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P á g i n a | 1 Infecções Puerperais Definição Qualquer infecção bacteriana após o parto. A endometrite (inflamação do endométrio) é considerada a forma clínica mais frequente de infecção puerperal, podendo estar associada ou não à infecção de ferida operatória, episiotomia ou parede abdominal. Classificação do período de parto Prevalência A endometrite é mais prevalente nas cesarianas, ocorrendo em 20% das pacientes. Essa taxa é reduzida a 10% quando se tem uso profilático de antibióticos. A morbidade é até 8 vezes maior na cesariana em relação ao parto normal, porque o útero é lesionado. O manejo adequado de um quadro infeccioso puerperal tem implicações na mortalidade materna. 2ª causa de mortalidade materna. Constata-se um risco de morte dez vezes maior para as mulheres submetidas à cesariana quando comparadas ao parto vaginal. Aumentando sua prevalência, porque o número de cesáreas está aumentando. Fisiopatologia A endometrite é uma infecção polimicrobiana da cavidade uterina relacionada a microorganismos vaginais durante trabalho de parto, com subsequente invasão miometral. Organismos mais comuns envolvidos: Aeróbicos: Streptococcus B-Hemolíticos do grupo B (30%), Streptococcus do grupo D, Escherichia coli, Streptococcus faecalis (Enterococo em 3-14%) Anaeróbios: Bacteróides (17-100%) e Peptostreptococcus (15-54%). Bactérias que também são ISTs: Neisserria gonorrhoeae, Mycoplasma, Ureoplasma e Clamydia. Pós parto imediato •1º ao 10º dia. Pós parto tardio •10 ao 45º dia. Pós parto remoto •Além do 45º dia. Isabela Terra Raupp P á g i n a | 2 Os anaeróbios estão envolvidos em 50 a 95% dos casos, principalmente o gênero Bacteróides. Estão presentes em casos complicados que formam abcesso pélvico, infecções de FO e tromboflebite séptica pélvica. Clostridium perfringens (anaeróbio G+) podem estar presentes em 4 a 32% das infecções e estão associados a fasciite necrosante e endometrite grave, que se manifesta como choque séptico frequentemente letal. Organismos associados a vaginoses bacterianas, em partos vaginais, como Gardnerella vaginalis e anaeróbios ou gram-negativo aeróbios prediz aumento de risco. Sinais clássicos Febre alta e hipotensão (choque séptico) logo após o parto. o Os lóquios podem se apresentar escassos e não fétidos. o Relacionado a Streptococcus do grupo B. Pode se associar a casos complicados que evoluem para abscesso pélvico, infecções de FO e tromboflebite séptica pélvica. o Na FO ou na episiorrafia pode-se identificar sinais flogísticos locais e drenagem de secreção purulenta. Também pode se apresentar como mastite ou abcesso mamário, infecção do trato urinário, pneumonia aspirativa. Fatores de risco Independentes: o Infecção pré-operatória anterior; o Corioamnionite; o Escore de risco anestésico (ASA) > ou = 3; o Pré-eclâmpsia; o IMC – cada aumento de 5 unidades determina 2 vezes maior risco; o Nuliparidade; o Perda sanguínea – a cada 100mL de sangue, aumenta o risco em 30%. Outros: o Cesariana; o Ruptura prematura de membranas; o Parada de progressão no trabalho de parto; o Excesso de toques vaginais; o Monitorização fetal interna; o Uso de anestesia; o Inabilidade do cirurgião; o Tempo cirúrgico maior 60 minutos; Isabela Terra Raupp P á g i n a | 3 o Perda sanguínea > 800ml; o Anemia pós operatória; o Obesidade, o Diabetes; o Cultura positiva no LA. Diagnóstico Clínico, fundamentado na presença de: Febre (temperatura oral de > 38ºC, em mais de dois dias dos primeiros 10 dias do pós-parto, ou > 38,7º nas primeiras 24 horas pós-parto) Dor à mobilização uterina Ausência de outras causas que justifiquem. Outros sinais incluem: lóquios fétidos, calafrios e dor em baixo ventre. Pode ter sangramento uterino excessivo. Divisão: Início precoce: quando acontece nas primeiras 48 horas pós-parto Início tardio: até 6 semanas após o parto. O mais frequente é aparecer entre o 3-7º dia do puerpério. Bacteremia se apresenta em 10 a 20% dos casos. Exames complementares Hemograma, e xames Culturais (Hemocultura, urocultura, cultura endometrial e de FO) → não são necessários para a tomada de decisão sobre o início do tratamento específico