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FALÊNCIA – DO CARÁTER EXTRACONCURSAL DOS CRÉDITOS FALIMENTARES RESENHA CRÍTICA A presente resenha critica possui embasamento nos referidos textos – (I) Do caráter extraconcursal dos créditos falimentares decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a recuperação judicial - Autora Fátima Nancy Andrighi; - (II) Aspectos processuais a decretação de ineficácia e da ação revocatória falimentar – Autores Luiz Guilherme Marinoni 1 Ricardo Alexandre da Silva – (III) Recuperação e falência de pequenas e microempresas – A lei complementar n. 147/2014 -Autor Carlos Henrique Abrão. Com as transformações econômico-sociais ocorridas no país, a legislação falimentar não mais atendia aos reclamos da sociedade, fazendo-se necessária a edição de uma nova lei, mais ágil e moderna, pois precisávamos de uma atualização quanto a lei de falência, tendo em vista que nosso país é agrícola e ainda pouco urbanizado. Talvez por isso apresentava opção limitada para a solução das dificuldades econômicas transitórias e superáveis do devedor comerciante. O principal objetivo da lei atual de nº 11.101/2005, é promover a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica, viabilizando o diploma legal que a empresa se supere da crise, ensejando a manutenção dos empregos, circulação do comercio. No curso do processo de restruturação da empresa, o devedor/ recuperando contrai uma serie de obrigações por meio de práticas de atos, com presunção de validade, que implica endividamento ou alienação de ativos. O desenvolvimento das relações socioeconômicas fez com que o ordenamento jurídico passasse a tratar a crise da empresa de modo diverso, e assim a falência, que até pouco tempo atrás era vista como algo ocorrente apenas aos devedores desonestos, passou a ser considerada como uma situação de ocorrência comum, decorrente das dificuldades inerentes do exercício de atividade econômica. Portanto, é evidente a utilidade do uso deste procedimento tendo em vista que a atividade empresarial constitui uma genuína fonte de geração de empregos e produção de riqueza e, consequentemente, de crescimento econômico Vale acrescentar, que os créditos que foram gerados após o deferimento do processamento da Recuperação Judicial serão então classificados como extraconcursais. Este privilégio visa a beneficiar o credor que colaborou em certa medida para a tentativa de superação da crise da empresa em recuperação, e evitar o completo afastamento do crédito, principalmente dos fornecedores, ou seja, são créditos que devem ser pagos com precedências sobre qualquer outro credito submetido a concurso de credores por maior que seja sua preferência na ordem de classificação, em outras palavras receber primeiro que os créditos de natureza trabalhista e entre outros. No âmbito da recuperação judicial e falência de empresas, houve minuciosamente um capítulo para tratar da ME e EPP. Portanto, a microempresa ou empresa de pequeno porte em dificuldades financeiras e com possibilidade de recuperação, poderá optar tanto pela recuperação judicial especial, quanto pela recuperação ordinária, desde que preencha os requisitos para tanto, estabelecidos no artigo 48 da lei de recuperações e falências e que faça tal opção. No que tange ao caso da recuperação especial, quem concede a recuperação e aprovando o plano é o juiz, da qual verificado o preenchimento dos requisitos necessário para sua aplicação. Portanto, a empresa que requerer a recuperação judicial, independentemente do tipo de plano, deve estar exercendo sua atividade há mais de dois anos; não ser falido ou, se foi, ter suas responsabilidades extintas por meio de sentença transitada e julgado; não ter sido condenado, ou não ter administrador ou sócio controlador condenado por crime falimentar. Outro requisito necessário e que sofreu alteração pela Lei complementar 147/2014 é quanto ao prazo de impossibilidade de se requerer nova recuperação quando concedida recuperação anterior. Antes da alteração legislativa, para requerer recuperação com base em plano ordinário, o devedor não poderia ter requerido recuperação judicial nos últimos cinco anos, e se com base no plano especial, deveria aguardar um lapso de oito anos. Desta forma, o ordenamento jurídico vem se adaptando cada vez mais com a realidade social da empresa, no contexto que ela é introduzida, levando em consideração que o plano especial, é limitado, ou seja, o devedor não tem liberdade para escolher os meios de recuperação, sua forma de pagamento será em até 36 meses, em parcelas mensais e sucessivas, com juros de acordo com a taxa Selic, podendo conter deságio e também carência de até 180 dias. Com relação