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0 SAE Msc. Enf. Osmarina de Melo ALves SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NANDA NIC NOC CONHECIMENTOS E MÉTODOS DE CUIDAR EM ENFERMAGEM Msc. Enf. Osmarina Alves 1 CONHECIMENTOS E MÉTODOS DE CUIDAR EM ENFERMAGEM O CUIDADO O cuidado manifesta-se na preservação do potencial saudável dos cidadãos e depende de uma concepção ética que contemple a vida como um bem valioso em si. Por ser um conceito de amplo espectro, pode incorporar diversos significados. Ora quer dizer solidarizar-se, evocando relacionamentos compartilhados entre cidadãos em comunidades, ora, dependendo das circunstâncias e da doutrina adotada, transmite uma noção de obrigação, dever e compromisso social. O cuidado significa desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção e se concretiza no contexto da vida em sociedade. Cuidar implica colocar-se no lugar do outro, geralmente em situações diversas, quer na dimensão pessoal, quer na social. É um modo de estar com o outro, no que se refere a questões especiais da vida dos cidadãos e de suas relações sociais, dentre estas o nascimento, a promoção e a recuperação da saúde e a própria morte. Compreender o valor do cuidado de enfermagem requer uma concepção ética que contemple a vida como um bem valioso em si, começando pela valorização da própria vida para respeitar a do outro em sua complexidade, suas escolhas, inclusive a escolha da enfermagem como uma profissão 1 . Cuidar em enfermagem consiste em envidar esforços transpessoais de um ser humano para outro, visando proteger, promover e preservar a humanidade, ajudando pessoas a encontrar significados na doença, sofrimento e dor, bem como, na existência. É ainda, ajudar outra pessoa a obter auto conhecimento, controle e auto cura, quando então, um sentido de harmonia interna é restaurada, independentemente de circunstâncias externas 2 . O cuidado em enfermagem, nesta concepção de colocar-se no lugar do outro, aproxima- se das idéias do humanismo latino ao identificar os seres humanos pela sua capacidade de colaboração e de solidariedade para com o próximo. Deste modo, prestar cuidado quer na dimensão pessoal quer na social é uma virtude que integra os valores identificadores da profissão da enfermagem. Assim, compartilhar com as demais pessoas experiências e oportunidades, particularmente as que configuram o bem maior, a vida, constitui um dos fundamentos dos humanistas, que se apresenta na essência do cuidado de enfermagem. Nesta relação de respeito ao outro, é preciso considerar o conceito de mutualidade como meio termo ou equilíbrio entre duas posições extremas: o paternalismo e a autonomia. O primeiro centralizado na provedoria, e o segundo, assentado extremamente no cliente. Os atributos da mutualidade caracterizam-se por 2 sentimento de intimidade, conexão e compreensão, com objetivo de satisfação de ambos intervenientes 3. Ao posicionar o cuidado de enfermagem no contexto de um agir solidário na vida e na morte, a Enfermagem respeita as razões morais de cada cidadão ao mesmo tempo em que convive com dores e alegrias advindas da relação interpessoal. Ao operar nesta dimensão, às vezes extremas, o cuidado orientado pela solidariedade busca a simetria e o equilíbrio nas suas múltiplas atividades enquanto função cuidadora. O CUIDADO DE ENFERMAGEM E O VALOR DA VIDA HUMANA A ideia de ajudar os outros na solução de problemas ou de um indivíduo colocar-se no lugar do outro, na maioria das sociedades, ainda permanece válida como referência e conteúdo básico da noção de cuidado em Enfermagem no século XXI. Seu fundamento é o de integrar as pessoas em torno do bem comum e manter o elo social. Assim, cuidar e solidarizar-se significam comprometimento e engajamento político-cultural, prevenindo rupturas da e na sociedade. Nesta linha de raciocínio, os temas que traduzem o comprometimento e o engajamento social se referem, basicamente, à preservação, conforme indicamos abaixo: a) da espécie humana, envolvendo a compaixão e a ternura; b) do social e da política, entendendo a diversidade de convívio democrático em ambientes político-culturais diferentes; c) da cultura global, compreendendo a pluralidade cultural e interétnica. d) da vida ecológica e cosmológica, participando da sustentabilidade e do cuidado para com as futuras gerações. A noção subjacente do engajamento e do comprometimento considera a atividade do cuidado de enfermagem valiosa por si mesma. O cuidado é parte integrante do processo de sobrevivência da vida humana associada. Dessa noção advém o entendimento do valor intrínseco da vida, que ocupa um lugar central no conjunto dos valores da humanidade. O valor intrínseco da vida, bem como sua centralidade no conjunto de valores da humanidade em termos de vida humana, animal e vegetal, pois quaisquer formas e/ou estados da vida transmitem a ideia de algo valioso. O sentido do que seja valioso, em geral, encontra múltiplas interpretações éticas. Uma das formas de interpretar o sentido valioso da vida consiste categorizá-lo em instrumental, subjetivo e intrínseco. 3 Vida humana como valor instrumental diz respeito ao quanto a vida de cada um serve aos interesses das demais pessoas. Algo é instrumentalmente importante se seu valor depender de sua utilidade e de sua capacidade para ajudar as pessoas a obter o que desejam, tal qual o dinheiro, os medicamentos, entre outros. Caso contrário, são simplesmente bens disponíveis, instrumentais valiosos para a pessoa em particular. Cabe refletir sobre o quanto a qualidade e a riqueza de uma vida saudável e empreendedora sugere o bem-estar de outras, assim como o que representa o cuidado de enfermagem nesta perspectiva. O aspecto da instrumentalidade sugere adquirir bens para si por meio de um esforço baseado em seu próprio mérito numa situação de livre união social com outros indivíduos. Vida humana como valor subjetivo refere-se a quanto a pessoa mede seu valor para ela mesma, ou seja, em termos de até que ponto ela quer esta vida e até que ponto estar vivo é bom para cada pessoa. Nesse caso, necessita de autodeterminação e de um plano racional de vida, o que provavelmente, em termos genéricos, os animais, as plantas ou as futuras gerações não dispõem das faculdades – físicas, morais e intelectuais – para fazê-lo. Vida humana como valor intrínseco refere-se ao valor subjetivo que uma vida tem para a pessoa de cuja vida se trata. Parte-se do pressuposto de que há um desejo dos homens em tratar uns aos outros não apenas como meios, mas como finalidades em si mesmos. Isto porque o instrumental geralmente se associa à subjetividade da pessoa, uma vez que só vale para aquela pessoa que deseja esse bem. Assim também para a vida humana. Ela pode ter um valor subjetivo na medida em que a pessoa estabelece seu valor para ela mesma, ou seja, em termos de até que ponto ela quer esta vida e o quanto estar vivo e saudável é bom. A partir dessa compreensão, o que representa o cuidado de enfermagem em termos da vida humana como valor? Essas três categorias estão presentes na arte e nos fundamentos do cuidado em Enfermagem, articulando-as e valorizando-as, pois uma das premissas da vida humana associada, jamais posta em dúvida nas atitudes e nas ações humanas, consiste em viver e prosperar. “Pessoa” se identifica, no contexto deste trabalho, pela sua atividade e criatividade. O cuidar em enfermagem, a partir dessas premissas, se identifica por ser uma atividade universal e intrinsecamente valiosa, mesmo que compreendido somente no contexto da saúde, esta entendida como uma maneira de abordar a existência com uma sensação não apenas de possuidor ou portador, mas também, se necessário, de criador de valores e de instaurador de normas vitais. Além desta concepção, se pensarmos a saúde como sentimentode segurança na vida, que por si só não impõe nenhum limite, este sentimento viabiliza viver e prosperar. Observe-se que uma vida não saudável (sofrimento, dor e mal-estar) torna-se indefinida e sem atributos 9–10. Se o ser 4 humano revela um valor em si e a vida em sociedade requer a promoção da saúde para o desempenho de suas atividades na polis, o cuidado em enfermagem potencializa as possibilidades do viver e as construções sociais da vida humana associada. O cuidado de enfermagem promove e restaura o bem-estar físico, o psíquico e o social e amplia as possibilidades de viver e prosperar, bem como as capacidades para associar diferentes possibilidades de funcionamento factíveis para a pessoa. Nessa perspectiva, o cuidar em enfermagem insere-se no âmbito da intergeracionalidade, pois se revela na prática com um conjunto de ações, procedimentos, propósitos, eventos e valores que transcendem ao tempo da ação. Abraça, pois, diferentes gerações, imprimindo-lhes realização e bem-estar. O postulado do longo tempo reflete, por si só, uma releitura da justiça tipicamente temporal em duas direções: a) A continuidade da vida humana associada ao longo do tempo e; b) Sentimento intuitivo de que os seres sob os cuidados da Enfermagem são cidadãos, sujeitos de direitos e deveres de uns para com os outros. O cuidado em enfermagem, portanto, possui na sua amplitude o componente humanístico ao promover a continuidade da espécie humana saudavelmente humanizada desta geração e das seguintes. Além deste aspecto humanístico, insere-se no contexto da liberdade e da autonomia, tanto no âmbito individual quanto no âmbito universal, pois o cuidado de enfermagem deve ser um suporte para viver bem, promovendo condições para uma vida saudável e em benefício do bem comum. O benefício político dos cuidados de enfermagem estende a noção de excelência moral de cidadãos livres e iguais, que cooperam com as gerações por vir, sendo transformado em função para “assistir o indivíduo, saudável ou doente, no desempenho das atividades que contribuem para a saúde ou para a sua recuperação”, bem como em atividades funcionais na manutenção, promoção, restauração da saúde e assistência ao moribundo. Nesta linha de raciocínio, o cuidado de enfermagem baseia-se em ações que se estendem ao longo da construção da cidadania, porque potencializa a expressão do cidadão em sua existência social. O cuidado ao longo da vida social fomenta a autonomia e dignifica o ser, e ao readquirir a autonomia do ponto de vista do estar saudável, a enfermagem promove e se insere na humanização da vida. Assim, o cuidado agrega uma série de ações profissionais de natureza própria da enfermagem, que se concretiza em prática multidisciplinar e com sustentação teórica apoiada, inclusive, em outras ciências. Isto se dá no processo de interação terapêutica entre seres humanos, fundamentadas em conhecimento empírico, pessoal, ético, estético e político com a intenção de promover a saúde e a dignidade no processo de vida humana1. 