Buscar

Curso_Online_de_Filosofia_Aulas_1_a_100

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 370 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 370 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 370 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
 
Curso Online de Filosofia 
Olavo de Carvalho 
 
 
 
 
 
 
 
 
Caderno de Curso 
Volume I 
Aulas 1 a 100 
 
 
 
 
 
Mário Chainho 
 
2 
 
Índice 
 
Aula 1 …………….……………………………………………………………………………………………… pp. 11 
1. Os primeiros deveres dos alunos | 2. Duração do curso | 3. Amizade | 4. Exercício 
do Necrológio | 5. Inspiração dada pela pessoa de Sócrates | 6. Santo Agostinho e a 
confissão | 7. O método da confissão | 8. O obscurantismo moderno | 9. O 
compromisso assumido ao entrar no Curso Online de Filosofia | 10. A busca da 
confiabilidade máxima | 11. Leituras iniciais | 12. Conhecimento objectivo e 
autoconhecimento | 13. A delimitação do terreno da filosofia por Sócrates, Platão e 
Aristóteles | 14. A seriedade da busca filosófica | 15. A importância da capacidade 
expressiva | 16. A literatura e as funções da linguagem | 17. Gramática Latina | 18. 
Conhecimento e solidão 
 
Aula 2 ……………………..……………………………………………………………………………………….. pp. 16 
19. A nossa circunstância | 20. A importância do testemunho | 21. A absorção de 
elementos culturais | 22. A fidelidade à experiência e a literatura | 23. A verdade | 
24. Contacto com o filósofo | 25. Sensibilidade auditiva | 26. A profissão do génio | 
27. A lógica como mundo da possibilidade | 28. Exercício da aceitação total da 
realidade | 29. O símbolo e a escala de poder das personagens literárias | 30. 
Conhecimento e comunicação 
 
Aula 3 ……………………..……………………………………………………………………………………….. pp. 19 
31. O fundamentalista e a crença em palavras | 32. Voto de abstinência em matéria 
de opinião | 33. Exercício do Testemunho (Louis Lavelle) | 34. O entendimento na 
leitura 
 
Aula 4 ……………………..……………………………………………………………………………………….. pp. 21 
35. Continuação do Exercício do Testemunho | 36. Os novos inimigos da alma | 37. 
A instrumentalização do cristianismo pelo Estado | 38. O ódio ao conhecimento | 39. 
O diálogo em solidão | 40. Reportório de ignorância | 41. A qualidade da leitura de 
obras de ficção | 42. Exercícios de adestramento do imaginário 
 
Aula 5 ……………………..…………………………………………………………………………….………….. pp. 24 
43. A dialéctica do entendimento | 44. A lógica usada como camuflagem da 
experiência real | 45. A camuflagem na ciência moderna | 46. A validação da 
experiência comum | 47. Os universais abstractos | 48. O conteúdo dramático da 
tese filosófica | 49. A busca da unidade do conhecimento na unidade da 
autoconsciência | 50. As diferentes concepções da fé | 51. Exclusão e superação | 52. 
Evocação das experiências do filósofo | 53. Exercício da Presença no Universo 
 
Aula 6 – Especial curso “Introdução à filosofia de Eric Voegelin” ……………… pp. 28 
54. Principais influências de Eric Voegelin | 55. Percurso intelectual de Eric Voegelin 
| 56. Representação e modelos de ordem | 57. “Israel e a revelação” (Ordem e 
História I) | 58. “O mundo da polis”, “Platão e Aristóteles” (Ordem e História II & 
III) | 59. Cristianismo e modernidade (Ordem e História IV & V) | 60. Continuação 
do programa de estudos de Eric Voegelin 
 
3 
 
Aula 7 ……………………..…………………………………………………………………………….………….. pp. 32 
61. O mundo virtual | 62. A ampliação do mundo virtual | 63. A imitação como 
instrumento de aquisição de meios expressivos | 64. Escritores de língua portuguesa 
recomendados | 65. O movimento modernista brasileiro e a impotência da vivência 
“naturalista” | 66. O amor ao trabalho como dever de bondade | 67. Aprendizagem 
de línguas estrangeiras 
 
Aula 8 ……………………..…………………………………………………………………………….………….. pp. 35 
68. Os quatro blocos de adestramento prévios à prática filosófica | 69. Montagem da 
estrutura de um problema | 70. A técnica filosófica | 71. Conhecimento por presença 
| 72. A crítica literária 
 
Aula 9 ……………………..…………………………………………………………………………….………….. pp. 37 
73. O domínio dos instrumentos de pesquisa | 74. O estudo da filosofia por temas | 
75. A falsidade existencial da “suprema beatitude do entendimento” | 76. A confissão 
como antídoto contra a auto-divinização | 77. Recomendações bibliográficas sobre as 
motivações da acção humana | 78. História da Literatura Ocidental (Otto Maria 
Carpeaux) 
 
Aula 10 …………………..…………………………………………………………………………….………….. pp. 39 
79. O ocaso da classe letrada | 80. O carácter sistémico da inteligência | 81. Exercício 
de leitura lenta | 82. Exercícios da Presença do Ser (Louis Lavelle e Narciso Irala) | 
83. A transmissão cultural | 84. A experiência musical 
 
Aula 11 …………………..…………………………………………………………………………….………….. pp. 42 
85. Três tipos de educação | 86. Como refazer a educação 
 
Aula 12 …………………..………………………………………………………………………….….………….. pp. 44 
87. A influência do ambiente | 88. Dialéctica entre “poder” e “autoridade” | 89. O 
processo científico moderno: da perda do facto concreto ao subjectivismo moderno 
 
 Aula 13 …………………..…………………………………………………………………………….………….. pp. 47 
90. Lista de exercícios e práticas recomendadas | 91. Exercício da Biblioteca 
Imaginária | 92. Exercício do Amor ao Próximo 
 
Aula 14 …………………..…………………………………………………………………………...………..….. pp. 49 
93. A questão da verdade | 94. A lógica de Aristóteles e a investigação da verdade | 
95. A forma inteligível | 96. A ilusão iluminista 
 
Aula 15 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 52 
97. O raciocínio intuitivo (experiência com as cartas de baralho) 
 
Aula 16 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 54 
98. A alta cultura vista como um círculo de convivência humana | 99. O uso da 
memória 
 
 
4 
 
Aula 17 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 56 
100. Os vários sentidos da palavra “ciência” | 101. A função da alta cultura 
 
Aula 18 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 58 
102. Aristóteles pedagogo: categorias, predicáveis, causas, forma e matéria 
 
Aula 19 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 60 
103. O que é conhecer algo (Exercício Descritivo) | 104. Exercício de rastreamento 
da origem dos objectos 
 
Aula 20 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 62 
105. Leitura de um texto de filosofia (O Ponto de Partida da Metafísica) | 106. A 
impregnação na alta cultura 
 
Aula 21 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 65 
107. O papel e o funcionamento da imaginação | 108. A construção da pessoa moral 
 
Aula 22 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 68 
109. Mapeamento da situação mundial | 110. O poder, a ciência e os movimentos 
revolucionários | 111. As promessas bíblicas da ciência moderna 
 
Aula 23 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 71 
112. A cultura moderna como abolição da natureza e do homem (Bernanos) | 113. A 
voz do coração 
 
Aula 24 – Especial curso “Conceitos Fundamentais da Psicologia”..………….. pp. 73 
114. O que é a psique? | 115. O desenvolvimento da psique | 116. O método dialogal 
em psicologia | 117. A relação entre a psique e o “eu” | 118. O trauma da emergência 
da razão | 119. O horizonte de consciência | 120. Pensar, meditar e contemplar 
 
Aula 25 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 77 
121. Análise de texto | 122. Cepticismo e paralaxe cognitiva 
 
Aula 26 …………………..…………………………………………………………………………….………..… pp. 80 
123. A consciência, o mundo onírico e a especulação do possível | 124. A lógica 
intrínseca aos objectos | 125. A percepção do círculo de latência 
 
Aula 27 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 81 
126. A unidade do real | 127. A longa convivência com os problemas 
 
Aula 28 …………………..………………………………………………………………..………….………..…. pp. 83 
128. O exemplo da melhor educação medieval (a inveja dos anjos) 
 
Aula 29 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 85 
129. A cultura superior como processo de desaculturação 
 
 
5 
 
Aula 30 …………………..……………………………………………………………………..…….………..…. pp. 87 
130. A logica brasiliensis | 131. O progresso da ignorância | 132. O reconhecimento 
da verdade nas coisas mínimas 
 
Aula 31 …………………..…………………………………………………………………………….………..….pp. 88 
133. Os patamares da filosofia | 134. Distinção entre forma e matéria e distinção 
entre distinções | 135. Filosofia e abertura para a eternidade | 136. O instinto da 
verdade (Wilfred Bion) 
 
Aula 32 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 90 
137. Exercício de Relaxamento em Consciência | 138. A jaula existencialista | 139. Os 
esforços filosóficos de Olavo de Carvalho 
 
Aula 33 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 95 
140. A obra literária e o produto filosófico | 141. O estudo da filosofia | 142. 
Didascalicon e o senso da eternidade 
 
Aula 34 …………………..…………………………………………………………………………….………..…. pp. 98 
143. O papel central da consciência | 144. A responsabilidade colectiva dos alunos do 
Curso Online de Filosofia 
 
Aula 35 …………………..…………………………………………………………………………….……….. pp. 101 
145. O estudo como uma sucessão interminável de aberturas | 146. A formação da 
guerra cultural 
 
Aula 36 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 103 
147. Nova ordem mundial, tipos dominantes de personalidade e democracia 
totalitária | 148. Exercício de Classificação | 149. O falso debate da modernidade 
 
Aula 37 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 106 
150. O pólo como símbolo do vice-regente de Deus na Terra (Suhrawardi) | 151. A 
noção de forma em Aristóteles 
 
Aula 38 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 109 
152. O perdão como lei constitutiva do universo | 153. Superação (Nicolae 
Steinhardt) 
 
Aula 39 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 112 
154. A restauração da linguagem | 155. O elemento moral implicado na vida 
intelectual 
 
