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Tópicos de Contabilidade 1

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Tópicos de Contabilidade
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Me. João Paulo Lima
Revisão Técnica:
Prof. Me. Wellington Rodrigues Silva Souza
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Luciene Oliveira da Costa Santos
Breves Discussões sobre o Cenário Atual da Contabilidade
• A Evolução da Ciência Contábil;
• Cenário Atual da Contabilidade – Breve Discussões;
• Aspectos Profissionais;
• O Brasil no Cenário Contábil Mundial.
 · Conhecer o processo evolutivo da Ciência Contábil dos seus primórdios 
aos dias atuais e, também, compreender o atual cenário da Contabilidade 
no Brasil e seus aspectos profissionais, tendo como referência a adoção 
das Normas Internacionais de Contabilidade.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Para que você tenha um melhor aproveitamento, nesta primeira unidade da 
disciplina Introdução à Contabilidade, seguem algumas orientações de estudo.
Inicialmente, é fundamental que você compreenda como se deu a evolução 
da Ciência Contábil. Dessa forma, além de ler o conteúdo teórico da uni-
dade, você deve, também, pesquisar nos livros indicados no item Materiais 
Complementares. 
Ao longo da leitura do conteúdo teórico, você deve atentar para importantes 
discussões sobre o atual cenário da contabilidade, dando muita atenção 
sobre os órgãos que a regulamentam no mundo, observando como esses 
órgãos são formados, sobre o que eles deliberam e qual o impacto dessas 
deliberações no Brasil.
Não menos importante é entender os aspectos profissionais da Ciência 
Contábil no nosso país. 
Após os estudos de todos esses itens, você estará preparado(a) para realizar 
as atividades desta unidade. 
Lembre-se de não deixar para estudar e fazer as atividades na última hora 
do vencimento dos prazos. Crie uma rotina de estudos e seja disciplinado(a). 
Isso é fundamental para o seu desenvolvimento profissional.
ORIENTAÇÕES
Breves Discussões sobre o Cenário 
Atual da Contabilidade
UNIDADE Breves Discussões sobre o Cenário Atual da Contabilidade
Contextualização
Para iniciarmos esta unidade, convido você a refletir acerca da importância dos Níveis de 
Governança Corporativa e sua relação com a Contabilidade nos dias atuais. Para tanto, 
navegue pelo site da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F BOVESPA). Sobre os níveis de 
Governança Corporativa, você deve acessar o seguinte link especificamente:
 http://goo.gl/mVvysY
Caso você queira conhecer mais sobre o funcionamento do mercado financeiro brasileiro, o 
site da BM&F BOVESPA é:
http://www.bmfbovespa.com.br/home.aspx?idioma=pt-br
Ex
pl
or
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A Evolução da Ciência Contábil
A contabilidade foi criada há mais de dez mil anos, a partir da necessidade de 
mensurar e relatar os recursos das organizações. Com o desenvolvimento social 
e econômico do norte da Itália, especialmente após o século XII, causado pelo 
aumento da população e pelas oportunidades econômicas oferecidas pelas Cruzadas, 
surgem os primeiros sistemas de contabilização, utilizando partidas dobradas, 
empregados pelos comerciantes para controlar suas operações, especialmente em 
cidades italianas.
A partir de então, o sistema de partidas dobradas passou a ser largamente 
utilizado, acompanhando a evolução dos padrões comerciais, espalhando-se pela 
Alemanha, França e pelo Império Britânico, onde foi largamente proliferado por 
meio das operações comerciais nos séculos XVII e XVIII.
A industrialização da América do Norte, parcialmente em resposta aos 
investimentos britânicos em seguros e ferrovias, levou adiante a expansão do uso das 
partidas dobradas. Assim, esse conhecimento das partidas dobradas foi disseminado 
a partir da Europa, especialmente da Espanha e Inglaterra, para a América.
Devido à sua grande ascensão econômica, os Estados Unidos se transformaram 
no principal centro de desenvolvimento da teoria contábil e dos modelos de 
relatórios financeiros.
