Buscar

info-973-stf

Prévia do material em texto

Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
 Informativo 973-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Julgamento ainda não concluído em virtude de pedido de vista. Será comentado assim que chegar ao fim: HC 161659/RJ. 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
PRINCÍPIO DA IGUALDADE E SISTEMA DE COTAS 
▪ É inconstitucional lei distrital que preveja percentual de vagas nas universidades públicas reservadas para alunos 
que estudaram nas escolas públicas do Distrito Federal, excluindo, portanto, alunos de escolas públicas de outros 
Estados da Federação. 
 
LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
▪ A proibição da entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro, não significou censura nem 
restrição indevida à liberdade de imprensa. 
 
COMPETÊNCIAS FEDERATIVAS 
▪ Além da União, os Estados/DF e Municípios também podem adotar medidas de combate ao coronavírus 
considerando que a proteção da saúde é de competência concorrente; o Presidente pode definir as atividades 
essenciais, mas preservando a autonomia dos entes. 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
▪ É constitucional lei estadual que autoriza a comercialização de bebidas alcoólicas nas arenas desportivas e nos 
estádios. 
▪ É inconstitucional lei estadual que determine aos titulares das serventias extrajudiciais que façam a microfilmagem 
dos documentos arquivados no cartório. 
 
INTERVENÇÃO 
▪ A Constituição Estadual não pode disciplinar sobre intervenção estadual de forma diferente das regras previstas na 
Constituição Federal. 
 
DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
▪ É inconstitucional lei estadual que determine aos titulares das serventias extrajudiciais que façam a microfilmagem 
dos documentos arquivados no cartório. 
 
DIREITO PENAL 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
▪ É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de mercadorias avaliadas em R$ 29,15, mesmo que a 
subtração tenha ocorrido durante o período de repouso noturno e mesmo que o agente seja reincidente. 
 
ARREPENDIMENTO POSTERIOR 
▪ Aplica-se o arrependimento posterior para o agente que fez o ressarcimento da dívida principal antes do 
recebimento da denúncia, mas somente pagou depois os juros e a correção monetária. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
TRÁFICO DE DROGAS 
▪ É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas pelo simples fato de o acusado ser 
investigado em inquérito policial ou réu em outra ação penal que ainda não transitou em julgado? 
 
DIREITO DO TRABALHO 
CONTRATO DE TRABALHO 
▪ É constitucional a MP 936/2020, que autoriza a redução da jornada de trabalho e do salário ou a suspensão 
temporária do contrato de trabalho por meio de acordos individuais em razão da pandemia do covid-19, 
independentemente de anuência sindical. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
PRINCÍPIO DA IGUALDADE E SISTEMA DE COTAS 
É inconstitucional lei distrital que preveja percentual de vagas nas universidades públicas 
reservadas para alunos que estudaram nas escolas públicas do Distrito Federal, excluindo, 
portanto, alunos de escolas públicas de outros Estados da Federação 
 
É inconstitucional a lei distrital que preveja que 40% das vagas das universidades e faculdades 
públicas do Distrito Federal serão reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas 
do Distrito Federal. 
Essa lei, ao restringir a cota apenas aos alunos que estudaram no Distrito Federal, viola o art. 
3º, IV e o art. 19, III, da CF/88, tendo em vista que faz uma restrição injustificável entre 
brasileiros. 
Vale ressaltar que a inconstitucionalidade não está no fato de ter sido estipulada a cota em 
favor de alunos de escolas públicas, mas sim em razão de a lei ter restringindo as vagas para 
alunos do Distrito Federal, em detrimento dos estudantes de outros Estados da Federação. 
STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020. 
 
Sistema de cotas 
Algumas universidades públicas em nosso país adotam sistemas de cotas. 
Por meio deste sistema, alguns alunos, por ostentarem características peculiares ligadas à cor, etnia, classe 
social ou por serem oriundos de escolas públicas têm direito a um percentual de vagas que não é 
submetido à concorrência ampla. 
O STF afirmou que, em regra, esse sistema de cotas é constitucional. Nesse sentido: 
O sistema de cotas em universidades, com base em critério étnico-racial, é CONSTITUCIONAL. 
É também constitucional fixar cotas para alunos que sejam egressos de escolas públicas. 
STF. Plenário. RE 597285/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/5/2012. 
 
Veja abaixo uma situação um pouco diferente. 
 
Cotas para alunos de escolas públicas de determinado Estado/DF 
O Distrito Federal editou a Lei distrital nº 3361/2004 afirmando que 40% das vagas das universidades 
públicos deveriam ser reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do próprio Distrito 
Federal (excluindo, portanto, alunos de escolas públicas de outros Estados da Federação). Veja: 
Art. 1º As universidades e faculdades públicas do Distrito Federal ficam obrigadas a reservar, em 
seus processos seletivos, no mínimo, 40% (quarenta por cento) das vagas por curso e por turno, 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
para os alunos que comprovem ter cursado integralmente os ensinos fundamental e médio em 
escolas públicas do Distrito Federal. 
 
Essa lei do DF é constitucional? 
NÃO. A parte final deste art. 1º, ao limitar a cota apenas aos alunos que estudaram no Distrito Federal, 
viola o art. 3º, IV e o art. 19, III, da CF/88. 
 
O art. 3º, IV, da CF/88 proíbe o preconceito decorrente do critério de origem. Veja: 
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
(...) 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer 
outras formas de discriminação. 
 
Além disso, o art. 19, III não permite que sejam feitas discriminações entre os brasileiros: 
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: 
(...) 
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. 
 
Em suma: 
É inconstitucional a lei distrital que preveja que 40% das vagas das universidades e faculdades públicas 
do Distrito Federal serão reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do Distrito Federal. 
Essa lei, ao restringir a cota apenas aos alunos que estudaram no Distrito Federal, viola o art. 3º, IV e o 
art. 19, III, da CF/88, tendo em vista que faz uma restrição injustificável entre brasileiros. 
Vale ressaltar que a inconstitucionalidade não está no fato de ter sido estipulada a cota em favor de 
alunos de escolas públicas, mas sim em razão de a lei ter restringindo as vagas para alunos do Distrito 
Federal, em detrimento dos estudantes de outros Estados da Federação. 
STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020. 
 
Modulação dos efeitos 
Como esta Lei estava em vigor desde 2004, o STF decidiu modular os efeitos da decisão (art. 27 da Lei nº 
9.869/99), para não causar uma situação de insegurança jurídica para aqueles que forem oriundos do 
sistema de seleção de cotas da Lei Distrital nº 3.361/2004. 
Assim, o STF julgou procedente o pedido contido na ADI para declarar inconstitucional a expressão “do 
Distrito Federal”, constante do art. 1º da Lei Distrital 3.361/2004, e aplicou o art. 27 da Lei nº 9.868/99, a 
fim de consignar que o presente juízo de inconstitucionalidade somente surtirá efeitos para os processos 
seletivos que forem posteriores ao trânsito em julgado da decisão.LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
A proibição da entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro, 
não significou censura nem restrição indevida à liberdade de imprensa 
 
A decisão judicial que proibiu a realização de entrevista com Adélio Bispo, autor da facada 
contra Jair Bolsonaro, não significa restrição indevida à liberdade de imprensa nem 
representa censura prévia. 
Logo, essa decisão não configura ofensa ao entendimento firmado pelo STF na ADPF 130, que 
julgou não recepcionada a Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67). 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
A decisão judicial impediu a entrevista com o objetivo de proteger as investigações e evitar 
possíveis prejuízos processuais, inclusive quanto ao direito ao silêncio do investigado. Além 
disso, a decisão teve como finalidade proteger o próprio custodiado, que autorizou a 
entrevista, mas cuja sanidade mental era discutível na época, tendo sido, posteriormente, 
declarado inimputável em razão de “transtorno delirante persistente”. 
STF. 1ª Turma. Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
A revista Veja conseguiu agendar uma entrevista com Adélio Bispo, indivíduo que deu uma facada no então 
candidato Jair Bolsonaro, e que se encontrava custodiado no Presídio Federal de Campo Grande (MS). 
Após a concordância de Adélio e autorização do Juiz das Execuções Criminais, a entrevista foi marcada 
para o dia 28 de setembro de 2018. 
Ocorre que o Ministério Público Federal não concordou e impetrou mandado de segurança contra o ato 
do Juiz Federal. 
O TRF da 3ª Região deferiu a liminar e impediu a realização da entrevista. Essa decisão baseou-se em três 
pontos principais: 
1) trata-se de preso provisório custodiado em presídio federal de segurança máxima e ao qual é imputado 
crime gravíssimo contra a segurança nacional; 
2) por ser preso provisório, havia necessidade de resguardar-se a investigação em curso e o próprio 
interesse do preso/investigado, na medida em que tem o direito ao silêncio e da entrevista poderia 
resultar-lhe prejuízo, pois ainda não tinha ouvido pela autoridade judicial; 
3) havia dúvida quanto à sua higidez mental, tanto que a própria defesa pediu o exame de insanidade 
mensal, o que põe em dúvida a própria autorização dele para ser entrevistado. 
 