5 O cuidado de enfermagem consiste na essência da profissão e pertence a duas esferas distintas: uma objetiva, que se refere ao desenvolvimento de técnicas e procedimentos, e uma subjetiva, que se baseia em sensibilidade, criatividade e intuição para cuidar de outro ser. A forma, o jeito de cuidar, a sensibilidade, a intuição, o ‘fazer com’, a cooperação, a disponibilidade, a participação, o amor, a interação, a cientificidade, a autenticidade, o envolvimento, o vínculo compartilhado, a espontaneidade, o respeito, a presença, a empatia, o comprometimento, a compreensão, a confiança mútua, o estabelecimento de limites, a valorização das potencialidades, a visão do outro como único, a percepção da existência do outro, o toque delicado, o respeito ao silêncio, a receptividade, a observação, a comunicação, o calor humano e o sorriso, são os elementos essenciais que fazem a diferença no cuidado. Essa perspectiva implica reconhecer uma necessária formação profissional que considere e destaque essa compreensão, o que pode ser alcançado pela reflexão a partir das Humanidades e da Filosofia Política, embora reconhecemos que isso não transmite, necessariamente, um saber científico e/ou uma competência política em Enfermagem, mas estrutura uma personalidade segundo uma certa paidéia, ou um ideal civilizatório. Isso reconhece a importância de inserir nos programas de ensino de Enfermagem, a História, a Filosofia e as Artes, para que o cuidado em enfermagem não seja transformado em esquemas e simplificações funcionais, e de subordinações. A valorização do cuidado, inscrita na valorização da vida em todas as suas formas, pode ainda dar maior visibilidade às injustiças sociais, assim como permitir mais facilmente compreender as experiências dos limites humanos do sofrimento e da morte e da própria sociabilidade humana. A valorização do cuidado em enfermagem pode levar à necessidade moral de convivermos em nossa corporeidade com o outro, respeitando precisamente a dignidade do corpo do outro, ou seja, o outro em sua totalidade. Nes se sentido, a política e o humanismo oferecem suportes para que a enfermagem reafirme os valores, sentido e existência do cuidado que se preconiza como próprio desta prática profissional e que se convalida na convivência cidadã. A prática de cuidado do enfermeiro é associada a um fazer assistencial, centrado nas técnicas e procedimentos e a um fazer administrativos, centrado na burocracia de normas e rotinas a serem seguidas, esta é a visão de enfermeiros. Corrobora Tanaka e Leite (2007) ao afirmar que existem dois diferentes processos de trabalho do enfermeiro: o cuidar e o administrar, e que na prática predomina o último. Sanna (2007) complementa afirmando que existem cinco processos de trabalho do enfermeiro: assistir (ou cuidar); administrar; ensinar; pesquisar e participar politicamente. A autora afirma ainda que outras pessoas podem cuidar de seres humanos, mas não estão fazendo o trabalho de assistir (ou cuidar) 6 em enfermagem. Acredito que dentre as nossas atribuições profissionais, o gerenciamento de recursos humanos, materiais e ambientais fazem parte, juntamente com a assistência propriamente dita. É preciso complementar as atividades de cuidar com as de gerenciar, pois ao realizar atividades administrativas o enfermeiro está cuidando também. Porém, ao realizar tarefas administrativas, ele não precisa se afastar do paciente, deve se apresentar, estar sempre por perto e seguir as rotinas. A visão dos usuários sobre a prática do cuidado que recebem da equipe de enfermagem é a mesma, uma atuação centrada na alimentação, no conforto físico, na administração de medicamentos (BAGGIO, CALLEGARO, ERDMANN, 2008), ou seja, realizador de procedimentos e tarefas no seu dia-a-dia. Pelo resultado encontrado em sua pesquisa as autoras afirmam que quando o profissional foca sua atenção apenas nos aspectos biológicos, a relação entre os seres humanos ficam prejudicadas. O SIGNIFICADO DO CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA ENFERMEIRAS NO CONTEXTO HOSPITALAR Uma visão interacionista de 23 autoras afirmam que é necessário valorizar as relações humanas de cuidado, em suas múltiplas dimensões. Percebo que o desenvolvimento da profissão, incorporando interesses políticos e econômicos, tornou tortuosa a relação da enfermagem com o cuidado de seres humanos, pois ao seguir paradigmas presente em outras ciências, o ser humano complexo e multifacetado foi simplificado e as ações tomaram um rumo unidirecional. Não se pode desprezar todo o conhecimento científico biomédico que a enfermagem utiliza, e valorizar apenas dimensões humanas em suas práticas. Porém, é necessário saber dosar complexas dimensões, aproximando ciências biológicas, das humanas e sociais. Também, deve-se reconhecer que a verdade nunca é absoluta. O que se faz hoje cientificamentepara cuidar do outro pode não mais ser utilizado amanhã como terapêutica. É necessário sempre fazermos uma reflexão crítica da realidade. Nesse sentido acredito que a enfermagem deve continuamente rever seus conceitos. A literatura mostra a construção de outros modos de cuidar (VIANNA, CROSSETTI, 2004), no qual o ser humano seja valorizado como sujeito, com possibilidades de escolhas, com enorme potencial, singular, único e interligado a todos como uma teia de relações. Nesse momento o enfermeiro como presença é capaz de refletir essa dimensão do cuidado, auxiliando o outro a encontrar seus próprios caminhos para ser feliz, pois acredito que os seres humanos são ricos em possibilidades e potencialidades. Destaco, neste momento, o cuidado não como uma tarefa ou atividade, mas como uma forma de expressão, de relacionamento consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Este não pode ser prescrito, não pode seguir regras, mas deve ser vivido, sentido, experimentado (WALDOW, 2001). A enfermagem entendida como uma ciência humana 7 (FERREIRA, 2006), e empenhada no cuidar das pessoas possui duas vertentes: uma técnica e outra expressiva. Como técnica, consagrou-se os cuidados interventivos, afirma a autora. Como expressiva, destaca-se a relação que se estabelece entre o profissional e o usuário, ou seja, estabelecer interações entre sujeitos que participam do cuidado, através de comunicação verbal e não verbal. Significado do cuidado de enfermagem para enfermeiras no contexto hospitalar: uma visão interacionista Marcos Paulo de Oliveira Lima Dissertação de Mestrado 24 Existe outra classificação, segundo Dias, et al (2008), para os cuidados de enfermagem, mas que muito se assemelha ao autor anterior. Esta autora definiu cuidados em: objetivos, que se refere ao desenvolvimento de técnicas e procedimentos, e subjetivos que se baseia na sensibilidade e intuição para cuidar de outro ser. Sucupira (2007, p. 626) ao tratar da relação entre profissional da saúde com o paciente afirma: “A compreensão mais ampla do paciente e de suas demandas não se esgota no domínio de uma técnica, mas implica a necessidade de uma formação mais ampla nas ciências humanas, o que vai se expressar nas atitudes, posturas e condutas nessa relação”. A técnica que a autora se refere é a de habilidades de comunicação, que é diferente da relação entre profissional e paciente. A técnica pode ser aprendida; a relação vivida. Destaco aqui, a incorporação das ciências humanas à saúde, e também, a relação entre os sujeitos, que não deve ser automatizada. Cada encontro deve ser singular, como afirma a autora. A relação interpessoal como instrumento do cuidado em saúde, vem sendo utilizado pela enfermagem. “Trabalhar a empatia e o comprometimento, mas principalmente, o “humano” nas relações, pode ser uma boa alternativa para a operacionalização de uma prática centrada no sujeito como um todo e no desenvolvimento de uma dimensão cuidadora em saúde.” (PINHO, SANTOS, 2007, p. 379). Sobre a prática do cuidado de enfermagem Silva, Damasceno (2005) afirmam que apesar dos enfermeiros realizarem diariamente cuidados técnicosbiológicos, estes demostram a importância de valorização da dimensão existencial do ser humano. Ou seja, uma atitude humanística. Nessa linha de pensamento Ayres (2004) afirma que é necessário privilegiar o diálogo nas práticas de saúde, ou seja, no encontro entre sujeitos deve existir uma abertura em ouvir o outro, assim o profissional ouve-se a si mesmo e faz-se ouvir. Em seu ensaio o autor aproxima o humano e o cuidado das práticas de saúde, através de uma abordagem fenomenológica. Existem muitas maneiras de cuidar (COELHO, 2006). Dissertação de Mestrado 25 outros autores. Procurando criar um paradigma para o cuidar em enfermagem. A autora define cuidado como “... várias atividades técnicas e informativas ao cliente e a família, é implementar