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Estudos Socioculturais

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www.un i su l . b r
capa_roxa.pdf 1 07/06/2016 10:50:14
UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Estudos 
Socioculturais
Universidade Sul de Santa Catarina
completo.indb 1 09/06/2016 09:00:14
Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul
Reitor
Sebastião Salésio Herdt
Vice-Reitor
Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão
Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional
Luciano Rodrigues Marcelino
Pró-Reitor de Operações e Serviços Acadêmicos
Valter Alves Schmitz Neto
Diretor do Campus Universitário de Tubarão
Heitor Wensing Júnior
Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis
Hércules Nunes de Araújo
Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual
Fabiano Ceretta
Campus Universitário UnisulVirtual
Diretor
Fabiano Ceretta
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços
Amanda Pizzolo (coordenadora)
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Educação, Humanidades e Artes
Felipe Felisbino (coordenador)
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Produção, Construção e Agroindústria
Anelise Leal Vieira Cubas (coordenadora)
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Saúde e Bem-estar Social
Aureo dos Santos (coordenador)
Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos 
Moacir Heerdt
Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão
Roberto Iunskovski
Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos 
Márcia Loch
Gerente de Prospecção Mercadológica 
Eliza Bianchini Dallanhol
completo.indb 2 09/06/2016 09:00:14
Livro didático
UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Designer instrucional
Marina Melhado Gomes da Silva
Isabel Zoldan da Veiga Rambo
Estudos 
Socioculturais
Cláudio Damaceno Paz
Elvis Dieni Bardini 
Jaci Rocha Gonçalves
Tade-Ane de Amorim
completo.indb 3 09/06/2016 09:00:14
Livro Didático
Copyright © 
UnisulVirtual 2016
Professora conteudista
Cláudio Damaceno Paz 
Elvis Dieni Bardini 
Jaci Rocha Gonçalves 
Tade-Ane De Amorim
Designer instrucional
Marina Melhado Gomes da Silva 
Isabel Zoldan da Veiga Rambo
Projeto gráfico e capa
Equipe UnisulVirtual
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por 
qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul
E84
Estudos socioculturais : livro didático / [conteudistas] Cláudio 
Damaceno Paz, Elvis Dieni Bardini, Jaci Rocha Gonçalves, Tade-Ane de 
Amorim ; design instrucional [Marina Melhado Gomes da Silva], Isabel 
Zoldan da Veiga Rambo. – Palhoça : UnisulVirtual, 2016.
XX p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
1. Ciências sociais. 2. Cultura – Aspectos sociais. 3. Sociedades. I. 
Paz, Cláudio Damaceno. II. Bardini, Elvis Dieni. III. Gonçalves, Jaci Rocha. 
IV. Amorim, Tade-Ane. V. Silva, Marina Melhado Gomes da. VI. Rambo, 
Isabel Zoldan da Veiga. VII. Título.
CDD (21. ed.) 301
Diagramador
Josué Lange
Revisor
Perpétua Guimarães Prudêncio 
Diane Dal Mago
completo.indb 4 09/06/2016 09:00:14
Sumário
Capítulo 1
Cidadania e Direitos Humanos 9
Capítulo 2
Identidade e culturas 23
Capítulo 3
Sociedade: teorias clássicas e contemporâneas 43
Capítulo 4
Práticas culturais e processos midiáticos 53
Considerações Finais | 67
Referências | 69
Sobre o Professor Conteudista | 73
completo.indb 5 09/06/2016 09:00:14
completo.indb 6 09/06/2016 09:00:14
Introdução 
Caro(a) estudante,
Você inicia agora o estudo da Unidade de aprendizagem Estudos socioculturais, 
com o intuito de procurar compreender a dinâmica e a diversidade das 
sociedades humanas, para agir responsavelmente nos diferentes contextos 
sociais. Nesse sentido, nosso objetivo é que você tenha elementos para analisar 
e compreender contextos diversos, estabelecendo diálogos com diferenças 
socioculturais.
Os conteúdos aqui reunidos, além dos demais materiais disponíveis nos tópicos 
de estudo do Espaço Virtual de Aprendizagem seguem uma temática, bem como 
uma abordagem relacionada à sociedade e à cultura.
Especificamente, por meio de quatro roteiros de estudo, você estuda teorias 
clássicas e contemporâneas relativas à sociedade; a questão do Estado e da 
cidadania, da ética e dos direitos humanos; acerca da cultura e da identidade; 
das práticas culturais e dos processos midiáticos. Este livro e os demais materiais 
disponíveis não têm pretensão de esgotar assuntos tão complexos, mas tão 
somente se pretende desenvolver uma abordagem didática, sistemática e parcial. 
Procure ampliar seus conhecimentos sobre as temáticas abordadas, consultando 
os textos originais dos pensadores citados, dicionários e outras obras, sempre 
que considerar pertinente. Desejamos-lhes boa aprendizagem!
completo.indb 7 09/06/2016 09:00:14
completo.indb 8 09/06/2016 09:00:14
9
Capítulo 1
Cidadania e Direitos Humanos
Cidadania como conquista de direitos
Cláudio Damaceno Paz
A vida em sociedade constitui um imperativo, pois as interações entre os 
humanos e com o meio em que estão inseridos não são escolha, mas necessárias 
para a potencialização das suas capacidades. Porém, pela divergência de 
interesses, essas relações tendem a se tornar conflituosas. Em decorrência, 
para viabilizar suas existências, os humanos têm desenvolvido mecanismos que 
viabilizem a resolução de conflitos. Diversos são os meios criados e utilizados 
para disciplinar as condutas na busca da harmonia social, entre eles podemos 
destacar o Direito.
É o Direito que deve garantir os interesses de cada um e impedir que uns sejam 
prejudicados pelos outros. A pessoa que tem um direito violado está sofrendo 
uma perda de alguma espécie. E quando uma pessoa que teve um direito 
ofendido não reage, isso pode encorajar a ofensa de outros direitos seus, pois 
sua passividade leva à conclusão de que ela não pode ou não quer defender-se. 
(DALLARI, 1985).
A caminho do trabalho, no dia 1º de dezembro de 1955, uma costureira negra, de 
42 anos, Rosa Parks (1913-2005), moradora de Montgomery, capital do Alabama, 
nos EUA, tomou um ônibus, sentou-se numa poltrona situada ao meio para 
frente do veículo de transporte coletivo. Minutos depois, o motorista exigiu que 
ela e outros três trabalhadores negros cedessem seus lugares para passageiros 
brancos, os quais embarcaram no ponto seguinte. Rosa Parks negou-se a 
cumprir a ordem do motorista. Foi, então, retirada do ônibus, detida e levada 
para a prisão. Em decorrência do seu ato, Rosa Parks enfrentou ameaças de 
morte, humilhações e teve até de se mudar de estado por não conseguir arranjar 
emprego no Alabama. 
completo.indb 9 09/06/2016 09:00:14
10
Capítulo 1 
No entanto, a atitude de resistência pacífica de Rosa Parks deflagrou uma 
série de protestos contra a discriminação racial nos EUA. Trabalhadores negros 
recusaram-se a embarcar em ônibus enquanto estivesse em vigor, no estado 
do Alabama, a lei discriminatória que impunha aos negros ocuparem os lugares 
do fundo dos transportes coletivos, enquanto aos brancos eram reservados 
os lugares dianteiros. Durante os protestos, era comum encontrar grupos de 
trabalhadores negros dirigindo-se a pé para o trabalho, acenando e cantando nas 
ruas, enquanto eram xingados pelos brancos.
O exemplo emblemático de Rosa Parks e os avanços ocorridos nos EUA em 
relação aos direitos civis nas décadas subsequentes demonstram que os direitos 
nascem das lutas dos seres humanos contra as formas de opressão. No entanto, 
são conquistas gradativas que se configuram no processo histórico. 
Os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são 
direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, 
caracterizados por lutas em defesa de novas liberdades contra 
velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma 
vez e nem de umavez por todas. (BOBBIO, 1992, p.5).
Compreender os direitos humanos como conquista e construção humana ao 
longo da história afirma o protagonismo das pessoas na luta pelos direitos a 
serem positivados como direitos fundamentais. Ressalta-se que as expressões 
“direitos humanos” e “direitos fundamentais” são frequentemente utilizadas como 
sinônimos. 
Segundo a sua origem e significado, poderíamos distingui-los da seguinte 
maneira: direitos do homem [humanos] são direitos válidos para todos os povos 
e em todos os tempos; [...] os direitos fundamentais seriam [são] os direitos 
objetivamente vigentes numa ordem jurídica concreta. (CANOTILHO, 1998). 
Partindo do pressuposto de que os direitos humanos resultam de conquistas 
que se materializam no processo histórico, pela ação humana, evidencia-se a 
importância das Revoluções Liberais (Inglesa, Americana e Francesa) para a 
emancipação dos indivíduos e das coletividades no contexto de construção da 
modernidade e da criação dos direitos.
No processo da Revolução Inglesa, em 1689, o Parlamento inglês apresentou 
à monarquia uma declaração de direitos (Bill of Rights), que assegurava aos 
indivíduos os direitos de liberdade, de segurança e de propriedade, como garantia 
frente ao poder soberano – e arbitrário – do Estado absolutista.
A Bill of Rights impunha limites ao poder real ao deslocar para o Parlamento as 
competências de legislar e criar tributos. Ao mesmo tempo, instituía a separação 
de poderes para evitar o autoritarismo do poder absolutista do monarca. 
completo.indb 10 09/06/2016 09:00:14
11
Estudos Socioculturais
No entanto, ao consentir em manter a imposição de uma religião oficial, a 
anglicana, – estabelecida pelo rei Henrique VIII – muitos ingleses, sem a liberdade 
de professar e manifestar sua crença religiosa, distinta da oficial, viram-se 
constrangidos a migrar para terras distantes, temerosos de perseguições. Para 
os puritanos (calvinistas ingleses), a América consistiu em alternativa para viver 
em liberdade, conforme suas crenças. 
