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Estudo de caso sobre Araucaria angustifolia

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 
 
 
 
 
FATORES QUE INFLUENCIAM A OCORRÊNCIA DE ARAUCARIA 
ANGUSTIFOLIA (BERTOL.) O. KUNTZE EM FLORESTA OMBRÓFILA MISTA NO 
SUL DO BRASIL 
 
 
Maiara Aparecida Aniceto1 
 
 
RESUMO 
A araucária (Araucaria angustifolia (bertol.) O. Kuntze), conhecida como pinheiro-do-paraná, 
é uma importante espécie florestal nativa que compõe a Floresta Ombrófila Mista (Floresta com 
araucária) do bioma Mata Atlântica, no sul e sudeste do Brasil. Por se tratar de uma planta-
chave, ou seja, atuar na manutenção de recursos e condições para sobrevivência de diversas 
espécies, bem como seu valor econômico e social, fez com que a busca por informações 
relacionadas a preservação da araucária se tornasse urgente visando diminuir ou até mesmo 
abolir a exploração, tanto do tronco quanto da sua semente. Levando em conta, também, as 
mudanças climáticas que acabam interferindo de forma negativa na permanência da espécie no 
bioma, este trabalho tem como objetivo colaborar em estratégias de manejo e preservação da 
araucária, apresentando-se como importante ferramenta para a melhor compreensão dos riscos 
de extinção e os impactos das mudanças climáticas globais, contribuindo, desse modo, para a 
sua conservação. 
 
Palavras-chave: araucária, mudanças climáticas, exploração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Graduanda de Ciências Biológicas – UNISUL. Email: anicmaiara@gmail.com. 
mailto:anicmaiara@gmail.com
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional De Pesquisas Espaciais (2008), 
a Mata Atlântica abrangia originalmente 1.350.000 Km² em 17 estados brasileiros, ocupando 
cerca de 15% da área territorial do país. Porém, devido à ocupação e atividades humanas na 
região, atualmente resta cerca de 22% de sua cobertura original em diferentes estágios de 
regeneração. É formada por um conjunto de formações florestais e está entre os cinco mais 
relevantes hotspots mundiais de biodiversidade (MITTERMEIER et al., 1998). 
A busca por conhecimento e informações relacionadas ao bioma tornaram-se urgentes, visando 
formular estratégias para manejo e preservação das espécies. De acordo com o Ministério do 
Meio Ambiente (2014) através de um estudo sobre a vegetação nativa do bioma houve um 
declínio na riqueza de espécies após séculos de exploração. Apesar disso, estima-se que existam 
cerca de 20.000 espécies vegetais, incluindo diversas espécies endêmicas e ameaçadas de 
extinção. Leis como a Lei Federal 11.428/2006 (preservação e recuperação de remanescentes) 
buscam diminuir ou abolir a exploração de forma desenfreada na Mata Atlântica. 
Dentre as formações florestais que compõe o bioma, a Floresta Ombrófila Mista (FOM) ou 
Floresta de Araucária é uma das mais conhecidas tanto pela sua riqueza na diversidade de 
espécies, quanto pela importância socioeconômica. Ocupava originalmente em torno de 
200.000 Km², abrangendo cerca de 37% do Estado do Paraná, 31% em Santa Catarina e 25% 
no Rio Grande do Sul (MMA, 2014). A maioria de seus remanescentes encontra-se hoje em 
estado crítico, empobrecida pela extração seletiva dos últimos 60 anos (ROSOT et al., 2006) e 
não representam mais que 7% da área original no Brasil (WREGE et al., 2015). 
Um dos maiores problemas enfrentados por profissionais na área para a preservação da FOM é 
a falta de conhecimento de parâmetros para o manejo correto de florestas naturais. Propor um 
modelo de gestão é considerado um desafio pelos vários fatores a serem estudados como as 
mudanças climáticas, antropização, fragmentação e, ainda, pela fragilidade dos ecossistemas 
envolvidos (ROSOT, 2007). 
O primeiro grande ciclo de exploração em Santa Catarina ocorreu no século XX, em 1909, com 
a instalação da empresa Lumber (Southern Brazil Lumber and Colonization Company). De 
3.000 Km² adquiridos pela empresa, pelo menos 4.000.000 (quatro milhões) de araucárias e 
outras espécies foram cortados em menos de 30 anos (THOMÉ, 1983). Atualmente, a 
 
