para a transformação estrutural da sociedade” (p.2). Acrescenta ainda, o caráter político presente na prática educacional: (...) “Eis aí o sentido da afirmação “a educação é sempre um ato político”, ou seja, ela está sempre posicionada no âmbito da correlação de forças da sociedade em que se insere e, portanto, está sempre servindo às forças que lutam para perpetuar ou transformar a sociedade” (SAVIANI, 2012, p.2). SAVIANI (2012), destaca também a função técnica que predomina na educação, ainda que as funções política e técnica sejam diferentes, ambas são inseparáveis o que significa no seu entender que: (...) “a educação, ainda que seja interpretada como uma tarefa meramente técnica, nem por isso deixa de cumprir uma função política. Aliás, limitá-la à função técnica é uma forma eficiente de colocá-la a serviço dos interesses dominantes” (p.2). Em não sendo possível admitir um caráter apolítico na educação, a não ser por mera ingenuidade SAVIANI (2012), afirma: (...) “a superação dessa ingenuidade ocorre com a tomada de consciência dos limites que a situação objetiva impõe às tarefas que são desempenhadas. E o processo de desenvolvimento da consciência crítica passa,inicialmente, pela destruição da ilusão de poder” (p.3). Neste sentido, a ilusão do poder quando desmitificada, desestrutura num primeiro momento, para depois acontecer a tomada de consciência na superação do que se supunha ser poder. (...) “ao perder a ilusão de poder é que se ganha condições de se ter um poder efetivo” (SAVIANI, 2012, p. 3). Para SAVIANI (2012), o processo de construção humana, com a elevação dos seus níveis de compreensão do homem, levando em conta a evolução científica, pressupõe a superação de uma visão mágica do mundo. (...) “Na visão mágica, o homem acredita dominar os fatos por um poder intrínseco, por um poder pessoal; mais do que isso, na medida em que essa visão mágica comporta o controle da realidade por forças superiores, a visão mágica pressupõe uma aliança dos homens com os poderes superiores. Daí por que a visão mágica do mundo supõe sempre um culto às forças superiores, às forças da natureza” Mas a partir do momento em que se começa a descobrir as leis que regem a natureza, o que ocorre? Desfazem-se esses poderes e ganha - se consciência dos limites. Com efeito, as leis da natureza vigoram sobre a natureza em seu conjunto, portanto, sobre o homem também” (p.3). 18 A compreensão pelo (a) pedagogo (a) do contexto onde está inserida sua ação, é fundamental para sua percepção ao conduzir-se a uma prática, na perspectiva transformadora (...) “para que o pedagogo ascenda de uma postura ingênua a uma postura crítica é necessário que ele tome consciência dos condicionantes objetivos de sua ação” (SAVIANI, 2012, p. 3). Perceber objetivamente as possibilidades e os limites para que as intervenções sejam frutíferas com possibilidades de criar um ambiente reflexivo, onde os conflitos possam propiciar crescimento individual e coletivo, predispondo mais acertos do que disputas, numa proposição de uma educação que pensa, que reflete com possibilidades transformadoras para os mestres, consequentemente para os estudantes que cruzarem seus caminhos. O (A) PEDAGOGO (A) E A GESTÃO DEMOCRÁTICA Entre as contradições em ser um profissional da educação numa perspectiva emancipatória, está justamente o desafio de uma atuação crítica no processo de formação num contexto educacional antagônico, que se faz num somatório de complexidades para o que seja fazer educação escolar na atualidade. Desde a herança de formação acadêmica dos tempos de ditadura militar, com um sistema de sociedade organizada com base no acúmulo de capital, dividida em classes, refletida no sistema educacional com as trajetórias da própria constituição da educação, da pedagogia, das influências históricas desde os tempos remotos, passando pelo modernismo, constituindo-se uma contemporaneidade complexa, refletindo de forma contundente na instituição escolar nos dias atuais. Este cenário implica na compreensão do movimento histórico que constitui a sociedade, para além de ser apenas um requisito, também uma necessidade ao permitirmos a nós mesmos, o exercício democrático de vivenciarmos o processo de nos educarmos enquanto educamos. Paulo Freire (1996), retrata este movimento da formação recíproca que se estabelece entre quem ensina e quem aprende, dizendo: (...) “embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimento, conteúdos nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado” (p.25). Antes de tudo, ao pedagogo cabe exercitar os próprios limites de conduzir-se de forma democrática em seu papel de articulador da prática pedagógica na 19 superação de práticas não condizentes que possam transformar-se num discurso vazio. Processo este, a ser vivido á luz do conhecimento disponível para o entender e iluminar reflexões no coletivo embasando decisões sábias e adequadas ao processo vivido no interior da escola. Há que considerar também, nesses processos, os direitos previstos na legislação educacional e na lei maior citados a seguir. A Constituição Federal de 1988, estabelece direitos que garantam o acesso à educação. Em seu artigo 205 e no artigo 206, a lei refere-se aos princípios educacionais a serem observados pelos sistemas de ensino: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos da rede pública; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade; VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos da lei federal (BRASIL, 2013). Neste aspecto das normatizações é importante destacar aqui, as atribuições e princípios, previstos no edital nº 10/2007 (SEED), no concurso para pedagogos, na articulação do trabalho pedagógico da escola, a saber: “Coordenar a elaboração coletiva e acompanhar a efetivação do Projeto Político-Pedagógico