Aula 40 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 113 
156. As inversões revolucionárias em Karl Marx 
 
Aula 41 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 118 
157. A tradição primordial e a escola tradicionalista 
 
6 
 
Aula 42 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 121 
158. O papel interventor dos alunos do Curso Online de Filosofia na sociedade | 159. 
Os problemas do conhecimento científico | 160. O método confessional e o 
testemunho 
 
Aula 43 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 123 
161. A diferença entre ciência e tecnologia | 162. A proposta da filosofia 
 
Aula 44 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 126 
163. A acumulação de registos | 164. O peso da ignorância | 165. Exercício do 
Mapeamento da Ignorância 
 
Aula 45 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 128 
166. Características específicas da cultura brasileira 
 
Aula 46 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 130 
167. As bases do aprendizado | 168. O conhecimento como confissão 
 
Aula 47 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 132 
169. A estrutura da meditação | 170. Dois tipos de abstracção 
 
Aula 48 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 133 
171. Preceitos para a entrada na lógica clássica 
 
Aula 49 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 136 
172. Percepção e cepticismo | 173. O papel civilizacional da narrativa 
 
Aula 50 …………………..………………………………………………………………………….………..…. pp. 138 
174. A simples apreensão e as percepções adicionais | 175. A noção de juízo 
 
Aula 51 …………………..………………………………………………………………………….………..….. pp. 140 
176. Da simples apreensão de essências à formação de conceitos | 177. A formação de 
juízos e os problemas da substancialidade | 178. O senso de infinitude 
 
Aula 52 …………………..………………………………………………………………………….…….…..…. pp. 143 
179. Ciências do conhecimento | 180. As limitações da perspectiva lógica-
matemática | 181. Cosmologia antiga e ciência moderna | 182. Ciência e poder | 183. 
Res cogitans e res extensa | 184. Extensão e compreensão de um termo 
 
Aula 53 …………………..…………………………………………………………………….…….………..…. pp. 147 
185. As distinções aplicadas à ciência | 186. A tensão entre o finito e o infinito como 
residência da inteligência 
 
Aula 54 …………………..…………………………………………………………………….…….………..…. pp. 150 
187. Exercício do Necrológio, mortalidade e evolução dos modelos de conduta 
 
 
7 
 
Aula 55 …………………..…………………………………………………………………….…….………..…. pp. 152 
188. Problemas na interpretação de autores antigos e medievais | 189. 
Conhecimento intuitivo 
 
Aula 56 …………………..…………………………………………………………………….…….………..…. pp. 154 
190. A verdadeira identidade do ser humano | 191. A concepção moderna de fé 
 
Aula 57 …………………..…………………………………………………………………….………….…..…. pp. 157 
192. Consciência de imortalidade 
 
Aula 58 …………………..………………………………………………………………………….….……..…. pp. 160 
193. A ciência ao longo dos tempos | 194. Ciência como projecto de poder 
 
Aula 59 …………………..………………………………………………………………………….………...…. pp. 165 
195. Música e alma imortal | 196. As várias modalidades do eu | 197. Fenomenologia 
do acto sexual 
 
Aula 60 …………………..………………………………………………………………………….………...…. pp. 167 
198. Adultério e pecado original | 199. Antepredicamentos | 200. Da burocratização 
da sociedade ao Movimento do Potencial Humano | 201. Psique, alma e espírito 
 
Aula 61 …………………..……………………………………………………………………..….………….…. pp. 170 
202. Experiência de imortalidade | 203. Imortalidade, ciência e filosofia | 204. Ezra 
Pound sobre a função da literatura 
 
Aula 62 …………………..………………………………………………………………………….………..……pp. 174 
205. Preliminares essenciais à lógica | 206. Conhecimento, solidão e socialização | 
207. O caminho de volta do conceito à experiência | 208. Ontologia de senso comum 
 
Aula 63 …………………..………………………………………………………………………….………..….. pp. 177 
209. Juízo e proposições | 210. Hayek e os estereótipos sobre o conhecimento 
medieval | 211. O facto concreto e a alma imortal 
 
Aula 64 …………………..………………………………………………………..………………….………….. pp. 181 
212. Consciência meta-corporal e modalidades do “eu” 
 
Aula 65 …………………..…………………………………………………………….…………….………..…. pp. 185 
213. Hegel e o desenvolvimento do pensamento filosófico | 214. O problema da 
verdade na filosofia moderna (Dardo Scavino) | 215. Reavaliação da linha de 
pensamento filosófico dominante 
 
Aula 66 …………………..…………………………………………………………….…………….………..…. pp. 190 
216. A crítica linguística ao conhecimento objectivo (Dardo Sacavino) | 217. O 
paradoxo da ciência moderna e a mentalidade revolucionária 
 
Aula 67 …………………..……………………………………………………………….………….………..…. pp. 196 
218. A influência da alta cultura na sociedade 
8 
 
 
Aula 68 …………………..……………………………………………………………….………….………..…. pp. 198 
219. Os objectivos de longo prazo do Seminário de Filosofia | 220. A hipnose de 
Wittgenstein | 221. A linguagem e a cultura como jaulas existenciais (Dardo Scavino) 
| 222. Filosofia como história da filosofia (Dardo Scavino) | 223. A falsa oposição 
entre fé e conhecimento 
 
Aula 69 …………………..………………………………………………………………….……….………..… pp. 206 
224. Notas sobre o movimento revolucionário | 225. A natureza da filosofia 
 
Aula 70 …………………..………………………………………………………………….……….………….. pp. 210 
226. A filosofia pós-moderna (Dardo Scavino) | 227. Sobre o poder 
 
Aula 71 …………………..…………………………………………………..……………….…….………...…. pp. 215 
228. O sentido da admiração | 229. O pensamento filistino (Zinoviev) de 
Wittgenstein | 230. Os requisitos da busca filosófica 
 
Aula 72 …………………..………………………………………………………………………….………...…. pp. 220 
231. O predomínio das regras comunais (Zinoviev) | 232. A insuficiência da análise 
estrutural de texto em filosofia 
 
Aula 73 …………………..………………………………………………………………………….………...…. pp. 227 
233. Alta cultura e o senso de hierarquia | 234. Do verbalismo à atitude 
contemplativa | 235. A preparação de uma nova elite intelectual 
 
Aula 74 …………………..………………………………………………………………………….………...…. pp. 229 
236. As influências de Olavo de Carvalho | 237. A natureza teleológica da 
individualidade (Josiah Royce) | 238. Pseudomundos criados pela linguagem | 239. 
Hegemonia socialista (Ernesto Laclau e Chantal Mouffe) | 240. O progresso da 
ignorância e o conflito de culturas 
 
Aula 75 …………………..………………………………………………………………………….………...….pp. 239 
241. Estudo de um filósofo em profundidade | 242. A diferença entre a perspectiva 
religiosa e a perspectiva filosófica | 243. Religião e ideologia 
 
Aula 76 …………………..………………………………………………………………………….………...…. pp. 242 
244. Máscaras de Descartes (Étienne Couvert) 
 
Aula 77 …………………..………………………………………………………………………….………...…. pp. 250 
245. A mentalidade prática imediatista | 246. A emoção | 247. A busca da coerência | 
248. As consequências da filosofia de Descartes (Maxime Leroy) 
 
Aula 78 …………………..………………………………………………………………………….………...…. pp. 256 
249. Questões essenciais nas ciências sociais | 250. Fenomenologia do poder | 251. O 
sujeito da História 
 
 
9 
 
Aula 79 …………………..………………………………………………………………………….………...…. pp. 261 
252. Implicações da consciência de imortalidade na compreensão da História e da 
sociedade política | 253. A falta de entendimento sobre o que é um princípio 
 
Aula 80 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 265 
254. O surgimento de teorias de conteúdo mutável e a arrogância universal 
 
Aula 81 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 268 
255. Filosofia e ortodoxia católica | 256. Condições da investigação filosófica | 257. O 
problema da existência do mal no mundo 
 
Aula 82 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 271 
258. O discipulado filosófico | 259. Uma visão de conjunto da filosofia de Olavo de 
Carvalho 
 
Aula 83 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 279 
260. A adaptação às situações da anormalidade | 261. Exercício das Camadas da 
Personalidade | 262. O papel da virtude na vida intelectual (Sertillanges) 
 
Aula 84 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 286 
263. A perspectica escatológica e a visão substâncial do processo histórico 
 
Aula 85 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 289 
264. A expressão de impressões | 265. A filosofia administrada (Gustavo Bueno) 
 
Aula 86 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 293 
266.Engenharia social e agentes de transformação 
 
Aula 87 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 299 
267.O processo educacional como conquista da transparência 
 
Aula 88 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 305 
268. O aprendizado fonético e forma literária | 269. As condições para o falhanço do 
planeamento centralizado | 270. Os limites da influência ambiental 
 
Aula 89 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 310 
271. Filosofia, cosmovisão e apologética | 272. Do nominalismo à perda da confiança 
na ciência moderna 
 
Aula 90 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 316 
273. Imortalidade e vivência intuitiva da morte | 274. Dois tipos de mutação social | 
275. O papel da ciência nas mutações sociais | 276. A imposição da ciência como 
autoridade pública | 277. A criação de uma segunda realidade pela ciência moderna 
 
Aula 91 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 325 
278. Os sistemas metafísicos encarados como símbolos | 279. Filosofias abertas e 
filosofias fechadas | 280. O impacto da ciência na sociedade (Bertrand Russel) 
 
10 
 
Aula 92 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 332 
281. Principais itens da filosofia de Olavo de Carvalho | 282. Algumas investigações 
de Olavo de Carvalho 
 
Aula 93 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 339 
283. O testamento filosófico de Ravaisson 
 
Aula 94 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 342 
284. O testamento filosófico de Ravaisson (cont.) | 285. A perspectiva do filósofo 
face à perspectiva do agente político 
 
Aula 95 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 346 
286. A importância do elemento biográfico na compreensão da obra filosófica 
 
Aula 96 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 348 
287. A poesia lírica e a transição do discurso poético para o discurso filosófico | 288. 
As relações entre linguagem e realidade 
 
