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PARTE II - RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS DIREITO PROCESSUAL CIVIL III PROFA. RAFAELA BRITO 2020.1 RECURSOS EM ESPÉCIE 1. DISPOSIÇÕES COMUNS Os Recursos de caráter extraordinário são os que tem por objetivo a uniformidade da aplicação do direito constitucional (RExt) ou infraconstitucional (REsp), sendo julgados, respectivamente, pelo STF e pelo STJ. Os recursos comuns, ou ordinários (apelação, agravo e embargos de declaração), são dirigidos aos Tribunais locais, isto é, aos TJs e TRFs, e permitem a discussão de questões de fato, além das de direito. Já os recursos extraordinários são dirigidos aos Tribunais superiores, estão submetidos a procedimento mais rigoroso e a devolutividade se restringe à matéria de direito – não admitindo rediscussão da matéria fática –, razão pela qual também são chamados de recurso de estrito direito ou de superposição. Portanto, não se prestam à correção da injustiça da decisão, mas à unificação da aplicação do direito positivo. CABIMENTO: Quanto ao cabimento, destaca-se que o recurso extraordinário não exige que a decisão recorrida tenha sido proferida por Tribunal, ao contrário do recurso especial. Por essa razão, admite-se recurso extraordinário em face de decisão das Turmas Recursais dos Juizados Especiais (Súmula nº 640 do STF). Por outro lado, uma vez que o recurso especial exige que a decisão recorrida seja emanada de Tribunal (Súmula nº 203 do STJ), não é cabível a interposição de recurso especial de decisão proferida por órgão colegiado dos juizados especiais, tampouco por juiz monocrático. Quanto à decisão proferida pelos órgãos colegiados dos Juizados Especiais, deve-se atentar para a utilização de reclamação ao STJ, com o objetivo de preservar a sua atuação uniformizadora, violada quando a decisão do juizado discrepar da orientação por ele fixada. CABIMENTO REsp (art. 105, III, da CF/1988 ): Decisão contrária a tratado ou lei federal, ou que lhes negue vigência (art. 105, III, a): a expressão contrariar tratado ou lei federal tem sentido amplo, podendo significar a inobservância ou a interpretação errônea de preceito legal, ou, ainda, a negativa de vigência, mencionada na parte final do dispositivo; Decisão que julga válido ato de governo local contestado em face de lei federal (art. 105, III, b): trata-se de mera espécie da hipótese de cabimento prevista na alínea a, haja vista que, ao se reputar válido ato de governo local em sentido contrário a lei federal, é evidente que a aplicação desta é afastada; Decisão que dá a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal (art. 105, III, c): nesse caso, faz-se necessária a demonstração do dissídio jurisprudencial, que não pode envolver julgados do mesmo tribunal (Súmula nº 13 do STJ). Além disso, não se admite recurso especial pela divergência quando a orientação do STJ se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida (Súmula nº 83 do STJ). Para fins de comprovação do dissídio, o STJ não aceita a mera transcrição de ementas. Para a Corte, é necessária “a demonstração analítica da alegada divergência”, com a transcrição dos trechos que configurem o dissenso e a indicação das circunstâncias que identifiquem os casos confrontados (STJ, AgRg AREsp 1.145.532/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 05.03.2013). Essa exigência é abrandada quando a divergência for notória (STJ, REsp 730.934/DF, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 04.08.2011). CABIMENTO RExt (art. 102, III, da CF/1988 ): Decisão contrária a dispositivo da CF/1988 (art. 102, III, a): significa que a decisão deve contrariar norma expressa da Constituição, não sendo suficiente a referência genérica de ofensa ao texto constitucional; Decisão que declara a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal (art. 102, III, b): significa que a decisão recorrida, nessa hipótese, deve negar a aplicação (ou vigência) da lei ou tratado federal, devido a suposta inconstitucionalidade; Decisão que julga válida lei ou ato de governo local contestado em face da CF/1988 (art. 102, III, c): nesse caso, a decisão afasta a aplicação da CF/1988 ao reputar válida lei ou ato de governo local em sentido contrário a norma constitucional; Decisão que julga válida lei local contestada em face de lei federal (art. 102, III, d): incluída pela EC nº 45/2004, tal hipótese de cabimento do recurso extraordinário tem em mira a ofensa reflexa à norma da Constituição, pois “é a Constituição que define a competência legislativa e, se o Estado ou o Município edita norma de desobediência ao comando constitucional, trata-se de afronta à CF/88 e não à lei federal”. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE COMUNS AOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS: Obrigatoriedade de esgotamento de todos os recursos ordinários: causas decididas em única ou última instância (art. 102, III e 105, III, CPC). Súmula 281, STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada. Presquestionamento da questão que se ver apreciada no STJ ou no STF: interposição em face de causas decididas. Se o Tribunal não tiver se manifestado = Embargos de Declaração (com efeito prequestionador). Prequestionamento: manifestação expressa do juízo local, provocada ou não pela parte, sobre a questão devolvida nos recursos de estrito direito. Alegação de ofensa ao direito positivo. Vale ressaltar que, embora o reexame de prova não seja possível nos recursos excepcionais, admite-se nova valoração de prova constante dos autos. REGULARIDADE FORMAL: Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas que conterão: I - a exposição do fato e do direito; II - a demonstração do cabimento do recurso interposto; III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida. § 1o Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova da divergência com a certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE: Duplo juízo de admissibilidade: Tribunal de origem e Tribunal destinatário. Art. 1.029, § 3º - a não ser que se trate de defeito grave, por exemplo, ausência de prequestionamento, é possível que o STJ e o STF (por meio do relator ou do órgão colegiado) desconsiderem o vício e determinem o regular prosseguimento do recurso. Também na hipótese de defeito que possa ser corrigido, cabe ao tribunal determinar a intimação do recorrente para suprir a irregularidade. Somente se o recorrente não sanar o vício formal do qual foi intimado para corrigir é que o tribunal deverá inadmitir o recurso. Art. 1.030 – O novo CPC possibilita que o órgão competente impeça que as temáticas já analisadas pelo STJ e pelo STF subam novamente para julgamento. OUTRAS CONSIDERAÇÕES: Efeito suspensivo: em regra não tem. Exceção: Art. 1.029, §5º: O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso especial poderá ser formulado por requerimento dirigido: I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo; II - ao relator, se já distribuído o recurso; III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037. Efeito devolutivo: Art. 1.034. Admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, o Supremo Tribunal Federal ou o SuperiorTribunal de Justiça julgará o processo, aplicando o direito. Parágrafo único. Admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial por um fundamento, devolve-se ao tribunal superior o conhecimento dos demais fundamentos para a solução do capítulo impugnado. OUTRAS CONSIDERAÇÕES: Fungibilidade entre REsp e Rext: Possibilidade de interposição simultânea de REsp e Rext (art. 1.031) Caso o relator no STJ entenda que o recurso trata de questão constitucional, concederá ao recorrente prazo de 15 dias para complementação e apresentação das alegações sobre a repercussão geral. Da mesma forma, o STF poderá enviar ao STJ Rext no qual evidencie eventual ofensa reflexa ao texto constitucional, mas cuja questão de fundo não envolva matéria da sua competência. REPERCUSSÃO GERAL (RExt): A repercussão geral da questão constitucional, requisito de admissibilidade do RExt (art. 102, § 3º, da CF/1988 e art. 1.035 do CPC), exige que o recorrente demonstre a existência “de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos do processo” (art. 1.035, § 1º). Conforme se extrai do art. 102, § 3º, da CF/1988, a relevância da questão constitucional é, a princípio, presumida, cabendo ao plenário do STF, pela decisão de pelo menos dois terços de seus membros (oito ministros), rejeitá-la. Em duas situações a relevância da questão é presumida de modo absoluto: quando o recurso impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante do STF. Isso significa que pelo simples fato de determinada matéria ser sumulada pelo STF ou objeto de reiteradas decisões há relevância jurídica que justifica a admissão do RE, além de eventual relevância econômica, política ou social; quando o acórdão tenha reconhecido a inconstitucionalidade de lei ou tratado, nos termos do art. 97 da CF/1988. O pronunciamento acerca da existência de repercussão geral é de competência exclusiva do STF (art. 1.035, § 2º). REPERCUSSÃO GERAL (RExt): Pode o relator do RE admitir, nos termos do Regimento Interno do STF, a manifestação de terceiros na análise da repercussão geral (art. 1.035, § 4º) – amicus curiae. Art. 1.035, § 5º: Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal determinará a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional. Atenção: definição de prazo de 01 ano para julgamento do recurso que tiver sua repercussão geral reconhecida: Art. 1.035, § 9o: O recurso que tiver a repercussão geral reconhecida deverá ser julgado no prazo de 1 (um) ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus. Negada a repercussão geral, o presidente, ou o vice presidente do tribunal de origem, negará seguimento aos recursos extraordinários sobrestados na origem que versem sobre a mesma matéria que teve a repercussão geral negada (art. 1.035, § 8º). PROCEDIMENTO: Recurso Especial Trecho de: Humberto Theodoro Júnior. “Curso de Direito Processual Civil – Volume III, 47.ª edição”. Apple Books. 13 PROCEDIMENTO: Recurso Extraordinário Trecho de: Humberto Theodoro Júnior. “Curso de Direito Processual Civil – Volume III, 47.ª edição”. Apple Books. Até nossa próxima aula! Dúvidas: rafaela.brito@estacio.br Contato na plataforma Microsoft Teams