ao administrador judicial seus honorários serão reduzidos, no percentual de 2,5%. Com relação ao plano especial de recuperação, como foi mencionado anteriormente, quem decide pela aprovação é o juiz, o qual verificará se foram atendidas ou não as exigências legais, desde que não haja a objeção dos credores que representem maioria simples nas classes 1 e 4 ou maioria simples cumulada com maioria dos credito nas classes 2 e 3, caso em que o juiz deverá julgar improcedente o pedido e posterior decretação de falência. Não podemos deixar de mencionar que após frustrada todas as hipóteses acima elencadas, a empresa pode ser convolada em falência, podendo ser objeto de ação revocatória é tornar ineficaz a prática de determinados atos perante a massa falida. Tornar ineficaz é diferente de anular, visto que a anulação torna totalmente sem efeito o ato, já a ineficácia somente os invalida perante a massa falida. Até mesmo o ato que tenha sido praticado com base em decisão judicial poderá ser declarado ineficaz, sendo rescindida a sentença que o motivou. Além disso, tal decretação tem como objetivo recompor o ativo do devedor desfalcado em consequência de ato praticados por eles prejudiciais aos credores, à lei contempla a possibilidade de revogação de diversos negócios entabulados com ou sem a intenção de lesar credores, bem como, com ou sem conluio fraudulento. Ademais, na hipótese de revogação de alguns atos praticados pelo devedor, a fim de que os credores não sejam lesados. O instituto da referida lei, prevê duas situações em que cabe a ação revocatoria. A primeira hipótese é a Ação Revocatória Baseada na Presunção de Fraude, nos termos do art. 129, da lei 11.101/2005, dispositivo que prevê a declaração de ineficácia de todos os atos praticados pelo devedor, em prejuízo da massa, antes da decretação da falência, onde, não há necessidade de que o devedor tenha a intenção de fraudar seus credores. A segunda hipótese é a chamada Ação Revocatória Baseada na Fraude, prevista no artigo 130, da lei em questão. Nesta hipótese de ação Revocatória é imprescindível que haja o intuito de fraudar por parte do devedor, e ainda, que o prejuízo causado aos credores seja efetivo. Algumas das condutas do empresário em crise, justificadas pelo temor da quebra iminente, e que poderiam ser consideradas lícitas se não sobreviesse a decretação da falência, se tornam suscetíveis de intervenção judicial para lhes retirar a eficácia ou revogá-los, como medida de proteção aos direitos dos credores. Outrossim, o sistema de ineficácia do regime falimentar busca tornar relativamente ineficaz os atos jurídicos que busquem esvaziar o patrimônio do falido e por consequência prejudicar os credores, bem como o princípio “par condicio creditorum”. Isto é, a igualdade condições entre os credores que não possuem uma garantia real contra o falido. Ou seja, é o mecanismo necessário de combate à fraude contra credores durante o processo de falência. O que define empresa é a sua atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços. Sendo uma atividade, a empresanão tem a natureza jurídica de sujeito de direito nem de coisa. Em outros termos, não se confunde com o empresário, nem com o estabelecimento empresarial. Com exercício da atividade econômica, a atividade empresarial e seu desenvolvimento dependem de diversos fatores, endógenos e exógenos, e, como toda atividade econômica, está sujeita a diversos efeitos que podem contribuir para seu crescimento e o exercício normal de suas atividades, mas também a situações adversas que levam a crises econômico-financeira ou até mesmo ao estado de insolvência. O instituto da recuperação judicial existe justamente para evitar que as empresas sejam obrigadas a fechar as portas quando passam por dificuldades financeiras. Veja, se o caos e a instabilidade financeira assolassem nosso país se fosse decretada falência de todas as empresas endividadas. O desemprego aumentaria exponencialmente, credores teriam mais dificuldades de receber e a produção econômica estagnaria. Entretanto, a evolução social e a jurisprudência demonstraram que a recuperação judicial é essencial para a manutenção da força econômica nacional, e sua função social é evidente. Com isso, a recuperação judicial tem por finalidade identificar o motivo que vem levando à dificuldade econômica da atividade empresarial, uma vez que, sua maior virtude é preservar a unidade produtora, conservando empregos, gerando tributos e riquezas. O autor da ação de recuperação judicial postula ao Poder Judiciário o deferimento de uma pretensão, que é a de pôr em prática um plano de reorganização da empresa, ou seja, um plano de recuperação judicial, que visa uma