Portanto, diferentes regulamentações e práticas foram se desenvolvendo 
isoladamente em função das necessidades locais e das características econômicas 
dos países. Os principais fatores que originaram esta variedade de padrões 
contábeis foram: a natureza da atividade econômica; o grau de sofisticação da 
sociedade e dos negócios; o estágio de desenvolvimento econômico; o padrão e 
a velocidade do crescimento econômico; o histórico da estabilização de preços 
ou experiência inflacionária do país e, principalmente, a natureza do sistema 
legal do país que impacta a abordagem contábil utilizada, bem como os relatórios 
elaborados pela contabilidade.
Para que a contabilidade e os modelos de relatórios tenham desenvolvimento, é 
necessário, primeiramente, que as entidades relatem as suas atividades econômicas 
e que a profissão contábil seja consolidada. Isso porque a ausência de controle 
e gerenciamento da profissão contábil, comum no início do desenvolvimento 
econômico de um país, gera modelos abrangentes a ponto de abarcar o maior 
número possível de negócios. Após essa fase de não intervenção (ausência de 
controle da profissão), as nações passaram a ter muitas variações de economias 
e de sistemas legais, impondo algum tipo de regulamentação sobre a profissão 
contábil. Esse regramento foi realizado por meio da regulação direta pelo governo, 
ou indiretamente por meio de autorregulamentação profissional.
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UNIDADE Breves Discussões sobre o Cenário Atual da Contabilidade
Todavia, a contabilidade e as práticas de relatórios, não obstante as reais 
variações entre as nações, têm uma notável consistência. Essa, por sua vez, é 
razoavelmente lógica, dado que todas essas práticas intencionavam atingir objetivos 
muito próximos. Ao longo do tempo, a diversidade inicialmente existente foi 
gradativamente diminuindo em função das economias dominantes, especialmente a 
dos Estados Unidos e da Inglaterra, que criaram um conjunto de práticas preferidas, 
para aquelas empresas que almejam se engajar em atividades significativas com 
estas nações ou a elas se aliar.
Historicamente, a principal dicotomia de padrões de contabilidade envolve o 
fato de as nações possuírem um sistema legal consuetudinário (common law) ou 
codificado (code law). As nações que adotaram a codificação de suas regras de 
comportamento também tenderam prescrever formalmente as práticas contábeis 
e os relatórios financeiros e, ainda mais frequentemente, o papel desempenhado 
pelos relatórios financeiros é o de atender aos sistemas tributários do país. 
Nesses sistemas, as práticas e as demonstrações financeiras somente podem ser 
alteradas por meio de modificações na lei, a exemplo do Código de Napoleão e 
da lei brasileira.
Já as nações que têm tradição consuetudinária, por outro lado, possuem sistemas 
mais tolerantes, geralmente, somente um conjunto de regras governa estas práticas. 
As demonstrações financeiras tendem a não ser definidas por uma lei do país, mas 
pelos esforços do setor privado; frequentemente, são produtos de associações de 
profissionais assistidos pelo trabalho da academia. Assim, nos países de tradição 
consuetudinária, os objetivos das demonstrações financeiras não estão diretamente 
relacionados às políticas tributárias.
Durante o século XX, existiu a dificuldade de se distinguir um modelo que fosse 
amplamente utilizado. Muitos sistemas contábeis das nações da América Latina se 
preocuparam em desenvolver modelos, buscando ajustes para eliminar problemas 
causados pelas variações de preços, devido aos efeitos de persistente e relevante 
inflação. Outros países, cujos sistemas legais são codificados, orientam suas práticas 
de relatórios contábeis tanto para proteger os interesses dos credores, quanto para 
assegurar efetiva tributação.
Mais recentemente, padrões de relatórios financeiros internacionais 
(Internacional Financial Reporting Standards) emitidos pelo IASB (International 
Accounting Standards Board) passaram a ser utilizados por muitos países, 
especialmente pelos europeus. Certamente, a determinação da União Europeia de 
utilizar padrões de relatórios financeiros internacionais apartir de 2005 aumentou 
o desenvolvimento desse conjunto de padrões de contabilidade e aumentará a 
probabilidade de que ela se torne uma norma padrão em termos mundiais. 