ações de enfermagem para o atendimento à todas as necessidades deste e seus familiares. É contribuir para que o cliente recupere o seu equilíbrio...” (p. 746). O cuidado como interação foi destacado por Castro, Mendes, Ferreira (2005). Em sua 8 pesquisa eles encontraram que a interação entre o profissional e o cliente é expressa através de comunicação estabelecida no cuidado. Mas, acredito que o principal achado foi que o contato entre equipe de enfermagem e clientes não é somente técnico, pois foi verificado por eles formas de interação através de conversas de conteúdo lúdico, que transcendem a normatização do cuidado. Mesmo no momento de cuidado institucionalizado, com recursos tecnológicos de alto nível, é preciso refletir que há muito mais do que tecnologia, pois para um cuidado humanizado são importante as relações, o diálogo, o respeito, a individualidade, dentre outros (NASCIMENTO, 2007). Nesta mesma lógica de pensar cuidado como interação Fonseca, Lacerda e Maftum (2006) destacam a abordagem humana das relações de cuidado, e afirmam que para atender o ser humano em sua integralidade, o enfermeiro deve colocar a sua humanidade em relação com a humanidade do outro. Lopes (2005) realizou pesquisa para compreender a natureza da relação entre cuidador e seres cuidados. Como resultado ele encontrou que essa relação se constitui como um espaço de proximidade, confiança, disponibilidade e continuidade, que permite ao doente reorganizar-se de modo a ultrapassar a crise, para isso os enfermeiros realizam uma extensa gama de cuidados. O cuidado é o fenômeno resultante do processo de cuidar, o qual representa a forma como ocorre o encontro ou situação de cuidar entre cuidadora e ser cuidado. Desta forma, ele é visto como uma maneira de ser, algo existencial, além de relacional e contextual. Ele não pode ser prescrito, mas vivido e sentido. Dentro da enfermagem, ele compreende comportamentos e atitudes demonstrados nas ações, desenvolvidos com competência no sentido de favorecer as potencialidades das pessoas para manter ou melhorar a condição humana no processo de viver e morrer (WALDOW, 2007). O SIGNIFICADO DE CUIDADO PARA PROFISSIONAIS DA EQUIPE DE ENFERMAGEM O ensino de enfermagem busca capacitar o profissional à prestação de cuidado de saúde ao ser humano-paciente-cliente, à realização e aperfeiçoamento de tecnologias e procedimentos que promovam a saúde, previnam doenças e recuperem lesões; na impossibilidade de cura ou recuperação, favoreça uma morte digna e com o menor sofrimento possível. A este futuro profissional está assegurado um embasamento científico e o desenvolvimento de habilidades técnicas para atender às necessidades do outro, inerentes ao exercício da profissão. O cuidado profissional oferecido está alicerçado na aprendizagem obtida na escola e no exercício da profissão. Algumas vezes, a educação profissional em nossa sociedade coíbe a criatividade e a individualidade dos alunos, por oferecer-lhes, como alternativa formal, a aquisição passiva de 9 conhecimentos. O processo de formação e capacitação de recursos humanos necessita estar ligado ao desenvolvimento da criticidade do aluno para a habilitação de um profissional ativo e capaz de articular seus pensamentos e idéias. Tal formação deveria estar, igualmente, voltada às necessidades do sujeito enquanto ser humano e, não apenas à técnica, à cientificidade, à competitividade ou a excelência do cuidado prestado. O cuidador de enfermagem inserido em uma organização que presta serviço ao ‘outro’ é responsável pela qualidade do atendimento que é dispensado ao ser cuidado e, para tal, deve empenhar-se e oferecer o melhor de si para assegurar um cuidado humanizado (COSTENARO & LACERDA, 2001). Indubitavelmente, o exercício do cuidado é uma tarefa difícil e desafiadora. Cuidar, segundo SILVA & GIMENES (2000, p. 307), “é servir, é oferecer ao outro como forma de serviço, o resultado de nossos talentos, preparos e escolhas”, essesadquiridos em nossa vivência de cuidador, demonstrando ao ser cuidado atitudes de cuidado oriundas do nosso conhecimento, afeto e habilidades, as quais, na direção do outro, se transformam em ações que refletem o ser humano que somos e a forma como nos cuidamos. O ser cuidador, para exercer o cuidado, de acordo com SlLVA & GIMENES (2000), precisa perceber o 'outro' como ele se mostra, nos seus gestos e falas, na sua dor e limitação, pois, por trás de cada situação física de doença, há uma história de vida que pode ser percebida em muitos detalhes. Certamente, o corpo físico revela, mesmo que timidamente, muitas informações saudáveis e doentias ali armazenadas. O ambiente hospitalar é possuidor de características que deixam as pessoas vulneráveis, por ser tenso, sombrio, triste e, às vezes, desalentado. Por sua vez, as pessoas enfermas são submetidas a procedimentos, exames, manipulações que desgastam a si próprios, familiares, amigos e, por que não, a própria equipe que presta os cuidados, principalmente a equipe de enfermagem, que é diretamente responsável pelos cuidados deste ser. Ao buscar o significado de cuidado, identificado a partir dos discursos dos sujeitos, foi possível identificar os seguintes significados de cuidado do outro. O CUIDADO VERBAL E NÃO-VERBAL Na perspectiva da enfermagem, cuidar do 'outro' significa atender às suas necessidades com sensibilidade, presteza e solidariedade, mediante ações e atitudes de cuidado realizadas para 10 promover o conforto e o bem-estar. O cuidado manifestado conjuga a integridade física e emocional num processo de troca entre cuidador e ser cuidado. É possível perceber o cuidado de enfermagem verbal e não-verbal, quando se manifesta por meio da conversa, do toque, com a intencionalidade de transmitir tranqüilidade, carinho, conforto, segurança, atenção e bem-estar, como apontam os depoimentos a seguir: ...Prestar atendimento, tratar muito bem as pessoas que já estão lá, que estão doentes, estão sensíveis elas querem um pouco de atenção ali, que converse [...] não atender assim, mal, sabe [...] (Violeta). ...Tem que atender quando o paciente chama [...] atender bem, de preferência com um sorriso [...] conversar e dar atenção(Camélia). ...É eu transmitir segurança, conforto, bem-estar [...] carinho pro paciente [...] (Jasmim). ...Conforto, ta mal deitado, deitar ele direitinho, a posição que ele quer, que fica bem [...] tranqüilizá- lo, conversar (Girassol). O toque é uma manifestação de cuidado não-verbal e demonstra preocupação com o 'outro', o cliente. O ato de tocar aproxima os seres humanos; neste caso, aproxima o cuidador e o ser cuidado. Tulipa, que trabalha em bloco cirúrgico, percebe que o cuidado, por meio do toque, permite sua aproximação com o cliente podendo, neste momento, transmitir-lhe segurança e conforto, principalmente para os mais idosos, conforme salienta a seguir. Ao entrar no bloco cirúrgico, o cliente aguarda em uma maca até ser encaminhado à sala cirúrgica para o ato operatório. Percebe, o sujeito, que o cliente que está aguardando até ser encaminhado à referida sala, quando tocado e abordado com carinho e atenção, demonstra sua gratidão pelo olhar e, segundo seu relato, “os olhos deles olham diferente”. ...Ah, uma coisa que eu acho muito importante é tocar. Tocar às vezes, assim, tu tem um paciente numa maca ali esperando, pra ir pra sala. Você passa e puxa a coberta e tapa ele, tapa o ombro que está destapado. Como é que você está? Principalmente as pessoas de mais idade. Eu noto assim, parece que o olho deles olha diferente, sabe. Eu acho assim, que às vezes um simples toque dá uma sensação de conforto e de segurança [...] (Tulipa). A tal respeito, BETTINELLI (1998) aponta que o toque, enquanto cuidado, é uma forma de aproximação humana que estimula a sensibilidade e desperta, nas pessoas envolvidas, a 11 possibilidade de troca, reciprocidade e solidariedade na assistência. Indubitavelmente, Tulipa apresenta sensibilidade e solidariedade em suas atitudes; atitudes estas, que solidificam o sentido do cuidado em enfermagem. Nesse mesmo sentido, COSTA (1998) lembra que uma das características de proximidade física entre o cliente e o cuidador no exercício do cuidado é o toque que, por sua proximidade, favorece o calor humano e o cuidado humanizado. MINIMIZANDO A DOR FÍSICA PELO CUIDADO Ao expressarem os seus valores sobre o cuidado humano, os sujeitos desta pesquisa demonstraram a preocupação em minimizar a dor física apresentada pelo cliente, entendendo tal movimento como manifestação do cuidado. A intenção de aliviar o sofrimento do ser humano que está sob seus cuidados, manter sua dignidade e seus direitos de cidadão nos momentos de fragilidade e dor, denotam o significado do cuidado ao 'outro'. A administração de drogas para minimizar a dor física, prescrita pelo médico assistente, é uma das funções da enfermagem e, ao mesmo tempo permite, a partir da aproximação do cuidador durante o ato de medicar, confortar o paciente que está emocionalmente fragilizado, amenizando suas angústias e medos. O sofrimento do paciente, causado pela manifestação de algum tipo de dor, provoca desconforto aos profissionais de enfermagem. Contudo, a tecnologia ora existente e a variedade de medicamentos disponíveis tornam possível a minimização do sofrimento, quando a causa é a dor. Os relatos a seguir enfatizam tal situação: ...Fazer técnicas, como a administração de medicamentos, prescritos no caso, pra que ele não sinta dor [...] fazer com que ele não sinta dor, que ele se sinta melhor do que ele está se sentindo no momento que ele tá internado, que ele melhore de saúde (Jasmim). Em primeiro lugar aliviar a dor [...] claro que depois vem outros cuidados, exames, coisa e tal...Mas em primeiro lugar é aliviar a dor (Girassol). Eu acho que tem que atender quando o