Depois de estabelecidos na “nova Canaã”, como denominavam a América 
do Norte, os agora colonos americanos foram constrangidos, em 1765, pelas 
imposições fiscais da autoridade metropolitana – que contrariava o estabelecido 
na Bill of Rights – a recolher uma série de impostos para cobrir o déficit da Coroa 
que havia se envolvido na Guerra dos Sete Anos (1756-1763) contra a França. 
Em 1773, na cidade de Boston, ocorreu a The Boston Tea Party. Colonos que 
viviam do comércio, por se sentirem prejudicados com a Lei do Chá, disfarçaram-
se de índios peles-vermelhas, assaltaram os navios da companhia de transporte, 
que estavam ancorados no porto de Boston, lançando o carregamento de chá 
no mar. A reação inglesa foi imediata e mesmo violenta. Em 1774, os rebelados 
criaram um exército comum entre as colônias, demonstrando a fragilidade 
das suas relações com a metrópole inglesa, fato que abriu caminho para a 
independência.
Em 1776 foi elaborada a Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia, 
afirmando que todos os seres humanos são livres e independentes, possuindo 
direitos inatos, tais como a vida, a liberdade, a propriedade, a felicidade e a 
segurança, registrando o início do nascimento dos direitos humanos na história. 
(COMPARATO, 2003).
A referida Declaração de Direitos, que abriu caminho para a independência dos 
EUA, ocorrida em 4 de julho de 1776, proclamada na Filadélfia, positivada na 
Constituição da República dos Estados Unidos da América em 1787, afirmou 
que o governo tem de buscar a felicidade do povo, definiu a separação de 
poderes, estabeleceu o direito dos cidadãos à participação política, à liberdade 
de imprensa e a livre escolha da religião, conforme a consciência individual. No 
entanto, a pátria da liberdade manteve a mácula da escravidão que deixou a 
herança da segregação racial.
A prática da escravidão foi abolida nos Estados Unidos da América em 1863, com 
a Declaração de Emancipação promulgada pelo presidente Abraham Lincoln, no 
contexto de uma guerra civil, a Guerra da Secessão. No entanto, a discriminação 
racial, mesmo com a abolição, assumiu na cultura estadunidense um caráter 
segregacionista, que deu origem a inúmeras ações afirmativas e reações violentas.
completo.indb 11 09/06/2016 09:00:14
12
Capítulo 1 
Em virtude das manifestações decorrentes do protesto pacífico de Rosa Parks, 
em 13 de novembro de 1956, a Suprema Corte aboliu a segregação racial nos 
transportes coletivos de Montgomery, tornando também ilegal essa discriminação 
racial em todo o território dos EUA. Em 21 de dezembro de 1956, o ativista negro 
Martin Luther King e o sacerdote branco Glen Smiley entraram juntos num ônibus 
e ocuparam lugares na primeira fila. 
Martin Luther King organizou e liderou marchas que reivindicavam para os 
negros o direito ao voto, o fim da segregação e das discriminações, bem como a 
conquista de outros direitos civis básicos. A maior parte desses direitos foi, mais 
tarde, agregada à constituição estadunidense, com a aprovação da Lei de Direitos 
Civis (1964) e da Lei de Direitos Eleitorais (1965). 
Em 4 de abril de 1968 Martin Luther King foi assassinado em Memphis, no 
Tennessee. Em 20 de janeiro de 2009 Barack Obama tomou posse da presidência 
dos Estados Unidos como primeiro negro eleito para o comando executivo do 
mais influente Estado-nação do mundo:
Neste dia, estamos reunidos porque escolhemos a esperança 
acima do medo, a unidade de objetivos acima do conflito e da 
discórdia. Neste dia, vimos proclamar o fim dos sentimentos 
mesquinhos e das falsas promessas, das recriminações e dos 
dogmas desgastados que por tanto tempo estrangularam nossa 
política. (OBAMA, 2009).
A sociedade organizada com justiça é aquela em que os encargos e os benefícios 
são partilhados entre todos, pois os direitos, para além da sua criação histórica 
e positivação jurídica, precisam constituir-se em prática social. A Declaração 
de Direitos do Povo da Virgínia (1776) consistiu numa ação pioneira na luta 
pelos direitos humanos ao reivindicar direitos políticos e justiça social, porém, 
apresentava, na época, como referido, caráter seletivo. No entanto, foi a 
Declaração dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembleia Nacional francesa, 
no contexto revolucionário, em 1789, que exerceu grande influência sobre os 
movimentos emancipacionistas e libertários na modernidade, pelo seu caráter de 
universalidade.
A França quer ser exemplar, não para ensinar, mas porque é 
a história dela, é sua mensagem. Exemplar para as liberdades 
fundamentais: é a sua luta, é também sua honra. Esta é a razão 
pela qual a França vai continuar a realizar todas essas lutas: 
para a abolição da pena de morte, pelos direitos das mulheres 
à igualdade e dignidade, para a descriminalização universal da 
homossexualidade, que não deve ser reconhecida como um 
crime, mas, pelo contrário, reconhecida como uma orientação. 
completo.indb 12 09/06/2016 09:00:14
13
Estudos Socioculturais
[...]. Todos os países membros [da ONU] têm a obrigação de 
garantir a segurança de seus cidadãos, e se um país adere a 
esta obrigação, então é imperativo que nós, nas Nações Unidas, 
facilitemos os meios necessários para fazer essa garantia. Estas 
são as questões que a França vai levar e defender nas Nações 
Unidas. Digo isso com seriedade. Quando há paralisia e inação, 
então a injustiça e a intolerância podem encontrar o seu lugar. 
(HOLLANDE, 2012).
Os revolucionários franceses de 1789 iniciaram a Declaração de Direitos do 
Homem afirmando, no artigo primeiro, que “Os homens nascem e são livres e 
iguais em direitos”, e no artigo quarto enfatizam que 
A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o 
próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem 
não tem por limites senão aquelesque asseguram aos outros 
membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes 
limites apenas podem ser determinados pela lei. 
Outro aspecto relevante da Declaração de Direitos criada pelos franceses está 
explicitado no artigo dezesseis, nos seguintes termos: “A sociedade em que não 
esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos 
poderes não tem Constituição.” (DALARI, 1985, p. 53-54). 
O século XX foi marcado por duas grandes guerras de proporções mundiais. Na 
origem dessas guerras está o choque entre interesses imperialistas das potências 
capitalistas e seus asseclas. A ambição pelo poder e pela riqueza, somada ao 
desprezo aos direitos humanos, explicam os horrores gerados pelos referidos 
conflitos, materializados em privações das liberdades e das garantias individuais 
e sociais, crises de desabastecimento, bombardeios, destruição, terror e mortes 
físicas e psicológicas.
O trauma causado pelas referidas guerras impeliu as lideranças mundiais à 
criação e consolidação de uma organização (ONU) com o propósito de: assegurar, 
por meios pacíficos, a manutenção da paz internacional; lutar pela defesa dos 
direitos humanos; estabelecer relações amistosas entre as nações, com base 
no princípio de autodeterminação dos povos; gerar mecanismos de cooperação 
entre os países na busca de solução para os problemas internacionais de 
ordem econômica, social, cultural e humanitária; e constituir-se em centro de 
convergência das ações dos Estados-nação na luta por objetivos comuns.
Para que fosse permanentemente relembrado o valor da pessoa humana e para 
estabelecer o mínimo necessário que todos os países e todas as pessoas devem 
respeitar, a ONU encarregou um grupo de pessoas muito respeitadas, entre as 
quais havia filósofos, juristas, cineastas, políticos, historiadores, de várias partes 
do mundo, para redigir uma nova Declaração de Direitos. 
completo.indb 13 09/06/2016 09:00:14
14
Capítulo 1 
Esses estudiosos reuniram-se, pediram a opinião de muitas outras pessoas e 
prepararam um documento que proclama os Direitos Humanos, os quais devem 
ser considerados fundamentais. (DALLARI, 1985, p. 51 e 52).
Os autores da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela 
Assembleia Geral das Nações Unidas, em Paris, no dia 10 de dezembro de 1948, 
evitaram redigir uma mera carta de intenções. Nos artigos da referida declaração 
foram incluídas exigências que devem ser atendidas para que a dignidade 
humana seja respeitada. O artigo terceiro, por exemplo, lembra que “Todo homem 
tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. Em decorrência, no artigo 
quarto está expressamente ordenado que “Ninguém será mantido em escravidão 
ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as 
suas formas.”
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi assinada por países do mundo 
inteiro, inclusive pelo Brasil, valendo como um compromisso moral desses países. 
É necessário que o maior número possível de pessoas conheça a Declaração, 
para cobrar de seus governos o respeito ao compromisso assumido. (DALLARI, 
1985, p. 52).
Leia na íntegra os trinta artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos: 
http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/index.html#deconu
A ênfase da referida Declaração está na internacionalização dos direitos humanos, 
fixando-o no contexto internacional dos direitos fundamentais, ensejando a 
prevalência desse no ordenamento jurídico dos Estados signatários do referido 
documento e daqueles que se integram à comunidade das nações unidas como 
filiados da ONU.
O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, criado em 2006, em 
substituição à Comissão das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos, criticada 
pela tolerância com Estados cujas ações constituíam desrespeito aos direitos 
humanos, tem como objetivo combater as violações aos direitos humanos em 
todo o mundo.
O Brasil, membro da ONU, signatário da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, define na Constituição Federal, promulgada em 1988, os direitos 
fundamentais no título II, Dos Direitos e Garantias fundamentais. O capítulo I 
dos Direitos Individuais e Coletivos é constituído pelo artigo 5º, com 78 incisos, 
alinhados com o referido documento da ONU. No caput deste artigo lê-se: “Todos 
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, 
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, [...].”
completo.indb 14 09/06/2016 09:00:14
15
Estudos Socioculturais
A dificuldade da concretização dos direitos humanos, entre outros fatores, reside 
na adoção, pelos Estados-nação, de políticas seletivas, dando prioridade a alguns 
direitos e postergando a positivação de outros.
