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PROCESSO CIVIL I - principios constitucionais

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PROCESSO CIVIL – AULA V – NICOLE PAZZINI
· Fundamentação racional das decisões judiciais e princípio da publicidade dos atos processuais
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE:
Um processo para ser considerado devido ele tem de ser público. 
Um princípio serve para controlar o exercício do poder, eventualmente público, por isso o processo deve ser instaurado e desenvolvido em público, salvo em exceções ditadas pelo legislador. Justamente para permitir a fiscalização do exercício do poder público.
A regra geral é que são processos judiciais são públicos.
Exemplo: Uma audiência judicial – são atos públicos, acessíveis ao povo. 
TV JUSTIÇA – mesmo o debate decisório, a ponto de ser televisionado. 
Há críticas perante isso porque os comportamentos dos supremos podem mudar perante a televisão.
Há uma garantia constitucional de que o processo se desenvolva aos olhos do público. 
Essa garantia tem duas funções/justificativas:
Primeira dimensão de um direito fundamental a publicidade, é a sua dimensão interna, endoprocessual, uma garantia que se estende aos participantes de uma determinada relação processual, isso significa dizer que do ponto de vista de quem participa diretamente do processo, há uma garantia de que eles tenham conhecimento de todos os atos processuais. Eles possuem uma publicidade praticamente irrestrita perante as partes.
Ele só pode exercer as devidas garantias do processo a partir do momento que ele tem conhecimento da petição inicial, da citação para que ele possa participar. 
Dimensão externa: dirigida a terceiros, a quem não participa diretamente de uma relação processual. Garantia dos demais cidadãos: controle externo e geral a ser desenvolvido por qualquer um de nós. Processo devido, é processo público: poder controlado e fiscalizado. 
Quando essa publicidade é vedada?
Estão delineadas no artigo 5 LX;
Art 5 CF LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
Proteção de intimidade: das partes do processo que devem se manter em sigilo.
Proteção do interesse social: NO CPC – artigo 189 
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
ART 11: Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.
Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público.
· Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos: 
I - em que o exija o interesse público ou social; 
II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; - direito de família, envolve a intimidade das pessoas, e para manter essa intimidade, ele é vedado na maioria das vezes da participação de terceiros.
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; 
Art 93: IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade (art 489 – cpc ), podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação
Publicidade e fundamentação das decisões judiciais, ela deve ser devidamente fundamentada para que nós controlemos o poder do estado, para que tenhamos uma garantia de que ele não seja feito de modo arbitrário, e que todos os participantes foram ouvidos. 
Podemos ter acesso as decisões do tramite, mas os nomes dos participantes serão removidos. 
Livre convencimento – reforçar o caráter de que o poder jurisdicional é balizado pelo debate processual. Todo poder deve ser controlado e fiscalizado. 
Lenio Streck – Livre Convencimento
Fernando Gajardoni – defende a prevalência do livre convencimento 
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA:
Está previsto no: 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
III - a dignidade da pessoa humana;
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
Ela está associada ao núcleo essencial dos direitos fundamentais, uma das definições de um direito fundamental é justamente a vinculação a dignidade da pessoa humana. 
Ela aparece como fundamento da república; 
Ela é basicamente um conceito filosófico: 
A história da pessoa humana foi a partir de Kant, de acordo com Kant, na vida, os entendes das coisas tem um valor preço e dignidade. A dignidade e justamente a qualidade de algo que não pode ser precificado. Os bens da vida ou tem preço ou dignidade.
Se algo tem preço, valor, ele pode ser colocado como instrumento na concepção de um fim. Alguns desses valores ostentam dignidade, portanto, não podem ser instrumentalizados para consecução de um fim, o que tem dignidade é um fim em si mesmo.
Para Kant, a pessoa humana é um a sim mesmo, a pessoa humana ostenta o status da dignidade. O fato de ela ser humana, ela já tem essa qualidade de dignidade. 
Caso do anão: feriu sua dignidade, pois ele estava sendo usado como um objeto para dar diversão aos demais. 
Houve o argumento de que aquele serviço dá renda para ele, amigos, popularidade, trouxe dignidade a ele (caso americano) 
CÓDIGO DE PROCESSO 
Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
Ao aplicar o direito, o juiz deve promover a dignidade da pessoa humana.
O termo promoção leva parte da doutrina a dizer que o juiz adotasse uma postura ativa e eventualmente criativa, para promoção da dignidade.
EXEMPLO: O dever de promover esse princípio vem traduzido por exemplo, nas normas de comportamentos das partes e do próprio juiz em relação aos demais participantes 
Art. 459. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, começando pela que a arrolou, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com as questões de fato objeto da atividade probatória ou importarem repetição de outra já respondida.