facilitação para tempos de crises. Além do que, são vários os benefícios concedidos ao recuperando, como parcelamento de débitos tributários, suspensão das ações e execuções judiciais contra a empresa, novação dos créditos anteriores ao pedido, entre outros. Em caso do não cumprimento das normas e regras pactuadas no plano de recuperação judicial, será decretada sua falência. Dentre os vários efeitos da sentença que decreta a falência temos a formação da massa falida subjetiva, suspensão das ações individuais, suspensão condicional da fluência de juros, exigibilidade antecipada dos créditos contra o devedor, sócios ilimitadamente responsáveis e administradores solidários, suspensão da prescrição e arrecadação dos bens do devedor. Além disso, as empresas consideradas inviáveis não devem ser mantidas em funcionamento, uma vez que, podem ser prejudiciais às demais empresas, à sociedade, e ao sistema como um todo. Necessária então a adoção de critérios mínimos e objetivos para conceder a recuperação, compatibilizando com o interesse social que se pretende conservar. Desta forma, uma empresa em crise pode se tornar perigosa, caso continue operando mesmo que sua permanência seja inviável. Isto porque, se não for obrigada a retirar-se da atividade, continuará se endividando, aumentando também o número de credores prejudicados. Com isto, o risco não está somente com a empresa que já estava em crise; se estende também às atividades dos demais credores, que por não ter seus créditos satisfeitos, poderão tornar-se inadimplentes de seus fornecedores, e acarretando outras empresas em crise. Caso seja constatada a inviabilidade da empresa, promover-se-á então sua imediata liquidação através de um processo ágil e desburocratizado, afim de que não lese, ainda mais, os interesses dos credores e acarrete inúmeros danos e consequências na economia. Assim sendo, a função social e a importância econômica das empresas, sendo evidente que sua falência prejudica a todos que dela dependem. Entretanto, para que seja possível a aplicação do princípio da conservação da empresa, é necessário observar também o princípio da razoabilidade. No que tange a análise e posicionamentos discutidos nos referidos textos, que foram pautados na presente resenha, são de suma importância para o entendimento de tais instituto. Os temas foram tratados com excelência por juristas de alto renome, contribuindo de forma conceitual os avanços que a lei de falência de nº 11.101/2005, vem propiciando aos seus recuperando, de forma célere para o nosso ordenamento jurídico, dando por isso maior segurança quanto a aplicação e eficácia dos institutos em questão. Cada autor tem uma visão diferente, ambos com o mesmo pensamento, tendo como vertente os efeitos que a recuperação judicial e falência provoca na sociedade, pois como é sabido, o principal intuito destes institutos é a preservação da empresa, quanto geradora de emprego e giro de capital. Contudo, vale mencionar que as forma de recuperação são muitas, bem como os credores recebem seus débitos vencidos, ficando estabelecido uma ordem preferencial para cumprimento do plano de recuperação judicial, ou até mesmo a previsão dos créditos extraconcursais passarem a linha preferencial, conforme foi amplamente discutido no texto I, pela ministra Nancy Andrighi. Ocorre também, que muitas vezes a recuperação judicial não é viável para os credores e economia nacional, sendo assim mais eficaz a decretação de falência, nomeação de administrador judicial e liquidação dos ativos, para pagamento dos passivos. O nosso ordenamento, para que não houvesse fraude pelo devedor, o credor pode se valer da ação revogatória falimentar, ou a seja, ocorreu a ineficácia da decretação de falencia, pois o devedor de forma sorrateira tenta delapidar o patrimônio da empresa, com a finalidade de enganar os credores, assim preceitua os autores Luiz Guilherme Marinoni e Ricardo Alexandre da Silva, em sua obra de texto II. Além disso, é preciso observar que o diploma lega, em sua ideologia, estabeleceu um procedimento especial para alguns tipos de empresas, sendo elas a Microempresa e Empresa de pequeno porte, abreviadas pelas siglas ME e EPP, que se vale de uma mini recuperação, tendo em vista que se difere com relação ao procedimento ordinário, que é mais complicado. Portanto, a recuperação judicial deverá sempre socorrer as empresas que por fato fortuito veio a sofrer com a crise e econômica, com a finalidade de preservar a economia nacional, bem como os empregos, caso seja inviável essa facilitação pelo judiciário, que seja decretada a falência, para que outras empresas possam aquecer o mercado.
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