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Superior Tribunal de Justiça RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 88.570 - PE (2017/0215246-5) RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR RECORRENTE : EDSON DE SOUZA VIEIRA ADVOGADOS : HÉLCIO FERREIRA DE OLIVEIRA FRANÇA E OUTRO(S) - PE021728 JOSÉ AUGUSTO BRANCO - PE016464 RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL EMENTA RECURSO EM HABEAS CORPUS. INQUÉRITO POLICIAL. IRREGULARIDADES NA APLICAÇÃO DE VERBAS FEDERAIS. TRÂMITE DIRETO ENTRE MINISTÉRIO PÚBLICO E POLÍCIA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. AUSÊNCIA DE DISTRIBUIÇÃO A DESEMBARGADOR. PRINCÍPIO ACUSATÓRIO. FUNÇÕES DO JUIZ NA INVESTIGAÇÃO. FISCAL DO PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE E DE GARANTIAS. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO AO INVESTIGADO. 1. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, admite-se o trâmite direto do inquérito entre o órgão acusador e a polícia, em atenção ao princípio da duração razoável do processo. Precedentes. 2. O processo penal brasileiro é inspirado no princípio acusatório, com sede no art. 129, I, da Constituição Federal, segundo o qual as funções de acusação e julgamento estão distribuídas a diferentes órgãos estatais. Assim, considerando que o inquérito policial se destina ao Ministério Público, na fase investigativa, cumpre ao juiz a observância de duas tarefas: a de fiscal do princípio da obrigatoriedade e a de juiz de garantias. 3. O trâmite direto entre órgão acusatório e polícia, além de prestigiar o princípio acusatório, não prejudica as funções jurisdicionais, pois qualquer medida invasiva dependerá de autorização judicial, ocasião na qual poderá ser distribuído o feito a um relator, sem nenhum prejuízo ao investigado. 4. Recurso em habeas corpus improvido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso ordinário nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 25 de junho de 2019 (data do julgamento). Ministro Sebastião Reis Júnior Relator Documento: 1841457 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 02/08/2019 Página 1 de 4 Superior Tribunal de Justiça RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 88.570 - PE (2017/0215246-5) RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR: Trata-se de recurso em habeas corpus interposto por Edson de Souza Vieira contra o acórdão proferido pela Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, que, nos autos do HC n. 6326-PE (0000611-78.2017.4.05.0000), denegou a ordem pleiteada, mantendo em curso o inquérito policial, conforme os termos da seguinte ementa (fls. 325/326): PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. INQUÉRITO POLICIAL INSTAURADO CONTRA PREFEITO. AUTORIZAÇÃO DO TRIBUNAL PARA SUA ABERTURA. DESNECESSIDADE. AUSÊNCIA DE NORMA LEGAL OU CONSTITUCIONAL. EXCETO NAS SITUAÇÕES DE COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL POR PREVISÃO REGIMENTAL. REGISTRO DO TRIBUNAL COM TRAMITAÇÃO DIRETA ENTRE A PROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA E A POLÍCIA FEDERAL. ATENDIMENTO AOS TERMOS DO ART. 2o, § 2o, DA RESOLUÇÃO N. 63/2009 DO CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. VÍCIO DE NULIDADE NÃO CONFIGURADO. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. I. Cuida-se de habeas corpus impetrado com o intuito de ver trancado o inquérito policial ou, subsidiariamente, anulado desde o início, com a avocação dos autos, que ora tramitam perante a Delegacia de Polícia Federal em Caruaru/PE, para este eg. Regional, em razão de apontada ilegitimidade (atribuição) da autoridade policial, aqui indicada coatora, em determinar a instauração de inquérito policial e dar andamento a investigação contra pessoa que detém foro privilegiado, no caso concreto o ora paciente, prefeito do Município de Santa Cruz do Capibaribe/PE, requerendo, em sede de liminar, ser determinada a imediata suspensão do aludido inquérito policial (IPL n° 0343/2013-4 - DPF/CRU/PE). II. Excetuada a situação de competência do Excelso Pretório, cuja regra regimental impõe ao relator a instauração de inquérito policial a pedido do Procurador-Geral da República, inexiste norma legal ou constitucional no que diz respeito aos processos da competência dos demais tribunais mas, ao contrário, prevê o Código de Processo Penal que, nos crimes de ação penal pública, o inquérito será iniciado de ofício (art. 5o, I, CPP). III. Observa-se ausente vício de nulidade, por recepcionado o feito neste