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Ética (1)

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Prévia do material em texto

2018
Ética
Prof. Me. Kevin Daniel dos Santos Leyser
Copyright © UNIASSELVI 2018
Elaboração:
Prof. Me. Kevin Daniel dos Santos Leyser
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
L685e
 Leyser, Kevin Daniel dos Santos
 Ética. / Kevin Daniel dos Santos Leyser. – Indaial: UNIASSELVI, 
2018.
 284 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0233-4
1.Ética. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 170.1
III
apresentação
Caro acadêmico, antes de apresentar o conteúdo deste livro, gostaria 
de me apresentar a você. 
Sou Bacharel e Licenciado em Psicologia (2005) e Licenciado em 
Filosofia (2004) pela Universidade Comunitária Regional de Chapecó, e 
Bacharel em Teologia pela Faculdade de Educação Teológica Logos (2002). 
Especialista em Psicopedagogia e Práticas Pedagógicas e Gestão Escolar pela 
Faculdade de Administração, Ciências, Educação, Letras (2007), Especialista 
em Educação à Distância: Gestão e Tutoria pelo Centro Universitário 
Leonardo da Vinci (2018) e Mestre em Educação pela Universidade Regional 
de Blumenau (2011).
Agora vamos ao livro de estudos. Este livro tem como objetivo 
sistematizar os elementos básicos da disciplina de Ética, o qual proporcionará 
um contato com os principais tópicos, autores e obras, além dos instrumentos 
necessários, não apenas para acompanhar a presente disciplina, mas também 
para os estudos autônomos posteriores.
Na primeira unidade, intitulada Metaética, introduzimos a 
natureza da moralidade, definições e delimitações da investigação sobre 
o comportamento moral. Aqui, apresentamos os conceitos e o vocabulário 
da ética filosófica. Distinguimos os diferentes campos de investigação do 
comportamento e raciocínio moral. Assim como delimitamos o campo da 
abordagem filosófica à moral, à metaética e à ética normativa.
A partir destes pressupostos, prosseguimos apresentando alguns 
dos temas centrais do campo de estudos da metaética, como a liberdade, a 
responsabilidade e o relativismo moral. Além disso, exploramos a proposta 
do realismo moral e as principais alternativas aos problemas suscitados 
por ele. Alternativas como o emotivismo, o antirrealismo, o irrealismo, 
o expressivismo, o quase-realismo, o cognitivimo, o não-cognitivismo, o 
internalismo, o externalismo, entre tantas outras propostas no domínio da 
metaética contemporânea. 
Na segunda unidade, o foco recai sobre a Ética Normativa. Primeiro 
exploramos as teorias consequencialistas da moralidade. Aqui abordamos 
questões como o egoísmo psicológico e ético, o utilitarismo de ato e de 
regras, e a teoria da ética do cuidado de Gilligan. Depois, analisamos as 
teorias não consequencialistas da moralidade, em que apresentamos o não 
consequencialismo de ato e de regras, a teoria do comando divino, a ética 
do dever de Kant e os deveres Prima Facie de Ross. Então, prosseguimos 
para uma introdução da Ética da Virtude, que teve um ressurgimento na 
contemporaneidade e cujos elementos essenciais se encontram nos antigos 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, 
há novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
gregos e no pensamento oriental. Finalizando esta segunda unidade, você terá 
uma leitura complementar que fará uma síntese das teorias sobre a ética.
A terceira e última unidade deste Livro de Estudos tem como proposta 
apresentar o campo da Ética Aplicada. Aqui vamos explorar questões pertinentes 
à Bioética, à Ética dos Negócios e à Ética Ambiental. 
Desejo uma boa jornada a todos rumo à edificação da educação e sucesso 
frente aos desafios intelectuais, éticos e pessoais proporcionados pelo estudo da 
Ética. 
Prof. Me. Kevin Daniel dos Santos Leyser
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 - METAÉTICA ................................................................................................................... 1
TÓPICO 1 - A NATUREZA DA MORALIDADE ............................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 3
2 DEFINIÇÃO DE TERMOS-CHAVE: ÉTICO, MORAL, ANTIÉTICO, IMORAL ..................... 3
2.1 CARACTERÍSTICAS DO BOM, MAU, CERTO, ERRADO, FELICIDADE OU PRAZER ..... 4
2.2 O AMORAL E O NÃO MORAL ..................................................................................................... 6
3 ABORDAGENS DO ESTUDO DA MORALIDADE ...................................................................... 7
4 A MORALIDADE E SUAS APLICAÇÕES ....................................................................................... 9
4.1 A ÉTICA E A ESTÉTICA .................................................................................................................. 9
4.2 BOM, MAU, CERTO E ERRADO USADO EM UM SENTIDO NÃO MORAL ..................... 10
4.3 A MORAL E AS BOAS MANEIRAS OU ETIQUETA ................................................................ 11
4.4 A QUEM OU O QUE SE APLICA A MORALIDADE? ............................................................. 13
4.5 QUEM É MORAL OU ETICAMENTE RESPONSÁVEL? ........................................................ 16
5 DE ONDE VEM A MORALIDADE? ................................................................................................ 17
5.1 A AVALIAÇÃO DE POSIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS ................................................... 18
5.2 UMA SÍNTESE E POSSÍVEL RESPOSTA PARA A ORIGEM DA MORALIDADE .............. 20
6 MORALIDADE COSTUMEIRA E MORALIDADE REFLEXIVA ............................................ 21
7 MORALIDADE, LEI E RELIGIÃO ................................................................................................... 23
7.1 A MORALIDADE E A LEI ............................................................................................................. 23
7.2 MORALIDADE E RELIGIÃO ....................................................................................................... 24
8 A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO MORAL DE KOHLBERG .......................................... 26
8.1 DEFINIÇÃO DE ETAPAS MORAIS ............................................................................................. 27
9 POR QUE OS SERES HUMANOS DEVEM SER MORAIS? ......................................................28
10 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES .................................................................................................... 29
RESUMO DO TÓPICO 1....................................................................................................................... 31
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 35
TÓPICO 2 - LIBERDADE, RESPONSABILIDADE E RELATIVISMO MORAL ....................... 37
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 37
2 A NATUREZA DA RESPONSABILIDADE MORAL ................................................................... 38
3 A QUESTÃO DA COMPATIBILIDADE ......................................................................................... 39
3.1 EXPLICAÇÕES COMPATIBILISTAS ........................................................................................... 43
3.2 EXPLICAÇÕES INCOMPATIBILISTAS ...................................................................................... 46
4 A RESPONSABILIDADE MORAL É IMPOSSÍVEL? .................................................................. 48
5 O RELATIVISMO MORAL ............................................................................................................... 48
5.1 RELATIVISMO AGENTE .............................................................................................................. 50
5.2 RELATIVISMO DO AVALIADOR ................................................................................................ 55
6 SOLUCIONANDO DISCORDÂNCIAS ......................................................................................... 57
7 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ....................................................................................................... 58
RESUMO DO TÓPICO 2....................................................................................................................... 59
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 61
TÓPICO 3 - O REALISMO E SUAS ALTERNATIVAS ................................................................... 63
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 63
sumário
VIII
2 O REALISMO MORAL ...................................................................................................................... 64
3 AS CINCO CARACTERÍSTICAS CENTRAIS PARA A MORALIDADE ................................ 65
4 ALTERNATIVAS METAÉTICAS EM RELAÇÃO A QUESTÕES DO REALISMO ............... 68
4.1 PASSO 1 – AS AFIRMAÇÕES MORAIS POSSUEM CONTEÚDO COGNITIVO? ............... 70
4.2 PASSO 2 – AO MENOS ALGUNS JUÍZOS MORAIS ESCAPAM À FALSIDADE? .............. 71
4.3 PASSO 3 – A LINGUAGEM MORAL ESTÁ SENDO INTERPRETADA LITERALMENTE? .
78
4.4 PASSO 4 – AS CONDIÇÕES DE VERDADE DAS AFIRMAÇÕES MORAIS SÃO 
INDEPENDENTES DO SUJEITO? ............................................................................................... 80
4.5 PASSO 5 – OS FATOS MORAIS PODEM EXPLICAR NÃO TRIVIALMENTE NOSSAS 
OPINIÕES MORAIS? ..................................................................................................................... 85
5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ....................................................................................................... 87
RESUMO DO TÓPICO 3....................................................................................................................... 88
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 90
UNIDADE 2 - ÉTICA NORMATIVA .................................................................................................. 91
TÓPICO 1 - TEORIAS CONSEQUENCIALISTAS DA MORALIDADE .................................... 93
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 93
2 O EGOÍSMO PSICOLÓGICO .......................................................................................................... 94
3 O EGOÍSMO ÉTICO ........................................................................................................................... 96
3.1 PROBLEMAS COM O EGOÍSMO ÉTICO INDIVIDUAL E PESSOAL .................................. 97
3.2 O EGOÍSMO ÉTICO UNIVERSAL ............................................................................................... 98
3.2.1 Problemas com o Egoísmo Ético Universal .............................................................................. 98
3.2.2 Vantagens do Egoísmo Ético Universal .................................................................................. 101
3.3 EGOÍSMO ÉTICO RACIONAL DE AYN RAND ..................................................................... 102
4 O UTILITARISMO ............................................................................................................................ 103
4.1 O UTILITARISMO DE ATO ........................................................................................................ 106
4.1.1 Crítica ao Utilitarismo de Ato................................................................................................... 106
4.2 O UTILITARISMO DE REGRAS ................................................................................................. 107
4.2.1 Crítica ao Utilitarismo de Regras ............................................................................................. 108
4.3 UTILITARISMO DE PRÁTICAS ................................................................................................. 109
