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Prévia do material em texto

Disciplina: Didática
Aula 7: Planejamento didático e os conteúdos escolares
Apresentação
Convidamos você, aluno do curso de formação docente, a refletir sobre a relevância
de o professor ser íntimo do conteúdo ministrado, porém, com a certeza de que
também não se trata de dominarmos todo um conhecimento, um objeto de estudos.
Sempre encontraremos novas respostas sobre o assunto enquanto pesquisadores se
dedicarem a ele.
Ressalta-se, então, o desafio imposto à docência quanto à necessidade da formação
continuada e da curiosidade científica.
Ao longo de sua trajetória acadêmica e profissional, os professores pesquisadores
poderão ampliar sua visão sobre a estrutura da ciência a que se dedicam, com
possibilidades de desmistificá-la, tornando os conceitos o conhecimento científico
compreensível para os educandos, modo que estes se sintam representados no
currículo escolar.
Bons estudos!
Objetivos
Reconhecer a diferença entre conteúdos de ensino estéreis, assépticos e
significativos;
Relacionar argumentos sobre a educação como instrumento de libertação da
condição de opressão;
Reconhecer que a seleção e organização dos conteúdos não é uma tarefa neutra
e sim intencional, analisando as consequências para a formação do aluno;
Avaliar a importância da articulação entre o currículo disciplinar e o currículo real
para a formação do aluno.
Planejamento de Ensino e os
Conteúdos Escolares
Você já se questionou sobre os conteúdos escolares e a forma como ele é
aplicado em sala de aula? Vamos iniciar nossa aula sobre esses conteúdos
fazendo alguns questionamentos que poderão ser respondidos, ainda que
parcial ou provisoriamente ao longo do processo de aprendizagem. Vamos
descobrir quais são eles?
A quem compete a seleção e organização dos
conteúdos escolares? Eis um questionamento
que precisamos fazer, pois se é o professor que
trabalha de forma direta o conhecimento com
seus alunos, será que se trata de outras pessoas
pensarem o que deve ser feito em sala de aula, e
na escola o professor ser apenas um mero
executor de tarefas?
Como devem ser tratados os conteúdos no
espaço de sala de aula, virtual ou presencial?
Cabe ao professor tratar o conhecimento de
forma isolada e fragmentada ou se trata de
estabelecermos relações entre os assuntos da
disciplina?
Que tipo de formação estamos oferecendo aos
nossos alunos quando fragmentamos o saber e
que tipo de formação oferecemos quando
integramos os conteúdos e contextualizamos o
ensino?
Há diferenças no tipo de contribuição que o
professor oferece aos seus alunos quando ele
trata o conteúdo de forma articulada à
sociedade e quando ele trata o conhecimento de
forma abstrata, generalizada?
Os alunos compreendem o sentido do
aprendizado? Compreendem o porquê de
estarem aprendendo determinado conteúdo?
Eles conseguem fazer a “ponte” entre o que
aprendem na escola e o que vivem em suas
realidades?
Afinal, qual o propósito do conteúdo? Há que se
ter um fim em si mesmo ou há que ser um meio
para se alcançar um fim?
Esperamos, se não respondermos a todos esses questionamentos, que, no
mínimo, despertemos em você a curiosidade do curso de formação de
professores, para que continue buscando suas respostas, permitindo-se viver
a aventura que se chama aprender. Depois de gerar inquietações, vamos a
algumas respostas, visando organizar melhor nosso pensamento a respeito
dos conteúdos de ensino.
O que são Conteúdos Escolares ou
Conteúdos de Ensino?
Trata-se do conhecimento científico que se ensina aos alunos para que
desenvolvam as capacidades que lhe permitam produzir e usufruir dos bens
culturais, sociais e econômicos. Vejamos a charge a seguir:
 Charge sobre educação tradicional. Fonte: ©
2012 — Curso Múltiplos Saberes
<https://cursomultiplossaberes.wordpress.com/2012/07/15/atividade-
sobre-a-charge/charge-2-2/> .