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Cenário Atual da Contabilidade 
Breve Discussões
No Brasil, existe uma grande preocupação, por parte dos legisladores, com a 
qualidade da informação contábil decorrente da mudança no cenário econômico 
mundial. Prova disso são as constantes alterações da Lei das Sociedades por Ações 
justificadas em seu escopo pelo processo de globalização da economia. Essas 
alterações têm por objetivo principal criar condições para a harmonização da lei 
societária brasileira com as melhores práticas contábeis internacionais, no intuito 
de eliminar as dificuldades de interpretação e aceitação das informações financeiras 
emitidas por empresas brasileiras no cenário internacional, melhorando a sua 
qualidade e, consequentemente, tornando-as mais úteis aos usuários externos.
Nesse sentido, a harmonização, em primeiro lugar, abre o mercado brasileiro aos 
investidores internacionais, e torna o mercado de capitais e o sistema financeiro 
brasileiro mais transparentes para as agências internacionais, melhorando assim 
o nosso relacionamento e a nossa imagem com esses organismos internacionais, 
além de reduzir o risco-país.
Por isso foi criado no Brasil um órgão não governamental regulamentador das 
práticas e normas contábeis denominado Comitê de Práticas Contábeis (CPC), a 
exemplo do que ocorre nos Estados Unidos da América, onde o Financial Accounting 
Foundation (FAF), por intermédio de sua subsidiária, o Financial Accounting 
Standard Board (FASB), é um dos órgãos responsáveis pela regulamentação dos 
procedimentos e das práticas contábeis.
Tal iniciativa é de fundamental importância para o país, à medida que viabiliza 
a realização de alterações na norma contábil com maior flexibilidade, permitindo 
efetuar as mudanças necessárias às necessidades contábeis que surgem em 
decorrência das alterações, ampliação e complexidade do mundo dos negócios, 
não ficando, portanto, a regulamentação contábil atrelada à legislação societária, 
no sentido de buscar caminhos de autorregulação, similarmente ao modelo 
norte-americano.
Por outro lado, em nível internacional, existe o IASB, órgão que emite 
pronunciamentos denominados Internacional Accounting Standards (IAS), 
utilizados como referência em diversos países. Seus pronunciamentos são 
aceitos como parâmetro de publicação em quase todas as bolsas de valores do 
mundo, para as empresas que nelas desejam negociar seus valores mobiliários, 
auxiliando, dessa forma, o acesso aos mercados de capitais mundiais e tornando 
as empresas que utilizam tais padrões capazes de ser ativamente participantes da 
atual economia globalizada.
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UNIDADE Breves Discussões sobre o Cenário Atual da Contabilidade
Para se ter uma noção da importância do IASB, um fato marcante, ocorreu no 
ano de 2002, quando a Comunidade Europeia (CE) aprovou uma regulamentação 
que torna obrigatória, a partir de 2005, a elaboração de demonstrações financeiras 
consolidadas de acordo com os pronunciamentos emitidos pelo IASB para todas as 
companhias abertas de seus países membros. 
Essa resolução da CE representa um marco histórico no processo de 
harmonização contábil das práticas contábeis mundiais, uma vez que esse grande 
bloco econômico passou a divulgar aos seus usuários externos informações 
consolidadas passíveis de comparação. Esse procedimento possivelmente 
impulsionará outras iniciativas nesse sentindo, haja vista a grande redução de 
custos provocada por esse processo de harmonização, especialmente no que 
tange à conversão das demonstrações contábeis de acordo com os princípios 
de contabilidade geralmente aceitos de um país para o outro. Prova disso é que 
a Austrália também passou a adotar os pronunciamentos emitidos pelo IASB a 
partir de 2005 e o Brasil a partir de 2008.
A importância da elaboração de relatórios financeiros pode ser ressaltada por 
uma inovação introduzida, no Brasil, pela Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F 
BOVESPA), em dezembro de 2000, que definiu um conjunto de normas de conduta 
para as empresas, no intuito de oferecer aos investidores melhorias nas práticas 
de governança corporativa e de transparência, pois define que a valorização e a 
liquidez das ações de um mercado são influenciadas positivamente pelo grau de 
segurança que os direitos concedidos aos acionistas oferecem e pela qualidade da 
informação prestada pelas empresas. 
Aspectos Profissionais
O século XX apresentou duas décadas importantes para o desenvolvimento da 
profissão contábil e da contabilidade de modo geral: as décadas de 1940 e 1970. 
Logicamente, os avanços colhidos nesse período não estão dissociados das várias 
ações empreendidas desde o início do século XX e mesmo do século anterior.