paciente chama, se pede um calmante, uma coisa assim. Tem que atender rápido e ter os cuidados, necessários para o paciente (Camélia). CUIDAR COM EMPATIA PARA ATENDER O TODO 12 Há uma grande preocupação dos profissionais de enfermagem em “se colocar no lugar do outro”, transmitindo-lhe o que gostariam de receber se a situação fosse invertida, numa clara atitude de empatia. Cuidar com empatia, neste estudo, significa entender e compreender o outro como gostaria de ser, também, compreendido, cuidado. Além disso, os cuidadores assumem o cuidado do outro como se fosse o seu próprio cuidado, como apontam os seguintes depoimentos: ...Eu cuido do paciente como eu gostaria que cuidassem de mim, se eu precisasse. Então eu acho que é muito importante a gente cuidar do paciente. Que eu cuido dele como eu gostaria que cuidassem de mim, se eu precisasse (Camélia). ...Acho assim que o que eu tô fazendo ali, o que eu faço pro paciente [...] o que eu tô fazendo pra pessoa eu tô fazendo pra mim mesmo. Eu me sinto bem fazendo isso [...] eu acho o que eu faço pra eles, pra mim é uma coisa boa também [...](Margarida). Segundo COSTA (1998), priorizar o cuidado do outro como cuidar de si mesmo implica sentir- se cuidado enquanto cuida, entendendo e compreendendo o outro com empatia; priorizar o outro é um ato de dedicação afetiva. Cuidar com empatia é entender a situação do outro, ver-se no lugar dele e sentir-se em proximidade e igualdade; envolve também atenção às necessidades físicas e psíquicas do ser cuidado. ...É como cuidar, tentar cuidar de si mesmo, né [...] acho que vai cuidar dele pensando como gostaria de ser cuidado, [...] acho que a parte física, a parte psíquica dele, sentimentos, Eu acho que é isso. Ter cuidado da pessoa como se tu tivesse pensando em ti também. Se colocando no lugar dele, entendendo, compreendendo, a empatia. Acho que é isso. Tu se colocar no lugar, daí a empatia em si acho que daí tu vai poder cuidar dessa pessoa (Orquídea).A relação de empatia é desenvolvida a partir da capacidade de colocar-se no lugar do outro, seja em situações gratificantes ou de frustração. Os seres humanos são singulares e possuem histórias de vida peculiares a si, por isso, nem sempre será possível perceber do mesmo modo. No entanto, a empatia pode ser percebida de modo semelhante, não idêntica, mas próximo, muito próximo do que o outro percebe para si. ...Se colocar no lugar [...] eu imagino assim, tá indo pra um lugar [bloco cirúrgico], tá estressado, 13 porque se tá aí porque está com algum problema de saúde e enxerga todas aquelas pessoas. Aí aquelas pessoas que não estão nem aí pra ti, te botaram pra cima de uma maca e te puxaram pra uma sala, conversando entre eles, rindo e contando piadinhas [...] e tu não sabe quem é quem, é todo mundo igual, com toca, com roupa azul. Eu imagino assim que deve ser uma situação muito desagradável. Como eu trabalho em bloco, Ah! pra nós pegar um paciente, passar pelo corredor e entrar numa sala é uma coisa que a gente faz oitenta vezes por dia [...] agora pra ele [...] (Tulipa). Em seu relato, Tulipa elucida que se o paciente foi encaminhado até o bloco cirúrgico é porque possui algum problema de saúde e precisa passar por um processo cirúrgico, sendo este um motivo gerador de ansiedade e apreensão. E, ainda, estar inserido neste ambiente é um fator estressante para o paciente uma vez que, tal espaço, é compreendido como um ambiente hostil. Alguns procedimentos rotineiros do setor exigem manipulação, como colocar o cliente sobre uma maca e transferi-lo para uma sala cirúrgica, desconhecida e fria, com várias pessoas distintas do seu cotidiano, sem saber quem é quem e, tal situação assusta o paciente que a vivencia. Essas pessoas são médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem que formam uma equipe multiprofissional e que irá intervir para realizar o procedimento cirúrgico necessário. Trata-se de um setor diferenciado dos demais e nele se encontram pessoas distintas e, ao mesmo tempo, semelhantes por estarem paramentadas com roupas e toucas iguais e da mesma cor - azul. Saber quem é quem é tarefa difícil ao paciente. O profissional que trabalha em bloco cirúrgico realiza atividades rotineiras, como, por exemplo, transportar os pacientes da entrada do setor até a sala cirúrgica e, desta, para a sala de recuperação. Assim, pelo depoimento do sujeito: Ah! pra nós pegar um paciente, passar pelo corredor e entrar numa sala é uma coisa que a gente faz oitenta vezes por dia [...] agora pra ele [...], percebe-se a sua sensibilidade em se importar com o possível desconforto do cliente nesta situação, atentando para a possibilidade de tornar a experiência vivida menos desagradável. É também uma preocupação do sujeito deste estudo a conversa entre os profissionais da equipe que contam piadas e riem entre si neste ambiente ocasionando, talvez, uma situação desagradável para o paciente nele inserido. Sabe-se que o bloco cirúrgico é caracterizado como um ambiente sobremaneira estressante para quem nele se encontra, e não é diferente para os profissionais que ali trabalham, pois o nível de tensão é muito grande. Em função disso, tem-se observado a utilização de mecanismos de defesa pelo trabalhador - individuais e coletivos - para evitar a manifestação ou instalação do estresse individual, desencadeado pelas atividades. A descontração, a piada, o riso são utilizados 14 em determinados momentos para relaxar e liberar a tensão emocional, tanto dos profissionais quanto do paciente que, indubitavelmente, encontra-se ansioso e tenso neste meio. É importante a preocupação expressa no depoimento do sujeito com o 'colocar-se no lugar do outro', imaginando o quanto pode ser desagradável ao paciente enfrentar um ambiente com tais características e atitudes dos profissionais que atuam neste contexto. A preocupação do profissional de enfermagem estende-se, também, ao distanciamento físico entre o paciente e o seu familiar, pois a estes não é permitido o acesso no bloco cirúrgico. Neste caso, o cuidado é estendido para além das paredes que separam os ambientes interno e externo de tal bloco, por meio da ação cuidativa do profissional de enfermagem que se torna o elo entre o paciente e seu familiar, como se pode observar no relato a seguir: ...A família já não pode entrar, tem que ficar no lado de fora [...] às vezes também, chega alguém [familiar do paciente] na janela [do bloco cirúrgico] e diz assim: Ah! eu gostaria de saber como tá o fulano de tal, ele veio fazer uma cirurgia. Aí, ah! ele já tá na sala, mas você não pode mais ver ele [profissional de enfermagem]. Bah!, mas é que eu não pude chegar a tempo de ver ele antes da cirurgia, [familiar do paciente]. Então eu vejo assim, ó seu Antonio, [paciente], sua esposa chegou agora, gostaria de ver o senhor, mas o senhor não tem como sair da sala [sala cirúrgica], fica tranqüilo, ela tá aí fora, ela perguntou como o senhor tá e ela vai ficar aguardando aí [profissional de enfermagem informa o paciente]. Eu sei que é coisa minha assim, mas eu sinto que o paciente, que o cliente, ele, dá uma sensação de segurança, assim, de não estar abandonado. Eu acho legal [...] (Tulipa). A atitude de cuidado de enfermagem demonstra solidariedade e sensibilidade ao outro; denota preocupação com a integridade moral e dignidade do paciente como ser humano que é; demonstra consideração pelos aspectos não somente físicos, mas também os aspectos psíquicos do ser humano. O profissional de enfermagem, durante a realização do cuidado, busca um atendimento mais humano, considerando, igualmente, que o outro é um ser individual e único, como lembra o sujeito: O que é cuidar do outro? É ver essa pessoa, esse cliente, como uma pessoa, como alguém que tá precisando não só de um cuidado físico, mas também o lado psicológico, né. Eu imagino assim: ir num lugar que tu nunca foi antes, ser atendido por pessoas que tu não conhece e aquela coisa, que tu às vezes eu comento, mas olha pro paciente, diz bom dia, chama pelo nome, é porque pra nós é uma coisa natural. Às vezes eu imagino assim, que nem esses dias numa reunião eu disse assim: 15 digamos que vocês vão pra um país estranho, aonde você não sabe se vai pela direita, pela esquerda, tu não sabe como se dirigir, e tu fica perdido e as pessoas passam por ti e ninguém te dá bola, passa por ti e assim... [...] então deve dar uma sensação de desespero, né, de insegurança. Eu acho que cuidar do outro, é se preocupar com o físico e também com o psicológico das pessoas. Então eu acho que cuidar é se preocupar com um todo, ver o paciente como um todo, né? (Tulipa). O cuidado está vinculado ao cuidar também com ação de prevenção. A preocupação do profissional de enfermagem necessita abranger não apenas o biológico, mas a totalidade que permeia o cuidado holístico. Conforme COSTENARO & LACERDA (2001), o profissional de enfermagem não pode limitar a sua atenção ao atendimento daquilo que é visível no corpo. Ampliar a sua visão para o todo é uma necessidade. O cuidado assumido pelos profissionais não deve focalizar a atenção somente no procedimento que está sendo realizado mas, sobretudo, precisa buscar toda e qualquer possibilidade de inserir o cuidado para promover uma melhor qualidade de sua vida ao outro, uma vez que o princípio norteador das ações de enfermagem é a educação do cliente e a sua compreensão sobre a importância da prevenção. A orientação prestada pelo profissional de enfermagem visa adequá-la às necessidades do cliente, manifestadas ou não, pois cuidar envolve atender as carências do outro, percebidas pelo profissional de enfermagem, além daquelas referidas pelo paciente no momento da ação cuidativa. Para BETTINELLI (1998, p. 39) “o profissional de enfermagem deve ter a capacidade de utilizar a intuição e ter uma percepção bastante acurada parapoder envolver-se mais durante o cuidado [...]”