Deve ser tratado com dignidade, sem que se faça perguntas vexatórias. 
Art. 388. A parte não é obrigada a depor sobre fatos:
III - acerca dos quais não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau sucessível;
A garantia se traduz na ordem de tratamento digno dirigido aos participantes
Serve como uma fonte de interpretações construtivas do juiz.
Art 838 – Lista de bens que não podem ser penhorados.
No entanto, esse artigo não prevê todas as hipóteses, não prevê por exemplo a impenhorabilidade de um cão guia, então o juiz poderia estender essa garantia para abranger um cão guia, evitando a penhora do cão de quem tem uma deficiência visual; 
Art 1048 CPC – Preferência por tratação processual, alguns processos tem uma tramitação mais rápida que os demais. E um dos casos, é o caso de quem tem doenças graves, onde o sujeito que participa um processo que t
em doença grave, mas não está regulamentada.
O juiz poderia ampliar, promovendo a extensão da prerrogativa por quem possua uma doença, mesmo não explicita na regência. 
JURISDIÇÃO
Ela é justamente o exercício do poder judicial do estado no plano de um direito constitucionalizado.
1.1 Introdução: A jurisdição, a tarefa de dizer o direito, ela sofre um influxo da experiência estatal a que ela corresponde.Eu tenho uma jurisdição de inspiração liberal – socializadora – democrática/contemporânea 
· Jurisdição liberal: Revolução Frances – 1789 
Ela consagrou um modelo de direito em um momento pós revolucionários, de plena desconfiança dos juízes. Os juízes eram componentes do regime antigo, eram representantes da nobreza, uma vez que a nobreza tenha sido derrubada, eles continuaram a exercer seu oficio com outro direito (revolucionário). Então esse direito de uma nova sociedade é a de reduzir a jurisdição a uma atividade nulo, ele é declaratório da lei. O exercício da jurisdição é a declaração do que está contido na lei. 
A lei juridicamente tem validade independentemente do seu conteúdo, e a justificativa para que se cumpra a lei, é o fato de que ela expressa a vontade geral pela comunidade responsável pela sua criação. 
A jurisdição era mais reparatória – Eu não poderia recorrer para evitar que a lei seja descumprida, eu só vou lá quando ela já foi descumprida. 
· Jurisdição socializadora: Final do século XVIII e XIX as categorias processuais passaram a ser mais desenvolvidas.
Esse período representa a transição de um estado liberal para um estado social, maior publicíssimo do juiz e do poder público. 
CONCEITOS CLÁSSICOS DE JURIDISÇÃO
Joseph Kiovenda: para ele, a jurisdição consiste na declaração da vontade concreta da lei. 
Significa que em um processo individual, nós temos as partes que tem vontades conflitantes, a partir do momento em que um caso é submetido em jurisdição, a vontade das partes é substituída pela vontade concreta da LEI. 
A VONTADE PÚBLICA SE SUBSTITUI A VONTADE DAS PARTES. 
Cabe ao juiz organizar o que o ordenamento jurídico previu para solucionar o caso concreto, e não é a vontade das partes e sim o que a lei quer. 
Francesco Carnelutti: para ele, o elemento central da sua reflexão é um conceito sociológico, de lide = é um conflito de interesses qualificado pela pretensão de um e pela resistência do outro. 
Lide é um conceito central do que vem a ser jurisdição, para ele, a jurisdição é uma forma de obter a justa composição da lide = pretensão resistida por alguém = quando eu levo uma lide ao poder judiciário o que eu obtenho é uma justa composição = é a criação de uma norma individual que vai fazer lei entre as partes, para solução de uma lide específica criada com base em normas gerais previstas no ordenamento jurídico. 
Jurisdição contemporânea: Constitucionalização do direito = se manifesta também na transformação do princípio da legalidade =
Direito e lei se equivalia e a lei era a vontade dos homens brancos, burgueses, que construíam as leis como tradução da vontade geral.
Conformo o processo civilizatório evoluí, o processo foi alterado, os analfabetos, mulheres, ex escravos passaram a votar e essa representação modificou o processo legislativo, que hoje as leis traduzem o interesse de determinados grupos (minorias, partidos, corporações), as leis são muito fragmentadas. 
Com a fragmentação se viu a necessidade de se filtrar a produção legislativa, a lei, para que ela somente valesse não contrariasse determinados princípios de justiça. O seu fundamento de validade passa a ser sua conformidade com princípios de justiça.
A jurisdição contemporânea emerge em um período de constitucionalização do direito que traz essa transformação para atividade jurisdicional. 
