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ELETRÔNICA ANALÓGICA AULA 1 Profª Viviana Raquel Zurro 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, estudaremos as características elétricas de materiais semicondutores e suas aplicações. Abordaremos assuntos referentes à junção de materiais semicondutores do tipo p e do tipo n (diodos). Veremos vários tipos de diodos e suas aplicações em diferentes circuitos eletrônicos. Além disso, analisaremos vários tipos de circuitos com diodos, estudando sua função de transferência. TEMA 1 – SEMICONDUTORES 1.1 Isolantes, condutores, semicondutores Nos materiais sólidos, os elétrons dos átomos interagem com os átomos vizinhos. Devido ao Princípio de exclusão de Pauli, que diz que dois elétrons do átomo não podem ter os quatro números quânticos iguais, quando aproximarmos dois ou mais átomos, os níveis de energia serão influenciados pelos átomos vizinhos. No caso dos sólidos, haverá um grande número de níveis de energia devido à proximidade dos átomos. Essa concentração de níveis de energia forma uma banda praticamente contínua, com a diferença dos níveis discretos que o átomo teria se estivesse isolado. Essas bandas de energia permitirão definir se o material é condutor, semicondutor ou isolante. Na Figura 1, podemos ver as bandas de energia para esses materiais. Figura 1 – Estrutura das bandas de energia de condutores, semicondutores e isolantes Fonte: Elaborado pela autora. 3 A banda de valência corresponde aos níveis de energia profundas. Essa faixa está completamente ocupada por elétrons. A BV é pouco afetada pela presença de outros átomos. A BC está parcialmente preenchida, e os elétrons que se encontram nela favorecem a condução. A BP aparece na estrutura dos semicondutores e dos isolantes, a qual não tem estados permitidos de energia, portanto para que estes conduzam, os elétrons da BV têm que ter energia suficiente para passar para a BC. No caso dos semicondutores, isso pode acontecer em determinadas condições (temperatura, luz, campo elétrico etc.). No caso dos isolantes, é praticamente impossível porque os elétrons precisariam de um volume de energia muito grande. 1.1.1 Isolantes Nos materiais isolantes, a largura da banda proibida é muito grande, o que impossibilita a passagem de elétrons da banda de valência para a banda de condução. A energia que pode ser fornecida a um elétron é muito pequena para que ele consiga pular da BV para a BC, portanto a condução elétrica é impossível em materiais isolantes. 1.1.2 Condutores No caso dos condutores, a BV está superposta à BC. Como a BC está parcialmente cheia, sob qualquer campo elétrico aplicado, os elétrons adquirem energia suficiente como para se movimentar, preenchendo níveis de energia mais altos. 1.1.3 Semicondutor A largura da banda proibida dos materiais semicondutores é relativamente pequena (~1eV). Os materiais semicondutores mais utilizados na indústria eletrônica são o germânio e o silício representados na Figura 2. 4 Figura 2 – (a) Átomo de germânio; (b) Átomo de silício (a) (b) Créditos: BlueRingMedia / Shutterstock Nos semicondutores, a BP é suficientemente estreita para que alguns elétrons tenham energia suficiente para pular da BV para a BC, sob influência de luz, calor ou campo elétrico. Por exemplo, se um fóton de luz tiver energia equivalente ou superior à energia da banda proibida, o elétron atingido por esse fóton adquirirá energia suficiente para sair da banda de valência, pular a banda proibida e entrar na banda de condução como elétron livre. 1.2 Estrutura cristalina de um semicondutor 1.2.1 Ligação covalente O silício (Si) é o segundo elemento mais abundante na crosta terrestre, porém ele não é encontrado em estado puro. O germânio (Ge) é outro importante material semicondutor, mas é cada vez menos usado. A estrutura cristalina desses materiais é equivalente à apresentada na Figura 3. Essa estrutura se repete em três dimensões, formando os cristais de semicondutor. 5 Figura 3 – Estrutura cristalina em duas dimensões de um cristal de silício Fonte: Boylestqad; Nashelsky, 2013. Os átomos dessa estrutura estão ligados por meio das ligações covalentes. Nessas ligações, pares de elétrons de átomos vizinhos são compartilhados. Um átomo de Si tem 14 elétrons, dos quais somente quatro são elétrons de valência, portanto é um átomo tetravalente. O cristal de germânio tem 32 elétrons com quatro elétrons de valência, sendo também tetravalente. No caso da estrutura da Figura 3, o cristal se comporta como um isolante porque não existem elétrons livres que favoreçam a condução. A Figura 4 mostra a estrutura cristalina de outro semicondutor bastante usado, o arseneto de gálio (GaAs), o qual pertence ao grupo III – V, formado por átomos de dois materiais diferentes, o gálio de valência 3 e o arsênio de valência 5. 1.2.2 Lacunas Na temperatura ambiente, algumas ligações covalentes são quebradas porque alguns elétrons adquirem energia suficiente para passar da BV à BC. 6 Quando o elétron fica livre, a ligação à qual ele pertencia fica com um elétron só. O espaço da ligação que era ocupado pelo elétron na ligação fica vazio e recebe o nome de lacuna. Figura 4 – Estrutura cristalina em duas dimensões de um cristal de arseneto de gálio Fonte: Boylestqad; Nashelsky, 2013. Essa lacuna é muito importante no processo de condução de semicondutores, pois ela se comporta como um portador de carga positiva com efetividade similar à do elétron (carga negativa). Na Figura 5, é possível ver o cristal de Si nessas condições. 7 Figura 5 – Estrutura cristalina de Si com uma ligação covalente quebrada Fonte: Boylestqad; Nashelsky, 2013. Nos materiais semicondutores (diferentemente dos metais que são unipolares e conduzem somente por cargas negativas – elétrons), o processo de condução é bipolar, eles conduzem tanto por cargas negativas (elétrons), quanto por cargas positivas (lacunas). O mecanismo de condução é mostrado na Figura 6. Quando a ligação covalente está rompida, existe uma lacuna. Para o elétron do átomo vizinho, é relativamente fácil preencher essa lacuna. Esse elétron, ao se movimentar para preencher a lacuna, deixa uma lacuna na sua posição original. Dessa forma, a lacuna se movimenta no sentido oposto do elétron. A lacuna nessa nova posição pode ser preenchida por outro elétron de outra ligação. 8 Figura 6 – Mecanismo de condução num material semicondutor Fonte: Boylestqad; Nashelsky, 2013. No semicondutor puro (intrínseco), a quantidade de elétrons livres é igual à quantidade de lacunas. A agitação térmica produz novos pares elétron-lacuna, enquanto outros pares elétron-lacuna desaparecem por recombinação. 