Inicialmente, em 1940 foi editado o Decreto-lei 2.627, a primeira Lei de 
Sociedade por Ações do Brasil, o que efetivamente representou um avanço para a 
contabilidade, pois, até então, não havia normas contábeis padronizadas no país.
A norma legal apresentava, ainda, padrões básicos para a elaboração e 
levantamento do Balanço e da Demonstração de Lucros e Perdas.
Nessa mesma década, mais precisamente no ano de 1946, com a publicação 
de outro Decreto-lei (9.295), foi criado o Conselho Federal de Contabilidade, que 
definia, entre outros pontos relevantes, as atribuições dos contabilistas. Contadores, 
ou seja, os graduados em cursos universitários de Ciências Contábeis, os técnicos 
em contabilidade, provenientes das primeiras escolas técnicas comerciais, 
apresentando, portanto, nível médio, e os guarda-livros, que eram pessoas que, 
apesar de não apresentarem escolaridade formal em contabilidade, exerciam 
atividades de escrituração contábil.
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Apesar de representar um avanço, pois o decreto deu status de nível superior 
à profissão de contador, alguns problemas surgiram em função da publicação 
desse decreto-lei, visto que ele não definia claramente as atribuições de cada uma 
das partes, fazendo com que técnicos de nível médio e guarda-livros pudessem 
realizar quase que as mesmas atividades daqueles que concluíam curso superior 
em ciências contábeis.
Tal fato trouxe como consequência a perda de prestígio da contabilidade em 
relação a outras profissões de nível superior, fazendo com que muitos jovens não 
optassem por ela, visto que a profissão de contador não lhes concedia o mesmo 
status das outras.
Nesse mesmo ano, é criado o curso superior em Ciências Contábeis, que como 
visto anteriormente foi iniciado juntamente com a área de atuária.
Na década seguinte, a Lei 3.384/58 dá nova denominação à profissão de guarda-
livros, que passa a integrar a categoria profissional de técnico em contabilidade. 
Contudo, a referida lei não fez menção às atribuições dos técnicos em contabilidade, 
o que continuou permitindo ainda a realização, por parte desses profissionais, de 
praticamente todas as atividades contábeis requeridas dos graduados nos cursos de 
Ciências Contábeis.
Somente em 1972, quando da publicação de algumas legislações, tais como 
a Resolução 220 e as Circulares 178 e 179, todas emitidas pelo Banco Central 
do Brasil, é que se começa a delimitar atribuições específicas para contadores. 
Tais regulamentações referiam-se a procedimentos de auditoria contábil que só 
poderiam ser realizados por contadores.
A década de 1970 também foi profícua para a contabilidade no Brasil, visto que 
dois fatos importantes para o desenvolvimento contábil ocorreram nessa época, 
mais precisamente em 1976:
a) aprovação da Lei 6.404, a Lei das Sociedades Anônimas, que alterava 
substancialmente a estrutura contábil até então existente no país;
b) a criação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), através da Lei n° 6.385, 
inspirada na SEC (Securities and Exchange Comission) dos Estados Unidos. 
Esse órgão passou a incumbir-se de algumas atribuições do Banco Central 
e passou a regular, prestar consultoriae julgar, em instância administrativa, 
operações relativas a órgãos, entidades e/ou profissões sob sua jurisdição, 
dentre as quais, as sociedades anônimas e os auditores independentes.
Tais eventos motivaram a expansão do mercado de trabalho da profissão 
contábil, colaborando ainda para que os profissionais se preocupassem em adquirir 
rapidamente os conhecimentos específicos apresentados na lei.
Pode-se dizer que, a partir de então, os profissionais passaram a reconhecer 
que era necessário um aprendizado sempre constante, caso quisessem usufruir das 
vantagens que tais eventos causaram na expansão da profissão e na maior oferta 
de empregos no mercado de trabalho.
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UNIDADE Breves Discussões sobre o Cenário Atual da Contabilidade
O que se percebe é que a profissão contábil no Brasil, em termos de 
desenvolvimento e estrutura de sua legislação profissional, é bastante recente e foi 
construída a partir de experiências oriundas de outros países, principalmente os 
Estados Unidos. A estrutura contábil de nosso país, de modo geral, é boa, mas é 
certo que alguns passos ainda precisam ser dados para que ela alcance o nível de 
países mais desenvolvidos.
