Buscar

Constitucionalismo abusivo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

RA: 7206019 
Turma: 003201E02 
Guilherme Miguel O. de Araujo 
gui-otoni@live.com 
 
 
 
 
 
 
 
CONSTITUCIONALISMO ABUSIVO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Teoria da Constituição e direitos fundamentais 
Professora Fernanda Rodrigues Feltran 
mailto:gui-otoni@live.com
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
I) Introdução............................................................................................03 
 DESENVOLVIMENTO 
II) Conceito................................................................................................04 
III) Constitucionalismo abusivo na América Latina...............................05 e 06 
IV) Constitucionalismo abusivo no Brasil...............................................07 e 08 
V) Leis com caráter abusivo...................................................................09 e 10 
VI) Conclusão............................................................................................11 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
I) INTRODUÇÃO 
 
 
 
 O constitucionalismo abusivo na literatura especializada é descrito como utilização 
indevida de mecanismos do direito constitucional para atacar e minar as estruturas da democracia 
constitucional e das bases filosóficas do constitucionalismo. Há duas formas principais de emprego da 
categoria constitucionalismo abusivo para compreender práticas e realidades constitucionais: 
a) frequente e reiterado uso de Emendas à Constituição e criação de 
novos documentos constitucionais com intuito de manter um grupo social 
e político no poder com destruição dos elementos centrais da democracia 
constitucional, designando essa modalidade de constitucionalismo 
abusivo estrutural, e 
b) utilização de alguns institutos e técnicas constitucionais em desacordo 
com as diretrizes da democracia constitucional, consistindo o fenômeno 
no constitucionalismo abusivo episódico. 
 
 Os autores entendem que, apesar da existência de hiperpresidencialismo no Brasil, os 
mecanismos de accountability (prestação de contas) horizontal como do Poder Judiciário sobre o 
Executivo e o Legislativo não permitem a classificação como constitucionalismo abusivo estrutural, 
mas existem fenômenos de constitucionalismo abusivo episódico e preocupantes. 
 Desse modo, o artigo metodologicamente, realiza uma análise crítica da literatura 
sobre constitucionalismo abusivo (revisão bibliográfica), refletindo sobre recentes casos do 
constitucionalismo abusivo na América Latina e Brasil (estudos de casos). 
 
 
 
 
 
 
 
DESENVOLVIMENTO 
 
 
II) Conceito 
A ideia de constitucionalismo abusivo foi cunhada por David Landau, que define 
essa forma de constitucionalismo como o uso de institutos de origem democrática para ceifar o espaço 
do pluralismo num determinado país. O objetivo do autor é mostrar que mecanismos formais de 
mudança constitucional podem minar a democracia. 
É notável a força que os regimes presidencialistas vêm tomando, principalmente na 
América Latina, apoiados em mudanças nas próprias constituições dos países, mudanças essas que 
muitas vezes reforçam excessivamente o poder do Executivo. 
A consagração dos direitos sociais, o apoio popular e o discurso progressista das 
instituições governamentais podem ser característicos de um regime legitimamente democrático ou 
não. 
Tem-se como principal objetivo expor a “máscara constitucional” utilizada por 
certos regimes que se dizem democráticos quando na verdade não o são. Utilizam as suas 
constituições como ferramentas para facilitar suas manobras políticas para manutenção no poder, 
fenômeno denominado como “Constitucionalismo Abusivo”. Valem-se dos direitos sociais e demais 
valores instituídos pela Constituição como propaganda política e disfarce para a realização de seus 
artifícios. 
As “autocracias eleitorais” ou os “regimes híbridos”, que são aqueles países onde 
geralmente o constitucionalismo assume um feitio abusivo, costumam satisfazer a comunidade 
internacional, uma vez que são democráticos suficientes para não apontá-los em seu radar. Isso 
porque, eleições são realizadas e não são meras aparências, quer dizer, há competitividade eleitoral a 
ponto de o partido/candidato da oposição ocasionalmente até ganhar, bem como todos os direitos 
fundamentais são assegurados pela legislação. Ao mesmo tempo, contudo, há um enfraquecimento de 
várias instituições que deveriam estar fiscalizando os poderes estatais, tornando-as praticamente 
inexpressivas ou então suas fiéis correligionárias. 
Sem faltar com a verdade, princípios como a dignidade humana, igualdade racial ou 
a livre iniciativa, certamente permanecerão intactos ou até mesmo enaltecidos no Constitucionalismo 
Abusivo, sob pena de perder a sua feição democrática, inclusive, nesses países geralmente há um alto 
índice de aprovação popular, uma das principais “ferramentas” utilizadas pelos dirigentes políticos 
para legitimar o seu poder. Se assim não o fosse, alguns mecanismos criados para o embate contra 
regimes autoritários se revelariam eficazes contra o constitucionalismo abusivo, tais como, o conceito 
de “democracia militante” da Alemanha pós nazista em que é possível o banimento de partidos 
totalitários antes que tenham a chance de crescimento e ganhem poder dentro do sistema político, bem 
como as chamadas “cláusulas democráticas”, onde países com práticas antidemocráticas podem sofrer 
sanções de organismos internacionais, tal como a exclusão da Venezuela do bloco Mercosul, por 
práticas abusivas do governo de Nicolás Maduro e o “desrespeito à separação de poderes”. 
 
