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ANTROPOLOGIA CULTURAL-FAECAD

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ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
2 
 
 
ANTROPOLOGIA 
CULTURAL 
Prof. Gilmar Vargas M. Lima 
www.theologiaonline.org.br 
gilmarvargas@gmail.com 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
3 
 CONTEÚDO 
 
CAPÍTULO 01 ................................................................................................................................ 6 
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS .............................................................. 6 
A. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 6 
B. ANTROPOLOGIA ..................................................................................................................... 6 
C. A ORIGEM DA ANTROPOLOGIA ........................................................................................... 6 
D. AS CIÊNCIAS SOCIAIS ........................................................................................................... 7 
CAPÍTULO 02 .............................................................................................................................. 10 
SUBDIVISÕES DA ANTROPOLOGIA ...................................................................................... 10 
A. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 10 
B. CAMPOS DA ANTROPOLOGIA CULTURAL ........................................................................ 11 
C. ÁREAS DA ETNOLOGIA ....................................................................................................... 12 
INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA CULTURAL ..................................................................... 14 
A. ANTROPOLOGIA CULTURAL............................................................................................... 14 
B. O FOCO DE ANÁLISE DA ANTROPOLOGIA CULTURAL – O HOMEM ............................. 14 
C. O HOMEM .............................................................................................................................. 15 
CAPÍTULO 03 .............................................................................................................................. 21 
CULTURA ................................................................................................................................ 21 
A. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 21 
B. AS ESPECIFICIDADES DA CULTURA ................................................................................. 21 
C. DEFINIÇÕES DE CULTURA ................................................................................................. 22 
D. O HOMEM E A CULTURA ..................................................................................................... 25 
CAPÍTULO 04 .............................................................................................................................. 28 
SENTIDOS DA CULTURA ....................................................................................................... 28 
A. SENTIDOS DE CULTURA ..................................................................................................... 28 
B. ACULTURAÇÃO .................................................................................................................... 29 
C. MODALIDADES DE ACULTURAÇÃO ................................................................................... 30 
CAPÍTULO 05 .............................................................................................................................. 32 
O OBJETO DA ANTROPOLOGIA CULTURAL ........................................................................ 32 
A. OBJETO DA ANTROPOLOGIA CULTURAL ......................................................................... 32 
B. ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO........................................................................................... 32 
C. A ETNOTEOLOGIA ................................................................................................................ 32 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
4 
D. A ANTROPOLOGIA CULTURAL DA BÍBLIA ......................................................................... 33 
E. COSMOVISÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................. 33 
F. COMPREENDER A COSMOVISÃO DE UM POVO .............................................................. 34 
G. COMUNICAÇÃO TRANSCULTURAL .................................................................................... 35 
CAPÍTULO 06 .............................................................................................................................. 36 
PRINCIPAIS ACEPÇOES DO TERMO “CULTURA” ................................................................ 36 
A. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 36 
B. CLASSIFICAÇÃO DE CULTURA .......................................................................................... 37 
C. ABSORÇÃO DE UMA CULTURA .......................................................................................... 38 
D. RAÇA ...................................................................................................................................... 38 
E. ETNIA ..................................................................................................................................... 39 
F. RELATIVISMO CULTURAL ................................................................................................... 39 
G. ETNOCENTRISMO ................................................................................................................ 39 
H. SINCRETISMO ...................................................................................................................... 40 
CAPÍTULO 07 .............................................................................................................................. 42 
MITO: ELEMENTO DA CULTURA ........................................................................................... 42 
A. O MITO ................................................................................................................................... 42 
B. FOLCLORE ............................................................................................................................ 43 
C. PSICOLOGIA SOCIAL ........................................................................................................... 45 
D. O POPULAR E SUA CULTURA............................................................................................. 47 
CAPÍTULO 08 .............................................................................................................................. 49 
MITOS E TEORIAS DA CRIAÇÃO ........................................................................................... 49 
A. A NARRATIVA MITOLÓGICA ................................................................................................ 49 
B. MODELOS DE MITOS COSMOGÔNICOS ........................................................................... 50 
C. A TEORIA DO BIG BANG ...................................................................................................... 55 
CAPÍTULO 09 .............................................................................................................................. 62 
A BÍBLIA E A CRIAÇÃO ........................................................................................................... 62 
A. COMO A CRIAÇÃO BÍBLICA É CONSIDERADA?................................................................ 62 
B. A TEORIA GEOLÓGICA DA CRIAÇÃO (TGC) ..................................................................... 63 
C. A TEORIA DA LACUNA .........................................................................................................64 
D. EXPOSIÇÃO BÍBLICA DA CRIAÇÃO .................................................................................... 65 
CAPÍTULO 10 .............................................................................................................................. 71 
TEORIAS DA ORIGEM DO HOMEM........................................................................................ 71 
A. A TEORIA DA EVOLUÇÃO .................................................................................................... 71 
B. TEORIAS CRIACIONISTAS................................................................................................... 83 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
5 
CAPÍTULO 11 .............................................................................................................................. 91 
A CONSTITUIÇÃO DO HOMEM .............................................................................................. 91 
A. A DESCRIÇÃO BÍBLICA ........................................................................................................ 91 
B. A DOUTRINA DA NATUREZA DO HOMEM ......................................................................... 92 
C. A METAFÍSICA DA CRIAÇÃO DO HOMEM .......................................................................... 97 
D. FUNÇÕES RESPECTIVAS DO CORPO, ALMA E ESPÍRITO .............................................. 99 
CAPÍTULO 12 ............................................................................................................................ 110 
A QUEDA DO HOMEM .......................................................................................................... 110 
A. A OCORRENCIA DA QUEDA .............................................................................................. 110 
B. ESPÍRITO, ALMA E CORPO APÓS A QUEDA ................................................................... 116 
CAPÍTULO 13 ............................................................................................................................ 121 
O HOMEM SOB TRÊS ASPECTOS ....................................................................................... 121 
A. O HOMEM NATURAL .......................................................................................................... 121 
B. O HOMEM ESPIRITUAL – 1CO 2.15 .................................................................................. 122 
C. O HOMEM CARNAL ............................................................................................................ 123 
CAPÍTULO 14 ............................................................................................................................ 125 
A ORIGEM DA ALMA E DO ESPÍRITO DO HOMEM ............................................................. 125 
A. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 125 
B. TEORIA DO PREEXISTENCIALISMO ................................................................................ 127 
C. TEORIA DO CRIACIONISMO .............................................................................................. 130 
D. TEORIA TRADUCIONISTA .................................................................................................. 132 
E. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 134 
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................... 136 
 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
6 
CAPÍTULO 01 
 
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS 
 
A. INTRODUÇÃO 
Por mais isoladas que tenham vivido, as diferentes sociedades humanas sempre 
souberam (salvo raríssimas exceções) que além de suas fronteiras haviam "outros 
homens", homens que viviam de formas diversas. Cuja pele era talvez de outra cor, 
que não adoravam os mesmos deuses, que pensavam de outra maneira. A 
curiosidade de conhecer esses homens e povos "diferentes" motivou o nascimento 
da antropologia, que atualmente não estuda apenas "os outros", mas todos os seres 
humanos. 
A Antropologia analisa as características biológicas, culturais e sociais dos seres 
humanos. Por ser um estudo muito complexo será privilegiado, nesse curso, o 
aspecto cultural com viés, quando se fizer pertinente, bíblico. 
Entre as muitas ciências que têm por objeto o ser humano, a antropologia ("ciência 
do homem", segundo a etimologia) o estuda do ponto de vista das características 
biológicas e culturais dos diversos grupos em que se distribui o gênero humano, 
pesquisando com especial interesse exatamente as diferenças. 
 
B. ANTROPOLOGIA 
A palavra Antropologia deriva do grego άνθρωπος – anthropos, (homem / pessoa) 
e λόγος (logos – razão / pensamento). 
 
C. A ORIGEM DA ANTROPOLOGIA 
O nascimento da antropologia como ciência ocorreu a partir dos grandes 
descobrimentos realizados por navegadores e viajantes europeus. A curiosidade de 
conhecer povos exóticos, de saber como viviam e pensavam homens de culturas tão 
distantes da europeia, de descobrir que aspecto físico e que costumes tinham, levou 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
7 
à classificação e ao estudo dos dados recolhidos in loco (isto é, no lugar de origem) 
por exploradores, comerciantes e missionários chegados àquelas terras longínquas. 
Os primeiros antropólogos tinham como característica comum a distância do objeto 
de seu estudo, o qual consistia sempre em homens pertencentes a culturas distintas 
da europeia e dela geograficamente afastadas. A moderna antropologia, no entanto, 
estende sua pesquisa às sociedades industriais e até mesmo às grandes 
concentrações urbanas. Mas seus instrumentos de trabalho se foram aos poucos 
delineando justamente no estudo das sociedades "primitivas" mais simples e, com 
um processo de mudança menos vertiginoso que o das sociedades modernas. 
Com frequência, os antropólogos do século XIX relacionavam as características 
biológicas dos povos com suas formas culturais. Mais tarde, estabeleceu-se que os 
traços biológicos e os culturais tinham menos ligação entre si do que se acreditara. 
Isso levou a uma primeira subdivisão das ciências antropológicas em antropologia 
física e antropologia cultural, esta última comumente assimilada ao conceito de 
etnologia. 
Desde a segunda metade do século XIX a antropologia cultural começou a ser 
considerada uma ciência humana, com as limitações e ambiguidades próprias dessa 
categoria científica, enquanto a antropologia física continuou desenvolvendo seus 
métodos de trabalho, medição e estabelecimento de correlações entre as medidas 
encontradas como uma ciência natural. Hoje os dois campos estão totalmente 
diferenciados e poucos são os pesquisadores que trabalham ao mesmo tempo em 
ambos. 
 