e do Plano de Ação da Escola; Coordenar a construção coletiva e a efetivação da Proposta Pedagógica Curricular da Escola, a partir das Políticas Educacionais da SEED/PR e das Diretrizes Curriculares Nacionais e Estaduais; Promover e coordenar reuniões pedagógicas e grupos de estudo para reflexão e aprofundamento de temas relativos ao trabalho pedagógico e para a elaboração de propostas de intervenção na realidade da escola; Participar e intervir, junto à direção, da organização do trabalho pedagógico escolar no sentido de realizar a função social e a especificidade da educação escolar; Sistematizar, junto à comunidade escolar, atividades que levem à efetivação do processo ensino e aprendizagem, de modo a garantir o atendimento às necessidades do educando; 20 Participar da elaboração do projeto de formação continuada de todos os profissionais da escola e promover ações para a sua efetivação, tendo como finalidade a realização e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar; Analisar as propostas de natureza pedagógica a serem implantadas na escola, observando a legislação educacional em vigor e o Estatuto da Criança e do Adolescente, como fundamentos da prática educativa; Coordenar a organização do espaço-tempo escolar a partir do Projeto Político-Pedagógico e da Proposta Pedagógica Curricular da Escola, intervindo na elaboração do calendário letivo, na formação de turmas, na definição e distribuição do horário semanal das aulas e disciplinas, da hora- atividade, no preenchimento do Livro Registro de Classe de acordo com as Instruções Normativas da SEED e em outras atividades que interfiram diretamente na realização do trabalho pedagógico; Coordenar, junto à direção, o processo de distribuição de aulas e disciplinas a partir de critérios legais, pedagógicos e didáticos e da Proposta Pedagógica Curricular da Escola; Organizar e acompanhar a avaliação do trabalho pedagógico escolar pela comunidade interna e externa; Apresentar propostas, alternativas, sugestões e/ou críticas que promovam o desenvolvimento e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar, conforme o Projeto Político-Pedagógico,a Proposta Pedagógica Curricular, o Plano de Ação da Escola e as Políticas Educacionais da SEED; Coordenar a elaboração de critérios para aquisição, empréstimo e seleção de materiais, equipamentos e/ou livros de uso didático-pedagógico, a partir da Proposta Pedagógica Curricular e do Projeto Político-Pedagógico da Escola; Participar da organização pedagógica da biblioteca, assim como do processo de aquisição de livros e periódicos; Orientar o processo de elaboração dos Planos de Trabalho Docente junto ao coletivo de professores da escola; Subsidiar o aprimoramento teórico-metodológico do coletivo de professores da escola, promovendo estudos sistemáticos, trocas de experiência, debates e oficinas pedagógicas; Organizar a hora-atividade do coletivo de professores da escola, de maneira a garantir que esse espaço-tempo seja utilizado em função do processo pedagógico desenvolvido em sala de aula; Atuar, junto ao coletivo de professores, na elaboração de propostas de recuperação de estudos a partir das necessidades de aprendizagem identificadas em sala de aula, de modo a garantir as condições básicas para efetivação do processo de socialização e apropriação do conhecimento científico; Organizar a realização dos Conselhos de Classe, de forma a garantir um processo coletivo de formulação do trabalho pedagógico desenvolvido pela escola e em sala de aula, além de coordenar a elaboração de propostas de intervenção decorrentes desse processo; 21 Informar ao coletivo da comunidade escolar os dados do aproveitamento escolar; Coordenar o processo coletivo de elaboração e aprimoramento do Regimento Escolar, garantindo a participação democrática de toda a comunidade escolar; Orientar a comunidade escolar na proposição e construção de um processo pedagógico numa perspectiva transformadora; Ampliar os espaços de participação, de democratização das relações, de acesso ao saber da comunidade escolar; Participar do Conselho Escolar, subsidiando teórica e metodologicamente as discussões e reflexões acerca da organização e efetivação do trabalho pedagógico escolar; Propiciar o desenvolvimento da representatividade dos alunos e sua participação nos diversos momentos e órgãos colegiados da escola; Promover a construção de estratégias pedagógicas de superação de todas as formas de discriminação, preconceito e exclusão social e de ampliação do compromisso ético-político com todas as categorias e classes sociais (SEED, 2007). Considerando as legislações citadas anteriormente, numa análise crítica das condições em que se concretizam a prática pedagógica, em que aspectos as normatizações contribuem ou dificultam as mudanças efetivas no âmbito da escola? A educação numa concepção transformadora, pressupõe a gestão democrática tomada como compromisso pelos profissionais da educação, visando não somente trabalhar o intelecto dos estudantes mas compreendendo a amplitude da sua formação humana considerando os determinantes do contexto social. FORMAÇÃO DO PEDAGOGO Em seu discurso, SAVIANI (2012), relata um pouco da história da formação do pedagogo, que inicia - se com a criação do curso de pedagogia na década de 30, numa formação generalista, sem as habilitações, as quais foram inseridas partir de 1969, passando a ter as especialidades de: “Administrador Escolar, o Inspetor de Ensino, o Orientador Educacional, o Supervisor Pedagógico e o Professor das disciplinas pedagógicas dos Cursos Normais que, a partir de 1971, passaram a ser chamados de Cursos de Magistério. E hoje? Quem? e o que é o pedagogo?” (p.5). Para responder à sua própria questão, SAVIANI (2012), reporta “às Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia aprovadas em 2006, pelo Conselho Nacional de Educação”. A partir de então, nos dizeres do autor, 22 (...) “ o pedagogo é um docente formado para atuar na “Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos” ( p.5 ). E as funções, consideradas tradicionalmente próprias dos especialistas como, (...) “gestão, planejamento, coordenação e avaliação, haviam sido assimiladas à função docente sendo consideradas como atribuições dos egressos do curso de pedagogia, formados segundo as novas diretrizes” (SAVIANI, 2012, p.5). Para SAVIANI (2012), esta situação cria um paradoxo: as novas diretrizes curriculares nacionais do Curso de Pedagogia, (...) “são, ao mesmo tempo, extremamente restritas e demasiadamente extensivas: muito restritas no essencial e assaz excessivas no acessório” (p.5). Na atual configuração da formação acadêmica inicial do pedagogo, para um desempenho critico de sua atuação enquanto articulador do trabalho pedagógico, segundo, SAVIANI (2012), a reflexão requer o exercício da dialética: (...) “segundo o princípio dialético de que pensar dialeticamente não é apenas pensar as contradições, mas pensar por contradição, buscar superar os limites da concepção de pedagogo formulada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais na vigência dessas próprias diretrizes” (p.7). Assim, SAVIANI (2012), aponta um aspecto que não aparece nas diretrizes nacionais e, nem é por ela vetado, o qual refere-se à centralidade da História na formação seja do pedagogo, ou de forma específica na formação das novas gerações: (...) “A História seria exatamente essa matéria que ocuparia o lugar central no novo princípio educativo da escola do nosso tempo: uma escola unitária porque guiada pelo mesmo princípio, o da radical historicidade do homem e organizada em torno do mesmo conteúdo, a própria história dos homens, identificado como o caminho comum para formar indivíduos plenamente desenvolvidos” (p. 7). Este enfoque permitirá que a formação dos pedagogos possa obter a consciência da realidade onde irão atuar, com a devida fundamentação teórica para respaldar uma ação coerente e eficaz. Assim, ao mesmo tempo e no mesmo processo é possível atingir os cinco objetivos colocados pela resolução do Conselho Federal de Educação ao fixar as novas Diretrizes Nacionais, para o curso de pedagogia, já referidas anteriormente (SAVIANI, 2012). 23 Em um último aspecto, SAVIANI (2012), encerra sua palestra deixando esta reflexão: (...) “cabe pensar o problema da educação e da formação de educadores como um processo global, uma totalidade. A articulação entre o Curso de Pedagogia e a Pós-Graduação em Educação, além de propiciar a inserção completa dos alunos nos misteres (mistérios?) da pesquisa, possibilitaria a revitalização do curso de pedagogia e, ao mesmo tempo, abriria as portas para a plena consolidação da educação como área científica. Assim, em lugar da pós-graduação em educação buscar se firmar cientificamente ao preço de elidir tanto a terminologia como a problemática própria da pedagogia, seu papel seria o de elevar a pedagogia à condição de ciência da e para a prática educativa. Essas são as condições exigidas para se formar pedagogos com consciência crítica, capazes, em consequência, de articular o trabalho pedagógico, na sociedade do capital, em torno dos interesses dos trabalhadores habilitando-os a conduzirem a luta pela transformação desta sociedade” (p.10). Refletir sobre estas questões propiciará uma atuação consciente, uma prática pedagógica menos alienada, mais condizente com o papel educacional que exercemos nesta sociedade. Os embates poderão ser mais verdadeiros menos falsos, menos omissos. Torna-se necessário por uma questão de ética profissional examinarmos nossa real disposição para um posicionamento critico em relação a nosso papel na organização do trabalho pedagógico, pois implicaria em lidar com conflitos, muitasleituras, lidar com muitas incertezas, mas também, conviver sempre com “uma luz no fim do túnel”. Ter respeito profissional, estar consciente num mundo real, sem a sensação de estar perdido e sem rumo. Qual a disposição honesta consigo mesmo, para encarar este desafio? Os primeiros passos são sempre os mais difíceis... Reflexão/Ação: 1. A minha prática pedagógica tem refletido qual posicionamento referente as classes organizadas na sociedade? Em algum momento refleti sobre isso? 2. Enquanto trabalhadores da educação pertencemos ao quadro dos dominados ou dos dominadores? Leitura Complementar: Texto 1: Circuito Atelier – E nossas Trajetórias, do livro: Imagens Quebradas, de Miguel Arroyo; 24 Texto 2: Tempos do Viver Humano, do livro: Imagens Quebradas, de Miguel Arroyo; Texto 3: A Orientação Educacional no Atual Contexto Brasileiro, do livro: Educação: do senso comum à consciência filosófica, 18ª ed., de Dermeval Saviani. 25 UNIDADE 4 - PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO Texto: A escola hoje apresenta enormes desafios a todos os profissionais que nela atuam, ARROYO (2009) traz, de suas trajetórias como educador, questões muito pertinentes para nossas reflexões, do que possa estar a nos incomodar na nossa prática pedagógica cotidiana: (...) “Os grandes debates entre os professores têm uma preocupação central como dar conta dos alunos, que crianças e adolescentes chegam às escolas, como entendê-los e entender-nos, que condutas e valores trazem às salas de aula, que tempos humanos vivenciam” (p.170). Indaga ainda ARROYO (2009), “Teríamos de reorientar nossas condutas, nossos tempos e nosso trabalho para respeitar seus tempos? Teríamos de articular as trajetórias de mestres com as trajetórias dos educandos?