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1 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2 UNIDADE 1 – A CRIANÇA COM TEA NA ESCOLA ................................................. 5 1.1 A criança com TEA na escola regular e especial .................................................. 6 1.2 Desenvolvimento da função executiva .................................................................. 8 1.3 Desenvolvimento da cognição social .................................................................. 12 1.4 A comunicação .................................................................................................... 15 UNIDADE 2 – O TRABALHO NA SALA DE AULA PARA O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM, DA INTERAÇÃO E DO COMPORTAMENTO NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ................................................................................... 19 2.1 Dicas para o trabalho da comunicação receptiva ................................................ 22 2.2 Dicas para trabalhar a linguagem expressiva ...................................................... 23 2.3 Estratégias para desenvolver e aumentar a interação social .............................. 26 2.4 Estratégias para um comportamento social adequado ....................................... 28 UNIDADE 3 – PROPOSTAS PEDAGÓGICAS ......................................................... 30 3.1 O uso de atividades físicas .................................................................................. 31 3.2 A Ludoterapia ...................................................................................................... 32 3.3 A Musicoterapia ................................................................................................... 34 3.4 O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) ............................. 35 3.5 A Comunicação Facilitada (CF) ........................................................................... 36 3.6 Treinamento de Integração Auditiva (AIT) ........................................................... 37 3.7 A Integração Sensorial (SI) ................................................................................. 38 3.8 Movimentos Sherborne - “Relation Play” ............................................................. 39 UNIDADE 4 – TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO INCLUSIVA E TEA: RELAÇÕES SEMPRE BENÉFICAS .................. 40 4.1 As Tecnologias de Comunicação e Informação (TIC) ......................................... 41 4.2 Alguns aplicativos próprios da TIC para portadores de TEA ............................... 44 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49 ANEXOS ................................................................................................................... 55 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 2 INTRODUÇÃO Indiferença a outras pessoas, dificuldade para participar do “dar e receber” da interação humana diária, dificuldades em regular emoções, choros explosivos na sala de aula, lentidão para aprender e interpretar o que os outros estão pensando e sentindo, um sorriso sutil, um piscar de olhos ou uma careta, pouca habilidade para interpretar um abraço, perder o controle emocional e até mesmo quebrar coisas... esses são apenas alguns dos sintomas sociais que observamos em pessoas com TEA, mas que precisamos estar sempre atentos quando recebemos esse aluno já diagnosticado ou que nós mesmos vamos perceber em nossas salas de aula. Figura 1: Expressões de sentimentos. Fonte: https://www.ebay.it/itm Para receber com todos os direitos que são conferidos aos portadores de TEA, a escola, os colegas, os professores precisam estar preparados, assim como desenvolver estratégias para estimular a interação entre os colegas. Neste módulo, focaremos nas práticas pedagógicas, vamos falar do desenvolvimento da função executiva, da cognição social, da comunicação; lançaremos mão de dicas e sugestões para o desenvolvimento da comunicação, interação e comportamento no dia a dia na sala de aula, além e propostas alternativas como uso de atividades físicas, a natação e a hidroginástica, a Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 3 Musicoterapia, a Ludoterapia, a Comunicação Facilitada (CF); a Integração Auditiva (AIT); a Integração Sensorial (SI) e o Movimento Sherborne. Daremos atenção especial às Tecnologias de Comunicação e Informação, as conhecidas TIC, alguns softwares para melhorar habilidade cognitivas, e por fim, deixaremos algumas reflexões sobre as Novas Bases Curriculares Nacionais (BNCC) que tanta atenção dispensaram à Educação Inclusiva. Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se fazem necessárias: 1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. 2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo original1, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 3) Em se tratando de Jurisprudência, entendida como “Interpretação reiterada que os tribunais dão à lei, nos casos concretos submetidos ao seu julgamento” (FERREIRA, 2005)2, ou conjunto de soluções dadas às questões de direito pelos tribunais superiores, algumas delas poderão constar em nota de rodapé ou em anexo, a título apenas de exemplo e enriquecimento. 1 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou similares. 2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio. Versão 5.0. Editora Positivo, 2005. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 4 4) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento crítico. 5) Pedimos compreensão por usar a lógica ocidental tradicional que funciona como uma divisão binária: masculino x feminino, macho x fêmea ou homem x mulher, mas na medida do possível iremos nos adequando à identidade de gênero, cientes deque no mundo atual as pessoas tem liberdade de se expressarem de forma tão diversa e plural e que o respeito à singularidade e a tolerância de cada indivíduo torna-se fator de extrema importância. 6) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Por fim: 7) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl + clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 5 UNIDADE 1 – A CRIANÇA COM TEA NA ESCOLA O aumento do número de pessoas diagnosticadas com TEA leva consequentemente à inserção de um maior número de crianças na escola com esses transtornos, portanto, adaptações, atendimento educacional especializado também precisam ser aplicados e ampliados, o que não é simples de realizar. Nesse sentido, Roriz e Caniço (2016) asseveram que o ingresso no ensino público de grande número de crianças autistas, as crianças de desenvolvimento normal, desconhecendo a perturbação, têm tendência a adotar comportamentos de discriminação. Tal fato pode propiciar o aumento do bullying psicológico e físico nas escolas. É importante relembrar que o autista também poderá ter comportamentos agressivos, autolesivos ou para com os colegas. Assim, as instituições educacionais deverão estar atentas a este tipo de comportamento. Segundo a ASA (Autism Society of American), os indivíduos autistas apresentam metade das seguintes características: � dificuldade de relacionamento com outras pessoas; � riso inapropriado; � pouco ou nenhum contato visual – não olha nos olhos; � aparente insensibilidade à dor – não responde adequadamente a uma situação de dor, � preferência pela solidão; � modos arredios – busca o isolamento e não procura outras crianças; � rotação de objetos – brinca de forma inadequada ou bizarra com os mais variados objetos; � inapropriada fixação em objetos; � perceptível hiperatividade ou extrema inatividade – muitos precisam de material adaptado; � insistência em repetição, resistência à mudança de rotina; � não tem real medo do perigo (consciência de situações que envolvam perigo); � ecolalia (repete palavras ou frases em lugar da linguagem normal); � age como se estivesse surdo - não responde pelo nome (FONSECA, 2014). Desse modo, é necessário conhecer as diversas características apresentadas pelo indivíduo autista para assim saber como intervir, respeitando seu Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 6 tempo e trabalhando da melhor maneira possível as suas potencialidades, trabalhando para que a segregação do indivíduo seja descartada totalmente. Compreender o autismo é abrir as portas para o entendimento do nosso próprio desenvolvimento [...]