1.2.3 Dopagem Para melhorar a condutividade do semicondutor, são adicionadas ao semicondutor intrínseco pequenas quantidades de átomos trivalentes (valência 3) ou pentavalentes (valência 5). Nesse caso, o semicondutor é chamado de dopado, impuro ou extrínseco. 1.2.4 Átomos doadores Se a impureza introduzida no cristal semicondutor é composta por átomos pentavalentes, a estrutura cristalina fica como a mostrada na Figura 7: 9 Figura 7 – Estrutura cristalina contaminada por uma impureza pentavalente Fonte: Boylestqad; Nashelsky, 2013. As impurezas pentavalentes adequadas para contaminar um cristal semicondutor são antimônio (Sb), fósforo (P), e arsênio (As). Quando uma impureza doadora é adicionada, são introduzidos níveis permitidos de energia dentro da BP muito perto da BC. Os elétrons desses níveis de energia terão mais facilidade de entrar na BC que os que pertencem à BV do semicondutor. Nesse caso, o material obtido é um semicondutor do tipo n, em que a quantidade de elétrons aumentae a quantidade de lacunas diminui. No material do tipo n, os elétrons são os portadores majoritários (estão em maior quantidade), e as lacunas são os portadores minoritários. 1.2.5 Átomos aceitadores Se a impureza introduzida no cristal semicondutor é composta por átomos trivalentes, a estrutura cristalina fica como a mostrada na Figura 8: 10 Figura 8 – Estrutura cristalina contaminada por uma impureza trivalente Fonte: Boylestqad; Nashelsky, 2013. As impurezas trivalentes adequadas para contaminar um cristal semicondutor são boro (B), gálio (Ga), e índio (In). Quando uma impureza aceitadora é adicionada, são introduzidos níveis permitidos de energia dentro da BP muito perto da BV. Os elétrons da BV terão mais facilidade de pular para esses níveis de energia que para a BC. Nesse caso, o material obtido é um semicondutor do tipo p, em que quantidade de lacunas aumenta e a quantidade de elétrons diminui. No material do tipo p, as lacunas são os portadores majoritários (estão em maior quantidade), e os elétrons são os portadores minoritários (Millman; Halkias, 1972). TEMA 2 – A JUNÇÃO P-N O grande segredo do todo dispositivo eletrônico (desde um simples diodo até o computador mais sofisticado) está na junção p-n. Quando um cristal de silício é contaminado por impurezas doadoras de um lado e por impurezas aceitadoras do outro, no lugar em que as duas encostam forma-se a junção p-n. 11 Tanto um simples diodo quanto o processador mais avançado baseiam seu funcionamento nessa junção. 2.1 A junção p-n em circuito aberto No momento em que a junção é formada, no ponto de contato, elétrons do lado n atravessam (mecanismo de difusão) a junção, preenchendo as lacunas do lado p. Forma-se assim uma região de carga espacial. Essa região possui cargas fixas porque os átomos aceitadores do lado p “aceitaram” um elétron do lado n, tornando-se íons negativos, e átomos doadores do lado n “doaram” um elétron para preencher as lacunas do lado p, tornando-se íons positivos. A região de carga espacial, também chamada região de transição ou região de depleção, tem uma largura equivalente ao comprimento de onda da luz visível (0,5 µm) e não possui cargas móveis. A distribuição de cargas fixas cria um campo elétrico na junção, cujas linhas de campo vão da região n para a região p. A existência desse campo elétrico gera um potencial eletrostático cuja variação na região de depleção constitui numa barreira de potencial que impede o fluxo de elétrons da região n. A Figura 9 mostra a junção p-n em equilíbrio sem aplicação de campo elétrico externo. 12 Figura 9 – Junção p-n em circuito aberto, região de carga espacial e potencial de contato Fonte: Wikipédia, 2018. 2.2 Diodos – A junção p-n como retificador A característica elétrica fundamental da junção p-n é que ela permite a circulação de corrente em um sentido, mas a bloqueia no sentido contrário. O dispositivo que realiza essa função de retificador é o diodo. A Figura 10 mostra o símbolo do diodo e a circulação de corrente que nele ocorre. 13 Figura 10 – Diodo, tensões e correntes. Polarização direta (chave fechada – verde) Polarização reversa (chave aberta – vermelho) Fonte: Elaborado pela autora. O símbolo do diodo indica o sentido de circulação da corrente. Se o sentido da corrente é o mesmo da flecha (corpo) do diodo, haverá corrente circulando pelo circuito. Se o sentido da corrente é em direção ao traço, o diodo abrirá e não circulará corrente. Basicamente, o diodo é uma chave eletrônica, cuja abertura ou fechamento depende do sentido de circulação da corrente. Devido a esse comportamento, o diodo é um dispositivo usado para diferentes aplicações. Além de ser usado como uma chave eletrônica, dependendo do material usado na sua construção, pode ser usado em muitas outras aplicações, como ser emissor de luz, receptor de luz, capacitor variável e outros. 2.2.1 Polarização reversa A Figura 11 (a) mostra um diodo conectado a uma bateria. Como podemos observar, o negativo da bateria é ligado ao lado p do diodo e o positivo ao lado n. Essa conexão faz com que os elétrons e as lacunas se afastem da junção. Como as lacunas representam cargas positivas, elas são atraídas pelo negativo da fonte, e como os elétrons são cargas negativas, eles são atraídos pelo terminal positivo da fonte. Dessa forma, a região de carga espacial fica mais larga, aumentando a altura da barreira de potencial. 14 2.2.2 Polarização direta Se uma fonte externa é conectada, como mostra a Figura 11 (b), o diodo estará diretamente polarizado. Aplicando essa tensão, a barreira de potencial da junção ficará menor, permitindo a passagem de portadores por ela. No lado p, as lacunas serão empurradas a atravessar a junção sendo repelidas pelo terminal positivo da fonte, e os elétrons serão atraídos pelo mesmo terminal. No lado n, os elétrons serão empurrados a atravessar a junção, sendo repelidos pelo terminal positivo da fonte, e as lacunas serão atraídas pelo mesmo terminal. Dessa forma, haverá circulação de corrente na junção. Figura 11 – Junção p-n polarizada reversamente (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. 15 2.2.3 Contatos ôhmicos Os contatos metálicos nos extremos do dispositivo permitirão que este possa ser usado em circuitos eletrônicos. É possível ver que se formaram duas junções metal semicondutor nos extremos do diodo. Nessas novas junções haverá um potencial de contato, mas elas devem ser fabricadas de tal forma que não sejam retificantes. Portanto, o potencial delas deve ser constante, independente do sentido e da magnitude da corrente. Esses contatos são chamados contatos ôhmicos. 