“ (p.170 e 171). Para além da preocupação com formas de ensinar, com os conteúdos, não será difícil perceber que as preocupações maiores são os alunos. “Não são mais os mesmos não sabemos como lidar com eles” neste olhar uma pergunta surge: “Se os alunos mudaram poderemos ser os mesmos professores? Estamos às voltas com os educandos, com suas condutas, seus interesses, suas culturas, e valores. Sua indisciplina. Será a infância, a adolescência, a juventude e suas mudanças o pólo mais interrogante da docência e da pedagogia?” (ARROYO, 2009, p.171). E os questionamentos continuam: “Os projetos de escola, as propostas pedagógicas das redes, especificamente a atenção às trajetórias e tempos dos educandos são expressões e produtos dessa dinâmica. O que ela significa? Essa dinâmica é formadora? Que perfis profissionais conformam? Em que mudam nossas trajetórias humanas e docentes? (Arroyo, 2009, p.171). ARROYO (2009), procura entender essa dinâmica partindo do encontro dos educadores, em suas trajetórias profissionais, sociais e políticas, humanas, refletindo sobre “os docentes, suas trajetórias, e o tenso diálogo com as trajetórias dos alunos” (p.171). Neste sentido, ARROYO (2009), destaca: 26 “a elaboração e implementação dos projetos de escola ou propostas pedagógicas, e, particularmente da organização da escola respeitando os tempos dos educandos, como manifestações de trajetórias coletivas. Sem dúvida, os caminhos são múltiplos se pensarmos nos percursos profissionais, humanos de cada um” (p.171). Após as reflexões trazidas por ARROYO (2009), penso que não faria sentido a construção do PPP não passar pela compreensão e o entendimento das trajetórias dos educandos que vivem e lutam nesta sociedade em que o seu sistema lucrativo só percebe e considera a faixa etária produtiva. Como sobrevivem as crianças, os adolescentes e jovens que no momento são nossos alunos, nossos educandos? É possível que aconteçam significativos choques entre trajetórias escolares e trajetórias de vida dos educandos? Considerar a participação de todos os segmentos da comunidade escolar na construção do Projeto Político Pedagógico (PPP), é de fundamental importância, para pensar no coletivo sobre problemáticas, decisões e ações na elaboração de práticas pedagógicas na perspectiva de uma gestão democrática, propiciando condições ao desenvolvimento de uma proposta de educação transformadora. Segundo VEIGA (1995),a escola é o lugar de concepção, realização e avaliação do seu próprio projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho pedagógico com base em seus alunos” (p.12). Na conceituação do Projeto Político Pedagógico (PPP), Veiga (1995, apud, Ferreira 1975, p), nos traz aspectos importantes a serem considerados nas reflexões sobre o PPP da escola, “o termo projeto vem do latim projectu, que significa lançar para adiante” (p.12). Considerando a situação posta, lança-se adiante planejando o que se tem intenção de realizar. Desta forma o PPP “vai além de um simples agrupamento de planos de ensino” (...), também não é um simples documento elaborado para ser enviado às autoridades educacionais e depois arquivado. O PPP é um documento vivo representando as idéias, as intenções o desejo de acertar de um grupo de profissionais que busca no coletivo alternativas para uma educação de qualidade. Na expressão de VEIGA (1995), “é construído e vivenciado em todos os momentos por todos os envolvidos com o processo educativo da escola” (p.13). Para VEIGA (1995), por ter uma ação intencional, expressa por um coletivo que deseja e compromete-se à sua realização, o PPP é político, e completa: 27 (...) “é também político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população majoritária. É político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade” (p.13). No entender de VEIGA (1995), os aspectos político e pedagógico são inseparáveis, devendo ser considerado “como um processo permanente de reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de alternativas viáveis à efetivação de sua intencionalidade” (p.13). A perspectiva democrática na construção do PPP, possibilita o enfrentamento dos conflitos com perspectivas de equacionar os efeitos das ”relações competitivas, corporativistas e autoritárias, rompendo com uma rotina de mando impessoal e racionalizado a burocracia que permeia as relações no interior da escola” (VEIGA, 1995,p.13 e 14). VEIGA (1995), diz que o PPP vincula-se com a organização do trabalho pedagógico de duas formas: “como organização da escola como um todo e como organização da sala de aula, incluindo sua relação com o contexto social imediato, procurando preservar a visão de totalidade” (...) considera também que “a principal possibilidade de construção do projeto político pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, sua capacidade de delinear sua própria identidade” (p.14). A escola quando assume uma postura reflexiva sobre seu fazer pedagógico, pode perceber necessidades de alterar significativamente o seu caminhar até então. Neste aspecto, VEIGA (1995), afirma, “buscar uma nova organização para a escola constitui uma ousadia para os educadores, pais alunos e funcionários. E para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um referencial que fundamente a construção do projeto político pedagógico. A questão é, pois, saber a qual referencial temos que recorrer para a compreensão da nossa prática pedagógica” (p.14). Assim, complementa VEIGA (1995), “temos que nos alicerçar nos pressupostos de uma teoria pedagógica crítica viável, que parta da prática social e esteja compromissada em solucionar os problemas da educação, do ensino da escola” (p.14). VEIGA (1995), enfatiza ainda que: “uma teoria que subsidie o PPP e, por sua vez, a prática pedagógica que ali se processa deve estar ligada aos interesses da maioria da população. Faz- se necessário também o domíniodas bases teórico-metodológicas indispensáveis à concretização das concepções assumidas coletivamente” (p.14). 