. Os autistas não são antissociais... Simplesmente não os entendemos devido à nossa incapacidade de nos ajustarmos à diferença, seja ela que tipo for (CAVACO, 2014, p. 46). No entanto, a busca por compreensão sobre autismo não ajuda apenas para o atendimento inclusivo e consciente, mas também, ao crescimento do desenvolvimento da aprendizagem do próprio profissional e estudante que trabalha e pesquisa sobre o assunto. Os autistas não são seres “antissociais”, mas é falta de estudo e dedicação sobre o Transtorno do Espectro Autista que leva a pensar dessa maneira, pois é a falta de busca pelo conhecimento que leva a sociedade a ter pensamentos negativos incapazes de aceitar a diferença (OLIVEIRA, 2015). É importante saber que o comportamento do autista é resultante de uma série de razões geradas pela dificuldade do processamento de informações, excesso de sensibilidade, mudança de rotina, razões físicas como mal- estar, cansaço ou fome, que em função das dificuldades de comunicação, levam à ansiedade, raiva e frustração (SALVADOR, 2015, p. 148). Desta forma, considerando a grande abrangência de variados comportamentos autistas, é necessário que seja feito um estudo primeiramente do conjunto comportamental apresentado pelo indivíduo para que em seguida seja feita a intervenção necessária e o trabalho educacional necessário para o caso, visto que, de acordo com a literatura abordada, cada caso é diferenciado do outro. Esse foi o caminho que tomamos ao longo do curso e agora chegou o momento da atuação em prol de seu desenvolvimento. 1.1 A criança com TEA na escola regular e especial Os conteúdos escolares que uma criança autista em grau leve pode chegar a acompanhar ou aprender depende da criança e, é claro, do tipo de apoio que ela receber. Considerando uma criança autista, alfabetizada e acompanhando uma sala Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 7 regular, é importante planejar apenas em curto prazo, enfrentando um pequeno desafio de cada vez (OAB-DF, 2015). Assim é possível analisar o resultado de cada passo, dimensionar uma possível mudança de estratégia, recuar um pouco quando necessário e avançar mais no que for possível. Planejar em longo prazo pode ser um erro muito comprometedor com essas crianças. É preciso sempre analisar a situação sob todos os aspectos, desde a capacidade do aluno em adaptar-se aos métodos de ensino, até a capacidade da escola em receber e cuidar da melhor forma possível deste aluno, para que se chegue aos melhores resultados e maiores benefícios para a criança. Quando a criança tem um grau maior de comprometimento e apresenta diferenças mais acentuadas dos padrões de normalidade típica, a complexidade da tarefa de educar pode ficar ainda mais difícil, necessitando a ajuda de especialistas. Após o diagnóstico e o atendimento terapêutico, a família geralmente é aconselhada a procurar uma Escola Especial com tratamento multidisciplinar, sendo este, um passo muito difícil porque significa assumir uma condição diferente. Surgem muitas dúvidas e muitas vezes os pais ficam inseguros por não saberem exatamente o que é uma Escola Especial. A Escola Especial é a escola que toda criança deveria ter, que considera cada criança um caso especial, portanto, estuda suas reais condições para poder oferecer atendimento adequado às necessidades específicas para o seu desenvolvimento. Diferencia-se da escola comum por oferecer atendimento especializado e individualizado. Na escola especial: � existe maior preocupação com a estimulação do desenvolvimento da criança; � o atendimento é individualizado, emboraa criança seja atendida em pequenos grupos; � há maior preocupação com a melhoria da qualidade de vida da criança e de sua família; � é realizado trabalho intenso no sentido de estabelecer hábitos de vida diária e de atividades de integração social; Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 8 � a criança não tem que adaptar-se ao programa, e sim o programa é adaptado ao ritmo da criança; � não existem provas mensais e sim acompanhamento através de registro de observações e de avaliações do desempenho; � existe a preocupação com a construção de um bom autoconceito; � há maior integração com a família para proporcionar orientação e apoio de maneira informal; � resultados terapêuticos acontecem, e são o apoio necessário complementar da escola regular (OAB-DF, 2015). 1.2 Desenvolvimento da função executiva As funções executivas (FE) referem-se ao controle cognitivo de ordem superior necessário para a realização de um objetivo específico (MORIGUCHI; HIRAKI, 2013 apud SANTOS, 2015). Para Lezak (1982 apud SANTOS, 2015), as FE são essenciais para o comportamento efetivamente independente, criativo e socialmente construtivo. A princípio, o termo estava circunscrito à definição de metas, iniciação da ação, inibição, planejamento, alternância e monitoramento. Estudos recentes têm incorporado, com certa variedade, cognição social, teoria da mente, processos estratégicos da memória episódica, insight e metacognição no domínio dessas funções (GODEFROY et al. 2010 apud SANTOS, 2015). Na avaliação neuropsicológica, a denominação FE é utilizada para designar uma ampla variedade de funções cognitivas que implicam: atenção, concentração, seletividade de estímulos, capacidade de abstração, planejamento, flexibilidade de controle mental, autocontrole e memória operacional (GREEN, 2000; LORING, 1999; SPREEN; STRAUSS, 1998 apud HAMDAN; PEREIRA, 2009). Encontramos em Fontes (2010) o modo mais didático para explicar as funções executivas. Vejamos: O cotidiano oferece diferentes desafios e situações imprevistas que exigem habilidades de várias funções cerebrais. Por exemplo: descobrir o melhor caminho Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 9 para se chegar a um determinado local, desenvolver uma nova função no emprego, analisar um problema, fazer uma conta matemática, finalizar uma tarefa complexa. Essas funções incluem raciocínio, lógica, estratégias e tomada de decisões, além de manter ações permanentes de controle mental. Este conjunto de funções tem um papel central na organização e no planejamento de todas as nossas ações, pois auxiliam na manutenção de iniciativa, estabelecimento de objetivos, monitorizando as tarefas por meio do auto controle, sempre repensando as estratégias de acordo com o plano original, sendo chamadas de funções executivas. Daí, podemos inferir que elas são as funções que mais nos diferenciam dos animais já que compreendem o processo cognitivo orientado a uma determinada meta. Para tanto, nós serem humanos, temos a habilidade de processar atividades com atenção sustentada, memória operacional, inibição dos impulsos, fluência verbal e especialmente pensamento abstrato. É possível considerar três dimensões fundamentais que compõem as funções executivas: memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva (DIAMOND, 2013 apud COSTA et al., 2016). Essas três funções não são independentes entre si; ao contrário, são habilidades conectadas e que atuam conjuntamente, segundo formas de interdependência em que elas se complementam e são indissociáveis. a) Memória de trabalho: permite armazenar, relacionar e pensar informações no curto prazo. Sem essa capacidade, por exemplo, o indivíduo não se lembraria do que estava fazendo após ser interrompido. b) Controle inibitório: possibilita controlar e filtrar pensamentos, ter o domínio sobre atenção e comportamento. Conseguir ler um texto, mesmo na presença de barulhos incômodos, é um exemplo de uso dessa habilidade. c) Flexibilidade cognitiva: permite mudar de perspectiva no momento de pensar e agir, e considerar diferentes ângulos na tomada de decisão. Por exemplo, essa capacidade é fundamental para o indivíduo perceber um erro e poder corrigir. Enfim, as capacidades relacionadas às funções executivas incluem ainda a possibilidade de organizar diferentes atividades no dia a dia, planejar e executar etapas de um objetivo de longo prazo, concluir tarefas apesar de interrupções e Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 