4.4 A ANÁLISE CUSTO-BENEFÍCIO OU ABORDAGEM “FIM JUSTIFICA OS MEIOS” ..... 110
5 DIFICULDADE COM AS TEORIAS CONSEQUENCIALISTAS EM GERAL ..................... 112
6 A ÉTICA DO CUIDADO .................................................................................................................. 114
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 117
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 120
TÓPICO 2 - TEORIAS NÃO CONSEQUENCIALISTAS DA MORALIDADE
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 121
2 TEORIAS NÃO CONSEQUENCIALISTAS DE ATO ................................................................ 122
2.1 INTUICIONISMO ......................................................................................................................... 123
2.2 CRÍTICAS AO NÃO CONSEQUENCIALISMO DE ATO ...................................................... 124
3 TEORIAS NÃO CONSEQUENCIALISTAS DE REGRAS ........................................................ 125
3.1 TEORIA DO COMANDO DIVINO ........................................................................................... 125
3.2 A ÉTICA DO DEVER DE KANT ................................................................................................ 126
3.2.1 Dever ao Invés da Inclinação ................................................................................................... 128
3.2.2 Crítica à Ética do Dever de Kant ............................................................................................. 129
4 DEVERES PRIMA FACIE DE ROSS .............................................................................................. 132
4.1 CRÍTICAS À TEORIA DE ROSS .................................................................................................133
5 CRÍTICAS GERAIS ÀS TEORIAS NÃO CONSEQUENCIALISTAS ..................................... 134
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 137
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 140
IX
TÓPICO 3 - A ÉTICA DA VIRTUDE ................................................................................................ 141
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 141
2 DEFINIÇÃO DE TERMOS .............................................................................................................. 141
3 A ÉTICA NICOMAQUEIA DE ARISTÓTELES .......................................................................... 142
3.1 O CARÁTER E O FLORESCIMENTO HUMANO .................................................................. 143
3.2 AVALIANDO A CONCEPÇÃO ARISTOTÉLICA DE FLORESCIMENTO ........................ 145
3.3 ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS AO FLORESCIMENTO ......................................... 146
3.4 A ESTRUTURA DAS VIRTUDES EM ARISTÓTELES ............................................................ 148
4 O AUTOCULTIVO MORAL CONFUCIANO ............................................................................. 153
4.1 OS ANALECTOS CONFUCIANOS ........................................................................................... 153
4.2 HARMONIA CONFUCIONISTA ............................................................................................... 155
4.3 A ÉTICA CONFUCIONISTA DOS PAPÉIS .............................................................................. 157
5 ANÁLISE CONTEMPORÂNEA DA ÉTICA DA VIRTUDE .................................................... 159
5.1 ANÁLISE DE ALASDAIR MACINTYRE DA ÉTICA DA VIRTUDE ................................... 159
5.2 DESVANTAGENS OU PROBLEMAS ........................................................................................ 161
6 QUEM É A PESSOA VIRTUOSA IDEAL? ................................................................................... 162
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 164
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 166
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 179
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 182
UNIDADE 3 - ÉTICA APLICADA ..................................................................................................... 183
TÓPICO 1 - A NATUREZA DA ÉTICA APLICADA ..................................................................... 185
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 185
2 TEORIA ÉTICA GERAL E PRINCIPIALISMO ........................................................................... 186
3 CONTEXTUALISMO E DESENVOLVIMENTOS RELACIONADOS ................................... 189
4 QUESTÕES DE CONVENCIONALISMO, EXPERTISE MORAL E PSICOLOGIA 
MORAL ................................................................................................................................................... 191
5 DESAFIOS À ÉTICA APLICADA .................................................................................................. 192
5.1 O DESAFIO DO RELATIVISMO ................................................................................................ 193
5.2 O DESAFIO DO SUBJETIVISMO ............................................................................................... 194
5.3 ÉTICA E O PAPEL DAS RAZÕES .............................................................................................. 195
6 ÉTICA APLICADA E TEORIA ÉTICA .......................................................................................... 196
6.1 TEORIA ÉTICA PARA A ÉTICA APLICADA .......................................................................... 197
7 COMO DEVEM SER AS TEORIAS? ............................................................................................. 199
8 OUTRAS CONSIDERAÇÕES ........................................................................................................ 201
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 203
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 205
TÓPICO 2 - BIOÉTICA ........................................................................................................................ 207
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 207
2 NOTAS HISTÓRICAS SOBRE BIOÉTICA .................................................................................. 207
3 QUESTÕES SUBSTANTIVAS EM BIOÉTICA ............................................................................ 211
4 ABORDAGENS DISCIPLINARES DA BIOÉTICA .................................................................... 215
4.1 ABORDAGENS CLÍNICAS ......................................................................................................... 215
4.2 ABORDAGENS CIENTÍFICAS ................................................................................................... 216
4.3 ABORDAGENS RELIGIOSAS .................................................................................................... 217
4.4 ABORDAGENS LEGAIS .............................................................................................................. 218
4.5 ABORDAGENS SOCIOLÓGICAS ............................................................................................. 218
4.6 ABORDAGENS PSICOLÓGICAS .............................................................................................. 219
5 PRINCÍPIOS ÉTICOS FUNDAMENTAIS EM BIOÉTICA ...................................................... 219
5.1 O PRINCÍPIO DO RESPEITO PELA AUTONOMIA .............................................................. 220
X
5.2 O PRINCÍPIO DA MAXIMIZAÇÃO DO BEM-ESTAR UTILITÁRIO .................................. 221
5.3 O PRINCÍPIO DA JUSTIÇA SOCIAL ........................................................................................ 221
5.4 UMA ABORDAGEM QUASE-FUNDACIONAL – OS "QUATRO PRINCÍPIOS" .............. 222
5.5 CASUÍSTICA ................................................................................................................................. 223
5.6 ÉTICA DA VIRTUDE ................................................................................................................... 223
5.7 ÉTICA NARRATIVA .................................................................................................................... 224
5.8 ÉTICA FEMINISTA ...................................................................................................................... 224
5.9 BIOÉTICA GEOCULTURAL ....................................................................................................... 224
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 225
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 226
AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................228
TÓPICO 3 - ÉTICA AMBIENTAL ..................................................................................................... 229
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 229
2 O ANTROPOCENTRISMO ............................................................................................................. 229
3 BIOCENTRISMO............................................................................................................................... 232
4 ECOCENTRISMO ............................................................................................................................. 238
5 ECOFEMINISMO .............................................................................................................................. 243
6 ECOLOGIA PROFUNDA ................................................................................................................ 245
7 PLURALISMO .................................................................................................................................... 246
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS: O COMUNITARISMO ................................................................ 248
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 248
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 260
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 262
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 263
1
UNIDADE 1
METAÉTICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:
• delimitar o campo do estudo da ética e filosofia moral; 
• introduzir a metaética abordando a natureza da moralidade;
• apresentar as principais questões sobre a liberdade e a responsabilidade 
moral nos debates contemporâneos da metaética;
• elucidar a proposta do relativismo moral e suas objeções no campo da 
metaética;
• comparar a proposta do realismo moral com as principais alternativas na 
metaética contemporânea.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – A NATUREZA DA MORALIDADE 
TÓPICO 2 – LIBERDADE, RESPONSABILIDADE E RELATIVISMO MORAL
TÓPICO 3 – O REALISMO MORAL E SUAS ALTERNATIVAS
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A NATUREZA DA MORALIDADE
1 INTRODUÇÃO
A moralidade reivindica nossas vidas. Faz reivindicações sobre cada um 
de nós que são mais fortes do que as reivindicações da lei e tem prioridade sobre 
o interesse próprio. Como seres humanos que vivem no mundo, temos deveres 
e obrigações básicas. Há certas coisas que devemos fazer e certas coisas que 
não devemos fazer. Em outras palavras, há uma dimensão ética da existência 
humana. Como seres humanos, experimentamos a vida em um mundo de bem 
e mal e entendemos certos tipos de ações em termos de certo e errado. A própria 
estrutura da existência humana dita que devemos fazer escolhas. A ética nos ajuda 
a usar nossa liberdade de maneira responsável e a compreender quem somos. E, 
a ética dá direção em nossa luta por responder às perguntas fundamentais que 
questionam como devemos viver nossas vidas e como podemos fazer escolhas 
certas.
2 DEFINIÇÃO DE TERMOS-CHAVE: ÉTICO, MORAL, 
ANTIÉTICO, IMORAL
 