Durante a década de 1980, o país viveu o auge de um processo inflacionário que 
teve início nos anos 1960, e nesse período atingiu seu ápice.
Os preços dos produtos modificavam da noite para o dia, os valores dos 
produtos e serviços eram ajustados diariamente por meio de índices de referência 
estabelecidos pelo governo.
Com todo esse cenário nebuloso, o intuito de tornar próximas à realidade as 
informações apresentadas pelas empresas nos seus demonstrativos financeiros, 
muito se utilizou da denominada “Correção Monetária Integral”, onde todas as 
contas do Balanço eram atualizadas pelos índices inflacionários.
Muito estudo e pesquisa, com criação de modelos e métodos aplicáveis, foram 
apresentados nesse período, o que era realmente necessário em função da situação 
de alta instabilidade econômica e financeira em que vivíamos.
É nesse período que a CVM emite a Deliberação 29/86, referendando e 
aprovando o pronunciamento do Instituto Brasileiro de Contadores (IBRACON) 
sobre Estrutura Conceitual Básica da Contabilidade.
Outro instrumento legal apresentado pelo Conselho Federal de Contabilidade 
(Resolução n° 750/93) versa sobre o mesmo tema, apontando mais objetivamente 
os princípios de contabilidade.
O estabelecimento de princípios, como os propostos pela Deliberação 29/86 e 
Resolução n° 750/93, visava não só conceder uma uniformidade terminológica, 
mas também criar bases para a normalização dos procedimentos contábeis a serem 
utilizados por todos os profissionais. Nesse sentindo, a Lei n° 6.404/76, em seu 
artigo 177, determina: 
A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, 
com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos 
princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos 
ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações 
patrimoniais segundo o regime de competência.
Preocupações com a contabilidade socioambiental também ganharam 
evidência, até mesmo porque, além das pressões internacionais, houve 
significativa mudança na legislação ambiental, tornando-a muito rígida e 
penalizando de forma mais severa empresas que a descumprissem.
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O ritmo frenético das mudanças foi (e ainda é) motivo de preocupação da 
classe contábil.
Diante desse cenário altamente complexo e com avanços e alterações cada 
vez mais rápidas nas áreas sociais, da tecnologia e também da economia, a 
contabilidade nacional viu aflorar na década de 1990 uma série de eventos, pressões 
e preocupações em várias áreas conforme Quadro 1.
Quadro 1 – Alguns acontecimentos que infl uenciaram o avanço da contabilidade:
Áreas Eventos, procedimentos ou acontecimentos
Social e ambiental Pressão para publicação de balanços sociais.
Discussão sobre a riqueza gerada pelas empresas e suas formas de distribuição (valor agregado).
Importância do marketing social das empresas.
Estudos sobre contabilidade ambiental (mensuração de ativos, passivos e custos ambientais etc.).
Mudanças na legislação ambiental (afeta diretamente as empresas).
Educacional Ênfase na educação continuada.
Estabelecimento do exame de suficiência (necessário para a obtenção do registro profissional).
Preocupações sobre a necessidade de melhoria da qualidade dos programas de graduação de contabilidade.
Econômico e 
financeiro
Mudança nos procedimentos contábeis internacionais.
Necessidade de alterações na legislação contábil nacional.
Na busca de profissionais mais capacitados, o Conselho Federal de Contabilidade 
iniciou a aplicação do exame de suficiência para todos os recém-formados como 
pré-requisito para o seu registro nos conselhos regionais. Esse exame fez parte 
de uma série de ações voltadas para a melhoria da qualidade dos profissionais, 
juntamente com a adoção de programas de educação continuada por meio de cursos 
de aperfeiçoamento, seminários ou fóruns de estudos. Havia uma preocupação 
geral com a necessidade de os profissionais se manterem atualizados.
Em razão desse novo cenário, novas competências passaram a ser requeridas 
daqueles que pretendiam participar e atuar ativamente nesse mercado de trabalho 
altamente competitivo, de concorrência acirrada e com grande grau de incertezas 
em face das mudanças cada vez mais rápidas e constantes.