D. AS CIÊNCIAS SOCIAIS 
É o estudo das origens, do desenvolvimento e da organização das sociedades e 
culturas atuais. O cientista social estuda os fenômenos, as estruturas e as relações 
que caracterizam as organizações sociais, culturais, econômicas e políticas. Esse 
pesquisador analisa os movimentos e os conflitos sociais, a construção das 
identidades e a formação das opiniões. Pesquisa costumes e hábitos e investiga as 
relações entre indivíduos, famílias, grupos e instituições. Desenvolve e utiliza um 
conjunto variado de técnicas e métodos de pesquisa para o estudo das coletividades 
humanas e interpreta os problemas da sociedade, da política e da cultura. 
As Ciências Sociais são multidisciplinares mas, na sua concepção ela pode ser 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
8 
subdividida em: Sociologia; Ciências Políticas; e Antropologia. 
 
1. SOCIOLOGIA 
A sociologia é a parte das ciências humanas que estuda o comportamento 
humano em função do meio e os processos que interligam os indivíduos em 
associações, grupos e instituições. Enquantoo indivíduo na sua singularidade é 
estudado pela psicologia, a sociologia tem uma base teórico-metodológica 
voltada para o estudo dos fenômenos sociais, tentando explicá-los e analisando 
os seres humanos em suas relações de interdependência. Compreender as 
diferentes sociedades e culturas é um dos objetivos da sociologia. 
A sociologia, por sua vez, pode até certo ponto ser considerada uma "irmã 
gêmea" da antropologia. Em princípio, o que distingue as duas ciências é o objeto 
de seu interesse: enquanto o sociólogo se dedica ao estudo das sociedades 
modernas, o antropólogo comumente pesquisa as sociedades primitivas, embora 
o estudo das sociedades coloniais e de seu rápido processo de aculturação e 
modernização social tenha desenvolvido um campo intermediário, no qual fica 
difícil estabelecer os limites entre o trabalho sociológico e o trabalho 
antropológico. Nesse terreno intermediário surgiu a chamada antropologia social. 
 
2. POLÍTICA 
Ciência Política é o estudo da política, das estruturas e dos processos de 
governo. 
O estudo da política surgiu na Grécia Antiga, quando Aristóteles se dedicou a 
compreender e a definir as diferentes formas de governo. Desde então, a política 
entrou em pauta e recebeu grande atenção de governantes e das respectivas 
CIÊNCIAS 
SOCIAIS
SOCIOLOGIA POLÍTICA ANTROPOLOGIA
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
9 
sociedades, pois a política está presente em toda relação humana. Destacá-las 
fez com que ganhasse especial atenção para análises. Mas, embora a atenção 
tenha sido reforçada sobre a política, a Ciência Política propriamente dita só se 
constituiu muito mais tarde. Ela reuniu filosofia moral, filosofia política, política 
econômica e história, por exemplo, para compor análises sobre o Estado, sobre 
o governo e suas funções. A Ciência Política surgiu no decorrer do século XIX, 
reconhecido por ser o século de surgimento das Ciências Humanas, como 
Sociologia, Antropologia e História. Surgiria nessa época algo diferente da 
Filosofia Política praticada pelos gregos antigos. 
Ao constituir família, todo ser humano contrai para si um conjunto de normas que 
abrangem direitos e deveres neste tipo de estrutura social, que acabam definindo 
um comportamento padrão deste indivíduo na organização inserida, a qual neste 
caso podemos denominar de política familiar. E assim, todos os tipos de 
estruturas sociais são definidos por esse conjunto de normas, as quais nem 
sempre serão rígidas, podendo assim serem flexíveis, mas mantendo a estrutura 
básica a qual define o tipo daquela organização. 
 
3. ANTROPOLOGIA 
A Antropologia está subdividida em Antropologia Física ou Biológica, 
Antropologia Social e Antropologia Cultural (ou Etnológica). Antropologia Cultural 
é objeto do nosso estudo. 
 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
10 
CAPÍTULO 02 
 
SUBDIVISÕES DA ANTROPOLOGIA 
 
A. INTRODUÇÃO 
A divisão clássica da Antropologia distingue a Antropologia Física ou Biológica da 
Antropologia Social e Antropologia Cultural. Cada uma destas, em sua construção, 
abrigou diversas correntes de pensamento. 
 
Estudar o ser humano e a diversidade cultural, envolve a integração de diversas 
disciplinas que procuram refletir sobre as dimensões biológicas, sociais e culturais, 
sendo as principais áreas: 
 
1. ANTROPOLOGIA FÍSICA 
Estuda os aspectos genéticos e biológicos do homem. A antropologia física, por 
vezes chamada "antropologia biológica" estuda os mecanismos de evolução 
biológica, herança genética, adaptabilidade e variabilidade humana, primatologia 
e o registo fóssil da evolução humana. 
Alguns dos ramos primitivos da antropologia física, tais como a antropometria 
primitiva, são agora classificados como pseudociências. Medidas como o índice 
cefálico eram utilizadas para extrapolar características comportamentais, 
atualmente são obsoletas ou apenas com limitada aplicação na antropologia 
forense como auxiliar na tarefa de reconstituir identidades (sexo, idade, raça e 
ANTROPOLOGIA 
GERAL
ANTROPOLOGIA 
FÍSICA
ANTROPOLOGIA 
CULTURAL
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
11 
mesmo faces), identificar causas e circunstâncias de óbito a partir dos restos 
mortais encontrados. 
 
2. ANTROPOLOGIA CULTURAL 
Investiga as culturas no tempo e espaço, envolvendo os costumes, mitos, valores, 
crenças, rituais, religião, língua. 
 
B. CAMPOS DA ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
1. LINGUÍSTICA 
A linguística é de grande importância para a antropologia, não só porque o 
conhecimento do idioma se faz necessário ao antropólogo nas pesquisas de 
campo (feitas no local de origem), mas também porque muitos conceitos 
elaborados pelos linguistas são fundamentais para a análise de determinados 
aspectos das sociedades; por exemplo, a concepção da sociedade como uma 
rede de comunicação, a análise estrutural, ou a forma em que se organiza a 
experiência vital do sujeito de uma comunidade em estudo. 
 
2. ARQUEOLOGIA 
A arqueologia é necessária para conhecer o passado das sociedades, e pode 
esclarecer em grande escala seu presente. A terminologia arqueológica é anterior 
à da antropologia; E proporcionou a esta última muitos vocábulos úteis, por outro 
ANTROPOLOGIA 
CULTURAL
LINGUÍSTICA ARQUEOLOGIA ETNOLOGIA
ETNOGRAFIA
ANTROPOLOGIA 
SOCIAL
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
12 
lado, a própria antropologia é útil à arqueologia, na medida em que estuda ao 
vivo sociedades muitas vezes semelhantes. Por exemplo, no desconhecimento 
dos metais a outras já desaparecidas, sobre as quais pode lançar abundante luz. 
 
3. ETNOLOGIA 
A etnologia é o "estudo ou ciência que estuda os fatos e documentos levantados 
pela etnografia no âmbito da antropologia cultural e social, buscando uma 
apreciação analítica e comparativa das culturas." 
Em sua acepção original, era o estudo das sociedades primitivas, todavia, com o 
desenvolvimento da Antropologia, o termo primitivo foi abandonado por se 
acreditar que exaltaria o preconceito étnico. Assim, atualmente se diz que 
etnologia é o estudo das características de qualquer etnia, isto é, agrupamento 
humano - povo ou grupo social - que apresenta alguma estrutura socioeconômica 
identificável, onde em geral os membros têm interações cara a cara, e há uma 
comunhão de cultura e de língua. Este estudo visa estabelecer linhas gerais e de 
desenvolvimento das sociedades. 
 
C. ÁREAS DA ETNOLOGIA 
 
1. ETNOGRAFIA 
Etnografia é o estudo descritivo da cultura dos povos, sua língua, raça, religião, 
hábitos etc., como também das manifestações materiais de suas atividades. É a 
ciência das etnias. Do grego ethos (cultura) + graphe (escrita). 
A etnografia estuda e revela os costumes, as crenças e as tradições de uma 
sociedade, que são transmitidas de geração em geração e que permitem a 
continuidade de uma determinada cultura ou de um sistema social. 
ETNOLOGIA
ETNOGRAFIA
ANTROPOLOGIA 
SOCIAL
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
13 
Etnografia é inerente a qualquer aspecto da Antropologia Cultural, que estuda os 
processos da interação social: os conhecimentos, as ideias, técnicas, 
habilidades, normas de comportamento e hábitos adquiridos na vida social de um 
povo. 
A Etnografia é também parte ou disciplina integrante da etnologia, que se ocupa 
com o estudo descritivo, classificatório e comparativo da cultura material, ou seja, 
dos artefatos encontrados nas diversas sociedades. 
A pesquisa etnográfica tem bases antropológicas ou etnográficas, baseia-se na 
observação e levantamento de hipóteses, onde o etnólogo procura descrever o 
que, na sua visão, ou seja, na sua interpretação, está ocorrendo no contexto 
pesquisado. Uma das características da Etnografia é a presença física do 
pesquisador e a observação in loco. 
 