Reclamação 
A revista ingressou, então, com reclamação, no STF, contra a decisão do TRF alegando que ela 
representaria censura prévia e que, portanto, violado os arts. 5º, IX e XIV, e 220 da Constituição Federal, 
além de ter afrontado o entendimento do STF proferido na ADPF 130. Obs: nesta ADPF, o STF entendeu 
que a Lei de Imprensa - Lei nº 5.250/67 – não foi recepcionada pela Constituição de 1988, ocasião na qual 
o Tribunal fez diversas considerações sobre a liberdade de expressão. 
 
A reclamação foi acolhida pelo STF (foi julgada procedente)? 
NÃO. 
A 2ª Turma do STF entendeu que não havia similitude (semelhança) entre o que o TRF3 decidiu na liminar e 
aquilo que foi firmado pelo STF na citada ADPF 130. Em outras palavras, são situações diferentes e, portanto, 
não cabe reclamação já que o entendimento do STF na ADPF não foi violado pela decisão do TRF3. 
A reclamação serve apenas como instrumento para o descumprimento de decisões do Tribunal, não 
podendo ser utilizado como sucedâneo (substituto) do recurso cabível nem como atalho processual. 
O TRF não fundamentou sua decisão em nenhum dispositivo da Lei de Imprensa. 
Além disso, o STF entendeu que não houve restrição à liberdade de imprensa, nem qualquer espécie de 
censura prévia ou de proibição de circulação de informações que configure ofensa ao que foi assentado 
pela Corte na ADPF 130. 
O TRF3, ao analisar a situação fática, destacou a importância da proteção das investigações e da prevenção 
de possíveis prejuízos processuais, inclusive quanto ao direito ao silêncio, além da necessidade de 
proteção do próprio custodiado, cuja sanidade mental ainda era discutível. 
Concluiu, diante dessas ponderações, que, pelo menos naquele momento, a realização da entrevista 
pleiteada não seria adequada. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
Vale ressaltar que, posteriormente, Adélio foi declarado inimputável, em virtude de diagnóstico de 
“transtorno delirante persistente”, tendo sido a ele imposta medida de segurança de internação por prazo 
indeterminado. 
 
Min. Cármen Lúcia acompanhou a conclusão, mas adotou fundamentação diversa 
A ministra Cármen Lúcia acompanhou a conclusão do voto do relator, mas não os seus fundamentos. 
Segunda a ministra, a circunstância de alguém estar privado da sua liberdade de locomoção não cerceia 
também a sua liberdade de expressão. Entretanto, considerou, no caso, a circunstância de que a pessoa 
que seria entrevistada foi reconhecida como alguém que não tem condições de se manifestar livremente. 
Por isso, haveria colisão de direitos fundamentais entre o direito à liberdade de expressão, que garante a 
democracia, e a dignidade humana, que haveria de ser preservada na hipótese. 
 
Em suma: 
A decisão judicial que proibiu a realização de entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair 
Bolsonaro, não significa restrição indevida à liberdade de imprensa nem representa censura prévia. 
Logo, essa decisão não configura ofensa ao entendimento firmado pelo STF na ADPF 130, que julgou 
não recepcionada a Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67). 
A decisão judicial impediu a entrevista com o objetivo de proteger as investigações e evitar possíveis 
prejuízos processuais, inclusive quanto ao direito ao silêncio do investigado. Além disso, a decisão teve 
como finalidade proteger o próprio custodiado, que autorizou a entrevista, mas cuja sanidade mental 
era discutível na época, tendo sido, posteriormente, declarado inimputável em razão de “transtorno 
delirante persistente”. 
STF. 1ª Turma. Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973). 
 
Voto vencido 
Vencido o ministro Edson Fachin que deu provimento ao agravo regimental para julgar procedente a 
reclamação. Entendeu que, em razão da fundamentalidade que a liberdade de expressão possui no estado 
de direito democrático, não encontra amparo a decisão judicial que, sem examinar os parâmetros 
reconhecidos pela jurisprudência deste tribunal, restringe, indevidamente, a imprescindível atividade 
jornalística. 
Para o ministro, ainda que relevantes os fundamentos da decisão reclamada, a restrição à liberdade de 
expressão só poderia ser justificada se tivesse em conta os demais elementos que a resguardam. 
Ressaltou que, à época, havia elevado interesse público na informação a ser obtida decorrente de fato 
ocorrido durante uma campanha presidencial. 
Ponderou que a entrevista sequer foi realizada, providência que, à míngua de fortes razões, contraria o 
disposto no art. 13.2 do Pacto de San José da Costa Rica. Ou seja, a decisão reclamada, sem se pronunciar 
sobre o elevado interesse público na realização da entrevista, impediu que ela fosse feita, coarctando 
(restringindo), indevidamente, o alcance da liberdade de expressão. 
Ademais, no que diz respeito à saúde mental do custodiado, assentou que o exame de sanidade para fins 
de responsabilidade penal não se confunde nem substitui o procedimento de tomada de decisão. No 
ponto, citou o disposto nos arts. 84 e 87 da Lei nº 13.146/2015. Frisou que esses elementos seriam ainda 
mais relevantes especialmente ao considerar-se que tanto o juiz responsável pela investigação quanto o 
responsável pela execução autorizaram a entrevista.Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
COMPETÊNCIAS FEDERATIVAS 
Além da União, os Estados/DF e Municípios também podem adotar medidas de combate ao 
coronavírus considerando que a proteção da saúde é de competência concorrente; o Presidente 
pode definir as atividades essenciais, mas preservando a autonomia dos entes 
 
A Lei nº 13.979/2020 prevê medidas que poderão ser adotadas pelo Brasil para 
enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do 
coronavírus. 
A MP 926/2020 alterou o caput e o inciso VI do art. 3º da Lei nº 13.979/2020 e acrescentou os 
§§ 8º a 11 ao art. 3º da Lei nº 13.979/2020. 
Foi ajuizada uma ADI contra esta MP. 
O STF, ao apreciar a medida cautelar, decidiu: 
• confirmar a medida acauteladora concedida monocraticamente pelo Relator para “tornar 
explícita, no campo pedagógico e na dicção do Supremo, a competência concorrente.” Em 
outras palavras, as providências adotadas pelo Governo Federal “não afastam atos a serem 
praticados por Estado, o Distrito Federal e Município considerada a competência concorrente 
na forma do artigo 23, inciso II, da Lei Maior.” 
• dar interpretação conforme à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei nº 13.979/2020, a fim de 
explicitar que o Presidente da República pode dispor, mediante decreto, sobre os serviços 
públicos e atividades essenciais, no entanto, esse decreto deverá preservar a atribuição de 
cada esfera de governo, nos termos do inciso I do art. 198 da Constituição Federal. 
STF. Plenário. ADI 6341 MC-Ref/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado 
em 15/4/2020 (Info 973). 
 
Lei nº 13.979/2020 
No início de fevereiro de 2020, foi editada a Lei federal nº 13.979/2020, prevendo medidas para o 
enfrentamento do coronavírus. Naquela época, os problemas causados pelo vírus já ocorriam em outros 
lugares do mundo, mas a doença ainda não havia chegado no Brasil. 
 
Medidas determinadas pelos Prefeitos e Governadores 
Em março de 2020, os primeiros casos começaram a acontecer no Brasil e, com o objetivo de tentar conter 
o avanço do coronavírus em nosso país, alguns Prefeitos e Governadores editaram decretos restringindo 
a entrada e saída de pessoas nos seus territórios. 
Foi o caso, por exemplo, do Decreto nº 46.980, de 19 de março de 2020, do Governo do Estado do Rio de 
Janeiro. Veja o que disse o art. 4º, IX e X, deste Decreto: 
Art. 4º De forma excepcional, com o único objetivo de resguardar o interesse da coletividade na 
prevenção do contágio e no combate da propagação do coronavírus, (COVID-19), diante de mortes 
já confirmadas e o aumento de pessoas contaminadas, DETERMINO A SUSPENSÃO, pelo prazo de 
15 (quinze) dias, das seguintes atividades: 
(...) 
IX - a partir da 0h (zero hora) do dia 21 de março de 2020, a circulação de transporte interestadual 
de passageiros com origem nos seguintes Estados: São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, 
Distrito Federal e demais estados em que a circulação do vírus for confirmada ou situação de 
emergência decretada. Compete à Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT ratificar 
esta determinação 
até o início da vigência do presente dispositivo; 
X - a partir da 0h (zero hora) do dia 21 de março de 2020, a operação aeroviária de passageiros 
internacionais, ou nacionais com origem nos estados São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
Bahia, Distrito Federal e demais estados em que a circulação do vírus for confirmada ou situação 
de emergência decretada. A presente medida não recai sobre as operações de carga aérea. 
Compete à Agência Nacional de Aviação Civil - ANAC ratificar esta determinação até o início da 
vigência do presente dispositivo. O Estado do Rio de Janeiro deverá ser comunicado com 
antecedência nos casos de passageiros repatriados para a adoção de medidas de isolamento e 
acompanhamento pela Secretaria de Estado de Saúde. 
 