. Um cuidado adequado às necessidades do cliente exige do profissional, como já apontado, a capacidade de perceber e identificar as necessidades do outro, sendo estes atributos advindos da experiência e prática constante no exercício da enfermagem. Quanto mais acurada for a percepção do profissional tanto mais poderá prestar o cuidado de acordo com as peculiaridades e singularidades de cada indivíduo. A interação é o elo entre o cuidador e o ser cuidado e que permite, ao primeiro, a percepção e a identificação das necessidades do segundo. É o que sugere o relato a seguir: Cuidar do outro eu penso assim que é cuidar de uma forma integral, né [...] no sentido de prevenção. E aqui no setor onde eu trabalho, a gente trabalha com vacinas... Desde uma criança recém-nascida com o teste do pezinho, as primeiras vacinas até [...] não tem limite de idade. Então a gente vê a importância de prevenir a doença e não tratar [...] é mais a nível de consultas de 16 rotina. Mas a gente percebe assim a questão do atendimento integral. Então aquela coisa, não só chegar e aplicar uma vacina, mas tu vê a pessoa assim como ser humano, né. Tu vê todas as condições dela, tu dá orientação. Tem que perguntar se a mãe tá amamentando direitinho, se o bebê tá mamando bem, se ela tá tendo alguma dificuldade, daí tu vai orientar a amamentação. Tu vê a questão da higiene, se aquela criança tá sendo bem cuidada, bem alimentada, cuidados com a desnutrição. Às vezes a gente percebe que a mãe não sabe o que fazer com a criança. Então a gente já aproveita e orienta, né. Porque não é somente tu aplicar uma vacina, tu vê, acho, o todo, né. Então eu acho que é principalmente tu não vê, assim, o recém-nascido só doente na tua frente, mas tu vê a pessoa como um todo. Tu vê todas as coisas que possam, que tu possa orientar pra ela [...] pra melhorar a qualidade de vida (Helicônia). O cuidado de enfermagem é uma continuidade e deve ter envolvimento e ajuda de toda equipe para concretizar um trabalho conjunto entre os profissionais. Para tanto, é imprescindível transmitir ao colega que sucede no atendimento algo percebido como importante e que não foi possível realizar pelo paciente no momento anterior. Assim, entendo que todos os profissionais da enfermagem precisam contribuir com informações para a implementação dos cuidados, realizando um verdadeiro cuidado em equipe, como lembra Lírio: Cuidar do cliente é atender todas as necessidades que eu percebo ou que ele me refere. Porque, às vezes, o cliente não pode falar ou gesticular o que ele tá precisando, mas eu tenho que observar e tenho que perceber o mínimo que ele tá precisando e tentar ajudar, cuidar [...] dirigir uma palavra ou uma higiene [...] tentar ajudar. Ajudar a cuidar o outro é atender as necessidades que ele tá sentindo naquele momento que eu tô presente [...] no meu turno de trabalho, por exemplo, ou até passar pra alguma colega alguma coisa que eu percebo e que eu não posso fazer no momento. Cuidar é suprir necessidades do outro de acordo com o seu estágio de desenvolvimento e a situação que se encontra. Cuidar de uma criança hospitalizada num setor cuja permanência da mãe e do pai é, ainda, restrita devido ao controle de infecção hospitalar, sensibiliza os profissionais que tentam oferecer a essas crianças um cuidado integral. O profissional identifica as necessidades de cuidado do outro e verifica os meios disponíveis para supri-los com afetividade, conforme aponta o sujeito a seguir: ...Bom eu percebo que no meu setor [CTI pediátrica] são desde o entretenimento, uma TV que faça uma diferença para as crianças, brinquedos, carinho, atenção, toda dedicação, até em dar a dieta, o banho, tudo isso. Eu entendo que faz parte do cuidado. Acho bem mais importante essa atenção de suprir essas necessidades, tipo a falta da mãe, a diferença do ambiente que eles estranham 17 bastante, assim, pessoas desconhecidas. Tentar ficar mais próxima das crianças que já tenham entendimento disso, né? Eu entendo que de certa forma, suprir todas as necessidades do outro tanto em todos os aspectos biopsicosocial. Pra mim é isso (Bromélia). O profissional de enfermagem busca, nas suas ações, auxiliar o ser humano que está hospitalizado a superar as dificuldades encontradas, promovendo a presença, o bem-estar e a recuperação da sua saúde e utiliza-se de recursos disponíveis para suprir as necessidades biopsicossociais deste ser, como lembra Ipê: Ajudar nos cuidados que eles não têm, que eles não têm condições de fazer por eles mesmos, né. Isso é cuidado [...] cuidado, orientação, pra que ele aprenda se cuidar também. Cuidar dele no que ele não tem condições de fazer por ele mesmo, ajudar ele na auto-estima, educar ele pra que ele aprenda também a se cuidar. Cuidar é também ajudar o outro a cuidar-se, orientar, educar, ajudar na melhora da auto- estima do cliente que se encontra em uma situação de fragilidade; é ajudar o outro a satisfazer as suas necessidades e cuidados próprios; é assegurar que o ser cuidado obtenha o máximo de bem- estar possível, de acordo com as suas condições/possibilidades, já que, segundo Rosa, ...Cuidar do outro eu acho que é dar atenção, escutar, orientar, ouvir. O cuidado propriamente dito. Que seria, esse paciente vem te procurar pra quê? Pra um curativo? Então você faz o curativo, pode conversar com ele. Muitas coisas se resolvem ali. Orientar [...] uma mãe que vem fazer uma vacina no filho, pergunta mil e uma coisa. Você vai orientando, vai conversando. Quantos filhos ainda tem? Se eles são vacinados? Tu vai perguntando. É cuidar do outro. Pra mim é um cuidado. Cuidar solidariamente, segundo BETTINELLI (1998), significa ter atitudes, executar técnicas e procedimentos, mantendo um diálogo educativo de forma a intensificar a relação entre o ser cuidado e o cuidador. O ENVOLVIMENTO E O PROCESSO DE CUIDAR Violeta que é cuidadora e pôde experienciar uma situação, em que precisou ser cuidada pelo colega e profissional de enfermagem, afirma que cuidado é mais do que administrar uma medicação, é presença, atenção, diálogo, é fazer sentir-se bem; cuidar é ter paciência e confortar o outro, pois nenhuma medicação tem o efeito de confortar, acarinhar ou dar atenção. Contudo, a 18 confiança entre os sujeitos envolvidos (cliente e profissional) é um imperativo essencial para a consolidação do cuidado, como lembra Violeta: ...Eu já fiquei doente [...] tava ruim, me senti sozinha, mal assim sabe. Ninguém foi lá me ver. E tinha as gurias, a Fulana [auxiliar de enfermagem e colega] me atendeu super bem, foi lá conversou comigo. Aquilo lá foi além da medicação, sabe, além da medicação, foi lá conversou comigo que eu tava ruim. Ficou lá e fez eu me sentir bem. Eu acho que é isso o cuidado da pessoa. Além de dar a medicação, tem que, sei lá, tem que ter um [pausa] ah! [pausa] como é que eu vou te explicar [pausa] tem que tratar bem, tem que tratar bem. Eu tava ruim aquele dia, tava ruim, era tudo junto. Eu tava com um medo, um medo, de medicação na veia. A Fulana veio e disse: calma Violeta, calma, tu vai se sentir melhor, não sei o que e conversando, sabe, eu já fui me esquecendo daquilo. Tem que ter paciência. Na hora tu não tem paciência, quer que passe, tava com uma dor de cabeça horrível, uma náusea horrível, tava ruim, tava me sentindo ruim, mal-estar. Ela foi lá conversou comigo, disse: ó, tu dorme, tu descansa, qualquer coisa que tu não tiver se sentindo bem tu pega e tu me chama, sabe. Chega e já conversa contigo sabe, faz tu se sentir à vontade, bem, se sentir bem. Num passado não muito distante, o envolvimento da enfermagem com o paciente era evitado, contra-indicado, não estimulado. O profissional não deveria se envolver com o paciente, sendo que, os próprios colegas alertavam: ‘olha o envolvimento!’. Atualmente se questiona a atitudede ‘não envolvimento’, pois se preconiza que, para haver um cuidado humanizado e adequado ao outro ser é necessário que ocorra a empatia, a afetividade, o envolvimento, a aproximação entre o cuidador e o ser cuidado com a finalidade terapêutica, não limitada à simples execução de técnicas ou cumprimento das atividades concernentes à enfermagem. WALDOW (1998) considera o cuidar não apenas como uma tarefa a ser executada no sentido de tratar uma ferida ou auxiliar na cura de uma doença e, sim, num sentido mais amplo como um cuidado por meio do ‘relacionamento com o outro, como uma expressão de interesse e carinho’. Quem cuida do outro em seu cotidiano está susceptível a vivenciar também sentimentos desagradáveis que lhe causam sofrimento, principalmente, quando o vivenciado é a morte. A enfermagem é uma das profissões em que ocorre um grande desgaste emocional do trabalhador devido à constante interação com seres enfermos, muitas vezes, acompanhando o sofrimento, como a dor, a doença e a morte do ser cuidado. É possível cuidar sem envolvimento? É possível não se apegar, não se envolver, principalmente quando o ser cuidado é uma criança?Margarida afirma que tenta não se apegar 19 porque lhe faz mal experienciar a perda do outro, seja na alta hospitalar seja na própria morte. Mas é possível evitar o apego e a dor da perda quando cuidamos? Alguns profissionais interpõem barreiras na relação de cuidado, alegando o não envolvimento como necessário para evitar o sofrimento limitando, dessa forma, a atitude de cuidar. Devido a situações de sofrimento, frente ao sentimento de perda do outro, o profissional busca alguns mecanismos de defesa individual para não sofrer constantemente a cada situação vivenciada. Em muitos casos, se esses mecanismos não forem utilizados, o profissional se tornará incapaz de desenvolver suas atividades. Em seus estudos, PITTA (1999), assinala alguns mecanismos de defesa, sendo a fragmentação da relação técnico-paciente uma relação na qual o profissional evita um contato muito próximo ao ser cuidado como meio de se defender da própria dor e sofrimento diante de situações críticas, pois o não envolvimento afetivo nessa relação evita o sofrimento com a dor ou a perda do outro. Será possível cuidar do outro sem se envolver? Vejamos o que aponta Margarida: ...No sentido de doença [...] eu não procuro me apegar. Que assim, claro que tu acostuma com o paciente ali, daí tu fica. Mas eu não costumo me apegar assim, porque eu acho que isso não faz bem pra gente [...]