2. ANTROPOLOGIA SOCIAL 
Analisa o comportamento do homem em sociedade, a organização social e 
política, as relações sociais e instituições sociais. 
A Antropologia Social tem como embasamento o estudo das relaçõese dos 
sistemas sociais que são próprios das diversas sociedades humanas. Esta classe 
de investigação se ocupa de comparar sistemas sociais no tempo e no espaço 
com a finalidade de verificar sua estrutura e os caracteres que distinguem cada 
forma de comportamento. Neste sentido, um dos fins principais da Antropologia 
Social é saber por que e como os homens se comportam de modo diferente 
segundo as sociedades em que vivem. 
 
 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
14 
CAPÍTULO 03 
 
INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
A. ANTROPOLOGIA CULTURAL 
A Antropologia Cultural é o estudo do comportamento do ser humano, das crenças 
religiosas e dos sistemas simbólicos. 
Podemos definir a Antropologia Cultural como uma possibilidade de 
compreendermos quem somos por intermédio da observação atenta do 
comportamento do outro. O outro deixa de ser visto como um indivíduo ameaçador 
que não tem nada para acrescentar, ou seja, o “alien”. Esse olhar diferenciado 
possibilita uma mudança muito relevante, posto que o outro passa a ser visto como 
alguém que possui hábitos, costumes e valores diferentes que os nossos e 
justamente por este motivo pode ensinar muitas coisas para nós, assim sendo, o 
outro é o “Alter” (diferente) e não o “alien” (estranho). 
 
B. O FOCO DE ANÁLISE DA ANTROPOLOGIA CULTURAL – O HOMEM 
A Antropologia Cultural analisa a essência humana e o que determinados grupos 
sociais criam historicamente. 
Entendemos que o homem é um ser social, portanto, ele aprende sempre com outros 
indivíduos. Assim, o ser humano ao utilizar suas inúmeras habilidades e 
competências explora a sua realidade e tenta explica-la. 
 
1. O HOMEM É UM SER SOCIAL 
Quando descobrimos que somos essencialmente coletivos, percebemos que o 
individualismo exacerbado que existe atualmente em nossa sociedade foi algo 
historicamente construído, ou seja, o ser humano não possui uma essência 
solitária, mas ele precisa do outro para poder sobreviver. 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
15 
Entretanto se não fôssemos inseridos em nenhum grupo social desde o nosso 
nascimento poderíamos aprender a falar, andar e gesticular? Será que existe a 
possibilidade de iniciarmos o processo de humanização de uma forma isolada de 
um grupo social? 
Temos características e hábitos essencialmente humanos porque fomos 
inseridos em um grupo social e aprendemos a reconhecer determinados 
símbolos, expressar os nossos sentimentos como chorar, rir etc. 
 
2. TRABALHO – UMA ATIVIDADE EXCLUSIVAMENTE HUMANA 
O que distingue os homens dos animais é a nossa capacidade de pensar e utilizar 
a nossa inteligência para sanar as nossas vicissitudes por meio do trabalho. 
O conceito trabalho é, na maioria das vezes, entendido como algo penoso que 
fazemos para ganhar um salário no fim do mês e assim continuarmos 
sobrevivendo. No entanto, essa conceituação (criada pelos economistas do 
século XIX) não explica a complexidade desse conceito. 
Trabalho é toda ação humana sensível com valor de uso, ou seja, todo ser 
humano trabalha quando desempenha qualquer ação que acontece na realidade 
(escola, casa, igreja) com uma finalidade. 
O lazer é considerado um trabalho, pois, quando alguém vai ao parque já está 
realizando uma atividade que tem um objetivo que pode ser diversão, 
entretenimento ou descanso. Assim sendo, a capacidade que o homem tem de 
raciocinar está intrinsecamente ligada à capacidade que ele tem de trabalhar e 
são essas potencialidades humanas que nos diferenciam dos outros animais. 
O ser humano sempre trabalhou, ou seja, transformou a natureza para atender 
as suas necessidades. Por intermédio da sua inteligência e da capacidade que 
tem para criar, a espécie humana evoluiu e continuará evoluindo. 
 
C. O HOMEM 
"Que é o homem, para que lhe dês importância e atenção, para que o examines a 
cada manhã e o proves a cada instante?” – Jó 7.17,18 
“Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali 
firmaste, pergunto: Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
16 
homem, para que com ele te preocupes?” – Sl 8.3,4 
"O homem é a medida de todas as coisas" – Protágoras. 
"Muitas são as coisas grandiosas dotadas de vida, mas a mais grandiosa de todas é 
o homem" – Sófocles. 
 
3. QUE É O HOMEM? 
A primeira dessas quatro frases é uma das perguntas que Jó dirige a Deus; a 
segunda, é a expressão de assombro do salmista diante da magnitude do 
universo e a pequinês do homem; a terceira uma reflexão do pensador grego 
Protágoras; e a quarta, uma fala da tragédia Antígona, de Sófocles. A elas 
poderiam reunir-se milhares de outras sobre o mesmo tema, de todas as épocas 
e civilizações, o que mostra que nada preocupa tanto o homem quanto a condição 
humana, e nenhum espetáculo é mais atraente para o homem do que o próprio 
homem. 
Em sentido amplo, homem é qualquer membro da espécie humana. Assim ele é 
entendido pela filosofia e abordado em cada um de seus aspectos particulares, 
pela biologia, antropologia, história, medicina e outras disciplinas que o têm por 
objeto a tarefa de definir homem. Consiste em procurar respostas para algumas 
perguntas essenciais como: 
 Qual a natureza ou a essência do homem? 
 Como se distingue o homem dos outros seres orgânicos, especialmente 
dos animais superiores? 
 Essa distinção é essencial e absoluta, ou apenas uma variação de grau? 
 Qual o lugar do homem no mundo? 
 Qual sua missão ou seu destino? 
 Como se relaciona com Deus ou com absoluto? 
 
4. O HOMEM SOB A PERSPECTIVA FILOSÓFICA 
A noção ocidental de homem como indivíduo tem como ponto de partida o 
pensamento grego. Para Sócrates e Platão cada ente só pode ser definido se 
todos os seres do universo estiverem classificados segundo certas articulações 
lógicas e ontológicas. Definir um ente consiste então em tomar a categoria à qual 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
17 
ele pertence e situar essa categoria no lugar ontológico que lhe corresponde. 
Esse lugar ontológico é determinado por dois elementos de caráter lógico: a 
categoria próxima e a diferença específica. Por eles se chega à definição de 
Aristóteles: o homem é um animal racional. Animal é a categoria próxima, na qual 
se inclui o homem; racional é a diferença específica, por meio da qual se distingue 
conceitualmente o homem dos outros animais. Para a filosofia grega, o homem é 
um "ser racional", ou melhor dito, um animal que possui razão. Essa definição 
implica dizer que o homem é uma coisa cuja natureza consiste em poder dizer o 
que são as outras coisas. Ou seja, a razão permite ao homem definir-se e definir 
o conjunto do universo. 
Os gregos admitem que o homem tenha sido "formado", e também que sua 
formação tenha obedecido a condições especiais em relação aos demais seres, 
mas rejeitam a hipótese da criação. A visão do homem como ser criado é comum 
ao judaísmo e ao cristianismo e exerceu forte influência sobre todas as 
concepções filosóficas relacionadas com essas religiões e também com o 
islamismo. O homem seria, então, uma criatura, ou seja, um ser cuja realidade 
não é própria, mas que foi criado "à imagem e semelhança de Deus", o que lhe 
confere superioridade em relação aos outros seres. Para os gregos, o homem 
vive em dois mundos: o mundo sensível, que ele apreende pelos sentidos, e o 
mundo inteligível, que apreende pela razão, e onde se confirma sua realidade 
como ser racional. 
Na concepção judaico-cristã, o homem também se acha suspenso entre dois 
mundos: o finito e infinito, o que opõe em uma mesma natureza a insignificância 
e a imensa grandeza. Afirma Pascal que "... a natureza do homem pode ser 
considerada de duas maneiras: uma, segundo seu fim, e então é grande e 
incomparável; outra, segundo a multidão, como se aprecia a natureza do cavalo 
e do cão, e então é abjeto e vil. Esses são os dois caminhos que levam a 
julgamentos tãodiversos do homem, e a tantas discussões dos filósofos". 
 