exploração da FOM se restringe ao aproveitamento de lenha e produtos não-madeireiros como 
erva-mate e pinhão (SANTOS; MÜLLER, 2006). O cenário da exploração exacerbada 
contribuiu para uma massa de áreas fragmentadas desse ecossistema. 
Uma das espécies mais atingidas por tais problemas é a Araucaria angustifolia (Bert.) O. Ktze., 
foco deste trabalho. Desde que foram aplicadas restrições legais que proíbem o manejo 
indevido, A. angustifolia tem sido o centro de muitos debates atualmente. É uma importante 
espécie vegetal nativa presente na Floresta Ombrófila Mista, chegando a responder por mais de 
40% dos indivíduos arbóreos e sendo considerada de categoria mais representativa das regiões 
serranas frias e úmidas do sul e sudeste do Brasil. Desde o ano de 1992 se encontra entre as 
espécies ameaçadas de extinção para o Brasil e desde 2014 para Santa Catarina, especialmente 
por ser vista como um dos principais produtos de exportação brasileira desde a Primeira e 
Segunda Guerra Mundial - quando foi usada para suprimento de madeira na Europa - 
(EMBRAPA, 2010; KOCH; CORRÊA, 2010), e pelas perturbações antrópicas sobre às suas 
populações (CONSEMA 2014; MMA,2014). Considerando também as intensas fragmentações 
da floresta que acaba reduzindo o fluxo gênico. 
Antigamente, quando o clima era mais frio, a araucária podia ser encontrada em uma área bem 
maior comparada a hoje, sendo registrada até mesmo no Nordeste do Brasil. A atenuação em 
sua ocorrência se deu inclusive por fatores climáticos como o aumento da temperatura. 
Observa-se, nos últimos anos, grandes mudanças no clima em nosso planeta demasiadamente 
rápidas e sem explicações concretas. Segundo a Wold Meteorological Organization (2013), a 
década de 2001 a 2010 foi a mais quente já registrada trazendo consequências danosas a 
araucária, por ser tratar de uma espécie com ciclo reprodutivo longo, dependente do frio, da 
umidade e de solos profundos e bem drenados (WREGE, 2017). 
Este trabalho tem como objetivo apresentar os principais problemas enfrentados atualmente 
pela Araucaria angustifolia juntamente com possíveis estratégias de manejo e conservação. As 
áreas de preservação e algumas leis de conservação, tal como mapas de ocorrência da espécie 
em décadas passadas serão revisadas nesse estudo, mostrando como sucedeu a diminuição do 
número de indivíduos. A exploração, fragmentação e as mudanças climáticas são problemas 
eminentes, com pouco ou sem nenhum controle, que acarretam em problemas gravíssimos na 
diversidade, polinização e reprodução da araucária. 
 
 
 
 
2 BREVE CENÁRIO HISTÓRICO E ATUAL DE DISTRIBUIÇÃO 
 
Para o estudo do cenário histórico e atual de distribuição foi tomado como base o trabalho de 
Wrege (2017), valoroso em questão de informações e referenciais para próximas aplicações no 
manejo e conservação. Pesquisas relacionadas à distribuição da Araucaria angustifolia em 
décadas passadas foram de grande colaboração para o entendimento da sua ocorrência nos dias 
atuais e as causas que levaram a isso. Houve diversos mapeamentos para representar as zonas 
de aparecimento da araucária, no entanto, não foram tão concretos. Apenas no ano de 1953 que 
houve o primeiro mapeamento que caracterizou as regiões de ocorrência da espécie (Fig. 1), 
feito pelo Prof. Dr. Kurt Hueck, do Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo 
(USP) com a publicação: “Distribuição e habitat natural do Pinheiro do Paraná” (HUECK, 
1953). 
No século passado não haviam discussões relacionadas às mudanças climáticas globais por 
haver poucos recursos para as pesquisas. Os estudos de Hueck (1953) mostraram grande relação 
na distribuição do pinheiro com o clima daquela época e atualmente. Observou-se, através do 
mapeamento, a substituição gradativa das Florestas de Araucária pelas matas úmidas 
Figura 1 - Regiões dedistribuição de A. angustifolia, sendo Hueck 
(1953). Fonte: Wrege (2017) 
 
