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AULA 09 - DIREITOS DA PERSONALIDADE - DIREITO AO CORPO

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Especialista: Carlos Eduardo Ferreira de Souza 
 Disciplina: Direito Civil 
 carlosedufs 
 
AULA 09 
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL 
Direitos da Personalidade em Espécie: o Direito ao Corpo 
Olá, pessoal! Meu nome é Carlos e eu sou especialista em Direito Civil do Passei Direto. 
O objetivo dessa sequência de materiais é tentar explicar tudo sobre a disciplina de um jeito 
objetivo, completo e acessível, então faremos assim: vou trazer o assunto, citar o dispositivo legal, 
explicar um resumo do que isso significa, então vamos ver a jurisprudência mais recente sobre o tema, 
ou seja, tudo para ajudar na graduação, na pós- graduação e concursos públicos. 
Tudo certo? Então vamos começar! 
RELEMBRANDO... 
No último material, aprendemos sobre o que podemos chamar de parte geral dos direitos 
da personalidade, como o que são e suas características principais. A partir de agora, vamos tratar 
dos direitos da personalidade em espécie, aprendendo sobre aqueles que estão expressamente 
descritos no Código Civil, quais sejam: direito ao corpo, direito ao nome, direito à imagem, direito 
à honra e direito à privacidade. 
Hoje iniciaremos pelo primeiro deles: o direito ao corpo. 
DISPOSITIVO LEGAL 
 Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar 
diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. 
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma 
estabelecida em lei especial. 
 Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no 
todo ou em parte, para depois da morte. 
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo. 
 Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou 
a intervenção cirúrgica. 
DISPOSITIVO LEGAL 
Quando o Código Civil trata do direito ao corpo, ele se refere ao corpo vivo e ao corpo morto 
e, consequentemente, do direito à integridade física e à preservação do corpo do falecido. 
Conforme visto anteriormente, os direitos da personalidade são indisponíveis, ou seja, 
ninguém pode deles dispor e assim ocorre com o corpo. 
O art. 13 do Código Civil informa que ninguém pode dispor de seu próprio corpo quando 
isso gerar a redução permanente da integridade física ou contrariar os bons costumes. 
Rosenvald e Farias (2019), bem destacam as situações de esportes marciais (UFC/MMA) e 
cirurgias de retirada de costelas como hipóteses lícitas que não têm exigência médica e implicam 
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 Disciplina: Direito Civil 
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redução permanente da integridade física, mas são lícitas. Enquanto citam microchips implantados 
na pele para controlar a pessoa, que não implicam redução permanente da integridade física, mas 
são ilícitas. 
Então a pergunta seria: qual o verdadeiro critério? Temos que lembrar que a Constituição 
garante a dignidade humana, a vida digna, o que abarca a integridade física, razão pela qual o critério 
será esse: viola ou não viola a dignidade humana? Se a resposta for não, então pode. Se for sim, 
então fica vedado, sempre observando a autonomia privada para decidir e a capacidade do titular. 
O parágrafo único do artigo 13 fala na possibilidade da intervenção para fins de transplante. 
E isso é verdadeiro, como já ouvimos falar, mas muitas dúvidas pairam. 
A Lei 9.434/97 regula os transplantes no Brasil. 
Se o doador está vivo, quais são os requisitos para doação? 
1. Vontade do titular, que deve ser capaz no momento da decisão; 
a. Se houver incapaz, deve ser requerido judicialmente o transplante. 
2. Gratuidade do ato; 
3. Ausência de risco para a integridade, saúde e vida do titular. Assim, somente 
partes renováveis (sangue, pele, fígado) ou duplicadas (rim) podem ser doados. 
Sabemos que muitos pais e mães doariam o próprio coração apara salvar um filho, 
mas, em vida, o Direito Civil brasileiro veda a prática. 
E após a morte? Temos uma contradição, mas vamos começar pela parte em que os juristas 
concordam: 
1. Gratuidade do ato; 
2. Fins altruísticos ou científicos: para salvar/ajudar alguém ou para estudos, por 
universidades, por exemplo. 
3. Pode ser do corpo todo ou de parte 
Mas quem deve autorizar? Existe um conflito de normas. O Código Civil é uma lei ordinária, 
importante, mas tão somente ordinária, tal qual a Lei de Transplantes. Ocorre que o art. 14 do Código 
Civil diz que a disposição é do próprio corpo, ou seja, apenas o titular do corpo pode dispor dele 
para o destino após a morte. Enquanto isso, o art. 4º da Lei de Transplantes fala que a retirada de 
órgãos e partes do corpo dependem de autorização de cônjuge (entendemos que também o 
companheiro ou companheira) ou parente em linha reta ou colateral até o segundo grau, observada 
a linha sucessória (spoiler: descendentes, ascendentes ou irmãos, nessa ordem). 
Como resolver o conflito? A solução vem em sede doutrinária, no Enunciado 277 da Jornada 
de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal: 
“O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da disposição gratuita do próprio 
corpo, com objetivo científico ou altruístico, para depois da morte, determinou que 
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a manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a vontade dos 
familiares, portanto, a aplicação do art. 4º da Lei n. 9.434/97 ficou restrita à hipótese 
de silêncio do potencial doador.” 
 
Assim, se extrai que a vontade que vale é do doador (Código Civil), mas se ele não se 
manifestou em vida, a família decidirá, na ordem apontada na Lei de Transplantes. 
Na prática foi possível observar que os setores jurídicos de hospitais e demais locais têm 
dado preferência pela opção da família, por uma razão de ordem prática e que repugnamos 
moralmente: somente a família possui capacidade processual, enquanto o falecido ou falecida não 
a possuem. 
Toda disposição de corpo pode ser revogada a qualquer tempo. Exemplificando, hoje eu 
posso decidir ser doador e me manifestar através de opção em minha Carteira da OAB, mas nada 
impede que amanhã eu me dirija ao órgão e peça a troca de opção e deixe de ser um doador. 
Por fim, falando de intervenção médica, ninguém pode ser obrigado a se submeter a 
QUALQUER intervenção médica que importe risco de vida. E como dizia uma professora minha 
da faculdade: até desencravar uma unha gera risco de vida, então se entender que qualquer 
procedimento médico, por mais simples que seja, necessita de autorização expressa do paciente. 
E as Testemunhas de Jeová? Podem negar a transfusão de sangue, mesmo em caso de risco 
de vida (ou melhor, de morte)? Os tribunais variam e o tema será decidido em breve pelo Supremo 
Tribunal Federal, que já reconheceu sua repercussão geral (RE 1.212.272/AL). 
Recentemente, ainda, o Superior Tribunal de Justiça (REsp 1.693.718/RJ) definiu que não é 
preciso deixar declaração expressa da intenção de conservar o corpo a baixas temperaturas com 
intuito de, com o avanço da medicina, ser ressuscitado/reanimado, sendo admitidos todos os meios 
de provas, como testemunhas, documentos particulares, cartas, dentre outros.

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