Na linguagem comum, frequentemente utilizamos as palavras ética e 
moral (e antiético e imoral) de forma intercambiável. Isto é, falamos da pessoa ou 
ato como ético ou moral. Por outro lado, falam de códigos de ética, mas apenas, 
raramente, mencionamos códigos de moralidade. Alguns reservam os termos 
moral e imoral somente para o reino da sexualidade e usam as palavras éticas e 
antiéticas ao discutir como as comunidades profissionais e de negócios devem se 
comportar em relação a seus membros ou ao público. Mais comumente, entretanto, 
nós usamos nenhuma destas palavras com tanta frequência quanto usamos os 
termos bom, mau, certo e errado. O que significam todas essas palavras, e quais 
são as relações entre elas?
 
Ética vem do termo grego ethike que provém de ethos, que por sua vez 
deriva de duas matizes distintas, uma que designa costumes normativos e outra 
que designa constância do comportamento, hábito ou caráter. Na verdade, o 
termo ethos é uma transposição metafórica de um termo que denota a morada dos 
animais (VAZ, 2006). Os gregos antigos ao fazerem essa transposição queriam se 
referir ao mundo humano, quanto aos seus costumes e o próprio agir humano 
UNIDADE 1 | METAÉTICA
4
que constituiria sua morada e, simultaneamente, seu caráter. 
Moral vem do latim moralis, que significa costumes ou hábito, mas com 
uma maior amplitude de sentido. Termo este que foi usado para traduzir para 
o latim o termo grego ethike, Ética (VAZ, 2006). A ética, contudo, normalmente, 
é entendida como pertencente ao caráter individual de uma pessoa ou pessoas, 
enquanto a moralidade parece apontar para as relações entre os seres humanos. No 
entanto, na linguagem comum, se chamarmos uma pessoa de ética ou moral, ou 
um ato de antiético ou imoral, realmente, não faz qualquer diferença significativa. 
Na filosofia, no entanto, o termo Ética também é usado para se referir a uma área 
específica de estudo: a área da moral, que se concentra na conduta humana e 
valores humanos.
Quando falamos de pessoas como sendo morais ou éticas, geralmente, 
queremos dizer que elas são pessoas boas, e quando falamos delas como sendo 
imorais ou antiéticas, queremos dizer que elas são pessoas más. Quando nos 
referimos a certas ações humanas como sendo morais, éticas, imorais ou antiéticas, 
queremos dizer que elas estão certas ou erradas. A simplicidade dessas definições, 
contudo, termina aqui, pois como definimos uma ação certa ou errada ou uma 
pessoa boa ou má? Quais são os padrões humanos pelos quais tais decisões 
podem ser tomadas? Estas são as questões mais difíceis que constituem a maior 
parte do estudo da moralidade, e serão discutidas em mais detalhes em tópicos 
posteriores. O importante é lembrar aqui que moral, ética, imoral e antiético 
significam, essencialmente, o bom, o certo, o mau e o errado, com frequência 
dependendo se alguém está se referindo às próprias pessoas ou às suas ações.
2.1 CARACTERÍSTICAS DO BOM, MAU, CERTO, ERRADO, 
FELICIDADE OU PRAZER
 
Parece ser um fato empírico que o que os seres humanos consideram ser 
bom envolve de alguma forma felicidade e prazer, e tudo o que eles consideram 
ser mau envolve a infelicidade e a dor de alguma forma. Essa visão do que é 
bom tem sido, tradicionalmente, chamada de "hedonismo". Enquanto uma ampla 
variação de interpretação é dada a essas palavras (de simples prazeres sensorial 
a prazeres intelectuais ou espirituais e da dor sensorial à profunda infelicidade 
emocional), é difícil negar que tudo o que é bom envolve pelo menos algum 
prazer ou felicidade, e o que é mau envolve alguma dor ou infelicidade.
 
Um elemento envolvido na realização da felicidade é a necessidade de 
tomar a visão de longo alcance em vez da visão de curto alcance. As pessoas 
podem sofrer alguma dor ou infelicidade a fim de alcançar algum prazer ou 
felicidade no longo prazo. Por exemplo, podemos suportar a dor de ter nossos 
dentes perfurados a fim de manter os dentes e gengivas saudável para que 
possamos desfrutar do comer e da boa saúde geral que resulta de ter dentes 
saudáveis. Da mesma forma, as pessoas podem engajar-se em trabalhos muito 
TÓPICO 1 | A NATUREZA DA MORALIDADE5
árduos e até mesmo dolorosos por dois dias a fim de ganhar dinheiro que lhes 
trará prazer e felicidade para uma semana ou duas.
Além disso, o termo bom deve ser definido no contexto da experiência 
humana e das relações humanas e não apenas em um sentido abstrato. Por 
exemplo, conhecimento e poder em si mesmos não são bons a menos que um ser 
humano obtenha alguma satisfação deles ou a menos que contribuam de alguma 
forma para relacionamentos morais e significativos do homem. Eles são, de outra 
forma, não morais. 
 
E quanto às ações que levarão algum bem a uma pessoa, mas que causarão 
dor a outra, como aqueles atos de um sádico que obtêm prazer de maltratar 
violentamente outro ser humano? Nossa declaração original era de que tudo 
o que é bom trará alguma satisfação, prazer ou felicidade a alguém, mas essa 
afirmação não necessariamente funciona no sentido inverso – que tudo o que traz 
satisfação a alguém é necessariamente bom. Certamente há "prazeres maliciosos".
William Frankena (1975, p. 91) afirma que tudo o que é bom também, 
provavelmente, envolverá "algum tipo ou grau de excelência". Ele continua 
dizendo que "o que é mau em si é assim por causa da presença de dor ou 
infelicidade ou de algum tipo de defeito ou falta de excelência". A excelência 
é uma importante adição ao prazer ou à satisfação, na medida em que torna 
“experiências ou atividades melhores ou piores do que seriam de outra forma". 
Por exemplo, o prazer ou a satisfação obtida ao ouvir um concerto, ver um bom 
filme, ou por ler um bom livro é devido, em grande medida, à excelência dos 
criadores e apresentadores desses eventos (compositores, artistas, diretores, atores 
e escritores). Outro exemplo, talvez mais profundo, da importância da excelência 
é que se alguém obtiver satisfação ou prazer de testemunhar um caso judicial bem 
conduzido e de ver e ouvir o juiz e os advogados cumprirem bem suas funções, 
essa satisfação será aprofundada se o juiz e os advogados também são pessoas 
excelentes, isto é, se são seres humanos bondosos, justos e compassivos, além de 
inteligentes e capazes.
 
Tudo o que é bom, então, provavelmente conterá algum prazer, felicidade 
e excelência, enquanto o que é mau será caracterizado por seus opostos: dor, 
infelicidade e falta de excelência. As reivindicações acima indicam apenas que, 
provavelmente, haverá alguns destes elementos presentes. De qualquer modo, os 
destinatários da ação correta podem estar felizes por esta, e a ação correta pode 
também envolver a excelência.
Há dois outros atributos de "bom" e "mau" que podem somar à nossa 
definição. Estes são harmonia e criatividade no lado "bom" e discórdia, ou 
desarmonia, e falta de criatividade no lado "mau". Se uma ação é criativa ou pode 
ajudar os seres humanos a se tornarem criativos e, ao mesmo tempo, ajudar a 
conseguir uma integração harmoniosa de tantos seres humanos quanto possível, 
então podemos dizer que é uma ação certa. Se uma ação tem o efeito oposto, 
então podemos dizer que é uma ação errada.
UNIDADE 1 | METAÉTICA
6
 
Por exemplo, se uma pessoa ou um grupo de pessoas pode terminar uma 
guerra entre duas nações e criar uma paz honrosa e duradoura, então uma ação 
certa ou boa foi realizada. Esta ação pode permitir que os membros de ambas 
as nações sejam criativos e não destrutivos e podem criar harmonia entre os 
dois lados e dentro de cada nação. Por outro lado, causar ou iniciar uma guerra 
entre duas nações terá exatamente o efeito oposto. Lester A. Kirkendall enfatiza 
esses pontos e acrescenta à discussão anterior sobre a necessidade de colocar 
ênfase primária no que é bom ou excelente na experiência e nos relacionamentos 
humanos:
Sempre que uma decisão ou uma escolha deve ser feita com relação 
ao comportamento, a decisão moral será aquela que trabalha para 
a criação de confiança e integridade nos relacionamentos. Deve 
aumentar a capacidade dos indivíduos para cooperar, e aumentar a 
sensação de autorrespeito no indivíduo. Atos que criam desconfiança, 
suspeita e mal-entendidos, que constroem barreiras e destroem a 
integridade, são imorais. Eles diminuem o senso de autorrespeito 
do indivíduo e, ao invés de produzir uma capacidade de trabalhar 
juntos, separam as pessoas e rompem a capacidade de comunicação 
(KIRKENDALL, 1961, p. 6).
Dois outros termos que devemos definir são amoral e não moral.
2.2 O AMORAL E O NÃO MORAL
 
Amoral significa não possuir um sentido moral, ou estar indiferente ao 
certo e ao errado (CORTINA; MARTÍNEZ, 2005). Este termo pode ser aplicado a 
poucas pessoas. Certas pessoas que tiveram lobotomias pré-frontais tendem a agir 
amoralmente após a operação. Isto é, elas não têm senso algum de certo e errado. 
E há alguns seres humanos que, apesar da educação moral, permaneceram ou 
se tornaram amorais. Encontramos tais pessoas entre certos tipos de criminosos 
que não conseguem perceber que fizeram algo de errado. Eles tendem a não ter 
qualquer remorso, arrependimento ou preocupação com o que eles fizeram.
 