10 distrações, controlar impulsos, manter o foco, refazer planos para corrigir erros e realizar diferentes ações simultaneamente. Essas habilidades evitam a realização de ações com consequências indesejáveis, tanto no trabalho e na escola como no relacionamento com familiares e amigos. Não por acaso, as funções executivas encontram-se relacionadas a diferentes dimensões da vida das pessoas. Um bom funcionamento executivo está associado à qualidade de vida, por meio de mais saúde física e mental e também de melhor aproveitamento escolar e realização profissional (COSTA et al., 2016). Crianças diagnosticadas com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade ou transtornos do espectro autista apresentam prejuízos no desenvolvimento das funções executivas e tipicamente exibem um baixo desempenho em testes de funcionamento executivo. Esses transtornos, assim como a maior parte dos transtornos psiquiátricos, estão associados a prejuízos nas funções executivas e dificuldades do controle consciente de ações, pensamentos e emoções. No entanto, crianças cujas necessidades emocionais, sociais e físicas não forem atendidas adequadamente, também podem não conseguir desenvolver plenamente seu potencial de funcionamento executivo e apresentar dificuldades em controlar conscientemente seu comportamento. Tais crianças podem não conseguir lapidar suas habilidades de funções executivas por causa de problemas como estresse, tristeza, solidão, privação de sono ou falta de saúde física (COSTA et al., 2016). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 11 Atividades de sala de aula que reabilitam as dificuldades e estimulam as habilidades de Funções executivas Figura 2: Atividades de sala de aula. Fonte: https://www.brain4child.com.br/neuroblog Enfim, o exercício das funções executivas é para toda a vida, mas é significativamente expressivo em dois momentos-chave: dos 4 aos 6 anos e na adolescência. Nesta fase da infância, os pais podem ajudar os filhos com atividades e jogos simples, como fazer com que executem tarefas antes de desfrutarde uma recompensa, mostrar como problemas grandes e difíceis podem ter soluções pequenas e fáceis e aprender a se posicionar positivamente diante de tarefas difíceis. Aprender uma segunda língua ou a tocar um instrumento também colaboram para desenvolver as funções executivas. São maneiras de estimular as funções executivas: - manter uma relação positiva com a criança para se preparar melhor para lidar com situações estressantes, o que, por sua vez, o (a) ajudará a desenvolver suas funções executivas; - ser afetuoso e sensível às necessidades do(a) filho(a); - usar métodos brandos de disciplina, como dialogar e pedir ou sugerir educadamente quando você quer que ele faça ou deixe de fazer alguma coisa; Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 12 - incentivar o(a) filho(a) a ser independente, ajudando em suas atividades somente quando ele precisa; - tentar manter atividades domésticas e rotinas consistentes e organizadas; - ser paciente quando o(a) filho(a) pequeno(a) tiver um comportamento rebelde (por exemplo, recusando-se de colocar o casaco antes de sair quando está fazendo frio, comendo um biscoito mesmo se você tiver dito a ele para não fazê-lo); - ser realista a respeito do que ele(a) pode fazer em diferentes idades. Por exemplo, quando a criança começa a escola, ela ainda não é capaz de se planejar com antecedência para fazer seus deveres. À medida que o(a) filho(a) crescer, ele(a) entenderá por que é importante reservar tempo para fazer os deveres de casa; - incentivar o(a) filho(a) a se envolver em brincadeiras sociais de faz-de- conta com outras pessoas – especialmente brincadeiras nas quais precise assumir um papel e se adaptar à “história” conforme ela vai mudando; - escolher jogos de computador e cognitivos que ajudem a desenvolver as funções executivas; - incentivar o(a) filho(a) a fazer ioga, meditação, música, artes marciais, dança ou atividades aeróbicas. Escolher atividades que sejam suficientemente desafiadoras para mantê-lo(a) motivado; - sempre levando em conta a idade do(a) filho(a), ficar atento aos sinais de funções executivas deficientes (por exemplo, dificuldade de prestar atenção, comportamentos impulsivos), pois eles podem indicar que a criança está tendo dificuldades de desenvolvimento ou de aprendizagem (ENCICLOPÉDIA DA CRIANÇA, 2014). 1.3 Desenvolvimento da cognição social Cognição social é uma abordagem relativamente recente, mas que foi incorporada rapidamente em vários domínios da Psicologia. Surgiu em meados dos anos 70 e representa uma abordagem conceitual e empírica genérica que procura compreender e explicar como é que as pessoas se percebem a si próprias e aos outros, e como é que essas percepções permitem explicar, prever e orientar o comportamento social (GARRIDO; AZEVEDO; PALMA, 2011). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 13 De acordo com Sasson, Nowlin e Pinkham (2013 apud MARANHÃO, 2014), a cognição social denota processos cognitivos que mediam experiências sociais. Trata-se da decodificação, processamento e interpretação de informações sociais associadas, por exemplo, a linguagem corporal, reconhecimento de faces, reconhecimento de emoções e teoria da mente. A cognição social entrelaça-se com capacidade de inferir representações mentais em estreita relação com a linguagem, reconhecimento de emoções e funções executivas, notadamente quando exigidos dentro de um contexto dinâmico pautado em relações sociais (BARON-COHEN, 1995 apud MARANHÃO, 2014). Figura 3: Cognição social. Fonte: Coutinho (2017, p. 5). Cognição social é “simplesmente pensar sobre pessoas” (FISKE, 1995), “a habilidade de construir representações das relações entre si mesmo e os outros e usar estas representações de forma flexível para guiar o comportamento social” (ADOLPHS, 2001). E posto que o desenvolvimento cognitivo, nas suas diversas modalidades, está relacionado à capacidade de interação social do indivíduo, podemos afirmar que a cognição social é um conjunto de processos cognitivos que tornam possível o desenvolvimento social do homem (SOARES, 2014). Por sua vez, entende-se por habilidades sociais um conjunto de habilidades interpessoais que aumentam a eficácia de um indivíduo em situações sociais. Constituem comportamentos sociais habilidosos ou não habilidosos. Níveis elevados de habilidades sociais levam ao maior sucesso no relacionamento com os colegas e Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 14 ambientes acadêmicos, ao passo que déficits de habilidades sociais têm sido associados a uma série de comportamentos mal adaptativos (LAMONT; HORN, 2013 apud MARANHÃO, 2014). Com relação à avaliação clínica da cognição social, ainda são poucos os testes e tarefas já adaptados ou validados para o Brasil. Assim, mais estudos de validação e desenvolvimento de medidas para cognição social se fazem necessários, bem como discussões acerca deste domínio cognitivo e sua interface entre as neurociências e a clínica neuropsicológica. A lista abaixo apresenta alguns dos instrumentos mais utilizados na literatura (PINKHAM et al. 2014): � Ambiguous Intentions Hostility Questionnaire (AIHQ) (COMBS et al., 2007): essa tarefa foi desenhada para a avaliação de vieses cognitivos para hostilidade social. � Bell Lysaker Emotion Recognition Task (BLERT) (BRYSON et al., 1997): a tarefa mede a capacidade de identificar corretamente 6 estados emocionais (alegria, tristeza, medo, nojo, surpresa, raiva) ou estados neutros. � Penn Emotion Recognition Test (ER-40) (KOHLER et al., 2003): a tarefa avalia a capacidade de reconhecimento de afeto facial utilizando 40 fotos coloridas de faces estáticas que expressam 4 emoções básicas (alegria, tristeza, raiva ou medo) e expressões neutras. � Relationships Across Domains (RAD) (SERGI et al., 2009): esse teste mede a competência para percepção de relacionamentos. O conteúdo e o formato são baseados na teoria de modelos relacionais que propõe que indivíduos usam seu conhecimento implícito de 4 modelos relacionais (compartilhamento comum, ranking por autoridade, correspondência igualitária e valorização de mercado) para compreender relacionamentos sociais e predizer o comportamento