Aula 97 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 352 
289. Leituras formativas essenciais para os alunos do Curso Online de filosofia | 
290. Autores tidos como desconhecidos | 291. A busca da verdade 
 
Aula 98 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 357 
292. Clubismo intelectual e cultura verbal (“gostosão intelectual”) | 293. A estrutura 
narrativa da realidade 
 
Aula 99 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 360 
294. Leituras formativas sobre o projecto socrático | 295. Entidades com acção 
histórica | 296. Substância, essência, natureza e arquétipo 
 
Aula 100 …………………..……………………………………………………………………….………...…. pp. 365 
297. A constância da tradição pitagórica na História ocidental | 298. Conhecimento 
do simbolismo numérico pitagórico (Mário Ferreira dos Santos) | 299. O fim da 
alienação moderna e os novos riscos | 300. Arte e moral 
 
 
11 
 
[Aula 1] 
1. Os primeiros deveres dos alunos 
 Depois das transcrições das aulas, o segundo dever dos alunos – por ordem de 
exposição – é ter um caderno de curso para resumir não só as aulas mas também para 
colocarmos as nossas ideias, dúvidas, questões, indicações bibliográfica. Tal é a função destes 
apontamentos. Com este caderno pretendo traçar a linha expositiva central do Curso Online 
de Filosofia, tal como a consegui entender. Muitas das indicações práticas dadas ao longo do 
curso não são aqui tidas em conta, uma vez que já foram compiladas no volume “Exercícios e 
Indicações Práticas”. α1 
 
2. Duração do curso 
 O Curso Online de Filosofia tinha uma duração prevista, inicialmente, de 4 ou 5 anos, 
depende da apreciação do professor. Mas são necessários muitos mais anos para poder 
acompanhar o trabalho de um filósofo. Quem pratica uma arte sabe que é algo que se entra 
para o resto vida ou não se entra realmente. Mesmo quando o aluno supera o mestre, ele sabe 
de onde veio e a quem “tudo” deve. Querer confrontar o mestre e “cortar o cordão umbilical” 
é coisa de quem não superou os desafios da adolescência e depois tenta lança-los no “lugar” 
errado. α1 
 
3. Amizade 
 Idem velle, idem nolle, este é o conceito de amizade segundo São Tomás de Aquino, 
que remete para uma comunidade de valores, mas é também importante ter por amigos 
aqueles que rejeitam as mesmas coisas. É fácil formar um grupo só com base no “ódio” ou no 
“amor”, mas isso é desbalancear a nossa pessoa, que fica ou demasiado amolecida ou 
demasiado presa à acção violenta, ainda que apenas mentalmente. Os amigos são para todas 
as ocasiões, e jamais são aqueles que vendem a sua afeição à custa da de abandonarmos 
aquilo que é mais próprio em nós. Aristóteles já dizia que a sociedade política só era possível 
com base nos grupos unidos pela amizade, que começa por ser um dos pilares da nossa 
personalidade. α1 
 
4. Exercício do Necrológio 
 Fazer o Exercício do Necrológio, com sinceridade, é um sinal da nossa disposição em 
entrar na vida intelectual, tal como entendida no Curso Online de Filosofia. Continuar a 
refazê-lo continuamente atesta a nossa perseverança em nos mantermos nessa via, 
remodelando-a ao longo do tempo. Neste exercício contamos a nossa própria vida, que 
supomos ter terminado, como se fosse um amigo a fazê-lo. Relatamos a nossa vida ideal a um 
terceiro, que não nos conheceu. Não importa os cargos que pensamos um dia ocupar mas 
quem realmente queremos ser. Isto não apenas deve corresponder a uma profunda ambição 
pessoal mas a algo que é também louvável aos olhos de terceiros. Sem dúvida que este é um 
instrumento poderoso para obtermos uma imagem que nos orienta ao longo da vida – 
fornecendo também um critério para julgarmos as nossas acções, sem o qual teremos por juiz 
o falatório geral ou um complexo de medos e preconceitos –, desde que não seja visto como 
http://www.seminariodefilosofia.org/system/files/COF_Exercicios_e_Indicacoes_Praticas_Bookmarks.pdf
http://www.seminariodefilosofia.org/system/files/COF_Exercicios_e_Indicacoes_Praticas_Bookmarks.pdf
12 
 
um mero exercício. Apenasa nossa melhor parte, aquela que se expressa no necrológio, pode 
falar com Deus. α1 
 
5. A inspiração dada pela pessoa de Sócrates 
 O Curso Online de Filosofia inspira-se naquilo que a pessoa de Sócrates tem de 
exemplo fundamental. Não perseguimos a filosofia como uma profissão, dado que isso nos 
prenderia a exigências burocráticas, assim como ficaríamos presos à vaidade de 
pertencermos a um clube restrito, que muitos esforços exigiria da nossa parte. A filosofia 
começou de forma auto-consciente como uma espécie de clube de aficionados em redor de 
Sócrates e depois continuou como um projecto legado por este, que foi modernamente 
esquecido mas que tentamos resgatar aqui de alguma forma. Sócrates insistia numa vida 
examinada: os seus interlocutores eram constantemente instados a olhar para a sua 
verdadeira situação social e política, sendo este é o ponto de partida das meditações. Nunca o 
académico moderno vai examinar a sua situação sociológica, constatando como isso o limita 
ou beneficia. É algo que não faz parte do seu teatro; é como se ele partisse do princípio que 
aquele ambiente universitário é o lugar natural para o conhecimento acontecer e tudo o resto 
não passa de diletantismo. Sócrates mostrou como a sociedade pode tomar consciência de si 
mesma. Nele confunde-se o conhecimento objectivo e universal das coisas com o 
autoconhecimento, o que exige uma pessoa real, não um mero desempenhar de papéis 
sociais. Isto já indica o que deve ser a técnica filosófica: uma conversão de conceitos gerais 
em experiência existencial efectiva e vice-versa. α1 
 
6. Santo Agostinho e a confissão 
 Santo Agostinho retomou à via socrática porque percebeu que a sua inteligência não 
conseguia abordar com clareza as grandes questões. Antes disso era necessário limpar a sua 
personalidade, como ele exemplificou nas Confissões. George Misch mostra, na História da 
Autobiografia na Antiguidade, que isto foi uma novidade. Não encontramos na antiguidade 
uma voz verdadeiramente pessoal. Agostinho já foi buscar o autoconhecimento dentro do 
contexto da confissão cristã, onde tudo é exposto. Não há orgulho e nem vergonha, muito 
menos especulação masoquista, apenas há a sinceridade mais profunda que nos é possível 
naquele momento. Aqui se articulam o conhecimento almejado, a individualidade concreta – 
com sua miséria, ignorância, esquecimento e auto-enganos – e a narrativa que nos coloca 
diante do observador omnisciente. α1 
 
7. O método da confissão 
 Agostinho faz-nos chegar ao método da confissão. Contamos para Deus a nossa vida, 
mas Ele sabe mais do que nós, então, a nossa sinceridade é recompensada e obtemos um 
pouco mais de conhecimento. Isto parece a descrição de uma prática mística a que poucos 
poderão aceder, mas na realidade é algo quase impossível de não acontecer. Quando falamos 
ou escrevemos sobre algo, usando toda a sinceridade, na sequência vem à nossa consciência 
algo que antes não sabíamos, pontos se esclarecem, caminhos se abrem. Muitos vivem 
escondidos, mesmo se exibidos publicamente, não tendo um lugar onde se expõem sem 
restrições e sem condições, por isso não têm esta experiência tão simples quanto profunda, 
sempre nova, revigorante. α1 
13 
 
 
8. O obscurantismo moderno 
 O obscurantismo moderno consiste em repetir os ditames do politicamente correcto 
com toda a convicção, ainda que se trate de uma cretinice auto-contraditória. O engajamento 
nestas coisas, por vezes motivado apenas por oportunismo, tem frequentemente efeitos 
irreversíveis. Toda uma cosmovisão pode ter que ser refeita à volta de um absurdo com o qual 
nos comprometemos, e se esse absurdo é compartilhado por muitos – especialmente quando 
tem o selo de aprovação da universidade – acaba por passar por senso comum. Quando as 
instituições estão corrompidas, querer um diploma desta proveniência não é apenas vaidade 
fútil, é já querer fazer parte da corrupção. A aprovação deve vir de quem realmente sabe, dos 
verdadeiramente qualificados, e também são estes que podem colocar em causa o nosso 
trabalho. α1 
 
9. O compromisso assumido ao entrar no Curso Online de Filosofia 
 O nosso compromisso com o mestre Olavo, de levarmos o curso até ao fim, prende-se 
com a importância de recuperar a alta cultura no Brasil – e desta forma poder melhorar o 
estado geral de coisas –, algo que não é possível fazer em mais nenhum lugar. No meu caso, 
comecei por ser alguém de fora, a partir de Portugal, sem ter uma responsabilidade tão 
directa de “salvar” o Brasil, mas com o dever de retribuir um pouco por tudo aquilo que de 
precioso que aqui tenho recebido. α1 
 
10. A busca da confiabilidade máxima 
 O objectivo da filosofia não é propriamente a obtenção de certezas mas a busca da 
confiabilidade máxima, que feita através do exame dos nossos conhecimentos. Pode ser a 
busca de uma “prova” mas é essencialmente a procura algo que sirva para fundamentar as 
decisões da nossa vida. A ciência moderna quer ter autoridade pública mas não estuda a 
realidade, apenas um conjunto de fenómenos seleccionados com base numa certa 
uniformidade interna (procedimento tautológico). Esta actividade pode ter muitos méritos, e 
certamente que é muito profícua em termos de promoção do desenvolvimento tecnológico, 
mas tem o perigo de constituir uma alienação da realidade. α1 
 
11. Leituras iniciais 
 Não importam muito as leituras no início do curso, porque o fundamental não é obter 
cultura filosófica mas desenvolver a atitude filosófica. Sócrates não dialogava 
infindavelmente sobre minudências, nem tinha a pretensão de fazer uma acumulação 
quantitativa de conhecimentos, antes tentava que os seus interlocutores tomassem 
consciência de assuntos que eles, afinal, já conheciam. É este recentramento da 
personalidade que temos de começar por operar, para depois as leituras serem feitas a partir 
deste eixo, que começamos a definir com o Exercício do Necrológio [4]. α1 
 