Ressalta-se que os direitos humanos foram sendo positivados de maneira 
gradativa. Estudiosos do tema, para fins didáticos, sem desconsiderar o princípio 
estrutural de indivisibilidade, apontam para quatro gerações de direitos que foram 
sendo criados e incorporados às constituições dos Estados-nação ao longo do 
processo histórico-social na modernidade.
Na escala evolutiva dos direitos, legislados ao longo dos séculos XIX e XX, há 
quatro gerações sucessivas de direitos fundamentais:
 • Os direitos de primeira geração: Os direitos de liberdade foram os 
primeiros a constar dos instrumentos normativos constitucionais, 
a saber: os direitos civis e políticos. Os direitos de liberdade têm 
por titular o indivíduo. Os direitos de liberdade fazem ressaltar, na 
ordem dos valores políticos, a nítida separação entre a Sociedade 
e o Estado, e a submissão do segundo à primeira. Essa geração de 
direitos corresponde aos direitos diretamente ligados ao conceito de 
pessoa humana e de sua própria personalidade, como, por exemplo: 
vida, dignidade, honra, liberdade. Basicamente, a Constituição de 
1988 os prevê no art. 5º, tão significativo para todos os brasileiros.
 • Os direitos de segunda geração: decorrem dos efeitos 
provocados pelas transformações econômicas e sociais gerados 
pela industrialização e urbanização. São os direitos sociais 
vinculados aos econômicos, bem como os direitos coletivos e os de 
coletividades. Nasceram em decorrência das lutas dos trabalhadores 
e estão articulados ao princípio da igualdade. A consciência de um 
mundo partido entre nações desenvolvidas e subdesenvolvidas deu 
lugar a que se buscasse outra dimensão dos direitos fundamentais, 
aquela que se assenta sobre a fraternidade. Dotados de altíssimo 
teor de humanismo e universalidade.
 • Os direitos de terceira geração: tendem a cristalizar-se enquanto 
direitos que não se destinam especificamente à proteção 
dos interesses de um indivíduo, de um grupo ou determinada 
sociedade, pois seu destinatário primeiro é o gênero humano e 
sua existencialidade concreta. Emergiram da reflexão sobre temas 
referentes à autodeterminação dos povos, incluindo o direito 
ao desenvolvimento, à paz, à dignidade humana, o combate às 
diferentes formas de discriminação, bem como a necessidade de 
universalizar o acesso aos bens necessários para a vida digna, ao 
meio ambiente equilibrado, ao patrimônio comum da humanidade. 
completo.indb 15 09/06/2016 09:00:15
16
Capítulo 1 
 • Os direitos de quarta geração: constituem-se no direito à 
democracia, à informação, à defesa da vida, à proteção da 
intimidade, o direito à diferença e o respeito ao pluralismo num 
mundo multicultural. (Texto adaptado de palestra proferida por Paulo 
Bonavides, quando do aniversário de quinze anos da Constituição 
Federal do Brasil, promulgada em outubro de 1988.).
Considerando este resumo, você, caro aluno(a), pode alargar sua compreensão 
sobre os Direitos Humanos e sua positivação na legislação brasileira. São muitas 
as possibilidadespara aprofundar estudos nesta área. Selecionamos no EVA 
para vocês o texto do autor SARMENTO, Jorge. AS GERAÇÕES DOS DIREITOS 
HUMANOS E OS DESAFIOS DA EFETIVIDADE. Leia e destaque alguns avanços e 
possibilidades de efetividade dos Direitos Humanos na vida dos brasileiros.
Apesar de inúmeras dificuldades produzidas historicamente, o Brasil tem 
buscado, em meio às desigualdades econômicas e sociais, promover ações 
destinadas à emancipação dos indivíduos na busca e efetivação dos direitos 
fundamentais. A discussão dos direitos humanos e as ações políticas e práticas 
empreendidas por meio de programas governamentais e iniciativas da sociedade 
civil tem criado condições objetivas para a promoção da cidadania e o respeito 
aos direitos humanos. No entanto, ainda existem brasileiros sem acesso aos 
meios que os assegurem usufruir dos direitos fundamentais.
Direitos humanos como prática social 1 
Valéria Rodineia Zanette
Em tempos de pluralidade de valores, como é o caso da contemporaneidade, 
é bastante complexo estabelecer conteúdos gerais a que todos devem seguir, 
mesmo que esses conteúdos sejam os direitos humanos. Ocorre que tais direitos 
conseguem até se fazer presentes nos ordenamentos jurídicos de muitos Estados. 
Prova disso é o fato de um grande número deles terem assinado a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos. Mas a verdade é que, no cotidiano das pessoas, 
os direitos humanos, muitas vezes, estão ausentes ou inexistem. 
1 Extraído de: ZANETTE, V.R. Schulze. Desafios da cidadania e dos direitos humanos na contemporaneidade. 
In: Ética, cidadania e direitos humanos. Livro digital, 5ª ed. Palhoça: UnisulVirtual, 2012.
completo.indb 16 09/06/2016 09:00:15
17
Estudos Socioculturais
É consenso, entre muitos autores que tratam do tema dos direitos humanos, 
que a democracia e o Estado de direito são elementos indispensáveis para a 
realização desses direitos. No entanto, como já deve ser de seu conhecimento, 
existe mais de um tipo de Estado de Direito, bem como mais de um tipo de 
democracia. Qual Estado e qual sistema democrático praticam melhor os direitos 
humanos? Aliás, algum desses pode realizar tais direitos? 
Como uma resposta à própria evolução histórica, podemos observar que muito se 
tem evoluído na garantia dos direitos humanos, no próprio entendimento do que 
eles são e de sua importância na sociedade mundial e brasileira. 
Tendo feito essa análise dos direitos humanos até o presente, cabe agora pensar: 
quais são os desafios dos direitos humanos, hoje? E amanhã? Mais ainda: pode-
se afirmar que os direitos humanos são efetivamente garantidos no Brasil? E 
no mundo? A resposta mais rápida e fácil a ser dada é que, evidentemente, os 
direitos humanos não são garantidos de maneira efetiva como um todo; e nem 
para todos, como podemos ver a seguir. 
No passado, o Brasil vivia em um Estado escravagista, em que o negro africano 
não merecia direitos porque não era visto como pessoa, mas sim como 
propriedade. Para ter direitos, tinha-se que preencher requisitos importantes 
como: o sexo, a cor da pele, a classe social, as relações de poder, a religião etc. 
O que vemos atualmente é um Brasil bastante evoluído, mas distante, muito 
distante, de ser chamado de um país alheio às discriminações. O que falar das 
inúmeras leis que tentam garantir um tratamento digno aos homossexuais, que, 
no fundo, ainda enfrentam, diariamente, situações discriminatórias? E, no caso da 
mulher que os relatórios estatísticos de violência revelam a grave desigualdade 
de gênero? E da diferença salarial entre homens e mulheres? E o nordestino que 
escuta diariamente piadinhas de sua origem? E, pior ainda, daqueles que, pelo 
simples fato de serem pobres, são taxados de marginais? 
Tais circunstâncias são corriqueiras e fazem parte do cotidiano de todos nós, de 
forma tão natural que nem parece uma verdadeira afronta aos direitos humanos. 
A conscientização de todos em relação a isso é um processo demorado. De 
qualquer forma, o Brasil tem trabalhado bastante na elaboração de um sistema 
normativo que prima pelos direitos fundamentais, assim como na ratificação e 
engajamento aos direitos humanos no plano internacional. Sendo assim, o que 
falta então? 
O problema está no cumprimento das normas jurídicas criadas, sejam elas de 
direitos humanos ou fundamentais. Bem como assevera Norberto Bobbio (1992, 
apud PIOVESAN, p. 110), o problema dos direitos humanos hoje: “não é mais o 
de fundamentá-los, e sim o de protegê-los”. 
completo.indb 17 09/06/2016 09:00:15
18
Capítulo 1 
Uma constatação negativa é que ainda temos trabalho escravo em todas as 
regiões do país, como descreve Breton (2002, p. 25): 
Hoje em dia as coisas são um pouco mais sutis. Você não possui 
a pessoa, você apenas a usa por quanto tempo precisar dela. É 
a escravidão por dívida. Funciona assim: oferecem um emprego 
para o cara, dão um adiantamento, e ele começa a trabalhar. 
Quando chega o dia do pagamento, ele descobre que está 
endividado. Tem de descontar o adiantamento, o pagamento do 
transporte e o que deve na cantina – alimentos, ferramentas e 
remédios – a dívida não termina nunca. 
Com isso, as pessoas trabalham, horas a fio, no meio do nada, correndo risco 
de vida e, ao final, o que recebem é muito pouco. A boa notícia é que a Justiça 
Federal está condenando fazendeiros por terem submetido trabalhadores a 
condições semelhantes à escravidão: pessoas que vivem sem remuneração, 
presas a relações de dívidas forjadas e as mais variadas condições degradantes 
de trabalho, expostas a existência de alojamentos precários, instalações 
sanitárias em péssimo estado de conservação, não fornecimento de água potável, 
não fornecimento de equipamentos de proteção individual, entre outras. São 
muitas as situações sendo superadas pela ação dos órgãos que combatem o 
trabalho análogo a escravo.
Outro exemplo são as ações afirmativas, como o sistema de cotas nas 
universidades. Esse sistema foi criado com o intuito de promover a igualdade 
material, já que as pessoas negras, constantemente, formam um número muito 
inferior nas universidades. Isso pode ser justificado como uma consequência 
das desigualdades econômicas, pois as pessoas negras não têm acesso a 
uma educação fundamental de qualidade, precisam trabalhar para seu próprio 
sustento e de sua família, ficando impossibilitadas de competir, em grau de 
igualdade, com os outros com melhores condições e preparo. 
Nesse contexto, 
[...] o Estado abandona sua tradicional posição de neutralidade 
e de mero espectador dos embates que se travam no campo 
da convivência entre os homens e passa a atuar ativamente 
na busca de concretização da igualdade positivada nos textos 
constitucionais. (GOMES, 2001, p. 20). 