Reação do Governo Federal por meio da MP 926/2020 
O Governo Federal, contudo, entendeu que tais medidas não poderiam ser adotadas pelos Prefeitos e 
Governadores e, por meio da MP 926/2020, alterou a Lei nº 13.979/2020, para deixar expresso que 
somente por ato do Poder Executivo federal seria possível a restrição da locomoção interestadual e 
intermunicipal. Veja: 
 
LEI 13.979/2020 (LEI QUE TRATA DE MEDIDAS DE COMBATE AO CORONAVÍRUS) 
Antes da MP 926/2020 Depois da MP 926/2020 
Art. 3º Para enfrentamento da emergência de 
saúde pública de importância internacional 
decorrente do coronavírus, poderão ser 
adotadas, entre outras, as seguintes medidas: 
Art. 3º Para enfrentamento da emergência de 
saúde pública de importância internacional 
decorrente do coronavírus, as autoridades 
poderão adotar, no âmbito de suas 
competências, dentre outras, as seguintes 
medidas: 
VI – restrição excepcional e temporária de 
entrada e saída do País, conforme 
recomendação técnica e fundamentada da 
Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
(Anvisa), por rodovias, portos ou aeroportos; 
VI – restrição excepcional e temporária, 
conforme recomendação técnica e 
fundamentada da Agência Nacional de Vigilância 
Sanitária, por rodovias, portos ou aeroportos de: 
a) entrada e saída do País; e 
b) locomoção interestadual e intermunicipal; 
 
A MP também acrescentou os §§ 8º a 11 ao art. 3º da Lei nº 13.979/2020: 
Art. 3º (...) 
§ 8º As medidas previstas neste artigo, quando adotadas, deverão resguardar o exercício e o 
funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais. 
§ 9º O Presidente da República disporá, mediante decreto, sobre os serviços públicos e atividades 
essenciais a que se referem o § 8º. 
§ 10. As medidas a que se referem os incisos I, II e VI do caput, quando afetarem a execução de 
serviços públicos e atividades essenciais, inclusive as reguladas, concedidas ou autorizadas, 
somente poderão ser adotadas em ato específico e desde que em articulação prévia com o órgão 
regulador ou o Poder concedente ou autorizador. 
§ 11. É vedada a restrição à circulação de trabalhadores que possa afetar o funcionamento de 
serviços públicos e atividades essenciais, definidas nos termos do disposto no § 9º, e cargas de 
qualquer espécie que possam acarretar desabastecimento de gêneros necessários à população. 
 
ADI 6341 
O Partido Democrático Brasileiro (PDT) ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra a MP 
926/2020. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
Decisão monocrática 
O Min. Marco Aurélio foi sorteado relator da ação e, no dia 24/03/2020, proferiu decisão afirmando o 
seguinte: 
“3. Defiro, em parte, a medida acauteladora, para tornar explícita, no campo pedagógico e na dicção do 
Supremo, a competência concorrente.” 
Para o Ministro, as providências adotadas pelo Governo Federal “não afastam atos a serem praticados por 
Estado, o Distrito Federal e Município considerada a competência concorrente na forma do artigo 23, 
inciso II, da Lei Maior.” 
 
Assim, o Relator entendeu que os Prefeitos e Governadores podem adotar medidas de combate ao 
coronavírus considerando que são providências relacionadas com a proteção da saúde, matéria que é de 
competência comum da União, dos Estados, do DF e dos Municípios, na forma do art. 23, II, da CF/88: 
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: 
(...) 
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadorasde 
deficiência; 
 
Apreciação do tema pelo Plenário 
No dia 15/04, o Plenário do STF se reuniu para decidir se referendava (confirmava) ou não a medida 
cautelar concedida pelo Ministro Marco Aurélio. 
 
O que o STF decidiu? 
O Plenário do STF, por maioria, referendou a medida cautelar na ação direta, deferida pelo Ministro Marco 
Aurélio, no entanto, acrescentou mais uma conclusão que não havia na decisão monocrática. 
O STF afirmou que deve ser dada interpretação conforme à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei nº 
13.979/2020, a fim de explicitar que o Presidente da República pode dispor, mediante decreto, sobre os 
serviços públicos e atividades essenciais, no entanto, esse decreto deverá preservar a atribuição de cada 
esfera de governo, nos termos do inciso I do art. 198 da Constituição Federal: 
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada 
e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: 
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; 
(...) 
 
Art. 3º é constitucional e não afasta os atos que devem ser praticados pelos Estados/DF e Municípios 
A MP 926/2020 é constitucional sob o ponto de vista formal porque foi editada dentro de um quadro 
revelador de urgência e necessidade, tendo sido publicado este ato normativo com o objetivo de se mitigar 
a crise internacional que chegou ao Brasil. 
O caput do art. 3º também é constitucional porque apenas determina medidas que deverão ser tomadas 
pelas autoridades, no âmbito de suas competências. 
Vale ressaltar, no entanto, que as providências que ficam a cargo da União, não afastam atos a serem 
praticados pelos Estados, Distrito Federal e Municípios considerando que estamos diante de “competência 
concorrente*”, na forma do art. 23, II, da CF/88: 
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: 
(...) 
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de 
deficiência; 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
* Obs: em seu voto, o Min. Marco Aurélio falou em competência “concorrente”. Vale ressaltar, no entanto, 
que a doutrina e a própria jurisprudência do STF afirmam que o art. 23 da CF/88 traz hipóteses de 
competência “comum” (competências materiais) e o art. 24 é que deve ser denominado de competência 
“concorrente” (competências legislativas). Assim, o Ministro utilizou uma nomenclatura diversa daquela 
que é encontrada na maioria dos livros e julgados. 
 
Desnecessidade de lei complementar 
O STF afirmou também que não era necessária lei complementar porque o art. 3º da Lei nº 13.979/2020 
não está tratando sobre cooperação entre a União, os Estados, DF e Municípios. Logo, não se enquadra 
na exigência do parágrafo único do art. 23 da CF/88: 
Art. 23 (...) 
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os 
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do 
bem-estar em âmbito nacional. 
 
Interpretação conforme para o § 9º do art. 3º da Lei nº 13.979/2020 
Aqui está o aspecto mais importante da decisão. 
O STF conferiu interpretação conforme à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei 13.979/2020, vencidos, 
neste ponto, os Ministros Marco Aurélio e Dias Toffoli. 
Vamos relembrar o que diz o § 9º do art. 3º: 
Art. 3º (...) 
§ 8º As medidas previstas neste artigo, quando adotadas, deverão resguardar o exercício e o 
funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais. 
§ 9º O Presidente da República disporá, mediante decreto, sobre os serviços públicos e atividades 
essenciais a que se referem o § 8º. 
 
Medidas dos governantes estão submetidas a controles e contrapesos 
É certo que vivemos uma situação de emergência internacional reconhecida pela Organização Mundial da 
Saúde (OMS). Isso, contudo, não autoriza que se outorgue aos governantes uma discricionariedade sem 
controle ou sem contrapesos típicos do estado de direito democrático. 
As regras constitucionais não servem apenas para proteger a liberdade individual e, sim, também, para o 
exercício da racionalidade coletiva, isto é, da capacidade de coordenar as ações de forma eficiente. 
O estado de direito democrático garante também o direito de examinar as razões governamentais e o 
direito da cidadania de criticá-las. 
Os agentes públicos agem melhor, mesmo durante as emergências, quando são obrigados a justificar suas 
ações. 
Assim, o exercício da competência constitucional para as ações na área da saúde deve seguir parâmetros 
materiais a serem observados pelas autoridades políticas. Esses agentes públicos devem sempre justificar 
as suas ações, que serão controladas pelos demais Poderes e por toda sociedade. 
 
Omissões dos governantes também devem ser controladas 
O pior erro na formulação das políticas públicas é a omissão, especialmente a omissão em relação às ações 
essenciais exigidas pelo art. 23 da CF/88 (rol no qual um dos deveres é o de “cuidar da saúde”). 
Eventual inação do Governo Federal na adoção de medidas para cuidar da saúde (art. 23, II, da CF/88) não 
pode ser “premiada”. Logo, eventual omissão da União não pode impedir que os Estados/DF e Municípios, 
no âmbito de suas respectivas competências, implementem as políticas públicas essenciais para cuidar da 
saúde da população. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
O Estado garantidor dos direitos fundamentais não é apenas a União, mas também os Estados-membros, 
DF e os Municípios. 
 