5. O HOMEM SOB A PERSPECTIVA BIOLÓGICA 
Para as ciências naturais, a dificuldade de definir o que seja "homem" consiste 
em escolher entre dois pontos de vista: o da estrutura anatômica e o que se refere 
às faculdades reflexivas. No primeiro caso, o homem encontrar-se-ia imerso em 
sua animalidade; no segundo, estaria pairando sobre o mundo, isolado da 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
18 
natureza. 
Uma definição mais abrangente e completa de homem deveria levar em conta, 
portanto, tudo o que nele seja suscetível de constatação positiva, isto é, além da 
conformação anatômica, é preciso considerar a faculdade de pensar. Dessa 
dupla abordagem se depreende a originalidade do fenômeno humano. 
O mais exterior dos caracteres humanos é sua tênue diferenciação morfológica, 
dada por especializações anatômicas (a face menor que o crânio, a postura 
vertical etc.) e fisiológicas (o desamparo em que se encontra o ser humano nos 
primeiros meses de vida, a sexualidade aperiódica etc.). Mesmo assim, dentro 
dos critérios adotados pela biologia para classificar os seres vivos, pode-se dizer 
que, por sua estrutura orgânica, o homem não pode aspirar senão a um lugar 
modesto na taxionomia animal: ele pertence ao subfilo dos vertebrados, à ordem 
dos primatas e a uma família formada por um único gênero, Homo. 
Mas outra característica zoológica do homem evidencia prontamente sua 
originalidade: a capacidade de expansão e conquista. Apesar da homogeneidade 
do grupo humano, o homem conquistou em relação ao conjunto do globo um 
sucesso vital sem precedentes, que se explica, pelo menos em parte, pela 
aparição de uma nova fase na história da vida, que é a do uso de instrumentos 
artificiais, mais uma característica do fenômeno humano. 
As tentativas de inserir o homem dentro da ordem dos primatas não primam pela 
precisão, uma vez que as diferenças de detalhes são complexas e controversas. 
O tamanho, e mais ainda, a complexidade do cérebro humano em relação ao dos 
primatas não-humanos constitui o principal ponto de diferenciação anatômica. A 
postura ereta é também um aspecto importante. Outras características 
anatômicas que distinguem o homem dos outros primatas, seja dos macacos 
antropoides, seja dos primatas inferiores, além do tamanho absoluto e relativo do 
cérebro, são: 
 O pé, que serve de suporte e não é preênsil 
 O primeiro dedo do pé, que não é oponível; 
 Os maxilares, de tamanho reduzido e pouco salientes; 
 A ausência de caninos salientes e interpostos; 
 Curva lombar, bacia e pelve formadas ou modificadas para atender às funções 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
19 
de equilíbrio e suporte do corpo na posição ereta; 
 Membros inferiores hipertrofiados, adaptados para o andar bípede; 
 Membros superiores mais curtos e aperfeiçoados, com mãos grandes e 
preênseis, dotadas de dedos curtos e polegar oponível; 
 Nariz saliente com pontas e asas bem desenvolvidas; 
 Ausência completa de pelos táteis ou tentáculos; 
 Escassez acentuada de pelo secundário no corpo, exceto na cabeça, regiões 
axilares e púbica e no rosto dos adultos masculinos; 
 Presença de lábios cheios, invertidos e membranosos. 
 
6. O HOMEM SOB A PERSPECTIVA PSICOSSOCIOLÓGICA 
Permanece vaga e ambígua a correlação entre as dimensões física e cultural do 
homem. Tal ambiguidade levanta a dúvida quanto ao problema de ser o homem 
causa ou resultado, criatura ou criador de seu patrimônio cultural. A questão do 
determinismo ou da liberdade da condição humana extrapola o âmbito da 
antropologia e convoca a uma perspectiva inovadora no campo das ciências 
humanas. Foi trazida pela psicologia o conceito psicanalítico de inconsciente. 
Essa noção, que foi a principal descoberta de Sigmund Freud, veio mostrar que 
o psiquismo não é redutível ao consciente e que certos conteúdos psíquicos só 
se tornam acessíveis à consciência depois de vencidas certas resistências. 
Para a sociologia, o homem, como ser social, é resultado de processos sociais e 
de cultura que antecedem ao aparecimento do indivíduo. O homem nasce com 
uma base orgânica, que o permite desenvolver-se em pessoa. Seus órgãos e 
sentidos estabelecem o contato entre o que é verdadeiramente hereditário, 
natural e individual, e a vida social e a cultura. O comportamento humano dá-se 
num quadro de circulação permanente de informação. Cada homem recebe 
ininterruptamente estímulos diversos e diversamente organizados, aos quais 
responde por comportamentos. Se isso é verdadeiro para qualquer ser vivo, no 
homem se distingue pelas propriedades de sistematização, de transferência e de 
significação. 
 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
20 
7. O HOMEM SOB A PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA 
A classificação dos seres vivos proposta por Lineu e George - Louis Leclerc 
Buffon, no século XVIII, permitiu pela primeira vez integrar o homem numa série 
zoológica e estudá-lo pelo método das ciências naturais. A espécie Homo 
Sapiens faz parte do gênero Homo, o que deixa aberta a possibilidade de 
existência de outras espécies. O próprio gênero Homo pertence à família dos 
hominídeos, à ordem dos primatas, à classe dos mamíferos, ao subfilo dos 
vertebrados e ao filo dos cordados. 
Dentro da espécie, pode-se distinguir os grupos (negro, branco, pigmeu etc.) e 
dentro de cada grupo as raças (nórdica, alpina, australiana etc.), depois as sub-
raças, os tipos etc. 
A classificação do homem a partir do modelo zoológico introduziu o conceito 
diferencial de raça e, ao mesmo tempo, tornou possível definir a espécie por 
outros aspectos que não a racionalidade. Homo sapiens não é necessariamente 
sinônimo de animal racional. Os critérios anatômicos e fisiológicos é que foram 
considerados com maior rigor para a diferenciação da espécie. A antropologia 
preocupou-se também com os problemas da origem e da filiação da espécie, O 
Homo Sapiens não é senão o elo atual de uma ou várias longas cadeias de 
ancestrais hominídeos e pré-hominídeos e talvez símios. Mas a reação à 
taxionomia positivista acabou por impor um modelo que, sem desprezar os traços 
anátomo-fisiológicos, restituiu à antropologia geral as dimensões mentais do 
homem (psicológicas, culturais, etc.). 
Outra contribuição ao aprofundamento da perspectiva antropológica foi o estudo 
da herança cultural. Em muitos aspectos é ela que permite ao homem moldar 
uma vida adaptada à variedade de ambientes naturais e possibilita, dentro das 
limitações ambientais, tipos de vida que tanto podem resultar de uma escolha 
como de uma determinação psicológica interna. A herança cultural é a 
transmissão das características culturais pelo ensino e aprendizagem. A cultura 
se transmite sob forma de padrões explícitos e implícitos de comportamento e 
em suas materializações. O homem é portanto, um animal portador de cultura, 
seja pelo domínio da linguagem, seja pelos padrões de organização familiar, pelo 
uso de ferramentas, enfim, pelo controle de um vasto domínio de conhecimento 
empírico e pela presença de elementos de ordem simbólica, como tabus, mitos, 
rituais religiosos etc. 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
21 
CAPÍTULO 03 
 
CULTURA 
 
A. INTRODUÇÃO 
O conceito que vamos trabalhar nesta disciplina é o de Cultura. O que é cultura? 
Essa não é uma pergunta fácil, pois, ainda hoje, entre os antropólogos, há diversas 
definições para esse conceito. Será que todos possuem cultura? Você tem cultura? 
Muitas vezes ouvimos falar que uma determinada pessoa tem cultura por ter lido 
muito livros ou por ter conhecimento apurado na área artística. Também já ouvimos 
falar de manifestações culturais que são relacionadas ao folclore, crenças, danças, 
lendas de uma determinada região. É um termo muito difundido atualmente é o de 
cultura de massa que faz referência ao cinema, televisão, rádio etc. 
Definir Cultura não é uma tarefa fácil. Faremos isso mais adianteem nosso estudo. 
 
B. AS ESPECIFICIDADES DA CULTURA 
O elemento fundamental das preocupações com cultura foi a constatação da 
variedade de modos de vida entre povos e nações. 
No final do século XV e início do XVI os europeus começaram a buscar novos 
mercados, ou seja, lugares onde pudessem explorar as riquezas naturais e levá-las 
consigo. 
Os portugueses conquistaram o Brasil e tiverem contato com os nativos e a mesma 
coisa aconteceu com os espanhóis quando conquistaram outras áreas da América. 
Os povos encontrados pelos europeus tinham hábitos, costumes e valores muito 
diferentes dos que eram aceitos na Europa, então era necessário conhecer as 
especificidades dessas culturas para explorar os nativos com mais facilidade. 
Há alguns séculos atrás essa dificuldade de definir cultura já existia e intelectuais na 
Alemanha no século XVIII tentaram definir o que seria esse conceito. Há uma 
explicação para isso: a Alemanha, neste momento, era uma nação dividida em várias 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
22 
unidades políticas. Discutir cultura era relevante, porque poderia corroborar para a 
criação de um sentimento de identidade entre os alemães na ausência de uma 
unidade política. Assim, os alemães poderiam identificar um modo de vida comum 
para todos que pertenciam àquela nação. 
Embora existam várias definições para o termo cultura, duas concepções são mais 
discutidas e aceitas: 
 Cultura são todos os aspectos de uma realidade social; 
 Cultura é o conhecimento, ideias e crenças de um povo. 
Vamos englobar essas duas concepções para definir qual conceito de cultura iremos 
utilizar neste curso. Cultura, portanto, será entendida por nós como a variedade de 
modos de vida, crenças, hábitos, valores e práticas de diversos povos. Assim, o 
termo cultura também pode ser entendido como modo de produção já que ambos 
significam o jeito de ser de uma determinada sociedade e o que ela produz. 
Aprendemos que o ser humano é coletivo e que necessita do grupo para dar início 
ao seu processo de humanização e que, por meio do trabalho e da sua capacidade 
de pensar modifica a natureza para sanar as suas necessidades. Além disso, cria 
códigos de comunicação que são utilizados pelo grupo ao qual pertence. 
 
C. DEFINIÇÕES DE CULTURA 
Em antropologia, a palavra cultura tem muitas definições. Veremos, resumidamente, 
qual a definição de Cultura que os principais pensadores e estudiosos desta área do 
saber nos deixou como legado. 
 
1. EDWARD BURNETT TYLOR 
Edward Burnett Tylor (Londres, 2/10/1832 — Wellington, 2/01/1917) foi um 
antropólogo britânico. Tylor filia-se à escola 
antropológica do evolucionismo social. 
Considerado o pai do conceito moderno de cultura, Tylor 
vê, porém, a cultura humana como única, pois defende 
que os diferentes povos sofreriam convergência de suas 
práticas culturais ao longo de seu desenvolvimento, 
ideia que não é consenso hoje em dia. Sua principal obra é Primitive Culture 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
23 
(1871). 
“É todo complexo de conhecimentos, crenças, arte, leis, moral, costumes 
e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelos indivíduos”. 
 