Um desses exemplos de uma pessoa amoral é Gregory Powell, que, com 
Jimmy Lee Smith, matou, gratuitamente, um policial em um campo de cebola ao 
sul de Bakersfield, Califórnia. Uma boa descrição dele e de sua atitude pode ser 
encontrada na obra The Onion Field, de Joseph Wambaugh (2008). Outro exemplo 
é Colin Pitchfork, outro personagem da vida real. Pitchfork violentou e matou 
duas jovens na Inglaterra e foi descrito por Wambaugh na obra The Blooding 
(1989). Nesse livro, Wambaugh também cita vários psicólogos falando sobre a 
personalidade amoral, psicopatológica, sociopatológica, que na obra é definida 
como uma pessoa caracterizada por “instabilidade emocional, falta de bom senso, 
comportamento perverso e impulsivo (muitas vezes criminoso), incapacidade 
de aprender com experiência, sentimentos amorais e associais e outros defeitos 
sérios de personalidade" (WAMBAUGH, 1989, p. 325). Robert Hare (2013) 
descreve ausência do senso de consciência, culpa ou remorso, na psicopatia, que 
TÓPICO 1 | A NATUREZA DA MORALIDADE
7
conduzem a atos nocivos que são cometidos sem desconforto ou vergonha. A 
amoralidade, então, é, basicamente, uma atitude que alguns – felizmente apenas 
alguns – possuem.
DICAS
A obra The Onion Field, de Joseph Wambaugh, foi levada às telas do cinema no 
filme Assassinato a sangue frio de 1979.
Tudo isso não significa que os criminosos amorais não devem ser 
culpados e punidos por seus erros. Na verdade, essas pessoas podem ser ainda 
mais perigosas para a sociedade do que aqueles que podem distinguir o certo do 
errado, porque, geralmente, eles são moralmente ineducáveis. 
 
A palavra não moral significa completamente fora do domínio da moral 
(SHER, 2012). Por exemplo, objetos inanimados, como carros e armas, não são 
nem morais nem imorais. Uma pessoa usando o carro ou arma pode usá-lo 
imoralmente, mas as coisas em si são não morais. Muitas áreas de estudo (por 
exemplo, matemática, astronomia e física) são em si mesmas não morais, mas 
porque os seres humanos estão envolvidos nessas áreas, a moralidade também 
pode estar envolvida. Um problema de matemática não é nem moral nem imoral 
em si mesmo. No entanto, se ele fornece os meios pelos quais uma bomba de 
hidrogênio pode ser explodida, então questões morais certamente sobrevirão. 
Em resumo, a pessoa imoral viola conscientemente os padrões morais 
humanos fazendo algo errado ou sendo mau. A pessoa amoral também pode 
violar os padrões morais porque ele ou ela não tem senso moral. Algo não moral 
não pode ser bom nem ruim, nem fazer nada certo ou errado simplesmente 
porque não se enquadra no âmbito da moralidade.
3 ABORDAGENS DO ESTUDO DA MORALIDADE
Existem duas abordagens principais para o estudo da moralidade. A 
primeira é científica ou descritiva (HEGENBERG, 2010a). Esta abordagem é 
mais frequentementeutilizada nas ciências sociais e, como a ética, lida com o 
comportamento e a conduta humanos. A ênfase aqui, entretanto, é empírica. 
Isto é, os cientistas sociais observam e coletam dados sobre os comportamentos 
e as condutas humanas e então extraem certas conclusões. Por exemplo, alguns 
UNIDADE 1 | METAÉTICA
8
psicólogos, depois de terem observado muitos seres humanos em muitas 
situações, chegaram à conclusão de que os seres humanos agem, frequentemente, 
em seu interesse próprio. Esta é uma abordagem descritiva ou científica do 
comportamento humano – os psicólogos observaram como os seres humanos 
agem em muitas situações, descreveram o que observaram e tiraram conclusões. 
No entanto, eles não fazem juízos de valor sobre o que é moralmente certo ou 
errado, nem prescrevem como os seres humanos devem se comportar.
A segunda abordagem principal para o estudo da moralidade é chamada 
abordagem filosófica, e consiste em duas partes. 
A primeira parte da abordagem filosófica trata de normas (ou padrões) 
e prescrições, denominada de Ética Normativa ou Prescritiva (HEGENBERG, 
2010a). Usando o exemplo de que os seres humanos agem, frequentemente, em 
seu interesse próprio, os filósofos ético-normativos iriam além da descrição e 
conclusão dos psicólogos e quereriam saber se os seres humanos “devem” ou 
“deveriam” agir em seu interesse próprio. Eles podem até ir mais longe e chegar a 
uma conclusão definitiva. Por exemplo, "dado esses argumentos e essa evidência, 
os seres humanos devem sempre agir em seu interesse próprio" (egoísmo). Ou eles 
poderiam dizer: "Os seres humanos devem sempre agir no interesse dos outros" 
(altruísmo), ou "os seres humanos devem sempre agir no interesse de todos os 
interessados, o eu incluído" (utilitarismo). Estas três conclusões não são mais 
apenas descrições, mas prescrições. Ou seja, as afirmações estão prescrevendo 
como os seres humanos devem se comportar, não apenas descrevendo como eles, 
de fato, se comportam. Outro aspecto da ética normativa ou prescritiva é que ela 
abrange a realização de juízos de valor moral e não apenas a apresentação ou 
descrição de fatos ou dados. Por exemplo, afirmações como "o aborto é imoral" e 
"Maria é uma pessoa moralmente boa" podem prescrever nada, mas envolvem os 
juízos normativos de valor moral que todos nós fazemos todos os dias de nossas 
vidas.
A segunda parte da abordagem filosófica ao estudo da ética é chamada 
de metaética ou, às vezes, denominada de ética analítica (HEGENBERG, 2010a; 
NERI, 2004). Em vez de ser descritiva ou prescritiva, essa abordagem é analítica 
de duas maneiras. Primeiramente, os metaeticistas analisam a linguagem 
ética (por exemplo, o que significamos quando nós usamos a palavra “bom”). 
Segundo, analisam os fundamentos racionais dos sistemas éticos, ou a lógica e o 
raciocínio de vários eticistas. Os metaeticistas não prescrevem qualquer coisa nem 
lidam diretamente com sistemas normativos. Em vez disso, eles "vão além" (um 
significado-chave do prefixo grego meta), referindo-se apenas, indiretamente, aos 
sistemas ético-normativos, concentrando-se no raciocínio, nas estruturas lógicas 
e na linguagem, e não no conteúdo.
 
Deve-se notar aqui que a metaética, embora sempre usada por todos os 
eticistas até certo ponto, tornou-se o único interesse de muitos filósofos éticos 
modernos (NERI, 2004). Isto pode ser devido, em parte, à crescente dificuldade 
de formular um sistema de ética aplicável a todos ou mesmo à maioria dos seres 
TÓPICO 1 | A NATUREZA DA MORALIDADE
9
humanos. Nosso mundo, nossas culturas e nossas vidas se tornaram cada vez 
mais complicadas e pluralistas, e encontrar um sistema ético que subjaz as ações 
de todos os seres humanos é uma tarefa difícil, senão impossível. Portanto, esses 
filósofos sentem que poderiam fazer o que outros especialistas fizeram e se 
concentrarem na linguagem e na lógica, em vez de tentar chegar a sistemas éticos 
que ajudem os seres humanos a viver juntos mais significativamente e eticamente.
Um dos principais objetivos da primeira e segunda unidade deste livro é 
um compromisso com uma síntese razoável das visões éticas. Isto é, esta síntese 
pretende ser uma união de posições opostas em um todo, no qual nenhuma 
posição se perde completamente, mas as melhores partes ou mais úteis de cada 
posição são enfatizadas através de um princípio básico que se aplicará a todas. 
Há, é claro, conflitos que não podem ser sintetizados – você não pode sintetizar as 
políticas de genocídio do ditador alemão Adolf Hitler com qualquer sistema ético 
que enfatize o valor da vida para todos os seres humanos – mas muitos podem 
ser. 
 