Não se pode tolher a competência dos demais entes federativos 
O Congresso Nacional pode regular, de forma harmonizada e nacional, determinado tema ou política 
pública. No entanto, no seu silêncio, ou seja, na ausência de manifestação legislativa, quer por iniciativa 
do Congresso Nacional, quer da chefia do Poder Executivo federal, não se pode tolher o exercício da 
competência pelos demais entes federativos na promoção dos direitos fundamentais. 
 
Lei do SUS 
O caminho mais seguro para identificação do fundamento constitucional, no exercício da competência dos 
entes federados, é o que se depreende da própria legislação. 
A Lei nº 8.080/90, a chamada Lei do SUS (Sistema Único de Saúde), dispõe sobre as condições para a 
promoção, proteção e recuperação da saúde e assegura esse direito por meio da municipalização dos 
serviços. 
O caput do art. 198 da CF/88 prevê que “as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede 
regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes 
diretrizes (...)”. 
Quando este dispositivo fala em “hierarquizada”, ele não quer dizer que exista uma hierarquia entre os 
entes federados, ou seja, a União não está acima dos Estados nem estes acima dos Municípios. O que se 
está dizendo é deverá haver um comando único dentro de cada uma dessas esferas respectivas de 
governo. 
As normas da Lei nº 13.979/2020 são o exercício da competência própria da União para legislar sobre 
vigilância epidemiológica. Vale ressaltar, contudo, que, conforme prevê a Lei do SUS, o exercício dessa 
competência da União não diminui a competência própria dos demais entes da Federação na realização 
dos serviços de saúde, até mesmo porque a diretriz constitucional é que ocorra a municipalização dos 
serviços de saúde. 
 
Em suma: 
A Lei nº 13.979/2020 prevê medidas que poderão ser adotadas pelo Brasil para enfrentamento da 
emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus. 
A MP 926/2020 alterou o caput e o inciso VI do art. 3º da Lei nº13.979/2020 e acrescentou os §§ 8º a 
11 ao art. 3º da Lei nº 13.979/2020. 
Foi ajuizada uma ADI contra esta MP. 
O STF, ao apreciar a medida cautelar, decidiu: 
• confirmar a medida acauteladora concedida monocraticamente pelo Relator para “tornar explícita, no 
campo pedagógico e na dicção do Supremo, a competência concorrente.” Em outras palavras, as 
providências adotadas pelo Governo Federal “não afastam atos a serem praticados por Estado, o 
Distrito Federal e Município considerada a competência concorrente na forma do artigo 23, inciso II, da 
Lei Maior.” 
• dar interpretação conforme à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei nº 13.979/2020, a fim de explicitar 
que o Presidente da República pode dispor, mediante decreto, sobre os serviços públicos e atividades 
essenciais, no entanto, esse decreto deverá preservar a atribuição de cada esfera de governo, nos 
termos do inciso I do art. 198 da Constituição Federal. 
STF. Plenário. ADI 6341 MC-Ref/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 
15/4/2020 (Info 973). 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
É constitucional lei estadual que autoriza a comercialização 
de bebidas alcoólicas nas arenas desportivas e nos estádios 
 
É constitucional lei estadual que autoriza a comercialização de bebidas alcoólicas nas arenas 
desportivas e nos estádios. 
Trata-se de legislação sobre consumo, matéria de competência concorrente (art. 24, V, da 
CF/88). 
O art. 13-A, II, da Lei nº 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor) indica como “condições de acesso 
e permanência do torcedor no recinto esportivo”, entre outras, “não portar objetos, bebidas 
ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência”. 
Não há, contudo, uma vedação geral e absoluta por parte do Estatuto do Torcedor, de modo 
que o legislador estadual, no exercício de sua competência concorrente complementar, 
observadas as especificidades locais, pode regulamentar a matéria, autorizando, por exemplo, 
a venda de cerveja e chope (bebidas de baixo teor alcóolico) nos estádios. Vale lembrar que 
isso já é autorizado nos grandes eventos mundiais de futebol e outros esportes, inclusive na 
Copa do mundo organizada pela FIFA e nas Olimpíadas. 
STF. Plenário. ADI 6195, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/03/2020. 
 
Lei estadual autorizando a venda de bebidas alcóolicas nos estádios 
O Paraná editou lei estadual nº 19.128/2017 autorizando a venda e o consumo de bebidas alcoólicas nas 
arenas desportivas e estádios no âmbito do Estado. 
Veja alguns dispositivos da Lei: 
Art. 2º A comercialização de bebidas alcoólicas nas arenas desportivas e nos estádios no Estado 
do Paraná será permitida desde a abertura dos portões para acesso do público até o término do 
evento. 
Art. 3º As únicas bebidas alcoólicas que poderão ser vendidas e consumidas em recintos esportivos 
são a cerveja e o chope, sendo proibida a venda e o consumo de quaisquer outras espécies de 
bebidas alcoólicas, sejam elas destiladas ou fermentadas. 
(...) 
Art. 4º As bebidas expostas à venda somente poderão ser vendidas e entregues aos consumidores 
em copos plásticos descartáveis. 
(...) 
 
ADI 
A Procuradora-Geral da República ajuizou ADI contra esta lei afirmando que ela trata sobre “consumo”, 
matéria que é de competência concorrente (art. 24, V, da CF/88). 
Até aí, tudo bem. 
Ocorre que, para a PGR, o legislador estadual violou as normas gerais da União. Isso porque a União editou 
a Lei nº 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor), que proibiu o porte de bebidas alcoólicas em eventos 
esportivos nos seguintes termos: 
Art. 13-A. São condições de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo, sem prejuízo 
de outras condições previstas em lei: 
(...) 
II - não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a 
prática de atos de violência; (Incluído pela Lei nº 12.299/2010). 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
O que decidiu o STF? Essa Lei estadual é inconstitucional? 
NÃO. O STF julgou improcedente o pedido formulado na ADI, declarando a constitucionalidade da Lei nº 
19.128/2017 do Estado do Paraná. 
 
Estatuto do Torcedor é a norma geral 
A União editou a Lei nº 10.671/2003, que instituiu o Estatuto de Defesa do Torcedor, cuja finalidade 
precípua é fixar direitos e deveres para aqueles que apreciem, apoiem ou se associem a qualquer entidade 
de prática desportiva no país e acompanhem a prática de determinada modalidade esportiva (art. 2º). 
Ao assim dispor, o legislador federal estabeleceu a normatização geral sobre a matéria. 
 
Estatuto do Torcedor não detalhou quais bebidas seriam proibidas 
O art. 13-A, II, da Lei 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor) não especificou quais seriam as bebidas 
proibidas. Depois da palavra “bebidas”, o legislador não incluiu o qualificativo “alcoólicas”. 
E há razão para isso, já que, na edição de normas gerais, a União não deve pormenorizar a legislação tendo 
em vista que cabe aos Estados-membros suplementar as normas gerais segundo suas particularidades. 
Dessa forma, o STF entendeu que compete ao legislador estadual definir, observadas as especificidades 
locais, quais bebidas são proibidas nos estádios. 
Logo, não se verifica inconstitucionalidade formal na previsão da Lei do Estado do Paraná tendo em vista 
que não houve violação ao Estatuto do Torcedor. 
 
Não há inconstitucionalidade material 
A PGR alegou também que haveria inconstitucionalidade material na lei do Paraná considerando que a 
permissão para bebidas alcoólicas nos estádios geraria mais violência. 
O argumento, contudo, não foi acolhido pelo STF. 
O tema “violência nos estádios e bebidas alcoólicas” representa uma preocupação mundial, tendo em 
vista que o futebol é um dos esportes mais difundidos e praticados no mundo. Todavia, muito embora 
várias ocorrências em estádios de futebol costumem ser atribuídas ao consumo excessivo de álcool, não 
é possível afirmar, categoricamente, que existe essa correlação lógica e obrigatória. Até mesmo porque 
bebidas de menor teor alcoólico (como as cervejas) são, normalmente, comercializadas nos maiores 
eventos mundiais, inclusive na Copa do Mundo de Futebol, organizada pela FIFA. 
Além disso, a proibição de venda das bebidas alcóolicas dentro dos estádios não se mostra proporcional. 
Isso porque essa proibição tem feito com que os torcedores permaneçam nas cercanias dos estádios, até 
o limite do horário para o início das partidas, consumindo bebidas alcoólicas comercializadas por 
ambulantes sem qualquer espécie de controle e fiscalização estatais. 
Assim, para o STF, não se mostra razoável afirmar que as bebidas alcoólicas vendidas dentro dos estádios 
de futebol possam ser consideradas como a causa das brigas, considerando que os torcedores já 
consomem as bebidas comercializadas no entorno das arenas, muitas vezes com teor alcoólico muito 
maior que cerveja e chope, instantes antes das partidas. 
Desse modo, cabe ao Estado tomar essa decisão, fazendo a ponderação entre a necessidade de garantir a 
segurança dos cidadãos e, ao mesmo tempo, fomentar as atividades econômicas relacionadas ao 
consumo. 
 