2. BRONISŁAW KASPER MALINOWSKI 
Bronisław Kasper Malinowski (Cracóvia, 7/04/1884 — 
New Haven, 16/05/1942) foi um antropólogo polonês. 
Ele é considerado um dos fundadores da antropologia 
social. Fundou a escola funcionalista. 
A principal contribuição de Malinowski à antropologia 
foi o desenvolvimento de um novo método de 
investigação de campo, cuja origem remonta à sua intensa experiência de 
pesquisa na Austrália, inicialmente com o povo Mailu (1915) e posteriormente 
com os nativos das Ilhas Trobriand (1915-16, 1917-18). 
“São sistemas funcionais para dar conta das necessidades básicas dos 
seres humanos”. 
 
3. CLAUDE LÉVI-STRAUSS 
 Claude Lévi-Strauss (Bruxelas, 28/11/1908 — Paris, 
30/10/2009) foi um antropólogo, professor e filósofo 
francês. 
É considerado fundador da antropologia estruturalista, 
em meados da década de 1950, e um dos grandes 
intelectuais do século XX. Professor honorário do 
Collège de France, ali ocupou a cátedra de antropologia social de 1959 a 1982. 
Foi também membro da Academia Francesa - o primeiro a atingir os 100 anos de 
idade. 
“É um sistema simbólico de uma criação que se acumula na mente 
humana”. 
 
4. CLIFFORD JAMES GEERTZ 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
24 
 Clifford James Geertz (São Francisco, 23/08/1926 — Filadélfia, 30/10/2006) foi 
um antropólogo americano, professor emérito da 
Universidade de Princeton, em New Jersey (USA). 
Seu trabalho no "Institute for Advanced Study" de 
Princeton se destacou pela análise da prática 
simbólica no fato antropológico. Foi considerado, por 
três décadas, o antropólogo mais influente nos 
Estados Unidos. 
“Conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções 
para governar o comportamento humano”. 
 
5. ROQUE DE BARROS LARAIA 
 Roque de Barros Laraia (Pouso Alegre, 15/09/1932 é 
um antropólogo brasileiro. 
Participou da primeira turma do curso de 
Especialização em Teoria e Pesquisa em Antropologia 
Social do Museu Nacional da Universidade Federal do 
Rio de Janeiro, em 1960. Atualmente é professor 
emérito da Universidade de Brasília, membro do Conselho Nacional de Imigração 
e do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 
“Cultura é uma lente através da qual o homem vê o mundo”. 
 
6. ROBERTO AUGUSTO DAMATTA 
 Roberto Augusto DaMatta (Niterói, 29 de julho de 1936) 
é um antropólogo brasileiro. Roberto DaMatta realizou 
pesquisas etnológicas entre os índios Gaviões e 
Apinayé. Foi pioneiro nos estudos de rituais e festivais 
em sociedades industriais, tendo investigado o Brasil 
como sociedade e sistema cultural. 
Considerado um dos grandes nomes das Ciências Sociais no País, é autor de 
diversas obras de referência na Antropologia, Sociologia e Ciência Política. 
“É um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas de um 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
25 
dado grupo pensam, classificam e modificam o mundo e a si mesmas”. 
 
D. O HOMEM E A CULTURA 
 
1. SÓ O HOMEM É PORTADOR DE CULTURA 
Só o homem é portador de cultura, por isso, só ele a cria, a possui e a transmite. 
As sociedades animais e vegetais a desconhecem. É um complexo, porque forma 
um conjunto de elementos inter-relacionados e interdependentes, que funcionam 
em harmonia na sociedade. Os hábitos, ideias, técnicas, compõem um conjunto, 
dentro do qual os diferentes membros de uma sociedade convivem e se 
relacionam. A organização da sociedade, como um elemento desse complexo, 
está relacionada com a organização econômica; os dois entre si relacionam-se 
igualmente com as ideias religiosas. O conjunto dessa inter-relação faz com que 
os membros de uma sociedade atuem em perfeita harmonia. 
 
2. A CULTURA É UMA HERANÇA QUE O HOMEM RECEBE AO NASCER 
Desde o momento em que é posta no mundo, a criança começa a receber uma 
série de influências do grupo em que nasceu; as maneiras de alimentar-se, o 
vestuário, a cama ou a rede para dormir, a língua falada, a identificação de um 
pai e de uma mãe, e assim por diante. À proporção que vai crescendo, recebe 
novas influências desse mesmo grupo, de modo a integrá-la na sociedade da 
qual participa como uma personalidade em função do papel que nela exerce. Se 
individualmente o homem age como reflexo de sua sociedade, faz aquilo que é 
normal e constante nessa sociedade. Quanto mais nela se integra, mais adquire 
novos hábitos, capazes de fazer com que se considere um membro dessa 
sociedade, agindo de acordo com padrões estabelecidos. Esses padrões são 
justamente a cultura da sociedade em que vive. 
 
3. A HERANÇA CULTURAL NÃO SE CONFUNDE COM A HERANÇA 
BIOLÓGICA 
O homem ao nascer recebe essas duas heranças; A herança cultural lhe 
transmite hábitos e costumes, ao passo que a herançabiológica lhe transmite as 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
26 
características físicas ou genéticas de seu grupo humano. Se uma criança, 
nascida numa sociedade bororo, é levada para o Rio de Janeiro, passando a ser 
criada por uma família de Copacabana, crescerá com todas as características 
físicas (cor da pele e do cabelo, forma do rosto, em especial os olhos 
amendoados) de seu grupo bororo, todavia, adquirirá hábitos, costumes, a língua, 
as ideias, modos de agir da sociedade carioca, em que se cria e vive. 
Além desses hábitos e costumes que recebe de seu grupo, o homem vai 
ampliando seus horizontes e passa a ter novos contatos; contatos com grupos 
diferentes em hábitos, costumes ou língua, os quais farão com que adquira 
alguns desses hábitos, costumes, ou modos de agir. Trata-se da aquisição pelo 
contato. Foi o que se verificou no Brasil do século XIX com hábitos introduzidos 
pelos imigrantes alemães ou italianos. O mesmo sucedeu em séculos anteriores, 
com costumes introduzidos pelos negros escravos trazidos da África; tais 
costumes vão-se incorporando à sociedade, e com o tempo, são transmitidos 
como herança do próprio grupo. É certo que essa transmissão pelo contato não 
abrange toda a cultura do outro grupo. Somente alguns traços se transmite e se 
incorporam à cultura receptora. 
Esta, por sua vez, se torna também doadora em relação à cultura introduzida, 
que incorpora a seus padrões hábitos ou costumes que até então lhe eram 
estranhos. É o processo de transculturação, ou seja, a troca recíproca de valores 
culturais, pois em todo contato de cultura as sociedades são ao mesmo tempo 
doadoras e receptoras. Dessa forma, o homem adquire novos elementos 
culturais, e enriquece seu tipo cultural. Esses elementos que compõem o conceito 
de cultura permitem mostrar que ela está ligada à vida do homem de um lado, e 
de outro, se encontra em estado dinâmico, não sendo estática sua permanência 
no grupo. 
 
4. A CULTURA SE APERFEIÇOA 
A cultura se aperfeiçoa, se desenvolve, e se modifica continuamente, nem 
sempre de maneira perceptível pelos membros do próprio grupo. É justamente 
isso que contribui para seu enriquecimento constante, por meio de novas criações 
da própria sociedade e ainda do que é adquirido de outros grupos. 
Graças às pesquisas em jazidas arqueológicas, tem sido possível recompor ou 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
27 
reconstruir as culturas, o que permite conhecer o desenvolvimento cultural do 
homem, sobretudo no campo material. É mais difícil, porém, conhecer o 
desenvolvimento da cultura espiritual, embora muita coisa já se tenha podido 
esclarecer. 
De qualquer forma o que se sabe é que, nascida com o homem, a cultura, sofreu 
modificações ao longo dos tempos, enriquecendo-se de novos elementos e 
adquirindo novos valores. A cultura acompanha, pois, a marcha da humanidade; 
está ligada à vida do homem, desde o ser mais antigo. Com a expansão do 
homem pela terra, ocupando os grupos humanos novos meios ambientes, a 
cultura se ampliou e se diversificou em face das influências impostas pelo meio, 
cujas relações com o homem condicionaram o aparecimento de novos valores 
culturais ou o desaparecimento de outros. 
 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
28 
CAPÍTULO 04 
 
SENTIDOS DA CULTURA 
 
 
A. SENTIDOS DE CULTURA 
Assim, dentro do conceito geral de cultura, é possível falar de culturas, e por isso, 
se identificam sentidos específicos segundo os quais a cultura é antropologicamente 
considerada. São quatro, a saber: 
 
1. ELEMENTOS DE CULTURA COMUNS 
O primeiro sentido apresenta aqueles elementos de cultura comuns a todos os 
seres humanos, como a linguagem (todos os homens falam, embora se 
diversifiquem os idiomas ou línguas faladas). São aqueles hábitos (o de dormir, 
comer, ter uma atividade econômica) que se tornam comuns a toda a 
humanidade. 
 
2. ELEMENTOS COMUNS A UM GRUPO DE SOCIEDADES 
No segundo sentido, encontram-se os elementos comuns a um grupo de 
sociedades, como o vestuário chamado ocidental, que é comum a franceses, a 
portugueses, a ingleses. São diversas sociedades que têm o mesmo elemento 
cultural; um exemplo é o uso do inglês por habitantes da Inglaterra, da Austrália, 
da África do Sul, dos Estados Unidos, que entre si, entretanto, têm valores 
culturais diferentes. 
 