O ponto, entretanto, é que um estudo completo da ética exige o uso das 
abordagens descritiva, normativa e metaética. É importante que os especialistas 
em ética utilizem todos os dados e resultados válidos de experiências das ciências 
naturais, físicas e sociais. Eles também devem examinar sua linguagem, lógica 
e fundações. Todavia, parece ainda mais crucial que os eticistas contribuam 
para ajudar todos os seres humanos a viverem de forma mais significativa 
e ética. Se a filosofia não pode contribuir para este último imperativo, então a 
ética humana será decidida ao acaso ou por cada indivíduo por si mesmo ou por 
pronunciamentos religiosos não examinados.
Neste sentido, este tópico compromete-se com uma síntese da ética 
descritiva, normativa e analítica, com grande ênfase na disposição da utilidade 
da ética à comunidade humana. Contudo, como veremos, as questões que estão 
sendo levantadas aqui pertencem mais ao domínio da ética analítica, ou metaética.
4 A MORALIDADE E SUAS APLICAÇÕES
Até agora, discutimos terminologia e abordagens para estudar a 
moralidade, mas ainda temos de descobrir exatamente o que é moralidade. Uma 
definição completa de moralidade, assim como outras questões complexas, será 
revelada, gradualmente, à medida que prosseguirmos por esta primeira unidade. 
Neste tópico, no entanto, o objetivo é duplo: fazer algumas distinções importantes 
e chegar a uma definição operacional básica da moralidade.
4.1 A ÉTICA E A ESTÉTICA
 
Há duas áreas de estudo em filosofia que lidam com valores e juízos de 
UNIDADE 1 | METAÉTICA
10
valor em assuntos humanos. A primeira é a ética, ou o estudo da moralidade – o 
que é bom, mau, certo ou errado em um sentido moral. A segunda é a estética, ou 
o estudo dos valores na arte ou na beleza – o que é bom, mau, certo ou errado na 
arte e o que constitui o belo e o não belo em nossas vidas. Pode haver, obviamente, 
alguma sobreposição entre as duas áreas (HERMANN, 2005). Por exemplo, pode-
se julgar a pintura de Pablo Picasso, Guernica (veja a figura a seguir), do ponto 
de vista artístico, decidir se ela é bonita ou feia, se constitui uma arte boa ou má 
em termos de técnica artística. Pode-se também discutir sua importância moral: 
nela, Picasso faz comentários morais sobre a crueldade e a imoralidade da guerra 
e a desumanidade das pessoas em relação umas às outras. Essencialmente, no 
entanto, quando dizemos que uma pessoa é atraente, e quando dizemos que um 
pôr-do-sol é bonito ou um cão é feio ou uma pintura é grandiosa ou seu estilo 
é medíocre, estamos falando em termos de estética em vez de moral ou valores 
éticos.
FIGURA 1 – GUERNICA
FONTE: Disponível em: <https://wallpapercave.com/wp/rhTfMEb.jpg>. Acesso em: 12 
maio 2017.
4.2 BOM, MAU, CERTO E ERRADO USADO EM UM SENTIDO 
NÃO MORAL
 
As mesmas palavras que usamos em um sentido moral também são, 
frequentemente, usadas em um sentido não moral. O uso estético descrito 
anteriormente é um deles. E quando, por exemplo, dizemos que um cão ou uma 
faca é bom/boa, ou que um carro tem um mau desempenho, muitas vezes, usamos 
esses termos de valor (bom, mau, ruim etc.) em nenhum sentido estético ou moral. 
Ao chamar umcão de bom, não queremos dizer que o cão é, moralmente, bom 
ou mesmo bonito. Nós, provavelmente, queremos dizer que não morde ou que 
late apenas quando estranhos nos ameaçam ou que desempenha bem o papel de 
um cão de caça. Quando dizemos que um carro tem um mau desempenho ou que 
TÓPICO 1 | A NATUREZA DA MORALIDADE
11
uma faca é boa, queremos dizer que há algo, mecanicamente, (mas não moral ou 
esteticamente) errado com o motor do carro ou que a faca é afiada e corta bem. 
Em suma, o que geralmente queremos dizer com tal afirmação é que a coisa em 
questão é boa porque pode ser usada para cumprir algum tipo de função. Isto é, 
está em "bom" funcionamento ou tem sido bem treinado.
 
É interessante notar que Aristóteles (384-322 AEC) argumentou que ser 
moral tem a ver com a função de um ser humano e que, ao desenvolver seu 
argumento, ele passou dos usos não morais para os usos morais de bom e mau. 
Ele sugeriu que tudo o que é bom ou mau é assim porque funciona bem ou mal. 
Ele então continuou dizendo que se pudéssemos descobrir qual é a função de um 
ser humano, então saberíamos como o termo bom ou mau pode ser aplicado à 
vida humana. Tendo chegado à teoria de que a função adequada do ser humano é 
a razão, ele concluiu que ser moral significa, essencialmente, raciocinar bem para 
uma vida completa (ARISTÓTELES, 1984).
 
Ao longo dos anos, muitas questões foram levantadas sobre esta teoria 
(KRAUT, 2009). Alguns duvidam se Aristóteles realmente conseguiu identificar 
a função dos seres humanos – por exemplo, algumas religiões afirmam que a 
função primária de um ser humano é servir a Deus. Outros questionam se ser 
moral pode ser diretamente ligado apenas ao funcionamento. O ponto dessa 
discussão é que os mesmos termos que são usados no discurso moral, muitas 
vezes, também são usados de forma não moral, e nem Aristóteles nem ninguém 
realmente quis dizer que esses termos, quando aplicados a coisas como facas, 
cães ou carros, têm algo, diretamente, a ver com o moral ou o ético. 
4.3 A MORAL E AS BOAS MANEIRAS OU ETIQUETA
As boas maneiras, ou a etiqueta, é uma outra área do comportamento 
humano aliada próxima à ética e à moral, mas distinções cuidadosas devem ser 
feitas entre as duas esferas. Não há dúvida de que moral e ética têm muito a ver com 
certos tipos de comportamento humano. No entanto, nem todo comportamento 
humano pode ser classificado como moral. Alguns destes são não morais e alguns 
são sociais, tendo a ver com boas maneiras ou etiqueta, que é, essencialmente, uma 
questão de gosto e não de certo ou errado. Muitas vezes, é claro, essas distinções 
se confundem ou se sobrepõem, mas é importante distinguir o mais claramente 
possível entre comportamento não moral e moral e o que tem a ver somente com 
os costumes ou boas maneiras (JOHNSON, 1999).
 
Tomemos um exemplo da vida cotidiana: um empregador dando ao 
secretário uma carta de negócios rotineira para ela digitar. Tanto o ato de dar a 
carta ao secretário quanto o ato do secretário digitá-la envolvem comportamento 
não moral. Suponhamos agora que o empregador usa palavras de baixo calão ao 
falar com o secretário e o faz em tom alto e rude na frente de todos os funcionários 
no escritório. O que o empregador fez, essencialmente, é exibir más maneiras, ele 
realmente não fez nada de imoral. O praguejar e a rudeza podem ser considerados 
UNIDADE 1 | METAÉTICA
12
como conduta errada por muitos, mas, basicamente, são uma ofensa ao gosto, em 
vez de uma de ofensa à moralidade.
 
Vamos agora supor, no entanto, que o conteúdo da carta iria arruinar a 
reputação de uma pessoa inocente ou resultar na morte de alguém ou perda de 
seus bens. O comportamento agora entra na esfera da moralidade, e questões 
devem ser levantadas sobre a moralidade do comportamento do empregador. 
Além disso, um problema moral surge para o secretário sobre se ele deve digitar 
a carta. Além disso, se o empregador usa palavras de baixo calão para assediar 
moral ou sexualmente o secretário, então ele está sendo imoral, ameaçando o 
sentimento de segurança pessoal, privacidade, integridade e orgulho profissional 
do funcionário.
 
O comportamento não moral constitui uma grande parte do 
comportamento que vemos e realizamos todos os dias em nossas vidas. Devemos, 
no entanto, estar sempre cientes de que nosso comportamento não moral pode ter 
implicações morais. Por exemplo, digitar uma carta é, em si mesmo, não-moral, 
mas se o ato de digitar e enviar a carta resultará na morte de alguém, então a 
moralidade certamente entrará em cena.
No domínio das boas maneiras, comportamentos tais como praguejar, 
comer com as mãos e vestir-se mal pode ser aceitável em algumas situações, 
mas ser considerado má conduta em outras. Tal comportamento raramente seria 
considerado imoral. No entanto, não quero dizer que não há conexão entre as 
boas maneiras e a moral, apenas que não há nenhuma conexão necessária entre 
elas. De um modo geral, em nossa sociedade, sentimos que as boas maneiras 
acompanham a boa moral e assumimos que se as pessoas são ensinadas a se 
comportarem corretamente em situações sociais, elas também se comportarão 
corretamente em situações morais (JOHNSON, 1999).
 