III) Constitucionalismo abusivo na América Latina 
A América Latina sofreu diversos golpes de Estado decorrentes de uma guerra 
ideológica que acarretou na perda de direitos fundamentais. A situação da região não é de bonança 
desde sua colonização na qual os povos nativos foram explorados, escravizados e dizimados pelos 
colonizadores europeus. O contexto latino-americano atual, é de aumento do mal-estar, porquanto, os 
resquícios de uma exploração sem precedentes, assolou os países dessa região tão rica por várias vias. 
O período de ditaduras e governos autoritários entre as décadas de 1960 e 1980 foi 
um grande marco na história da América Latina. Os abusos e violações aos direitos humanos, 
cometidos ensejaram uma tendência à valorização da democracia e do processo democrático, em 
consonância com uma tendência também global de aversão a intervenções militares e golpes de 
Estado. As novas constituições, que foram sendo criadas nos países latino-americanos após a 
destituição dos regimes ditatoriais, caracterizaram-se fortemente por um maior reconhecimento dos 
direitos sociais e civis, em resposta às experiências anteriores. 
Foram implementados vários regimes autoritários na América Latina – espaço 
geográfico que compreende o México até o extremo sul da América – Argentina – exceto os 
territórios da Guiana, Suriname, Belize e Jamaica – os últimos, sendo países de fala germânica – como 
maneira de evitar a expansão do comunismo. Partindo do Norte para o Sul dessa região, o México 
teve um regime ditatorial a partir de 1910 com Porfírio Díaz que consistiu numa insurreição armada 
comandada por elites liberalistas dissidentes do governo bem como por lideranças militares surgidas 
entre as massas camponesas indígenas. 
Desse modo, ainda, “a Revolução Mexicana que começou em 1910 lançou um 
resultado notável: a Constituição de 1917” proclamando “[...] uma extensa e robusta lista de direitos”. 
Ademais, um aspecto muito importante e diferencial foi seu pioneirismo no desenvolvimento de um 
constitucionalismo mais social. (GARGARELLA, 2014). 
Imediatamente abaixo do México, a Guatemala sofreu um golpe de Estado em 1954 
promovido pela CIA, que tirou o presidente democraticamente eleito Jacobo Arbenz Guzmán, do 
poder sob a justificativa de, impedir a expansão do comunismo. 
Seguindoa ordem norte-sul, a Nicarágua foi um país que sofreu um processo de 
regime ditatorial começando primeiramente com uma revolução popular provocada por um golpe de 
esquerda. A morte do líder revolucionário Augusto César Sandino, ocasionou a ascensão da família 
Somoza ao poder. Diante disso, revolucionários conseguem chegar ao poder depondo Anastasio 
Somoza, ditador desde 1967. 
Outro exemplo de país que sofreu com um regime autoritário foi a República 
Dominicana que, ‘sob ameaça comunista’, em 1965, um golpe foi promovido pelos Estados Unidos a 
fim de parar o avanço soviético. O Equador também passou por um golpe, porém de cunho militar e 
não promovido pela potência oposta ao regime que estava ameaçando a hegemonia do outro. O golpe 
derrubou o regime de “José María Velasco Ibarra”, passando a utilizar a riqueza do petróleo e 
empréstimos estrangeiros para custear um programa de industrialização, reforma agrária e subsídios 
para consumidores urbanos. 
Nesse viés, outro ditador latino americano que converge com a ideia de reforma 