Mesmo parecendo um caminho simples, muitos brasileiros, na verdade, são contra 
esse tipo de ação. Não conseguem entender que tudo isso faz parte de um círculo 
vicioso e que, se não forem promovidas ações discriminatórias positivas em favor 
dos desprivilegiados, possivelmente o caminho ainda será mais longo para se 
alcançar a igualdade. O caso do acesso ao ensino superior ilustra, bem, isso. 
completo.indb 18 09/06/2016 09:00:15
19
Estudos Socioculturais
Uma das principais argumentações contra o “sistema de cotas” era que, mesmo 
conseguindo entrar na universidade, os cotistas acabariam por desistir, ou mesmo 
que isso acabaria por prejudicar o próprio andamento do curso, já que esses não 
conseguiriam acompanhar os outros estudantes em decorrência do déficit no 
ensino médio. No entanto, pesquisas produzidas, por exemplo, Mandelli (2010), 
destacam o fato de que, mesmo vindo de um ensino médio defasado, o esforço 
dos cotistas é tamanho que apresentam bom desempenho acadêmico. 
As mulheres também são objeto desse tipo de ação, como é o caso de se 
destinar a elas um número decadeiras no executivo. Essa ação afirmativa em 
benefício das mulheres também é uma forma de promover o tratamento igualitário 
entre homens e mulheres, possibilitando-se que ambos tenham acesso na 
administração do nosso país. 
Mas, certamente, há alguns passos importantes a serem dados nessa busca da 
igualdade entre homens e mulheres, já que, infelizmente, a mulher ainda recebe 
salários inferiores (mesmo exercendo a mesma função), ocupa menos cargos de 
chefia (mesmo quando apresenta alto grau de instrução), entre outras situações 
corriqueiras a serem conquistadas pelo gênero feminino. A violência doméstica e 
familiar contra a mulher é uma das evidências mais graves das desigualdades de 
gênero.
Considerando isso e verificando a elevação dos índices de violência e a frágil 
segurança pública a que o povo brasileiro tem sido remetido, seu direito está 
longe de ter a proteção necessária. 
A vida e a boa convivência social são essenciais para a humanidade e compete 
a todos nós, sociedade e organizações do Estado, zelarmos pela sobrevivência 
saudável e sustentável, nossa e do meio ambiente.
Outro elemento que contribui para o direito à vida saudável é o acesso à 
saúde. O Brasil conta com um sistema único de saúde (SUS) reconhecido 
internacionalmente pela sua cobertura e universalização do acesso, no entanto, 
ele não possibilita atendimento satisfatório. Além da falta de atendimento, os 
profissionais da saúde regularmente protestam por “melhores condições de 
trabalho”. No concernente ao saneamento básico, a realidade evidencia que 
metade dos domicílios brasileiros não possuem qualquer ligação com a rede 
coletora de esgoto, sendo que quanto mais pobre a região, maior o descaso. 
Também está entre os basilares dos direitos civis o direito de “não ter o lar 
violado”. Isso vai depender de uma série de circunstâncias para que realmente 
seja respeitado, tais como: o bairro em que mora, o tipo de policial que está em 
atividade e, até mesmo, o momento histórico. Tudo isso pode ser comprovado se 
nos lembrarmos das invasões que ocorrerem nas favelas dos grandes centros, 
em que absolutamente todos os “barracos” são invadidos, mesmo ali morando 
pessoas de bem. Essas acabaram pagando por estarem no lugar e no momento 
errado. 
completo.indb 19 09/06/2016 09:00:15
20
Capítulo 1 
Muitas pessoas constroem suas moradas em áreas de risco, de preservação 
ambiental, em lugares que geram perigos à vida. A violação do direito à moradia/ 
habitação é constante. Acompanhamos diariamente despejos forçados sem 
cumprir as determinações internacionais de realojar essas pessoas, pois, na 
prática, elas são retiradas por meio de força policial (que nada mais é do que o 
braço do próprio Estado). Irresponsabilidades pessoais, privadas e do Estado 
gerando insegurança às famílias, regiões, cidades, pela falta de condições de um 
habitar seguro.
Os direitos humanos são a melhor forma de se defender e garantir a liberdade 
pública, assim como de se proporcionarem as condições mínimas para uma 
existência digna. E, para isso, conta-se com os poderes executivo, legislativo e 
judiciário, voltados para o fortalecimento da democracia e da paz social. 
O poder judiciário é o último guardião dos direitos humanos, isso porque é a 
ele que o indivíduo, provado de seu direito, vai buscar guarida. E, por isso, é 
tão importante que todos esses poderes estejam preparados para tamanha 
responsabilidade: a de garantir os direitos humanos fundamentais. 
A busca pela efetividade dos direitos humanos – principalmente dos direitos 
econômicos, sociais e culturais – passa pela efetivação de políticas públicas e 
pela responsabilidade de todas as instâncias e poderes. Muito ainda precisa ser 
feito, principalmente visando à busca da universalidade e indivisibilidade dos 
direitos humanos, porque o desrespeito aos direitos civis e políticos e a ausência 
dos direitos econômico-sociais remete a preconceitos, exclusão e desigualdades 
evidentes. Aqueles em situação de maior vulnerabilidade social são os mais 
atingidos. São aqueles que vivem em locais com precárias condições de vida, 
sem instrução, sem segurança, às margens da sociedade, os mais suscetíveis 
à violência da criminalidade comum, são vítimas de balas perdidas, de violência 
na escola, de doenças relacionadas à falta de saneamento básico, entre outras 
violações.
Essas desigualdades ficam ainda mais evidentes quando relacionadas às 
minorias, porque, por mais que sejam promovidas leis com o intuito de promover 
a igualdade, ainda enfrentam grandes obstáculos, diariamente. 
Vejamos o caso das mulheres, das crianças e dos idosos. As mulheres, 
como já dito, ainda estão num processo intenso de busca de valorização. 
Profissionalmente, precisam provar que são tão capazes quanto os homens 
para merecerem respeito, quando em muitas circunstâncias são muito mais 
capacitadas. Em casa, nem todas mantêm relações de respeito e igualdade na 
divisão das responsabilidades.
completo.indb 20 09/06/2016 09:00:15
21
Estudos Socioculturais
As crianças ainda são as que mais sofrem as vicissitudes da miséria e da 
violência, já que, por si só, não possuem maturidade para lutarem pela sua 
própria subsistência e proteção. E, quando acontece de lutarem, a falta de 
estrutura sempre leva a caminhos bastante tortuosos, que o digam as crianças de 
rua nas cidades brasileiras, entregues ao abandono, aos vícios, aos abusos. 
Os idosos também têm sido objeto de legitimação, na tentativa de a sociedade 
ou os órgãos públicos promover-lhes certa qualidade de vida quando chegam 
à terceira idade. O fato é que a realidade ainda está distante de acompanhar as 
normas. Constatam-se abandonos, descasos, fragilidades, violências tanto por 
parte das famílias quanto por parte do Estado. 
Quanto aos direitos políticos, esses não são amplamente assegurados quando o 
povo não tem um mínimo de instrução para entender a importância de seus atos 
e de suas escolhas, quando prevalece nas práticas dos gestores públicos práticas 
de manobras conduzidas pelos interesses pessoais, políticos partidários, de 
grupos privilegiados acima dos interesses coletivos e da república.
Podem ser citados muitos outros direitos que são violados diariamente em nosso 
país, os quais são resultados de muitos fatores, entre eles deve ser ressaltada 
a falta de informação e até de educação da população quanto aos seus direitos 
humanos. A importância de nos percebermos como sujeitos transformadores da 
vida, dos ambientes de convivência, do local onde moramos, da cidade, do país. 
A paz, a solidariedade, a sustentabilidade a democracia são pilares de uma 
sociedade que todos precisamos visualizar e ajudar a construir. Muito já 
avançamos, precisamos continuar nos colocando como protagonistas da vida e 
da história.
Existem muitas iniciativas que evidenciam a responsabilidade do Estado e da 
sociedade com os Direitos Humanos, veja algumas iniciativas no site da Secretaria 
de Direitos Humanos: http://www.sdh.gov.br e no site da Secretaria de Políticas para 
Mulheres: http://www.spm.gov.br. Os links estão disponíveis no EVA.
Assim, entendemos que: não basta a incorporação dos direitos humanos ao 
ordenamento jurídico brasileiro se esse não for do conhecimento de todos. Faz-
se necessária a promoção da educação para os direitos humanos, a fim de que 
a população em geral possa conhecê-los para então buscá-los, respeitá-los e 
vivenciá-los. 
completo.indb 21 09/06/2016 09:00:15
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completo.indb 22 09/06/2016 09:00:15
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Capítulo 2
Identidade e culturas 
Jaci Rocha Gonçalves
Identidade, ethos cultural e relações pluralistas 
As teorias clássicas da sociologia mostram um macro-olhar sobre a realidade dos 
grupos humanos e de suas organizações. É da placenta da sociologia que nasce 
a antropologia social ou também chamadaAntropologia cultural. 
Essa ciência auxilia os profissionais de todas as áreas a elaborarem um olhar 
atento para a miudeza, para o micro das sociedades humanas que, muitas vezes, 
passa despercebido aos profissionais em sua área específica de conhecimento. 
É como se buscássemos o constitutivo próprio do humano, dando-lhe identidade 
entre os seres da criação, ou seja, configurando-lhe um jeito-de-ser, um ethos 
cultural capaz de gerar respostas diferentes para necessidades iguais. 
Foi o que aconteceu recentemente com um aluno de ciências contábeis 
da UNISUL, ao auxiliar uma comunidade mbyá-guarani na atualização da 
personalidade jurídica criada para a aldeia. Foram dois anos de troca de saberes. 