Regional, a quem compete processar e julgar o ora paciente, por deter foro por prerrogativa de função, na forma do art. 29, X, da Constituição da República, a partir da certidão que repousa às fls. 106, do registro do IPL neste Tribunal e a baixa dos autos ao Ministério Público Federal, pela sua Procuradoria Regional da República da 5a Região, nos estritos termos do art. 2o, § 2o, da Resolução n° 63/2009, do Conselho da Justiça Federal, a fim de tramitar diretamente entre aquela Procuradoria e a Polícia Federal. IV. Precedente deste eg. Regional: INQ-2962/PB, rel. Des. Federal Documento: 1841457 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 02/08/2019 Página 2 de 4 Superior Tribunal de Justiça Vladimir Carvalho, PI., DJe 11.12.2014. V. O entendimento jurisprudencial dominante é no sentido de que "o habeas corpus é medida excepcional para o trancamento de investigações e instruções criminais, quando demonstrada, inequivocadamente, a absoluta falta de provas, a atipicidade da conduta ou a ocorrência de causa extintiva da punibilidade." (STJ, 5aT. HC 169480, rel. Min. Gilson Dipp, j. 19.10.2010, DJe 03.11.2010), situação não configurada no caso concreto. VI. Ordem de habeas corpus denegada. O recorrente alega, em síntese, que o inquérito em questão não foi distribuído no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, não havendo desembargador relator para o caso, razão pela qual a nulidade do feito é patente. Pretende que o inquérito seja distribuído a um desembargador para que presida o feito, com a anulação do inquérito por inexistência de controle judicial até então. Pede o reconhecimento da ilegitimidade do Delegado de Polícia Federal para instaurar e dar andamento ao inquérito (fls. 329/334). Contrarrazões às fls. 340/350. Liminar indeferida às fls. 358/360. Informações prestadas pela origem às fls. 364/375 e 376/378. O Ministério Público Federal opina pelo desprovimento do recurso em habeas corpus, tendo em vista a consonância do acórdão com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (fls. 381/384). Informações prestadas pelo Delegado de Polícia Federal às fls. 388/399. É o relatório. Documento: 1841457 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 02/08/2019 Página 3 de 4 Superior Tribunal de Justiça RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 88.570 - PE (2017/0215246-5) VOTO O EXMO. SR. MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR (RELATOR): O recorrente pretende a nulidade do inquérito, tendo em conta a ausência de distribuição dos autos a um desembargador do Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Essa alegação foi afastada, na origem, aos seguintes fundamentos (fls. 321/322): A partir da certidão que repousa às fls. 106, do registro do IPL neste Tribunal e a baixa dos autos ao Ministério Público Federal, pela sua Procuradoria Regional da República da 5a Região, nos estritos termos do art. 2o, § 2o, da Resolução n° 63/2009, do Conselho da Justiça Federal, a fim de tramitar diretamente entre aquela Procuradoria e a Polícia Federal, observa-se ausente vício de nulidade, por recepcionado o feito neste Regional, a quem compete processar e julgar o ora paciente, por deter foro por prerrogativa de função, na forma do art. 29, X, da Constituição da República. A ressaltar não assistir o bom direito à pretensão aqui deduzida, colho da jurisprudência deste eg. Regional, julgado assim ementado: [...] Ademais, como lucidamente encetado no parecer ministerial,excetuada a situação de competência do Excelso Pretório, cuja regra regimental impõe ao relator a instauração de inquérito policial a pedido do Procurador-Geral da República, inexiste norma legal ou constitucional no que diz respeito aos processos da competência dos demais tribunais mas, ao contrário, prevê o Código de Processo Penal que, nos crimes de ação penal pública, o inquérito será iniciado de ofício (art. 5o, I, CPP). Do excerto, verifica-se que a Corte Regional afastou a alegação de nulidade, tendo em conta a ausência de norma disciplinando a instauração de inquérito policial nos crimes de competência dos Tribunais, bem como a Resolução do Conselho da Justiça Federal, que autoriza o trâmite direto do inquérito entre o Ministério Público e a Polícia Federal. Essa compreensão está de acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que admite o trâmite direto do inquérito entre o órgão acusador e a polícia, em atenção ao princípio da duração razoável do processo. Nesse sentido: Documento: 1841457 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 02/08/2019 Página 4 de 4 Superior Tribunal de Justiça REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TRAMITAÇÃO DIRETA DE INQUÉRITOS ENTRE A POLÍCIA JUDICIÁRIA E O MINISTÉRIO PÚBLICO. POSSIBILIDADE. CELERIDADE E ECONOMIA PROCESSUAL. INCIDÊNCIA DO ÓBICE DO ENUNCIADO N.