dos outros. � Reading the Mind in the Eyes Test (BARON-COHEN et al., 2001): Esse teste mede a capacidade de discriminação de estados mentais a partir de expressões da região dos olhos na face. Enfim, Cervantes (2008) ressalta a importância da intervenção de psicólogos ou educadores com bastante prática em análise comportamental funcional e em técnicas de mudança de comportamento. Além dos prejuízos sociais e cognitivos, as Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenageme recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 15 discrepâncias comportamentais representam grande preocupação, visto que significam as alterações que mais comumente interferem na relação de crianças autistas com a família e a escola; e de adolescentes e adultos dotados da mesma síndrome, no seio social. Em crianças, tais padrões são acrescentados por hiperatividade, desatenção, agressividade e atitudes de automutilação. Disponibilizar momentos sociais é fundamental para desenvolver, desde cedo, percepções e formas de interagir. No Autismo Infantil, é dispensável afirmar quão importante é esta conduta! Aniversários, passeios em ambientes sociais, confraternizações, brincar em espaços com outras crianças, escolarização precoce, participação em eventos familiares e em clubes, explorar momentos de compartilhamento e cooperação e estar, enfim, sempre predisposto a sair de casa são situações das mais diversas para estimular o cérebro de seu filho autista. Muitas vezes, buscamos tecnologias, meios vultosos, experiências mirabolantes…mas nada é tão importante quanto a colocá-lo em situações sociais (BRITES; VALIATI, 2016). 1.4 A comunicação No Espectro Autista, sempre podem ser observados prejuízos na área da comunicação e linguagem, embora essas manifestações possam ser muito distintas, dependendo do quadro de que se trata, dentro do contínuo do espectro. Esses prejuízos também podem se manifestar de forma distinta entre os transtornos classificados nesta categoria e até mesmo entre indivíduos com o mesmo transtorno (BELISÁRIO FILHO; CUNHA, 2010). Os prejuízos na comunicação e na linguagem podem ser manifestados como mutismo, atraso na aquisição, ecolalia, inversão pronominal, simplificação sintática, rigidez semântica, peculiaridades prosódicas, preferência por funções imperativas, literalidade na interpretação, entre outras. Assim sendo, entre os alunos com esse espectro que são recebidos em nossas escolas, podemos encontrar crianças com nenhuma comunicação verbal e não verbal, com verbalização de palavras isoladas, com linguagem estereotipada, fazendo uso da repetição de frases e da entonação ouvida de outras pessoas ou de personagens, com linguagem correta do ponto de Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 16 vista sintático, mas com pautas estereotipadas e pouco contextualizadas, dificuldades de interpretação semântica, entre outras. Baseando nas descrições de Pichon-Rivière (1997), teremos como alterações das funções comunicativas: � ausência de comunicação; � realização de atividades de pedir com uso instrumental de pessoas e não de signos. Exemplo: pede levando a mão de outra pessoa ao objeto desejado, mas não usa gestos ou palavras para expressar seus desejos; � realização de atividades de pedir através de palavras, símbolos ou gestos aprendidos em programas de comunicação, para obter mudanças no mundo físico. Ausência de comunicação com função ostensiva ou declarativa; � emprego de condutas comunicativas de declarar que não só buscam alterações no mundo físico; � há escassez de declarações capazes de qualificar subjetivamente a experiência autorreferida, e a comunicação tende a ser pouco recíproca e pouco empática. No campo da linguagem receptiva: � ignora a linguagem, não responde a ordens, chamadas ou indicações linguísticas dirigidas a ela; � em algum momento do desenvolvimento, provoca a falsa suspeita de surdez; � associa os enunciados verbais às condutas próprias, compreende ordens simples, associando sons contingências ambientais ou comportamentais. Não implica a assimilação dos enunciados a um código ou a interpretação deles a um sistema semântico-conceitual; � compreende os enunciados, analisando-os ao menos parcialmente. A compreensão é literal e pouco flexível. Os processos de inferência, coerência e coesão da compreensão do discurso são muito limitados. Tendência a atender às interações verbais, quando dirigidas a ela própria, de forma muito específica e diretiva; � compreende planos discursivos da linguagem, embora haja alterações sutis no processo de diferenciação entre o significado intencional e o literal e de apreensão de variáveis interativas e contextuais. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 17 Do ponto de vista da linguagem expressiva: � o mutismo pode ser total ou funcional. Mutismo funcional é a presença de verbalizações que não têm a função de comunicar; � linguagem predominantemente ecolálica, sem criação formal de sintagmas ou orações; � linguagem oracional, não predominantemente ecolálica, que implica algum conhecimento de regras linguísticas. Não chega a configurar um discurso ou atividade de conversação. Pode haver muitas emissões irrelevantes; � linguagem discursiva. As pessoas neste nível podem ter consciência de sua dificuldade para encontrar temas de conversação e para transmitir informação significativa. Podem começar e terminar conversações de forma abrupta e dizer coisas pouco apropriadas ou relevantes socialmente. Nem sempre é fácil identificar os aspectos da comunicação e linguagem desenvolvidos (ou ausência delas) pelos alunos portadores de TEA, e também porque eles não são estáticos. Belisário Filho e Cunha (2010) contam que tiveram a oportunidade de observar crianças que, ao ingressar na escola, apresentavam ausência de linguagem e realizavam atividades de pedir através do uso instrumental das pessoas e que, por meio da experiência no ambiente social da escola e da mediação dos professores e colegas, passaram a utilizar verbalizações nas atividades de pedir, abandonando o uso instrumental de outra pessoa. Para atuar com essas crianças na escola, é importante não perder de vista que a ausência ou as peculiaridades da comunicação e linguagem não são aspectos isolados ou mesmo causais do Transtorno. O desenvolvimento da competência de fazer uso da comunicação e linguagem é resultante de funções cognitivas desenvolvidas por meio das experiências afetivas, sociais e da relação com o ambiente e da repercussão destas na circulação cerebral. Os prejuízos na Função Executiva e Cognição Social, identificados nas pessoas que apresentam TEA, tornam o campo da comunicação, em função da flexibilidade mental exigida no desenvolvimento desta e no seu uso Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 18 funcional no meio social, muito mais desafiador e menos acessível para elas do que para as demais pessoas. Figura 4: Sou autista, tenho minha voz! Fonte: http://abraca.autismobrasil.org/sou-autista-tenho-a-minha-voz/ Assim sendo, estabelecer estratégias na escola ou no Atendimento Educacional Especializado neste campo das funções mentais requer que se leve em consideração os prejuízos no campo da flexibilidade mental, as dificuldades de realizar a antecipação e de imprimir sentido àquilo que não se repete, portanto, de atribuir sentidoe produzir algo com sentido novo. Em outras palavras, é preciso compreender que as dificuldades de comunicação e linguagem se devem, neste caso, ao fato de que o campo da comunicação humana e do discurso é por essência mutante e permanentemente produtor de novos sentidos e de sentidos metafóricos. Somado a isso, este campo exige a apreensão de sentidos e intenções inferidos a partir de atitudes e expressões faciais e corporais nos outros indivíduos, além da atenção compartilhada, competências difíceis para pessoas com TGD, em decorrência dos prejuízos na Teoria da Mente (BELISÁRIO FILHO; CUNHA, 2010). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 19 UNIDADE 2 – O TRABALHO NA SALA DE AULA PARA O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM, DA INTERAÇÃO E DO COMPORTAMENTO NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Que é desafiante para professores e instituições escolares trabalhar com portadores de TEA na escola e numa perspectiva inclusiva, intervindo na diversidade, atendendo pedagogicamente a essa população, sejam crianças ou adolescentes não temos dúvida (MARCONATO ZYCH, 2009). Esse desafio passa consequentemente pelo desenvolvimento de alternativas metodológicas, principalmente porque cada sujeito é singular em sua caminhada dentro do espectro autista. Figura 5: Interação Social – comunicação – comportamento. Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/335549/ Gomes (2007, p. 346) ressalta três aspectos que considera fundamentais no momento em que o professor elabora o planejamento do trabalho pedagógico, que compreendem: “a) a forma como as pessoas autistas respondem a estímulos do ambiente; b) a maneira como pensam; e, c) os comportamentos típicos que apresentam”. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 20 Quanto aos estímulos do ambiente, a autora acima, utilizando-se de subsídios de vários estudiosos, como Lovaas, Frith, Sprandlin e Brady, entre outros, cita algumas destas características, como: � o controle restrito de estímulos – pessoas com autismo diante de uma figura complexa, com vários detalhes, tendem a perceber apenas uma parte do todo; ou ainda, diante de um estímulo composto, como por exemplo, visual e auditivo, um destes estímulos é aparentemente ignorado; � dificuldade em estabelecer relação entre as partes e o todo – autistas tendem a prestar atenção em detalhes, não conseguindo perceber que esta parte está inserida dentro de um contexto. Essa dificuldade também aparece na integração de uma informação ao todo; necessidade de reforçadores consistentes entre estímulos, respostas e consequências. Apenas reforçadores sociais, como elogios e estímulos verbais, não são suficientes para a aquisição e manutenção de habilidades. Assim sendo, sua ação positiva pode ser retribuída e/ou reforçada com um objeto de seu agrado; � comportamentos atípicos diante de alguns estímulos do ambiente, devido à dificuldade na integração das sensações captadas pelos órgãos dos sentidos – apresentam pouca ou muita sensibilidade diante de estímulos sonoros, visuais, tácteis ou olfativos. Aparentemente demonstram não sentir dor. Tem reações de simples incômodo ou até mesmo de irritação e agressividade diante de certos sons. Exploram o ambiente de forma inadequada, como por exemplo lambendo objetos ou cheirando pessoas. Respondem de forma idiossincrática frente a diferentes cores, podendo este se constituir em um recurso a ser explorado pedagogicamente para melhorar a leitura de alunos com autismo. Em relação ao modo como as pessoas autistas elaboram o pensamento, Gomes (2007) explicita que estudos demonstram que, apesar de 80% dos autistas apresentarem déficit intelectual dentro dos níveis moderado ou severo, o que os define é um ‘estilo cognitivo diferente’, que se constitui na verdade na forma de pensar própria do transtorno. Gomes (2007) ainda destaca outros aspectos: o pensar de forma rígida e com pouca flexibilidade no raciocínio, perceptível na dificuldade que a pessoa autista Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 21 apresenta em criar coisas novas, em raciocinar de forma inversa, no dar sentido literal às palavras, compreender a linguagem falada e generalizar a aprendizagem. A imaginação e a brincadeira simbólica, fundamentais para a apreensão de conceitos simbólicos acadêmicos, são restritos e até mesmo ausentes. Dificilmente veremos uma criança autista brincando de faz-de-conta. Será mais fácil, vê-la por horas a fio, explorando, por exemplo, a textura de um objeto, empilhando ou alinhando em filas. O pensamento do autista é concreto e visual. Demonstra dificuldade em compreender estímulos auditivos e conceitos abstratos sem representação visual associada. Todas essas informações são importantes para o professor, principalmente no momento de elaborar seu plano de aula e no contexto específico ele pode e deve utilizar, quando necessário, de objetividade na linguagem. Outra dificuldade é prever reações ou respostas de outras pessoas, ou atribuir crenças ou ideias a comportamentos observados. Esta dificuldade se manifesta na impossibilidade de se colocar no lugar do outro, compreendendo fatos a partir desta perspectiva. Talvez por permear contextos relacionais importantes na vida da pessoa autista, a intervenção educacional é considerada a mais fulcral de todas. A ela cabe “salientar conteúdos e objetivos essenciais à modificação comportamental” nos diferentes ambientes em que a pessoa autista está inserida, tais como: escola, casa, família e sociedade (MARCONATO; ZYCH, 2009). Quando trabalhamos com um aluno com TEA, um dos objetivos é justamente mudar comportamentos ou ensinar habilidades difíceis, então é essencial que a recompensa por este esforço seja substancial o suficiente para ele aumentar esse esforço. Em muitos casos, mesmo que haja algo intrinsecamente motivador sobre uma tarefa ou atividade, é necessário para moldar o comportamento, fazer pequenas mudanças usando estratégias de reforço – crescimento social, como elogios ou nota alta, bem como reforço concreto como uma atividade favorita brinquedo, ou alimento. A recompensa para aprender uma nova habilidade ou diminuir um comportamento mal-adaptativo precisa ter mais força do que o reforço para não desenvolver o comportamento de substituição. Sistemas de economia podem ser extremamente eficazes e o reforço pode ficar desvanecido ao longo do tempo e da frequência decrescente ou frente a outras recompensas sociais. O Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 22 respeito também faz-se de suma importância. A ele deve ser dado o direito de escolhas, afinal ele tempreferências e desejos. Em se tratando da comunicação, para crianças sem fala, o fonoaudiólogo deve contribuir para a formulação de planos e suportes para modos alternativos de comunicação, como a linguagem gestual, PEC ou dispositivos aumentativos. Para os alunos com a linguagem emergente, a construção da linguagem receptiva e expressiva é fundamental e permanente, e para aqueles com altas habilidades verbais, o trabalho sobre os aspectos mais sutis de conversação da pragmática e reciprocidade deverá ser o foco. Além disso, muitos fonoaudiólogos podem ser fundamentais para ajudar a conduzir os componentes social, bem como a linguagem de interação, uma vez que estas são muitas vezes tão entrelaçadas. No entanto, é essencial observar que o desenvolvimento das habilidades de comunicação em um aluno com autismo não pode ser da responsabilidade exclusiva do fonoaudiólogo. A comunicação sobre desejos e necessidades, bem como as interações sociais, ocorrem durante todo o dia e em diferentes cenários, e uma abordagem de equipe para este desenvolvimento comunicativo é absolutamente essencial para todos os alunos do espectro do autismo. Como numa via de mão dupla, teremos além dos alunos predominantemente auditivos, outros que tendem a ser alunos visuais, o que significa que eles entendem e guardam o que eles veem de forma mais eficaz do que o que eles ouvem. Face às dificuldades com a linguagem e com a atenção deslocada, suportes visuais são frequentemente úteis, pois fornecem o tempo de processamento extra proporcionado por uma apresentação estática em vez da natureza fugaz da comunicação falada. 