No período de visitação e observação, o acadêmico passou por vários estágios, 
até que descobriu naquele povo a existência de uma etno-matemática. Fez a 
experiência de estranhamento 1, questionando o porquê havia apenas aprendido 
a matemática greco-romana e arábica. Pesquisou, então, no TCC, intitulado 
Contador pluralista: ensaio de contabilidade com os mbyá-guarani das 
aldeias Ka´akupé e kuri´y sobre a etno-matemática guarani. A banca lhe 
deu nota em guarani. Foi outra surpresa. Os docentes mostraram ao formando 
a importância de fortalecer esse olhar antropológico-cultural de pesquisador 
pluralista de ciências contábeis. 2 Portanto, o encontro com o diferente cultural 
pode revelar nossa identidade, nosso jeito de ser eternos aprendizes.
1 Segundo Laplantine (2005, p. 3) “estranhamento (depaysement) é essa experiência de perplexidade 
provocada pelo encontro das culturas que são para nós as mais distantes, e cujo encontro vai levar a uma 
modificação do olhar que se tinha sobre si mesmo.” 
2 Consulte o TCC de SILVA JUNIOR, Ivo. O contador pluralista (…) no blog Revitalizandoculturas: blogspot.com.br 
completo.indb 23 09/06/2016 09:00:15
24
Capítulo 2 
Quanto à construção identitária pessoal, podemos utilizar a análise filológica 
dos termos antropologia e cultura, seguindo o que dizem alguns filósofos, como 
Leonardo Boff (2001). Eles nos advertem que palavras como antropologia e 
cultura “estão grávidas de significados existenciais porque reúnem infindáveis 
experiências, positivas e negativas, de busca, de encontro, de certeza, de 
perplexidade e de mergulho no ser. Com os dados da filologia, podemos 
desentranhar sentidos das palavras com suas riquezas escondidas.” (BOFF, 2001, 
p. 83). 
Para nossa identidade, interessa-os a análise do significado de antropologia. Vem 
do grego Άντθρωπος (ánthropos), que significa humano. Desse termo podemos 
deduzir o que os antigos pensavam de si mesmos, e dos seres humanos. De fato, 
Άντθρωπος (ánthropos) é composto pelo prefixo Άν, que quer dizer, todo aquele 
que (com ideia de desejo, possibilidade, que afirma ou interroga de maneira 
suave). A outra parte vem do verbo Τρέφω (tréfo), que significa crescer. 
Portanto, os antigos davam o nome de ánthropos ao ser humano enquanto ser 
que cresce se desenvolve, é bem nutrido, educado, tem força e está disposto. É 
o oposto de átrofos, ser que está impedido de crescer, ou seja, definha, atrofia. 
Assim, ánthropos é o humano enquanto ser que inclusive enfrenta o átrophos, a 
atrofia. É como a origem do termo “humano”, em português. Vem do latim homo, 
do substantivo húmus que significa terra fértil. Assim, húmus=homo=humano; 
portanto, os humanos nascem para ser como o húmus, terra fértil. 
Como se vê pela filologia, os sentidos de homo e de ánthropos se encontram, 
embora elaborados em lugares e culturas diferentes. Em ambas as culturas, o 
humano é visto como ser que cresce, ser bem nutrido, ser que previne e supera 
atrofias. 
Cabe, pois, a todo profissional, o direito e dever de construir uma visão, um olhar 
antropológico-cultural pluralista de dualidade sobre o humano como ser holístico 
e diverso. Tanto nas pesquisas interativas das ciências biológicas, ciências 
sociais, tecnológicas como na saúde. De um lado, aprender a arte da inteireza 
de ser e, de outro, capacitar-se a ver a diversidade como um constitutivo do 
universo, da biodiversidade e, sobretudo, do humano. Porque só ao humano é 
dado, como ser consciente, ter um viver pluralista, multicultural. 
Na verdade, o pluralismo, acrescenta à pluralidade sua aceitação consciente 
e procurada. A pessoa pluralista opta pelo diálogo. O diálogo abre horizontes 
e supõe corações abertos. Quem tudo sabe, não dialoga; só ensina. Quem se 
considera melhor, não dialoga, só julga. É a atitude da humildade (parecer-se com 
o HUMUS) que nos convida à opção pelo diferente. (GONÇALVES, 1995).
Nesse modo-de-ser humano, de ser ánthropos, é determinante a inteligência 
relacional. 
completo.indb 24 09/06/2016 09:00:15
25
Estudos Socioculturais
Para uma performance eficiente, deve investir no cuidado adequado das relações 
culturais consigo, com o outro e o mundo; daí, sua saúde ético-ontológica 
(HEIDEGGER apud GONÇALVES-IUNSKOVISKI, 2015). A primeira relação do 
sujeito é com o seu ethos cultural, ou seja, o modo particular de viver e de habitar 
eticamente o mundo que uma comunidade tem ao fazer sua história. 
Consequentemente, passa a ser também fundamental a endoculturação, ou seja, 
o processo de cultivo do ethos cultural por meio de uma sadia interação de quem 
valoriza seu contexto vital. Endoculturação sublinha a relação positiva do sujeito 
ao interno de sua cultura semelhante à socialização - do vocabulário sociológico 
e psicológico (AZEVEDO, 1986, p. 413). Esse cuidado endocultural é importante 
não só para cada pessoa mas, sobretudo, para agregar valor a toda pessoa 
estudiosa, como nós, denominada pelo filósofo italiano Antonio Gramsci, como 
pessoa intelectual orgânica. Optando pela formação universitária, o indivíduo 
resolveu construir um perfil crítico-criativo e solidário-pluralista na sociedade em 
que vive. 
É uma postura saudável para nutrir o ethos pessoal e sociocultural na convivência 
com o outro diferente, possibilitando também viver uma adequada aculturação. 
Essa relação designa todo processo de transformações que se verificam numa 
pessoa ou grupo pelo contato com uma cultura que não é a sua ou pela interação 
de duas ou mais culturas distintas, sem perder sua identidade. A pesquisa 
antropológica, sem nunca se substituir aos projetos e às decisões dos próprios 
atores sociais deve propor instrumentos que os ajudem a reagir ao “choque 
da aculturação, isto é, ao risco de um desenvolvimento conflituoso, levando 
à violência negadora das particularidades econômicas, sociais e culturais de 
um povo.” (LAPLANTINE, 1997). O mesmo autor pede atenção para outras 
duas urgências que fazem a nossa diferença identitária pessoal e comunitária, 
sobretudo, enquanto intelectuais orgânicos pluralistas. 
A primeira urgência é a preservação dos patrimônios culturais locais ameaçados. 
Lutamos contra o tempo para que a transcrição dos arquivos orais e visuais 
possa ser realizada a tempo, enquanto os últimos depositários das tradições 
ainda estão vivos. A segunda urgência é promover a restituição aos habitantes 
das diversas regiões nas quais trabalhamos, do seu próprio saber e saber-fazer. 
(LAPLANTINE apud GONÇALVES, 2016a, p. 49). A Constituição Brasileira de 1988 
(arts 215-216) pede resposta a essas urgências.
Essas urgências pedem ruptura com a concepção assimétrica da pesquisa, ou 
seja, baseada apenas na captação unilateral de informações sem se importar com 
a reciprocidade entre os sujeitos envolvidos na pesquisa, dispostos a não perder 
formas originais e únicas de pensamento e de atividades. Essas urgências se 
acentuam no Brasil com relação não só aos povos originários mas também aos 
afro e de descendência euro-asiáticas. 
completo.indb 25 09/06/2016 09:00:15
26
Capítulo 2 
Darcy Ribeiro (2006) resume essas urgências na sentido de “negar as negações”seculares e, na mesma proporção, fortalecer as afirmações das ricas diferenças 
de saberes e fazeres próprias dos trópicos.
Podemos concluir essa reflexão sobre as relações com o diferente cultural, 
analisando relações etnocêntricas tão comuns na construção histórica 
de nossa identidade de povo brasileiro. Existente na humanidade, essas 
relações etnocêntricas tomaram contornos mundiais nos últimos 600 anos 
de modernidade, ou seja, a partir das Grandes Navegações e da invenção da 
prensa. Seguiu-se uma dupla ideologia pendular entre fascínio e recusa da 
alteridade originária ameríndia e africana. Elas resultaram em complexas relações 
crônicas de negação de identidades que ainda repercutem em nosso cotidiano 
atual. Somos refratários da intolerância, fruto do chamado etnocentrismo ou 
transculturação. 
É uma relação de possível ou efetiva transferência unilateral e, 
eventualmente, impositiva, de sentidos e valores, de símbolos, 
padrões e instituições, de uma cultura específica para outras 
culturas. Transculturação, nesta acepção, conota, de algum 
modo, uma postura etnocêntrica e/ou dominante da cultura 
emissora, autossuficiente na consciência da própria superioridade 
cultural. A cultura que assim opera, afetando as outras 
profundamente, tende, contudo, a não se deixar influenciar por 
elas. (AZEVEDO, 1986, p. 413).
As conseqüências das relações etnocêntricas ao longo da história de ontem e 
de hoje são caóticas. A colonização certamente não foi a única, mas, a mais 
marcante. Como exemplos de visão eurocêntrica pode-se transcrever a opinião 
de Cornelius de Pauw (1774), sobre os índios da América do Norte. Diz ele que os 
americanos têm “temperamento tão úmido quanto o ar e a terra onde vegetam”, 
isso explica que eles não têm nenhum desejo se xual. Em suma, são “infelizes que 
suportam todo o peso da vida agreste na escuridão das florestas; parecem mais 
animais do que vegetais”. (PAUW, 1774, apud LAPLANTINE, 2005, p. 43).
Hegel em Introdução à Filosofia da História (1830) se horroriza com os povos extra-
europeus: os originários das Américas e da Ásia e, sobretudo, da África do interior 
pertencem a uma infra-humanidade: “Ele cai”, escreve Hegel, “para o nível de uma 
coisa, de um objeto sem valor”. (Idem, p. 47).
Esta visão transculturadora, etnocêntrica deixou marcas de etnocídios históricos 
como no México entre 1532-1568 de mais de 14 milhões de mortos e que tem 
sido objeto de estudiosos, como Enrique Dussel (1986). 
completo.indb 26 09/06/2016 09:00:15
27
Estudos Socioculturais
Abordamos fatos e causas dos etnocídios a partir do Diário de Bordo de 
Colombo; também ele, o comandante, entre a admiração religiosa e a violência 
que você pode aprofundar. (GONÇALVES, 2016a, p.41-45). Seguiu-se um 
interminável genocídio ou etnocídio feito pelos conquistadores, como o lembrado 
acima no México. Dussel (1986) comenta que se fizesse a busca estatística do 
mesmo fenômeno de extermínio e genocídio na América do Norte, o horror seria, 
provavelmente, bem maior. 