Os conteúdos não devem ter características de terminalidade e devem servir
como ponto de partida para novos conhecimentos.
Entretanto, como apresentado na charge que acabamos de ver, quando o
professor respalda a prática no modelo tradicional e tecnicista de ensino, o
conteúdo estudado tem caráter de terminalização, isto é, como se o assunto
subsequente não tivesse nenhuma relação com o assunto anterior.
Além disso, é trabalhado de forma fragmentada e isolada de um contexto.

Saiba mais
É muito comum nos depararmos com situações em que os alunos
perguntam, após receberem o resultado de uma prova: “professor, hoje
vai ter matéria nova?”.
Para ilustrarmos a questão da fragmentação do conhecimento X
contextualização do saber, tomemos com o exemplo novamente o tema
das DSTs - doenças sexualmente transmissíveis clicando aqui
<galeria/aula7/anexo/a07_t03.pdf> .
Professor pesquisador
Para trabalharmos um conteúdo com mais desenvoltura e autonomia,
precisamos no mínimo estudar mais referências, o que nos ajudará a ir
construindo e consolidando o conhecimento, buscando nossas próprias
respostas, apresentando novas sínteses e possibilidades.
Sobretudo quando o professor inclui o aluno no processo de aprendizagem,
abrindo espaço para o diálogo, partindo da realidade dos educandos e
devolvendo-o de forma científica. Neste caso, o professor legitima os saberes
dos alunos, não considerando legítimo apenas o seu conhecimento.
Na verdade, no caso do professor, “único” detentor do saber, já estaríamos na
dúvida quanto ao fato de o conhecimento ser mesmo dele ou dos autores que
produziram e publicaram em livros, revistas ou sites e que ele reproduz como
se fosse de sua autoria.
Não há como desenvolver uma visão crítica sobre o objeto de estudos em
questão sem o aprofundamento do conhecimento. E quando o professor
dialoga com seus alunos sobre os conteúdos de ensino, eis uma forma de
estabelecer relações entre a escola e a sociedade.
 O professor precisa ser um pesquisador.
(Fonte: g-stockstudio / Shutterstock)
A fim de compreendermos melhor o conteúdo tratado nesta seção, vejamos
uma cena do filme Sociedade dos Poetas Mortos:

Ficha técnica: DEAD Poets Society = SOCIEDADE dos poetas mortos. Intérpretes: Robin Williams,
Ethan Hawke, Robert Sean Leonard. EUA: Disney / Buena Vista, 1989. 128 minutos., som., color.
https://www.youtube.com/embed/El8hAw9mz-s
O vídeo mostra que o professor não deve fragmentar o saber, e sim se
contextualizá-lo, porque o saber deve partir da realidade, do saber do aluno,
do óbvio, do senso comum, e se devolver de forma sistematizada, organizada
e científica, sob o risco de submetermos os educandos à condição de opressão
ao sonegarmos a ciência a eles.
Essa não é a proposta quando se compreende a educação como instrumento
de libertação da condição de opressão, como instrumento de transformação
de realidades sociais. O aluno precisa do conhecimento para se equipar
cognitivamente e colocar a ciência a seu favor e da sociedade. Somente assim
contribuiremos para a construção de um mundo melhor.
Por outro lado, sabemos que os professores muitas vezes se veem
pressionados a cumprir todos os conteúdos de ensino previstos no livro
didático ou impostos pelos órgãos governamentais e/ou pelas escolas.

Atenção
Ressalta-se assim a superficialidade em que são tratados, tendo em vista
o fator tempo e impedindo uma interação social maior com os alunos.
Entretanto, mesmo levando em conta o fator tempo como um obstáculo
à prática docente, acrescenta-se que quando o professor é pesquisador,
emancipado socialmente e tem consciência acerca do seu papel na
sociedade, ele rompe com o determinismo técnico e com a
hierarquização, de modo que o conhecimento deixa de ser um fim em si
mesmo.