Em suma: 
É constitucional lei estadual que autoriza a comercialização de bebidas alcoólicas nas arenas desportivas 
e nos estádios. 
Trata-se de legislação sobre consumo, matéria de competência concorrente (art. 24, V, da CF/88). 
O art. 13-A, II, da Lei nº 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor) indica como “condições de acesso e 
permanência do torcedor no recinto esportivo”, entre outras, “não portarobjetos, bebidas ou 
substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência”. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
Não há, contudo, uma vedação geral e absoluta por parte do Estatuto do Torcedor, de modo que o 
legislador estadual, no exercício de sua competência concorrente complementar, observadas as 
especificidades locais, pode regulamentar a matéria, autorizando, por exemplo, a venda de cerveja e 
chope (bebidas de baixo teor alcóolico) nos estádios. Vale lembrar que isso já é autorizado nos grandes 
eventos mundiais de futebol e outros esportes, inclusive na Copa do mundo organizada pela FIFA e nas 
Olimpíadas. 
STF. Plenário. ADI 6195, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/03/2020. 
 
 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
É inconstitucional lei estadual que determine aos titulares das serventias extrajudiciais 
que façam a microfilmagem dos documentos arquivados no cartório 
 
Os Estados-membros não possuem competência legislativa para determinar a microfilmagem 
de documentos arquivados nos cartórios extrajudiciais do Estado. 
Esse tema envolve registros públicos e responsabilidade civil dos notários e registros, matéria 
que é de competência privativa da União, nos termos do art. 22, XXV, da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 3723, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020. 
 
O Estado de São Paulo editou lei afirmando que é “obrigatória, no território estadual, a microfilmagem 
de documentos arquivados nos cartórios extrajudiciais”. Essa lei é constitucional? 
NÃO. 
Os Estados-membros não possuem competência legislativa para determinar a microfilmagem de 
documentos arquivados nos cartórios extrajudiciais do Estado. 
STF. Plenário. ADI 3723, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020. 
 
Essa lei trata sobre registros públicos e responsabilidade civil dos notários e registros, matéria que é de 
competência privativa da União, nos termos do art. 22, XXV, da CF/88: 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
(...) 
XXV - registros públicos; 
 
Ademais, o art. 236, § 1º, da Constituição determina que lei regulamentará as atividades dos oficiais de 
registro: 
Art. 236 (...) 
§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos 
oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário. 
 
A matéria está regulamentada tanto pela Lei federal nº 6.015/73, quanto pela Lei federal nº 8.935/94. 
O art. 25 da Lei 6.015/73 dispõe sobre o arquivamento dos papéis em cartório nos seguintes termos: 
Art. 25. Os papéis referentes ao serviço do registro serão arquivados em cartório mediante a 
utilização de processos racionais que facilitem as buscas, facultada a utilização de microfilmagem 
e de outros meios de reprodução autorizados em lei. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
Já o art. 41 da Lei nº 8.935/94 permite que os notários e oficiais de registro se utilizem de sistemas de 
computação, microfilmagem e outros meios de reprodução: 
Art. 41. Incumbe aos notários e aos oficiais de registro praticar, independentemente de 
autorização, todos os atos previstos em lei necessários à organização e execução dos serviços, 
podendo, ainda, adotar sistemas de computação, microfilmagem, disco ótico e outros meios de 
reprodução. 
 
Como a microfilmagem dos documentos arquivados nos serviços cartorários não é reputada essencial para 
a segurança ou conservação dos registros públicos (Lei nº 6.015/73), nem listada como dever de notários 
e registradores (Lei nº 8.935/94), não pode ser imposta por Estado-membro como medida decorrente de 
seu poder organizativo deste serviço público, em seu território. 
 
 
INTERVENÇÃO 
A Constituição Estadual não pode disciplinar sobre intervenção estadual 
de forma diferente das regras previstas na Constituição Federal 
 
A Constituição Estadual não pode trazer hipóteses de intervenção estadual diferentes 
daquelas que são previstas no art. 35 da Constituição Federal. 
As hipóteses de intervenção estadual previstas no art. 35 da CF/88 são taxativas. 
Caso concreto: STF julgou inconstitucional dispositivo da Constituição de Pernambuco que 
previa que o Estado-membro poderia intervir nos Municípios caso ali ocorressem atos de 
corrupção e improbidade administrativa. 
STF. Plenário. ADI 2917, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020. 
 
Viola a Constituição Federal a previsão contida na Constituição Estadual atribuindo aos 
Tribunais de Contas a competência para requerer ou decretar intervenção em Município. 
Essa previsão não encontra amparo nos arts. 34 e 36 da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 3029, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020. 
 
Princípio da autonomia dos entes 
A União, os Estados, o DF e os Municípios são autônomos (art. 18 da CF/88). 
A autonomia dos entes é manifestada pelas seguintes capacidades que possuem: 
a) auto-organização: capacidade de os Estados elaborarem suas próprias Constituições e de o DF e os 
Municípios elaborarem suas Leis Orgânicas; 
b) autogoverno: prerrogativa que os entes possuem de elegerem os seus respectivos governantes 
(Governadores, Prefeitos, Deputados, Vereadores); 
c) autoadministração: capacidade que os entes possuem dirigirem os seus próprios órgãos e serviços 
públicos e de exercerem suas competências, sem interferência de outro ente. Assim, por exemplo, as 
decisões administrativas do Estado-membro “X” são tomadas exclusivamente por este Estado-membro 
“X”, sem que possam sofrer a interferência da União, de outros Estados-membros ou de Municípios; 
d) auto legislação: prerrogativa dos entes de editarem suas próprias leis, de acordo com as competências 
fixadas pela CF. 
 
Equilíbrio federativo (pacto federativo) 
Apesar de serem autônomos, os entes da Federação têm que obedecer aos princípios e regras da CF/88 a 
fim de manter o equilíbrio federativo. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
Intervenção: instrumento para manter o equilíbrio federativo 
A CF/88 prevê que, se houver risco à manutenção do equilíbrio federativo, é possível a utilização de um 
mecanismo chamado de “intervenção”. 
A finalidade da intervenção é proteger a estrutura constitucional federativa contra atos destrutivos de 
unidades federadas. 
 
Conceito de intervenção 
A intervenção é... 
- uma medida de natureza política, 
- excepcional, 
- prevista taxativamente na CF/88, 
- consistente na incursão (intromissão) de um ente superior em assuntos de um ente inferior, 
- restringindo temporariamente a autonomia deste, 
- com o objetivo de preservar o pacto federativo 
- e fazer cumprir os demais princípios e regras constitucionais. 
 
Princípio da não-intervenção 
A regra é que um ente não pode intervir em outro. A intervenção de um ente em outro é excepcional. 
Somente fatos de enorme gravidade justificam essa medida extrema. 
 
Espécies de intervenção: 
Há dois tipos de intervenção em nossa Federação: 
a) intervenção da União nos Estados, no Distrito Federal ou nos Municípios localizados em Territórios 
(intervenção federal): art. 34 da CF/88; 
b) intervenção dos Estados nos Municípios (intervenção estadual): art. 35 da CF/88. 
 
Intervenção FEDERAL → União intervém nos Estados. 
Intervenção ESTADUAL → Estados intervêm nos Municípios. 
 (Obs.: a União não intervém em Municípios, a não ser que estejam em Territórios). 
 
Hipótesesde intervenção federal 
As hipóteses excepcionais de intervenção federal estão previstas taxativamente no art. 34 da CF/88. 
Vejamos cada uma delas, analisando o procedimento adotado: 
HIPÓTESES PROCEDIMENTO 
 
A União poderá intervir nos Estados/DF se essa 
medida for necessária para: 
 
1) manter a integridade nacional. 
Ex.: um determinado Estado-membro inicia um forte 
movimento para se separar do restante do Brasil. 
 
 
O Presidente da República, ao perceber a 
ocorrência de alguma dessas hipóteses, deverá 
decretar a intervenção, mesmo que não tenha sido 
solicitada por ninguém. Em outras palavras, a 
intervenção será decretada de ofício (de forma 
espontânea). 
 
O Presidente decreta a intervenção por meio de 
um Decreto Presidencial, o qual deverá trazer as 
regras sobre a intervenção (amplitude, prazo, 
condições). No Decreto, o Presidente poderá 
nomear um interventor para administrar o Estado, 
caso entenda necessário. 
 
2) repelir invasão estrangeira ou de uma unidade 
da Federação em outra. 
Ex.: a Colômbia decide conquistar Tabatinga (AM). 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
3) pôr termo (acabar) a grave comprometimento 
da ordem pública. 
Ex.: o Estado-membro não está conseguindo 
controlar o crime organizado. 
 