 
14 
 
12. Conhecimento objectivo e autoconhecimento 
 Sócrates buscava um conhecimento mais fundamentado do que a mera opinião, algo 
que valesse pela sua autoridade intrínseca e não pela posição ocupada pelo seu portador ou 
pelo seu poder de convencimento sobre as massas. Mas era um conhecimento que não se 
podia destacar friamente da sua pessoa e Sócrates tinha, como pessoa concreta, que poder 
acreditar naquilo. O intelectual moderno pode acreditar numa coisa totalmente diferente 
daquilo que diz a sua disciplina académica, e apenas é exigido dele que desempenhe um 
papel social diante dos alunos ou dos pares, e se as suas acções na vida pessoal estão em 
desacordo com isso, ele é criticável apenas moralmente mas não cientificamente. Mas em 
filosofia, a totalidade da nossa pessoa tem que ser sincera na admissão do conhecimento. Só 
daqui poderá advir uma autoridade intrínseca para julgar os outros conhecimentos, onde 
poderemos encontrar um “ponto arquimédico”, que para Mário Ferreira dos Santos era algo 
com uma credibilidade máxima, onde uma verdade é tão óbvia e patente que nunca a 
podemos esquecer. Quem julga não é a academia ou o professor, tem que ser o nosso juiz 
interior. A filosofia é a busca de uma capacidade interna de discernir a verdade dentro da 
máxima medida humana possível. Em termos de confissão, a parte que se arrepende é 
hierarquicamente superior, não por ser diferente mas por ser mais abrangente, levando em 
conta o conjunto da nossa personalidade e a complexidade da situação. O arrependimento 
não pode ser uma coisa deprimente, o que nos fragmentaria ainda mais, tem de ser algo que 
nos integre, juntando e elevando todos os elementos da nossa alma e da nossa vida. α1 
 
13. A delimitação do terreno da filosofia por Sócrates, Platão e Aristóteles 
 Sócrates, Platão e Aristóteles delimitaram o terreno da filosofia. Eles são o chão em 
que se baseou a filosofia posterior, daí as contribuições dos outros filósofos serem vistas, porvezes, como notas de rodapé, que apenas desenvolvem temas levantados pelos “patriarcas”. 
Claro que podemos corrigi-los, mas impugná-los significa destruir a própria filosofia, é 
querer fazer outra coisa, que já não poderia tomar o nome de filosofia. Não apenas não 
podemos desprezá-los como devemos seguir o caminho que vai de Sócrates a Aristóteles, 
passando por Platão, começando pela observação da própria alma, fazendo especulações de 
ordem moral e política, até chegarmos a um edifício sólido de conhecimentos. α1 
 
14. A seriedade da busca filosófica 
 “Só valem as ideias dos náufragos”, dizia Ortega y Gasset. Esta é uma boa imagem da 
seriedade que temos de colocar na nossa busca filosófica. Isto nada tem a ver com o 
“pensamento crítico”, que é a busca de um rigor lógico alheio à realidade da experiência. A 
filosofia não consiste em aprender a pensar, consiste em saber, começando por aqueles 
conhecimentos imediatos e que estão em nós mas que permanecem mudos. O pensamento 
serve para provocar a intuição, como dizia Aristóteles. E a intuição é uma percepção directa, a 
que a dialéctica tem por objectivo chegar quando as coisas revelam o que são numa espécie 
de salto qualitativo da nossa percepção. α1 
 
 
15 
 
15. A importância da capacidade expressiva 
 A sinceridade tal como a seriedade ficam comprometidas se a nossa capacidade 
expressiva for débil, o que conduz a muitas confusões e a opiniões erradas. A experiência não 
pode ser pensada directamente, tem que entrar na memória e ser convertida em conceitos. 
Mas se a nossa expressão verbal é inadequada vamos acabar por trocar a experiência original 
por um conceito distante. Mais concretamente, o conhecimento humano começa como 
percepção, depois passa a memória e imaginação, e só depois pode se estabilizar em 
conceitos verbalizáveis, que podem entrar nos raciocínios. Aquilo que se conserva na 
memória não é o que vimos mas uma sua forma esquemática, que pode depois receber um 
nome, e nós raciocinamos sobre o conceito implícito (ou sobre a definição explícita). Isto é 
problemático, não só porque a definição pode estar errada como nenhum ente real pode ser 
englobado integralmente numa definição. Então, o método filosófico exige o 
desenvolvimento do senso do concreto e do abstracto, sem o qual corremos o risco de 
tirarmos conclusões a partir de frases acreditando falarmos ainda sobre a realidade. α1 
 
16. A literatura e as funções da linguagem 
 Para a nossa forma mental preservar a experiência tanto quanto possível, temos de 
obter domínio da linguagem. A literatura é a expressão mais directa e completa do 
imaginário e termos de nos valer dela – da grande literatura, porque aquilo que existe hoje já 
não acompanha a realidade – para podermos descrever a nossa experiência e os nossos 
estados interiores. A linguagem pública degradou-se muito e cumpre somente uma função 
apelativa, de influência do outro, nos termos de Karl Bühler. Este falava em três funções da 
linguagem, sendo a função a mais pobre de todas. As outras duas são: a função nominativa 
(dar nomes às coisas e descrever a realidade); e a função expressiva (expressar sentimentos e 
experiências). O escritor (poeta, romancista, dramaturgo) tem por tarefa transformar a 
experiência individual em moeda de troca. A partir desta primeira, mais simples e imediata 
síntese podemos construir conceitos. Então, só é possível restaurar uma discussão filosófica 
séria restaurando primeiro a linguagem, o que não consiste em desenvolver uma cultura 
literária livresca mas em aprimorar a linguagem expressiva e o imaginário que lhe 
corresponde. α1 
 
17. Gramática Latina 
 Para além do contacto com as grandes obras de literatura, é preciso também termos 
um contacto mais material com a língua, sendo o latim é adequado para isso, especialmente 
quando visto desde a perspectiva da Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida. As 
primeiras lições desta obra introduzem os elementos fundamentais das orações, tal como o 
latim convida a fazer, dado que nesta língua a leitura e a análise sintáctica confundem-se. 
Não iremos estudar esta gramática para nos tornarmos experts em latim mas para 
compreendermos melhor o português (assim como qualquer outra língua). A estrutura 
gramatical conduz à estrutura lógica, e só desta podemos partir para a percepção da realidade 
(assim como podemos fazer também o percurso inverso), mas se não temos domínio da 
linguagem, nada podemos fazer. Também necessitamos de um mínimo de latim e grego para 
captarmos alguns conceitos filosóficos. α1 
 
16 
 
18. Conhecimento e solidão 
 Conhecer é ficar a saber algo que os outros não sabem. Eventualmente, alguns 
poderão saber, mas em geral o conhecimento deixa-nos isolados, especialmente quando os 
outros se empenham em não saber. Um bom teste para sabermos se queremos realmente o 
conhecimento é imaginar que não o poderemos partilhar com ninguém e tentar perceber se, 
ainda assim, o queremos obter ou se é a vaidade ou o desejo de aprovação que nos motiva. α1 
 
 
[Aula 2] 
19. A nossa circunstância 
 As circunstâncias da nossa vida puxam-nos para vários lados e, em geral, não existem 
para ajudar ou para atrapalhar, embora a conjectura actual seja muito opressiva. Mesmo os 
factores adversos podem ser trabalhados em nosso favor, como mostra a vida de Viktor 
Frankl. Mas se não tivermos um plano para unificar o nosso caminho – a imagem delineada 
no Exercício do Necrológio [4] –, iremos andar “à toa” (como se costuma dizer nas grandes 
empresas: “Ou tens um plano ou fazes parte do plano de alguém”). Ortega y Gasset ajuda-nos 
também nisto, não só com o seu dito famoso “yo soy yo y mis circunstancias” mas também 
quando diz que “a reabsorção da circunstância é o destino concreto do ser humano”. Só 
escolhemos uma parte do que somos, o resto recebemos de fora, o que inclui a nossa carga 
hereditária, que provoca certas tendências na nossa personalidade que nos são estranhas. 
Szondi dizia que “as figuras dos nossos antepassados pesam diante de nós, exigindo que 
repitamos os seus destinos”. Muitas escolhas (ambições, tendências, desejos, impulsos) que 
fazemos são influenciadas pelas figuras dos nossos antepassados em nós, que podem fazer 
exigências contraditórias e temos não apenas de reconhecê-las mas de criar uma voz 
soberana que se sobreponha a todas. O Exercício do Necrológio [4] pretende criar um factor 
unificante, que nos permita trabalhar com vários materiais heterogéneos e, ainda assim, 
construir algo que os transcenda, integrando o antagonismo. No final, poderemos concordar 
com Goethe quando este disse que não podemos experimentar nada de melhor do que a 
personalidade. α2 
 
20. A importância do testemunho 
 A filosofia exige um duplo preliminar: o adestramento da linguagem (expressão, 
imaginário, literatura, [15] e [16]) e o adestramento do testemunho. A filosofia é ao mesmo 
tempo uma tradição e uma prática através da qual essa tradição é restaurada, algo que vai 
muito além da transmissão de conhecimentos. O fundamental é o trabalho feito na nossa 
consciência, onde tomamos uma posse cada vez maior de nós mesmos como portadores de 
conhecimento. O testemunho individual e solitário – aquele em que não podemos depender 
de mais ninguém, não sendo por isso necessariamente subjectivo – torna-se fundamental. 
Em última análise, todo o conhecimento depende de inúmeros testemunhos individuais em 
que confiamos, porque não vamos repetir todas as experiências para os confirmar, além de 
que há campos, como a história, em que os factos são irrepetíveis. Nos diálogos platónicos, 
Sócrates adestra os seus interlocutores a serem testemunhas de si mesmos, sendo esta a base 
17 
 
onde a filosofia pode florescer. Para isso, é necessário ir além da linguagem pública e das 
frases feitas, que reflectem um universo de crenças, ideias e percepções que podem nada ter a 
ver com o que pretendemos. α221. A absorção de elementos culturais 
 Um terceiro preliminar à filosofia (ver em [20] a referência aos anteriores) prende-se 
com a absorção de elementos culturais, porque a filosofia parte de questões públicas. Ainda 
que estas não sejam questões filosóficas, serão experiências humanas, crenças colectivas, 
símbolos incorporados na linguagem. Os vários elementos terão que ser trabalhados até 
formarem questões filosóficas, o que é facilitado numa cultura pungente, com uma boa 
literatura, mas num ambiente de caos cultural temos de fazer quase tudo desde o zero. Se 
formos trabalhar a experiência individual, sensorial mesmo, temos de ter consciência de que 
na sua verbalização e, até antes, no trabalho de memória a seu respeito já intervém um 
elemento colectivo (cultural), que nos ajuda a reter as coisas por analogia mas que também 
nos pode desviar da experiência originária quando o nosso repertório de elementos culturais 
é pobre. Temos de ter sempre em conta a tensão e o afastamento existente entre aquilo que 
vimos e aquilo que a cultura nos ajudou a reter. α2 
 