É preciso segurança, fundamentação e um pouco de ousadia para
trabalhar de forma contextualizada, articulada à prática e à sociedade,
pois do contrário, o professor ficará mesmo submetido às imposições
externas, ou seja, às determinações daescola e dos órgãos
governamentais, ou ainda, aprisionado ao livro didático adotado pela
escola.
Fragmentação e Isolamento do
Conteúdo X Conhecimento
Significativo
Vale acrescentar que todo conteúdo deve ter utilidade à vida do aluno, em
consonância com as questões sociais.
Entretanto, mais uma vez, ressaltamos que, se o professor respaldar a prática
no modelo tradicional de ensino, bem como no modelo tecnicista, ele tratará o
conteúdo como verdade absoluta.
Assim, determina o que o aluno deverá aprender, tornando o assunto
abstrato, generalizado, do tipo que se aplica a todos e a ninguém ao mesmo
tempo.
Nesse caso, o professor não dialoga com o aluno sobre o objeto de estudos;
não desmistifica a ciência; não estabelece relações entre a escola e a
sociedade.
Em outras palavras, o aluno não é representado no currículo escolar, na
medida em que seu saber não é valorizado e legitimado na escola e por ela.
 O professor tradicional trata o conteúdo como
verdade absoluta. (Fonte: Lucky Business /
Shutterstock)

Saiba mais
Paulo Freire denominou o conteúdo transmitido como verdade absoluta
de “Educação Bancária” ou “Enciclopedista”, considerando-o vazio de
sentidos, “verbalização oca”, sem contexto e sem endereço.
Um saber ou conhecimento não é considerado legítimo quando é
arbitrário, porque é propriedade de grupos distintos, que os selecionou
ou produziu a partir das necessidades desses grupos. Logo, a validade
universal desse saber é negada (Santos; Grumbach, 2005, p. 25).
Leia sobre a Compreensão do sentido do conhecimento
<galeria/aula7/anexo/a07_t06.pdf> .
 Na escola temos acesso aos conteúdos pedagógicos (Fonte: Billion Photos / Shutterstock)
Ainda sobre os Conteúdos de
Ensino na Visão de Nilda Alves
O mundo é cheio de conhecimentos de toda ordem, que nos aparecem de
múltiplas formas. Nem todos eles estão na escola; quer dizer, alguém que têm
o poder faz a escolha dos conhecimentos que vão estar na escola e que nela
devem ser ensinados. Ou seja, há a seleção daqueles conhecimentos que na
escola serão chamados conteúdos pedagógicos e que todos deverão aprender.
Isto nos leva a reconhecer que outros conhecimentos tiveram a sua entrada
proibida na escola. Ao menos oficialmente.
Em geral, a escolha para o que podia/devia entrar na escola como
conhecimento a ser aprendido era feita buscando o que era conveniente ou
não aos que iam aprender, decidido a partir de critérios exteriores a eles
próprios e a partir da autoridade de alguém que se considerava e era
reconhecido em posição de fazer a escolha.
Escolha essa que privilegiava aspectos morais que levassem à manutenção da
autoridade nas mãos de quem sempre a teve, servindo para formar pessoas
subordinadas a ordens sociais prescritas. Dessa maneira, eram deixados de
fora aqueles conhecimentos que pudessem “enfraquecer” a alma dos
educandos, bem como, os saberes “inúteis”, como eram entendidos os
saberes cotidianos.
A fim de entendermos melhor a relação do Sujeito com o Conhecimento,
vamos ver alguns exemplo de desarticulação entre teoria e prática, de
conhecimento vazio e sem significado, estéril, isolado do contexto e
fragmentado?
Exemplo de desarticulação entre teoria e prática, de conhecimento
vazio e sem significado, estéril, isolado do contexto e fragmentado
Depoimento de professora
Leia o seguinte depoimento de uma professora:
Ontem, depois que saí do curso, fiquei em casa pensando em quanta
besteira eu já fiz na sala de aula. Ainda lecionava lá no interior, a escola
ficava num vilarejo, com duas casas, uma farmácia e a venda do seu
Jadir.