2.3 Componentes de correntes em uma junção p-n Quando o diodo está polarizado diretamente, lacunas são injetadas na região n e elétrons na região p. Os mecanismos de condução da corrente são difusão e deriva, os quais são responsáveis pelo movimento dos portadores. O mecanismo de deriva se deve à aplicação de um campo elétrico externo. Nesse caso, os portadores (elétrons e lacunas) são acelerados pelo campo elétrico externo até atingir a velocidade de deriva. As lacunas, por serem portadores positivos de carga, se moverão no sentido do campo aplicado, enquanto os elétrons (com carga negativa) circularão no sentido contrário ao campo aplicado. Na Figura 12, 𝐼𝐼𝑝𝑝𝑝𝑝 representa a corrente de deriva de lacunas no material p, e 𝐼𝐼𝑛𝑛𝑛𝑛, a corrente de deriva dos elétrons no material n. O processo de difusão se deve à agitação térmica que provoca um movimento aleatório de portadores. Considerando o fluxo de cargas, se o pedaço de silício tiver concentração uniforme de elétrons e lacunas, não haverá corrente. Mas se, por qualquer razão, houver um gradiente de concentração maior de portadores (exemplo elétrons) num extremo do dispositivo em relação ao outro extremo, os portadores difundem da região de maior concentração para a região de menor concentração, havendo como resultado um fluxo de carga, portanto aparece uma corrente de difusão. Na Figura 12, 𝐼𝐼𝑝𝑝𝑛𝑛 representa a corrente de deriva de lacunas no material n, e 𝐼𝐼𝑛𝑛𝑝𝑝 a corrente de deriva dos elétrons no material p. Uma forma fácil de entender esses dois mecanismos é observando o mar em contato com a praia. As gotas de água no mar (elétrons no material n ou lacunas no material p) se movimentam por deriva. No ponto de contato entre a areia e a água (junção), os grãos de areia difundem no meio líquido que é o mar, 16 e as gotas de água difundem na areia, penetrando nos espaços livres entre os grãos (lacunas no material do tipo n e elétrons no material do tipo p). Figura 12 – Componentes de corrente em uma junção p-n Fonte: Wikipédia, 2018. Saiba mais O vídeo indicado a seguir mostra todo o processo de formação de uma junçãop-n e o princípio de funcionamento de um diodo de junção: LA UNIÓN PN. ¿Cómo funcionan los diodos? FM Gomez Campos, 4 maio 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hsJGw_c-Nn4>. Acesso em: 30 jul. 2019. 2.4 Característica Volt-Ampère A característica Volt-Ampère (Figura 13) representa a variação da corrente no diodo como consequência da variação de tensão nos seus terminais. O eixo horizontal representa a variação da tensão e o eixo vertical a variação de corrente. Podemos observar que, para tensões negativas, a corrente circulando no diodo (corrente de fuga) é desprezível, podendo ser considerada igual a zero. Mas se a tensão reversa for muito grande (a folha de dados do diodo especifica esse valor de tensão reversa), podemos atingir a região de ruptura onde o diodo rompe por avalanche (queima). Para tensões positivas aplicadas aos terminais 17 do diodo, o diodo estará polarizado diretamente, comportando-se como uma chave fechada. Para que aconteça a condução da tensão, devido às características da junção, a tensão positiva deverá superar o limiar de condução 𝑉𝑉𝛾𝛾 = 0,5𝑉𝑉 para um diodo de silício. Na polarização direta, o diodo real apresentará uma pequena resistência (na faixa de 1 a 15Ω) devido ao corpo físico deste e uma queda de tensão igual a 0,7V para o diodo de silício. Quando trabalhamos com circuitos eletrônicos, durante o desenvolvimento, é comum usar modelos elétricos que representem os dispositivos. As aproximações utilizadas para desenvolver circuitos com diodos são as seguintes: • Primeira aproximação; • Segunda aproximação; • Terceira aproximação. Figura 13 – Curva característica Volt – Ampère de um diodo real Fonte: Mitchel, 2011. Primeira aproximação (diodo ideal) Quando trabalhamos com tensões bem maiores do que 0,7V e resistências acima de 100Ω, podemos considerar o diodo ideal. Esse diodo não existe e só serve como modelo aproximado. Essa primeira aproximação pode 18 apresentar erros grandes, principalmente de trabalhamos com tensões de até 10 a 15V. A primeira aproximação está representada na Figura 14. Segunda aproximação Na segunda aproximação, a queda de tensão de 0,7V no diodo de silício (0,2V no de germânio) deverá ser considerada. Na maioria dos casos, essa é a aproximação mais apropriada para trabalhar com diodos. A primeira aproximação está representada na Figura 15. Terceira aproximação Na terceira aproximação, a queda de tensão de 0,7V no diodo de silício (0,2V no de germânio) e a resistência direta (resistência do corpo do diodo) deverão ser consideradas. A primeira aproximação está representada na Figura 16. Figura 14 – Curva e circuitos equivalentes para a primeira aproximação – diodo ideal Característica Polarização direta Polarização reversa Fonte: Elaborado pela autora. Figura 15 – Curva e circuitos equivalentes para a segunda aproximação Característica Polarização direta Polarização reversa Fonte: Elaborado pela autora. 19 Figura 16 – Curva e circuitos equivalentes para a terceira aproximação Característica Polarização direta Polarização reversa Fonte: Elaborado pela autora. 2.5 Tipos de diodos Existem vários tipos de diodos para diferentes aplicações. Na Figura 17, são apresentados alguns tipos de diodos dos quais falaremos brevemente nesta seção. Figura 17 – Tipos de diodos Fonte: Oliveira, 2016. 2.5.1 Genérico É o diodo comum usado para retificação, permitindo a circulação da corrente em um único sentido. 20 2.5.2 Zener O diodo Zener (também chamado de diodo regulador de tensão) na polarização direta se comporta como um diodo retificador com tensão de condução de 0,65V. Mas na região reversa, quando atinge a tensão de ruptura, o diodo rompe por avalanche (mas não queima) fixando um valor de tensão chamado Tensão de Zener, que serve como referência porque esse valor de tensão é altamente estável e muito usado como tensão de referência em circuitos de fontes de contínua. 2.5.3 Túnel (ou Esaki) São diodos usados em circuitos de muito alta frequência. Em determinadas regiões da característica, eles se comportam como resistência negativa, ou seja, diminuem a tensão e aumentam a corrente. Esse comportamento somente acontece em tensões bem baixas na polarização direta. Para outras tensões, eles se comportam como diodos comuns. São usados principalmente em osciladores de VHF (Very High Frequency – muito altas frequências) e ou UHF (Ultra High Frequency – “Ultra Altas Frequências”, muitos maiores do que VHF). 