subtropicais causado pela mudança de um clima mais frio e seco no passado para um clima 
mais úmido no presente (Wrege, 2017). Nos anos de 2009 e 2016 foram feitos outros 
mapeamentos por Wrege et al. (2009) (Fig. 2) e Wrege et al. (2016) (Fig. 3), respectivamente, 
onde pôde ser observado oscilações na ocorrência de araucária. O último mapeamento se 
mostrou bastante semelhante ao proposto por Hueck (1953), apesar de pouca representatividade 
na região sudeste e na metade do sul do Rio Grande do Sul. 
 
 
 
 
 
 
Figura 2 – Regiões de ocorrência de A. angustifolia, segundo 
Wrege et al. (2009). Fonte: Wrege (2017) 
Figura 3 – Regiões de ocorrência de A. angustifolia, segundo 
Wrege et al. (2016). Fonte: Wrege (2017) 
 
3 IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA DAS ARAUCÁRIAS 
 
A Floresta Ombrófila Mista (FOM), Mata de Araucária ou Floresta com Araucária destaca-se 
como a maior região fitoecológica de Santa Catarina, caracterizada pela presença de espécies 
importantes que marcam um aspecto fitofisionômico próprio a esta região, tais como Araucaria 
angustifolia, Dicksonia sellowiana e Ocotea porosa (KLEIN, 1978; LEITE & KLEIN 1990; 
IBGE, 1992). Essa peculiaridade se dá pelo encontro das floras afro-brasileira (tropical) e 
austral-antártica-andina (temperada), com destaque para as Coniferales e Laurales (Leite, 
2002). Ocupava originalmente em torno de 200.000 Km², abrangendo 37% do Estado do 
Paraná, 31% em Santa Catarina e 25% no Rio Grande do Sul (MMA, 2014). 
Através de um estudo feito pelo Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (GASPER, 
2013) foram registradas 1.170 espécies, dentre elas 181 samambaias, 3 gimnospermas e 922 
angiospermas, distribuídas em 502 gêneros e 138 famílias botânicas na Floresta Ombrófila 
Mista. A importância de pesquisas como esta são fundamentais para o registro da 
biodiversidade para que, no futuro, passe-se a ter dados exatos da diversidade de espécies em 
determinadas áreas (SCHATZ, 2002; GASPER, et al.,2013). Uma grande variedade de espécies 
pode ser encontrada tanto em florestas, como FOM, quanto em uma única planta. As arvores, 
por exemplo, também apresentam condições adequadas para a colonização de outras famílias 
vegetais através do microclima que ela oferece, umidade e fertilidade do solo. 
A espécie foco deste trabalho proporciona condições peculiares como a incidência de luz, 
formando um microclima heterogêneo, servindo de apoio, refúgio ou substrato para um número 
diversificado de animais, plantas, microrganismos e fungos (DIDHAM, 1999). Algumas das 
espécies mais encontradas são as plantas epífitas, lianas, líquens e musgos (SEIBERT et al., 
1975). Para os epífitos (plantas que vivem sobre outras plantas) a principal vantagem, que 
certamente condicionou a evolução para esta forma adaptativa, é a maior disponibilidade de 
radiação ativa para a fotossíntese. 
Segundo Peres (2000), uma planta-chave teria como característica a produção de uma 
considerável quantidade de frutos durante o período de escassez de alimento. Desta forma, a 
araucária pode ser considerada uma planta-chave, pois suas sementes são recursos abundantes 
e consumidos por um grande número de vertebrados granívoros/frugívoros, além disso sua 
produção de pinhões ocorre no outono/inverno - época com redução na quantidade de recursos 
(SOLÓRZANO-FILHO, 2001). Diversos indivíduos frequentam as Florestas com Araucária de 
 