Lá estava eu ensinando sobre meios de comunicação para crianças que
nunca haviam visto um telefone, nunca haviam recebido uma carta,
televisão só a da venda, ninguém tinha televisão em casa.
Para aquelas crianças, os meios de transporte — cavalo, carroça,
bicicleta — eram também meios de comunicação, mas eu não dei
atenção a isto. O que me importava era dar o conteúdo certo, aquele do
livro. E continuei a falar de telefone, televisão...
Aí o menino me interrompe e diz: ‘professora, nóis nun tem telefone não,
quando nóis qué fala co’alguém, nóis pega a bicicleta e vai lá. Televisão,
nóis num tem também não, só a de seu Jadir lá da venda, mas ela num
comunica nada, quando tem feição num proseia, quando proseia num
tem feição’. Eu nunca me senti tão ridícula como naquele dia.
Aula de Ciências Sociais
Os alunos leem em silêncio uma lição sobre a Revolução Francesa.
Depois de uma longa pausa, o professor lhes diz: “Vamos lá, vocês
devem saber de cor. Digam o pouco que souberem; fechem os livros”.
Uma aluna, Juliana, começa a dizer algo sobre os camponeses (o texto é
breve, mas menciona quatro vezes os camponeses).
O professor interrompe: “Não, não; primeiro, do que se trata?”. Os
alunos não respondem.
P.: Vamos ver, Angels: o que havia na França?
A menina responde: “lá há muitas terras férteis, rios e carneirinhos” (o
texto diz apenas que havia muito gado).
P.: Carneirinhos? O que você está dizendo? (em tom sério)
Os outros alunos riem. A aluna não diz nada. Detalhe: isto ocorre numa
localidade onde se criam carneiros.
Comentários:
Em sua relação com o conhecimento, a aluna faz uma tentativa de
vincular o texto com sua experiência, mas se vê cortada pela exigência
do professor de que o texto seja reproduzido de acordo com o que está
escrito, e sobretudo numa ordem que ele mesmo determina, como
quando diz: “Não, não; primeiro, do que se trata?”.
Essa forma de apresentação do conhecimento enfatiza o lugar e a
sequência em que se reproduzem os dados da lição e inibem a
elaboração dos alunos, que tendem a encontrar sentido no texto
interpretando-o, relacionando-o com seus conhecimentos prévios e com
elementos do texto contíguos a sua experiência. Esse conhecimento, cuja
lógica é a identificação tópica, impele o aluno a esquecer suas próprias
elaborações, como condição para poder aprender essa lógica e dar a
resposta “correta”.
Reflitamos: correta pra quem?
Aula de Ciências Naturais
Numa aula de ciências naturais da sexta série da escola, também se
transmite essa forma de conhecimento.
Apresenta-se, em primeiro lugar, o desenho do aparelho digestivo num
cartaz grande e colorido. Cada uma de suas partes é identificada com um
nome científico, ou seja, não conhecido ou pouco conhecido na
linguagem cotidiana. O desenho permite a localização no espaço das
partes que vão sendo nomeadas.
Em segundo lugar, lê-se uma informação sobre o aparelho digestivo na
Enciclopédia para Maestros Quid. Esta é lida textualmente pelo professor
e depois por uma aluna.
O texto vai nomeando as partes do aparelho digestivo, na sequência
determinada pela passagem do bolo alimentar por tal aparelho. A
informação transmitida atém-se estritamente ao texto. Não é modificada
nem ampliada. Assume-se que a informação é verdadeira e que delimita
o saber sobre aparelhos digestivos. A aluna termina de ler a informação.
P.: Em linhas gerais, quem quer me dar o resumo disto? (mostra a
primeira parte do aparelho digestivo no cartaz).
...
P.: Comece você, Marcela. (A menina começa a fazer o resumo. O
professor a interrompe para dizer com suas palavras.)
P.: (pergunta de novo à menina): E depois?
Marcela: Depois passa pelo esôfago...
P.: O que é esôfago, Martin?
...
P.: O que mais, José Manuel?