No Brasil, os atos praticados pela colonização desde 1500 aos 900 povos 
originários sustentaram um genocídio com extinção paulatina: dos cinco milhões, 
hoje restam 350 mil originários e cerca de 250 etnias. De acordo com os números 
referidos pelo etnógrafo Francisco Dias Tano, os Bandeirantes, nas ofensivas 
entre 1636-1638 às vinte e cinco reduções indígenas dos Sete Povos das 
Missões, transformaram em escravos e/ou mataram trezentos mil índios.
Sete Povos das Missões é o nome que se deu ao conjunto de sete aldeamentos 
indígenas fundado pelos Jesuítas espanhóis no Continente do Rio Grande de São 
Pedro, atual Rio Grande do Sul, composto pelas reduções de São Francisco de 
Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São 
Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio.
Outro horror legalizado pela jurídica eurocêntrica transculturadora na história 
brasileira foi com os africanos forçados a trabalharem aqui como escravos desde 
1550. Gonçalves (1995, p. 76) mostra que essa coisificação legalizada de pessoas 
teve sua garantia jurídica pela Lei do Padroado português. As Constituições da 
Bahia de 1707 restringem os direitos à cidadania do originário, do judeu, do negro 
e das pessoas com deficiência. Eles não poderiam ter acesso às ordens sacras, 
por exemplo. No Título LIII, art. 224, as alíneas determinam esses impedimentos. 
(GONÇALVES, 2016a, p. 41-45). 
Na Guerra do Paraguai (1860-1870) acontece mais um genocídio negro-guarani 
oficial. Junto aos 75% dos guarani do Paraguai mortos para completar no 
genocídio indígena de 1750-1763, cem anos antes, a Guerra do Paraguai matou 
40% da população negra brasileira, cerca de um milhão de negros. Foi a primeira 
vez na História do Brasil que os negros diminuíram em números proporcionais e 
absolutos em relação à população branca. Em 1800 havia um milhão de negros 
no país; em 1860, 2,5 milhões; em 1872, apenas 1,5 milhão. Um verdadeiro 
processo de arianização ou embrancamento do Império. (GONÇALVES, 1995, p. 
59).
completo.indb 27 09/06/2016 09:00:15
28
Capítulo 2 
Os estudos sobre a negritude e o escravismo no Brasil foram muito prejudicados 
pelo decreto do Ministro Rui Barbosa, em 1890. Ele ordenou a destruição de todos 
os documentos relacionados com a escravidão. Além dos documentos destruídos 
e desaparecidos, há os que permanecem sepultados nos arquivos. (GONÇALVES, 
2016a, p. 52-53).
Nesse contexto histórico marcado pela transculturação, você tem conhecimento, 
é claro, das reações desses povos afrodescendentes. Cada vez mais conhecidos, 
os quilombos estiveram presentes por todo o território nacional; os negros 
também estiveram presentes nas confrarias. Ainda pouco estudadas, estão 
vivas a resistência estética do samba e de suas escolas, as terapias e medicinas 
religiosas do terreiro; as artes e sabedorias da capoeira. 
Hoje, os movimentos políticos de afrodescendentes pós 1975 têm protagonizado 
um processo de negação das negações de identidade e, com os povos 
originários, vão além: procuram a afirmação de sua rica diversidade.
Os movimentos de afirmações internacionais seguem pelo mesmo caminho 
desde a década de 1960, na política, com Martin Luther King nos EUA, Léopold 
Senghor no Senegal e Mandela na África do Sul. Além disso, políticas de 
reparação com afirmações estéticas na diáspora africana contribuíram para a 
Declaração do Direito Universal à Diversidade Cultural, pela ONU em Durban, 
setembro de 2001, na África do Sul. Após 53 anos, finalmente se obedece ao 
sonho plantado no artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 
1948. 
A própria criação de etnos-filosofias tem respondido às sabedorias do norte do 
Equador com uma nova assertiva aos cartesianos, por exemplo. Isso vem bem 
resumido pelo pensador Eboussi Boulaga, quando afirma que na identidade 
africana, em personagens como Muntu da obra La crisi Du Muntu, vale o Eu 
penso, logo, existo! de Descartes, mas, sobretudo, o Eu Danço, então, e vivo! 
das sabedorias ancestrais africanas.
Diante desse percurso, vale retomar os sonhos das possíveis e necessárias 
relações adequadas com o diferente cultural, superando conceitos de raça e de 
distinção dos humanos por características físicas. O que nos identifica é o cultural 
de nosso ethos, cuja riqueza constitui-se pela diversidade de respostas para 
necessidades iguais. Esse nosso ethos cultural merece que nos eduquemos a 
uma visão pluralista e multicultural para um bem viver mais justo e feliz.
completo.indb 28 09/06/2016 09:00:15
29
Estudos Socioculturais
O cultural no humano: conceitos, escolas antropológicas e 
métodos essenciais
Ser cultural é o natural do humano. Aprofundamos agora o ser cultural como o 
natural e específico modo de ser do humano. Esse jeito de ser característico que 
nos possibilita gerar respostasdiferentes para necessidades iguais demanda uma 
cuidadosa análise dos conceitos sobre o cultural no ánthropos. Como constata o 
pai do Estruturalismo Claude Lévi-Strauss: “pois se há algo natural nessa espécie 
particular que é a espécie humana, é sua aptidão à variação cultural.” (LÉVI-
STRAUSS apud LAPLANTINE, 2005, p. 9) 
Por isso, é preciso aprofundar o difícil conceito de cultura, como explica 
Eagleton (2005, p. 9) “cultura é considerada uma das duas ou três palavras mais 
complexas de nossa língua”. Achar uma definição única é algo impossível, pois 
sua própria diversidade de interação, representação e interpretação, dificultam e 
pluralizam seu conceito.
Mais uma vez, com apoio da filologia, (BOSI, 2015), podemos ver como a palavra 
cultura se formou em nossa língua. Vem do verbo latino colere conjugado no 
presente do indicativo colo (eu cultivo a terra) e no particípio passado cultus 
(aquilo que foi cultivado e tornado culto no rito religioso). Do particípio futuro 
culturus se extraem os adjetivos culturus, a, um (o que ainda vai ser cultivado). 
Três palavras que na língua latina amarram o presente, passado e futuro. Portanto, 
culturus tem raiz em colo (presente) e em cultus (passado). (GONÇALVES, 2016b, 
p. 5) 
O antropólogo brasileiro Roberto Damatta (GONÇALVES, 2016b, p. 37) explica 
ser fundamental para o olhar antropológico-cultural “estranhar aquilo que nos 
parece familiar, para assim descobrir o exótico que está congelado dentro de nós 
pela reificação, ou seja, a redução à coisa natural do que, na verdade, é cultural, 
bem como pelos mecanismos de legitimação.” Importa, pois, fazer constantes 
incursões sobre essa busca cada vez mais consciente do cultural em nós, como a 
nossa forma de ser com DNA característico entre as demais espécies.
Sobre a teoria da cultura, muita reflexão se tem produzido desde que em 1871, 
Edward B. Tylor (1871, vol. I, p. 1) descreveu cultura como “o conjunto complexo, 
a totalidade de conhecimentos, crenças, artes, leis, moral, costumes e qualquer 
capacidade e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma 
sociedade.” Hoje, aceita por todos os estudiosos do ramo. 
completo.indb 29 09/06/2016 09:00:15
30
Capítulo 2 
Vale também lembrar que o cultural, próprio do humano, é dinâmico. Clifford 
Geertz acentua o aspecto da transformação que o ser humano, consciente 
e livremente, realiza na natureza, tanto na própria quanto na alheia, visando 
ao seu aperfeiçoamento. Por isso diz que a cultura “não é um complexo de 
comportamentos concretos mas um conjunto de mecanismos de controle, 
planos, receitas, regras, instruções (que os técnicos de computadores chamam 
programa) para governar o comportamento”. No entanto, C. Klukhohon e A. L. 
Kroeber recenseando 164 definições de cultura, entre cerca de 300 citadas na sua 
obra, reconhecem que “a cultura entendida como ‘totalidade compreensiva’ de 
toda a vida do grupo social, é algo que ‘atualmente é aceita com universalidade’”. 
(KLUKHOHON-KROEBER, 1972, p. 88) 
Você pode ter agora uma visão geral das escolas ocidentais mais conhecidas que 
se sucederam, objetivando estudar o cultural no humano nesses cerca de 215 
anos de buscas de sistematização dos estudos sobre o cultural no ánthropos. 
O primeiro laboratório da nascente ciência antropológica foi a Escola do 
Evolucionismo Social de matriz inglesa, berço das ciências da natureza. 
Na Midiateca do EVA, você pode estudar sobre Teorias da Cultura, de autoria 
da profª Dra. Maria Terezinha da Silva Sacramento. A socióloga dialoga com 
pensadores expoentes de várias escolas de antropologia cultural e da sociologia 
sobre conceitos, métodos, problemas e prospectivas das questões culturais dos 
brasileiros e outros povos. 
A partir de agora, seguem adaptadas as sinopses bem elaboradas do antropólogo 
Dr. Vagner Gonçalves da Silva, para facilitação de seus estudos. 
Fonte: SILVA, Vagner Gonçalves da. Antropologia. Disponível em: http://www.fflch.
usp.br/da/vagner/antropo.html> Acesso em: 14 maio 2016.
Quadro 1.1 - Escola do Evolucionismo Social
Escola/Paradigma Evolucionismo Social
Período Século XIX
Características Sistematização do conhecimento acumulado sobre os 
“povos primitivos”. Predomínio do trabalho de gabinete. 