22. A fidelidade à experiência e a literatura 
 Conseguir ser fiel à experiência directa depende de termos adquirido uma linguagem 
pessoal propícia a uma actividade confessional, da testemunha que relata para si mesma 
fielmente o mundo inteiro da sua experiência. A experiência genuína é preciosa, só ela nos 
permite perceber claramente a diferença entre receber uma informação e criá-la. Essa 
experiência pode parecer, por vezes, algo muito fora da normalidade, mas não a vamos 
apagar. Queremos expressar a nossa experiência na sua singularidade mas de forma a ela ser 
ainda reconhecível por outros. Este esforço ainda se enquadra dentro da actividade literária, 
sem a qual não há filosofia. Uma experiência literária rica cria um imaginário forte, com 
galerias de personagens que nos permitem identificar, por analogia, a nossa própria 
experiência a partir de uma mistura de elementos de várias proveniências. Por isso, é 
importante a absorção do legado literário – os grandes escritores transfiguram a experiência 
genuína nos seus equivalentes culturais mais exactos e legítimos – e artístico. Não podemos 
tratar filosoficamente a realidade bruta e menos ainda a figura que esta toma na cultura de 
massas (a não ser que estejamos a estudar a própria cultura de massas, mas nunca podemos 
assumir que o tratamento que esta dá aos assuntos é válido), que até parece estar falando da 
realidade mas que tem fins bastante específicos. α2 
 
23. A verdade 
 A verdade é aquilo que pode ser dito e que é confirmado pela realidade da experiência. 
A verdade deve ser buscada na realidade e não na busca em sentenças gerais, que traduzem 
sobretudo um afã de crença. A filosofia começou precisamente quando as crenças da antiga 
religião grega já não eram suficientes para orientar as pessoas. α2 
 
18 
 
24. Contacto com o filósofo 
 Caso não sejamos daquelas raras pessoas que conseguem aprender sozinhas, só 
podemos aprender filosofia com alguém que personifica uma tradição vivente, ou seja, com 
um filósofo que nos mostra como se faz filosofia. Isto acontece muito nas artes, em que 
podemos até ver alguém executar, mas se o mestre não exemplificar especificamente para nós 
e confirmar que percebemos, apenas vamos conseguir fazer uma imitação vazia. Mas nas 
artes há um fruto que permite aferir os resultados, ao passo que o filósofo deixa apenas 
alguns escritos ou gravações, que revelam somente uma pequena fracção da sua filosofia, 
sendo registos enganadores para quem não os saiba descodificar. Acresce que o filósofo passa 
aos alunos sempre uma série de coisas indizíveis, matérias de estilo, coisas que só são 
absorvidas pela convivência pessoal. α2 
 
25. Sensibilidade auditiva 
 A sensibilidade auditiva é importante porque sem ela vamos encobrir a experiência 
real de estar falando, pelo que o conteúdo acaba por ficar deslocado. A musicalidade da 
língua está muito afectada pelas influências ango-saxónicas, pelo que é melhor, no início, 
apostar no contacto com as línguas latinas (em termos puramente literários, já que o inglês é 
fundamental para o aprendizado). Quando desaparecer o intervalo entre a nossa experiência 
real e o nosso modo de falar, aí encontramos a nossa própria voz. O deslocamento pode estar 
na forma, no conteúdo ou na própria voz física. α2 
 
26. A profissão do génio 
 “Génio é aquele que inventa a sua própria profissão”, dizia Ortega e Gasset, pelo que 
devemos cultivar em nós um certo aspecto do génio. α2 
 
27. A lógica como mundo da possibilidade 
 A lógica lida apenas com o mundo da possibilidade, não nos fornece conhecimento. Se 
for colocada no início do aprendizado irá viciar os alunos num abstratismo vazio, onde se 
torna impossível qualquer contacto com a realidade. Antes do estudo da lógica é necessário 
um aprendizado relativo à memória, à imaginação e à expressão, um aprendizado artístico, 
por assim dizer, assim como é importante nos adestrarmos em sermos testemunhas 
fidedignas [20]. Isto é a busca de um “estilo” verdadeiramente pessoal, de uma voz própria. 
α2 
 
28. Exercício da aceitação total da realidade 
 Na realização do Exercício do Necrológio [4] pode ser difícil sabermos o que 
realmente queremos ser, talvez porque queremos demasiadas coisas; temos desejos violentos 
e podemos nos iludir de que no meio de uma confusão de desejos exista um fundo que 
realmente procuramos, quando ali reside apenas um vício que nos suga. Um exercício que 
nos ajuda a nos situarmos neste caos é o da aceitação total da realidade, o que implica 
colocar a realidade acima de qualquer um dos nossos desejos. A ideia é aceitar totalmente o 
que nos acontece, sem levantar objecções e sem qualquer reclamação, tendo sempre em conta 
19 
 
que o real tem uma primazia extraordinária, dado que ele é a sede da verdade. Obviamente 
que isto é importante para a própria objectividade intelectual (respeitante à moralidade da 
investigação da verdade), mas também ajuda a definir o sentido do nosso necrológio, porque 
acalma os nossos desejos vãos e fará surgir, gradualmente, as nossas ambições mais 
profundas, a nossa vocação, que para alguns é um chamado de Deus, mas também podemos 
ver como uma vontade que nos quer nela. α2 
 
29. O símbolo e a escala de poder das personagens literárias 
 Diz Susanne Langer “o símbolo é uma matriz de intelecções”. Isto é fácil de esquecer 
devido à coisificação do símbolo. Qualquer candidato a filósofo deve se preparar para ser 
fecundado por Platão para o resto da vida, e sempre será obrigado a dizer: “ainda não 
compreendi”. A literatura mais uma vez é uma base, porque sem a abertura para a 
possibilidade da experiência humana que ela provoca, a descompactação do símbolo fica 
muito pobre e provinciana. Daí a importância da escala de Aristóteles / Northrop Frye, que 
gradua o poder das personagens: a) Deus omnipotente; b) personagens mitológicas ou com 
poderes divinos; c) personagens sem poderes divinos mas com altíssima qualidade humana; 
d) pessoas comuns; e) idiotas abaixo da situação. α2 
 
30. Conhecimento e comunicação 
 Termos uma voz própria aumenta a nossa comunicabilidade, mas o mesmo não 
ocorre à medida que obtemos um conhecimento cada vez maior e mais profundo. Precisamos 
de ter consciência de que a ascensão na pirâmide do saber corresponde também a enfrentar 
o seu afunilamento. α2 
 
 
[Aula 3] 
31. O fundamentalista e a crença sem palavras 
 Fundamentalista é aquele que acredita em frases como se estas fossem realidades, 
segundo Eric Voegelin. Um conceito como “democracia integral” é um flatus vocis, mas é 
perfeitamente possível raciocinar logicamente em cima dele. Isto já é pensar, mas a filosofia 
consiste em pensar a realidade (sempre os pensamentos retroagem à realidade). Será que 
este procedimento é apenas um detalhe? Isto fica respondido se pensarmos que a filosofiaoriginou erros que mataram quase 200 milhões de pessoas, nomeadamente através das 
modernas ideologias de massas. Não são os pares que podem corrigir uma falta de 
consciência moral de base, por isso, o testemunho solitário [20] tem que ser um hábito para 
nós. α3 
 
32. Voto de abstinência em matéria de opinião 
20 
 
 O voto de abstinência em matéria de opinião começa logo por ser um questionamento 
da importância de termos opiniões: As nossas opiniões vão mudar o estado de coisas em 
algum sentido? A opinião inútil é sempre de evitar. É impossível desenvolver um testemunho 
sincero se temos o vício opinativo. Mesmo a opinião idiota pode nos condicionar: vamos 
querer defendê-la apenas por a termos proferido e a sentirmos como nossa. E nunca 
podemos esquecer que o nosso direito de emitirmos opiniões tem o correspondente direito 
dos outros em não querer escutá-las. Também devemos nos abster da opinião sem suficiente 
lastro cultural e de experiência pessoal. Já dentro da esfera intelectual, torna-se importante 
levantar o status quaestionis do assunto sobre o qual pretendemos opinar ou nem sequer 
sabemos de onde surgiram as questões. α3 
 