O menino não responde corretamente, na opinião do professor, que o
corrige:
P.: O bolo alimentar passa pela cárdia. O que é cárdia?
Aponta a um menino para que responda. O menino responde algo que o
professor não ouviu direito. O professor, fazendo caso omisso de sua
resposta, continua:
P.: É o órgão que une o estômago ao esôfago. O que recebe no estômago
o bolo alimentar? Vamos lá, Ana Luisa. (Ana Luisa não responde).
P.: O suco gástrico. Por meio de que está comunicado o intestino delgado
com o estômago?Alunos: Pelo piloro!
P.: Qual é a segunda parte do intestino delgado, Beatriz? (Beatriz não
responde de imediato, depois diz): “Intestino grosso” (hesitante).
P.: (aborrecido): O que está acontecendo, Beatriz? Se estamos falando
de intestino delgado, não podemos falar do grosso.
...
P.: Anotem o resumo.
Sentado em sua mesa, dita aos alunos o resumo, e eles copiam. O
professor termina de ditar e começa de novo o resumo, agora oralmente,
apontando as partes correspondentes no cartaz. Os alunos ficam
entediados e cansados, olham ao redor, conversam, apoiam a cabeça na
mesa, levantam, caminham pela sala de aula etc. Em geral, aumenta o
ruído.
Comentários:
Perto do final da aula, o professor dita aos alunos um resumo da
informação lida na enciclopédia. Assim se assegura de transmitir a todos
os alunos a informação correta e completa por escrito, ou seja, de forma
duradoura. Depois reforça, repetindo o resumo oralmente e indicando
suas partes no desenho.
Nessa forma de conhecimento, o que se enfatiza é a localização espacial
de partes que têm um nome específico: piloro, esôfago, suco gástrico
etc. A apropriação do conhecimento consiste, então, em poder recordar e
nomear as partes numa determinada ordem, que é a que está assinalada
pelo itinerário do bolo alimentar.
As perguntas não admitem a explicitação das elaborações pessoais que
os alunos podem estar fazendo. Para responder, não é preciso fazer
relações nem aplicar conhecimentos; apenas lembrar e nomear termos
numa determinada ordem.
Os termos que se dizem dão conta de um aparelho do organismo
humano, mas em sua esquematização perde-se de vista tal ligação, e o
resultado é um ordenamento de lugares.
As referências ao funcionamento do aparelho digestivo, por exemplo, são
escassas e fracas, isto é: “O que recebe o bolo alimentar no estômago?”
“O suco gástrico”.
Nesse caso, refere-se implicitamente a uma função que o suco gástrico
deveria realizar no bolo alimentar. O resto da informação da aula se
refere à localização das partes: “O que une o estômago ao esôfago?” “A
cárdia”. “Por meio de que está comunicado o intestino delgado com o
estômago?” “Pelo piloro”.
Exemplo de articulação entre o saber popular e o saber científico. Aula
sobre alimentação e hábitos de higiene e saúde
Aula sobre alimentação e hábitos de higiene e saúde
Leia o seguinte depoimento de uma professora:
Situação do cotidiano escolar: os alunos estão estudando sobre a
importância das frutas para o funcionamento do organismo, quando
ocorre uma pergunta: “professora, o que acontece se você comer
abacaxi e depois tomar leite?”.
Aluna 1: “Minha mãe dizia que comer abacaxi e depois tomar leite fazia
mal. Ela até conheceu um rapaz que morreu por isso. Pode até ser que
não faz mal, mas eu não arrisco”.
Aluno 2: “Quando eu era pequena, engoli dois chicletes e diziam que a
gente morria porque o chiclete tapava a boca do estômago. Minha mãe
falava que tapava a boca do bucho e a gente podia comer que não fazia
efeito. Mas minha culpa foi porque o dinheiro que eu comprei os chicletes
era para eu dar para a igreja e Deus sabia disso”.
Aluna 3: “Eu sempre vi minha mãe cortando a ponta do pepino e
esfregando para tirar o veneno”.
