Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO Infecção que compreende 3 espectros: bacteriúria assintomática, cistite e pielonefrite V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O INTRODUÇÃO • Mais comum em mulheres: Pela proximidade do TGU e TGI, e também em mulheres com vida sexual ativa, haja vista que o pênis masculino é porta de entrada para inúmeras bactérias. • Principal agente: E. coli, uma bactéria intestinal cheia de fímbrias que ascendem o trato urinário. • A ITU compreende inúmeros tipos: Haja vista que a bactéria pode se instalar em diversos seguimen- tos do trato, e até não causar sintomas. • 150 milhões de casos anuais no mundo! TIPOS DE ITU • Bacteriúria Assintomática: A bactéria coloniza, mas não causa sintomas. • Cistite: ITU baixa, infecção e inflamação da bactéria na bexiga, ureteres e uretra. • Pielonefrite: ITU alta, infecção e inflamação renal, a bactéria ascente até os rins. • Prostatite: Infecção prostática. ETIOLOGIA DAS ITU BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA DEFINIÇÃO • Paciente assintomático • Urinocultura mostrando: ≥ 105 UFC/ml ou ≥ 10² UFC/ml em paciente cateterizado. QUANDO TRATAR? • Grávidas: A bactéria pode ascender e causar uma ruptura prematura de membranas, por ex. • Procedimento urológico invasivo: Evitar sepse. • Pós-transplante renal e neutropênicos: Não é unânime! O Harrison coloca como um “talvez”. TRATAMENTO • Cefalexina 500 mg 6/6h durante 7 dias *Candidúria assintomática, devo tratar? Remover o cateter nos cateterizados e tratar só aqueles com alto risco de evoluir para doença sintomática: Neutropê- nicos, transplantados instáveis, submetidos à manipu- lação urológica e RN com baixo peso ao nascer. • Tratamento: Fluconazol 200-400mg no 1º dia, e 100-200 de manutenção por 7-14 d. CISTITE (ITU BAIXA) DEFINIÇÃO: Usamos o termo ITU baixa para designar todas as infecções abaixo dos ureteres, o quadro abaixo mostra a principal diferença entre elas. • Cistite: Infecção/inflamação da bexiga. • Uretrite: Infecção da uretra, geralmente associado a corrimento uretral. • Prostatite e epididimite: Infecção da próstata e epidídimo (vistos com mais detalhes depois). V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O EPIDEMIOLOGIA • Das ITUs sintomáticas: 90% correspondem à cistite, 10% à pielonefrite. • Paciente típico: Mulheres, com maior atividade sexual e mais velhas. QUADRO CLÍNICO • Disúria: Dor ao urinar, geralmente ardor. • Urgência e frequência miccional: O paciente passa a ir mais vezes ao banheiro e quando vai só sai algumas gotinhas. • SEM FEBRE! A presença de febre nos faz pensar em cistite associado a pielonefrite. • Noctúria: Urina muito à noite, acorda para isso • Desconforto suprapúbico • Hematúria macroscópica e urina turva *Cistite complicada? Na prática, qualquer paciente que não seja mulher, jovem, saudável e não grávida. DIAGNÓSTICO • História clínica: Um quadro clínico compatível é mais que suficiente pra tratar esse paciente. • Urocultura: Padrão-ouro, mas sem muita utilidade. • Dipstick: Exame de fita reagente, deve ser feito quando a avaliação não é muito elucidativa, podemos tratar se o resultado do nitrito ou da esterase derem positivo. • EAS: Útil, mostra piúria (maioria) com nitrito positivo e hamatúria em 30% dos casos. TRATAMENTO • Fosfomicina trometamol (Monuril): Ótimo pois pode ser administrado 3g em DOSE ÚNICA. • Nitrofurantoína: 100mg 6/6h por 5-7 dias • SMX-TMP: 400/80mg 12/12h por 3 dias. (NÃO DEVE SER FEITO O TRATAMENTO EMPÍRICO) • Betalactâmicos: Amoxicilina e cefalexina. (NÃO DEVE SER FEITO POR TRATAMENTO EMPÍRICO) • Quinolonas: por 3 dias (O FDA atualmente não recomenda o tratamento dos casos leves com quinolonas devido os inúmeros efeitos adversos). *Em gestantes: Tratar preferencialmente com fosfomicina, betalactâmicos