2.5.4 Schottky O diodo Schottky é usado em circuitos de comutação, sistemas de pulsos de curta duração e circuitos de proteção contra transientes. A queda de tensão na polarização direta desse diodo é muito pequena e tem comutação ultrarrápida, o que o faz adequado para as aplicações mencionadas. Mas ele apresenta algumas desvantagens, como elevada corrente de fuga na polarização reversa e não pode ser usado em temperaturas elevadas. 2.5.5 Diodos emissores de luz 2.5.5.1 LED O LED (Light Emitting Diode ou Light Emitting Device – “diodo emissor de luz”) é uma junção p-n que, quando diretamente polarizada, emite luz com banda espectral relativamente estreita (não monocromática). O princípio de 21 funcionamento é o seguinte: em toda junção p-n polarização direta há recombinação de elétrons e lacunas. No momento da recombinação, toda a energia que o elétron trazia deve ser liberada de alguma maneira. Essa energia pode ser liberada como calor ou luz (fótons). Na maioria dos dispositivos eletrônicos, essa energia é liberada em forma de calor (por isso os dispositivos esquentam). Quando se trabalha com potências maiores, os dispositivos podem vir a precisar de dissipadores para manter a temperatura em valores aceitáveis sem comprometer o funcionamento do circuito. No caso dos LEDs, a energia dissipa-se em forma de luz. Em alguns materiais (por exemplo, fosfeto de gálio (GaP) ou arseneto de gálio (GaAs), a quantidade de fótons produzida é suficiente como para emitir luz. A Figura 18 mostra o processo de eletroluminescência responsável pela emissão de luz quando a junção está diretamente polarizada. Na polarização reversa, o LED comporta-se como um diodo comum. Figura 18 – Processo de eletroluminescência numa junção p-n diretamente polarizada Fonte: Elaborado pela autora. 22 2.5.5.2 Diodo laser O diodo laser (do inglês Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation – “amplificação de luz por emissão estimulada de radiação”), também chamado LD (laser diode), é parecido com o LED, mas é possível dizer, como seu nome indica, que é um amplificador de luz. Ele é constituído por diversos materiais (gases, pedras preciosas e ou metais) que geram luz quando ligados a uma fonte de alimentação. Ele é amplamente usado em várias áreas, por exemplo em comunicação por fibra ótica, gravação de CD, Blu-ray, DVD, iluminação, na área médica, etc. 2.5.6 Varicap No diodo varicap ou varactor, a capacitância parasita da junção passa a ter fundamental importância. A capacitância varia de acordo com a tensão reversa aplicada. Considerando o capacitor de placas paralelas mostrado na Figura 19 e a equação (1) que mostra o cálculo da capacitância, é possível ver que quanto a maior tensão reversa, maior será a distância 𝑑𝑑 entre placas e a capacitância será menor. Portanto a capacitância depende da tensão externa reversa aplicada ao dispositivo. 𝐶𝐶 = 𝜀𝜀𝜀𝜀 𝑑𝑑 (1) O valor da capacitância depende de: • Área enfrentada das placas; • Permissividade do material dielétrico 𝜀𝜀 (também chamada de constante dielétrica); • Distância entre as placas. 23 Figura 19 – Esquema de um capacitor de placas paralelas Fonte: Elaborado pela autora. Este diodo é muito usado em circuitosseletores de canal para sintonia de rádio e TV. 2.5.7 Shockley O diodo Shockley também é chamado de diodo tiristor ou diodo de quatro camadas. É semelhante a um SCR, mas sem o terminal de porta. Ele conduz somente numa direção sempre que a tensão nos terminais seja maior do que um valor especificado pelo fabricante 2.5.8 PIN O diodo PIN, cujo nome provém da sua composição (material p – material intrínseco – material n) é geralmente usado como chave, limitador ou atenuador em aplicações de alta frequência. 2.5.9 Fotodiodo Esses dispositivos captam a luz e a convertem em eletricidade. A geração de corrente acontece da seguinte maneira: quando o fóton incide na junção p-n inversamente polarizada, gera pares elétron – lacuna sempre que a sua energia seja suficiente para que isso aconteça. Esses elétrons liberados dessa maneira e as lacunas formadas pela liberação destes elétrons favorecem a circulação de corrente elétrica. As células solares de geração de energia são fotodiodos com 24 grandes superfícies. A Figura 20 mostra a geração de pares elétron – lacuna numa junção p-n. Figura 20 – Fotodiodo com polarização reversa da junção, princípio de funcionamento Fonte: Elaborado pela autora. TEMA 3 – RETIFICADORES Os circuitos eletrônicos precisam de fontes de alimentação CC (corrente contínua). A energia elétrica fornecida pelas concessionárias de energia é alternada (CA senoidal). Para transformar o sinal alternado proveniente da rede de energia em um sinal contínuo, o primeiro passo é retificá-lo. Retificar significa anular (meia onda) ou tornar positivo (onda completa) o semiciclo negativo do sinal da rede, ou seja, fazer com que a corrente circule somente em um sentido. Os circuitos responsáveis por essa ação são os retificadores, e os elementos que realizam a retificação são os diodos retificadores. Existem dois tipos de retificadores: • Retificador de meia onda; • Retificador de onda completa. 25 Para todos os circuitos a seguir nesta aula e em todas as aulas e disciplinas que envolvam sistemas de processamento de sinais, definiremos o que significa a curva de transferência. Saiba mais Curva de transferência: é um gráfico que relaciona o sinal de saída com o sinal de entrada do sistema. Ela determina o comportamento do sistema e indica como vai ser o processamento do sinal de entrada que vai resultar em um determinado sinal de saída. O projetista, quando está projetando um sistema, na realidade está projetando a curva de transferência para que o sistema realize o processamento necessário para se obter uma saída específica. 