agrária de José María Velasco Ibarra do Equador, foi Juan Velasco Alvarado, ditador peruano que 
governou durante sete anos, e efetivamente uma reforma agrária. Imediatamente abaixo está a Bolívia, 
que também sofreu golpe de estado orquestrado por “Hugo Banzer”. 
David Landau entende que, em meio a esse contexto de valorização democrática, 
governos com “pretensão” autocrática tem se utilizado de meios tidos como democráticos para 
fortalecer seu poder, ao que o autor denomina constitucionalismo abusivo. Na Venezuela, por 
exemplo, o Presidente Hugo Chavez, fundando-se no poder “original e constituinte do povo”, 
convocou um referendo para determinar se deveriam ser convocadas eleições para uma Assembleia 
Constituinte, de forma a substituir a Constituição. O próprio Chavez determinou as regras de eleição 
da Assembleia, o que favoreceu o seu partido, e, por meio da nova Constituição, pôde intensificar o 
poder do Executivo e consolidar-se no poder. No Equador e na Bolívia, Rafael Correa e Evo Morales, 
respectivamente, utilizaram-se de táticas semelhantes de substituição de Constituição para minar o 
poder de outras instituições e prolongar-se no poder. 
Houve uma alteração constitucional informal na Bolívia (por aqui nós chamamos de 
"mutação constitucional"), para permitir que o Presidente da República se candidatasse reiteradas 
vezes ao mesmo cargo. 
Se não bastasse essa manobra político-constitucional nefasta, tivemos um novo 
capítulo nessa trágica tendência mundial. O mesmo Tribunal que alterou a seu modo informalmente a 
Constituição, declarou Evo Morales Presidente da Bolívia pelo quarto mandato consecutivo, numa 
apuração de votos de regularidade absurdamente duvidosa. 
A Venezuela foi impactada por uma série de fatores que já estavam presentes como 
por exemplo a matriz econômica única nacional – o petróleo –; a representação repressiva; baixo 
apoio popular; a adoção de medidas a curto prazo que se estenderam como o controle de preços e o 
controle do Estado sobre o câmbio na tentativa de conter a inflação, altos índices de mortalidade 
infantil, desabastecimento, medicamentos, homicídios e, por fim, o colapso final: o ataque à 
democracia por meio da manobra que fere o princípio de Montesquieu da separação dos poderes. 
Por fim, a crise democrática que assola a Venezuela com seus altos índices de 
inflação se torna um país de milionários pobres em que faltam medicamentos, insumos, itens básicos 
de saúde além de garantias que não se podem comprar como liberdade de expressão, opinião, 
associação e de reunião pacífica que estão sendo ameaçadas diariamente pelo governo cada vez mais 
repressivo. 
Nesse sentido, o conceito de Habermas de Democracia define que o exercício da 
ação comunicativa por meio das instituições do direito é necessário. Ademais, para reverter todos 
esses problemas latino-americanos, pode-se destacar a superação de problemas secularizados como 
enuncia Bedin, em que o primeiro desafio consiste na superação do patrimonialismo fortemente 
arraigado nesses países, estabelecido por uma herança colonial de apropriação dos bens públicos, que 
estariam sujeitos a interesses particulares, de grupos elitistas locais; e, o segundo trata sobre a redução 
das desigualdades perpetuadas pela escravidão que os países latino-americanos sofreram (BEDIN, 
2010). 
IV) Constitucionalismo abusivo no Brasil 
 