ou nitrofurantoína. *Cistite complicada ou recorrente deve ser tratada por 7 dias, homens devem ser tratados por 7-14 dias. *Infecções urinárias por Proteus, Providencia e Klebsie- lla possuem a curiosa característica de tornar a urina roxa! (Purple urine bag syndrome) PIELONEFRITE (ITU ALTA) DEFINIÇÃO: Pielonefrite é um quadro de inflamação / infecção aguda dos rins e pelve renal. CLASSIFICAÇÃO • Não complicada: TRATO URINÁRIO NORMAL! Infecção alta em pacientes que possuem o TGU estruturalmente e neurológicamente normal. • Complicada: São ditas complicadas quando acometem indivíduos com anormalidades funcionais ou estruturais do trato urinário. Incluindo a presença de cateteres vesicais e cálculos urinários. Casos de presença de abscessos, pielonefrite enfisematosa e necrose de papila também compõe o quadro. EPIDEMIOLOGIA • Cerca de 200 mil admissões/ano: Segundo estudo americano estimado. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • No período neonatal: A ITU acomete mais os meninos do que as meninas. • 1-50 anos: Do primeiro até os 50 anos, essa relação é maior para as mulheres do que homens. • > 50 anos: A relação se igualiza e fica aproximada. ETIOLOGIA • Escherichia coli: 70 a 90%. • Staphylococcus saprophyticus: 5-15% (mulheres jovens no verão, principalmente). • Outras causas: Proteus, Klebsiella, Enterococcus. FISIOPATOLOGIA 1. Colonização uretral: Colonização da urina por bactérias aeróbias e origem fecal. Nas mulheres geralmente atingem a bexiga de forma ascendente pela uretra. Nos homens, por um caso obstrutivo ou em casos de sonda. 2. Transporte até a bexiga: Algumas bactérias como o E. coli aderem às células epiteliais, facilitando que subam. 3. Crescimento bacteriano: As bactérias crescem na bexiga principalmente pelo esvaziamento incompleto (que pode ocorrer até nos saudáveis). 4. Transporte até a pelve renal e rim: Durante a ascensão, as bactérias aderem à mucosa e liberam fatores pró-inflamatórios que irão recrutar linfócitos e polimorfonucleares, provocando edema, dano tecidual e vasoconstricção, até necrose. FATORES DE RISCO • História de ITU prévia • Sexo feminino, atividade sexual, menopausa e uso de diafragma com espermicida: O sexo facilita a entrada das bactérias na bexiga e o uso de espermicida elimina lactobacilos da flora e permite supercrescimento da E. coli. • Anormalidade funcionais ou anatômicas: HPB, tumores, estenoses, cálculos, bexiga neurogênica, incontinência urinária. • Cateter vesical: A instrumentação urinária facilita a introdução bacteriana no momento da cateterização ou migrarem através da superfície do mesmo, a urina pode refluir para a bexiga também. • Diabetes mellitus e imunossupressão • Gravidez: 20-30% das gestantes com bacteriúria assintomática desenvolve pielonefrite. A gravidez causa menor tônus ureteral, peristalse reduzida e incompetência das valvas, facilitando a doença. QUADRO CLÍNICO • Dor progressiva nos flancos • Febre: Alta, no padrão “cerca de piquete”, em que o paciente apresenta um pico e melhora após 72h de tratamento. É o que diferencia da cistite! • Náuseas e vômitos • Fadiga e prostração • Cistite: Disúria, polaciúria, dor suprapúbica, hematúria e/ou urina turva, pode estar ausente. • Exame físico: Febril, taquicárdico, queda no estado geral e dor à palpação e a punho-percussão lombar (sinal de Giordano positivo). DIAGNÓSTICO • Clínica compatível: Cistite + febre + exame físico. • EAS: Com bacterioscopia por Gram, revela altas concentrações de bactérias na urina e permite ATB restrita ao gram da bactéria encontrada. o Nitrito: As enterobactérias gram negativas transformam nitrato em nitrito(menos V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O Pseudomonas), sendo um marcador muito sensível de infecção urinária. o Pesquisa de