2.1 Dicas para o trabalho da comunicação receptiva Lembram quando falamos da linguagem receptiva, que é a habilidade para entender o que dito ou escrito? Então, seguem algumas dicas para o trabalho com esse tipo de comunicação: � verifique se você tem a atenção do aluno antes de dar uma instrução ou fazer uma pergunta; Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 23 � considere as dificuldades de processamento do estudante e o seu tempo (por exemplo, começar uma instrução com o nome do aluno para chamar sua atenção, isso aumenta a probabilidade que ele possa estar presente no momento em que você der a instrução); � evite instruções verbais complexas, informação e discussão. Mantenha instruções curtas ou dê informações em blocos; � dê instruções positivas para permitir o processamento da linguagem incompleta; � minimize o uso de ‘não’ e ‘pare’. Exemplo: “Por favor, fique na calçada” pode ter efeito muito mais positivo do que “Não pise na grama” para um aluno que não pode ouvir o “não” ou para quem não tem certeza onde é o lugar aceitável para andar; � permita-se “o tempo de espera” (estar preparado para esperar por uma resposta, se é uma ação ou resposta). Evite repetir imediatamente uma instrução ou pergunta; � modele e formule respostas da forma correta para construir a compreensão (por exemplo, para ensinar o significado de ‘pare’: executar nas mãos segurando um balanço com o aluno, dizer ‘pare’. Pare-o com as suas mãos e as do aluno; repetir até que você possa diminuir a ação das suas mãos e, em seguida, desaparecer da modelagem); � suplemente as informações verbais com fotos, programações visuais, gestos, exemplos visual, instruções escritas; � se você está dando pedaços longos de informação, forneça suporte visual, esboços, ou informações que sejam importantes para o estudante; � não repreenda um aluno, uma vez que isso serve apenas para destacar suas dificuldades (AUTISMO & REALIDADE, 2012). 2.2 Dicas para trabalhar a linguagem expressiva Linguagem expressiva é aquela falada, tão boa como qualquer resposta de comunicação como uma troca de figuras, linguagem escrita, entre outras. Vamos a sugestões para o seu trabalho em sala de aula: Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 24 � tenha a responsabilidade e o comprometimento de encontrar o meio para acessar a necessidade de comunicação do aluno, afinal, muitos indivíduos com TEA têm problemas de recuperação da palavra: mesmo sabendo a resposta, eles não têm as palavras. Aborde isso oferecendo suporte visual, cartões de sugestão, as opções de escolha múltipla, entre outros; � use suportes visuais para lembretes ou dar escolhas. Exemplo: se você está ensinando uma criança a pedir ajuda, tenha uma placa de sinalização disponível em todos os momentos, e solicite o seu uso sempre no momento dele pedir ajuda. Isso pode ser utilizado pelo aluno em vez da linguagem falada, ou como um suporte para o desenvolvimento e o ensino das linguagens quando pode ser apropriado usar essa frase; � ensine e use scripts-palavras, imagens, entre outros, para as necessidades de comunicação ou troca (por exemplo, “eu gosto ...” “Do que você gosta? “Eu gosto ...”); � use cartões de sugestão que devem desaparecer ao longo do tempo quando a compreensão do aluno sobre o uso da frase ou o padrão de troca se desenvolve; � ensine o aluno a se comunicar ou dizer 'não sei', de modo a reduzir a ansiedade associada ao não ser capaz de responder a uma pergunta. Depois ensine ao aluno como para pedir informações adicionais (Quem? O quê? Onde? Quando?, entre outro); � adicione suporte visual para o meio ambiente como um rótulo necessário, por exemplo 'DENTRO' e 'FORA' nas caixas. Ensine os alunos a procurar e usar suportes visuais que já existem no ambiente: calendários, sinais, números de porta, cartazes, nomes, rótulos de gaveta, o monitor de uma caixa registradora, linguagem corporal; � use uma placa de comunicação, PEC, imagens ou linguagem de sinais para apoiar ou oferecer opções para os estudantes com baixa saída de comunicação verbal; � forneça ao aluno um dispositivo de comunicação aumentativa ou alternativa e ensine a usá-lo no contexto de seu relacionamento. Esses dispositivos podem variar consideravelmente em termos de sofisticação, e alguns deles oferecem Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 25 escrito ou saída de voz. Peça orientação ao pessoal de educação especial do aluno ou ao apoio técnico para a programação específica em relação às necessidades dele em interagir com você e ajudá-lo na guia de opções de comunicação que serão úteis; � forneça lembretes verbais ou modelos com cuidado, sabendo que estes podem às vezes causar confusão e dificuldades com o pronome, devido à perspectiva que este tomar (por exemplo, do ponto de vista da criança, quando um professor diz: “Eu quero um cookie” isso significa que o professor quer um biscoito ou levando-o a dizer 'eu quero um cookie'?); � esteja ciente da ecolalia, em que um aluno repete frases que ele ouviu antes. Às vezes isso é aparentemente autoestimulação comportamento, mas muitos indivíduos com autismo usam também a ecolalia funcional ao comentar, informar ou pedir; � procure sempre uma intenção comunicativa com o aluno (por exemplo, seuma criança muitas vezes inverte os pronomes ou emprega ecolalia funcional, então “A tua cabeça dói?” Pode ser a sua maneira de lhe dizer que sua cabeça dói); � para um aluno que está inclinado a usar ecolalia, tente modelar a linguagem (com suportes visuais e narrativas sociais), utilizando formas de linguagem; do que seria adequado quando o aluno usá-lo; para que reversões de pronome não ocorram (ou seja, ao criar um visual para uma criança com dores de cabeça frequentes, pode-se usar uma imagem de uma pessoa segurando sua cabeça e usar as palavras “Minha cabeça dói”); � uma vez que as dificuldades podem resultar em ansiedade permanente e estresse, é importante fornecer um saída para o conteúdo emocional, ou seja, o modo como você comunica e como ele se comunica (seus pensamentos, emoções, sentimentos) devem ser explicados. Para um aluno que não consegue expressar isso verbalmente, muitas vezes colocando um rótulo para uma emoção pode ajudar na modulação da intensidade, uma vez que ele se acalma ao ver que você reconhece o que ele está tentando transmitir. (Por exemplo, “Eu posso ver que você está com raiva”). Use desenhos animados e suportes visuais para construir a fluência emocional; Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 26 � também é importante ensinar ao aluno autodefesa e habilidades de negociação. Enfim, muitos alunos com TEA têm um tópico favorito ou área especial de interesse que podem interferir com o trabalho escolar ou interação social. Estratégias podem ser úteis na formação de expectativas do aluno de forma a minimizar o impacto dessa obsessão: dar oportunidades para discutir o tema, apresentar oportunidades programadas em uma programação visual, estabelecer limites (quando é, ou não, adequado discutir esse assunto), usar um Cronômetro para definir uma duração, estratégias de apoio para a expansão a outros temas, e/ou estimular o aluno a falar sobre outros assuntos ou a ausência do tema (AUTISMO & REALIDADE, 2012). 2.3 Estratégias para desenvolver e aumentar a interação social Uma parte importante do plano educacional é apoiar o aumento da interação social e outras competências afins, pois estes componentes são vitais para o progresso geral. O desejo de interagir com os outros é muitas vezes desejado nos indivíduos com TEA, mas os processos que permitem a interação social para ocorrer pode ser tão grande que eles não sabem por onde começar. É importante que você, professor, tome cuidado para não interpretar déficits sociais como falta de desejo ou esquiva da interação social. Tenha em mente as questões de tempo e da atenção, da integração sensorial e da comunicação e atente-se para reconhecer que a construção dessas habilidades sociais são questões que precisam ser abordadas. Enfim, o desenvolvimento social engloba uma gama de habilidades que podem ser construídas em camadas e para melhorar a competência social (competências e áreas de maior interesse) e interação. É fundamental reconhecer que os desafios sociais no autismo são bidirecionais. Eles podem se manifestar como déficits (como a falta de iniciação social) ou como excessos (como conversa unilateral de um aluno altamente verbal com autismo de alto funcionamento). Em ambos os casos, a necessidade de apoio e ensino é real. Como em qualquer comportamento social adequado exige a compreensão social. Alguns Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 27 indivíduos do espectro parecem altamente sociais, iniciando a interação social, mas sem reciprocidade por ser unilateral e autoritária, já que eles são, estão conscientes de sua incapacidade de se conformar e de ser aceito pelos outros. Os indivíduos com autismo de alta funcionalidade sofrem frequentemente a dor da rejeição e da solidão (AUTISMO & REALIDADE, 2012). No ensino regular, encontramos o local e a oportunidade de situações para colocar estratégias de interação social em prática, principalmente