3.1 Retificador de meia onda O retificador de meia onda consta de um diodo em série com a saída do gerador. No circuito da Figura 21, 𝑇𝑇 é o transformador abaixador diretamente ligado à rede elétrica e 𝑅𝑅𝐿𝐿 representa a resistência de carga (L de load, que, em inglês, significa carga) do circuito seguinte (equivalente Thevenin do circuito). Figura 21 – Retificador de meia onda Fonte: Elaborado pela autora. Curva de transferência • Se 𝑣𝑣𝑖𝑖 ≤ 0, o diodo D1 está polarizado reverso, portanto 𝑣𝑣𝑜𝑜 = 0; • Se 𝑣𝑣𝑖𝑖 > 0, o diodo D1 está diretamente polarizado, portanto 𝑣𝑣𝑜𝑜 ≅ 𝑣𝑣𝑖𝑖 (com uma pequena queda de 0,7V devida ao diodo). Quando o diodo está aberto (semiciclo negativo), suporta toda a tensão do secundário do transformador, por isso é importante verificar qual é a máxima 26 tensão de pico inverso que ele aguenta (dado do fabricante) para não queimar por avalanche. Na Figura 22 (a), podemos ver a tensão de entrada (no secundário do transformador) do retificador em verde e, em azul, a tensão de saída. Na tensão de saída, o semiciclo negativo foi cortado, ficando somente o semiciclo positivo. Na Figura 22 (b), podemos ver a curva de transferência do circuito Figura 22 – (a) Tensões de entrada e saída de um retificador de meia onda (fonte própria); (b) Curva de transferência otimizada (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. No projeto de fonte contínua, os capacitores devem ser colocados em paralelo com a saída do retificador e antes do circuito regulador para reduzir a oscilação do sinal. A Figura 23 mostra o retificador com filtro capacitivo e os sinais de entrada e saída. Figura 23 – (a) Retificador de meia onda com filtro capacitivo; (b) Sinais de entrada e saída do circuito (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. 27 3.2 Retificadores de onda completa Existem dois tipos principais de retificadores de onda completa com diodos: • Retificador de onda completa com derivação (tap) central; • Retificador de onda completa em ponte. 3.2.1 Retificador de onda completa com derivação central Esse retificador é composto por dois diodos e um transformador com derivação central no secundário. A Figura 24 mostra o circuito desse retificador. Figura 24 – Retificador de onda completa com derivação central Fonte: Elaborado pela autora. O princípio de funcionamento do retificador é mostrado na Figura 25. Devido à polaridade da tensão, no semiciclo positivo a corrente (verde) circula favorecendo a polarização direta do diodo D1, fechando-o. Parte da corrente se desvia para o diodo D2, mas, como ela está no sentido do traço (e não da flecha) do diodo, este se abre, impedindo o passo da corrente. Dessa forma, toda a corrente será desviada para a carga voltando através dela para o transformador. No semiciclo negativo, a corrente (verde) circula, favorecendo a polarização direta do diodo D2, fechando-o. Parte da corrente se desvia para o diodo D1, mas como ela está no sentido do traço (e não da flecha) do diodo, este se abre, impedindo o passo da corrente. Desta forma toda a corrente será desviada para a carga voltando através dela para o transformador. Dessa forma, como a corrente está entrando sempre no mesmo ponto da carga, a tensão de saída 𝑣𝑣𝑜𝑜 será sempre positiva. 28 Figura 25 – Princípio de funcionamento do um retificador de onda completa com tap central. (a) Semiciclo positivo; (b) Semiciclo negativo (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. Quando qualquer um dos diodos está aberto, ele suporta a soma das tensões dos dois secundários do transformador, portanto a tensão de pico inverso pode vir a ser muito grande. Curva de transferência • Se 𝑣𝑣𝑖𝑖 ≤ 0, o diodo D1 está polarizado reverso e D2 direto, portanto 𝑣𝑣𝑜𝑜 ≅ −𝑣𝑣𝑖𝑖 (com uma pequena queda de 0,7V devida ao diodo); • Se 𝑣𝑣𝑖𝑖 > 0, o diodo D1 está diretamente polarizado e D2 reverso, portanto 𝑣𝑣𝑜𝑜 ≅ 𝑣𝑣𝑖𝑖 (com uma pequena queda de 0,7V devida ao diodo). Na Figura 26 (a), podemos ver a tensão de entrada (no secundário do transformador) do retificador em verde e, em azul, a tensão de saída. Na Figura 26 (b), podemos ver a curva de transferência do retificador. Figura 26 – (a) Tensões de entrada e saída de um retificador de onda completa com derivação central; (b) Curva de transferência otimizada de um retificador de onda completa com derivação central (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. 29 A Figura 27 mostra o retificador com filtro capacitivo e os sinais de entrada e saída. Figura 27 – (a) Retificador de onda completa com derivação central com filtro capacitivo; (b) Sinais de entrada e saída do circuito (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. 3.2.2 Retificador de onda completa em ponte Esse retificador é composto por quatro diodos e um transformador com secundário único. A Figura 28 mostra o circuito desse retificador. Figura 28 – Retificador de onda completa em ponte Fonte: Elaborado pela autora. O princípio de funcionamento do retificador é mostrado na Figura 29. Devido à polaridade da tensão, no semiciclo positivo a corrente (verde) circula, favorecendo a polarização direta do diodo D4, fechando-o. Parte da corrente se desvia parao diodo D1, mas, como ela está no sentido do traço (e não da flecha) dele, ele abre, impedindo a passagem da corrente. Depois do diodo D4, parte da corrente se desviará ao diodo D3, abrindo-o. Dessa forma, toda a corrente será desviada para a carga, voltando para o transformador através dela e do diodo 30 D2 diretamente polarizado. No semiciclo negativo, a corrente (verde) circula, favorecendo a polarização direta do diodo D3, fechando-o. Parte da corrente se desvia para o diodo D2, mas, como ela está no sentido do traço (e não da flecha) dele, o diodo se abre, impedindo a passagem da corrente. Depois do diodo D3, parte da corrente se desviará para o diodo D4, abrindo-o. Dessa forma, toda a corrente será desviada para a carga, voltando para o transformador através dela e do diodo D1 diretamente polarizado. Assim, como a corrente está entrando sempre no mesmo ponto da carga, a tensão de saída 𝑣𝑣𝑜𝑜 será sempre positiva. Figura 29 – Princípio de funcionamento do um retificador de onda completa em ponte. (a) Semiciclo positivo; (b) Semiciclo negativo (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. Quando qualquer um dos diodos está aberto, ele suporta a tensão do secundário do transformador, portanto eles estão bem menos exigidos (tensão de pico inverso) que os diodos do retificador com tap central. Curva de transferência • Se 𝑣𝑣𝑖𝑖 ≤ 0, os diodos D1 e D3 diretamente polarizados e D2 e D4 reversamente polarizados, portanto 𝑣𝑣𝑜𝑜 ≅ −𝑣𝑣𝑖𝑖 (com uma pequena queda de 0,7V devida aos diodos); • Se 𝑣𝑣𝑖𝑖 > 0 os diodos D2 e D4 diretamente polarizados e D1 e D3 reversamente polarizados, portanto 𝑣𝑣𝑜𝑜 ≅ 𝑣𝑣𝑖𝑖 (com uma pequena queda de 0,7V devida aos diodos). Na Figura 30 (a), podemos ver a tensão de entrada (no secundário do transformador) do retificador em verde e, em azul, a tensão de saída. Na Figura 30(b), podemos ver a curva de transferência do retificador. 31 Figura 30 – (a) Tensões de entrada e saída de um retificador de onda completa em ponte; (b) Curva de transferência otimizada de um retificador de onda completa em ponte (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. A Figura 31 mostra o retificador com filtro capacitivo e os sinais de entrada e saída. Figura 31 – (a) Retificador de onda completa com filtro capacitivo; (b) Sinais de entrada e saída do circuito (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. 