28 Desta forma, para um coletivo escolar que se proponha a desenvolver seu projeto de forma consistente e, com compromisso social, há que dar os passos importantes e necessário sem cada momento do processo vivenciado. O que pressupõe a busca de formação, apropriando-se coletivamente dos fundamentos teóricos já existentes por meio de pesquisas científicas significativas para o embasamento sólido na medida dos atuais desafios vividos pela escola. Com esta proposição, poderia ser minimizado na escola muitas situações de desconforto pedagógico, vividos principalmente nos momentos avaliativos, mais precisamente no conselho de classe. Neste momento pedagógico em que a escola sintetiza resultados dos esforços despendidos por toda a comunidade escolar, ela procura atingir os objetivos os quais se propõe, pressupondo a formação dos estudantes enquanto sujeitos éticos, conscientes e críticos. No entender de VEIGA (1995), possibilitar a construção ou a dinamização do PPP, não implica em trabalho a mais, em convencimento da comunidade escolar, mas, “propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a realizar um fazer pedagógico de forma coerente” destacando ainda: (...) “a escola não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e na ótica do poder centralizador que dita normas e exerce controle técnico burocrático. A luta da escola é para a descentralização em busca de sua autonomia e qualidade” (...) “a organização do trabalho pedagógico da escola tem a ver com a organização da sociedade. A escola nessa perspectiva é vista como uma instituição social inserida na sociedade capitalista, que reflete no seu interior as determinações e contradições dessa sociedade” (p15 e 16). PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO PROJETO POLÍTICO - PEDAGÓGICO VEIGA (1995), aborda cinco princípios para orientação do PPP como organização do trabalho abrangendo o todo da escola, considerando a mesma, democrática, pública e gratuita: “a) Igualdade de condições para acesso e permanência na escola” (p.16). A ampliação do número de vagas, implica considerar a manutenção do atendimento com qualidade, (b) Qualidade para todos(as), independente das condições econômicas e sociais que apresentem. A qualidade defendida por VEIGA, implica nas dimensões ,”formal ou técnica e a política” (p16). É fundamental que a escola possa enfrentar, de todos os modos, a evasão e a repetência de seus alunos e alunas, exercendo com qualidade sua função social 29 garantido o desempenho satisfatório de todos e todas. c) a Gestão democrática, também um princípio constitucional, abrangendo as dimensões pedagógica, administrativa e financeira. A gestão democrática, enfatiza VEIGA (1995): “exige a compreensão em profundidade dos problemas postos pela prática pedagógica. Ela visa romper com a separação entre concepção e execução, entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática. Busca resgatar o controle do processo e do trabalho pelos educadores” (p.18). Neste aspecto, VEIGA (1995), destaca as mudanças que podem ocorrer quando o poder é socializado: ”a participação coletiva atenua o individualismo; da reciprocidade, que elimina a exploração; da solidariedade, que supera a opressão; da autonomia, que anula a dependência de órgãos intermediários que elaboram políticas educacionais das quais a escola é mera executora” (p.18). d) Liberdade também é um princípio, sempre associado a ideia de autonomia, destacado por VEIGA (1995): “o significado de autonomia remete-nos para regras e orientações criadas pelos próprios sujeitos da ação educativa, sem imposições externas” (p.19). Ao se pensar em liberdade na escola, VEIGA (1995), pontua que ela pode aparecer. (...) “na relação entre os administradores, professores, funcionários e alunos, que aí assumem sua parte de responsabilidade na construção do projeto político pedagógico e na relação destes com o contexto social mais amplo” (p.19). e) A valorização do magistério, é pensado pela autora como princípio central na discussão do PPP. VEIGA (1995) destaca ainda, “a qualidade do ensino ministrado na escola e seu sucesso na tarefa de formar cidadãos capazes de participar da vida socioeconômica, política e cultural do país. Relacionam-se estreitamente à formação (inicial e continuada), condições de trabalho (recursos didáticos, recursos físicos e materiais, dedicação integral à escola, redução do número de alunos na sala de aula etc.), remuneração, elementos esses indispensáveis à profissionalização do magistério” (p. 19 e 20). Ter elevação da qualidade, na formação dos profissionais, bem como a valorização do trabalho pedagógico, pressupõe a necessidade de diálogo formativo 30 e envolvimento entre as instituições formadoras e a educação básica das redes de ensino permitindo a não ruptura entre formação inicial e formação continuada (VEIGA, 1995). ENFOQUES BÁSICOS NA CONSTRUÇÃO DO PPP VEIGA (1995),aponta sete elementos básicos para a construção do PPP, considerando ser a escola um “espaço social marcado pela manifestação de práticas contraditórias, que apontam para a luta e/ou acomodação de todos os envolvidos na organização do trabalho pedagógico” ( p.22). Em suas considerações sobre a construção do PPP, VEIGA (1995), enfatiza a necessidade de: (...) “analisar e compreender a organização do trabalho pedagógico no sentido de gestar uma nova organização que reduza os efeitos de sua divisão do trabalho, de sua fragmentação e do controle hierárquico. Nessa perspectiva, a construção do projeto político pedagógico é um instrumento de luta, é uma forma de contrapor-se à fragmentação do trabalho do trabalho pedagógico e sua rotinização à dependência e os efeitos negativos do poder autoritário e centralizador dos órgãos da administração central” (p.22). Na