33. Exercício do Testemunho 
 Diz Louis Lavelle – numa passagem que é a base para o Exercício do Testemunho – 
(do livro De l’Intimité Spirituelle): 
«Há na vida momentos privilegiados nos quais parece que o universo se ilumina, que 
a nossa vida nos revela sua significação, que nós queremos mesmo o destino que nos 
coube, como se o tivéssemos escolhido. Depois, o universo volta a fechar-se: 
tornamo-nos novamente solitários e miseráveis, já não caminhamos senão tacteando 
por um caminho obscuro onde tudo se torna obstáculo aos nossos passos. A 
sabedoria consiste em conservar a lembrança desses momentos fugidios, em saber 
fazê-los reviver, em fazer deles a trama da nossa existência cotidiana e, por assim 
dizer, a morada habitual do nosso espírito». 
 Todos nós temos uma vida individual e concreta, onde caminhamos como cegos, mas 
também temos uma dimensão universal, que se revela quando “o universo parece que se 
ilumina”. É a partir desta dimensão que temos de conceber o necrológio [4]. A ideia da morte 
faz-nos questionar sobre quem somos face ao Absoluto, quando tivermos a nossa forma 
acabada, porque sem ideia da morte não pode haver a noção de chegar a ser. A vida filosófica 
também consiste no resgate cotidiano desta universalidade pessoal e não abstracta, onde 
conseguimos aceitar profundamente o nosso destino. Isto também nos ajuda a fazer a ponte 
entre as regras morais universais e abstractas (o mesmo se aplica às virtudes) e as situações 
humanas, sempre concretas e particulares. A mediação é feita pela imaginação, em que o 
bom ou o louvável são imaginados na nossa pessoa concreta, ainda que estejamos longe de 
poder verbalizar isto. 
 A imaginação depende da nossa “colecção de figurinhas”, e se esta for rica e bem 
organizada na nossa memória, temos a porta de entrada para a genialidade. Hoje em dia 
temos imagens em excesso, temos a psicose informática, pelo que temos de coleccionar 
imagens “modelares” que se sobreponham à cacofonia. Vemos demasiadas coisas e 
habituamo-nos a ver pouco e a logo esquecer, mas temos que contrariar isto relativamente às 
imagens realmente marcantes. O próprio “eu ideal” do necrológio funciona como um âncora, 
que define um eixo e uma hierarquia que impedem a dispersão e a fragmentação . 
 A descrição do exercício continua em [35]. α3 
 
21 
 
 
34. O entendimento na leitura 
 Quando Jorge Luis Borges diz que “para entender um livro é preciso ter lido muitos 
livros” ele já alude a uma das principais dificuldades em adquirir alta cultura. Um bom livro 
fala do mundo, da História, do espírito, pelo que só o compreendemos se estas coisas já 
estiverem de alguma forma despertas em nós, nomeadamente através da leitura de outros 
livros. Não só temos de ler muitos livros como temos que reler alguns várias vezes para 
começarmos a entendê-los, pela acumulação de pontos de comparação. α3 
 
 
[Aula 4] 
35. Continuação do Exercício do Testemunho 
 Prossegue Lavelle [33]: 
«Não há homem que não tenha conhecido tais momentos, mas ele os esquece 
depressa como um sonho frágil, pois ele deixa-se capturar quase imediatamente por 
preocupações materiais ou egoístas que ele não consegue atravessar ou ultrapassar, 
porque ele pensa reencontrar nelas o solo duro e resistente da realidade. Mas aquilo 
que é próprio de uma grande filosofia é reter e reunir esses momentos privilegiados, 
mostrar como são janelas abertas para um mundo de luz cujo horizonte é infinito, do 
qual todas as partes são solidárias e que está sempre oferecido ao nosso pensamento 
e que, sem jamais dissipar as sombras da caverna, nos ensina a reconhecer em cada 
uma delas o corpo luminoso do qual ela é a sombra». 
 Existe uma dialéctica entre aqueles momentos em que todos os dados que captamos 
da realidade aparecem-nos como plenos de sentido – unificados de algum modo, em que 
desaparece o hiato entre realidade e idealidade –, e o momento seguinte, em que tudo se 
fragmenta e a nossa consciência deixa de conseguir unificar o mundo dos factos, 
especialmente nas situações opressivas, em que apenas o antagonismo nos parece ser o “solo 
duro da realidade”. Nestes momentos de obscurecimento deixamo-nos ali guiar pelo medo e 
depois justificamos as nossas escolhas a partir dessa nossa covardia não assumida, dizendo 
que abandonamos o mundo ilusório dos sonhos para abraçarmos a dura realidade. Mas toda 
a situação é externa e passa, não é nenhum “solo duro” a não ser o que se revela naqueles 
momentos especiais em que o “universo se ilumina” mas, como não os conseguimos reter 
facilmente, parecem-nos uma coisa fugidia e até ilusória, quando é ali que se encontra tudo o 
que nos é mais próprio, íntimo e verdadeiro. Fazer o culto da situação externa – opressiva ou 
sedutora – afasta-nos do centro da nossa consciência e, logo, da filosofia, que aqui 
entendemos como a busca da unidade do conhecimento na unidade da consciência e vice-
versa. Louis Lavelle ensina-nos aqui como devemos perseverar em nós mesmos, não num 
ensimesmamento mas numa abertura para o universal concretizado na nossa pessoa, que 
deve ser vista à luz da morte, que nos mostra qual é a nossa verdadeira forma. A morte é aqui 
encarada como o fim das transformações, quando já não é possível corrigir mais nada. O 
22 
 
sempre oportuno Georges Bernanos dizia que “o risco que corremos não é o de morrer mas o 
de morrer como imbecis”. α4 
 
36. Os novos inimigos da alma 
 O mundo dos desejos já não pode ser visto como o principal inimigo da alma, como 
acontecia na Idade Média. Basta ver que hoje há muito mais gente motivada pelo medo e pela 
necessidade de aprovação do que pela cobiça ou pela luxúria: estamos demasiado alienados 
para sermos movidos pelos desejos. Desde logo, ocorreram profundas alterações no meio 
social, que hoje é terrivelmente pressionante. Mesmo estando nós, nas democracias 
ocidentais, cobertos de direitos, a nossa liberdade é imensamente coarctada por factores 
económicos, pela organização física das cidades e por outras condicionantes que quase 
sempre nos obrigam a trabalhar longe de casa. 
 Os serviços que foram disponibilizados às populações a partir da Revolução 
Industrial, em número cada vez mais impressionante, trouxeram junto um enorme conjunto 
de pressões e exigências. Existe a nova (em termos históricos) pressão dos horários, algo que 
antigamente só os monges tinham, porque era benéfico para o seu modo de vida, mas que 
seria uma tortura para qualquer outro tipo de pessoa da altura. Hoje também fazemos uma 
separação rígida entre trabalho e lazer. A nossa natureza não está preparada para lidar com 
estes novos factores mas, se nos quisermos subtrair a eles, vamos nos isolar da sociedade, 
algo que também não conseguimos lidar com facilidade.Os problemas antigos, como doenças 
ou insegurança, pesavam sobre toda a comunidade, mas os problemas modernos 
essencialmente opõem o indivíduo à comunidade, e isso explica grandemente a génese do 
romance. Não podemos vencer a sociedade materialmente, mas Lavelle aponta como 
podemos impedir que ela nos destrua: temos de aceitar totalmente o nosso destino ou não 
teremos qualquer domínio sobre a nossa existência. α4 
 
37. A instrumentalização do cristianismo pelo Estado 
 O cristianismo surgiu num contexto em que os mais fracos não tinham qualquer 
protecção, existia pedofilia, escravatura. Os valores cristãos vieram a incorporar-se na 
legislação, contudo, imediatamente tornou-se impossível o perdão e o cristianismo 
"judicializado” tornou-se numa nova forma de pressão e alienação. Cometer adultério pode 
hoje destruir uma vida. A própria “família” foi uma conquista cristã para todos, mas o 
casamento civil universalizou-se e, logo, o Estado passou a mediar até as relações amorosas, 
que deixaram de ser verdadeiramente pessoais. Então, a família tornou-se num factor 
alienante. Sempre pesa a ameaça de algum dos seus membros recorrer à justiça para fazer 
valer os seus direitos. François Mauriac mostra como o meio burguês – criado nominalmente 
sob valores cristãos mas onde se misturam de outra ordem – sufoca a verdadeira alma cristã 
e, por vezes, a única solução para romper com isto é transgredir a norma social. Mas não 
basta partir para uma transgressão com base no sexo livre ou nas drogas, levando toda a 
falsidade consigo, porque no final acabamos por nos tornarmos ainda mais artificiais. Existe 
o desejo de querer superar a sociedade, como se fosse possível nos colocarmos fora e acima 
dela, mas o que temos de vencer é a “sociedade que está dentro de nós”, caso contrário 
acabaremos por nos colocar numa posição ainda mais falsa e alienada. Goethe salientava a 
23 
 
importância de cumprirmos todas as nossas obrigações para com a sociedade, porque se 
consentirmos que ela nos marginalize seremos escravos dela. α4 
 
38. O ódio ao conhecimento 
 Existe uma pressão terrível voltada contra o conhecimento, que desperta inveja, 
desprezo, gozação. Mas não são apenas as pessoas de fora que querem o nosso fracasso, 
temos também em nós estes antagonismos, que formam uma voz que advoga em favor do 
diabo. Por isso, a nossa capacidade de estudo deve ser graduada pela força moral que 
adquirimos. Se assim não for, o próprio conhecimento pode se transformar num instrumento 
de alienação e o estudo num mecanismo de emburrecimento. Alguns livros podem nos ajudar 
a ter uma ideia mais clara desta situação: O Feijão e o Sonho, de Orígenes Lessa, e 
Recordações do Escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto. α4 
 
39. O diálogo em solidão 
 Ouvindo os discursos de muitos religiosos, parece que eles falam com Deus com a 
maior das facilidades, como se fossem como o padre Pio. Serão todas gracejadas pelo dom da 
fé ou é apenas um diálogo imaginário com uma falsa imagem de Deus? Diz Antonio 
Machado: “Quién habla solo, espera hablar con Dios un día”. O diálogo em solidão tem de 
preceder uma verdadeira conversa com Deus. α4 
 
40. Repertório de ignorância 
 Qualquer coisa que seja possível de conhecer tem um coeficiente de ignorância que 
não nos é possível vencermos, é algo que faz parte da estrutura da sua realidade. Existe outro 
aspecto que ignoramos da coisa mas que é possível conhecer. É a partir desta distinção que 
elaboramos o nosso repertório de ignorância: a lista daquilo que precisamos de saber para 
compreender algo, e que se torna num programa de estudos. Para compreender aquilo que 
sabemos e desconhecemos, torna-se importante diminuirmos o número de opiniões que 
temos. Depois, temos de saber graduar os nossos conhecimentos: certeza absoluta; alta 
probabilidade; crença verosímil; mera possibilidade. α4 
 