variadas regiões, principalmente por causa do clima, tipo de solo (BANDEL, 1966) e estádio 
sucessional (KLEIN, 1960). 
As plantas-chave são de extrema importância para os ambientes já que proporcionam recursos 
e condições para a sobrevivência de diferentes espécies, seja em época com escassez de 
alimento ou abundância. Assim, a extinção dessas plantas pode acarretar no efeito dominó - 
extinção em cadeia de outras espécies que compõe a comunidade (Howe et al., 1985). Aves 
como o papagaio-charão (Amazona petreí) e o papagaio-do-peito-roxo (Amazona vinacea) se 
alimentam dos pinhões das araucárias. A fragmentação e intensa redução de hábitat sofrida pela 
FOM, além da exploração dos pinhões principalmente em épocas inapropriadas, fez com que 
houvesse uma diminuição no tamanho populacional destas aves, tornando-as ameaçadas de 
extinção (VIEIRA, 2009; BENCKE et al., 2003). A devastação sofrida pelas Florestas com 
Araucária atinge diferentes grupos de organismos por se tratar de uma região que abriga e 
fornece suporte a muitos deles. 
 
4 FATORES QUE DIFICULTAM A PRESERVAÇÃO DA ARAUCÁRIA 
 
Existem poucos estudos relacionados a perda de biodiversidade nas florestas do Brasil e menos 
ainda sobre estratégias de manejo e conservação para as espécies, tornando-se um grande 
desafio aos profissionais da área que buscam a preservação dos remanescentes e recuperação 
das áreas degradadas. Os discursos ecológicos se mostram fracos diante das práticas 
predatórias de uso dos recursos naturais, bem como a frequente fragmentação dos habitats. 
Partindo deste pressuposto, é importante trazer às pesquisas atuais fatos que influenciaram e 
ainda influenciam a ocorrência de A. angustifolia. Fatores como a exploração e fragmentação 
da Floresta Ombrófila Mista prejudicam vividamente a permanência de araucária na região, 
principalmente por se tratar de uma espécie sensível às mudanças no ambiente e pela 
fragilidade dos ecossistemas envolvidos. 
Observa-se, nos últimos anos, grandes mudanças no clima em nosso planeta demasiadamente 
rápidas e sem explicações concretas. Segundo a Wold Meteorological Organization (2013), a 
década de 2001 a 2010 foi a mais quente já registrada, trazendo consequências danosas a 
araucária por ser tratar de uma espécie com ciclo reprodutivo longo, dependente do frio, da 
umidade e de solos profundos e bem drenados (WREGE, 2017). Torna-se um dos maiores 
problemas enfrentados pela espécie juntamente com a exploração. 
 
4.1 CENÁRIO DE EXPLORAÇÃO 
 
A história ambiental busca entender no passado as raízes da crise ecológica que vivemos 
atualmente e assim contribuir para a construção de um possível futuro sustentável. É inegável 
relacionar a evolução do desmatamento da Araucaria angustifolia em Santa Catarina com o 
povoamento, colonização e a economia regional. De acordo com Dora Romariz (1970) a 
formação vegetal da Floresta Ombrófila Mista foi o que condicionou um maior 
desenvolvimento da indústria madeireira no sul do país nos séculos XIX e XX. Como 
consequência, houve um número considerável de pesquisas onde tratou-se as florestas com 
araucária apenas como reserva de madeira, sem citar a sua importância biológica. Santa 
Catarina foi um dos principais exportadores de madeira serrada no país, o que impulsionou 
dezenas de economias municipais, estimulando o comércio, os transportes e as indústrias afins 
(CARUSO, 1983). 
Desde o ano de 1992 a araucária se encontra entre as espécies ameaçadas de extinção para o 
Brasil e desde 2014 para Santa Catarina, especialmente por ser vista como um dos principais 
produtos de exportação brasileira desde a Primeira e Segunda Guerra Mundial - quando foi 
usada para suprimento de madeira na Europa (EMBRAPA, 2010; KOCH; CORRÊA, 2010). 
Entre os anos de 1985 e 1995, a região da FOM teve proporcionalmente o maior ritmo de 
desmatamento em Santa Catarina, mesmo após a criação de unidades de conservação e o 
Instituto Nacional do Pinho (INP), criado em 1941, com as seguintes finalidades (artigo 3º): 
 