3. CONJUNTO DE PADRÕES DE DETERMINADA SOCIEDADE 
O terceiro sentido é formado pelo conjunto de padrões de determinada 
sociedade, por exemplo, aqueles padrões culturais que caracterizam o 
comportamento da sociedade do Rio de Janeiro; ou as peculiaridades que 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
29 
assinalam os habitantes dos Estados Unidos. 
 
4. MODOS ESPECIAIS DE COMPORTAMETO DE UM SEGMENTO SOCIAL 
O quarto sentido de cultura refere-se a de modos especiais de comportamento 
de um segmento de sociedade mais complexa. Uma dada sociedade possui 
valores culturais comuns a todos os seus integrantes. Dentro, porém, dessa 
sociedade encontram-se elementos culturais restritos ou específicos de 
determinados grupos que a integram. São certos costumes que, dentro da 
sociedade multíplice do Rio de Janeiro, apresentam os habitantes de 
Copacabana, os de uma favela ou de um subúrbio distante. A esses segmentos 
culturais de uma sociedade complexa, dá-se também o nome de subcultura. 
São esses sentidos que permitem verificar a diferenciação de cultura entre os 
diversos grupos humanos. Tal diferenciação resulta de processos internos ou 
externos, uns e outros atuando de maneira diversa sobre o fenômeno cultural. 
Entre os processos internos, encontram-se as inovações, traduzidas em descobertas 
e invenções, que às vezes, surgem em determinado grupo e depois se transmite a 
outros grupos, não raro, sofrendo modificações ao serem aceitas pela nova 
sociedade. Os processos externos explicam-se pela difusão, que é a transmigração 
de um elemento cultural de uma sociedade a outra. Em alguns casos o elemento 
cultural mantém a mesma forma e função; em outros, modifica-as ou mantém apenas 
a forma e modifica a função. 
 
B. ACULTURAÇÃO 
O termo aculturação é usado em antropologia para designa o contato entre duas ou 
mais culturas diferentes, bem como as transformações decorrentes em cada uma 
delas, por força desse contato. 
Os antropólogos, especialmente Bernard Siegel, conceituam a aculturação como 
"uma mudança de cultura que se inicia pela conjugação de dois ou mais sistemas 
culturais autônomos". 
Para eles, os sistemas culturais de características próprias já estão por si mesmos 
em contínua transformação e, se dois ou mais se aproximam, surgem estímulos tanto 
para maiores mudanças internas de cada um como para outras, recíprocas, no 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
30 
conjunto que se formou. 
Como indicadores dessas modificações e dos significados que assumem, esses 
antropólogos apontam etapas como a da "transmissão intercultural" e a das 
"adaptações reativas", do ajustamento por assimilação ou fusão. Tratam ainda de 
dois fatos sociológicos inerentes ao processo, o papel e a comunicação 
interculturais. 
 Por papel intercultural entendem a função desempenhada pelos indivíduos 
que entram em contato, os quais, pelo fato de jamais dominarem todos os 
aspectos da própria cultura, transmitem apenas parte do inventário cultural. 
 Comunicação intercultural seria "o esboço da trama de papéis interculturais" 
que provê linhas de comunicação e de transmissão entre duas culturas. 
 
C. MODALIDADES DE ACULTURAÇÃO 
Vários autores se detêm no exame das diferentes modalidades de ação e reação no 
processo aculturativo. Em linhas gerais, são contemplados casos-padrão como os 
que se seguem. 
 
1. ACEITAÇÃO 
Na aceitação, com maior ou menor cuidado e resistência, adotam-se 
componentes da cultura alheia (não necessariamente a dominante: o tabaco, por 
exemplo, entrou na Europa a partir do contato com as culturas ameríndias). 
 
2. ADAPTAÇÃONa adaptação, uma cultura se altera para incorporar componentes culturais 
tomados de empréstimo a outro, ou outros povos e de presença constante e 
inevitável. É o caso dos cultos dos aborígines de ilhas do Pacífico; muito 
sobrevoados pelos aviões, passaram a integrá-los em seus cultos, preparando-
lhes rituais "de aterrissagem" e levando-lhes oferendas. 
 
3. CORTE 
No corte, os agentes de uma cultura aceitam uma parcela relativamente grande 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
31 
de componentes culturais alheios, o que leva ao surgimento de dois padrões 
coexistentes de comportamento, usados alternativamente conforme a situação. 
O corte cultural é típico do Japão contemporâneo. 
 
4. OPOSIÇÃO 
Na oposição, as reações vão do desprezo ou hostilidade às influências 
estrangeiras até um messianismo que se opõe ao novo, como a rebelião de 
Canudos e outros movimentos do século XIX, no Brasil. 
 
5. FUGA 
Na fuga, uma cultura tenta ignorar a outra e isolar-se ao se ver ameaçada, seja 
restabelecendo costumes do passado, seja buscando refúgio geograficamente 
favorável, como seria o caso da "cidade perdida" de Machu Pichu, no Peru, uma 
provável maneira de ocultar dos espanhóis, importantes remanescentes da 
civilização inca. 
 
6. DESTRUIÇÃO 
Na destruição, os representantes de uma cultura se esforçam, direta ou 
indiretamente, para exterminar aquela ou aquelas que lhe causem estorvo. Todas 
as culturas ameríndias, por exemplo, foram destruídas, total ou parcialmente, 
após contato com as europeias. 
 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
32 
CAPÍTULO 05 
 
O OBJETO DA ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
A. OBJETO DA ANTROPOLOGIA CULTURAL 
A antropologia cultural estuda o homem integrado em seu contexto social, 
psicológico, biológico, físico e teológico; Apreciando o seu comportamento, valores, 
hábitos, língua e crença. 
O conceito chave da Antropologia Cultural é a cultura, mostrando a sua beleza, 
singeleza, simplicidade, complexidade e arquitetura relacional. 
A antropologia cultural é o espelho do homem refletido na sociedade. Ela apanha 
todo o sistema de valores, de comportamento, de atitudes e expressões e reflete 
tudo isto numa expressão cultural distinta. 
 
B. ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO 
É o ramo da antropologia que se dedica ao estudo das crenças religiosas do povo. 
A religião é a maior expressão da crença de um povo. A religião é uma das 
instituições sociais universal em todas as culturas. Toda sociedade conhecida pratica 
alguma forma de religião. A palavra religião vem do latim, e que dizer “religar”, dando 
a ideia de laço, aliança, pacto. Religião é a ligação do homem com Deus. Para a 
antropologia, “religião são todas as crenças e práticas em forma de doutrinas e rituais 
de uma religião”. 
 
C. A ETNOTEOLOGIA 
Etnoteologia é a área de estudo relacionada com a apresentação do evangelho e os 
modelos culturais relevantes na cultura receptora. 
“Etnoteologia é a disciplina concernente a desculturalização (separação da cultura) 
e contextualização da teologia”. Cada cristão aprende sua teologia num conjunto 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
33 
cultural e logo começa a ver seu comportamento como um “comportamento cristão”. 
A Etnoteologia nos mostra que cada cristão aprende sua teologia num conjunto 
cultural. A Bíblia é o mapa cultural e teológico do povo de Deus e nela está contido 
o ensino de toda a teologia, padrões culturais e comportamento aplicável ao povo de 
Deus. Ela é um manual teológico e antropológico aos adoradores do único Deus vivo 
e verdadeiro. 
 
D. A ANTROPOLOGIA CULTURAL DA BÍBLIA 
A Bíblia é a única Regra de Fé e Prática, e a única fonte de confiança do cristão. A 
veracidade e autoridade final da Bíblia sobrepõem a todas outras ciências e 
argumentos. A única fonte fidedigna que temos sobre Deus e as coisas relacionadas 
a Ele é a Bíblia. A Bíblia é a revelação divina, possui inspiração divina e tem 
autoridade divina. Deus se revelou a si mesmo na Bíblia (2Tm 3.16). Revelação 
divina é Deus comunicando a verdade para o homem, e inspiração divina é a 
influência divina que garante a transferência fiel daquela verdade revelada. 
A Antropologia Cultural confere ao estudante da Bíblia conceitos e ferramentas para 
compreender a cultura em que a Bíblia foi escrita e consequentemente entender 
melhor a passagem bíblica. No campo da etnoteologia, a antropologia cultural ajuda-
nos a estabelecer uma teologia verdadeira intercultural e totalmente relevante à 
cultura local, fornecendo ferramentas para a contextualização da mensagem. O 
estudo da etnologia mostra que a Bíblia é Sagrada e infalível, mas a transmissão da 
mensagem está atada à cultura. É preciso então distinguir o que é uma verdade 
bíblica absoluta, e o que é um aspecto cultural expresso na passagem bíblica. 
 
E. COSMOVISÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO 
Cosmovisão é a maneira pela qual as pessoas vêm ou percebem o mundo, a 
maneira pela qual elas entendem o mundo ao seu redor e percebem sua participação 
e localização neste mundo. É a compreensão pessoal da realidade ao redor e do 
que elas são. 
 
1. COSMOVISÃO ANIMISTA 
A visão é que a terra é governada por espíritos, e devido a esta percepção do 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
34 
mundo tudo é regulado por esta crença, a plantação, a colheita, a arquitetura de 
suas casas, os rituais, a religião, as festas e os modos de expulsar os maus 
espíritos. 
 
2. COSMOVISÃO HINDÚ 
A vida não está num tempo linear começando com o nascimento e terminando 
com a morte, mas num tempo circular, onde os indivíduos renascem centenas e 
milhares de vezes. Para eles, a morte é apenas um ponto de reiniciar o processo 
circular da vida, visto que irá nascer e começar outras vezes. 
 