41. A qualidade da leitura de obras de ficção 
 As leituras de obras de ficção são feitas com qualidade se delas conseguimos tirar 
símbolos que nos ajudem a interpretar as situações reais. Vamos precisar de muitas leituras 
para que os pontos de comparação se tornarem mais precisos, dado que no início serão muito 
genéricos. Também é importante pegar nas grandes obras, que têm maior vitalidade e as 
descrições saem directo da experiência, o que não acontece com as obras menores, que são 
cópias de cópias e reflectem apenas experiências secundárias, literárias apenas. α4 
 
42. Exercícios de adestramento do imaginário 
24 
 
 Existem alguns exercícios – simples ou complexos, dependendo da dimensão que lhes 
quisermos dar – bons para desenvolver o imaginário e a própria capacidade expressiva. Um 
deles consiste em imaginar a vida de pessoas que conhecemos como um romance, o que nos 
obriga a perceber as tensões que elas efectivamente viveram, como lidaram com ambições, 
expectativas, etc. Outro par de exercícios consiste em fazer um roteiro de filme a partir de um 
livro e, por outro lado, fazer uma narrativa a partir de um filme. Estes exercícios podem ser 
muito trabalhosos se colocados por escrito, mas podem ser feitos imaginativamente com 
relativa facilidade. Não só nos aproximam das situações reais que as pessoas vivem como nos 
colocam em contacto com as dificuldades encontradas pelos ficcionistas. Obviamente que são 
uma boa forma de usarmos a imaginação de uma forma menos usual e mais vívida, útil para 
filosofia. α4 
 
 
[Aula 5] 
43. A dialéctica do entendimento 
 Diz Benedetto Croce (Lógica como Ciência do Conceito Puro): 
«O pressuposto da actividade lógica são as representações ou intuições. Se o homem 
não representasse coisa alguma, não pensaria. Se não fosse espírito fantástico, não 
seria também espírito lógico». 
 Qualquer investigação lógica é feita, originariamente, a partir de experiências 
humanas de realidade (sensações, intuições, representações) e não de pensamento, porque é 
dessa forma que o mundo nos chega e não como uma estrutura lógica. Mas esta elaboração 
inicial perde-se quando as próximas gerações têm apenas acesso ao discurso lógico. Então, 
idealmente deve ler-se um livro de filosofia puxando uma série de experiências da exposição 
lógica, que não têm que ser absolutamente idênticas às do filósofo, basta que sejam análogas 
(o suficiente para reflectir as ideias expressas). Hoje praticamente só existe “troca de ideias”, 
ou seja, uma verbalização sem substância de realidade. Mas nós temos que pegar nas obras 
filosóficas e fazer delas “um sonho acordado dirigido”, tal como definia Paul Claudel uma 
peça de teatro. A partir daqui tiramos uma série de dados, que para serem discutíveis terão 
que ser traduzidos novamente em linguagem filosófica. A compreensão dá-se nesta 
alternância entre discurso abstracto e consciência de experiências reais. α5 
 
44. A lógica usada como camuflagem da experiência real 
 A linguagem lógica pode ser usada deliberadamente para esconder a experiência real, 
tentando assim induzir-nos a uma espécie de hipnose em que ficamos enredados em 
esquemas lógicos. Por exemplo, o autor pode usar uma metáfora ou outra figura de 
linguagem mas apresenta-as como descrições objectivas da realidade ou de estados de facto, 
como fez Descartes com a sua dúvida radical. Esta dúvida é impossível de vivenciar, pelo que 
percebemos que ele devia estar se reportando a um estado de dúvida muito grande, 
atemorizante – os sonhos com o génio mau –, e que tentou usar a lógica para gradualmente 
recuperar as certezas e ultrapassar o temor, o que obviamente não foi bem-sucedido e ele 
25 
 
acabou por ter que apelar para Deus. Apenas retroagindo das palavras às experiências 
podemos descobrir estes erros ou manipulações. Descartes apresentou uma análise lógica 
para camuflar uma experiência e Kant fez algo idêntico. Por este tipo de razões, as filosofias 
modernas estão estruturalmente erradas, ainda que apresentem descobertas de pormenorgeniais, ao passo que Platão e Aristóteles têm filosofias com muitos erros de detalhe mas que 
mantêm a sua estrutura intacta. α5 
 
45. A camuflagem na ciência moderna 
 A filosofia da época de Descartes é marcada pela camuflagem. Não por acaso, esta foi 
a época do surgimento da ciência moderna, que pretende transpor todas as discussões para 
um terreno neutro, onde tudo é idealmente resolvido através de observações, medições e 
raciocínios matemáticos. Porém, os novos cientistas eram fervorosos ocultistas, magos, 
alquimistas, gnósticos, mas queriam apresentar uma linguagem, perante o grande público, 
despida de experiência humana, apenas norteada por uma fria objectividade, mas que 
funcionava como uma forma de manipulação dos incautos, e que depois veio a introduzir 
toda uma cultura do pensamento deslocado da realidade. Newton falava do movimento 
eterno, mas isto é auto-contraditório porque o movimento necessita de uma referência 
temporal e a eternidade não pode ser medida desta forma. α5 
 
46. A validação da experiência comum 
 A primeira coisa que o filósofo deve fazer é validar a experiência comum e geral, 
sabendo que nunca irá superá-la, apenas a pode tornar mais inteligível e somente em relação 
a um número muito reduzido de pontos, tendo em relação aos restantes que aceitar os 
conhecimentos de senso comum porque não terá tempo para verificar tudo. Ele não pode 
começar pelo estado de dúvida integral ou ficaria bloqueado e não sairia dali. O mesmo erro 
que faz com que algumas pessoas camuflem certas experiências para as transportarem para 
um terreno frio, mensurável (a linguagem académica impressiona muito o jovem 
universitário, que pensa que, entrando numa nova comunidade “superior, pode desprezar a 
linguagem vulgar e “subir” para uma linguagem empostada, onde o mundo da experiência 
pode ser desprezado), pode ser usado no sentido oposto, por exemplo, para negar a própria 
experiência sensível, como aconteceu com Spinoza. α5 
 
47. Os universais abstractos 
 É frequente na ciência história ou na sociologia aparecerem explicações que fazem 
recurso aos universais abstractos, por exemplo, fazendo do “capitalismo” um agente 
histórico. Quando não se sabe (ou se quer esconder) quais são os verdadeiros agentes e as 
suas acções concretas, é muito cómodo recorrer aos universais abstractos. Trata-se de um 
raciocínio metonímico – na metonímia há troca de um termo por outro de alguma forma 
relacionado –, onde se oculta o verdadeiro agente. Não há problema em usar a metonímia 
como figura de linguagem quando isso fica evidente, mas em ciência a metonímia é usada 
quase que inconscientemente e as pessoas acreditam ainda tratar-se de uma descrição 
objectiva da realidade. Também aqui precisamos da imaginação para fazer sobressair a 
substância de realidade. Mesmo se não tivermos possibilidades de saber o que realmente 
aconteceu, podemos sempre imaginar possíveis alternativas onde sobressaiam os agentes 
26 
 
humanos e não cair na tentação de apelar a meras tendências gerais. O próprio historiador é 
obrigado a articular dramaticamente as acções e as falas dos personagens, assim como tem de 
conceber hipóteses para tapar lacunas nos documentos. α5 
 
 
48. O conteúdo dramático da tese filosófica 
 O dramatismo também está presente na exposição filosófica, ainda que isso não seja 
logo evidente. Benedetto Croce dizia que apenas compreendemos uma filosofia quando 
sabemos contra quem ela se levantou polemicamente. E Julian Marías dizia: «A fórmula da 
tese filosófica não é: “A = B” mas “A não é B e sim C”». Há aqui uma oposição mas não 
apenas de ideias. Por vezes, rastreando as experiências que estão por trás das doutrinas, 
podemos até encontrar um material de base muito idêntico escondido por uma polémica 
exterior muito acirrada. A reconstituição da filosofia antiga (trabalho de doxografia), da qual 
restaram apenas fragmentos, necessitou de muita imaginação para conceber hipóteses e 
também para levantar outras através de oposições que tinham sido feitas às filosofias. Havia 
um conflito de pessoas reais, cujas doutrinas apenas expressam parcialmente as suas 
experiências. E há um núcleo imaginário que foi compartilhado por quase todos os filósofos, 
composto pela Bíblia, pela mitologia grega e pelo teatro grego. Mesmo a linguagem técnica 
mais elaborada foi criada sobre a linguagem comum e sobre a linguagem poética, além de 
haver constantes referências culturais para fora da linguagem técnica. α5 
 
49. A busca da unidade do conhecimento na unidade da autoconsciência 
 Só existe unidade do conhecimento na unidade da autoconsciência em Deus, e a 
filosofia busca conquistar e manter um pouco disto. O esquecimento vai sempre nos 
perseguir e na nossa personalidade tem que ser cavado um sulco que corresponda ao senso 
do papel da ignorância na nossa investigação filosófica. Muitos cientistas famosos falam 
como se o domínio que têm numa área especializada lhes desse autoridade para opinar sobre 
qualquer assunto, pelo que ignoram até a situação real a partir da qual escrevem, mostrando 
que se deixaram capturar pela capacidade abstractiva e entraram em alienação, ou seja, 
passaram a ignorar a estrutura da realidade e lançaram-se na acção cognitivamente 
irresponsável – hipnótica e auto-hipnótica –, num teatro mental criado por eles. Dizia 
Chesterton que a diferença entre o poeta e o louco é que o poeta mete a cabeça no mundo e o 
louco mete o mundo na cabeça. Não inventamos o mundo, nunca o iremos abarcar, apenas 
podemos nos abrir a ele e deixar que a realidade nos ensine. Mas a pressa em chegar a 
conclusões pode fechar o círculo e também por isso é importante o voto de abstinência em 
matéria de opinião [32]. α5 
 