3.3 Comparação entre os três tipos de retificadores Nas Figuras 23, 27 e 31, podemos observar que a amplitude do ripple é o dobro no retificador de meia onda porque o semiciclo negativo é anulado. Nos retificadores de onda completa, esse semiciclo é defasado 180o, aparecendo como positivo para a carga. Nesse caso, o capacitor tem menos tempo para descarregar, portanto a amplitude da oscilação é a metade do que no retificador de meia onda. Devido a isso, os retificadores de onda completa são mais usados no projeto de fontes. 32 No caso dos retificadores de onda completa, o retificador com derivação central apresenta duas desvantagens importantes em relação ao retificador em ponte: • No primeiro os diodos suportam uma tensão de pico inverso que é o dobro da suportada pelos diodos do retificador em ponte; • Os transformadores com derivação central são mais caros que os que têm um secundário único e são maiores em tamanho. Por essas razões, o retificador mais usado em projeto de fontes é o retificador em ponte. TEMA 4 – CEIFADORES Circuitos ceifadores (também chamados de limitadores, seletores de amplitude ou cortadores) são usados para selecionar e transmitir parte de um sinal variável qualquer que está abaixo ou acima de um determinado nível de referência. Existem ceifadores que cortam o sinal acima do nível de referência, outros que cortam abaixo do nível de referência, e outros que cortam em dois níveis de referência diferentes, deixando passar somente a parte da onda que se encontra entre os dois níveis (Boylestad; Nashelsky, 2013). Os circuitos ceifadores são usados em: • Sistemas de proteção (cortadores): evitam picos de tensão acima ou abaixo de um determinado nível; • Comparadores: determinam se a tensão ultrapassou (para cima ou para baixo – depende das necessidades do sistema) ou não um certo nível de referência; • Seletores de amplitude: selecionam parte do sinal de interesse do sistema. Os circuitos ceifadores podem ser usados como comparadores. O circuito comparador é usado para verificar quando um sinal qualquer atinge um nível de referência. A diferença entre o comparador e o ceifador consiste principalmente em que o comparador não precisa reproduzir qualquer forma de onda e sim “avisar” se a onda ultrapassou um certo nível. 33 4.1 Ceifadores em um nível Existem vários tipos de circuitos ceifadores em um nível. Em alguns deles, a tensão de referência (corte) é positiva; em outros, negativa, dependendo das necessidades do circuito. Nos ceifadores em níveis positivos, o sinal pode ser cortado acima ou abaixo do nível de referência positivo. Nos ceifadores em níveis negativos, o sinal pode ser cortado acima ou abaixo do nível de referência negativo. Em alguns casos, o diodo está em série com o sinal de entrada e, em outros, em paralelo. Como o diodo apresenta uma capacitância parasita, em altas frequências (mesmo polarizado reverso) pode transmitir sinal através dela. Devido a isso, a colocação do diodo em série ou em paralelo dependerá das características do sinal de entrada e das necessidades do circuito. 4.2 Ceifadores em níveis positivos Nas figuras 32 e 33, temos exemplos de ceifadores em níveis de tensão positivos. 4.2.1 Cortadores abaixo de um nível de referência Na Figura 32, podemos ver dois ceifadores que cortam o sinal abaixo de um nível de referência positivo. Tensão de entrada em vermelho e de saída em amarelo. Figura 32 – Ceifadores abaixo de um nível de referência: (a) Diodo em série com a entrada; (b) Diodo em paralelo com a saída 34 (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. 4.2.2 Cortadores acima de um nível de referência Na Figura 33, podemos ver dois ceifadores que cortam o sinal acima de um nível de referência positivo. Tensão de entrada em vermelho e de saída em amarelo. Figura 33 – Ceifadores abaixo de um nível de referência: (a) Diodo em série com a entrada; (b) Diodo em paralelo com a saída (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. 4.3 Ceifadores em níveis negativos Nas figuras 34 (a) e 34 (b), temos exemplos de ceifadores em níveis de tensão negativos. 35 4.3.1 Cortadores abaixo de um nível de referência Na Figura 34, podemos ver dois ceifadores que cortam o sinal abaixo de um nível de referência negativo. Tensão de entrada em vermelho e de saída em amarelo. Figura 34 – Ceifadores abaixo de um nível de referência: (a) Diodo em série com a entrada (b) Diodo em paralelo com a saída (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. 4.3.2 Cortadores acima de um nível de referência Na Figura 35, podemos ver dois ceifadores que cortam o sinal acima de um nível de referência positivo. Tensão de entrada em vermelho e de saída em amarelo. 36 Figura 35 – Ceifadores abaixo de um nível de referência: (a) Diodo em série com a entrada; (b) Diodo em paralelo com a saída (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. 4.4 Ceifadores em dois níveis Os ceifadores em dois níveis servem para selecionar uma parte do sinal de entrada. Por exemplo, em sistemas de proteção. No momento de ligar determinados equipamentos, os sobrepicos aparecem tanto para tensões positivas quanto negativas, sendo necessário limitar a amplitude tanto positiva quanto negativa. Outras vezes é necessário resgatar somente valores de sinais dentro de dois níveis. A Figura 36 mostra dois tipos de ceifadores em dois níveis.37 Figura 36 – Ceifadores em dois níveis: (a) Ceifador em dois níveis positivos independentes; (b) Ceifador com zener (a) (b) Fonte: Elaborado pela autora. TEMA 5 – OUTROS CIRCUITOS COM DIODOS 5.1 Grampeadores Um circuito grampeador fixa o pico positivo ou negativo do sinal para que não ultrapasse um determinado valor DC (positivo ou negativo). O grampeador não corta o sinal (a variação pico a pico se mantém); ele move para cima ou para baixo o sinal inteiro. Eles são usados quando o sinal deve permanecer inteiro, mas não deve ultrapassar um determinado nível de tensão (Millman; Halkias, 1972). Em seguida, serão apresentados vários circuitos grampeadores com seus respectivos sinais de entrada e saída. 5.2 Grampeador de pico positivo em um nível positivo de tensão O circuito grampeador da Figura 37 grampeia o pico positivo do sinal numa tensão igual à da fonte de contínua (nesse caso, 3,6V) mais a tensão de limiar de condução do diodo, que é 0,7V. Nesse caso, o pico positivo do sinal de saída está grampeado em 4,3V. 38 Figura 37 – Circuito grampeador de pico positivo num nível positivo de tensão e sinais de entrada (vermelho) e saída (verde) (fonte própria) Fonte: Elaborado pela autora. 