º 83 DA SÚMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Esta Corte Superior de Justiça já firmou entendimento no sentido não haver nenhuma ilegalidade na tramitação direta de inquéritos entre a Polícia Judiciária e o Ministério Público, pois tal procedimento atende à garantia da duração razoável do processo, assim como aos postulados da economia processual e da eficiência. 2. Aresto que se alinha a entendimento pacificado neste Sodalício, situação que atrai o óbice do Verbete Sumular n.º 83/STJ, também aplicável ao recurso especial interposto com fundamento na alínea a do permissivo constitucional. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp n. 1.543.205/SC, Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 10/5/2017) PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. INQUÉRITO POLICIAL. TRAMITAÇÃO DIRETA ENTRE A POLÍCIA JUDICIÁRIA E O MINISTÉRIO PÚBLICO. POSSIBILIDADE. CÉLERE TRAMITAÇÃO DO PROCESSO. PRECEDENTES DA QUINTA TURMA DESTA CORTE SUPERIOR DE JUSTIÇA. 1. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça é no sentido de que não há qualquer ilegalidade na tramitação direta de inquéritos entre a Polícia Judiciária e o Ministério Público, uma vez que tal procedimento, longe de violar preceitos constitucionais, atende à garantia da duração razoável do processo - pois lhe assegura célere tramitação -, bem como aos postulados da economia processual e da eficiência. Precedentes: RMS 46.165/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, Quinta Turma, julgado em 19/11/2015, DJe 04/12/2015; HC 291.751/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, julgado em 15/09/2015, DJe 24/09/2015 2. Tal entendimento não afasta a necessidade de observância, no bojo de feitos investigativos, da chamada cláusula de reserva de jurisdição, qual seja, a necessidade de prévio pronunciamento judicial quando for necessária a adoção de medidas que possam irradiar efeitos sobre as garantias individuais. 3. Agravo regimental improvido. (AgInt no REsp n. 1.523.160/SC, Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 25/5/2016) Necessário salientar, ainda, que o processo penal brasileiro é inspirado no princípio acusatório, com sede no art. 129, I, da Constituição Federal, segundo o qual as funções de acusação e julgamento estão distribuídas a diferentes órgãos estatais. Assim, considerando que o inquérito policial se destina ao Ministério Público, na fase investigativa, cumpre ao juiz a observância de duas tarefas: a de fiscal do princípio da obrigatoriedade e a de juiz de garantias. Documento: 1841457 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 02/08/2019 Página 5 de 4 Superior Tribunal de Justiça Dessa forma, o trâmite direto entre órgão acusatório e polícia, além de prestigiar o princípio acusatório, não prejudica as funções jurisdicionais, pois qualquer medida invasiva dependerá de autorização judicial, ocasião na qual poderá ser distribuído o feito a um relator, sem nenhum prejuízo ao investigado. Ante o exposto, nego provimento ao recurso em habeas corpus. Documento: 1841457 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 02/08/2019 Página 6 de 4 Superior Tribunal de Justiça CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEXTA TURMA Número Registro: 2017/0215246-5 PROCESSO ELETRÔNICO RHC 88.570 / PE MATÉRIA CRIMINAL Números Origem: 00006117820174050000 2013000343 6117820174050000 EM MESA JULGADO: 25/06/2019 Relator Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro NEFI CORDEIRO Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. MANOEL DO SOCORRO T. PASTANA Secretário Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA AUTUAÇÃO RECORRENTE : EDSON DE SOUZA VIEIRA ADVOGADOS : HÉLCIO FERREIRA DE OLIVEIRA FRANÇA E OUTRO(S) - PE021728 JOSÉ AUGUSTO BRANCO - PE016464 RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes de Responsabilidade CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Sexta Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso ordinário, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator. Documento: 1841457 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 02/08/2019 Página 7 de 4
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