No Brasil, há o fenômeno do hiperpresidencialismo, com um protagonismo 
exacerbado do Presidente da República, em razão do desenho institucional previsto na Constituição 
Federal brasileira (MACEDO, 2014, p. 496-518). Por sua vez, principalmente em razão da 
independência concedida ao Poder Judiciário e da autonomia prevista ao Ministério Público, os 
mecanismos de accountability horizontal ganharam corpo, promovendo controles maiores sobre os 
chefes dos Poderes Executivos Federal, Estaduais e Municipais (ROBL FILHO, 2012, p. 182- 226). 
Ainda se observa no Brasil, um momento de calibragem institucional na realização dos instrumentos 
de accountability do Poder Judiciário sobre os agentes políticos, pois, por exemplo, o combate à 
corrupção não justifica a desconsideração do devido processo judicial, impondo-se o respeito aos 
direitos fundamentais dos investigados e dos acusados (GIACOMOLLI, 2016, p. 83-108), além de 
não ser constitucionalmente adequada a intervenção do Poder Judiciário, em atos políticos por 
excelência. Por sua vez, é uma tendência no constitucionalismo atual a ampliação dos papéis 
atribuídos aos juízes e aos Tribunais. 
 Apesar da ampliação dos mecanismos de accountabilty do Poder Judiciário no 
Brasil e no mundo, a questão não altera substancialmente o problema central da relação entre 
Executivo e Legislativo no hiperpresidencialismo. Nos momentos de ausência de crises sociais, 
políticas e jurídicas de relevo e com forte apoio popular ao Executivo, os Parlamentos, mesmo que 
eleitos diretamente pelos cidadãos, não possuem de fato poder de agenda, além de politicamente 
figurarem como meros coadjuvantes dos Presidentes, Governadores e Prefeitos. De outro lado, 
também em razão do centralismo da Federação brasileira com a atribuição de grande parcela das 
receitas públicas e das decisões políticas relevantes ao governo central, as crises afetam com enorme 
intensidade a Presidência da República, sendo os momentos conturbados propícios ao substancial 
enfraquecimento do Poder Executivo e dificultando a construção de medidas conjuntas entre 
Presidente e Parlamento para enfrentar essas situações de instabilidade. Nesse momento, é comum a 
observância de protagonismo do Parlamento, o qual muitas vezes se utiliza dos seus poderes, como 
Emenda à Constituição Federal, para tomar decisões contrárias aos interesses do Poder Executivo, 
mas que também minam as bases do constitucionalismo democrático. Em outro lado, nos tempos de 
força do Presidente da República, os Projetos de Emenda à Constituição elaborados pelo Executivo 
são aprovados rapidamente. 
A tese e a hipótese defendidas neste artigo, são de que o Brasil atualmente não pode 
ser enquadrado em casos patológicos (estruturais) de constitucionalismo abusivo, conforme descrito 
por Landau e Schepelle, sendo um exemplo contemporâneo de democratura a Venezuela. De outro 
lado, ainda que as instituições e os Poderes brasileiros estejam funcionado dentro de um horizonte de 
razoável regularidade institucional, em trinta anos dois Presidentes da República Federativa do Brasil 
foram objeto de impeachment, observando-se também a utilização de alguns instrumentos 
constitucionais contra alguns elementos da democracia constitucional. Dessa forma, o Poder 
Judiciário possui papel de garantidor do regime político democrático, mas se frisa novamente que os 
magistrados não são salvadores da pátria, não devendo atuar de forma voluntarista e inspirados em 
conceitos própriose subjetivos de moralidade pública. 
De outro lado, função importante do controle judicial de constitucionalidade reside 
na proteção e na promoção de um processo legislativo constitucionalmente adequado e no controle 