. O B., aquele menino que morreu. Aquele ali tu sente, né? Eu senti assim na hora. Só que eu não posso, porque eu acho que isso faz mal pra ti. Eu penso assim, que tu tá aqui pra ajudar, já fazendo o que precisa ajuda, não pode ter pena. Entre a equipe multiprofissional, os membros da equipe de enfermagem são os que ficam mais próximos do paciente, pois trabalham mais diretamente na sua prestação de cuidados. Alguns pacientes ficam vários dias, vários meses internados na mesma unidade. É possível não se apegar, não se envolver durante a convivência? BETTINELLI (1998) aponta que alguns profissionais de enfermagem na relação de cuidado demonstram um envolvimento com o paciente bastante superficial, supervalorizando os aspectos científicos, as rotinas, os problemas burocrático-administrativos, as normatizações de técnicas e de procedimentos. Estas atitudes denotam a impessoalidade do cuidador, sendo a intuição, o envolvimento, a sensibilidade e a solidariedade substituída pelo mero cumprimento de tarefas rotineiras, fazendo com que a relação com o paciente se torne fragmentada, fria, simplificada e, às vezes, distante, transformando o ser humano em um objeto do cuidado. O autor considera que a visão tecnicista do profissional de enfermagem pode afastá-lo cada vez mais do ser cuidado e ainda, impedir as reflexões sobre sua postura e conduta profissional, 20 podendo tornar-se antiética. A prática do cuidado pelo profissional de enfermagem, objetiva prioritariamente cuidar do outro, direcionando a atitude cuidativa para o ser que está sob os seus cuidados. O cuidar do outro, pelas trocas que proporciona, traz para o cuidador sentimentos de prazer e satisfação, ou seja, cuidar do outro é também cuidar de si mesmo. Evidencia-se o cuidado do outro pelo profissional de enfermagem de maneira verbal e não- verbal, atendendo os aspectos físico e emocional, de modo a preservar a dignidade de ser humano que é. A dor manifestada pelo outro sensibiliza o profissional, que busca em suas ações o seu alívio, mediante atitudes de empatia na prática cuidativa. 21 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTENCIA DE ENFERMAGEM – SAE A Sistematização da assistência de Enfermagem (SAE), é uma atividade privativa do enfermeiro que norteia as atividades de toda a equipe de Enfermagem, já que técnicos e auxiliares desempenham suas funções a partir da prescrição do enfermeiro. A SAE é a organização e execução do processo de Enfermagem, com visão holística e é composta por etapas inter-relacionadas, segundo a Lei 7498 de 25/06/86 ( Lei do Exercício Profissional). É a essência da prática da Enfermagem, instrumento e metodologia da profissão, e como tal ajuda o enfermeiro a tomar decisões, prever e avaliar conseqüências. Vislumbra o aperfeiçoamento da capacidade de solucionar problemas, tomar decisões e maximizar oportunidades e recursos formando hábitos de pensamento. A SAE foi desenvolvida como método específico para aplicação da abordagem cientifica ou da solução de problemas na prática e para a sua aplicação enfermeiras e enfermeiros precisam entender e aplicar conceitos e teorias apropriados das ciências da Saúde, incluídas aí a própria Enfermagem, as ciências físicas, biológicas, comportamentais e humanas, além de desenvolver uma visão holística do ser humano. Esse conjunto de conhecimentos proporciona justificativas para tomadas de decisão, julgamentos, relacionamentos interpessoais e ações. A sistematização da assistência de enfermagem (SAE) é um processo organizacional que oferece subsídios para o desenvolvimento de métodos interdisciplinares e humanizados de cuidado com o objetivo de melhorar cada vez mais o cuidado prestado ao paciente, pois levanta-se a necessidade de cuidado interativo, complementar e multiprofissional. Em outras palavras a SAE é um método científico com a finalidade de organizar o trabalho profissional da enfermagem através de um processo de enfermagem organizado em 5 etapas. A SAE visa a implantação de uma teoria de enfermagem na prática profissional. (Por isso o termo enfermagem científica). Neste sentido, a primeiro passo para implantar a SAE é escolher uma teoria de enfermagem e depois aplicar o processo de enfermagem para colocar em prática a Teoria de Enfermagem escolhida. 22 O DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO NA ENFERMAGEM; A Enfermagem Moderna nasceu em meados do século XIX com Florence Nightingale que organizou a atenção a doentes em hospitais e enfatizou a necessidade de preparo formal para as pessoas interessadas em exercer a Enfermagem. Na Inglaterra Vitoriana, espaço-tempo em que se deu a luta de Nightingale pela organização e valorização da Enfermagem moderna, eram grandes as restrições às mulheres consideradas como objetos decorativos dos lares de seus pais e de seus maridos, especialmente as pertencentes às classes mais abastadas. A figura masculina era central no viver das mulheres; a partir dela as normas sociais eram estabelecidas e dela as mulheres dependiam não só financeiramente, mas também para conquistar 'respeitabilidade'. Às mulheres não era dado acesso à educação formal e nem ao mercado de trabalho, exceto naquelas atividades de baixo status, longas jornadas e baixa remuneração, o que as colocava na dependência econômica de seus pais ou maridos, dificultandoa sobrevivência na ausência de um mantenedor masculino. Naquele momento, crescia a atividade industrial, confinando os trabalhadores por longas jornadas ao espaço físico da indústria para o desempenho de suas funções e aumentando a aglomeração de pessoas na periferia das cidades, vivendo em condições de promiscuidade. Além disso, a microbiologia ensaiava seus primeiros passos, dando um novo rumo ao estudo e compreensão do processo saúde-doença bem como ao tratamento das enfermidades. Neste contexto, Nightingale organizou a Enfermagem como uma forma de preencher a vida das mulheres que, com o preparo necessário, poderiam atuar na manutenção da saúde e no cuidado de doentes, utilizando-se de recursos do meio ambiente para manter o paciente nas melhores condições para que a natureza pudesse agir sobre ele. No século XX, a Enfermagem direcionou seus esforços para ser reconhecida como ciência, desenvolvendo teorias de Enfermagem dentro do paradigma da totalidade e a busca por um corpo substantivo de conhecimento a impulsionou para explicitação de suas bases teóricas para a prática(3). Esta busca tem sido influenciada por uma filosofia tradicional de ciência, o que se refletiu na prática e na educação de Enfermagem, influenciadas por normas da ciência e da ciência comportamental e por normas médicas masculinas, gerando forte ênfase no fazer, problemas com status, autoridade e auto-estima, além de uma série de dicotomias: prática-teoria, 23 subjetividade-objetividade, prática-pesquisa, arte-ciência, profissão-disciplina, fazer-saber, cuidar- curar(4). Nas últimas décadas do século XX, a Enfermagem procurou superar as limitações do modelo tradicional de ciência e da vertente biomédica dominante na atenção de saúde, revalorizando aspectos não mensuráveis, não controláveis do cuidado como, por exemplo, a experiência subjetiva, o significado pessoal desta experiência, as diferentes formas de enfrentar as situações envolvidas no viver cotidiano, o ser-estar junto com o outro, o saber do outro, as diferenças culturais, dentre outros. OS PADRÕES DE CONHECIMENTO E SUA IMPORTÂNCIA PARA O CUIDADO: OS SABERES DA ENFERMAGEM NA LITERATURA No final da década de 70, um artigo tratando dos padrões fundamentais de conhecimento em Enfermagem suscitou uma série de análises e críticas, bem como inspirou um bom número de trabalhos sobre o assunto nos anos que se seguiram, sendo considerado um dos escritos mais influentes da Enfermagem no século XX(5). Foram quatro os padrões de conhecimento identificados: empírico, a ciência de Enfermagem; estético, a arte de Enfermagem; pessoal e ético(6). O conhecimento empírico, sistematicamente organizado em leis gerais e teorias, tem o propósito de descrever, explicar e predizer fenômenos de interesse da Enfermagem. De 1950 em diante houve forte ênfase à busca de um corpo de conhecimento empírico específico para a Enfermagem, o que gerou estruturas conceituais que, apesar de não terem alcançado o status de paradigma científico, apresentaram novas perspectivas para considerar o fenômeno saúde-doença no processo de viver humano. Isto decorre da percepção de saúde como um estado dinâmico que se modifica em um período de tempo e de acordo com as circunstâncias(6). É um conhecimento baseado em fatos, descritivo e fundamentalmente voltado para o desenvolvimento de explicações teóricas e abstratas, replicável, amplamente formulado e publicamente verificável(6). Este padrão de conhecimento é coerente com a visão tradicional de ciência predominante na maioria das áreas de conhecimento que conquistaram o reconhecimento como ciência. Muitos dos primeiros trabalhos teóricos e das primeiras pesquisas da Enfermagem foram desenvolvidos dentro de uma perspectiva essencialmente positivista, na qual a objetividade e a possibilidade de generalização têm grande importância(7). 