A tão propalada globalização, em linhas gerais, trouxe consigo uma série de 
alterações no cenário econômico mundial:
 · redução drástica dos níveis de emprego em função da retração do mercado 
de trabalho;
 · aumento da competição internacional, fazendo surgir novas e grandes 
empresas, formadas a partir de processos de fusões ou aquisições;
 · procura por novos mercados como forma de se escoar toda a produção 
mundial;
 · utilização em muito maior escala de produtos e serviços provenientes 
da tecnologia.
Dentro desse cenário, o Brasil passou a ter destaque, já que possui uma vasta 
dimensão territorial e um número populacional elevado com forte potencial de 
utilização de serviços provenientes da tecnologia. Isso o torna um mercado atraente 
e essa é a principal razão para a inserção de um número consideravelmente maior 
e mais diversificado de empresas internacionais em nosso território.
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UNIDADE Breves Discussões sobre o Cenário Atual da Contabilidade
Consequentemente, num curto período, as empresas nacionais tiveram que se 
adaptar a um novo modelo de atividade empresarial, baseado na competitividade e 
na baixa gradativa dos custos, como forma de permanência num mercado cada dia 
mais exigente e de maior concorrência.
A realização de controles efetivos dos recursos torna-se ainda mais fundamental, 
visto que a influência das tecnologias da informação e da comunicação aumentou 
grandemente em velocidade e variedade, causando impacto tanto na rotina diária e na 
prática profissional das pessoas como também na gestão dos negócios empresariais. 
O Brasil no Cenário Contábil Mundial
O início desse século foi promissor para a contabilidade nacional, visto que 
uma série de legislações, procedimentos e ações têm sido empreendidas no intuito 
de fazer com que a contabilidade brasileira esteja em harmonia com as melhores 
práticas internacionais.
Ajustes à Lei 6.404/76, Lei das Sociedades por Ações, ainda em vigor no 
país foram sugeridos em 2000, por meio de um Projeto de Lei enviado ao 
congresso nacional.
O novo Código Civil também pode ser considerado um fato importante, pois vários 
de seus capítulos lidam com muitas questões empresariais e, consequentemente, 
atinge vários aspectos contábeis importantes como escrituração e participação do 
profissional de contabilidade como representante da empresa junto a órgãos e 
repartições, por exemplo.
Além disso, em 2005 foi criado o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), 
órgão idealizador de normas e pronunciamentos formado a partir da união de 
esforços e comunhão deobjetivos das principais entidades nacionais que versavam 
sobre assuntos contábeis, a saber:
 · Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA);
 · Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de 
Capitais (APIMEC);
 · Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (BOVESPA);
 · Conselho Federal de Contabilidade (CFC);
 · Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI);
 · Instituto Brasileiro de Contadores (IBRACON).
 · Além dos membros efetivos, são também convidados a participar das 
reuniões e decisões os seguintes órgãos:
 · Banco Central do Brasil;
 · Comissão de Valores Mobiliários (CVM);
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 · Secretaria da Receita Federal;
 · Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).
O CPC foi criado pela Resolução CFC n° 1.055/05 e tem como objetivo:
[...] o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre 
procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa 
natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora 
brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de 
produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade 
Brasileira aos padrões internacionais.
Nesse sentido, o objetivo básico do CPC é emitir pronunciamentos a fim de 
harmonizar os procedimentos contábeis do país ao restante do planeta.
É importante frisar que o CPC é uma instituição totalmente autônoma das 
entidades representadas. Suas deliberações ocorrem sempre a partir da concordância 
ou consenso de pelos menos 2/3 de seus membros. O Conselho Federal de 
Contabilidade é quem fornece a estrutura física necessária ao seu funcionamento.
Dessa forma, com a criação do CPC o Brasil passa ter uma estrutura contábil 
mais organizada e centralizada, definida por contadores e nos moldes dos principais 
centros econômicos do planeta.
A estrutura e a composição do CPC tiveram como espelho a organização do 
Financial Accounting Standard Board (FASB), entidade norte-americana que legisla 
sobre questões contábeis naquele país desde a década de 70 do século passado.
As similaridades entre as composições podem ser vistas no Quadro 2.