sobre as Emendas à Constituição. Lenio Luiz Streck e Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira (2013, p. 
1119) registram que “O processo legislativo é o núcleo central do regime constitucional no Estado 
Democrático de Direito. O processo legislativo, jurisdicional ou administrativo, enquanto conceito 
renovado – ‘procedimento realizado em contraditório’[…]”, concluindo que não se trata de “mera 
ritualística ou a um instrumento legitimador de decisões políticas, nem esgotado no momento da 
decisão”. 
 Landau afirma que o controle judicial de constitucionalidade e os instrumentos do 
direito constitucional positivo são ineficazes para conter o fenômeno do constitucionalismo abusivo. 
No caso brasileiro, é inegável que o controle judicial de constitucionalidade das emendas 
constitucionais possui importantes problemas que necessitam ser enfrentados, além de não ter sido 
relevante para conter situações clássicas de constitucionalismo abusivo. Cita-se um exemplo: - A 
Constituição Federal brasileira estabelece, no artigo 60, §2º, CF, que “§2º A proposta será discutida e 
votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, 
em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros”. 
De outra banda, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal na ADI nº 4.425/ DF 
entendeu que “A Constituição Federal de 1988 não fixou um intervalo temporal mínimo entre os dois 
turnos de votação para fins de aprovação de Emendas à Constituição (CF, art. 62, §2º)” (BRASIL, 
STF, 2013), compreendendo que não há parâmetro objetivo que justifique o controle judicial de 
constitucionalidade no processo legislativo, ou seja, na atuação típica dos legisladores. Tal visão não 
pode prevalecer no Estado Democrático de Direito (art. 1º, caput, Constituição Federal), o qual é guia 
interpretativo de destaque sobre todas as demais normas constitucionais e especialmente acerca das 
práticas democráticas e do funcionamento das tomadas de decisões políticas estruturantes. Ainda, não 
é possível desconsiderar a dicção literal do texto constitucional sem uma razão forte também de matriz 
constitucional. Por exemplo, é possível desconsiderar parcialmente uma compreensão a partir da 
técnica gramatical se existir argumentos teleológicos e sistemáticos constitucionais para tanto. 
Em primeiro lugar, uma interpretação literal do art. 60, §2º, CF determina a 
realização de efetiva discussão sobre a Proposta de Emenda à Constituição e depois realização de 
votação pelo Plenário de cada Casa do Congresso Nacional. Posteriormente e em outra sessão, a 
realização de nova discussão e votação em segundo turno. Sendo a democracia, o pluralismo e a 
participação os fins tutelados por esse dispositivo constitucional, uma interpretação teleológica aponta 
a necessidade de realização de deliberação e votação em dois turnos distintos nos âmbitos formal e 
material, pressupondo assim o debate e a votação em uma sessão e, depois de um interstício, outra 
sessão e votação em segundo turno. 
Em leitura sistemática da Constituição Federal, o processo legislativo 
principalmente de Emenda à Constituição deve permitir a adequada participação do povo por meio 
dos seus representantes, mas com conhecimento, discussão e participação da sociedade civil e dos 
cidadãos também (art. 1º, V e parágrafo único, CF), devendo os Poderes estatais constituídos como 
Executivo, Legislativo e Judiciário zelarem pela efetivação e pela concretização da democracia 
constitucional, não promovendo atos de constitucionalismo abusivo. Nesse contexto normativo, não é 
constitucional a realização de uma única discussão em uma das casas do Congresso Nacional ou na 
Assembleia Legislativa, porém ocorrendo o registro da existência de dois turnos somente com 
objetivo de simular a observância do art. 60, §2º, CF. 
 