[...] IV fomentar o comércio do pinho e outras essências florestais, 
no interior e no exterior do país: 
X fixas preços, dentro de limites que permitam uma justa 
remuneração do produtor, sem ônus excessivos para o consumidor; 
XII estabelecer normas de funcionamento, regular a instalação a 
serrarias, fábricas de caixas e de beneficiamento de madeira, de 
acordo com a capacidade dos centros produtores e as necessidadesdo consumo; 
XIV promover o reflorestamento das áreas exploradas e 
desenvolver a educação florestal nos centros madeireiros; 
XV fiscalizar a execução das medidas e resoluções tomadas, 
punindo os infratores. 
 
De acordo com informações divulgadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) 
e SOS Mata Atlântica em 2001, a FOM é vista como a tipologia que sofreu a “maior pressão 
nos últimos cinco anos, tendo os municípios Ponte Serrada e Abelardo Luz entre os que lideram 
o processo de desmatamento do Estado” (NODARI, 2001). 
As principais causas do desmatamento de acordo com Nodari (2010) mencionadas nos 
Processos de Criação das Unidades de Conservação do Oeste de Santa Catarina são: a) 
assentamentos rurais implantados em áreas florestais; b) exploração madeireira insustentável 
através de planos de manejo autorizados; c) expansão da monocultura de pinus e eucaliptos 
praticadas por empresas madeireiras, de papel e de celulose; d) expansão de atividades 
agropecuárias em pequenas, médias e grandes propriedades. Percebe-se um grande descaso com 
relação a fiscalização das ações das serrarias/madeireiras e atividades agropecuárias, 
reafirmando que a fonte de renda baseada no setor extrativista se sobrepõe à necessidade da 
preservação das florestas, demonstrando certa instabilidade na área de gestão ambiental. 
A grande expansão das atividades agropecuárias desde as primeiras décadas do século XX 
mostra-se uma das grandes responsáveis pelo desmatamento florestal, levando em conta que 
neste período ocorreu o início do processo de colonização. Com a justificativa do 
estabelecimento de culturas agrícolas e de gado, grandes áreas de florestas foram derrubadas 
fomentando que as espécies vegetais são apenas produtos a serem utilizados para fins lucrativos 
(NODARI, 2010). As medidas para repovoar estas áreas são quase inexpressivas diante da 
velocidade do processo de desmatamento, deixando remanescentes fragmentados, 
empobrecidos geneticamente e com a diversidade da fauna ameaçada (GUERRA, 2002; 
CASTELLA, BRITEZ, 2004; FUPEF, 1978) 
 
4.2 A INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS 
 
Existem muitos estudos relacionados aos efeitos das mudanças climáticas tanto na fauna quanto 
na flora do Brasil. Wrege et al. (2017) relata que as mudanças climáticas globais poderão ser 
incompatíveis com as zonas de ocorrência dos biomas, dos quais sofrerão com os aumentos de 
temperatura e as mudanças no regime pluvial, podendo causar, em alguns casos, a desertificação 
ou na savanização do ambiente. Entende-se que as oscilações na temperatura estão 
intrinsicamente relacionadas às ações antrópicas, afirmando que há uma aceleração nas 
alterações climáticas com o aumento das atividades humanas (Fig. 4) (NAHUR, 2015). Wrege 
 
et al. (2017) diz, ainda, que será mais comum encontrar A. angustifolia nas zonas de maior 
altitude e nas latitudes mais ao Sul, onde o clima será mais ameno e com maior umidade (CHOU 
et al., 2014). Precisa-se estabelecer uma ligação entre a distribuição da araucária e o clima há 
anos atrás e atualmente, de modo que possibilite a projeção de cenários climáticos futuros. 
A araucária é uma espécie vulnerável às mudanças climáticas globais principalmente por 
possuir um longo desenvolvimento (sistema de reprodução, germinação e de dispersão de 
sementes) (BITTENCOURT & SEBBEN, 2007), podendo ocasionar problemas na capacidade 
de regeneração e nas taxas de crescimento (WREGE, 2017). Algumas projeções climáticas 
futuras foram feitas no trabalho de Wrege (2017), trazendo ricas informações sobre a alteração 
das regiões de ocorrência da A. angustifolia (Fig. 5 e 6). 
Figura 4 – Simulações de temperatura. IPCC, 2007. Fonte: NAHUR, 2015. 
Legenda: Resultados esperados para a temperatura com ações antrópicas (faixa vermelha); 
forçamentos naturais (faixa azul); temperatura efetivamente observada (linha preta). Observa-se forte 
ligação da ação antrópica com a oscilação da temperatura no século passado. 
 