construção, passo a passo, do PPP, elencaremos os elementos apontados por VEIGA (1995): 1. Cabe aqui pensar no primeiro elemento trazido pela autora citada, as finalidades e também nos objetivos da escola que irão compor o PPP. ALVES (1995, apud, VEIGA, 1992, p.19),propõe algumas questões que irão possibilitar uma reflexão podendo surgir novas importantes perguntas na discussão dos segmentos (professores, funcionários, pedagogas(os),alunos, pais e equipe diretiva) que compõem a comunidade escolar. Seguem as questões propostas pela autora referida acima: “a) das finalidades estabelecidas na legislação em vigor, o que a escola persegue com maior ou menor ênfase? b) como é perseguida sua finalidade cultural, ou seja, a de preparar culturalmente os indivíduos para uma melhor compreensão da sociedade em que vivem? c) como a escola procura atingir sua finalidade política e social, ao formar o indivíduo para a participação política que implica em direitos e deveres da cidadania? d) Como a escola atinge sua finalidade de formação profissional, ou melhor como ela possibilita a compreensão do papel do trabalho na formação do aluno? e) como a escola analisa sua finalidade humanística, ao procurar promover o desenvolvimento integral da pessoa?” (p.23). 31 Para VEIGA (1995), no movimento em torno da construção do Projeto Político Pedagógico: “a reflexão coletiva possibilitará, num esforço analítico, a identificação de quais finalidades precisam ser reforçadas, quais as que estão relegadas e como elas poderão ser detalhadas em nível das áreas, das diferentes disciplinas curriculares, do conteúdo programático” (p.23). 2. Como segundo elemento apontado pela autora trata-se da estrutura organizacional compreendida pelas instâncias: administrativas e pedagógicas da escola. As primeiras referem-se “a locação e a gestão de recursos humanos, físicos e financeiros”(p.24). As pedagógicas “referem-se fundamentalmenteàs questões políticas, às questões de ensino-aprendizagem e as de currículo” (p.25).Para pensar sobre a estrutura organizacional, VEIGA (1995), sugere algumas reflexões: “O que sabemos da estrutura pedagógica? Que tipo de gestão está sendo praticada? O que queremos e precisamos mudar na nossa escola? Qual é o organograma previsto? Quem o constitui e qual é a lógica interna? Quais as funções educativas predominantes? Como são vistas a constituição e a distribuição do poder? Quais os fundamentos regimentais?” (p.25). No entendimento de VEIGA (1995), “avaliar a estrutura organizacional significa questionar os pressupostos que embasam a estrutura burocrática da escola que inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar ou modificar a realidade social” (p.26). 3. O currículo, é o terceiro elemento de discussão no PPP. Nas considerações de VEIGA (1995), “o currículo é uma construção social do conhecimento, pressupondo a sistematização dos meios para que esta construção se efetive; a transmissão dos conhecimentos historicamente produzidos e as formas de assimilá-los, portanto, produção, transmissão e assimilação são processos que compõem uma metodologia de construção de conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente dito. Neste sentido o currículo refere-se à organização do conhecimento escolar” (p.26 e 27). Na compreensão das questões do currículo é importante salientar segundo a compreensão de VEIGA (1995), que: “o conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera simplificação do conhecimento científico, que se adequaria à faixa etária e aos interesses dos alunos. Daí a necessidade de se promover, na escola, uma reflexão aprofundada sobre o processo de produção do conhecimento escolar, uma vez que ele é, ao mesmo tempo, processo é produto” (p.27). 32 Destacam-se ainda alguns pontos relevantes da organização curricular presentes nos estudos de VEIGA (1995, p.26 e 27), o primeiro ponto é que não há neutralidade no currículo; o segundo, é que há de ser contemplado nele o contexto social, “uma vez que ele é historicamente situado e culturalmente determinado” (...). O terceiro ponto, é a escolha do tipo de organização curricular a ser adotada pela escola, pois “em geral, nossas instituições tem sido orientadas para a organização hierárquica e fragmentada do conhecimento escolar” (...).Um último ponto trata-se do controle social, que pressupõe em sua formalidade “(conteúdos curriculares, metodologia e recursos de ensino, avaliação e relação pedagógica)” (...) a necessidade de verificações. De acordo com VEIGA (1995), (...) “Orientar a organização curricular para fins emancipatórios implica, inicialmente, desvelar as visões simplificadas de sociedade, concebida como um todo homogêneo, e de ser humano, como alguém que tende a aceitar papéis necessários à sua adaptação ao contexto em que vive. O controle social, na visão crítica, é uma contribuição e uma ajuda para contestação e a resistência à ideologia veiculada por intermédio dos currículos escolares” (p.29). 4. Ao abordar o quarto elemento, o tempo no ambiente escolar, VEIGA (1995) afirma que “o tempo é um dos elementos constitutivos da organização do trabalho pedagógico” (...). O calendário escolar ordena o tempo: determinando início e término das atividades escolares. “O horário escolar fixa o número de horas por semana e que varia em razão das disciplinas constantes na grade curricular as de menor hora são vistas com “menos” valor” (...) “A organização do tempo do conhecimento escolar é marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é consequentemente organizado em períodos fixos de tempo para disciplinas supostamente separadas” (p.29). Ao pensar o trabalho pedagógico faz-se necessário refletir em como o tempo está organizado na escola, a presença de uma rigidez em cumprir determinações do calendário ao “pé da letra”, mesmo que isso possa comprometer processos que precisam ser respeitados como os de aprendizagem, por exemplo. Necessidades de organizar momentos de formação por meio de estudos e reflexão entre os educadores, “fortalecendo a escola como instância de formação continuada” (VEIGA, 1995, p.30). Assim, nas palavras de VEIGA (1995), 33 “É preciso tempo para que os educadores aprofundem seu conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão aprendendo. É preciso tempo para acompanhar e avaliar o PPP em ação. É preciso tempo para os estudantes se organizarem e criarem seu espaços para além da sala de aula” (p.30). 