Quando eu passo a exigir que a lei seja filtrada, eu estou dizendo que a lei para ser válida ela deve estar em conformidade com a constituição. A lei e o direito não se equivalem mais. Para a lei ser válida ela não pode contraria a constituição, os princípios.
 A atividade jurisdicional não é mais a declaração da lei, e sim verificar a compatibilidade da lei com a constituição. 
Controle de constitucionalidade: verificar a compatibilidade das leis com a constituição.
Ex: Lei prevê um procedimento em que não se garante ao acusado o direito de defesa – ela contraria a constituição, quem fará esse controle, é o poder judiciário, que pode controlar a constitucionalidade das leis e dos atos normativos. 
Nas democracias esse controle ele foi em geral atribuído ao elemento jurisdicional do estado, e a pode ser exercida por um tribunal constitucional alheio ao poder judiciário. O Brasil ao exemplo dos EUA acolheu um modelo hibrido, em que há controle concentrado com o controle difuso de constitucionalidade.
Controle concentrado: eu chamo o tribunal a se manifestar sobre a constitucionalidade de um decreto
Eu levo ao STF para ver se ele é ou não em tese combatido com a constituição. Eu posso questionar em tese, a sua validade e a decisão do tribunal competente. Exercido basicamente pelo STF. 
Controle difuso: Todos os juízes do brasil em casos concretos ordem verificar a compatibilidade das leis e dos demais atos normativos com a constituição.
Freddie Diddie – fez um apanhato de características que compõe a atividade contemporaneamente. 
“É a função atribuída a terceiro imparcial de realizar o direito de modo imperativo e criativo, reconhecendo, efetivando, protegendo situações jurídicas concretamente deduzidas em decisão insuscetível de controle externo e com aptidão para tornar-se indiscutível. ”
Características da jurisdição contemporânea com base nesse conceito:
· Fato de ela ser uma atividade realizada por um terceiro imparcial – hétero composição = a composição do conflito é realizada por alguém que não participa do conflito. 
Exercida de forma imparcial = imparcial – juiz não é parte do processo, mas é uma atividade imparcial, de forma que o juiz deve manter equidistância entre as partes, igualdade de tratamento.
· A jurisdição é uma manifestação de poder: imperativo – ato de poder, não pede, manda. 
· Criatividade: está atribuída uma interpretação secundária, de forma construtivo ou criativo, inclusive porque no Brasil o poder jurisdicional não pode deixar de julgar por dizer que não ter uma lei/norma. Não pode dizer “não há lei”.
· A atividade jurisdicional é exercida em um processo, e esse processo assume diferentes formatos (tutela de proteção, em processos executivos do qual se efetiva um direito reconhecido). Independentemente do formato de se garantir a tutela efetiva dos direitos. 
· Ela visa a solução de situações concretas. Um problema concreto, o juiz não é chamado a formular uma solução para o futuro como é o legislador. 
· A atividade jurisdicional é uma atividade insuscetível de controle externo = só a jurisdição controla a jurisdição.
· Se o juiz toma uma decisão injusta/ileal/equivocada aquele que se sente prejudicado não pode recorrer ao poder legislativo, executivo, ele só obterá a solução recorrendo ao próprio poder judiciário.
· A atividade jurisdicional é que tem a aptidão para formar coisa julgada = para se tornar indiscutível. Uma vez que o poder judiciário delibere sobre uma determinada questão de modo definitivo, não caiba mais nenhum recurso, certa ou errado, ela se torna indiscutível. 
Existem meios alternativos de resolver os conflitos:
Autotutela: Ele faz exercer seu próprio direito por força própria. O exercício da autotutela é bem restrito.
 Exemplo: legítima defesa.
Sobreposição: modo preferencial de se resolver um conflito de interesses, quando eles (as partes) constroem de forma altruísta, entram em acordo, as próprias partes constroem a decisão.
Ex: acordos extrajudiciais.
· A composição amigável pode ser instaurada em qualquer fase do processo!!!!
Heterocomposição – composição de conflitos feito por terceiro. Embora tenha características parecida com um tribunal, não exercem jurisdição. 
Ex: Tribunal marítimo, eles exercem uma jurisdição particular.
Contas da união e do Estado – proferem julgamento perante conflitos de interesses
Agências reguladoras – Anatel – exercem a atividade de solução de conflitos entre os prestadores e seus usuários.
Não são jurisdição estatal, por um elemento, de que suas deliberações podem ser revisadas pelo poder judiciário. 
Se o gestor público não concordar com a decisão proferida pelo tribunal de contas, eles podem recorrer a jurisdição estatal.Art 5, inciso 35. – Postular revisão perante as decisões.

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