Método comparativo das variações culturais. Método 
Comparativo ou Etnológico.
completo.indb 30 09/06/2016 09:00:15
31
Estudos Socioculturais
Temas e Conceitos Unidade psíquica do homem. Evolução das sociedades 
das mais “primitivas” para as mais “civilizadas”. Busca das 
origens (Perspectiva diacrônica). Estudos de Parentesco 
/Religião /Organização Social. Direitos do Matriarcado. 
Substituição gradativa do conceito de raça pelo de 
cultura. Primeira definição e conceito de cultura.
Alguns representantes  
e obras de referência
Maine (“Ancient Law” - 1861).  
Herbert Spencer (“Princípios de Biologia” - 1864).  
Edward Burnet Tylor (“A Cultura Primitiva” - 1871).  
Lewis Henry Morgan (“A Sociedade Antiga” - 1877).  
James Frazer (“O Ramo de Ouro” - 1890).
Johann Jakob Bachofen (1815 – 1887). (“Mother Right: 
an investigation of the religious and juridical character of 
matriarchy in the Ancient World” - 1861) e Adolf Bastian 
(1826-1905) Controversen in der Ethnologie, 1893.
Fonte: SILVA, 2016.
As escolas de antropologia vão nascendo como filhas de discussões abertas. 
Seu primeiro objeto é estudar as populações que não pertencem à civilização 
ocidental. Demonstram que todos os seres humanos descendiam de um único 
ancestral comum e pertenciam a uma única espécie. A crítica posterior é a 
acentuação progressionista que eleva o modo de ser do povo europeu sobre as 
outras sociedades. (GONÇALVES, 2016b, p. 8-15) 
A Escola Sociológica Francesa reúne os primeiros críticos ao pensar 
evolucionista da Antropologia biológica ou física a partir da jovem ciência da 
sociologia.
Quadro 1.2 - Escola Sociológica Francesa
Escola/Paradigma Escola Sociológica Francesa
Período Século XIX
Características Definição dos fenômenos sociais como objetos de 
investigação sócio-antropológica.  
Definição das regras do método sociológico. Método 
genealógico – desenvolve o estudo do parentesco e suas 
implicações sociais. Interesse e pesquisa de campo de 
sociedades distantes.
completo.indb 31 09/06/2016 09:00:15
32
Capítulo 2 
Temas e conceitos Representações coletivas. Solidariedade orgânica e mecânica. 
Formas primitivas de classificação (totemismo) e teoria do 
conhecimento. Busca pelo fato social total (biológico + 
psicológico + sociológico). A troca e a reciprocidade como 
fundamento da vida social (dar, receber, retribuir). Trabalhar 
minúcias.
Alguns representantes  
e obras de referência
Émile Durkheim: “Regras do método sociológico”- 1895; 
“Algumas formas primitivas de classificação” - c/ Marcel Mauss 
- 1901; “As formas elementares da vida religiosa” - 1912.  
Marcel Mauss: “Esboço de uma teoria geral da magia” - c/ 
Henri Hubert - 1902-1903; “Ensaio sobre a dádiva” - 1923-
1924; “Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, 
a noção de eu”- 1938); “Manual de Etnografia” - 1930.
Fonte: Silva, 2016.
É tradição desses pesquisadores/as estudarem as sociedades não ocidentais 
deixando o gabinete e viajando em busca do humano não europeu: eles 
confirmam que a variação cultural constitui a experiência social humana. Claude 
Lévi-Strauss (1993) destacou que foi Émile Durkheim o primeiro a introduzir nas 
ciências do homem a exigência de olhar as especificidades. Dessa forma, a 
Antropologia se diferencia da Sociologia, pois, à Antropologia importa focar o 
minucioso, valorizar o micro. À Sociologia, interessa o macrossocial.
Coube a Marcel Mauss, discípulo e sobrinho de Durkheim, mostrar essa 
importância do minucioso. Para ele é possível observar e anotar, de forma 
sistemática, o repertório de respostasde cada povo na elaboração de suas 
respostas diferentes a necessidades iguais entre os humanos. Mauss demonstra, 
por exemplo, no Ensaio sobre a dádiva, que “toda representação é relação – 
isto é, funda-se sobre a união de uma dualidade de contrários” (LANNA, 2000, p. 
175). É a dádiva que produz alianças, tanto matrimoniais como políticas (trocas 
entre chefes ou diferentes camadas sociais), religiosas (como nos sacrifícios, 
entendidos como um modo de relacionamento com os deuses), econômicas, 
jurídicas e diplomáticas (incluindo-se aqui as relações pessoais de hospitalidade). 
Exemplo brasileiro típico é o cunhadismo, apontado pelo antropólogo brasileiro Darcy 
Ribeiro (1995). O cunhadismo, semelhante ao fenômeno observado por Mauss, é a 
instituição social do milenar uso indígena de incorporar estranhos à sua comunidade 
ameríndia e no Brasil pré-cabraliano. (GONÇALVES, 2016b, p. 18). 
Para esses cientistas, primeiros antropólogos, o aspecto sociológico constitui 
todos os seres vivos, mas o cultural é percebido como exclusivo do ánthropos. 
À nossa ciência cabe interessar-se pelo cultural como específico do humano. 
(GONÇALVES, 2016b, p. 14)
completo.indb 32 09/06/2016 09:00:15
33
Estudos Socioculturais
A Escola Funcionalista contribui com a visão de totalidade e o funcionamento 
por sistemas observados. Voltamos ao outro lado do Canal da Mancha, na 
Inglaterra, berço das ciências da natureza nos tempos do Empirismo. 
Quadro 1.3 - Escola Funcionalista
Escola/Paradigma Escola Funcionalista
Período Século XX - anos 20
Características  Modelo de etnografia clássica (Monografia). Ênfase no 
trabalho de campo (Observação participante). Sistematização 
do conhecimento acumulado sobre uma cultura. Método 
Funcionalista – desenvolve o estudo das culturas a partir de 
sua funcionalidade dentro de um universo cultural mais amplo. 
Temas e conceitos Cultura como totalidade. Interesse pelas Instituições e suas 
funções para a manutenção da totalidade cultural. Ênfase 
na Sincronia x Diacronia. Síntese integrada. Unidade na 
diversidade.
Alguns  representantes  
e obras de referência
Bronislaw Malinowski (“Argonautas do Pacífico Ocidental” 
-1922).  Radcliffe Brown (“Estrutura e função na sociedade 
primitiva” - 1952-; e “Sistemas Políticos Africanos de 
Parentesco e Casamento”, org. c/ Daryll Forde - 1950).  Evans-
Pritchard (“Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande” - 
1937; “Os Nuer” - 1940).  
Raymond Firth (“Nós, os Tikopia” - 1936; “Elementos de 
organização social - 1951). Max Glukman (“Ordem e rebelião 
na África tribal”- 1963). Victor Turner (“Ruptura e continuidade 
em uma sociedade africana” - 1957; “O processo ritual” - 
1969). Edmund Leach - (“Sistemas políticos da Alta Birmânia” 
- 1954).
Fonte: Silva, 2016.
É o antropólogo polonês naturalizado inglês Bronislaw Malinowski (1884-1942) 
quem se sobressai nessa ótica britânica do estudo da organização dos sistemas 
sociais. A Escola Funcionalista mantém o método da etnografia clássica de 
estudo sistemático, a monografia, e afirma a importância da ênfase ao trabalho de 
campo com a observação participante na pesquisa antropológico-cultural. Como 
os franceses, esses cientistas do ánthropos se desalojam: enfrentam os mares e 
vão residir e conviver com povos distantes.
Malinowski atrai a atenção sobre a antropologia quando publica Os Argonautas do 
Pacífico Ocidental, em 1922. É o primeiro a viver com as populações que estudava 
e a recolher materiais de seus idiomas. Radicalizou essa compreensão por dentro, 
para isso, procurou romper ao máximo os contatos com o mundo europeu. 
completo.indb 33 09/06/2016 09:00:15
34
Capítulo 2 
Malinoviski representa a postura cientificamente rigorosa em arriscar-se a 
compreender de dentro, por uma verdadeira busca de despersonalização, o que 
sentem os homens e as mulheres que pertencem a uma cultura que não é nossa.
Hoje, todos os etnólogos estão convencidos de que as sociedades diferentes 
da nossa são humanas tanto quanto a nossa. Os homens e mulheres que nelas 
vivem são adultos e se comportam de forma apenas diferente da nossa; não 
são primitivos, autômatos e atrasados (em todos os sentidos dos termos), que 
pararam em uma época distante e vivem presos a tradições estúpidas. 
Mas pensar assim nos anos 20 era uma postura revolucionária adotada por 
Malinowski. Optando por observar e analisar essa coerência interna em cada 
sociedade, Malinowski elabora a teoria do funcionalismo que tira seu modelo das 
ciências da natureza. Assim, os padrões culturais determinariam o surgimento 
do estatuto, que é o liame entre as intuições. Neste processo de análise da 
realidade, Malinowski vê como fundamentais três procedimentos metodológicos: 
1) a observação de todos os costumes dos nativos; 2) a apreensão das narrativas 
orais; e 3) a utilização do método estatístico. Ele mostra também como ponto 
essencial na observação do comportamento dos nativos é estar atento aos 
imponderáveis da vida real, ou seja, os elementos não abarcados pela análise 
estatística e que, na verdade, são a carne e o sangue da arquitetura teórica de 
toda pesquisa científica. (GONÇALVES, 2016b, p. 26). 
Importa agora que aprofundemos os métodos e técnicas da ciência 
antropológico-cultural e que significa, antes de tudo, ouvir Franz Uri Boas 
(1858-1942), conhecido como o Pai da Antropologia Americana e fundador da 
Escola Culturalista. Boas teve como alunas e colegas Ruth Benedict, Edward 
Sapir, Alfred Louis Kroeber, Robert Lowie, Melville Jean Herskovits, Paul Radin e 
como obra A formação da antropologia americana 1883-1911: antologia. 