Muitas vezes, porém, é difícil estabelecer uma conexão direta entre o 
comportamento socialmente aceitável e a moralidade (TORRES; NEIVA, 2011). 
Muitos membros decadentes de sociedades passadas e presentes agiram com boas 
maneiras impecáveis e, contudo, foram altamente imorais em seu tratamento de 
outras pessoas. É, naturalmente, desejável que os seres humanos se comportem 
com boas maneiras uns com os outros e sejam morais em suas relações humanas. 
Todavia, para atuar moralmente ou trazer à luz um problema moral, às vezes, 
pode ser necessário violar as "boas maneiras" de uma determinada sociedade. 
Por exemplo, há algumas décadas, em sociedades como nos Estados Unidos da 
América e na África do Sul durante o Apartheid, era considerado maus modos 
e até mesmo ilegal que as pessoas negras comessem na mesma área de um 
restaurante que os brancos. Nos EUA, ocorreram o que foram chamados de "sit-
ins" realizados nesses estabelecimentos, que eram protestos não violentos, em que 
pessoas negras sentavam nestes restaurantes, pediam para serem servidos, eram 
recusados, mesmo assim permaneciam sentados se recusando a sair (SILVA, 2015). 
Este movimento inspirou o “kiss-in”, nos EUA e na Europa e o “beijaço” no Brasil, 
que consistia na “demonstração pública de afeto entre homossexuais em locais 
TÓPICO 1 | A NATUREZA DA MORALIDADE
13
em que essa prática é coibida, buscando visibilidade para esse público” (GREEN; 
TRINDADE, 2005, p. 320). Ou seja, estas ações violavam as “boas maneiras” para 
apontar e tentar resolver os problemas morais associados à desigualdade de 
tratamento e à negação da dignidade aos seres humanos.
 
Portanto, embora possa, às vezes, haver uma conexão entre as boas 
maneiras e a moral, deve-se tomar cuidado para distinguir entre os dois quando 
não há uma conexão clara. Não se deve, por exemplo, equiparar o uso de palavras 
de baixo calão em companhia mista com estupro ou assassinato ou desonestidade 
nos negócios.
4.4 A QUEM OU O QUE SE APLICA A MORALIDADE?
 
Ao discutir a aplicação da moralidade, quatro aspectos podem ser 
considerados: moralidade religiosa, moralidade e natureza, moralidade 
individual e moralidade social.
A moralidade religiosa refere-se a um ser humano em relação a um ser 
ou seres sobrenaturais (COMPARATO, 2006). Nas tradições judaica e cristã, por 
exemplo, os três primeiros dos Dez Mandamentos (figura a seguir) pertencem a 
esse tipo de moralidade. Esses mandamentos tratam do relacionamento de uma 
pessoa com Deus, não com qualquer outro ser humano. Ao violar qualquer um 
destes três mandamentos, uma pessoa poderia, de acordo com este códigode 
ética particular, agir imoralmente em relação a Deus sem agir imoralmente em 
relação a outra pessoa.
Os dez mandamentos
1. Não terás outros deuses diante de mim.
2. Não tomarás o nome do teu Deus em vão.
3. Guardarás o dia do sábado.
4. Honre seu pai e sua mãe.
5. Não matarás.
6. Não cometerás adultério.
7. Não furtarás.
8. Não darás falso testemunho contra o seu próximo.
9. Não cobiçarás o cônjuge do seu próximo.
10. Não cobiçarás os pertences do seu próximo.
FIGURA 2 – OS DEZ MANDAMENTOS
FONTE: Bíblia, Êxodo, 20. 1-17 (1966)
A moralidade e a natureza referem-se a um ser humano em relação à 
natureza (HEGENBERG, 2010b). A moralidade natural prevaleceu em todas as 
culturas primitivas, como nos povos nativos ameríndios e nas culturas do extremo 
UNIDADE 1 | METAÉTICA
14
oriente. Mais recentemente, a tradição ocidental também se tornou consciente 
da importância de lidar com a natureza de uma maneira moral. Alguns veem a 
natureza como sendo valiosa apenas para o bem da humanidade, mas muitos 
outros têm vindo a vê-la como um bem em si, digno de consideração moral 
(OLIVEIRA; OLIVEIRA, 1996; SIQUEIRA, 1998). Com este ponto de vista não há 
dúvida sobre se um Robinson Crusoé seria capaz de ações morais ou imorais em 
uma ilha deserta estando lá sozinho. No aspecto da moralidade e da natureza, ele 
poderia ser considerado moral ou imoral, dependendo de suas ações em relação 
às coisas naturais ao seu redor.
 
A moralidade individual refere-se aos indivíduos em relação a si mesmos 
e a um código individual de moralidade que pode ou não ser sancionado por 
qualquer sociedade ou religião (LE BON, 2013). Este tipo de código permite uma 
"moralidade superior", que pode ser encontrada dentro do indivíduo em vez de 
além deste mundo em algum domínio sobrenatural. Uma pessoa pode ou não 
realizar algum ato particular, não porque a sociedade, lei ou religião diz que pode 
ou não, mas porque ele mesmo pensa que é certo ou errado dentro de sua própria 
consciência.
 
Por exemplo, numa lenda grega, uma filha (Antígona) enfrenta um rei 
(Creonte), quando ela procura contrariar a ordem do rei enterrando seu irmão 
morto. Na peça de Sófocles (C. 496-406 a.C.), Antígona se opõe a Creonte por 
causa da lei superior de Deus. No entanto, a Antígona na peça de Jean Anouilh, 
opõe-se a Creonte não por causa da lei divina, da qual ela não reivindica nenhum 
conhecimento, mas por causa de suas próprias convicções individuais sobre o que 
é certo fazer ao lidar com seres humanos, até seres humanos mortos (POCIÑA et al., 
2015). Este aspecto também pode referir-se a essa área da moralidade preocupada 
com as obrigações que os indivíduos têm para com eles próprios (promover seu 
próprio bem-estar, desenvolver seus talentos, ser fiel ao que acreditam etc.). Os 
mandamentos nove e dez (figura anterior), embora também aplicáveis à moral 
social, como veremos a seguir, são bons exemplos de pelo menos uma exortação à 
moralidade individual. O propósito de dizer "não cobiçarás" parece ser a criação 
de um controle interno dentro de cada indivíduo para que nem sequer pensem 
em roubar os pertences ou o cônjuge de um vizinho. De qualquer modo, esses 
mandamentos parecem enfatizar uma moralidade individual, assim como uma 
moralidade social.
 
A moralidade social (TORRES; NEIVA, 2011) diz respeito a um ser humano 
em relação a outros seres humanos. É, provavelmente, o aspecto mais importante 
da moralidade, na medida em que atravessa todos os outros aspectos e é mais 
encontrado em sistemas éticos do que qualquer um dos outros.
 
Voltando, brevemente, ao exemplo da ilha deserta, a maioria dos eticistas, 
provavelmente, declararia que Robinson Crusoé era incapaz de qualquer ação 
realmente moral ou imoral, exceto para si e para a natureza. Tal ação seria mínima 
se comparada com o potencial de moralidade ou imoralidade se houvesse outras 
nove pessoas na ilha a quem ele poderia subjugar, torturar ou destruir. Muitos 
TÓPICO 1 | A NATUREZA DA MORALIDADE
15
sistemas éticos permitiriam que o que ele faria a si mesmo é estritamente uma 
questão que importa só a ele, desde que não prejudique ninguém.
 
Para a maioria dos eticistas, as questões morais humanas mais importantes 
surgem quando os seres humanos se reúnem em grupos sociais e começam a 
entrar em conflito uns com os outros (NERI, 2004). Mesmo que os sistemas éticos 
judeus e cristãos, por exemplo, pressionem persistentemente os seres humanos a 
amar e obedecer a Deus, ambas as religiões, em todas as suas divisões e seitas, têm 
uma mensagem social forte. Na verdade, talvez 70 a 90 por cento de todas as suas 
admoestações são direcionadas para como um ser humano deve se comportar em 
relação aos outros (REIFLER, 1992). Jesus declarou esta mensagem sucintamente 
quando disse que os dois maiores mandamentos são amar a Deus e amar ao próximo 
(BÍBLIA, Mateus, 22. 37-40, 1966). Estes se enquadram igualmente sob os aspectos 
religiosos e sociais, mas observando toda a ação e pregações de Jesus, vê-se a 
maior ênfase no tratamento moral de outros seres humanos. Ele parece dizer que 
se alguém age moralmente em relação a outros seres humanos, então este alguém 
está automaticamente agindo moralmente em relação a Deus. Isto é enfatizado 
em uma das parábolas do Juízo Final de Jesus, quando Ele diz (e eu parafraseio): 
Tudo o que fizeste ao mais pequenino dos meus irmãos [seres humanos mais 
marginalizados e necessitados], assim o fizestes a Mim (BÍBLIA, Mateus, 25.40, 
1966). Três dos Dez Mandamentos são direcionados especificamente a Deus, 
enquanto que sete são dirigidos a outros seres humanos – o aspecto social tem 
precedência. Em outras religiões, como o budismo e o confucionismo, o aspecto 
social representa quase toda a moralidade, havendo muito pouco ou nenhum 
foco no aspecto sobrenatural ou religioso (BRANNIGAN, 2005). Além disso, tudo 
o que é dirigido para o aspecto individual também muitas vezes destinado ao 
bem de outros que compartilham da cultura do indivíduo.
 