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UNIDADE Breves Discussões sobre o Cenário Atual da Contabilidade
Quadro 2 – Comparativo do FASB e do CPC:
Representações CPC FASB
Regulador do mercado de ações Bolsa de Valores do Estado de São Paulo 
(BM&F BOVESPA)
-
Classe Profissional Conselho Federal de Contabilidade (CFC) Instituto Americano de Contadores 
Públicos Certificados (AICPA)1
Empresariado Associação Brasileira das Companhias Abertas 
(ABRASCA)
Instituto dos Financistas Executivos2
Analistas Financeiros Associação dos Analistas e Profissionais de 
Investimento do Mercado de Capitais (APIMEC)
Federação de Analistas Financeiros3 e 
Associação Industrial de Títulos4
Educacional Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, 
Atuariais e Financeiras (FIPECAFI)
Associação Americana de Contadores 
(AAA)5
Auditores Independentes Instituto Brasileiro dos Contadores (IBRACON) -
Contadores Públicos - Associação Nacional dos Auditores, Fiscais 
e Tesoureiros do Governo6
Contadores Industriais - Associação Nacional de Contadores7
 1 American Institute of Certified Public Accountants; 2 Financial Executive Institute; 3 Financial Analysts Federation; 4 Securities Industrial Association; 
5 American Accounting Association; 6 National Association of State Auditors, Comptrollers and Treasures; 7National Association of Accounting.
O CPC tem, a partir de então, emitido Pronunciamentos Técnicos com o claro 
objetivo de adaptar as normas contábeis nacionais às práticas utilizadas pelo IASB 
através dos pronunciamentos daquele instituto.
Outro evento importante para a contabilidade nacional no início do século XXI 
foi a edição da Lei 11.638/07, que altera dispositivos importantes da Lei 6.404/76 
vigente até então. Importante salientar que a referida Lei foi fruto de Projeto de Lei 
enviado ao congresso nacional em 2000 (PL 3.741/00).
Como se pode observar, o projeto tramitou por sete anos no congresso e quando 
foi promulgado já apresentava certa defasagem, visto que nesse período vários 
novos eventos modificaram substancialmente algumas concepções contábeis em 
nível mundial.
Essa foi, sem dúvida, a principal razão para a apresentação da Medida 
Provisória 449, editada em 8 de dezembro de 2008, e que se tornou lei em maio 
de 2009 (Lei 11.941).
Como se observa, a primeira década do presente século trouxe mudanças 
significativas na contabilidade brasileira resumidamente apresentada no Quadro 3.
Quadro 3 – Primeira década do século XXI – principais eventos que impulsionaram a contabilidade no Brasil:
Ano Evento
2000 Projeto de Lei 3.741, enviado ao Congresso Nacional
2002 Novo Código Civil
2005 Criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis
2007 Lei 11.638/07 (originada do Projeto de Lei 3.471/00)
2008 Medida Provisória 449/08
2009 Lei 11.941/09 – ratificando Medida Provisória 449/08
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Curso de contabilidade avançada em IFRS e CPC
ALMEIDA, M. C.São Paulo: Atlas, 2014. (e-book)
Contabilidade avançada e internacional 
MULLER, A. N.; SCHERER, L. M. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. (e-book)
IFRS e CPC
OLIVEIRA, A. B.; SIQUEIRA, D. guia de aplicação contábil para contexto brasileiro. 
São Paulo: Saraiva, 2013. (e-book)
 Leitura
Contabilidade: Aspectos Relevantes da Epopeia de sua Evolução
autoria dos professores: Sérgio de Iudícibus, Eliseu Martins e Nelson Carvalho, 
disponível na Revista de Contabilidade e Finanças da FEA-USP.
http://www.scielo.br/pdf/rcf/v16n38/v16n38a02.pdf 
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Referências
CARVALHO, L. Nelson; LEMES, Sirlei; COSTA, Fábio Moraes da (Colab.). 
Contabilidade internacional: aplicação das IFRS 2005. São Paulo: Atlas, 2011.
FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS CONTÁBEIS, ATUARIAIS E 
FINANCEIRAS. IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto 
Rubens. Manual de contabilidade das sociedades por ações: (aplicável às 
demais sociedades). 7. ed., rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2010.
SCHMIDT, Paulo; SANTOS, Jose Luis; FERNANDES, Luciane Alves. 
Contabilidade internacional avançada. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
NIYAMA, Jorge Katsumi. Contabilidade internacional: causas das diferenças 
internacionais, convergência contábil internacional. Estudo comparativo entre 
países, divergências nos critérios de reconhecimento e mensuração, evidenciação 
segundo FASB e IASB. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
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