3. COSMOVISÃO ESPÍRITA 
A reencarnação e contato com os mortos e espíritos é algo natural. 
 
4. COSMOVISÃO CATÓLICA ROMANA 
Maria é a personagem principal no cristianismo e a que assume a memória 
cultural constantemente. 
 
5. COSMOVISÃO HUMANÍSTICA 
O homem é o centro de todo saber e de todas as coisas. 
 
6. COSMOVISÃO ISLÂMICA 
Ocorre uma substituição das ideias do cristianismo, onde Maomé é a autoridade 
máxima, o alcorão o livro de regras, fé e prática, e Deus um juiz impessoal que 
julgará sem qualquer misericórdia. 
 
F. COMPREENDER A COSMOVISÃO DE UM POVO 
Entender a cosmovisão é o ponto de partida para estabelecer uma ponte naquela 
cultura pessoal e naquela mentalidade formada, a verdade transcultural do 
evangelho de Cristo. 
A cosmovisão de um povo reflete as suas suposições, valores e entendimento a 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
35 
respeito da vida e do mundo onde eles vivem. Por isto é necessário participar da vida 
e das experiências de um povo com entendimento para entender esta sua 
cosmovisão. Daí, a necessidade de uma contextualização, ou seja, a de apresentar 
a mensagem ajustável ao “ponto de vista”, contexto e estilo cultural local. 
 
G. COMUNICAÇÃO TRANSCULTURAL 
A Comunicação Transcultural vem a ser, uma comunicação contextualizada, onde é 
necessário ter os conhecimentos da antropologia cultural para entender a cultura e 
a cosmovisão de um povo. 
Partindo do campo da Antropologia entramos no campo da Teologia, que é o estudo 
de Deus, sendo a Bíblia um documentário histórico da revelação de Deus aos 
homens. Teologia é a ideia, o pensamento, o conhecimento que o homem tem 
acerca de Deus, e a religião é a prática, nela o homem expressa em atitudes, ações 
e hábitos o que esse conhecimento de Deus produziu nele. Cada sistema cultural e 
religioso traça um caminho para o homem expressar sua crença e prática religiosa. 
 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
36 
CAPÍTULO 06 
 
PRINCIPAIS ACEPÇOES DO TERMO “CULTURA” 
 
A. INTRODUÇÃO 
O conceito cultura varia muito na sua essência, no tempo e no espaço. Tylor, Linton, 
Boas e Malinwski consideram a cultura como ideias. Para Kroeber e Kluckhohn, 
Beals e Hoijer culturaé abstração do comportamento. Keesing e Foster a definem 
como comportamento aprendido. 
Leslie A. White afirma que a cultura deve ser vista em si mesma, fora do organismo 
humano. Leslie A. White e Foster inserem no conceito de cultura os elementos 
materiais e não materiais de cultura. Geertz propõe a cultura como um “mecanismo 
de controle” do comportamento. Essas definições divergentes permitem que 
aprendamos cultura por meio de seus diversos nexos constitutivos: 
A cultura, portanto, pode ser analisada, ao mesmo tempo, sob vários enfoques: 
 Ideias (conhecimento e filosofia); 
 Crenças (religião e superstição); 
 Valores (ideologia e moral); 
 Normas (costumes e leis); 
 Atitudes (preconceito e respeito ao próximo); 
 Padrões de conduta (monogamia, tabu); 
 Abstração do comportamento (símbolos e compromissos); 
 Instituições (família e sistemas econômicos); 
 Técnicas (artes e habilidades) e 
 Artefatos (machado de pedra, telefone). 
Segundo Leslie A. White cultura situa-se no tempo e no espaço e pode ser 
classificada em: 
 “Intraorgânica” (conceitos, crenças, atitudes, emoções, etc.); 
 “Interorgânica” (interação social entre os seres humanos) e 
 “Extraorgânica” (objetos materiais, ou seja, localizada fora de organismos 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
37 
humanos). 
Para os antropólogos cultura consiste em: 
 Ideias (concepções mentais de coisas abstratas ou concretas – crenças 
religiosas, míticas, científicas etc.); 
 Abstrações (aquilo que se encontra no campo das ideias, da mente – 
acontecimentos não observáveis, não concretos, não sensível) e 
 Comportamento (modo de viver comum de um determinado grupo humano). 
 
B. CLASSIFICAÇÃO DE CULTURA 
 
1. CULTURA MATERIAL 
São coisas materiais, concretas, que foram criadas pelo ser humano com uma 
finalidade. São, por exemplo, vestuários, arco e flechas, vasos, talheres, 
alimentos, habitações etc. 
 
2. CULTURA IMATERIAL 
São elementos não concretos da cultura como valores, hábitos, crenças, 
potencialidades, normas, significados etc. 
 
3. CULTURA REAL (AÇÃO E PENSAMENTO) 
A cultura real só pode ser percebida parcialmente, posto que ela representa 
aquilo que todos os membros de uma sociedade praticam ou pensam nas suas 
tarefas cotidianas. A cultura real é subjetiva, por este motivo, os estudiosos da 
cultura não podem ter uma única visão da realidade, pois a mesma é apresentada 
de diversas maneiras de acordo com o ponto de vista de cada indivíduo. 
 
4. CULTURA IDEAL (FILOSOFIA CORRETA EM TERMOS TEÓRICOS) 
Representa um conjunto de comportamentos que são propagados como corretos, 
perfeitos, no entanto, na prática não são seguidos por todos os membros de um 
grupo social. 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
38 
 
C. ABSORÇÃO DE UMA CULTURA 
 
1. ENDOCULTURAÇÃO 
É a aprendizagem e estabilidade de uma cultura, ou seja, cada indivíduo recebe 
as crenças, os modos de vida da sociedade a que pertence, o comportamento, 
hábitos e valores. 
A sociedade controla os atos, comportamentos e atitudes de seus membros. 
 
2. ACULTURAÇÃO 
É a fusão de duas culturas diferentes, ou seja, dois grupos que entraram em 
contato. Esse contato, quando contínuo, gera alterações nos padrões de cultura 
de ambos os grupos. Paulatinamente, essas culturas fundem-se e formam uma 
sociedade e cultura nova. 
 
3. SUBCULTURA 
É um meio peculiar de vida de um grupo menor dentro de uma sociedade maior. 
Exemplo: a cultura do Nordeste brasileiro; skinheads; punks, etc. 
 
4. SINCRETISMO CULTURAL 
É a fusão de dois elementos culturais análogos (práticas e crenças), de culturas 
diferentes ou não. 
Exemplo: a cultura africana que entra em contato com a cultura cristã. 
 
D. RAÇA 
A palavra raça foi introduzida há aproximadamente 200 anos nos estudos científicos. 
No entanto, pouco se sabe sobre a sua origem. Etimologicamente a palavra raça 
viria de “radix”, palavra latina que quer dizer raiz ou tronco. 
Em vários estudos a palavra raça tem sido empregada para fazer referência a 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
39 
indivíduos que são identificados como pertencentes a um determinado grupo. Assim 
sendo, são indivíduos que pertencem a uma mesma linhagem ancestral e possuem 
os mesmos hábitos, ideais, crenças, costumes e tradições. 
A palavra raça, entretanto, tem uma conotação muito mais ampla. Cientificamente 
ela significa o que é único biologicamente. Assim, não existem subdivisões raciais 
quando falamos em seres humanos, pois, neste caso, só existe uma raça que nos 
distingue dos outros animais, ou seja, a raça humana. 
 
E. ETNIA 
É um grupo de seres humanos unidos por um fator comum (língua, religião, 
costumes, valores, nacionalidade) e possuem afinidades culturais e históricas. 
 
F. RELATIVISMO CULTURAL 
Mostra as particularidades de cada modo de vida. Os indivíduos possuem modos de 
vida específicos adquiridos pela endoculturação. Assim, possuem suas próprias 
ideologias e costumes: 
Toda a cultura é considerada como configuração saudável para os indivíduos que a 
praticam. Todos os povos formulam juízos em relação aos modos de vida diferentes 
dos seus. Por isso, o relativismo cultural não concorda com a ideia de normas e 
valores absolutos e defende o pressuposto de que as avaliações devem ser sempre 
relativas à própria cultura onde surgem. (MARCONI; PRESSOTO, 1989, p. 51) 
Exemplo: a figa é utilizada por algumas pessoas como um amuleto da sorte. No 
entanto, para os antigos romanos ela significava uma relação sexual. 
 
G. ETNOCENTRISMO 
É a supervalorização da própria cultura em detrimento das demais. O etnocentrismo 
gerou e ainda gera muita intolerância, preconceito e discriminação. Quando julgamos 
a cultura do outro, entendemos que a nossa cultura é a única correta e que o outro 
precisa modificar-se e seguir os nossos “ideais perfeitos”. O nazismo é um exemplo 
de etnocentrismo, posto que os alemães supervalorizaram a sua cultura e afirmavam 
pertencer a uma “raça pura”, assim, praticaram atrocidades contra todos aqueles que 
não pertenciam ao mesmo modelo de perfeição que eles. Inúmeros judeus foram 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
40 
assassinados em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, 
vítimas dessa intolerância. 
 