Os sistemas éticos não religiosos, muitas vezes, enfatizam o aspecto social. 
O egoísmo ético, que parece enfatizar o aspecto individual e diz em sua forma, 
mais comumente declarada, que todos devem agir em seu interesse próprio 
(FURROW, 2007), enfatiza também todo o meio social. O utilitarismo em todas as 
suas formas enfatiza o bem de todos os interessados e, portanto, obviamente, está 
lidando com o aspecto social. Teorias não consequencialistas ou deontológicas, 
como a de Kant (2007), enfatizam as ações para com os outros mais do que 
qualquer outro aspecto, embora as razões para agir, moralmente, em relação aos 
outros sejam diferentes das do egoísmo ético ou do utilitarismo. Essas teorias serão 
tratadas detalhadamente nos Tópicos 1 e 2 da próxima unidade. O importante a 
ser observado neste ponto é que a maioria dos sistemas éticos, mesmo os mais 
individualistas ou religiosos, enfatizará o aspecto social exclusivamente ou muito 
mais do que qualquer outro aspecto.
 
Como, então, devemos usar esses aspectos? Podemos recorrer a eles como 
distinções efetivas que nos permitirão pensar em termos mais amplos sobre a 
aplicabilidade da ética humana. No espírito de síntese, entretanto, podemos 
ser sábios em manter essas distinções abertas em unidade para que possamos 
aceitar, em uma ética humana ampla, os aspectos religiosos, naturais, individuais 
UNIDADE 1 | METAÉTICA
16
e sociais da moralidade. Reconhecendo, no entanto, que a maioria dos sistemas 
éticos se encontram no aspecto social. Devemos, em outras palavras, manter os 
olhos nos três primeiros aspectos enquanto permanecemos firmemente plantados 
no aspecto social, no qual ocorre a maioria dos problemas e conflitos morais 
humanos.
4.5 QUEM É MORAL OU ETICAMENTE RESPONSÁVEL? 
Quem pode ser moral ou eticamente responsável por suas ações?Todas 
as evidências que obtivemos até hoje nos obrigam a dizer que a moral pertence 
aos seres humanos, ao menos na complexidade com a qual a compreendemos. 
Se alguém quer atribuir a moralidade a seres sobrenaturais, é preciso fazê-lo na 
fé. Se alguém quer atribuir reponsabilidade moral aos outros animais por atos 
destrutivos uns contra os outros ou contra os próprios seres humanos, ou até 
mesmo aos outros seres vivos, então é preciso ignorar a maior parte da evidência 
que a ciência nos deu sobre o comportamento instintual de tais seres e a evidência 
de nossas próprias observações diárias.
A experimentação com o ensino da língua aos animais sugere que 
são, pelo menos, minimamente, capazes de desenvolver alguns processos de 
pensamento semelhantes aos dos seres humanos. É mesmo possível que eles 
possam ser ensinados moralidade no futuro, como os seres humanos são agora. 
Se isso acontecer, então os animais poderiam ser considerados, moralmente, 
responsáveis por suas ações. Pesquisas recentes como as de Sarah Brosnan e Frans 
de Waal (2003) demonstram que sim podemos ver traços fundamentais do senso 
moral, como empatia, reciprocidade, cooperação e senso de justiça, em outros 
animais. Essas evidências comprovam a natureza biológica de nossa moralidade. 
Todavia a complexidade da moralidade humana ainda parece delinear o âmbito 
da responsabilidade moral.
DICAS
Veja o vídeo Frans de Waal: Comportamento moral em animais, em que o 
pesquisador Frans de Waal apresenta seus experimentos e comenta seus surpreendentes 
resultados. Disponível em: <https://www.ted.com/talks/frans_de_waal_do_animals_have_
morals?language=pt-br>. Acesso em: 10 maio 2017.
 Portanto, no momento presente, a maioria das evidências parece indicar 
que seres como as plantas devem ser classificados como não morais ou amorais – 
ou seja, devem ser consideradas como não tendo sentido moral ou como estando 
fora da esfera moral completamente (TUGENDHAT, 2007). Os outros animais, 
TÓPICO 1 | A NATUREZA DA MORALIDADE
17
mais próximos do ser humano evolucionariamente, quando não se aplica a 
classificação da não moralidade ou da amoralidade, no mínimo, são considerados 
como inferiores moralmente no sentido da complexidade moral humana (e não 
necessariamente no sentido do valor moral).
 
Portanto, quando usamos os termos moral e ético, os estamos usando 
em referência apenas aos seres humanos. Não imputamos responsabilidade 
moral a um lobo por matar uma ovelha, ou uma raposa como moralmente 
responsável por matar uma galinha. Podemos matar o lobo ou raposa por ter 
feito este ato, mas não o matamos porque consideramos o animal moralmente 
responsável. Fazemos isso porque não queremos mais que nossas ovelhas ou 
galinhas sejam mortas. Neste ponto da história do mundo, somente os seres 
humanos podem ser morais ou imorais, especialmente, se enfatizarmos o aspecto 
da responsabilidade moral, e, portanto, somente os seres humanos devem ser 
considerados moralmente responsáveis por suas ações e comportamento. 
Há, naturalmente, limitações quanto ao momento em que os seres humanos 
podem ser considerados moralmente responsáveis (o momento ou período do 
desenvolvimento biológico em que estamos aptos a agir/pensar moralmente, ou 
em casos de demência ou outros casos em que alegamos a perda da autonomia 
do indivíduo e, portanto, alegamos que não pode mais agir/pensar moralmente), 
mas a questão da responsabilidade moral não deve sequer ser levantada onde os 
não humanos estão envolvidos (TUGENDHAT, 2007).
5 DE ONDE VEM A MORALIDADE?
 
Sempre houve uma grande quantidade de especulações sobre a origem 
da moralidade ou da ética (HEGENBERG, 2010b). Será que tem sido sempre 
uma parte do mundo, proveniente de algum ser sobrenatural ou incorporado 
dentro da própria natureza, ou é estritamente um produto das mentes dos seres 
humanos? Ou é alguma combinação de alguns destes fatores? Pela razão de que a 
moralidade e a ética lidam com valores que têm a ver com o bem/bom, o mal/mau, 
o certo e o errado, esses valores seriam totalmente objetivos – isto é, fenômenos 
"externos" aos seres humanos? Seriam eles subjetivos ou estritamente "internos" 
aos seres humanos? Ou são uma combinação destes dois domínios? Consideremos 
as possibilidades que pertencem ao estudo da metaética (HEGENBERG, 2010a).
Há três maneiras de olhar para os valores quando eles são tomados como 
sendo totalmente objetivos: 1. Eles vêm de algum ser, ou seres, sobrenatural; 2. Há 
leis morais de alguma forma embutidas dentro da própria natureza; 3. O mundo 
e seus objetos têm valor com ou sem a presença da valorização dos seres humanos 
(HEGENBERG, 2010a; NERI, 2004; SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 2007).
Vejamos primeiro a teoria sobrenatural. Algumas pessoas acreditam que 
os valores vêm de algum poder superior ou de um ser ou seres sobrenaturais, 
ou princípios – o Bem (Platão); Os deuses (os gregos e romanos); Javé ou Deus 
(os judeus); Deus e Seu Filho Jesus (os cristãos); Alá (os muçulmanos); e Brahma 
UNIDADE 1 | METAÉTICA
18
(os hindus), para citar alguns. Eles acreditam, além disso, que esses seres ou 
princípios incorporam o próprio bem supremo e revelam aos seres humanos o 
que é certo ou bom e o que é mau ou errado (NERI, 2004). Se os seres humanos 
querem ser morais (e geralmente são encorajados em tais desejos por algum tipo 
de recompensa temporal ou eterna), então eles devem seguir esses princípios ou 
os ensinamentos desses seres. Se não o fizerem, eles acabarão sendo desobedientes 
à moralidade mais elevada (Deus, por exemplo), serão considerados imorais e, 
geralmente, receberão algum castigo temporal ou eterno por suas transgressões. 
No caso de eles acreditarem em um princípio, em vez de um ser sobrenatural ou 
seres, então eles estarão sendo não verdadeiros, desleais, ao mais alto princípio 
moral (HEGENBERG, 2010a).
 
Agora vejamos o caso da teoria do direito natural. Outros acreditam 
que a moralidade de alguma forma está incorporada na natureza e que existem 
"leis naturais" às quais os seres humanos devem aderir se quiserem ser morais. 
Santo Tomás de Aquino (1225-1274) defendeu isso tanto quanto defendeu a base 
sobrenatural da moralidade (CORTINA; MARTÍNEZ, 2005; VAZ, 2006). Por 
exemplo, algumas pessoas afirmarão que a homossexualidade é imoral porque vai 
contra a "lei moral natural" – isto é, que seria é contra a lei da natureza que seres 
do mesmo sexo desejem ou amem sexualmente uns aos outros ou se envolvam 
em atos sexuais.
 