50. As diferentes concepções da fé 
 A fé é entendida hoje como a crença numa doutrina. Porém, durante séculos os 
cristãos não tinham qualquer doutrina, só uma narrativa de factos. Alois Dempf (La 
Concepción del Mundo en la Edad Média) mostra como a doutrina católica só lentamente foi 
sendo elaborada, de forma fragmentária e pelo motivo de conseguir responder às objecções 
que se faziam à narrativa, tendo só adquirido unidade com as sumas, mais de mil anos depois 
27 
 
do advento de Cristo. A doutrina não passa de um conjunto de pretextos intelectuais 
elegantes para sustentar a confiança na pessoa de Cristo, mas isto não impediu que tivessem 
existido muito teólogos heréticos ou que das explicações não continuassem sempre a surgir 
novas objecções. Nada pode substituir a fé original, entendida como confiança. A narrativa 
não é nem racional e nem irracional, só podemos considera-la verdadeira ou falsa. α5 
 
51. Exclusão e superação 
 A exclusão não obriga ninguém a ser fraco, pelo contrário, é um estímulo para o 
indivíduo ser forte e duro. Este estímulo em geral falta àqueles que nasceram em “berço de 
ouro” e que acabam frequentemente por destruir a fortuna da família. A ideia de que a 
exclusão legitima a fraqueza e a covardia é, obviamente, ideia de pessoas fracas e covardes 
(que assim justificam os seus falhanços pessoais por uma suposta exclusão), mas se for 
suficientemente difundida entre os excluídos pode acabar por se tornar numa profecia auto-
realizada. Há na literatura brasileira alguns exemplos de superação em situações de extrema 
dificuldade, como em A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de João Guimarães Rosa, ou em 
Os Sertões, de Euclides da Cunha. α5 
 
52. A evocação das experiências do filósofo 
 Quando lemos um filósofo – o comentário também é válido para a leitura de qualquer 
opinião – o importante é nos colocarmos num ponto de vista em que a ideia que ele transmite 
nos pareça verosímil. Então, vamos imaginar uma posição ou situação humana a partir da 
qual conseguimos ver o mesmo que aquela pessoa. Para isso, temos que começar pela 
suspensão da descrença, de que falava Samuel Coleridge. Pode ocorrer que aquilo que o autor 
diz não sejapossível de experienciar, o que indica que ele está a fazer uma camuflagem de 
algo. Não devemos ter medo de sermos influenciados, nem vamos negar o grau de simpatia e 
de co-participação ao autor, qualquer que ele seja, que permita vivenciar a experiência dele 
até ao limite do possível. No que ele escreveu nunca estará a última palavra, outras leituras 
trarão outras influências. α5 
 
53. Exercício da Presença do Universo 
 Algum dia teremos de fazer isto: ir para um lugar descampado, sem ninguém, deitar, 
sentir a densidade da terra por baixo e a infinitude do céu em cima. E vamos perceber que 
estamos ali realmente, sem a nossa rede de contactos sociais, sem o nosso universo 
linguístico. Este exercício visa a tomarmos consciência não-verbal da nossa presença física no 
universo ilimitado e a desenvolvermos o senso da presença maciça da realidade, face à qual 
os nossos pensamentos não podem absolutamente nada. Não é um exercício de sensibilização 
para sentir mais coisas no corpo, é deixar que a realidade inteira da situação se manifeste, 
incluindo o nosso corpo e os nossos pensamentos, em que cada coisa terá o seu modo de 
presença. Por maior que seja o universo, ele não nos chega como um caos mas surge 
terrivelmente organizado, tudo com uma certa perspectiva (visual, sonora, táctil). Trata-se de 
aceitar a realidade e não ir atrás dela. Não é necessário fazer um esforço para bloquear os 
pensamentos, basta perceber que estamos pensando neste lugar e que os pensamentos se 
desenrolam aqui, nesta situação precisa. Eric Voegelin dizia que a experiência da realidade é, 
em si mesma, transcendente, abrindo-nos para o infinito, e nós percebemos isso em situações 
28 
 
de grande perigo, onde as nossas ideias não contam para nada. A partir daqui também 
conseguiremos perceber intuitivamente a diferença entre uma crença infundada, que só vale 
pela repetição, e uma evidência intuitiva. A realidade é enorme e provoca espanto, thambos, 
no dizer de Aristóteles, mas não temos de a temer e sim que nos abrirmos a ela. α5 
 
[Aula 6 – Especial curso “Introdução à filosofia de Eric Voegelin”] 
54. Principais influências de Eric Voegelin 
 Eric Voegelin recebeu inicialmente influências de Hans Kelsen (que tentou “purificar” 
o Direito, considerando-o apenas como a estrutura formal da lógica normativa) e de Othmar 
Spann (que valorizava uma concepção “holística” da sociedade, em que a totalidade se 
sobrepõe à independência das partes). No livro The Form of the American Mind, ao referir-se 
à sociedade nacional como uma forma, Eric Voegelin já estava a dizer que esta sociedade 
realmente existe para além do aglomerado dos indivíduos, embora não chegue a ter uma 
substancialidade no sentido aristotélico. O método de trabalho de Voegelin – reconhecível 
desde início e que iria ser usado por ele para o resto da vida – não parte dos dados brutos 
mas começa logo por usar documentos teoréticos, auto-expressivos. Este procedimento faz 
lembrar Aristóteles, que partia da “opinião dos sábios”, mas também reflecte a influência que 
Eric Voegelin recebeu de Eduard Meyer, que fazia a interpretação dos factos históricos a 
partir da auto-interpretação que os vários agentes do processo tiveram, desde que já 
elaborada teoreticamente. Esta metodologia permite diminuir o volume de trabalho a um 
nível praticável e também é útil para identificar linhas de significado (continuidade de um 
processo mental ao longo do tempo). Voegelin recebeu ainda uma influência significativa de 
Paul Friedländer, um grande estudioso de Platão que usava o método de remeter as ideias e 
as concepções filosóficas para as experiências reais que as tinham inspirado. α6 
 
55. Percurso intelectual de Eric Voegelin 
 Voegelin já tinha passado vários anos a escrever um manual de história das ideias 
políticas, tendo escrito milhares de páginas, quando percebeu que não havia continuidade 
entre ideias políticas a não ser ressaltando o fundo de onde emergiram essas ideias. Assim, as 
próprias doutrinas políticas teriam de ser investigadas como testemunhos auto-expressivos e 
não como doutrinas. Então, abandonou este trabalho e começou a redigir a sua grande obra, 
Ordem e História. Esta nova busca acabaria por entroncar com o interesse prévio que 
Voegelin tinha mostrado pelas ideologias de massas (fenómeno que ele assistiu de perto em 
Viena), e que o tinham levado a escrever dois livros sobre a ideia de raça (Race and State e 
The History of the Race Idea). Ele descobriu que a doutrina racista só se tornou possível com 
o surgimento do conceito biológico de raça, e que um discurso sobre a raça alheia não diz 
nada sobre as raças mas reflecte a identidade do grupo ideológico a partir do qual ele é 
proferido. Voegelin estudou neste período obras de autores tomistas e neo-tomistas, como 
Hans Urs von Balthazar e Henri de Lubac, tendo este último escrito A Crise do Humanismo 
Ateu, onde mostra que em autores como Nietzsche e Marx não há tanto uma rejeição de 
Cristo mas sobretudo uma inveja e uma vontade de tomar o Seu lugar. Isto iria ter um peso 
na ligação que Voegelin faria mais tarde entre as ideologias de massa e a heresia gnóstica. No 
livro The Political Religions, Voegelin faz uma primeira tentativa de estudo abrangente das 
29 
 
ideologias de massas. Ele via os movimentos de massas como uma espécie de religiões 
substitutivas, mas a analogia que logo lhe parece demasiado forçada, embora a ideia tenha se 
tornado influente. α6 
 
 
56. Representação e modelos de ordem 
 Depois de ter acumulado uma enorme quantidade de material sobre formas mentais 
(mente americana, ideia de raça, ideias políticas), Eric Voegelin buscou um terreno comum 
para investigar estas diferenças. Cada forma mental foi por ele encarada como um modelo de 
ordem, como uma tentativa de ordenar a vida humana a partir de um determinado factor. 
Surgiu, assim, o projecto de escrever uma história dos modelos de ordem, começando por 
abordar as grandes civilizações cosmológicas do oriente (Mesopotâmia, Egipto), que foram as 
primeiras a terem documentos auto-expressivos. Ele identificou nestas sociedades uma 
ordem cósmica, não porque as sociedades imitassem a ordem vislumbrada do cosmos mas 
porque se consideravam integradas nesta ordem, ao ponto de se considerar que a própria 
ordem do cosmos teria de ser preservada por rituais sociais. Trata-se de um modelo fechado, 
em que nada se encontra fora da sociedade, e outras ordens concorrentes teriam de ser 
incorporadas ou representariam apenas o caos. Estas ideias foram usadas na Nova Ciência 
da Política, em que Eric Voegelin estuda o fenómeno da representação. Ele percebe que não 
existe apenas uma representação política, através de pessoas, mas existe também uma 
representação existencial, em que a ordem como um todo representa a sociedade e fornece-
lhe, retroactivamente, os critérios de julgamento. Então, cada ordem cosmológica considera 
que incorpora a verdade total e que o que está fora dela não tem uma existência legítima, 
porque é falsa. α6 
 
57. “Israel e a Revelação” (Ordem e História I) 
 A revelação hebraica (tratada no primeiro volume de Ordem e História, juntamente 
com as civilizações cosmológicas) constitui um segundo modelo de ordem, onde se evidencia 
uma ordem divina muito acima da ordem cósmica. Contudo, esta ordem abria-se em 
primeiro lugar apenas para alguns indivíduos, tendo estes depois a função de ordenar a 
sociedade em torno a partir da própria ordenação das suas almas. O profeta obtinha uma 
ordem interna, que reflectia a sua relação com o Deus transcendente, e assim tornava-se juiz 
e reordenador da sociedade. Mas é uma tarefa sempre incompleta, as pessoas podem não 
obedecer ao profeta e podem mesmo recusar a revelação, como na história de Jonas (onde 
reaparece um resíduo do simbolismo cosmológico), pelo que Israel estava permanentemente 
em crise. É uma ordem muito mais exigente, depende

Outros materiais