piúria: Marcador extrema- mente sensível de pielonefrite, sua ausência deve ser motivo para pensar em diagnóstico diferencial. • Cultura de urina: Evidencia altas concentrações de bactérias na urina. • Hemocultura com teste de sensibilidade antibiótica: Essencial, marca a eficácia da terapêutica e permite a escolha de um ATB oral. EXAME DE IMAGEM • TC com contraste: Padrão-ouro! • Quando solicitar? Dúvida diagnóstica, falha terá- pêutica, suspeita de abscesso ou obstrução. TRATAMENTO INDICAÇÕES DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR • Doentes graves • Imunodeprimidos • Gestantes • Suspeita de abscesso, obstrução ou cálculo • Crianças ou homens • Vômitos persistentes apesar de antieméticos • Ausência de terapia oral adequada • Condições inadequada para tratamento em casa • Má aderência medicamentosa PIELONEFRITE NÃO COMPLICADA REGIMES ORAIS • Ciprofloxacino 500 mg 2x/dia • Levofloxacino 500-750 mg 1x/dia REGIMES PARENTERAIS • Ceftriaxone 1g 1x/dia • Ciprofloxacino 400 mg 2x/dia • Levofloxacino 750 mg 1x/dia • Aztreonam 1g a cada 8-12h PIELO COMPLICADA → APENAS VENOSO! • Pipe/Tazobactam 3,375g 6/6h • Cefepime 1g 12/12h • Meropenem 1g 8/8h • Imipenem 500 mg 6/6h *TRATAMENTO AMBULATORIAL SEM QUINOLONA? 1. Uma dose de ceftriaxone IM 2. 10-14 dias de algum desses VO: Amoxicilina- clavulanato, Cefpodosxime, Cefadroxila. *GRAVIDAS E CRIANÇAS: Evitar quinolonas! A droga de preferência nesse caso é o ceftriaxone. QUANTO TEMPO DEVEMOS MANTER O TTO? • Tempo padrão de tratamento: 7-14 dias. • Infecções muito graves/complicadas: 14-21 dias. *ITU associada a cateter vesical: O preconizado é a remoção do cateter e utilização de ATB sistêmicos por 7 a 14 dias, quando a cultura sair tratamos o agente específico (que pode ser múltiplo). PROGNÓSTICO • Melhora nas primeiras 48h: Praticamente todos os pacientes melhoram, com desaparecimento da febre e melhor estado geral. • Reavaliação pós 48h sem melhora: Possível erro diagnóstico, colher uma nova anamnese e exame detalhado, repetir os exames laboratoriais e solicitar uma TC de vias urinárias para avaliar complicações. • Urinocultura de controle: Após 2-4 semanas. • Crianças: Investigar o trato urinário com USG e uretrocistografia miccional e manutenção do ATB profilático até a conclusão da investigação. PROFILAXIA → +2 episódios/ano • Evitar uso de espermicidas • Estrogênio vaginal na menopausa V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • Urinar após a relação sexual (mulheres) • Evitar cateterização urinária • Corrigir anormalidades urológicas • Profilaxia antimicrobiana: Nitrofurantoína, SMXTMP, Norfloxacino e Ácido pipemídico. Opções em baixa dose por longos períodos. COMPLICAÇÕES PIELONEFRITE ENFISEMATOSA Complicação do paciente diabético, é uma pielonefrite grave e de início súbito, induzido pela rápida fermentação da glicose pelas bactérias, que produzem gás, esse gás pode ter dois destinos: • Pielonefrite enfisematosa: É quando o gás vai para o parênquima renal. • Abscesso gasoso: Gás dentro de um abscesso. • Pielite enfisematosa: Gás dentro da pelve e sistema coletor renal. EXAMES • RX de abdome simples: Pode ver gás na loja renal, já seria o suficiente. • USG de abdome: Também consegue ver gás. • TC de abdome: Vê a necrose, além de gás. QUADRO CLÍNICO • Pielonefrite grave de início súbito • Sepse e extensa necrose renal TRATAMENTO: Individualizado! Usualmente a abordagem é nefrectomia, mas a terapia conservadora pode ser utilizada também. NECROSE DE PAPILA DEFINIÇÃO: Ocorre quando a infecção das pirâmides renais está associado a doenças vasculares dos rins ou obstrução, o que resulta numa hipoperfusão da papila. ETIOLOGIA *Quando há a associação de necrose de papila com pielonefrite (principalmente em diabéticos), a infecção pode se agravar pela obstrução da