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Barbosa, o Cristo Negro Este artigo vem mais como homenagem a alguém que mereceria todas elas. Uma das coisas que o ser humano sabe fazer e muitas das vezes perfeitamente, é criticar, perseguir, crucificar alguém por seus atos falhos que apagam tudo que aquele ser humano construiu de bom, no caso do Barbosa, de excepcional na sua trajetória de vida. O título deste artigo escolhi ao analisar, claro que em suas devidas proporções, o ato de crucificação não somente do goleiro, mas sim do ser humano, do brasileiro Barbosa que até impedido de entrar na Granja Comary, durante a preparação para a copa de 1994 onde ele teria um encontro com o então goleiro Taffarel, ele foi. Nos próximos parágrafos iremos conhecer um pouco mais da vida esportiva deste homem tão injustiçado em vida e que ainda não possui o seu reconhecimento junto a CBF, mesmo após sua morte. Acredito também, que há uma falta de exaltação de sua memória, referente aos clubes por onde ele passou. Algo que ainda pode ser reparado por todos eles, posso até dizer que também por nós. Moacir Barbosa Nascimento. Nascido em 27/03/1921, na cidade de Campinas, interior de São Paulo. Tinha o sonho de conquistar o mundo jogando bola, mas como atacante e artilheiro. Aliás, era um excelente e habilidoso ponta, além de goleador. Seu primeiro time foi o LPB, em 1938.Time do laboratório onde trabalhava aos 17 anos, e que por ele foi artilheiro por dois campeonatos amadores seguidos. Logo após foi transferido para o também time amador do Almirante Tamandaré, cujo time era comandado em campo pelo seu cunhado. Então, com a ausência do goleiro em uma partida, seu cunhado que acreditava em seu potencial como goleiro, o pediu para jogar esta partida no gol, de onde não saiu mais. A partida foi vencida pelo Almirante Tamandaré. Alli, nascia a história de um dos maiores goleiros da história do futebol mundial de todos os tempos. Tinha como habilidade, além de ser excelente de baixo do gol, também tinha muita habilidade com os pés, do qual fazia seus tiros de meta e lançamentos existiam uma qualidade absurda. Em 1939 ele foi convocado para a seleção paulista de amadores. Algo que chamou atenção do Ypiranga de São Paulo em 1941. Onde assinou seu primeiro contrato profissional. Ali se destacava chamando atenção de vários clubes grandes paulistas, mas permaneceu até 1945 no clube, quando se transferiu para o Vasco da Gama. Barbosa chegou ao clube carioca sendo apenas o 6º goleiro. Mas com o tempo foi ganhando seu espaço, no qual fez parte de um dos maiores times da história vascaína e do futebol, que ficou conhecido como “Expresso da vitória”. Se destaca também o título carioca de 1947. Em 1948 se tornou campeão Sul-americano pelo Vasco, onde na final enfrentou o River Plate de Di Stefano. Jogo que terminou 0 a 0 e que Barbosa no primeiro tempo defendeu um pênalti. Em sua primeira passagem pelo cruz-maltino, Barbosa conquistou 12 títulos. Em 1955 Barbosa se transfere para o Santa Cruz, onde conquistou o torneio início estadual daquele ano. Em 1957 ele retorna ao Rio emprestado ao Bonsucesso. Retorna ao Vasco em 1958, onde conquista o carioca e o torneio Rio- São Paulo. Barbosa chega ao Campo Grande, também do RJ em 1962, onde encerraria sua vitoriosa carreira. Sua história na seleção brasileira se inicia em 16/12/1945, contra a Argentina, pela Copa Roca. No qual fomos derrotados por 4x3. Conquistando seu primeiro título pela seleção após jogo de volta no qual vencemos por 6x2. Em 1947 foi campeão da Copa Rio Branco, além da Copa América de 1949. Então chegamos a 1950, Copa do Mundo disputada no Brasil. Copa que a seleção fez um campeonato quase perfeito. Brasil chega no quadrangular final que ainda contava com Suíça, Espanha e Uruguai. As duas primeiras citadas foram goleadas pela seleção, bastando apenas um empate para o brasil conseguir seu primeiro título mundial, e sendo em casa, um apogeu. Não foi bem assim, conhecemos como terminou a história. Barbosa contou que uma vez estava numa padaria e entrou uma senhora carregando uma criança pelo braço. A senhora olhou para ele e disse para a criança: “Este é o homem que fez todo o brasil chorar”. Assisti uma entrevista na tv, que ele concedeu na época ao Jô Soares, em 1998, no SBT, no qual se revelava uma pessoa excepcional, doce, sereno, educado e muito inteligente. Vi uma das melhores pessoas que tentava não demostrar muito todo o sofrimento que lhe foi causado e que ainda carregava injustamente, e que acredito ter carregado até seu último suspiro. Lembro também de uma frase que é tocante. Ele disse: “A pena máxima de reclusão no Brasil é de 30 anos. A minha já está durando 50.” Frase que revela toda a dor e sofrimento de alguém que foi tirado para Cristo, como se diz. O crucificaram por uma falha que na verdade foi uma falha coletiva. Ainda na entrevista, ele contou como foi o clima no dia da final no maracanã, no qual nem se alimentar direito ele conseguia, por sempre estar aparecendo autoridades na concentração e no vestiário prometendo a eles mundos e fundos, como ele mesmo disse. Muitos eram candidatos à presidência da república na época. Promessas que nunca foram concretizadas após aquela partida. Barbosa nos deixou em 07/04/2000, como disse antes, carregando uma culpa que não era dele, era coletiva. Também me pergunto o motivo dos dirigentes e jogadores daquela época não tivessem tomado a frente quanto ao exagero que o mesmo passava e sofria, para assumirem a culpa também. Por isso vejo Barbosa como um Cristo negro. Do qual foi crucificado, morto e sepultado, mas tudo isso em vida. Tudo que fez, a história que construiu foi apagada por causa de uma partida. Eu, particularmente, conheço a história do “maracanaço” desde moleque. E agradeço ao meu pai, que nunca me disse que a culpa foi do Barbosa. Pelo contrário, me dizia do tamanho goleiro que era, das injustiças que fizeram com ele, e de jogadores que se esconderam das responsabilidades daquele episódio. Desde então, tive curiosidade sobre quem era esse jogador que era tão discriminado, execrado e porque não, humilhado por várias vezes e pela história. Como deve ter sido e como deve ser difícil e doloroso para sua família conviver com um sentimento de tristeza e injustiça com alguém que amamos. Ele nos deixou sem ter vivenciado aquele vexame, este sim, em 2014. Acho que todos devem um pedido de perdão a ele e sua família. Os clubes que passou, também devem sempre estar exaltando o grande goleiro e pessoa que honrou seu escudo. A CBF, por nunca ter dado o reconhecimento merecido a ele. E principalmente ao povo brasileiro que crucificou um inocente, assim como fizeram com Cristo. Barbosa vive e sempre viverá, somente pelo motivo dele ser luz. Pois quando se é luz, nunca haverá escuridão. Renato Carvalho. Abril 2020.
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