V) Leis com caráter abusivo 
 
Registra-se que tanto o Congresso Nacional como o Supremo Tribunal Federal, 
estão avançando na conformação do processo legislativo nos quadrantes da democracia constitucional, 
como se observa nas Medidas Provisórias. Nos termos do artigo 62, caput e §3º, CF, as Medidas 
Provisórias podem ser adotadas pelo Presidente da República com força de lei em caso de necessidade 
e urgência, porém devem ser submetidas imediatamente ao Congresso Nacional. Inegável que o 
Estado Constitucional a partir do século XX, impõe uma atuação forte do Poder Executivo, na 
concretização das normas e objetivos constitucionais por meio de políticas públicas, planejamento das 
ações estatais e por diversas prestações estatais. Nesse contexto, há necessidade de concessão de certo 
poder normativo ao Executivo (CLÈVE, 2011, p. 48-58). 
A Constituição Federal brasileira prevê cláusulas de eternidade nos seguintes termos 
no art. 60, §4º, CF: “§4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a 
forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos 
Poderes; IV - os direitos e garantias individuais”. 
O constitucionalismo abusivo ocorre, por exemplo: 
a) com a desconsideração da forma federativa de Estado por meio da 
centralização inconstitucional das competências no governo central e na 
Presidência da República, 
b) com o ataque ao núcleo essencial do processo eleitoral competitivo e 
periódico; e, 
c) com a afronta aos elementos estruturais da separação dos poderes e ao 
núcleo essencial dos direitos fundamentais. 
Tema relevante para o constitucionalismo abusivo, no Brasil, diz respeito à 
promulgação da Emenda Constitucional nº 16, em 04 de junho de 1997, a qual alterou o §5º do art. 14, 
permitindo a reeleição do Presidente da República, dos Governadores do Estado e do Distrito Federal 
e dos Prefeitos para um período subsequente. Nos Estados Unidos da América, inexistia restrição à 
reeleição para períodos subsequentes do Presidente da República, tendo, por exemplo, o Presidente 
Franklin Delano Roosevelt sido eleito quatro vezes seguidas. De outro lado, após a Segunda Guerra 
Mundial foi proposta e ratificada em 27 de fevereiro de 1951 a XXII Emenda à Constituição Federal 
Norte-Americana, que permitiu o exercício da Presidência por dois mandatos. Essa vedação 
claramente enquadra-se na necessária rotatividade dos cargos na República Democrática, evitando a 
efetivação de governos populistas e o culto à personalidade dos governantes. 
O Supremo Tribunal Federal julgou a Medida Cautelar na Ação Direta de 
Inconstitucionalidade nº 1.805 contra essa emenda constitucional em 26 de março de 1998, 
entendendo que inexistia qualquer inconstitucionalidade e violação ao art. 60, §4º, IV, CF (BRASIL, 
STF, 1998). Registra-se que os partidos de oposição à época requerem a interpretação conforme a 
Constituição para que os titulares dos cargos devessem renunciar seis meses antes do pleito eleitoral, 
porque se alegava a quebra da isonomia e a utilização indevida da Administração Pública pelo 
candidato que busca a reeleição. A Medida Cautelar não foi concedida e a ação ainda não teve seu 
mérito apreciado pelo Supremo Tribunal Federal. 
O tema da utilização da máquina pública para promoção de campanhas eleitorais, 
merece toda a atenção do direito constitucional, mas a permissão de uma reeleição subsequente dos 
membros dos chefes do Poder Executivo, não produz necessariamente a degradação da democracia 
constitucional. Em verdade, o tema da reeleição torna-se mais relevante como uma situação de 
constitucionalismo abusivo com a possibilidade reeleição ilimitada dos Chefes do Poder Executivo em 
razão do aparelhamento do Estado e da violação do princípio Republicano. 
Por fim, a literatura sobre hiperpresidencialismo e acerca do constitucionalismoabusivo aponta a utilização reincidente do impeachment como ferramenta de retirada do chefe do 
Poder Executivo, impossibilitando o cumprimento do mandato concedido pelas eleições. O caso mais 
recente no Brasil, foi do impeachment da Presidente Dilma Rousseff, o qual aponta claramente a 
existência de estruturas do hiperpresidencialismo e trazem preocupações sobre a utilização desse 
mecanismo de forma abusiva contra a democracia constitucional. Acerca do instrumento do 
impeachment ou do juízo político, parte da literatura aponta tratar-se de mecanismo importante para 
restringir os intensos poderes dos Presidentes da República, sendo válvulas de escape contra esse 
grande poder. De outro lado, a utilização reiterada desse mecanismo extremo é muito danosa para a 
democracia constitucional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VI) Conclusão 
 