 
Tais oscilações de temperatura poderão diminuir consideravelmente a ocorrência de Araucaria 
angustifolia no bioma Mata Atlântica, considerando que é uma espécie ameaçada de extinção 
tais mudanças dificultariam a sua permanência no ambiente. Os estados do Espírito Santo, 
Figura 5 – Alteração das regiões de ocorrência baseado no modelo Boiclim de acordo com as mudanças 
climáticas globais – período 2011 – 2040, segundo Wrege et al. (2016).RCP = Representative cocentration 
pathways. A – RCP 4,5 – cenário intermediário, B – RCP 8,5 – cenário pessimista. Nota: Latitude original: 
0º Equador, Longitude original: 54º Sul, Datum: SAD 69. Fonte: Divisas: IBGE (2011), Modelo digital de 
elevação: Geological Survey (1999), dados climáticos: INPE. 
Figura 6 – Alteração das regiões de ocorrência baseado no modelo Boiclim de acordo com as mudanças 
climáticas globais – período 2041 – 2070, segundo Wrege et al. (2016).RCP = Representative cocentration 
pathways. A – RCP 4,5 – cenário intermediário, B – RCP 8,5 – cenário pessimista. Nota: Latitude original: 0º 
Equador, Longitude original: 54º Sul, Datum: SAD 69. Fonte: Divisas: IBGE (2011), Modelo digital de 
elevação: Geological Survey (1999), dados climáticos: INPE. 
Legenda: Observa-se uma retração nas zonas favoráveis para a ocorrência da espécie em ambas figuras, em 
parte também pela expansão das florestas vizinhas que acabam sendo favorecidas pelas mudanças no clima, 
sendo mais eficientes, nesse caso, do que as espécies da Floresta Ombrófila Mista. 
 
Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul devem ser priorizados para a preservação e manejo 
da espécie, garantindo a sobrevivência das populações locais (WREGE, 2017). 
 
5 DISCUSSÃO 
 
Esta pesquisa tem como base diversos artigos que concretizam as hipóteses já formuladas em 
épocas passadas, trazendo informações demasiadamente negativas no ponto de vista ambiental, 
partindo do pressuposto de que ações como a exploração estão ocasionando sérios danos na 
preservação da Araucaria angustifolia, mesmo havendo políticas de preservação e pesquisas 
ativas há décadas. O foco maior na economia do Estado resulta no cenário pouco agradável que 
vemos atualmente, principalmente para os profissionais da área, que buscam a todo momento 
estratégias de manejo e preservação dos recursos naturais. 
A diminuição na ocorrência de araucária é particularmente ocasionada pela exploração 
desenfreada desde o início do século XX juntamente com a fragmentação do habitat e as 
mudanças climáticas globais que, ainda, não possuem explicações concretas e estão ocorrendo 
de forma acelerada se comparada às décadas passadas. 
 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A Floresta Ombrófila Mista, desde o início do século XX, passa por diferentes estágios de 
desmatamento. A preservação está sendo bastante discutida, porém, não há formas 
significativas de gestão para que ocorra mudança no cenário exploratório das espécies do 
bioma Mata Atlântica de maneira imediata. 
Os mapas de ocorrência da araucária e os futuros cenários de distribuição apresentados neste 
estudo visam colaborar no manejo correto da espécie, juntamente com outras bibliografias e 
trabalhos em campo, dando ênfase na urgência de ações que preservem os recursos naturais, 
pois a perda está ocorrendo de forma bastante acelerada. O melhoramento na fiscalização e a 
criação de áreas de preservação ambiental poderá retardar e até mesmo impedir os fatores que 
interferem no desenvolvimento da espécie. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
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