5.3 Grampeador de pico positivo em um nível negativo de tensão O circuito grampeador da Figura 38 grampeia o pico positivo do sinal numa tensão igual à da fonte de contínua (neste caso -3,6V) mais a tensão de limiar de condução do diodo, que é 0,7V. Nesse caso, o pico positivo do sinal de saída está grampeado em -2,9V. Figura 38 – Circuito grampeador de pico positivo num nível negativo de tensão e sinais de entrada (vermelho) e saída (verde). Fonte: Elaborado pela autora. 5.4 Grampeador de pico negativo em um nível positivo de tensão O circuito grampeador da Figura 39 grampeia o pico negativo do sinal numa tensão igual à da fonte de contínua (neste caso 3,6V) menos a tensão de limiar de condução do diodo, que é 0,7V. Nesse caso, o pico negativo do sinal de saída está grampeado em 2,9V. 39 Figura 39 – Circuito grampeador de pico negativo num nível positivo de tensão e sinais de entrada (vermelho) e saída (verde) Fonte: Elaborado pela autora. 5.5 Grampeador de pico negativo em um nível negativo de tensão O circuito grampeador da Figura 40 grampeia o pico negativo do sinal numa tensão igual à da fonte de contínua (neste caso -3,6V) menos a tensão de limiar de condução do diodo, que é 0,7V. Nesse caso, o pico positivo do sinal de saída (verde na Figura 40) está grampeado em -4,3V. Figura 40 – Circuito grampeador de pico negativo num nível negativo de tensão e sinais de entrada (vermelho) e saída (verde). Fonte: Elaborado pela autora. 5.6 Detectores de envoltória Os circuitos detectores de pico, também chamados de detectores de envoltória, servem para recuperar um sinal que vem montado numa portadora (sinal de altíssima frequência que carrega o sinal de interesse). Por exemplo, o sinal de áudio que é transmitido por rádio modula um sinal de altíssima frequência (portadora) em amplitude (AM) ou em frequência (FM). Para poder escutar, é necessário resgatar esse sinal. Para isso, são usados os circuitos detectores de pico. Esse circuito funciona da seguinte maneira, no semiciclo 40 positivo quando a tensão de entrada supera a tensão do capacitor, o diodo se fecha, carregando o capacitor na tensão de pico. Quando a tensão de entrada diminui, o capacitor descarrega na resistência em paralelo com ele, até a tensão de entrada voltar a ultrapassar o valor da tensão do capacitor. Assim o ciclo se repete. A onda do sinal de áudio é recuperada desse jeito. Na Figura 41, é apresentado o detalhe da onda recuperada. Para o sinal de FM, o processo é similar. Figura 41 – Circuito detector de pico e sinal de entrada modulada em AM (vermelho) e saída (verde). Fonte: Elaborado pela autora. 5.7 Aplicações digitais Uma vez que os diodos são dispositivos liga desliga, eles também são usados em aplicações digitais como modelos de circuitos mais complexos. 5.7.1 Tipos de lógica Em eletrônica digital, não existem 0 e 1, mas existem níveis de tensão. Os números “0” e “1” lógicos são, na realidade, tensões que o sistema consegue ler e interpretar. Para cada família lógica, essas tensões têm valores diferentes (TTL e MOS - CMOS). A Figura 42 mostra os níveis lógicos de tensão das duas famílias mencionadas anteriormente. 41 Figura 42 – Níveis de tensão das famílias lógicas TTL e CMOS Fonte: Elaborado pela autora. Na eletrônica digital, existem dois tipos de lógica: a lógica positiva, em que a tensão do “1” lógico é maior do que a tensão do “0” lógico; e a lógica negativa, em que a tensão do “0” lógico é maior do que a tensão do “1” lógico. Devido a isso, é necessário ter muito cuidado quando se projetam circuitos digitais. A folha de dados do fabricante diz se a CI é lógica positiva ou negativa. Se um circuito determinado é uma porta AND positiva, o mesmo circuito com os mesmos níveis de tensão considerando lógica negativa, ele será uma porta OR. Portanto, o projetista deverá verificar que tipo de lógica está usando para não ter problemas. Figura 43 – Tipos de lógica Fonte: Elaborado pela autora. 5.7.2 Portas lógicas com diodos A seguir, veremos dois circuitos com diodos que se comportam como portas lógicas e os analisaremos para verificar que tipos de portas eles são. Circuito 1 42 No circuito da Figura 44, os diodos estão orientados para as entradas. Sendo a fonte de alimentação 𝑉𝑉𝐶𝐶𝐶𝐶 positiva, se a entrada estiver em nível de tensão alto, o diodo correspondente estará polarizado reverso (aberto). Se a entrada estiver no nível baixo, o diodo correspondente estará diretamente polarizado e conduzindo corrente e levando a saída ao nível baixo. Nessa porta especificamente, se qualquer uma das entradas está no nível baixo, a saída irá para nível baixo sem importar o estado das outras entradas. Se todas as entradas estiverem no nível alto, os diodos abrem levando a saída ao nível alto. Figura 44 – Porta lógica com diodos orientados para as entradas Fonte: Elaborado pela autora. A Tabela 1 apresenta o funcionamento dessa porta para lógica positiva e a Tabela 2 para lógica negativa. Nessa tabela, na significa “nível alto”; nb, “nível baixo”; on significa “diodo fechado” (polarização direta); e off, “diodo aberto” (polarização reversa). Tabela 1 – Princípio de funcionamento de uma porta de três entradas com os diodos orientados para as entradas com lógica positiva A B C D1 D2 D3 Y nb 0 nb 0 nb 0 on on on nb 0 nb 0 nb 0 na 1 on on off nb 0 nb 0 na 1 nb 0 on off on nb 0 nb 0 na 1 na 1 on off off nb 0 na 1 nb 0 nb 0 off on on nb 0 na 1 nb 0 na 1 off on off nb 0 na 1 na 1 nb 0 off off on nb 0 na 1 na 1 na 1 off off off na 1 Fonte: Elaborado pela autora. Como podemos observar na Tabela 1, esse circuito é uma porta AND (E) de lógica positiva. Na Tabela 2, analisaremos o mesmo circuito, agora considerando a lógica negativa. 43 Tabela 2 – Princípio de funcionamento de uma porta de três entradas com os diodos orientados para as entradas com lógica negativa A B C D1 D2 D3 Y nb 1 nb 1 nb 1 on on on nb 1 nb 1 nb 1 na 0 on on off nb 1 nb 1 na 0 nb 1 on off on nb 1 nb 1 na 0 na 0 on off off nb 1 na 0 nb 1 nb 1 off on on nb 1 na 0 nb 1 na 0 off on off nb 1 na 0 na 0 nb 1 off off on nb 1 na 0 na 0 na 0 off off off na 0 Fonte: Elaborado pela autora. Como podemos observar na Tabela 2, esse circuito é uma porta OR (OU) de lógica negativa. Circuito 2 No circuito da Figura 45, os diodos estão orientados para a saída. Sendo a fonte de alimentação 𝑉𝑉𝐶𝐶𝐶𝐶 positiva, se a entrada estiver em nível de tensão alto, o diodo correspondente estará diretamente polarizado e conduzindo corrente e levando a saídaao nível alto. Se a entrada estiver no nível baixo, o diodo correspondente estará polarizado reverso (aberto). Nessa porta especificamente, se qualquer uma das entradas está no nível alto, a saída irá para nível alto sem importar o estado das outras entradas. Se todas as entradas estiverem no nível baixo, os diodos abrem levando a saída ao nível baixo. Figura 45 – Porta lógica com diodos orientados para as saídas Fonte: Elaborado pela autora. A Tabela 3 apresenta o funcionamento dessa porta para lógica positiva e a Tabela 4 para lógica negativa. Nessa tabela, na significa “nível alto”; nb, “nível baixo”; on, “diodo fechado” (polarização direta); off, “diodo aberto” (polarização reversa). 