 
O Decreto deverá ser submetido à apreciação do 
Congresso Nacional, no prazo de 24 horas. A 
doutrina chama isso de “controle político” da 
intervenção. Se o Congresso não estiver 
funcionando, o Presidente do Senado deverá fazer 
uma convocação extraordinária. 
 
Antes de decretar a intervenção, o Presidente 
consultará o Conselho da República e o Conselho 
de Defesa Nacional, sendo tais manifestações 
apenas opinativas (não vinculantes). 
 
4) reorganizar as finanças do Estado/DF caso ele 
tenha: 
a) suspendido o pagamento da dívida fundada por 
mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de 
força maior; 
b) deixado de entregar aos Municípios as receitas 
tributárias, dentro dos prazos estabelecidos em lei. 
 
 
5) A União poderá intervir no Estado/DF para 
garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes 
nas unidades da Federação. 
 
 
Se o Poder Executivo ou Legislativo estadual que 
estiver sendo coagido/impedido, deverá solicitar 
(“pedir”) ao Presidente da República que 
intervenha no Estado. 
 
Se o Poder Judiciário estiver sendo 
coagido/impedido, deve solicitar providências ao 
STF. Se o STF concordar com o pedido, irá 
requisitar do Presidente da República a 
intervenção (a requisição é vinculante). 
 
O Decreto de intervenção também será submetido 
à apreciação do CN, no prazo de 24 horas. 
 
 
6) A União poderá intervir no Estado/DF para 
prover (garantir) a execução de ordem ou decisão 
judicial que esteja sendo desrespeitada. 
 
 
A decretação da intervenção dependerá de 
requisição do STF, do STJ ou do TSE. 
 
Assim, o STF, o STJ ou o TSE, a depender de qual 
ordem/decisão judicial esteja sendo descumprida, 
irá requisitar do Presidente da República a 
intervenção federal. Assim, p. ex., se a decisão do TSE 
é que foi descumprida, o Presidente desta Corte irá 
requisitar a intervenção ao Presidente da República. 
 
E se o Estado/DF estiver descumprindo uma 
decisão de juiz ou Tribunal de 2ª instância? 
Nesse caso, o Tribunal local deverá fazer uma 
representação ao Tribunal Superior competente 
(STF, STJ ou TSE) solicitando a intervenção. Se o 
Tribunal Superior concordar, ele irá requisitar ao 
Presidente da República a intervenção. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
Para saber qual o Tribunal Superior será 
competente deverá ser analisada a matéria 
discutida e para quem seria dirigido o eventual 
recurso. Ex.1: caberá ao STJ o exame da 
intervenção federal nos casos em que a matéria é 
infraconstitucional (legislação federal) e o possível 
recurso deva ser encaminhado ao STJ. Ex.2: se a 
questão for constitucional, o pedido de 
intervenção será julgado pelo STF. 
 
Obs.: NÃO é necessária a apreciação pelo CN tendo 
em vista que a intervenção foi determinada pelo 
Poder Judiciário em julgamento de ação judicial. 
 
 
7) A União poderá intervir no Estado/DF para 
prover (garantir) a execução de lei federal que 
esteja sendo desrespeitada. 
 
 
A decretação da intervenção dependerá de 
provimento (decisão julgando procedente), pelo STF, 
de representação do Procurador-Geral da República. 
 
Assim, verificando a ocorrência de uma dessas 
duas hipóteses, o PGR deverá propor uma 
representação de inconstitucionalidade 
interventiva (ação direta de inconstitucionalidade 
interventiva) junto ao STF. 
 
Se o STF julgar a ação procedente, deverá levar ao 
conhecimento do Presidente da República para 
que este, no prazo improrrogável de até 15 dias, 
tome as seguintes providências: 
a) expeça decreto de intervenção; 
b) nomeie, nesse mesmo decreto, o interventor 
(se couber). Vale ressaltar que nem sempre haverá 
a nomeação de interventor. 
 
O procedimento está previsto na Lei nº 
12.562/2011. 
 
Obs.1: a decretação da intervenção é vinculada, 
cabendo ao Presidente a mera formalização da 
decisão tomada pelo STF. 
 
Obs.2: o decreto deve limitar-se a suspender a 
execução do ato impugnado, se essa medida for 
suficiente para o restabelecimento da normalidade. 
 
Obs.3: NÃO é necessário que a intervenção seja 
apreciada pelo Congresso Nacional. 
 
 
8) A União poderá intervir no Estado/DF para 
assegurar a observância dos princípios 
constitucionais sensíveis, que são os seguintes: 
a) forma republicana, sistema representativo e 
regime democrático; 
b) direitos da pessoa humana; 
c) autonomia municipal; 
d) prestação de contas da administração pública, 
direta e indireta. 
e) aplicação do mínimo exigido da receita 
resultante de impostos estaduais, compreendida a 
proveniente de transferências, na manutenção e 
desenvolvimento do ensino (25%) e nas ações e 
serviços públicos de saúde. 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Intervenção federal como limitação circunstancial ao poder de reforma constitucional 
A Constituição Federal não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa 
ou de estado de sítio (art. 60, § 1º). 
 
HIPÓTESES DE INTERVENÇÃO ESTADUAL 
As hipóteses excepcionais de intervenção nos Municípios estão previstas taxativamente no art. 35 da CF/88. 
É o Estado-membro quem tem a possibilidade constitucional de intervir nos Municípios. 
Em regra, a União não intervém em Municípios, a não ser que estejam em Territórios. 
Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em 
Território Federal, exceto quando: 
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; 
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; 
III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e 
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; 
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de 
princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de 
decisão judicial. 
 
Veja agora o caso concreto julgado pelo STF 
A Constituição de Pernambuco previu que o Estado-membro poderia intervir nos Municípios caso ali 
ocorressem atos de corrupção e improbidade administrativa. Veja: 
Art. 91. O Estado não intervirá em seus Municípios, exceto quando: 
(…) 
V – ocorrerprática de atos de corrupção e improbidade nos Municípios, nos termos da lei. 
 
Essa previsão é válida? 
NÃO. 
A Constituição Estadual não pode trazer hipóteses de intervenção estadual diferentes daquelas que são 
previstas no art. 35 da Constituição Federal. 
As hipóteses de intervenção estadual previstas no art. 35 da CF/88 são taxativas. 
STF. Plenário. ADI 2917, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020. 
 
Assim, a Constituição estadual não pode trazer outras situações de intervenção estadual diferentes 
daquilo que foi insculpido na CF/88 (STF. Plenário. ADI 336, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 10/02/2010). 
Veja como o tema já foi cobrado em prova: 
++ (Procurador TCU 2015 CESPE) A intervenção em município localizado em estado-membro ocorrerá, em 
cada caso, conforme as hipóteses estabelecidas livremente na respectiva Constituição estadual, que 
definirá, entre outras coisas, os seus próprios princípios constitucionais de intervenção. (errado) 
 
De igual modo: 
Viola a Constituição Federal a previsão contida na Constituição Estadual atribuindo aos Tribunais de 
Contas a competência para requerer ou decretar intervenção em Município. 
Essa previsão não encontra amparo nos arts. 34 e 36 da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 3029, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020. 
 
Nesse sentido: 
É inconstitucional a atribuição conferida, pela Constituição do Pará, art. 85, I, ao Tribunal de Contas dos 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
Municípios, para requerer ao Governador do Estado a intervenção em Município. Caso em que o Tribunal 
de Contas age como auxiliar do Legislativo Municipal, a este cabendo formular a representação, se não 
rejeitar, por decisão de dois terços dos seus membros, o parecer prévio emitido pelo Tribunal (CF, art. 31 
31, § 2º 2º). 
STF. Plenário. ADI 2.631, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 29/8/2002. 
 
 
 
DIREITO NOTARIAL E 
REGISTRAL 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
É inconstitucional lei estadual que determine aos titulares das serventias extrajudiciais 
que façam a microfilmagem dos documentos arquivados no cartório 
 
Os Estados-membros não possuem competência legislativa para determinar a microfilmagem 
de documentos arquivados nos cartórios extrajudiciais do Estado. 
Esse tema envolve registros públicos e responsabilidade civil dos notários e registros, matéria 
que é de competência privativa da União, nos termos do art. 22, XXV, da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 3723, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020. 
 