5. O processo de decisão, seria o quinto elemento de discussão na organização do trabalho pedagógico. Neste item VEIGA (1995) discorre nos termos: “na organização formal da escola, o fluxo de tarefas, das ações e principalmente das decisões é orientado por procedimentos formalizados, prevalecendo as relações hierárquicas de mando e submissão, de poder autoritário e centralizador” (p.30). No sentido de provocar uma reflexão VEIGA (1995), afirma que: (...) “uma estrutura administrativa da escola, adequada à realização de objetivos educacionais, de acordo com os interesses da população, precisa prever mecanismos que estimulema participação de todos no processo de decisão. Isto requer uma revisão das atribuições específicas e gerais, bem como da distribuição do poder e da descentralização do processo de decisão. (p.31). 6. As relações de trabalho, é o sexto ponto apresentado por VEIGA (1995), quando ela diz: “quando se busca uma nova organização do trabalho pedagógico, está se considerando que as relações de trabalho, no interior da escola, estejam baseadas em atitudes de solidariedade, de reciprocidade e de participação coletiva, em contraposição à organização regida pelos princípios da divisão do trabalho, da fragmentação e do controle hierárquico” (p.31). Não se pode negar a existência das correlações de forças, nas relações que se estabelecem no interior da escola. Segundo VEIGA (1995), “é neste embate que se originam os conflitos, as tensões, as rupturas, propiciando a construção de novas formas de relações de trabalho, com espaços abertos à reflexão coletiva que favoreçam o diálogo, a comunicação horizontal entre os diferentes segmentos envolvidos com o processo educativo, a descentralização do poder” (p.31). 7. Como último ponto de discussão, VEIGA (1995), traz a avaliação, como elemento dinamizador do processo de construção do PPP: 34 “a avaliação do PPP numa visão crítica, parte da necessidade de se conhecer a realidade escolar, busca explicar e compreender criticamente a causa da existência de problemas, bem como suas relações, suas mudanças e se esforça para propor ações alternativas (criação coletiva). Esse caráter criador é conferido pela autocrítica” (p.32). Para VEIGA (1995), ao se avaliar o PPP, há que considerar contextos, os aspectos políticos e sociais, lidando com as contradições e os conflitos. Assim, (...) “acompanhar e avaliar o projeto político pedagógico é avaliar os resultados da própria organização do trabalho pedagógico” (...) “ do ponto de vista crítico não pode ser instrumento de exclusão dos alunos provenientes das classes trabalhadoras. Portanto deve ser democrática, deve favorecer o desenvolvimento da capacidade do aluno de apropriar-se de conhecimentos científicos, sociais e tecnológicos produzidos historicamente e deve ser resultante de um processo coletivo de avaliação diagnóstica” (p.32). Reflexão/Ação: 1. Como tem sido a construção do PPP na sua escola nos últimos anos? 2. A partir das considerações de VEIGA (1995), acerca da construção do Projeto Político Pedagógico, refletir sobre sua atuação enquanto pedagoga (o) na escola, nas questões propostas pela autora: “A escola, para se desvencilhar da divisão do trabalho, de sua fragmentação, precisa criar condições para gerar uma outra forma de organização dotrabalho pedagógico; A reorganização da escola deverá ser buscada de dentro para fora; É preciso entender o PPP como uma reflexão de seu cotidiano; A construção do PPP requer continuidade das ações, descentralização e democratização do processo de tomada de decisões; Instalação de um processo coletivo de avaliação de cunho emancipatório” (p.33). Leitura Complementar: Texto 1: Para uma Pedagogia Coerente e Eficaz, do livro: Educação: do senso comum à consciência filosófica, 18ª ed., de Demerval Saviani; 35 Texto 2: O Projeto Político-Pedagógico: um guia para a formação humana, do livro: Quem sabe faz a hora de construir o Projeto Político-Pedagógico, de Ilma Passos Alencastro Veiga; Texto 3: A Construção Social da Autonomia, do livro Saber Pensar, de Pedro Demo. 36 UNIDADE 5 - CONVERSANDO SOBRE ÉTICA Texto: A importância de trabalhar esta temática na escola tem como objetivo retomar conceitos éticos fundamentais nas relações humanas numa proposição de refletir como acontece as relações interpessoais na convivência do dia a dia escolar. Prevalecem as atitudes respeitosas, solidárias, de companheirismo etc.? Estes conteúdos fazem parte do processo ensino-aprendizagem? ARROYO (2009), indaga em seu livro “Imagens Quebradas”, se a formação ética é também função da docência, “a preocupação com as condutas dos alunos vem revelando que sempre foram uma preocupação no cotidiano docente, condicionam os métodos de ensino e os processos de aprendizagem (...) o difícil é trazer para o debate a questão mais de fundo: a educação moral, ética da infância, adolescência e juventude é de nosso ofício?” (p.145). O autor dá uma pista, “a resposta a estas questões exige estudo” (ARROYO, 2009, p.146), buscando nas teorias pedagógicas à história do pensamento pedagógico e docente, pouco abordado nos cursos de formação das licenciaturas. ARROYO (2009), ainda acrescenta, “cada vez mais