Aluno 4: “Tem muita coisa que a gente pensa que se comer faz mal e não
faz. Quando o avião do Mezenga caiu na mata, pra sobreviver, ele comeu
carne de macaco e até aqueles vermes que dão dentro das cascas das
árvores”.
Professor: “Mas o médico não fala que faz mal misturar leite com
abacaxi. Ele fala que depende do organismo de cada um. Então, como a
gente fica? Essa ideia vem do tempo da escravidão. Para os escravos não
comerem muito, os donos das fazendas falavam que fazia mal comer
abacaxi com leite, manga com leite e outras coisas. Eles colocavam medo
nos escravos e isso chegou até nós”.
Comentários:
Percebe-se que o professor não desprezou o conhecimento dos alunos a
respeito do assunto em pauta, dialogando com eles sobre o objeto de
estudos, partindo de suas realidades, seus saberes, partindo do óbvio,
segundo Paulo Freire, e devolvendo de forma científica, sob o risco de
submetê-los à condição de opressão ao sonegar a ciência a eles, o que
não foi a proposta do professor.
A seleção dos conteúdos requer do professor um bom conhecimento da
disciplina que leciona e é imprescindível a atuação permanente do
professor através de reciclagens, aprofundamento teórico e prático.
É muito importante que o professor tenha grande bagagem cultural,
abrangendo, obrigatoriamente, seu campo específico de estudo, pois
somente desta forma ele poderá ‘se dar o luxo’ de abrir mão do conteúdo
como um fim em si mesmo, utilizando-o como meio, objeto de reflexão e
de crítica (Balzan, citado por Piletti, 2004).
Atividade
Vamos realizar uma atividade, afim de fixar o que aprendemos até aqui?
Selecionando conteúdos de ensino
Faça uma pesquisa em livros didáticos sobre os conteúdos de ensino
relacionados a uma determinada série/ escolaridade.
Se você for do curso de História, deverá pesquisar em livros didáticos de
História, mas, se for do curso de Geografia, deverá pesquisar em livros
didáticos de Geografia; se for de Letras, poderá pesquisar os conteúdos
de ensino em livros didáticos de Língua Portuguesa ou em livros didáticos
de inglês, espanhol ou outro idioma de seu interesse.
Se você for do curso de Pedagogia, deverá, primeiramente, escolher uma
das disciplinas: matemática, português, história, geografia, ciências e,
em seguida, fazer a pesquisa dos conteúdos de ensino, relacionados a
uma determinada série/escolaridade.
Ressaltamos que os profissionais da Pedagogia trabalharão com alunos
da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental I e que os demais
alunos das licenciaturas trabalharão com alunos do 6º ano do Ensino
Fundamental II ao Ensino Médio.
Referências
ALVES, N.; GARCIA, R.L. (Org.). O sentido da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
EDWARDS, V. Os sujeitos no universo da escola. São Paulo: Ática, 1997.
GIROUX, H. A. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica
da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
LIBANEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 2013.
MOREIRA, A.F., SANTOS, L.L.C.P. Currículo: questões de seleção e de organização do
conhecimento. In: TOZZI, D. et al. (Org.). Currículo, conhecimento e sociedade.
São Paulo: Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 1995.
PILETTI, Claudino. Didática geral. São Paulo: Ática, 2004.
SANTOS, Ana Lucia Cardoso dos; GRUMBACH, Gilda Maria. Didática para
licenciatura: subsídios para a prática de ensino. Rio de Janeiro: Fundação
Cederj, 2005.
Próximos Passos
• Planejamento de ensino;
• Procedimentos de ensino;
• Recursos didáticos.
Explore mais
Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto.
Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos
disponíveis no ambiente de aprendizagem.
Acesse os sites:
• Conteúdos escolares <https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-
docente/conteudos-escolares.htm> .
• O conhecimento escolar no Ensino Básico
<http://www.conteudoescola.com.br/colaboracao-do-leitor/30/165-o-
conhecimento-escolar-no-ensino-basico-retomando-algumas-questoes?
format=pdf> .

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