Veja comentários em Direito Constitucional. 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de mercadorias avaliadas em R$ 
29,15, mesmo que a subtração tenha ocorrido durante o período de repouso noturno e mesmo 
que o agente seja reincidente 
 
É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de mercadorias avaliadas em R$ 
29,15, mesmo que a subtração tenha ocorrido durante o período de repouso noturno e mesmo 
que o agente seja reincidente. 
Vale ressaltar que os produtos haviam sido furtados de um estabelecimento comercial e que 
logo após o agente foi preso, ainda na porta do estabelecimento. 
Objetos furtados: R$ 4,15 em moedas, uma garrafa de Coca-Cola, duas garrafas de cerveja e 
uma garrafa de pinga marca 51, tudo avaliado em R$ 29,15. 
STF. 2ª Turma. HC 181389 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
Marcos furtou, de um mercado, R$ 4,15 em moedas, uma garrafa de Coca-Cola, duas garrafas de cerveja 
e uma garrafa de pinga marca 51, tudo avaliado em R$ 29,15. 
A subtração ocorreu durante à noite. 
Vale ressaltar que logo depois, Marcos foi preso e as mercadorias apreendidas. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
O Ministério Público denunciou o agente pela prática do crime de furto noturno: 
Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. 
 
A defesa pediu a absolvição com base na aplicação do princípio da insignificância. 
O juiz, contudo, condenou o Marcos afirmando não é possível aplicar o princípio da insignificância 
considerando que o réu é reincidente e cometeu o furto no período noturno, o que denota maior 
gravidade na sua conduta. 
 
O que decidiu o STF sobre o tema? É possível aplicar o princípio da insignificância neste caso? 
SIM. 
É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de mercadorias avaliadas em R$ 29,15, 
mesmo que o a subtração tenha ocorrido durante o período de repouso noturno e mesmo que o agente 
seja reincidente. 
STF. 2ª Turma. HC 181389 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973). 
 
Em regra, o STF afasta a aplicação do princípio da insignificância aos acusados reincidentes ou de 
habitualidade delitiva comprovada. 
Vale ressaltar, no entanto, que a reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a 
insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto (STF. Plenário. HC 123108/MG, HC 
123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 3/8/2015). 
Assim, de acordo com o caso concreto, é possível sim aplicar a insignificância mesmo para réus reincidentes. 
Veja como o tema foi recentemente cobrado em prova: 
++ (Juiz TJ/CE 2019 CEBRASPE) A reincidência do acusado não é motivo suficiente para afastar a aplicação 
do princípio da insignificância. (certo) 
 
Tipicidade material 
A tipicidade penal divide-se em: 
a) Tipicidade formal (ou legal): é a adequação (conformidade) entre a conduta praticada pelo agente e a 
conduta descrita abstratamente na lei penal incriminadora. 
b) Tipicidade material (ou substancial): é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo tipo penal. 
 
Verificar se há tipicidade formal significa examinar se a conduta praticada pelo agente amolda-se ao que 
está previsto como crime na lei penal. 
Verificar se há tipicidade material consiste em examinar se essa conduta praticada pelo agente e prevista 
como crime produziu efetivamente lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo tipo penal. 
 
Primeiro se verifica se a conduta praticada pelo agente se enquadra em algum crime descrito pela lei penal. 
• Se não se amoldar, o fato é formalmente atípico. 
• Se houver essa correspondência, o fato é formalmente típico. 
• Sendo formalmente típico, é analisado se a conduta produziu lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico 
que este tipo penal protege. 
• Se houver lesão ou perigo de lesão, o fato é também materialmente típico. 
• Se não houver lesão ou perigo de lesão, o fato é, então, materialmente atípico. 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
Princípio da insignificância e tipicidade material 
Se o fato for penalmente insignificante, significa que não lesou nem causou perigo de lesão ao bem 
jurídico. Logo, aplica-se o princípio da insignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com 
fundamento no art. 386, III do CPP. 
++ (Juiz de Direito TJ-MS 2020 FCC) Em relação à tipicidade penal, é excluída pelos chamados princípios da 
insignificância e adequação social, ausentes tipicidade formal e material, respectivamente. (errado) 
 
Como o princípio da insignificância atua como verdadeira causa de exclusãoda própria tipicidade (material), 
é um equívoco negar a sua incidência tão somente pelo fato de o réu possuir antecedentes criminais. 
Para a aplicação do princípio da bagatela, devem ser analisadas as circunstâncias objetivas em que se deu 
a prática delituosa e não os atributos inerentes ao agente. 
No caso concreto, a despeito de restar patente a existência da tipicidade formal, não incide, na situação 
dos autos, a tipicidade material, que se traduz na lesividade efetiva e concreta ao bem jurídico tutelado, 
sendo atípica a conduta imputada. 
 
Princípio da ofensividade 
“O princípio da lesividade ou da ofensividade (nullum crimen sine iniuria) significa que apenas condutas 
que causem efetiva lesão ou perigo de lesão a bem jurídico podem ser objeto de repressão penal.” (ALVES, 
Jamil Chaim. Manual de Direito Penal. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 123). 
Ao se fazer uma leitura conjunta do princípio da ofensividade com o princípio da insignificância, pode-se 
concluir que haverá conduta atípica quando ela não representar, pela irrisória ofensa ao bem jurídico 
tutelado, um dano (nos crimes de dano), uma certeza de risco de dano (nos crimes de perigo concreto) 
ou, ao menos, uma possibilidade de risco de dano (nos crimes de perigo abstrato), mesmo que haja, de 
fato, uma subsunção formal do comportamento ao tipo penal. 
Em outras palavras, não haverá crime quando o comportamento não for suficiente para causar um dano, 
ou um perigo efetivo de dano, ao bem jurídico. 
Não é razoável que o Direito Penal e todo o aparelho estatal sejam movimentados para condenar o réu 
por uma conduta como essa. 
Na situação analisada, não houve sequer prejuízo material, pois os objetos foram restituídos à vítima, mais 
um motivo pelo qual deve incidir, por conseguinte, o postulado da bagatela. 
 
 
ARREPENDIMENTO POSTERIOR 
Aplica-se o arrependimento posterior para o agente que fez o ressarcimento da dívida principal 
antes do recebimento da denúncia, mas somente pagou depois os juros e a correção monetária 
 
É possível o reconhecimento da causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do Código 
Penal (arrependimento posterior) para o caso em que o agente fez o ressarcimento da dívida 
principal (efetuou a reparação da parte principal do dano) antes do recebimento da denúncia, 
mas somente pagou os valores referentes aos juros e correção monetária durante a tramitação 
da ação penal. 
Nas exatas palavras do STF: “É suficiente que ocorra arrependimento, uma vez reparada parte 
principal do dano, até o recebimento da inicial acusatória, sendo inviável potencializar a 
amplitude da restituição.” 
STF. 1ª Turma. HC 165312/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/4/2020 (Info 973). 
 
Arrependimento posterior 
O arrependimento posterior é previsto no art. 16 do Código Penal, nos seguintes termos: 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou 
restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a 
pena será reduzida de 1/3 a 2/3. 
 
Trata-se de um benefício ou prêmio para estimular o agente a restituir a coisa ou reparar os danos 
causados com sua conduta. 
 
Requisitos: 
1) O crime deve ter sido praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa 
Se o agente praticou violência contra a coisa: pode receber o benefício. Ex: crime de dano (art. 163 do CP). 
Se o agente praticou, culposamente, violência contra a pessoa: pode receber o benefício. Ex: lesão 
corporal culposa no trânsito (art. 303 do CTB). 
 
++ (Delegado de Polícia PF 2018 CESPE) Cristiano, maior e capaz, roubou, mediante emprego de arma de 
fogo, a bicicleta de um adolescente, tendo-o ameaçado gravemente. Perseguido, Cristiano foi preso, 
confessou o crime e voluntariamente restituiu a coisa roubada. Nessa situação, a restituição do bem não 
assegura a Cristiano a redução de um a dois terços da pena, pois o crime foi cometido com grave ameaça 
à pessoa. (certo) 
 
2) O agente, voluntariamente, deve ter reparado o dano ou restituído a coisa 
A reparação do dano ou restituição deve ser total ou pode ser parcial? 
• Posição da doutrina e do STJ: a reparação precisa ser integral (total). 
O benefício do arrependimento posterior exige a reparação integral do dano, por ato voluntário, até o 
recebimento da denúncia. 
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1399240/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 05/02/2019. 
 
• Precedente da 1ª Turma do STF: a incidência do arrependimento posterior, contido no art. 16 do CP, 
prescinde da reparação total do dano. Em outras palavras, entendeu-se que a reparação poderia ser 
parcial (HC 98658/PR, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 9/11/2010). 
 
Além de integral, a reparação precisa ser: 
• voluntária; 
• pessoal. 
 
3) Essa reparação ou restituição deve ter acontecido antes do recebimento da denúncia ou queixa 
Se for feita após o recebimento, o agente terá direito apenas à atenuante genérica prevista no art. 65, III, 
“b” do CP: 
Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: 
III - ter o agente: 
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou 
minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano; 
 
Aplicação para os crimes patrimoniais ou que tenham conteúdo patrimonial 
O art. 16 vale para todos os crimes com que ele seja compatível, sem distinção, inclusive contra a 
Administração Pública. Assim, é errado pensar que o arrependimento posterior se aplica apenas para os 
crimes contra o patrimônio. 
 