professores lamentam dessas lacunas em sua formação. Tão lamentável quanto um médico não saber teoria médica” (p.146). Em seu modo de ver, (...) “uma forma de tentar responder com seriedade a pergunta: a educação moral da infância, adolescência e juventude é de nosso ofício, pode ser ler textos, dialogar com sociólogos, historiadores, antropólogos, sobre como em todas as sociedades e culturas encontramos formas diferentes de socialização e educação das condutas. Em todas aparecem instituições, grupos e agentes de formação e do aprendizado dos valores e dos padrões culturais. Essa constatação nos leva a perguntar-nos como e quem assume em nossa sociedade a formação ética do cidadão e em particular das novas gerações. As famílias, as igrejas, a mídia, os grupos de amizade, as escolas? ou a formação ética é de todos e de ninguém? Consequentemente termina ficando por conta de cada criança e jovem” (p.146.). Arroyo, sugere o exercício “de perguntar-nos como nós mesmos fomos aprendendo os valores e os padrões éticos que orientam nosso convívio. Coincidimos que foi um aprendizado difuso, bastante penoso e solitário” (p.146). 37 Quando falamos em educação para as crianças, os adolescentes e os jovens, estamos falando de formação técnica com vista ao trabalho ou vai além? para a formação do cidadão de forma integral? É possível separar o intelecto das atitudes do “ser humano”, é possível a escola formar um “meio cidadão”? Numa tentativa ainda incipiente, para o que possa significar um estudo, buscamos alguns autores para dar início ao que intitulei nesta unidade, uma conversa sobre ética. CONCEITUAÇÃO E PRINCÍPIOS BÁSICOS A ética é conhecida como o artesanato da existência, com característica única, aberta ao diálogo e criativa (BAIS, 2013).1 A construção que segue, terá como referência principal as anotaçõesde aulas ministradas pela professora Dulce Dirclair Huf Bais, da Universidade Federal do Paraná. O Professor Renato José de Oliveira (UFRJ), “defende a prática dialogal e não disciplinar na escola” (2013, S/P). Ainda ressalta, que a escola não é único agente mas tem um papel importante na formação ética, por receber alunos com as mais variadas formas de ética ou não ética. E como um dos agentes comunicadores da ética, a escola deve agir no sentido de evitar uma fragmentação do trabalho quando o professor não percebe ou não aceita ser educador preocupando-se em passar conteúdos como depositário de informações. (Cf vídeo: Salto para o Futuro- TV-escola). A finalidade da educação expressa na LDB 9394/96, vai além da preparação para o trabalho e o exercício da cidadania. A ética é um bem humano e não acontece isolada, é no convívio humano. Educação não é só conhecimento, também ética e cidadania (Cf BAIS, 2013). O diálogo como necessário para harmonizar as relações, não é só diálogo professor x aluno, mas também o professor x professor. Numa pedagogia dialógica, ser ético é ser humano, as questões dos humanos estão entre, ser humano ou ser desumano. A virtude da justiça é a que mais aproxima nas divergências. A virtude da coragem é variável de cultura para cultura (Cf BAIS, 2013). _____________ 1 BAIS, D.D.H. Ética na Escola. Curitiba, 8/11/2013. Aula ministrada na Universidade Federal do Paraná, em curso específico da área de Pedagogia do Programa de Desenvolvimento Educacional SEED-PR/UFPR. 38 A importância do desenvolvimento da consciência crítica pode ser destacada em três aspectos: 1) Ver - Observar os fatos (leitura da realidade); Determinar as causas; Conhecer as consequências. 2) Julgar: Utilizar critérios (não impor o prescritivo, investigar os motivos). 3) Agir: De modo individual (de bem consigo mesmo), de modo coletivo (bem - estar usufruído por todos). Atitude ética não me coloca em 1º lugar. Esta análise, complementa BAIS, “requer certo grau de maturidade dos profissionais da escola principalmente do professor e do pedagogo. O Projeto Político Pedagógico e o Regimento escolar são prescritivos e não garante a ética da escola. Os documentos são os primeiros passos. O diálogo desenvolve o grau de comprometimento com o convívio, o trabalho com ética deve permear todas as disciplinas” (Cf BAIS, 2013). PRINCÍPIOS ÉTICOS FUNDAMENTAIS Destacam quatro princípios éticos fundamentais: a) Competência, que exige conhecimento, atitude na prática, saber conviver e saber ser; b) Responsabilidade; c) JUSTIÇA; d) Honestidade. Há que se ter o compromisso com o ensinar. Aprendizagem é consequência. Conhecer os jeitos diferentes de aprender do aluno, nas teorias da aprendizagem. O processo de existir é o de abertura para o mundo. Quem sou? Há um potencial para a conscientização: valores (que prego); conhecimento e habilidades (onde sou bom); interesses e talentos (Cf BAIS, 2013). A escola deveria abrir o potencial para a conscientização, ouvir com atenção e respeitar os interesses dos outros para ser respeitados nos interesses próprios. É na diversidade que se constrói o respeito. O planejamento é uma foto estática, que precisa de flexibilidade para lidar com a vida que é dinâmica (Cf BAIS, 2013). CARACTERÍSTICAS DOS AMBIENTES ÉTICOS NOS ESPAÇOS EDUCACIONAIS A escola deve realizar uma promoção da democracia e da prática social, responsabilizando-se por uma educação de qualidade com abrangência temática, promovendo uma inclusão social, bem como uma convivência democrática, respeitando direitos humanos e a cidadania. Destaca-se a importância de agir preventivamente na escola, considerando na formação humana as de natureza biológica, psicológica e espiritual, na busca da autotranscendência e sentido de vida (CF, BAIS, 2013). 39 Segundo Wanda Horta “os valores não são ensinados, nem nascem com as pessoas, são construídos na experiência” (Cf BAIS, 2013). Para BAIS
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