Franz Boas, físico, geógrafo e historiador muito contribuiu com sua escola à 
crítica do Método Comparativo ou Etnológico e seus reducionismos. Sugeriu o 
acréscimo de certa dose do que chamou de relativização. O relativismo inclui que 
os resultados obtidos na etnografia passem pelo crivo dos estudos históricos 
das culturas, das condições psicológicas e dos ambientes onde se desenvolvem 
essas culturas. 
Por essa relativização, Franz Boas abre os olhos para os perigos de falsas 
interpretações das teorias deterministas do fenômeno cultural. Fruto das críticas 
de Franz Boas e de sua escola a esse possível comportamento reducionista 
de generalização foi o contraponto da necessidade de analisar os elementos 
culturais em seu contexto de conjunto, já que o vício comum era inferir-se a uma 
totalidade a partir de uma parcela mínima da cultura.
Boas acreditava que a comparação deveria ser restrita a um pequeno território. 
completo.indb 34 09/06/2016 09:00:15
35
Estudos Socioculturais
Dessa forma, passou a ser um importante crítico do evolucionismo e do 
funcionalismo por causa do excesso de uso do Método Comparativo para 
dedução de indícios culturais. Por isso, alertava para o fato de que fenômenos 
iguais podem ter causas e sentidos diferentes: “cada máscara é única,” sua 
célebre frase.
Depois que Franz Boas convidou os antropólogos americanos formados em sua 
Escola Culturalista a observar cada fenômeno como resultante de acontecimentos 
históricos, estes estudiosos passaram a “elaborar conceitos definidos para o 
estudo dos fatos da difusão cultural, sem deixarem, no entanto, de continuar a 
acumular uma massa impressionante de dados” (MERCIER, 2000, p. 56). 
Como as escolas anteriores, evolucionista e funcionalista, Boas valoriza, na 
Antropologia Cultural, o seu modo característico de olhar o microssociológico. 
Para ele, tudo deve ser anotado com descrição minuciosa e devem ser colhidas 
todas as versões. Cada cultura é uma unidade autônoma e um costume só tem 
significado frente ao contexto no qual se insere.
No entanto, é na Escola do Estruturalismo de Claude Lévi-Strauss que podemos 
clarear melhor os métodos e técnicas para uma adequada aproximação 
científico-cultural.Claude Lévi-Strauss (1908-2009), com sua mulher, Dina 
Dreifruss, deixou marcas profundas na fundação da disciplina de Antropologia 
Cultural no Brasil enquanto participante do grupo de docentes franceses criador 
da USP (Universidade de São Paulo) (GONÇALVES, 2016b, p. 51). Sua escola 
traz a visão da busca das regras estruturantes das culturas presentes na mente 
humana, sintetizando muitas contribuições de escolas anteriores, visando a dar 
autonomia à nossa ciência da Antropologia Cultural.
Quadro 1.4 - Escola Estruturalista 
Escola/Paradigma Escola do Estruturalismo
Período Século XX -  anos 40
Características Busca das regras estruturantes das culturas presentes 
na mente humana. Teoria do parentesco/Lógica do mito/
Classificação primitiva. Distinção natureza x cultura. 
Temas e Conceitos Princípios de organização da mente humana: pares de 
oposição e códigos binários. Reciprocidade.
completo.indb 35 09/06/2016 09:00:15
36
Capítulo 2 
Alguns representantes  
e obras de referência 
Claude Lévi-Strauss: “As estruturas elementares do 
parentesco” - 1949. 
 “Tristes Trópicos”- 1955. 
“Antropologia estrutural” – 1958.  
“Pensamento selvagem” - 1962.  
“O cru e o cozido” – 1964. 
 “O homem nu” – 1971 - Saudades do Brasil. “Antropologia 
estrutural dois” – 1973.  
 Lévi-Bruhl, Marcel Griaule, Dieux d’Eau, Germaine Dieterlen 
e Le Renard Pâle.
Fonte: Silva, 2016.
Alguns a consideram uma “super teoria”, mas também sofreu críticas e 
questionamentos principalmente em relação à utilização dos modelos, pois ao 
observar as relações sociais se utiliza de modelos que podem explicar todos os 
fatos observados. Por isso, o estruturalismo pode ser considerado tanto como 
uma linha de análise antropológica quanto um método de análise. Marconi (1992, 
p. 277) cita esses pontos importantes do estruturalismo: 
1. Visão sincrônica e sistêmica da cultura. 
2. Visão globalizante do fenômeno cultural (o conhecimento do todo 
leva à compreensão das partes). 
3. Adoção das noções de estrutura social e relações sociais. 
4. Utilização de modelos na análise cultural. 
5. Unidade de análise: estruturas mentais inconscientes. 
6. Compreensão ampla da realidade cultural. 
Laplantine (2005, p. 25) resume a visão de Lévi-strauss sobre o Método 
antropológico-cultural. São três etapas: 
1. ETNOGRAFIA: É a coleta direta, e o mais minuciosa possível, dos 
fenômenos que observamos, por uma impregnação duradoura 
e contínua e um processo que se realiza por aproximações 
sucessivas. Esses fenômenos podem ser recolhidos tomando-
se notas, mas também por gravação sonora, fotográfica ou 
cinematográfica.
2. ETNOLOGIA: Consiste no primeiro nível de abstração: através da 
analise dos materiais colhidos, fazer aparecer a lógica específica da 
sociedade que se estuda.
3. ANTROPOLOGIA: Consiste num segundo nível de abstração: 
construir modelos que permitam comparar as sociedades entre si. 
(LÉVI-STRAUSS apud LAPLANTINE 2005, p. 25).
completo.indb 36 09/06/2016 09:00:15
37
Estudos Socioculturais
Você pode aprofundar também sobre os métodos e técnicas aplicáveis em sua 
área de conhecimento profissional, porque são frutos da interdisciplinaridade. A 
técnica de pesquisa trata-se, sinteticamente, de um modo de conseguir os dados 
sem nenhuma intermediação de outros registros, sejam eles os dos historiadores, 
viajantes, missionários, médicos, assistentes sociais ou funcionários do governo 
que estiveram antes na região ou grupo em pesquisa. Nenhuma técnica dispensa 
a da Observação Participante pelo profissional responsável. Observe, no quadro 
que segue, algumas técnicas de vários métodos de ciências afins do estudo 
sobre o humano e com as quais podemos interagir:
 Quadro 1.5 - Métodos e Técnicas com interface para a ciência da Antropologia Cultural
Método Histórico: procura investigar acontecimentos passados, a fim de compreender 
aspectos ou modos de vida do presente. Para isso, usa coleta de documentos materiais e 
imateriais; 
Método Monográfico ou Estudo de Caso: desenvolve estudo aprofundado de determinado 
caso ou grupo humano em todos os seus aspectos;
Método Funcionalista: desenvolve o estudo das culturas a partir de sua funcionalidade 
dentro de um universo cultural mais amplo.
Técnica Estatística: os dados coletados são transformados em termos quantitativos e 
dispostos em tabelas, quadros e gráficos para uma análise posterior;
Técnica da Genealogia: desenvolve o estudo do parentesco e de suas implicações sociais. 
Técnica da observação: sistemática e participante.
Técnica da entrevista: dirigida e livre.
 
Fonte: Adaptação do Autor, 2016.
 
A Antropologia Cultural, nesse sentido, vem diversificando seus temas de 
abordagem e se aproximando cada vez mais da Linguística, da Psicologia, 
da História, da Sociologia como vimos mencionando até aqui. A análise 
antropológico-cultural nessas etapas tripartites propostas por Lévi-Strauss 
deve levar em consideração os dados históricos, os fatos econômicos, os 
conflitos políticos e o todo que constitui esse complexo fenômeno do cultural no 
humano. Por isso, nossa análise não pode se desprender do diálogo científico 
interdisciplinar.
completo.indb 37 09/06/2016 09:00:15
38
Capítulo 2 
Desafios para a saúde cultural planetária e brasileira
Nossos estudos sobre identidade e culturas propõem como essencial, para o bem 
viver humano individual e planetário, um adequado tratamento da relação com o 
cultural para que o ánthropos aconteça em cada pessoa de forma consciente e 
lhe garanta reprodução e qualidade de vida sustentável. E o desafio maior está 
indicado e mapeado na própria filologia do sentido de cultural. Você lembra que 
a palavra cultura está ligada ao particípio futuro latino do verbo colere (cultivar), 
ou seja, culturus = o que vai ser trabalhado e cultivado. É, pois, um termo que une 
passado e presente. Cultura supõe, sobretudo, uma consciência grupal operosa 
e operante que desentranha da vida presente os planos para o futuro = dimensão 
de projeto (jectus = jogado, arremessado; pro = para frente). 
O sonho de convivência adequado entre diferentes culturas é constatável 
há milênios. Exemplo claro está no histórico diciodeontológico de leis e 
mandamentos nas culturas conhecidas no Oriente e Ocidente. Eles aparecem 
como respostas teimosas de esperança na organização do material caótico 
deixado por situações crônicas de histórico de guerras e de invasões, apontando 
para o convívio impossível com o diferente cultural. A mais recente carta de 
esperança vai completar 70 anos. É a resposta às tragédias de crueldade 
indescritível imposta a milhões de vítimas nas duas guerras mundiais do século 
XX: a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 
1948. 
Os autores aprofundam essa difícil implantação e vivência ética dos Direitos 
Humanos e da natureza. Aqui o nosso foco são os direitos culturais e 
socioambientais. Tudo o que vimos refletindo já mostra a complexidade, a 
escassez de pesquisa e a urgência de dedicação ao estudo, em vista de 
saudáveis relações entre culturas diferentes vistas como riqueza e não como 
ameaças. O sonho da realização dos direitos culturais já está definido no Artigo 
27 da Declaração Universal de Direitos Humanos em 1948:
 “1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida 
cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do 
processo científico e de seus benefícios. 2. Toda pessoa tem 
direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes 
de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja 
autor.” 
A implementação do Artigo 27 dá um primeiro passo no Pacto 
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), tratado 
multilateral que só foi adotado pela ONU em 16 de dezembro de 1966, e em vigor 
dez anos depois,

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