Redução 
A redução da pena, no caso de arrependimento posterior, varia de 1/3 a 2/3. 
Assim, o arrependimento posterior possui natureza jurídica de causa de diminuição de pena. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
++ (Juiz de Direito TJ-MS 2020 FCC) Em relação à tipicidade penal, é afastada nas hipóteses de crime 
impossível e arrependimento posterior. (errado) 
 
Comunicabilidade no concurso de pessoas 
O benefício do arrependimento posterior comunica-se aos coautores e partícipes que não tenham 
participado da restituição da coisa ou da reparação do dano. 
Assim, uma vez reparado o dano integralmente por um dos autores do delito, a causa de diminuição de 
pena do arrependimento posterior, prevista no art. 16 do CP, estende-se aos demais coautores. 
STJ. 6ª Turma. REsp 1.187.976-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 7/11/2013 (Info 531). 
 
Inaplicabilidade do arrependimento posterior ao crime de moeda falsa 
Não se aplica o instituto do arrependimento posterior ao crime de moeda falsa. No crime de moeda falsa 
— cuja consumação se dá com a falsificação da moeda, sendo irrelevante eventual dano patrimonial 
imposto a terceiros —, a vítima é a coletividade como um todo, e o bem jurídico tutelado é a fé pública, 
que não é passível de reparação. Desse modo, os crimes contra a fé pública, semelhantes aos demais 
crimes não patrimoniais em geral, são incompatíveis com o instituto do arrependimento posterior, dada 
a impossibilidade material de haver reparação do dano causado ou a restituição da coisa subtraída. 
STJ. 6ª Turma. REsp 1242294-PR, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio 
Schietti Cruz, julgado em 18/11/2014 (Info 554). 
 
++ (Promotor de Justiça – MPE/MT 2019 FCC) Assim como nos demais crimes não patrimoniais em geral, 
os delitos contra a fé pública são incompatíveis com o instituto do arrependimento posterior, dada a 
impossibilidade material de haver reparação do dano causado ou a restituição da coisa subtraída.(certo) 
 
Imagine agora a seguinte situação adaptada: 
Em setembro de 2012, João subtraiu para si um total de R$ 33.000,00 que pertenciam a Pedro. 
Algum tempo depois, o furto foi descoberto e instaurou-se um inquérito policial. 
Em fevereiro de 2013, João e Pedro celebraram um acordo extrajudicial por meio do qual o sujeito ativo 
do crime comprometeu-se a devolver à vítima o valor atualizado da quantia subtraída. 
Aplicando juros e correção monetária, o valor atualizado foi calculado em R$ 48.751,11. 
Como não tinha dinheiro suficiente para quitar a dívida à vista, João comprometeu-se a pagar 
imediatamente R$ 33.000,00 (valor do débito principal) e parcelar o restante até dezembro de 2013. 
Assim, em março de 2013, João pagou os R$ 33.000,00. 
Em maio de 2013, o Ministério Público ofereceu denúncia contra João pela prática de furto. 
Em junho de 2013, antes que João terminasse de pagar o restante da dívida, o juiz recebeu a denúncia. 
Em dezembro de 2013, o réu terminou de quitar a dívida, pagando os juros e correção monetária. 
Em março de 2014, o juiz proferiu sentença condenatória contra João e não concedeu ao réu o benefício 
do arrependimento posterior alegando que não houve a reparação integral do dano antes do recebimento 
da denúncia. 
 
Para o STF, o réu tem direito ao benefício do arrependimento posterior? 
SIM. 
É possível o reconhecimento da causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do Código Penal 
(arrependimento posterior) para o caso em que o agente fez o ressarcimento da dívida principal 
(efetuou a reparação da parte principal do dano) antes do recebimento da denúncia, mas somente 
pagou os valores referentes aos juros e correção monetária durante a tramitação da ação penal. 
Nas exatas palavras do STF: “É suficiente que ocorra arrependimento, uma vez reparada parte principal do 
dano, até o recebimento da inicial acusatória, sendo inviável potencializar a amplitude da restituição.” 
STF. 1ª Turma. HC 165312, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/04/2020 (Info 973). 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
 
TRÁFICO DE DROGAS 
É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas 
pelo simples fato de o acusado ser investigado em inquérito policial ou réu 
em outra ação penal que ainda não transitou em julgado? 
 
É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas com base no 
fato de o acusado ser investigado em inquérito policial ou ser réu em outra ação penal 
que ainda não transitou em julgado? 
• STJ: SIM. 
É possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso para formação da 
convicção de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo a afastar o benefício legal 
previsto no art. 33, § 4º, da Lei n.º 11.343/2006. 
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 14/12/2016 (Info 596). 
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.666/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/03/2020. 
 
• STF: NÃO. 
Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico privilegiado, prevista no 
art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu responder a inquéritos 
policiais ou processos criminais em andamento, mesmo que estejam em fase recursal, sob 
pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio da presunção de não culpabilidade). 
Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 (Lei de 
Drogas) com base em condenações não alcançadas pela preclusão maior (coisa julgada). 
STF. 1ª Turma. HC 173806/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967). 
STF. 1ª Turma. HC 166385/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/4/2020 (Info 973). 
STF. 2ª Turma. HC 144309 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 19/11/2018. 
 
Tráfico privilegiado (art. 33, § 4º da Lei nº 11.343/2006) 
A Lei de Drogas prevê, em seu art. 33, § 4º, a figura do “traficante privilegiado”, também chamada de 
“traficância menor” ou “traficância eventual”: 
Art. 33 (...) 
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto 
a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, 
de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. 
 
Qual é a natureza jurídica deste § 4º? 
Trata-se de uma causa de diminuição de pena. 
 
Redução: de 1/6 a 2/3 
O magistrado tem plena autonomia para aplicar a redução no quantum que reputar adequado de acordo 
com as peculiaridades do caso concreto. Vale ressaltar, no entanto, que essa fixação deve ser 
suficientemente fundamentada e não pode utilizar os mesmos argumentos adotados em outras fases da 
dosimetria da pena (STF HC 108387, 06.03.12). Dito de outra forma, não se pode utilizar os mesmos 
fundamentos para fixar a pena-base acima do mínimo legal e para definir o quantum da redução prevista neste 
dispositivo, sob pena de bis in idem. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 973-STF (23/04/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
++ (Delegado PC/RS 2018 FUNDATEC) Aquele que pratica conduta de tráfico de drogas, descrita no caput 
do artigo 33 da referida Lei, pode ter sua pena reduzida nos mesmos patamares propostos no Código Penal 
para a minorante da tentativa, desde que seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às 
atividades criminosas nem integre organização criminosa. (ERRADO) 
 
Jurisprudência em Teses do STJ (ed. 131) 
Tese 25: Diante da ausência de parâmetros legais, é possível que a fração de redução da causa de 
diminuição de pena estabelecida no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 seja modulada em razão da 
qualidade e da quantidade de droga apreendida, além das demais circunstâncias do delito. 
 
Vedação à conversão em penas restritivas de direitos 
O STF já declarou, de forma incidental, a inconstitucionalidade da expressão “vedada a conversão em 
penas restritivas de direitos”, constante deste § 4º do art. 33, de modo que é possível, segundo avaliação 
do caso concreto, a concessão da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, 
desde que cumpridos os requisitos do art. 44 do CP. 
 
Requisitos: 
Para ter direito à minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006, é necessário o 
preenchimento de quatro requisitos autônomos: 
a) primariedade; 
b) bons antecedentes; 
c) não dedicação a atividades criminosas; e 
d) não integração à organização criminosa. 
 
(Promotor MP/MG 2019) São requisitos para o reconhecimento do tráfico privilegiado que o agente seja 
primário, de bons antecedentes e boa conduta social, que não se dedique às atividades criminosas nem 
integre organização criminosa. (ERRADO) 
 
Se o réu não preencher algum desses requisitos, não terá direito à minorante. São requisitos cumulativos: 
Jurisprudência em Teses do STJ 
Tese 22: A causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas só pode ser aplicada 
se todos os requisitos, cumulativamente, estiverem presentes. 
 
Esse benefício se aplica para quais delitos? 
• Art. 33, caput: tráfico de drogas. 
• Art. 33, § 1º, I: importar, exportar, produzir, adquirir, vender, guardar matéria-prima, insumo ou produto 
químico destinado à preparação de drogas. 
• Art. 33, § 1º, II: semear, cultivar, fazer a colheita de plantas que são matéria-prima para preparação de 
drogas. 
• Art. 33, § 1º, III: utilizar local ou bem de sua propriedade, posse, administração guarda ou vigilância, ou 
consentir que alguém utilize para o tráfico ilícito de drogas. 
 
++ (Juiz de Direito TJ-MS 2020 FCC) No que concerne

Continue navegando