44 Tabela 3 – Princípio de funcionamento de uma porta de três entradas com os diodos orientados para a saída com lógica positiva A B C D1 D2 D3 Y nb 0 nb 0 nb 0 on on on nb 0 nb 0 nb 0 na 1 on on off na 1 nb 0 na 1 nb 0 on off on na 1 nb 0 na 1 na 1 on off off na 1 na 1 nb 0 nb 0 off on on na 1 na 1 nb 0 na 1 off on off na 1 na 1 na 1 nb 0 off off on na 1 na 1 na 1 na 1 off off off na 1 Fonte: Elaborado pela autora. Como podemos observar na Tabela 3, este circuito é uma porta OR (OU) de lógica positiva. Na Tabela 4, analisaremos o mesmo circuito agora considerando a lógica negativa. Tabela 4 – Princípio de funcionamento de uma porta de três entradas com os diodos orientados para a saída com lógica negativa. A B C D1 D2 D3 Y nb 1 nb 1 nb 1 on on on nb 1 nb 1 nb 1 na 0 on on off na 0 nb 1 na 0 nb 1 on off on na 0 nb 1 na 0 na 0 on off off na 0 na 0 nb 1 nb 1 off on on na 0 na 0 nb 1 na 0 off on off na 0 na 0 na 0 nb 1 off off on na 0 na 0 na 0 na 0 off off off na 0 Fonte: Elaborado pela autora. Como podemos observar na Tabela 4, esse circuito é uma porta AND (E) de lógica negativa. Observando as quatro tabelas, podemos concluir que, com as mesmas tensões e o mesmo funcionamento, os circuitos digitais comportam- se como diferentes portas, dependendo do tipo de lógica que estivermos usando. Por essa razão, é fundamental que o projetista saiba se a lógica é positiva ou negativa antes de começar o projeto. FINALIZANDO Nesta aula, foram verificados conteúdos referentes semicondutores e junção p-n. Os dispositivos semicondutores estão ao nosso redor em equipamentos eletrônicos dos mais variados tipos e para as mais variadas 45 aplicações. O funcionamento de todos esses dispositivos está baseado na junção p-n. Foram apresentados os diodos, suas características e suas aplicações principais. Saiba mais Para finalizar, cabe lembrar que esta aula é somente um guia, e que o aluno, além de ler este guia de estudos, deve estudar pelo livro texto os capítulos 1 e 2. BOYLESTAD, R. L.; NASHELSKY, L. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 11. ed. São Paulo: Pearson Education, 2013. Todos os circuitos foram projetados e simulados usando o software online Multisim (National..., 2019). 46 REFERÊNCIAS BOYLESTAD, R. L.; NASHELSKY, L. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 11. ed. São Paulo: Pearson Education, 2013. LA UNIÓN PN. ¿Cómo funcionan los diodos? FM Gomez Campos, 4 maio 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hsJGw_c-Nn4>. Acesso em: 30 jul. 2019. MILLMAN, J.; HALKIAS, C. C. Integrated electronics: analog and digital circuits and systems. International Student Edition. Tokyo: McGraw-Hill, 1972. MITCHEL, E. S. Diodes and diode applications. In: MITCHEL, E. S. Grob´s Basic Electronics. 11. ed. New York: The McGraw-Hill Companies, Inc., 2011. Cap. 27. NATIONAL INSTRUMENTS. MultisimLive, 2019. Disponível em: <https://www.multisim.com/>. Acesso em: 30 jul. 2019. OLIVEIRA, T. R. Aula 2 – Eletrônica geral 1 – Técnico. Instituto Federal de Santa Catarina, 6 set. 2016. Disponível em: <https://wiki.ifsc.edu.br/mediawiki/index.php/AULA_2_- _Eletr%C3%B4nica_Geral_1_-_T%C3%A9cnico>. Acesso em: 30 jul. 2019. WIKIPEDIA. p–n junction. Wikipédia, 2018. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/P-n_junction>. Acesso em: 30 jul. 2019. CONVERSA INICIAL TEMA 1 – SEMICONDUTORES 1.1 Isolantes, condutores, semicondutores 1.1.1 Isolantes 1.1.2 Condutores 1.1.3 Semicondutor 1.2 Estrutura cristalina de um semicondutor 1.2.1 Ligação covalente 1.2.2 Lacunas 1.2.3 Dopagem 1.2.4 Átomos doadores 1.2.5 Átomos aceitadores TEMA 2 – A JUNÇÃO P-N 2.1 A junção p-n em circuito aberto 2.2 Diodos – A junção p-n como retificador 2.2.1 Polarização reversa 2.2.2 Polarização direta 2.2.3 Contatos ôhmicos 2.3 Componentes de correntes em uma junção p-n 2.4 Característica Volt-Ampère Primeira aproximação (diodo ideal) Segunda aproximação Terceira aproximação 2.5 Tipos de diodos 2.5.1 Genérico 2.5.2 Zener 2.5.3 Túnel (ou Esaki) 2.5.4 Schottky 2.5.5 Diodos emissores de luz 2.5.5.1 LED Fonte: Elaborado pela autora. 2.5.5.2 Diodo laser 2.5.6 Varicap 2.5.7 Shockley 2.5.8 PIN 2.5.9 Fotodiodo TEMA 3 – RETIFICADORES Saiba mais Curva de transferência: é um gráfico que relaciona o sinal de saída com o sinal de entrada do sistema. Ela determina o comportamento do sistema e indica como vai ser o processamento do sinal de entrada que vai resultar em um determinado sinal de saída... 3.1 Retificador de meia onda Fonte: Elaborado pela autora. Curva de transferência Fonte: Elaborado pela autora. 3.2 Retificadores de onda completa 3.2.1 Retificador de onda completa com derivação central Curva de transferência Fonte: Elaborado pela autora. 3.2.2 Retificador de onda completa em ponte Curva de transferência Fonte: Elaborado pela autora. 3.3 Comparação entre os três tipos de retificadores TEMA 4 – CEIFADORES 4.1 Ceifadores em um nível 4.2 Ceifadores em níveis positivos 4.2.1 Cortadores abaixo de um nível de referência Fonte: Elaborado pela autora. 4.2.2 Cortadores acima de um nível de referência Fonte: Elaborado pela autora. 4.3 Ceifadores em níveis negativos 4.3.1 Cortadores abaixo de um nível de referência Fonte: Elaborado pela autora. 4.3.2 Cortadores acima de um nível de referência 4.4 Ceifadores em dois níveis Fonte: Elaborado pela autora. TEMA 5 – OUTROS CIRCUITOS COM DIODOS 5.1 Grampeadores 5.2 Grampeador de pico positivo em um nível positivo de tensão Fonte: Elaborado pela autora. 5.3 Grampeador de pico positivo em um nível negativo de tensão 5.4 Grampeador de pico negativo em um nível positivo de tensão 5.5 Grampeador de pico negativo em um nível negativo de tensão 5.6 Detectores de envoltória 5.7 Aplicações digitais 5.7.1 Tipos de lógica 5.7.2 Portas lógicas com diodos Circuito 1 Circuito 2 FINALIZANDO REFERÊNCIAS
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