por envolver outras crianças. Incentivar a criança a fazer amizades, a partilhar, sempre elogiando- a seria uma dessas estratégias, assim como desenvolver atividades que envolvam jogos de mesa e trabalhos em pequenos grupos. Jogos com regras específicas nos quais cada um tem sua vez de falar, de aguardar, de escutar, de cumprir regras, de sentar-se em silêncio também contribuem para desenvolver interação social. Como a criança com TEA isola-se com muita frequência, cabe ao adulto desviá-la dessa tendência. Assim, de forma agradável e carinhosa, o adulto deve insistir que a criança participe em atividades, sobretudo da sua preferência. Este procedimento deve ser tomado com regularidade e firmeza da parte do educador. Essas crianças também têm de ser ensinadas a chamar a atenção. Assim, o educador deve dirigir-se à criança e conquistar a sua atenção. Essa atitude funcionará como modelo comportamental daquilo que a criança deve fazer. Também devemos ficar atentos para a questão interação social/comunicação. O limite entre estes dois conceitos é difícil de definir, uma vez que um implica o outro, sendo indissociáveis. Freire (2012) lembra que as dificuldades manifestadas na comunicação, sobretudo na não verbal são facilmente confundidas com a interação social, uma vez que há um conjunto de sinais não verbais que vão condicionar a interação, determinando o seu sucesso ou não. Também a comunicação verbal irá condicionar a interação, bem como a compreensão que a criança faz da realidade que a rodeia. O mesmo se passa com as estratégias adotadas pelo educador em contexto de sala de aula. Estas irão ter um objetivo comum que serão estimular as Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 28 competências comunicativas e interativas da criança com TEA, uma vez que ao promover as primeiras irá ter mais sucesso nas seguintes e vice-versa. Assim, não se torna descabida a proposta de alteração da DSM-5, ao fundir comunicação e interação social no mesmo critério. 2.4 Estratégias para um comportamento social adequado No dicionário Aurélio (FERREIRA, 2005), esquisitice, um substantivo feminino se apresenta como qualidade, maneira, atitude, modo de pensar de quem é esquisito; extravagância, excentricidade, singularidade. Transportando esse conceito para os indivíduos do espectro do autismo, podemos nomear os comportamentos desses como esquisitos, os quais podem variar desde movimentos físicos repetitivos com uma provável base sensorial (braço ou mão batendo e outras autoestimulação de ações) até a agressão e comportamentos destrutivos que muitas vezes são o resultado da frustração ou mesmo dor. Obsessões, inflexibilidade à adesão a rotinas não funcionais, a adesão a regras, a padrões de pensamento literal, e à resistência à mudança são exemplos de manifestações comportamentais comuns das diferenças neurológicas, bem como as associadas com a ansiedade, a frustração e a desorganização que estão frequentemente presentesem um indivíduo com a vida do autismo. A chave para aceitarmos um indivíduo com esses comportamentos atípicos é reconhecer que não são escolhas conscientes, mas sintomas neurológicos da doença. Em vez de só pensar na eliminação e remediação de um comportamento, muitas vezes é útil considerar as estratégias de apoio para ajudar o aluno a lidar, a gerenciar ou substituir esses comportamentos – ou as sensações que os dirigem. Também é importante lembrar que alguns 'comportamentos' no autismo são seu modelo e não dá para querer mudar abruptamente esse modelo (AUTISMO & REALIDADE, 2012). Mais uma vez o elogio e a atenção podem contribuir para mudar esses comportamentos. Evidentemente que apoiar e reforçá-los não é o ideal, assim como é difícil ficar observando uma criança fazendo birra e não ter em mente o que pode acalmá-la. O melhor a fazer é esperar esse momento passar e caso esteja em sala Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 29 de aula explicar para os coleguinhas o que está acontecendo e, passada a crise, mostrar-lhe outras maneiras de se comportar é mais adequado do que reprimi-lo. Desafiador sim! Impossível decifrar o que desencadeou também. Mas pensemos que não é intencional e sermos calmos, pacientes e positivos ajuda sobremaneira para que o aluno sinta-se aceito e confortável na escola. Reconhecer que essas crises são um modo do aluno se comunicar e estabelecer um plano proativo para os momentos das crises e ter um plano individual para esse aluno também ameniza os momento tensos. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 30 UNIDADE 3 – PROPOSTAS PEDAGÓGICAS Nesta unidade apresentaremos atividades complementares e alternativas que podem ser benéficas para portadores de TEA. Evidentemente que cada nível ou grau pode ter suas limitações. De todo modo, são propostas que vem contribuir para o desenvolvimento e a interação social dessas pessoas. A Educação Física, por exemplo, é uma das ferramentas que pode auxiliar no desenvolvimento de habilidades na criança com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), em especial, no que cabe às aptidões sociais e motoras. Ela contribui com a melhora do condicionamento físico e saúde de seus praticantes. Inclusive, essa é uma das disciplinas que integra a grade curricular de grande parte das escolas de ensino do País. Equoterapia que já exploramos em outro módulo, é uma forma alternativa de atendimento terapêutico na qual se utiliza o cavalo como meio de reabilitação. É indicada para pessoas com disfunções do movimento, que incluem paralisia cerebral, esclerose múltipla e outras afecções que afetam o controle postural e do equilíbrio. A brinquedoteca é um espaço criado para que as crianças possam brincar bastante. Brincar é a atividade educacional mais completa, pois desenvolve os aspectos sociais, cognitivos, motores e afetivos. Para uma criança autista a brinquedoteca proporciona oportunidade de aprender de maneira lúdica, permitindo assim que desenvolva suas potencialidades, brincando. O trabalho com a expressão corporal auxilia a criança a perceber-se como pessoa e a estabelecer relações, sejam elas espaciais, temporais ou sociais. Esse trabalho é importante principalmente quando a criança com TEA apresenta de forma acentuada dificuldades ligadas à área sensorial e sabemos que nosso corpo é fonte riquíssima de aprendizagem. O acompanhante terapêutico, ou seja, o trabalho do acompanhante também acaba sendo uma prática alternativa de acompanhar e auxiliar a criança e o adolescente com necessidades especiais. É feito por profissionais especializados. As atividades são realizadas nas residências ou em passeios para pessoas impossibilitadas de se relacionar e movimentar-se pelos espaços sociais ou com Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 31 autistas menos comprometidos, ensinar os comportamentos sociais na prática – fazer compras, pegar ônibus, entre outros. A arte é outra forma importante de expressão. A expressão plástica é mais uma fonte de comunicação. As crianças autistas podem explorar tintas, argilas, massas e outros materiais que proporcionam oportunidade para desenvolvimento da criatividade, do senso de estética, da coordenação viso-motor, entre outras habilidades. 