e não predizem melhores resposta. Podem orientar a modificação de antimicrobianos ou reforçar a necessidade de uso. Leucocitose com desvio a esquerda. Raio X de tórax (raramente) → se suspeita de foco pulmonar. Ecografia endovaginal em alguns casos. Tratamento Infecção Puerperal O tratamento na maioria das vezes é empírico. Esquemas antimicrobianos de amplo espectro o Clindamicina associada a Aminoglicosídeo por via parenteral. P á g i n a | 4 o 1ª Escolha: Clindamicina 900mg EV 8/8h ou 600mgEV 6/6h+ Aminoglicosídeo: Gentamicina 2mg/Kg EV, dose inicial, 1,0-1,7 mg/Kg 8/8h manutenção dose única diária:5 mg/Kg Amicacina 5,0-7,5 mg/Kg EV, dose inicial 5 mg/Kg 8/8h ou 7,5mg/Kg 12/12h manutenção dose única diária 15mg/Kg Adicionar Ampicilina se suspeita de infecção por enterococo. o O tratamento é mantido até que a paciente se mostre afebril por 48 horas. o Se o tratamento inicial não modificou os sintomas em até 3 dias, deve ser considerada falha terapêutica com necessidade de reavaliação do caso. o Falha no tratamento: utilização de doses inadequadas, infecção por microrganismos resistentes, presença de abscessos pélvicos e tromboflebite séptica pélvica. o Indicado usar antibiótico de segunda linha: imipenem/cilastatina. Endometrite pós-parto Mais tranquilo porque o útero não foi cortado nesses casos. Da os mesmos sintomas, mas tem menor morbidade. Antimicrobiano de largo espectro. o 1ª escolha: Ampicilina 1g/6h. o Falha de tratamento (persistência da febre) pode estar relacionada a retenção de restos placentários ou infecção por anaeróbios. Pode-se associar um anaerobicida ou fazer curetagem nesses casos. Ferida operatória Ocorre em 4 a 12% das pacientes após a cesárea. Agente causal pode ser Gram + aeróbico (Staphylococcus aureus) mais prevalentes. o Conduta inicial: exploração + drenagem. o Infecções superficiais (sem acometer aponeurose), podem ser tratadas com medidas locais, como abertura da FO, higiene com soro e curativos 2 a 3 vezes/dia. o Se comprometimento de aponeurose e deiscência, há necessidade de desbridamento cirúrgico. o Antimicrobianos são indicados apenas se a infecção vai além do limite da incisão (celulite): o Se comprometimento limitado, sem acometer planos profundos → cefalosporina de primeira geração (cefalexina) em 7 dias. o Infecção extensa: drenagem cirúrgica + antimicrobianos de alta cobertura. Episiotomia Baixa taxa de infecção (0,5 a 3%) → por causa da alta perfusão tecidual da região. Quanto maior o número e a extensão das lacerações pela episiotomia, maior o risco de contaminação e infecção subsequente. P á g i n a | 5 A presença de infecção uterina aumenta o risco de infecção na episiorrafia. Sinais flogísticos locais e supuração são os principais sinais, podendo estar associados a deiscência de sutura. o Tratamento: abertura e drenagem local, com banhos de assento em água morna e soluções antissépticas. o Períneorrafia pode ser considerada após a formação do tecido de granulação saudável. Complicações Abcesso Pélvico 1-2% das pacientes evoluem com abcesso abdominal. Indicativos: persistência da febre em picos, que acontecem mais a tarde. Diagnóstico: exames de imagem → ecografia, TC ou RMN. Punções guiadas por US + culturais das coleções. Abcessos multiloculados entre alças ou difusos na cavidade abdominal são abordados cirurgicamente, com lavagem exaustiva da cavidade e resolução de condições associadas.Tromboflebite séptica pélvica Trombos nos vasos pélvicos pela infecção. Fatores predisponentes: cesariana no curso do parto, ruptura prematura de membranas, parto distócico, anemia, desnutrição e doença sistêmica. o Acontece em 1/2000 nascimentos. Fisiopatologia: dano na camada íntima das veias pela bactéria, com estímulo ao processo de formação de coagulo, que é invadido por microorganismos. o Pode envolver vasos ovarianos, ilíacos comuns, hipogástricos, vaginais e a veia cava inferior. A ovariana é a mais comum. Geralmente apresentam melhora clinica com o início de antimicrobianos, mas permanecem com picos febris ou subfebris. Diagnóstico: Exame clínico geralmente não é suficiente e TC ou RMN podem ser inconclusivas. Tratamento: empírico, com uso de heparina + antimicrobiano como teste terapêutico. o Heparina não fracionada subcutânea ou endovenosa ou heparina de baixo peso molecular. o Resposta clínica em 48-72 horas do início da heparina. Deve ser mantida por 7 a 10 dias. Complicações: embolização séptica para outros órgãos, formando abcessos e endocaridite. P á g i n a | 6 Fasciite necrosante Raro mas potencialmente fatal. São infecções graves com processo inflamatório rápido e progressivo, evoluindo para necrose do tecido subcutâneo, fáscia superficial e profunda e trombose concomitante da microcirculação cutânea podendo acometer a camada muscular e vasos profundos. Afetam FO, episiorrafias e lacerações perineais, com alto potencial invasor, e formação de extensas áreas de necrose, incidindo entre o 3º e 5º dia pós parto. Agentes infecciosos: E. coli, Bacteroides sp., Streptococcus sp e anaeróbios. Quando monomicrobiana é relacionada a S. pyogenes e mais raramente Clostridium perfringens, S. aureus, P. aeruginosa e V. vulnificus. Fatores de risco: DM, drogas intravenosas, doença maligna, insuficiência renal crônica, doença maligna, hipertensão arterial sistêmica com arteriosclerose, radioterapia, desnutrição, idade avançada, cirurgia por trauma, imunossupressão e alteração imunológica. Mortalidade: 50% Sinais e sintomas: variáveis. Manejo: exploração cirúrgica precoce + agressivo desbridamento cirúrgico + antimicrobiano de amplo espectro (clindamicina, aminoglicosídeos e beta- lactâmicos) + monitorização em CTI. Mastite e abcesso mamário Complicações comuns no puerpério. Com maior frequência e pacientes com dificuldade na amamentação (pega inadequada), acometendo 2-6% das mulheres que amamentam. Processo infeccioso agudo das glândulas mamárias. Achados clínicos: inflamação local, febre, mal- estar geral, astenia, calafrios e prostração – sinais flogísticos. Geralmente são polimicrobianas, com S. aureus em 50-60% dos casos. Fatores predisponentes: fissuras mamilares, obstrução ductal e o ingurgitamento mamário. Tratamento: o Antimicrobianos: penicilinas resistentes à penicilinase ou cefalosporinas que cobre S. aureus produtores de beta-lactamase. Dicloxacinlina Cefalexina VO 7 dias o Orientações sobre amamentação. Tratamento se abcesso: o Drenagem cirúrgica com anestesia. Mastite não tratada Abcesso mamário P á g i n a | 7 o Cuidados semelhantes a infecção de FO. o Suspensão temporária da amamentação. Infecção do trato urinário 2 a 4% das mulheres pós-parto. Fisiopatologia: após o parto a bexiga e o trato urinário inferior podem apresentar hipotonia, com aumento de resíduo miccional e refluxo vesicoureteral. Fatores de risco: associação com cateterização, trauma tecidual, ITU prévia não tratada, anestesia condutiva, exame pélvico frequente, contaminação perineal. Sintomas: febre como sintoma inicial e outros sintomas semelhantes a ITU comum (disúria, ardência, polaciúria). Evolui mais rapidamente para pielonefrite. E. coli é a principal bactéria → amostra da urina para urocultura. Tratamento: iniciado empiricamente. Antibiograma pode auxiliar em casos de troca ou falha de tratamento inicial. Medidas profiláticas Antibioticoprofilaxia na cesárea A antibioticoprofilaxia deve ser feita de rotina em todas as cesarianas, pois reduz a morbidez infecciosa pós-operatória O American College of Obstetricians and Gynecologists recomenda o uso de antibióticos de pequeno espectro, como cefalosporinas de primeira geração para essa profilaxia antes da incisão na pele. o Utilizamos uma dose de 2 g de cefazolina, por via intravenosa logo no início da cirurgia. Se o procedimento for prolongado, realiza-se mais uma dose intravenosa de 1 g em um intervalo de 4 horas. Antes eram indicadas as cefalosporinas em dose única, após o clampeamento do cordão umbilical. Hoje, se faz cefalosporinas profiláticas antes da incisão. Antibioticoprofilaxia em partos vaginais Não são rotineiramente candidatas a antibioticoprofilaxia. Em casos de lacerações de 2º ou 4º grau, com cefalosporinas de 2ª geração (cefoxetina ou cefotetam) antes da sutura. Em casos de extração manual da placenta, pode-se usar, mas não há recomendações.
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