24 A denominação conhecimento científico é também utilizada para designar o padrão empírico de conhecimento e a ciência positiva, ainda, dominante atualmente, criou uma ilusão de estabilidade ao tratar assuntos humanos com intensa racionalidade o que, afastando a sensibilidade, colocou a ciência como único caminho para um mundo teórico. Com o conhecimento científico, a enfermagem abstrai a realidade com a finalidade de sistematizá-la, permitindo o estabelecimento de uma 'ponte' entre o abstrato e o concreto, de maneira a construir um corpo de conhecimento, descobrir realidades ainda não visualizadas e encontrar soluções para problemas relativos ao cuidado na assistência à saúde. Este tem sido o padrão dominante na sociedade e, também, na disciplina de Enfermagem. Entretanto, é possível perceber uma mudança de direção nos estudos da área, com uma maior valorização de aspectos qualitativos dos fenômenos estudados, centrais no processo de viver humano, no qual se inclui a experiência humana de saúde e doença que envolve muito mais do que o corpo biológico e patologias. É importante questionar se o padrão empírico engloba todo o conhecimento baseado em pesquisa. Talvez a definição precise ser modificada para incluir posições ontológicas relativistas de desenvolvimento de conhecimento visando metodologias como a fenomenologia. Se esta modificação não for feita, a Enfermagem precisará reconhecer as limitações desta definição em englobar conhecimentos empíricos que não buscam generalizações, mas sim interpretações ou descrições que enriqueçam a compreensão dos fenômenos. Outro padrão de conhecimento é o ético, o componente moral relacionado com as difíceis escolhas a serem feitas no contexto do cuidado de saúde, que envolvem questões fundamentais sobre certo e errado, para as quais os princípios e códigos de ética não oferecem resposta(6). Este conhecimento focaliza-se sobre a obrigação ou sobre o que deve ser feito, incluindo todas as ações voluntárias, deliberadas e sujeitas a julgamento. A Enfermagem é ação deliberada ou uma série de ações planejadas e implementadas para alcançar metas definidas, mas tanto ações como metas envolvem escolhas guiadas por princípios e normas que podem ser conflitantes. A ética é fundamento decisório para o profissional de Enfermagem, pois as decisões cotidianas de vida e de saúde vêm impregnadas pelo poder instituído, pela formação técnica e pela própria sobrevivência do trabalhador, avançando para além de aspectos puramente técnicos(11). As ações, as decisões, envolvem juízos de valor que se fundamentam em princípios ético- legais, posto que se dão no âmbito do exercício profissional, do cuidado de Enfermagem, mas que envolvem também escolhas pessoais da(o) enfermeira(o). No encontro entre códigos de ética, leis 25 de exercício profissional e escolhas pessoais nascem os dilemas éticos que podem tornar-se tanto mais complexos quanto maior for a participação, inclusão, envolvimento do outro na assistência. O conhecimento moral requer fundamentalmente um envolvimento interpessoal autêntico para seu desenvolvimento(10). Este é um ponto importante a ser considerado, pois a assistência, o cuidado e o trabalho de Enfermagem sempre se dão na relação com o outro, compreendido não somente como o cliente-paciente com quem desenvolvemos o cuidado, mas também como a equipe de Enfermagem, a equipe de saúde e a instituição de saúde com seus elementos administrativos e organizacionais que concorrem para aumentar a complexidade do contexto no qual as decisões devem ser tomadas e as escolhas devem ser feitas. O elemento subjetivo individual do profissional presente no componente moral da Enfermagem vincula intimamente o conhecimento ético com o conhecimento pessoal também identificado. Este conhecimento é o mais difícil para dominar e ensinar e, talvez, o mais importante para compreender o significado de saúde em termos de bem-estar individual. Refere-se ao conhecimento do self, ao autoconhecimento e evidencia o usoterapêutico do self, o que implica que a maneira como as(os) enfermeiras(os) vêem a si próprias(os) e aos clientes é central em qualquer relação terapêutica(6). No uso terapêutico do self é importante o estabelecimento de um autêntico relacionamento pessoal entre duas pessoas, o que requer a aceitação do outro e o reconhecimento de que cada pessoa está constantemente engajada no processo de vir a ser(6). Este conhecimento estende-se não somente aos outros, mas também às relações de cada um para consigo próprio, expressa a singularidade do indivíduo, promove o engajamento e nega a orientação impessoal manipuladora(6). É preciso que a(o) enfermeira(o) conheça suas próprias forças e fraquezas para ser expert no cuidado. Este conhecimento é subjetivo e inclui estar consciente de si próprio e de como se relacionar com os outros. Sem este conhecimento do self que permite abertura para o conhecimento de outra pessoa, a Enfermagem reduz-se a assistência técnica. O conhecimento de suas forças e fraquezas pode permitir à(ao) enfermeira(o) colocar-se no cuidado, percebendo o outro, envolvendo-se no cuidar, usando terapeuticamente a si próprio. Será isso sinônimo ou pelo menos um componente indispensável da hoje tão discutida humanização da assistência? Este conhecimento tem um espaço primário e central em todos os conhecimentos, assim a prática da Enfermagem é a expressão de conhecimento pessoal(12). A credibilidade deste tipo de 26 conhecimento é determinada pela reflexão individual informada pelas respostas dos outros. Parece haver aqui referência a um conhecer-se a si mesmo para expressar na relação com o outro, procurando perceber na resposta do outro se aquilo que se expressa na relação é equivalente àquilo que se é ou que se acredita ser; se há congruência entre o que se diz e o que se faz, entre o que se faz e o que se sabe, entre o que se é e o que se aparenta ser. A relação com o outro remete ao quarto padrão de conhecimento, o estético ou arte de Enfermagem. Neste conhecimento, a empatia é importante para que se possa conhecer a experiência particular, singular de outra pessoa. Envolve a percepção de particularidades abstratas, de singularidades mais do que universalidades. Quanto mais hábil for a(o) enfermeira(o) em perceber e empatizar com o viver dos outros, mais conhecimento e compreensão ela(e) alcançará de realidades diferentes, ampliando suas possibilidades de escolha para um cuidado efetivo. Entretanto, uma maior consciência da multiplicidade de experiências subjetivas aumentará a complexidade e dificuldade da tomada de decisão(6). O conhecimento estético é subjetivo, individual, singular, único e habilita a aceitar a existência de fenômenos não quantificáveis, explicáveis por leis e teorias existentes(7). Existe um debate na literatura de Enfermagem sobre a adequação do termo empatia(6), considerado pouco apropriado por muitos. Entretanto, independentemente do termo usado, a exigência de um engajamento efetivo e autêntico permanece e o design do cuidado combina todos os padrões de conhecimento na forma estética(10). Parece estar aqui implícita a ideia de que conhecimento estético refere-se à maneira como o cuidado se mostra à percepção e à experiência do outro. O conhecimento intuitivo, forma ou dimensão do conhecimento pessoal, refere-se ao saber não racional, intimamente vinculado à noção de conexão e troca de energia entre enfermeira(o) e cliente(9). O conhecimento intuitivo é um componente importante do perceber e do vislumbrar, presentes também no conhecimento estético. Há indicação, na literatura, de um quinto padrão de conhecimento a ser reconhecido na Enfermagem: o desconhecido, considerado como uma condição de abertura, e de acordo com o qual a arte de desconhecer é um processo de descentralização dos princípios próprios, organizadores do mundo de uma pessoa, essencial para que se compreenda a subjetividade e a perspectiva de outrem. O espaço para esta arte de desconhecer necessária à compreensão do outro, é o campo perceptual formado quando duas ou mais pessoas se encontram, trazendo suas perspectivas 27 subjetivas para este encontro. Este campo perceptual é denominado de espaço intersubjetivo do qual podem emergir compreensão humana, empatia e conflitos. A arte de desconhecer implica saber que não se sabe algo, que não se compreende alguém de quem se está ao lado, situar-se na vida do outro baseando a interação na admissão de que ele não é conhecido, o que traduz um estado de abertura. Talvez paradoxalmente, dependa da introspecção que possibilita a compreensão do outro (cliente/paciente) como um ser desconhecido, e de si próprio como um ser diferente dele(13). É possível perceber na proposição da arte de desconhecer elementos dos conhecimentos pessoal e estético e do conhecimento intuitivo. Ao mesmo tempo, é possível vislumbrar a presença do conhecimento empírico, indispensável no cuidado, e do conhecimento ético necessário em todas as relações intersubjetivas e que toma novos contornos quando estas relações se dão no exercício cotidiano da Enfermagem. Além destes conhecimentos, há referências também a outras dimensões: histórico, técnico, humanístico e político. O conhecimento histórico refere-se ao processo evolutivo da Enfermagem ao longo do tempo, o que se dá em íntima articulação com o contexto no qual ela se insere, influenciando-o e sendo por ele influenciada. Com este conhecimento, é possível compreender a trajetória da Enfermagem, analisando as influências por ela recebidas, bem como "os caminhos e descaminhos percorridos permitindo assim um cotejamento do passado com a condição presente desta profissão". O conhecimento humanístico permite uma compreensão ampla do ser humano, do que ele é, do seu sentido e do seu lugar na vida, conduzindo à redefinição do ser humano(8). Embora pareça haver aqui uma referência ao ser humano de uma forma geral, sem especificar o eu e o outro, fica também implícita a necessidade do conhecer a si mesmo, suas forças e fraquezas para melhor perceber/compreender o outro e para usar terapeuticamente o self, o que evidencia uma aproximação destas proposições com o conhecimento pessoal. O conhecimento político, "coloca a questão dos fins, dos conteúdos, da intencionalidade. Habilidade de comunicação, de mobilização e de participação em movimentos coletivos" (8:23). A política é vista como uma atitude que marca as ações e destinações humanas. Este conhecimento é necessário para a compreensão da ideologia subjacente às propostas de saúde, das relações entre privação econômica-saúde nas instituições, assistência-aliança com os usuários, dos movimentos organizados da sociedade, entre outros. 