3.1 O uso de atividades físicas Que os exercícios físicos fazem bem à saúde, é fato reconhecido pela literatura científica, tanto os efeitos na saúde física, comportamental quanto cognitiva. A natação especial é realizada com pessoas com deficiência que precisam de atendimento individualizado. A água é utilizada como meio terapêutico, uma vez que diminui o peso corporal, o que facilita a realização de exercícios específicos. Por causa da temperatura aquecida, também atua como relaxante. Participando da natação especial, os alunos têm condições de melhorar a aptidão física, a coordenação motora, a capacidade cardiorrespiratória e a tonicidade muscular. A Hidroterapia, terapia realizada dentro da água, é indicada para crianças que apresentam deficiências físicas e motoras. Diferencia-se da natação especial, por não haver o compromisso com o ensino da natação, e sim com a melhoria de dificuldades específicas. Segundo Toledo (2017), as pessoas com TEA têm muita afinidade em atividades que são desenvolvidas na água, seja em piscina, na praia e/ou em lagos. Algumas teorias levam a crer que dentro d’água as pessoas com hipersensibilidade tátil e auditiva têm esses efeitos diminuídos ou cessados momentaneamente. Esse estímulo sensorial é de certa forma calmante e algumas pessoas com TEA se sentem bem confortáveis dentro d’água e/ou submersas. Um estudo que avaliou crianças com autismo na natação e outros exercícios aquáticos (PAN, 2010), verificou que as atividades contribuíram para que alcançassem um aumento significativo nos níveis de aptidão – perceptíveis por Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 32 mudanças no equilíbrio, flexibilidade, resistência e força. Observou-se ainda uma redução do comportamento repetitivo em crianças. Por meio de programas de exercícios, é possível observar um melhor desempenho social e redução de episódios de agressão, bem como, comportamentos estereotipados. Isso porque o exercício estimula o desenvolvimento de novas células cerebrais dentro do hipocampo – uma parte do cérebro que influencia a empatia, controle de impulsos e atenção. Há ainda aspectos sociais a serem considerados para aqueles autistas que não limitam interações sociais. Aos que o fazem, há alternativa de praticar atividades individuais. Exercícios liberam hormônios no organismo que geramfelicidade. As atividades devem ser adequadas aos estímulos sensoriais do autista, com o cuidado de respeitar limitações de movimentos que venham a existir. Por isso, é fundamental a integração e acompanhamento de um educador físico e demais membros da equipe multidisciplinar. 3.2 A Ludoterapia Ludoterapia pode ser definida como uma relação interpessoal dinâmica entre a criança e um terapeuta treinado que providencia a esta um conjunto variado de brinquedos e uma relação terapêutica segura de forma que possa expressar e explorar plenamente o seu self (sentimentos, pensamentos, experiências, comportamentos) através do seu meio natural de comunicação: o brincar (LANDRETH, 2002, p. 16 apud HOMEM, 2009, p. 21). No caso específico de crianças autistas, a Ludoterapia é um recurso ou um processo auxiliar e facilitador às demais terapias, especialmente para crianças autistas, devido algumas dessas não possuírem uma comunicação verbal adequada. Alguns autistas não possuem uma comunicação verbal suficiente que lhes permitam sustentar uma sessão de terapia e, aliado ao fato de que têm uma intensa predileção pela manipulação de objetos, faz com que a Ludoterapia seja um recurso poderoso, para um melhor conhecimento da criança autista (BRASIL, 2000; MARTELLI et al., 2000). Por meio do brincar, o autista expressa seu entendimento do mundo e, por não possuir as repressões que geralmente temos, libera todo seu sentimento ao manipular objetos. Os autistas falam de si por meio dos objetos com os quais Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 33 interage. Porém, o ato de brincar pressupõe regra e ordem e a repetição que existe na brincadeira nada mais é que a necessidade de ordem. Por meio dela, o autista pode sempre se reencontrar, não apenas com os objetos e as situações das brincadeiras, como também consigo próprio, reafirmando sua pessoa, fortalecendo- se. O brincar é uma tarefa em que o autista se impõe e precisa ter algum grau de dificuldade para ser atraente para ele. É um trabalho que exige esforço e que tem um objetivo final a ser atingido. Por meio do brincar, revelam-se as estruturas mentais do autista, e é por isso que é sabido que quem sabe brincar, sabe certamente pensar. Ao terapeuta cabe a interpretação da situação. A troca dessas informações com os demais terapeutas do indivíduo autista em muito colaborará para um melhor entendimento de como ele percebe a si próprio e o meio à sua volta (BRASIL, 2000; MARTELLI et al., 2000). O espaço onde decorrem as seções de Ludoterapia deve obedecer às seguintes características: � espaço com pouco mobília e sem decoração supérflua; � paredes e chão de material facilmente lavável e resistente; � paredes acústicas, ou seja, que isolem os ruídos vindos de fora do ambiente; � espaço claro suficientemente grande para permitir a movimentação da criança, mas não exageradamente, pois pode conduzir a uma dispersão e dificuldade do terapeuta em acompanhá-la (BRANCO, 2001). Axline (1972 apud SILVA; BARROSO, 2017) afirma que os materiais usados na Ludoterapia devem ser arrumados e guardados em lugares à vista e de fácil acesso às crianças, de maneira que elas possam ter a liberdade de optar por aquele que mais querem. Dentre os materiais, devemos ter representantes da família; panela, pratos, copos, talheres; soldados, índios, cowboys, bonecas e outros materiais variados como pincel, cola, papel, tesoura, carrinhos, lápis colorido, mobílias de casinha, família de bonecos, joguinhos para diversas faixas etárias, mesinha com cadeiras. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 34 3.3 A Musicoterapia A Musicoterapia é uma modalidade terapêutica que utiliza a música, enquanto som e movimento, para (re)estabelecer um canal de comunicação e, dessa forma, possibilitar a prevenção, tratamento e/ou reabilitação de problemas e necessidades físicas, mentais, emocionais, cognitivas e sociais (BRASIL, 2000). A música na Musicoterapia não é o objetivo final, mas sim o meio pelo qual paciente e terapeuta se comunicam e interagem. Não é necessário que o paciente tenha algum tipo de conhecimento musical teórico ou prático prévio, pois o elemento essencial na Musicoterapia é a expressão musical do paciente. Não há, portanto, restrição de idade, de condição (psíquica, motora, social, entre outras) ou de conhecimento musical. O processo terapêutico é construído pelo fazer musical do paciente e do terapeuta, e engloba uma série de atividades, tais como cantar, tocar um instrumento, improvisar, compor, ouvir música e sons diversos, movimentar-se a partir de um estímulo sonoro-musical, entre outros. Durante esse processo, os problemas e as necessidades são acessados diretamente por meio da atividade musical e/ou por meio da relação interpessoal que se desenvolve entre o musicoterapeuta e o paciente durante a atividade musical (BRASIL, 2000). Em um relato de caso sobre ações pedagógicas para inclusão de alunos com TEA em uma escola de música, Louro (2014) cita várias pesquisas na área tais como: Barros (2010) que relata um caso de intervenção musical em uma criança com TEA numa escola regular; Wigram (2006 apud LOURO 2014), Padilha (2008) e Kafies et al. (2008) que descrevem trabalhos musicoterapêuticos com grupos de pessoas com esse quadro diagnóstico; Mottron et al. (2000 apud LOURO 2014) que comparou as habilidades auditivas musicais de um grupo de pessoas dentro do espectro autista com um grupo controle de pessoas dentro do desenvolvimento considerado normal; Lai (2012 apud LOURO 2014) que mapeou diferenças neurológicas entre a percepção da fala e dos sons em crianças com TEA; Dias (2012) que relata um caso bem-sucedido de inclusão musical de aluno com TEA grau leve; Machado (2007) que propõe uma intervenção musical para desenvolvimento da comunicação de um grupo de crianças com autismo. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 35 Devido à propensão musical presente em alguns casos, a música é utilizada de forma enfática no tratamento dessas pessoas. Segundo Padilha (2008, p. 104), “a música é de grande utilidade para crianças com autismo, pois ajuda a serem mais espontâneas quanto à comunicação, diminuindo o isolamento e a ecolalia”. Além disso, a música colabora na diminuição das dificuldades sensoriais e na integração social quando é utilizada em atividades em grupos (MILLER; ELLER- MILLER, 1989 apud LOURO 2014) e devido sua propriedade não verbal, é uma ferramenta eficaz para o desenvolvimento da linguagem (WIGRAM; GOLD, 2006 apud LOURO 2014). Para além das questões afetivas, a música também colabora em questões cognitivas, uma vez que o cérebro representa a música a partir de códigos mentais ou neurais, assim, ao se elaborar situações de educação musical, o discurso musical terá de ser desmontado, examinado e novamente reconstruído parte por parte”, de forma gradativa e crescente de dificuldade, assim como
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