via urinária com tecido morto! QUADRO CLÍNICO • Hematúria macroscópica • Dor em flanco ou abdome • Febre e calafrios • Na maioria dos casos a necrose é bilateral! DIAGNÓSTICO: Tecido necrótico eliminado na urina ou identificação de sombra anular na pielografia. OBSTRUÇÕES DA VIA URINÁRIA • Infecção + obstrução do fluxo urinário = desobstrução ou drenagem alternativa! • A remoção dos cálculos pode ser adiada: Até que a carga bacteriana seja reduzida. Nesses casos, optamos pela passagem de cateter duplo “J” ou nefrostomia percutânea até a estabilização. ABSCESSOS RENAIS OU PERINÉFRICOS A maioria (75%) dos abscessos renais e perinéfricos são originários de infecções do trato urinário! *OBS: Abscessos hematogênicos não se apresentam com a síndrome clínica da pielonefrite. QUANDO CONSIDERAR A POSSIBILIDADE? • Febre após 4-5 dias de tratamento adequado • Urinocultura com flora polimicrobiana • Presença de cálculos renais: Principal fator de risco para os abscessos! • Febre + piúria com urinocultura estéril: Nem todos os abscessos se comunicam com o sistema coletor, podendo ter uma urinocultura estéril. PRINCIPAIS AGENTES ENVOLVIDOS: S. aureus, Candida spp. E Mycobacterium tuberculosis. TRATAMENTO: Cirurgia (Drenagem aberta do abscesso) ou Drenagem percutânea + Antibiótico! PIELONEFRITE XANTOGRANULOMATOSA DEFINIÇÃO: Desenvolvimento de um processo inflamatório diferente, com destruição maciça do rim por tecido granulomatoso e macrófagos repletos de lipídeos, pode ser confundida com uma neoplasia! *Acometimento geralmente em mulheres de meia idade, unilateral, com a formação de inúmeros cálculos coraliformes. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O QUADRO CLÍNICO • Dor lombar • Febre • Queda do estado geral • Perda de peso DIAGNÓSTICO • Exame físico: Massa abdominal palpável. • Hemograma: Anemia com VHS elevado. • EAS: Piúria e bacteriúria, crescimento de micro- organismos na cultura, principalmente gram negativos. • TC ou Angiografia: Confirmam o diagnóstico, tem que pedir. TRATAMENTO • Antibioticoterapia: Pré-cirúrgica! • Nefrectomia do rim acometido. PROSTATITE PROSTATITE BACTERIANA AGUDA (TIPO I) • Espontânea ou precipitada por cateter vesical: Na espontânea, acomete mais homens jovens. • Quadro clínico: Febre, calafrios, dor perineal e disúria. (Cistite + febre e calafrios). • Próstata edemaciana, tensa e sensível ao toque • Etiologia: E. coli (não cateterizados) e E. coli, enterococos e gram-negativos adquiridos (cateter) • Tratamento: Quinolonas (primeira linha)! Ou SMX- TMP, cefalosporinas de 3ª geração ou aminoglico- sídeos como segunda linha, pode ser EV ou VO, mas provavelmente por um tempo de 6 semanas. PROSTATITE BACTERIANA CRÔNICA (TIPO II) • Homem de meia-idade com ITU baixa recorrente: A próstata fica como um reservatório de bactérias e a infecção pode se propagar para a bexiga. • Próstata normal ao toque retal • Tratamento: Igual ao tipo I, ATB por tempo prolongado, de 6 até 12 semanas (em recorrentes). o Prostatectomia radical: Em último caso! SÍNDROME DE DOR PÉLVICA CRÔNICA (TIPO III) • Principal causa de dor de origem prostática • Quadro clínico: Dor perineal e sintomas urinários. • SDPC inflamatória (IIIA): Secreção prostática contendo pelo menos dez vezes mais leucócitos que a urina do jato médio. o Tratamento: ATB (eritromicina, doxi, quinolonas ou SMX-TMP) por 4-6 semanas. • SDPC não infalamtória (IIIB): A patogênese ainda é um mistério, acredita-se quetalvez por processo autoimune, infecção viral, neurogênico. Diversos tratamentos já foram instituídos, mas sem resposta satisfatória. FLUXOGRAMAS BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O ITU BAIXA PIELONEFRITE AGUDA V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O ITU NO PACIENTE COM CATETER URINÁRIO CANDIDÚRIA
Compartilhar