H. SINCRETISMO 
Sincretismo é palavra para muitos considerada maldita, que provoca mal-estar em 
muitos ambientes e autores. Diversos pesquisadores evitam mencioná-la 
considerando seu sentido negativo, como sinônimo de mistura confusa de elementos 
diferentes, ou imposição do evolucionismo e do colonialismo. O Dicionário de Aurélio 
Buarque de Holanda apresenta cinco sentidos desta palavra. O primeiro deles como 
“reunião dos vários Estados da Ilha de Creta contra o adversário comum”. Como 
explica Canevacci (1996, p. 15): “Dizia-se que, de fato, os cretenses, sempre 
dispostos a uma briga entre si, se aliavam quando um inimigo externo aparecia.” 
Segundo o antropólogo holandês André Droogers (1989) o termo sincretismo possui 
duplo sentido. É usado com significado objetivo, neutro e descritivo, de mistura de 
religiões, e com significado subjetivo que inclui a avaliação de tal mistura. Devido a 
essa avaliação muitos propõem a abolição do termo. Droogers informa que o termo 
sincretismo sofreu mudanças de significado com o tempo e que a distinção entre a 
definição objetiva e subjetiva tem raízes históricas. Na Antiguidade significava junção 
de forças opostas em face ao inimigo comum, de acordo com o primitivo sentido 
político apresentado pelo Dicionário do Aurélio. A partir do século XVII, tomou caráter 
negativo, passando a referir-se à reconciliação ilegítima de pontos de vista teológicos 
opostos, ou heresia contra a verdadeira religião. Hoje no Brasil este sentido 
encontra-se muito difundido. 
Embora alguns não admitam, todas as religiões são sincréticas, pois representam o 
resultado de grandes sínteses integrando elementosde várias procedências que 
formam um novo todo. No Brasil, quando se fala em religiões afro-brasileiras pensa-
se imediatamente em sincretismo, como “ ‘aglomerado indigesto’ de ritos e mitos, ou 
como ‘bricolagem’ no sentido de mosaico as vezes incoerente de elementos de 
origens diversas.” (POLLAK-ELTZ, 1996, p. 13). Costuma-se atribuir também o 
termo sincretismo em nosso país, quase que exclusivamente ao catolicismo popular 
e às religiões afro-brasileiras. Mas o sincretismo está presente tanto na umbanda e 
em outras tradições religiosas africanas, quanto no catolicismo primitivo ou atual, 
popular ou erudito, como em qualquer religião. 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
41 
Consideramos que o sincretismo pode ser visto como característica do fenômeno 
religioso. Isto não implica desmerecer nenhuma religião, mas em constatar que, 
como os demais elementos de uma cultura, a religião constitui uma síntese 
integradora, englobando conteúdos de diversas origens. Tal fato não diminui mas 
engrandece o domínio da religião, como ponto de encontro e de convergência entre 
tradições distintas. 
No campo das religiões afro-brasileiras, diversos dirigentes e militantes, sobretudo 
os mais intelectualizados, tendem atualmente a seguir a estratégia de condenar o 
sincretismo. Esta atitude defendida por alguns há tempos, difundiu-se entre nós 
principalmente após a realização, em 1983 na Bahia, da II Conferência Mundial da 
Tradição dos Orixás e Cultura. Desde então alguns líderes bastante conhecidos das 
religiões afro-brasileiras passaram a condenar o sincretismo afro-católico, afirmando 
não ser hoje mais necessário disfarçar as crenças africanas por trás de uma máscara 
colonial católica. 
 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
42 
CAPÍTULO 07 
 
MITO: ELEMENTO DA CULTURA 
 
 
A. O MITO 
A superioridade do mito sobre a explicação científica é que ele lida com sentimentos 
opostos, representações irracionais, é o próprio discurso da contradição. O homem 
desde sua origem tenta explicar situações que ocorrem ao seu redor. Eis a 
contumácia da humanidade. Ou seja, saber o fundamento da sua existência, como 
ocorreu a criação do mundo, o que é a vida e a morte. Questões não muito fáceis de 
serem respondidas. Porém, de certo modo, o homem inventa maneiras de explicar 
fatos abstratos, partindo do obséquio a ajudar o seu grupo social fazendo com que 
aceitem, através destas explicações, situações ainda sem respostas. Estou me 
referindo a lendas, mitos, contos que são inventados pelo homem que busca, desta 
maneira, uma explicação “mágica”, para concluir um fato real. Nas narrações de 
diversos mitos são encontrados: feitos heroicos, milagres, castigos, amores, lutas 
etc. 
Nos mitos encontram-se as experiências de vida de uma determinada sociedade em 
uma determinada época. É a busca de uma intimidade interior, através da 
capacidade que o homem tem de criar e cultivar o que há de comum no seio de toda 
humanidade. Ou seja, não explicar fatos de uma forma racionalmente analítica, 
contudo, entender o sentido genuíno do existir. 
Há um acervo de mitologias, umas muito conhecidas, outras nem tanto; o importante, 
no entanto, é que todas elas implicam no social, criando padrões de comportamento 
de uma certa sociedade. Podemos citar, como exemplo, a sociedade da antiga 
Grécia. A mitologia grega, uma das mais afamadas, mostra em seus contos, deuses 
poderosos, porém, envoltos em imperfeições humanas. 
Ora, os poetas ao escreverem os mitos gregos quiseram retratar, sem culpa alguma, 
que até mesmo os seres aparentemente perfeitos, possuem limites e desejos como 
o homem. 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
43 
Creio que os mitos gregos até hoje são muito aceitos por descreverem essas 
imperfeições. O que é imperfeito causa amor. O que quero dizer é que, a ideia de 
pecado, cria no homem mazelas pungentes, e faz com que se sinta culpado por 
atender seus anseios e desejos. Descrever seres especiais, porém imperfeitos, 
ressalta a ideia que falhar é próprio dos seres “racionalmente pensantes”, notar isto, 
faz com que nos sintamos menos culpados de nossos “terríveis” pecados. 
Mitologia nórdica - A mitologia retrata a realidade de um certo grupo. Na mitologia 
nórdica essa realidade é bem notável. Os povos denominados bárbaros eram 
guerreiros por excelência, seus deuses eram fortes e os ajudavam nas batalhas. Na 
mitologia nórdica, Odin é o mais poderoso de todos os deuses. Vejamos o que essa 
mitologia mostra da realidade dos povos bárbaros: 
O Valhala, na mitologia nórdica e escandinava era a habitação dos deuses e dos 
heróis mortos em combate. Estava situado no Paraíso escandinavo. Ali os heróis 
mortos combatiam todos os dias, mas ao meio dia ressuscitavam, cicatrizando 
também todas as feridas dos combatentes. Ajudados pelas Valquírias, eles se 
lavavam em hidromel, que brotava dos úberes da cabra Heidrum. A seguir 
participavam de um lauto banquete presidido por Odin, durante o qual, as Valquírias 
serviam aos heróis hidromel e cerveja, dentro de crânios de inimigos mortos por ele. 
As Valquírias que quer dizer “que escolhem os mortos” eram nove louras, virgens 
guerreiras, auxiliares de Odin, companheiras de combate. Sobrevoavam os campos 
de batalhas, cavalgando em lindos corcéis, usavam elmo e portavam lança e escudo. 
Escolhiam e transportavam os heróis mortos para o Valhala [...] 
Observando a mitologia nórdica, percebe-se que a essência das suas narrações é a 
realidade em que viviam os povos bárbaros. Estes viviam nos combates entre 
distintas tribos e acreditavam que numa vida após a morte, onde, se porventura 
tivessem morrido honrosamente, podiam desfrutar dos regozijos da recompensa de 
Odin. O que busco mostrar é que todo mito vem carregado de uma essência real de 
um certo grupo. Entendendo a função principal do mito, podemos partir para os 
saberes que o invocam. Ou seja, crenças, danças e tradições. Enfim, o folclore de 
um determinado grupo social. 
 
B. FOLCLORE 
A palavra folclore foi usada pela primeira vez pelo arqueólogo inglês William John 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 
 
44 
Thoms (Londres-1846). Ele solicitou apoio à revista The Athenaeun, no sentido de 
se fazerem pesquisas para se conhecer os costumes, as crenças e os hábitos das 
diversas regiões da Inglaterra. Essa carta foi publicada em 22 de agosto de 1846, 
daí esta data para se comemorar o dia do folclore até os nossos dias. 
Folclore vem de Folk-Lore que quer dizer, literalmente, “povo-conhecimento”. William 
John Thoms sugeriu esta denominação, substituindo as expressões usadas por 
alguns eruditos da época William Thoms, como “antiguidades populares” e “literatura 
popular”. Atualmente, considera-se relevante o registro das crenças, costumes, 
hábitos, cerimônias, músicas, superstições etc., não como “antiguidades do povo” 
(expressão que veicula uma ideia de primitivismo), mas como conhecimentos 
adquiridos por um grupo social: é a sabedoria do povo desagrilhoada de qualquer 
intenção erudita.2 
O folclore é o conjunto de mitos, ritos, crenças religiosas, danças, linguagem, música, 
artesanato etc. Folclore, portanto, vai muito além da ideia de tradição popular; ele 
está associado à vida do povo, à sua disposição de criar e recriar algo. Não é 
somente as celebrações populares, mas o lastro da vida cotidiana de um 
determinado grupo. O folclore é uma criação subjetiva; entretanto, sua reprodução 
tende a ser coletivizada. Ele perdura de uma geração a outra, portanto, também é 
reconhecido como tradição e não modismo. É uma identidade do modo de vida de 
uma determinada classe produtora de sua própria cultura. 
O folclore tem sua representação nas tradições e crenças populares expressas de 
diversas maneiras. É denominado folclore algo que tenha origem anônima, algo que 
ninguém sabe quem criou. Além disso não deve possuir cronologia alguma; sendo 
divulgado e praticado por um grande número de pessoas

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