28 O conhecimento sócio-político, também citado na literatura, é considerado essencial para compreensão de todos os outros(10), o que vem ao encontro da descrição de conhecimento político. Os demais conhecimentos orientam-se para "quem", "como" e "o que" da prática de Enfermagem, enquanto que o conhecimento político dirige-se ao "em que lugar"(10), deslocando o foco da relação enfermeira (o)-paciente para situar a(o) enfermeira(o) no contexto maior em que têm lugar a Enfermagem e o cuidado em saúde. Este conhecimento inclui compreensão do contexto sócio-político das pessoas (enfermeira e paciente) e do contexto sócio-político da Enfermagem, incluindo a compreensão que a sociedade tem da Enfermagem e também a compreensão que a Enfermagem tem da sociedade e de suas políticas. 29 TEORIAS DE ENFERMAGEM E SUA INTERFACE NOS PROCESSOS DO CUIDADO; O QUE SÃO TEORIAS DE ENFERMAGEM? Teoria, no grego, quer dizer “visão”. Constitui uma forma sistemática de olhar o mundo, para descrevê-lo, explica-lo, prevê-lo ou controla-lo. Teorias de enfermagem são instrumentos de trabalho que abordam uma linha de conhecimentoscientíficos com visões sobre o processo saúde doença e a experiência do cuidado terapêutico A teoria de enfermagem pode ser descrita como um instrumento de trabalho que ressalta o conhecimento científico, demonstrando as tendências das visões sobre o processo saúde-doença e a experiência do cuidado terapêutico. Assim, quando a enfermagem adota uma das teorias de enfermagem, deixa de ter uma assistência baseada em conhecimentos empíricos para adotar uma assistência orientada por conhecimentos científicos passando a se chamar Enfermagem Científica. AS TEORIAS DE ENFERMAGEM E A SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM Para uma implantar a Sistematização de Assistência de Enfermagem SAE é necessário escolher uma teoria de enfermagem para fundamentar o Processo de Enfermagem em suas etapas. O Processo de Enfermagem é entendido como um método para a organização e prestação do cuidado de enfermagem QUAIS SÃO OS OBJETIVOS DAS TEORIAS DE ENFERMAGEM? As Teorias de Enfermagem tem objetivos: Direcionar o pensamento do enfermeiro, sua observação e interpretação da realidade; Fornecer estrutura que atenda ás necessidades individualizadas do cliente, família e comunidade por meio do processo de enfermagem; Nortear o domínio das responsabilidades da enfermagem e; Permitir aos profissionais documentar serviços e resultados. 30 AS PRINCIPAIS TEORIAS DE ENFERMAGEM RELAÇÃO INTERPESSOAL: TEORIA AMBIENTALISTA DE FLORENECE NIGHTINGALE (1854) Florence Nithingale transformou a enfermagem empírica em enfermagem científica e profissional,e por isso é considerada a fundadora da enfermagem moderna em todo o mundo. Em 1854, foi voluntária na Guerra da Criméia, que liderando 38 mulheres, organizou um hospital com cerca de 4000 soldados internos, reduzindo a mortalidade de 40% para 2%. Pelo belíssimo trabalho, recebeu um prêmio em dinheiro do governo inglês, fundando a primeira escola de enfermagem no Hospital St. Thomas, Londres, em 24 de junho de 1860. Para ela, os cuidados de enfermagem não deveriam ser fundamentados somente nos conceitos religiosos de caridade, amor, doação e humildade, mas principalmente por preceitos de valorização adequado do cuidado, divisão social do trabalho de enfermagem e autoridade sobre o cuidado a ser prestado. A Teoria Ambiental de Florence Nigthingale tem as seguintes características: O estado de saúde do cliente está associado aos fatores ambientais, percebidos por meio da observação e coleta de dados; Trabalha-se com enfoque em caracteres ambientais gerais como: iluminação, ruído, higiene ambiental e pessoal, água pura, ambiente externo, utensílios do paciente e aspecto nutricional e; O profissionais de enfermagem precisam ter preparação formal para exercer a profissão. RELAÇÃO INTERPESSOAL: TEORIA DE RELAÇÕES INTERPESSOAIS DE PEPLAU (1952) Em 1952, nos EUA, Hildegard Peplau fez a apresentação de seu livro “Interpersonal Relations in Nursing: a conceptual frame of reference for psychodinamic nursing”, introduziu um novo paradigma para a enfermagem centrado nas relações que se processam entre enfermeira e paciente. 31 A teoria de relações interpessoais de Peplau tem as seguintes características: Os cuidados de enfermagem devem estabelecer um processo interpessoal por meio do qual, enfermeira e paciente podem obter crescimento e desenvolvimento pessoais; A enfermagem deve oferecer condições para existir uma relação psicossocial com o paciente de modo a reestabelecer o potencial de seu crescimento (ex.: reparação de feridas, reestabelecimento das funções orgânicas); A equipe de enfermagem tem um papel parecido com a de um psicólogo, uma vez que para cuidar do paciente, o enfermeiro precisa ter uma intimidade interpessoal para com o cliente capaz de conseguir mudanças psicológicas. É importante observar que o objetivo da assistência de enfermagem é ajudar os indivíduos, família e a comunidade a produzir mudanças que influenciem de forma positiva em suas vidas. Neste sentido, vale mencionar que, se não houver uma conexão positiva entre cliente e enfermeiro, não haverá cuidado de enfermagem eficiente. Por exemplo, se uma enfermeira entra em conflito com cliente diabético, dificilmente esse paciente irá aderir ao planos de cuidados oferecidos pela profissional. Para Peplau, o processo de relação interpessoal da enfermagem tem quatro fases: 1. Orientação – Paciente tem uma necessidades e mostra demanda de cuidados. Durante a interação com o enfermeiro, o paciente visualiza a dificuldade e dá oportunidades ao profissional de identificar as suas carências de informação acerca do seu problema. Assim, o enfermeiro pode realizar as orientações de acordo com o momento da vida em que o paciente se encontra. Esta fase pode ser carregada de ansiedade e tensão. Cabe a equipe de enfermagem reduzir esses sintomas de modo de modo a permitir a realização das etapas seguintes; 2. Identificação – A enfermagem consegue identificar quais são as necessidades do paciente. O paciente já tem um vínculo com o profissional de enfermagem existindo uma intimidade psicossocial. Aqui, o paciente pode assumir três comportamentos: ser participativo nas ações e cuidados de enfermagem; isolando-se e tendo atitudes de interdependência em relação ao enfermeiro ou assumindo total dependência de cuidados. 3. Exploração – Exploração ao máximo da relação enfermeiro/paciente para obtenção dos melhores benefícios possíveis 32 4. Resolução – É caracterizada como um ‘fenômeno psicológico” em que o paciente desfaz o vínculo com o enfermeiro preparando-se para o retorno para casa. Vale mencionar que a Teoria de Peplau embora seja relacionada á prática da enfermagem psiquiátrica, uma vez que as doenças psiquiátricas tendem á desvinculação psicossocial (isolamento social e apatia), ela pode ser utilizada em quaisquer situações, pois, para realizar o cuidado de enfermagem, há a necessidade de algum tipo de interação com o paciente. Portanto, a Teoria de Peplau trabalha as relações interpessoais em que os profissionais de enfermagem precisam criar um vínculo com os seus pacientes para que o cuidado de enfermagem seja efetivado com sucesso, se não houver vinculação, dificilmente o enfermeiro conseguirá atuar. RELAÇÃO INTERPESSOAL – TEORIA 21 PROBLEMAS DA ENFERMAGEM FAYE ABDELLAH (1960) Abdellah enfatiza que a assistência de enfermagem deve considerar o indivíduo como um todo nas suas necessidades físicas, sociais, psicológicas, espirituais e familiares. Para isso, a autora desenvolveu os “21 problemas de enfermagem de Abdellah” que tem a finalidade de identificar as necessidades do paciente e quais são as atividades de enfermagem perante a cada problema identificado. Os “21 problemas de Abdellah” são divididos: Atividades somáticas; Ativiades psicossociais e; Atividades espirituais. Os 21 problemas descritos por Abdellah são: 1. Dificuldade em promover higiene física e conforto físicos adequados; 2. Dificuldade em promover atividade e repouso adequados; 3. Segurança através de prevenção de acidentes, lesões do físico e de infecção; 4. Dificuldade de facilitar e manter a mecânica corporal correta; 5. Dificuldade de facilitar e manter a oxigenação em todos os tecidos do corpo; 6. Dificuldade de facilitar e manter a nutrição em todos os tecidos do corpo; 33 7. Dificuldade de facilitar e manter a eliminação em todos os tecidos do corpo; 8. Dificuldade de facilitar e manter o equilíbrio hídrico e eletrolítico em todos os tecidos do corpo; 9. Dificuldade em reconhecer respostas fisiológicas, compensatórias e patológicas do corpo; 10. Dificuldade de facilitar e manter os mecanismos e funções reguladoras; 11. Dificuldade de facilitar e manter a função sensorial; 12. Dificuldade em identificar e aceitar as expressões, sentimentos, reações positivas e
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