Em oposição a esses argumentos, há aqueles que argumentam que a 
moralidade decorre estritamente do interior dos seres humanos, que são valores 
totalmente subjetivos. Ou seja, eles acreditam que as coisas podem ter valores e 
serem classificadas como boas, más, certas ou erradas se, e somente se, houver 
algum ser consciente que possa valorizar essas coisas (HEGENBERG, 2010a). Em 
outras palavras, se não há seres humanos, então não pode haver valores.
5.1 A AVALIAÇÃO DE POSIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS
Vejamos agora os críticos da teoria sobrenatural. Albert Einstein (1879-
1955), o grande matemático/físico, disse: "Não creio na imortalidade do 
indivíduo e considero a ética como uma preocupação exclusivamente humana, 
sem nenhuma autoridade sobre-humana por trás" (EINSTEIN apud HITCHENS, 
2016, p. 249). Obviamente, é possível que o sobrenatural exista e que de alguma 
forma se comunique com o mundo natural e os seres humanos nele. Esta visão é, 
principalmente, uma crença baseada na fé. Há, naturalmente, justificativa racional 
para tal crença, e fé pode ter uma base racional. Evidências para a existência 
de um ser sobrenatural são, frequentemente, citadas e, de fato, tem havido 
argumentos filosóficos apresentados que tentaram provar a existência de Deus 
(LEYSER, 2015). No entanto, não há nenhuma prova conclusiva da existência 
de um ser, seres,ou princípio sobrenatural. Além disso, há muitas tradições 
altamente diversas descrevendo tais seres ou princípios. Essa diversidade torna 
muito difícil determinar exatamente quais valores os seres ou princípios estão 
tentando comunicar e quais valores, comunicados através das muitas tradições, 
TÓPICO 1 | A NATUREZA DA MORALIDADE
19
os seres humanos devem aceitar e seguir.
 
Tudo isso não significa que devemos parar de procurar a verdade ou de 
verificar a possibilidade de valores baseados sobrenaturalmente. Todavia, isso 
significa que é difícil estabelecer, com alguma certeza, que a moralidade vem 
dessa fonte.
Vejamos agora as críticas da teoria do direito natural. Certamente, falamos 
sobre "leis da natureza", como a lei da gravitação universal, mas, se examinarmos 
essas leis de perto, vemos que elas são muito diferentes das leis artificiais que têm 
a ver com a moralidade ou o governo das sociedades. A lei da gravitação, por 
exemplo, diz, de fato, que todos os objetos materiais são atraídos para o centro 
da terra. Se lançarmos uma bola para o ar, ela sempre cairá de volta ao chão. 
Sir Isaac Newton descobriu que esse fenômeno ocorreu cada vez que um objeto 
foi submetido à atração da gravidade e descreveu essa recorrência constante 
chamando-a de "lei da natureza" (STRATHERN, 1998). A palavra-chave neste 
processo é descrita, pois as chamadas leis naturais são descritivas, enquanto as 
leis morais e societárias são prescritivas. Em outras palavras, a lei natural não diz 
que a bola, quando lançada no ar, deve ou não deve cair no chão, como dizemos 
que os seres humanos devem ou não devem matar outros seres humanos. Em 
vez disso, a lei da gravitação diz o que a bola faz ou vai fazer quando lançada, 
descreve em vez de prescrever seu comportamento.
 
A pergunta que devemos fazer neste momento é: "Existem leis morais 
naturais que prescrevem como os seres, na natureza, deveriam ou não deveriam 
se comportar?" Se existirem tais leis morais, quais seriam elas? Como mencionado 
anteriormente, a homossexualidade é considerada por alguns como "antinatural" 
ou "contra as leis da natureza", uma crença que implica a convicção de que apenas 
o comportamento heterossexual é "natural". Se, no entanto, examinarmos todos os 
aspectos da natureza, descobriremos que a heterossexualidade não é o único tipo 
de sexualidade que ocorre na natureza. Alguns seres na natureza são assexuados 
(não têm sexo), alguns são homossexuais (outros animais, assim como os animais 
humanos), e muitos são bissexuais (engajando-se em comportamento sexual com 
machos e fêmeas da espécie). Os seres humanos, naturalmente, podem querer 
prescrever, por uma razão ou outra, que o comportamento homossexual ou “anti-
heterossexual” é errado, mas é difícil argumentar que há alguma "lei da natureza" 
que proíbe a homossexualidade.
Vejamos agora as críticas dos valores existentes no mundo e seus objetos. 
É factível ou mesmo possível pensar em algo que tenha um valor sem que haja 
alguém para valorizá-lo? Que valor o ouro, a arte, a ciência, a política e a música 
têm sem seres humanos para valorizá-los? Afinal de contas, com exceção do ouro 
nestes exemplos, os seres humanos não os inventaram e criaram? Parece, então, 
quase impossível que os valores existam totalmente no mundo e nas próprias 
coisas.
Quanto às críticas à posição subjetiva? Devemos então chegar à posição 
UNIDADE 1 | METAÉTICA
20
de que os valores são inteiramente subjetivos e de que o mundo em todos os seus 
aspectos não teria absolutamente nenhum valor se não existissem seres humanos 
nele? Tentemos imaginar objetivamente um mundo sem nenhum ser humano 
nele. Não há nada de valor no mundo e na natureza – ar, água, terra, luz solar, 
mar – a menos que os seres humanos estejam lá para apreciá-la? Certamente, 
quer os seres humanos existam ou não, plantas e animais encontrariam o mundo 
"valioso" na realização de suas necessidades. Encontrariam "valor" no calor do 
sol e na sombra das árvores, nos alimentos que comem e na água que saciam sua 
sede. É verdade que muitas coisas no mundo, como a arte, a ciência, a política 
e a música são valorizadas apenas por seres humanos, mas há também muitas 
coisas que são valiosas se os seres humanos estão presentes ou não. Assim, parece 
que os valores não são inteiramente subjetivos assim como não são inteiramente 
objetivos.
 
5.2 UMA SÍNTESE E POSSÍVEL RESPOSTA PARA A ORIGEM 
DA MORALIDADE
Parece, portanto, que pelo menos alguns valores residem fora dos seres 
humanos, embora talvez muitos mais dependam de seres humanos conscientes, 
que são capazes de valorizar as coisas (FURROW, 2007). Portanto, parece que os 
valores são mais complexos do que a posição subjetiva ou a posição objetiva pode 
descrever. Assim, uma posição melhor é assumir que os valores são objetivos 
e subjetivos (RACHELS; RACHELS, 2014). Uma terceira variável deve ser 
adicionada para que haja uma interação de três variáveis da seguinte maneira: 
1. A coisa de valor ou a coisa valorizada; 2. Um ser consciente que valoriza, ou o 
avaliador; 3. O contexto ou situação em que a valorização ocorre.
 
Por exemplo, o ouro tem em si valor em seu conteúdo mineral e em que é 
brilhante e maleável. No entanto, quando visto por um ser humano e descoberto 
ser raro, torna-se – no contexto de sua beleza e em seu papel como um suporte para 
as finanças do mundo – um item muito mais valorizado do que é em si mesmo. 
Seu valor máximo, portanto, depende não só de suas qualidades individuais, 
mas também de algum ser consciente que o está valorizando em um contexto 
ou situação específica. Nem precisamos dizer que o ouro é uma daquelas coisas 
cujo valor é fortemente dependente da valorização subjetiva. Note, entretanto, 
que o valor do ouro mudaria se o contexto ou a situação o fizessem. Por exemplo, 
suponha que alguém estivesse preso em uma ilha deserta sem comida, água 
ou companheirismo humano, mas com 100 quilos de ouro. O valor do ouro 
diminuiria consideravelmente em função do contexto ou da situação em que falta 
comida, água e companhia humana e que nenhuma quantidade de ouro poderia 
comprar? Este exemplo mostra como o contexto ou situação pode afetar valores 
e valorização.
Os valores, então, pareceriam vir mais frequentemente de uma interação 
complexa entre seres humanos conscientes e "coisas" (materiais, mentais 
TÓPICO 1 | A NATUREZA DA MORALIDADE
21
ou emocionais) em contextos específicos. No entanto, como essa discussão 
pode nos ajudar a responder à questão de onde vem a moralidade? Qualquer 
suposição sobre a resposta a esta questão da origem da moral, certamente, tem 
de ser especulativa. No entanto, ao observar como a moralidade se desenvolve e 
muda nas sociedades humanas, pode-se ver que ela surgiu em grande parte das 
necessidades e desejos humanos e que se baseia nas emoções e na razão humana 
(LE BON, 2013).
 
Parece lógico supor que, à medida que os seres humanos começaram a 
tomar consciência de seu ambiente e de outros seres como eles, estes descobriram 
que poderiam realizar mais quando estavam juntos do que poderiam quando 
isolados uns dos outros. Através de sentimentos e pensamentos profundos, e 
depois de muitas experiências, eles decidiram sobre "bons" e "maus" que iriam 
ajudá-los a viver juntos com mais sucesso e significado. Essas crenças necessitavam 
de sanções, que eram fornecidas por sumos sacerdotes, profetas e outros líderes. A 
moralidade era ligada por esses líderes não apenas à sua autoridade, mas também 
à autoridade de algum tipo de ser ou seres sobrenaturais ou à natureza, que, em 
tempos anteriores, eram, muitas vezes, considerados inseparáveis (SÁNCHEZ; 
VÁZQUEZ, 2007). 
 
Por exemplo, os seres humanos são capazes de sobreviver com mais 
sucesso em seu ambiente estando em um grupo do que eles podem como 
indivíduos isolados. No entanto,

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