 
 
Concluí que o constitucionalismo abusivo e o hiperpresidencialismo estão lado a 
lado. Temos tipos de constitucionalismo abusivo e exemplos na América Latina e Brasil. 
As crises democráticas na América Latina surgiram de uma guerra ideológica e 
causaram diversas consequências horrendas em nome de evitar a expansão do comunismo. Foi 
exposto no trabalho vários golpes de Estado promovidos na maioria das vezes por militares e pela 
potência capitalista. 
Nesse sentido, o conceito de Habermas de Democracia define que o exercício da 
ação comunicativa, por meio das instituições do direito é necessária. Ademais, para reverter todos 
esses problemas latino-americanos, pode-se destacar a superação de problemas secularizados como 
enuncia Bedin, em que o primeiro desafio consiste na superação do patrimonialismo, fortemente 
arraigado nesses países, estabelecido por uma herança colonial de apropriação dos bens públicos, que 
estariam sujeitos a interesses particulares de grupos elitistas locais; e, o segundo, se trata da redução 
das desigualdades, perpetuadas pela escravidão que os países latino-americanos sofreram (BEDIN, 
2010). 
As práticas e as técnicas constitucionais, devem ser analisadas a partir dos ditames 
do constitucionalismo democrático, o qual pressupõe a limitação dos poderes instituídos, a separação 
dos poderes, a garantia e a promoção do núcleo essencial dos direitos fundamentais; e, os institutos da 
democracia pluralista. De outro lado, o emprego de instrumentos previstos no Direito Constitucional 
positivo muitas vezes camufla a violação da estrutura das democracias constitucionais. 
No Brasil, não há um constitucionalismo abusivo estrutural, no entanto, existe 
utilização de alguns mecanismos previstos na Constituição Federal de 1988, contra aspectos do Estado 
Democrático de Direito. Assim observa-se um constitucionalismo abusivo episódico, mas 
preocupante, especialmente em razão da ocorrência de dois impeachments em 30 anos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BIBLIOGRAFIAS 
 
- LANDAU, David. Abusive Constitutionalism. U.C.D. L. Rev, v. 47, n. 189, p. 189–260, 2013. 
 
- GARGARELLA, Roberto. La Sala de Máquinas de la Constitución. Buenos Aires: Katz Editores, 
2014 (Caps. 8, 9 e 10). 
 
-GARGARELLA, Roberto. Constitucionalismo latino-americano: a necessidade prioritária de uma 
reforma política. In: Constituinte exclusiva: um outro sistema político é possível. P. 9-19. São Paulo, 
Editora Expressão Popular, 2014. 
 
- GONÇALVES, Ana. Constitucionalismo abusivo na América Latina e a função democrática dos 
plebiscitos. Conteudojuridico.com.br 
 
- LEMES, Izabela. Crises democráticas na América Latina. Faculdade de direito. UNB.2018. 
 
-BEDIN, Gilmar Antônio. Estado de Direito e seus Quatro Grandes Desafios na América Latina na 
Atualidade: uma leitura a partir da realidade brasileira. 2010. 
 
- SCHMITT, Carl. Teoría de la Constitución. Madrid, Alianza Editorial. 1996. Parte 1. 
 
-NOBERTO, Ilton. Constitucionalismo abusivo; fundamentos teóricos e análise da sua utilização no 
Brasil contemporâneo. Belo horizonte.2018 
 
-FONSECA, Gabriel Campos Soares da...et al.(coord.) Para além dos direitos. São Paulo: Sguerra 
Design, 2019. 
 
	III) Constitucionalismo abusivo na América Latina
	IV) Constitucionalismo abusivo no Brasil
	V) Leis com caráter abusivo
	VI) Conclusão
	BIBLIOGRAFIAS

Continue navegando